Espacios. Espacios. Vol. 30 (1) 2009. Pág. 30

Empreendedorismo e Economia Informal: Uma Análise do Shopping Popular de Teófilo Otoni

Virtual Communities as Environment Builders for Marketing Strategies: Locus for Information and Exchange of Real Experiences

Emprendedores y economía informal: Un análisis del mercado popular de Teófilo Otoni

Almeida*

Recibido: 09-07-08 - Aprobado: 15-10-08


Contenido


RESUMO:
Este estudo busca evidenciar uma realidade distinta sobre o empreendedorismo, através de uma perspectiva que foca em negócios criados na economia informal. Inicialmente são discutidas a precarização do trabalho, as características dos empreendedores e noções de empreendedorismo por necessidade ou oportunidade, para que seja desenvolvido o tema central: discutir a experiência de empreendedorismo vivida pelos comerciantes no Shopping Popular de Teófilo Otoni; e classifica-los sob duas dimensões: presença de perfil empreendedor e motivação para empreender (necessidade ou oportunidade). Os resultados demonstram que a maioria deles tem a necessidade como motivação principal, sem que isto descaracterize um perfil empreendedor tradicional.
Palavras-chave: economia informal; empreendedorismo; shopping popular.

ABSTRACT:
This study shows a reality separate search on entrepreneurship, through a perspective that focuses on business created in the informal economy. Initially are discussed the instability of employment, the characteristics of entrepreneurs and entrepreneurship concepts of chance or by necessity, be developed so that the central theme: discussing the experience of entrepreneurship experienced by merchants in the People's Shopping Teófilo Otoni, and classifies them under two dimensions: presence of profile entrepreneur and motivation to undertake (need or opportunity). The results show that the majority of them have the need as main motivation, without this descaracterize a traditional profile entrepreneur.
Key words: informal economy; entrepreneurship; “flea markets”.

RESUMEN:
Este estudio busca evidenciar otra realidad sobre emprendedores, a través de una perspectiva que enfoca negocios nacidos desde la economía informal. Inicialmente son discutidos la falta de trabajo formal, las características de estos emprendores y nociones de ellos por neceisades de oprotunidades, para poder desarrollar el tema central: Discutir la experiencia de emprendodores dentro de los comerciantes del mercado popular de Teófilo Otoni. Se clasifican en dos dimensiones: Presencia del perfil del emprendedor (necesidad de oportunidades). Los resultados muestran que la mayoría de ellos tienen una necesidad como motivación principal, sin que esto descaracterice un perfil de emprendimiento tradicional.
Palabras clave: Economía informal, emprendedores, mercado popular

1. Introdução

Ao longo das últimas décadas, o capitalismo mundial sofreu e continua sofrendo intensas mudanças em seu modo de produção e acumulação. Segundo Ferraz (1997), Harvey (1993) e Alves (2000), o novo contexto, caracterizado pelo acirramento da concorrência e aumento das exigências do mercado consumidor em relação aos preços e à qualidade dos produtos, levou a um processo de reestruturação produtiva – com modelos de trabalho e técnicas de produção mais eficientes, além da racionalização dos custos produtivos – que ocasionou forte impacto na mão-de-obra assalariada.

No que tange ao mercado de trabalho, o cenário atual está pautado pela flexibilização das relações de trabalho e precarização, que envolve fatores objetivos como a proliferação do desemprego estrutural e a diminuição do salário real ao longo do tempo; e fatores subjetivos como o crescimento dos esforços de controle de elementos psíquicos dos trabalhadores no processo de produção (ALVES, 2000) e a crise de consciência de classe evidenciada pelo enfraquecimento dos sindicatos (RODRIGUES, 1999).

Nesta nova perspectiva, Frigotto (1998) ressalta que as empresas, em busca de maior competitividade, promovem a transferência do custo da capacitação dos funcionários para os próprios. A responsabilidade pelo emprego desloca-se do plano social para o individual, com o trabalhador empreendendo por necessidade. Adquirir competências técnicas, cognitivas e de gestão para ser considerado empregável, constitui-se num discurso de “empregabilidade”, que se torna dominante e pressiona os trabalhadores às exigências de maior qualificação e participação proativa na dinâmica do trabalho.

Dentro deste contexto, o ingresso no setor informal e a atividade empreendedora surgem como alternativas possíveis, mas não únicas, ao concorrido e, principalmente, reduzido, mercado de trabalho formal. O objetivo do estudo é discutir a experiência de empreendedorismo vivida pelos comerciantes no Shopping Popular de Teófilo Otoni; e classificá-los sob duas dimensões: presença de perfil empreendedor e motivação para empreender (necessidade ou oportunidade).

Primeiramente serão abordados aspectos ligados ao conceito de empreendedorismo, características de um empreendedor,empreendedorismo por mecessidade e por oportunidade, apresenta-se a metodologia utilizada, e a discussão dos resultados obtidos.

2. O conceito de empreendedorismo

A ação empreendedora, segundo Colbari (2007), engloba tanto a atividade empresarial por conta própria, quanto a dimensão do trabalhador assalariado capaz de inovar no ambiente de trabalho, ou seja, a percepção de novos investimentos lucrativos, ou a melhoria de um empreendimento existente. Esta atividade é apresentada como uma carreira que permite o desenvolvimento pleno da capacidade de criação e inovação para a concepção de novos valores, produtos e serviços, envolvendo, para isso, a aceitação de um risco econômico eminente (DRUCKER, 1986).

Sobre o empreendimento por conta própria, grande parte das definições apresentadas na literatura aborda os indivíduos motivados por oportunidades de mercado e busca de independência. Mesmo com o debate a respeito das características presentes nestas pessoas serem inatas ou desenvolvidas ao longo do tempo, há um consenso a respeito das qualificações importantes do empreendedor (TEIXEIRA, 2001). Para Gerber (1990), por exemplo, o indivíduo que realiza a atividade de empreender é um visionário, possuidor de uma imaginação que leva à mudança, dotado de uma personalidade capaz de lidar com o desconhecido e de criar novas possibilidades. Schumpeter (1976), por sua vez, define os empreendedores como idealizadores, aqueles que possuem “a idéia do negócio”, pessoas que buscam aproveitar oportunidades através da inovação, vislumbrando o lucro em contextos de incerteza e afirma que tais indivíduos interferem positivamente no desenvolvimento sócio-econômico mundial.

Entenda-se por empreendedores aqueles capazes de sonhar e transformar seus sonhos em realidade. Segundo Filion (1999),“o empreendedor é pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e que mantém alto nível de consciência do ambiente em que vive,usando-a para detectar oportunidades de negócios. Um empreendedor que continua a aprender a respeito de possíveis oportunidades de negócios, e a tomar decisões moderadamente arriscadas objetivando a inovação, continuará a desempenhar um papel empreendedor”

O empreendedor é alguém motivado pela auto- realização, desejo de assumir responsabilidades e independência, que aprecia assumir novos desafios e que propõe e busca implementar freqüentemente novas idéias. Além disso, possui capacidade de planejamento, conhecimento de estratégia e uma visão bem trabalhada da situação futura desejável, comparativamente à atual (SEBRAE, 2003, 2006b).

Segundo Souza (2005), estes indivíduos devem possuir características psicológicas diferenciadas, além de compreender e desenvolver uma gama de habilidades cognitivas e relacionais para lidar com o complexo processo de empreender, onde importantes variáveis sociais (cultura, divisão e mobilidade social), econômicas (disponibilidade de crédito, taxas de juros, inflação), políticas, entre outras, influenciam direta ou indiretamente nos resultados.

Reunindo definições presentes na literatura, Mintzberg (2000) conceitua a personalidade empreendedora como detentora de forte necessidade de realização, aliada à capacidade de alocar os recursos da empresa em direção a novos desafios e objetivos; de perceber oportunidades onde outros vêem problemas; espírito de liderança; desejo de arriscar e encarar a incerteza sem medo; e de buscar continuamente a inovação.

As características apresentadas anteriormente promovem o empreendedorismo como símbolo da democracia de mercado, refletindo condições de livre iniciativa, ou seja, o empreendedorismo por oportunidade, definido como: o conjunto de indivíduos motivados pela percepção de um nicho de mercado potencial, por um sentimento de responsabilidade pela geração de emprego e desenvolvimento industrial no país; e que desejam investir em um negócio próprio (SEBRAE,2005; 2006b).

Os empreendedores por oportunidade buscam, na maioria das vezes, benefícios atribuídos ao trabalho por conta própria, como maior independência; liberdade para tomar decisões sobre os negócios e prestar contas apenas para si mesmo; oportunidades de enfrentar desafios; fuga da posição de subordinado; satisfação e orgulho; e possibilidade de dedicar mais tempo à família ou de abandonar a rotina (SOUZA, 2005).

Contudo, como destaca Colbari (2007), autodesenvolvimento, empregabilidade e o empreendedorismo aparecem como faces complementares do modelo discutido, construído sobre os pilares da crença liberal e individualista, que exalta a vontade pessoal como propulsora do êxito, da vitalidade e do dinamismo dos mercados e sociedade como um todo. Entretanto, tanto a ideologia por trás desta construção quanto a acessibilidade dos empreendedores aos benefícios anteriores podem ser questionadas, uma vez que, contraditoriamente à evidência de que as atividades empreendedoras são a força motriz da sociedade ocidental, a alta taxa de empreendedorismo, que tem sido característica dos países mais pobres, está permeada por fatores demográficos e econômicos como o contínuo crescimento populacional, distribuição desigual de renda e a carência de um patamar razoável de inserção social, o que fomenta a criação de negócios para a sobrevivência.

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