Espacios. Vol. 28 (1) 2007. Pág. 2

Estrutura de P&D Global: O Caso Novartis1

Estructura de I&D Global: El caso Novartis

P&D Global structure: Novartis Case

Maria Cecília Sobral 2 y Roberto Sbragia 3


Contenido


RESUMO:
A Novartis surgiu em 1996 da união das empresas farmacêuticas suíças Ciba-Geigy e Sandoz. Com faturamento mundial de cerca de US$ 24,9 bilhões em 2003, a Novartis emprega 78.500 funcionários e atua em 140 países. Este artigo analisa a estrutura utilizada pela empresa para realizar o desenvolvimento de novos produtos. Identificou-se que a Novartis adota diferentes modelos de estrutura para diferentes tipos de atividades de P&D, com destaque para a pesquisa básica e para a pesquisa clinica.  A pesquisa clínica é uma das partes mais críticas para o desenvolvimento de novos produtos farmacêuticos. Na Novartis, ela é realizada em 42 países, incluindo o Brasil, com uma estrutura fortemente comandada pela administração central. A operação é padronizada por protocolos a serem seguidos pelos investigadores e garantidos pelos departamentos locais de pesquisa clínica. Assim, a coordenação fica totalmente independente entre os países e diretamente dependente da coordenação central do estudo clínico. Este estudo realizado mostra as vantagens e desvantagens que estão sendo obtidas com este modelo e seus fatores condicionantes para o caso brasileiro. O estudo conclui com sugestões para futuros estudos sobre o tema.

ABSTRACT:
This article analyzes the organizational structure adopted by Novartis for the new product development effort. It has been identified that Novartis has different models of structure for different kinds of  R&D activities (basic and clinical research).  The clinical research is one of the more critical parts for the development of new pharmaceutical products. In Novartis, clinical research is accomplished in 42 countries, including Brazil, with a structure strongly commanded by the central administration. The operation is standardized by protocols that are followed by the investigators and guaranteed by the local departments of clinical research. This way, the coordination gets totally independent among countries and directly dependent of the central coordination of the clinical study. This study shows the advantages and disadvantages that are being obtained with the use this model for the Brazilian case.

1. Introdução

A aceleração dos processos de globalização tem conduzido as empresas a uma atuação com foco na regionalização das operações, a fim de atender às especificidades das demandas de cada local e, ao mesmo tempo, no aproveitamento das potencialidades de cada região ou país para a sua atuação mundial. Numa via de duas mãos, a globalização é um processo local e mundial e as organizações podem se beneficiar muito deste fenômeno.

Segundo Chiesa (1996), os processos de globalização pressionam as empresas multinacionais por uma integração global e, por outro lado, por responsividade local. Nesse contexto, as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) devem ser estruturadas, portanto, segundo modelos que possam atender à aceleração da globalização e aproveitá-lo da melhor forma. Diferentes estratégias podem ser utilizadas de acordo com as características da empresa e do setor no qual está inserida, seus objetivos e seu ambiente de atuação.

Este trabalho teve como principal motivação a importância da área de P&D na indústria farmacêutica e as recentes mudanças pelas quais esta indústria vem passando em função da biotecnologia. O foco deste trabalho é a estrutura de P&D diante da cada vez mais crescente internacionalização das atividades dessa área. Foi escolhida a Novartis pela importância da área de pesquisa e desenvolvimento no setor onde ela atua e a relevância mundial desta empresa no mesmo setor.

Busca-se aqui uma análise crítica da estrutura de P&D da Novartis, com foco na filial brasileira, mostrando os impactos do modelo de estrutura adotado, suas vantagens e desvantagens. O trabalho foi resultado de um estudo de caso qualitativo e descritivo. O tipo de estudo conduzido foi o tipo I, projeto de caso único, segundo definido por Yin (1988).  A primeira etapa foi constituída de um levantamento de dados primários realizado através de entrevistas estruturadas e não disfarçadas (Boyd e Westfall, 1984). A segunda etapa constituiu-se de um levantamento de dados secundários sobre o mercado de produtos farmacêuticos, referencial teórico sobre a indústria e investimentos em P&D, consulta a informações disponíveis em sites da internet. A partir dos dados primários e secundários obtidos, iniciou-se a terceira etapa, isto é, uma análise crítica da estrutura de P&D da Novartis e os impactos nos negócios da empresa e comparação com o referencial teórico utilizado na pesquisa.

A seguir será apresentado o referencial teórico utilizado no estudo para, em seguida, caracterizar a empresa Novartis no Brasil e no mundo e sua estrutura de P&D. Será então analisada a estrutura da empresa segundo o referencial teórico utilizado e tecidas considerações e conclusões sobre o estudo. Sugestões para futuros estudos serão proporcionadas ao final do trabalho.

2. Referencia teórico

As funções de P&D estão entre as mais importantes de uma organização na indústria farmacêutica. Ao mesmo tempo, tecnologia é um campo certo para cooperação e competição entre as empresas concorrentes. Grandes empresas, particularmente na indústria farmacêutica, investem somas enormes em pesquisa. A localização internacional da função de P&D ocorre de uma seletiva maneira espacial, isto é, P&D extremamente inovativo e avançado tecnologicamente ocorre em apenas alguns países e regiões do mundo (Zeller, 2004).

Investimentos em P&D nesta indústria estão entre os mais concentrados no mundo, tanto em países como em empresas. Estados Unidos, Japão, Alemanha, França. Reino Unido, Suíça, Itália e Suécia englobam aproximadamente 92% dos gastos mundiais da indústria farmacêutica (PhRMA, 2001). A distribuição geográfica de invenções de novas substâncias ativas (NSA) mostra uma distribuição análoga: das 211 NSA que foram lançadas entre 1996 e 2000, 81 foram inventadas nos Estados Unidos, 31 foram inventadas no Japão, 22 no Reino Unido, 21 na Alemanha e 13 na Suíça. (Zeller, 2004).

O processo inovativo na indústria farmacêutica tornou-se tão complexo e diversificado que até as grandes companhias farmacêuticas não conseguem acompanhar sozinhas o progresso tecnológico. Desde 1980, elas têm desenvolvido estratégias de adquirir NSA’s e tecnologias mediante colaboração com empresas de biotecnologia, tornando-se um importante recurso financeiro para estas empresas nos Estados Unidos (Zeller, 2004).  Particularmente nesse país, as universidades aumentaram as parcerias com as empresas farmacêuticas.

Os autores deste trabalho irão adotar fundamentalmente as taxonomias propostas por Gassmann e von Zedwitz (1999) e Chiesa (1996) no que diz respeito às estruturas de P&D global. Assim, os primeiros conceituam cinco modelos distintos na organização internacional de P&D. As principais características de cada um são abaixo descritas:

Já para Chiesa (1996), P&D global é o processo de distribuir laboratórios de P&D em diferentes países para alavancar os recursos técnicos de cada país/laboratório e contribuir para aumentar os lucros operacionais globais e as competências tecnológicas globais. Entretanto, estes laboratórios tendem a se submeter a um plano global de coordenação. Segundo este autor, os objetivos da área de P&D são:

Assim, as decisões de localização de sites levam diferentes fatores em consideração, dependendo dos objetivos da área de P&D a serem atingidos. Na implantação de uma rede de desenvolvimento de produto, pode-se encontrar três situações:

Laboratório Central Global:

Laboratório Especializado Global:

Laboratório Integrado Global:

Pode-se concluir, assim, que ambos os modelos são convergentes, partindo de uma abordagem centralizada, indo para uma descentralizada e culminando com uma abordagem mista ou combinada, que procura tirar proveito das vantagens e desvantagens dos modelos mais puristas. Apenas diferem no numero de modelos ou estágios de evolução.

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1. Os autores agradecem a colaboração de Davi Cláudio, POLI/USP, e Marco Antonio S. de Castro, FEA/USP, no processo de elaboração deste artigo, construído originalmente como trabalho da disciplina de Administração de P&D na Empresa, PPGA/EAD/FEA/USP, 2004. O trabalho foi aprovado para apresentação na ALTEC 2005, Salvador/Bahia/Brasil, constando dos respectivos anais.
2. Doutoranda do PPGA/EAD/FEA/USP.
3. Professor Titular do EAD/FEA/USP e Coordenador Cientifico do PGT/USP.

Vol. 28 (1) 2007
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