Espacios. Espacios. Vol. 30 (3) 2009. Pág. 6

Adoção de Novas Tecnologias e os Determinantes do Processo Inovativo: o caso da Indústria Alimentícia no Estado do Paraná

Adoption of new technologies and the determinants of an innovating process: the case of the nutritional industry of the state of Parana

Adopción de nuevas tecnologías y las determinantes de un proceso innovador: el caso de la industria alimenticia del estado de Paraná

Marlete Beatriz Maçaneiro*, Christiane Hiromi Tanabe Ogassawara** y Débora Andrea Liessem Vigorena***

Recibido: 20-01-2009 - Aprobado: 15-04-2009


Contenido


RESUMO:
Objetivou-se realizar uma análise do setor industrial de alimentos, no que tange à inovação de produto e/ou processo, e os fatores determinantes e relacionados a essa adoção, sob a luz dos modelos do processo inovativo technology-push e demand-pull. A metodologia foi caracterizada por um estudo de dados secundários apresentados pela Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica – PINTEC 2003/2005, de tratamento qualitativo, especificamente do Estado do Paraná. Verificou-se que o setor realiza inovações em resposta à demanda de mercado (demand-pull), em detrimento às inovações desenvolvidas através de pesquisa interna ou externa às organizações (technology-push). Essa conclusão tem respaldo na verificação do baixo investimento em P&D interno, dos esforços apenas para a inovação incremental e de maior foco nas fontes de informações advindas do mercado.
Palavras chiave: Novas tecnologias, inovação, Brasil

ABSTRACT:
This study presents an analysis of the Food Industry of the state of Parana, based on product innovation and / or process. Are analyzed the determinants that influence the adoption of different models of the process innovation, taking by a reference the technology-push and demand-pull models. It is a qualitative study and is based on secondary data published in the report of the Industrial Research on Technological Innovation - PINTEC. At the end of the analysis it was found that the industry makes innovations in response to market demand (demand-pull), because the innovations are developed if customers present needs by them. The Food Industry presents low investment in internally Research and Development (R&D), in addition to concentrating efforts on incremental innovation, with attention to signals from the market.
Keywords: New technologies, innovation, Brasil

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RESUMEN:
Este estudio hace un análisis de la industria de alimentos del Estado de Paraná con respecto a la innovación de producto y/o proceso. Son investigados los factores que pueden determinar la adopción de distintos modelos para el proceso en que se desarrolla la innovación, usándose como referencia los modelos technology-push y demand-pull. El estudio está basado en datos secundarios publicados en el informe de la Investigación Industrial de Innovación Tecnológico – PINTEC. Al final del análisis se constató que la industria realiza innovaciones como respuesta a la demanda del mercado (demand-pull), puesto que las innovaciones se desarrollan mientras los clientes presenten necesidades. La industria de alimentos demuestra una baja inversión en Pesquisa y Desarrollo (P&D) interno, además de esfuerzos concentrados en la innovación incremental.
Palabras clave: Nuevas tecnologías, Innovación, Brasil

1. Introdução

Atualmente o tema sobre a inovação tecnológica tornou-se bastante difundido, principalmente quando se trata da necessidade do desenvolvimento econômico dos países subdesenvolvidos. Estudos enfatizam a inovação como impulsionadora do desenvolvimento capitalista, caracterizada pela introdução de um novo produto, método de produção, abertura de mercado, conquista de uma fonte de oferta de matérias-primas. Ou seja, uma novidade tanto para a organização industrial como para o ambiente em que está inserida.

De acordo com Sbicca e Pelaez (2006), a inovação pode ser entendida, de uma forma geral, como um processo no qual as firmas apreendem e introduzem novas práticas, produtos, desenhos e processos. Sendo a inovação fruto de um processo que só pode ser analisado quando se considera o seu caráter interativo. Isso, na medida em que envolve uma relação entre diversos atores, tais como empresas, agências governamentais, universidades, institutos de pesquisa e instituições financeiras.

É nesse contexto que esses atores envolvidos podem proporcionar as condições necessárias ao desenvolvimento da inovação, bem como do próprio país. As condições de desenvolvimento da inovação em um país estabelecem diferentes resultados na estrutura industrial, onde as mais propulsoras fazem com que as empresas usufruam uma maior participação no mercado mundial (ALBUQUERQUE, 2006).

De acordo com Campos (2006), a inovação é analisada por abordagens da inovação a partir de perspectivas distintas, apresentando os modelos de inovação que consideram alternativamente o conhecimento científico ou a demanda de mercado como determinantes desse processo: o modelo linear de inovação, por meio da abordagem technology-push (ou science push); e a hipótese da demanda de mercado denominada demand-pull (ou market-pull); seguidos com modelos que fazem junção dessas abordagens, buscando a interação com outros fatores intra e extra-firma.

A abordagem science push (de impulso pela ciência) considera que há uma ligação direta entre os avanços científicos e o desenvolvimento tecnológico de aplicação produtiva, que culminariam em bem-estar econômico. [...] Alternativamente, a partir do final dos anos 1960, uma série de estudos pareceu comprovar que a força motora da tecnologia estaria ligada às necessidades da demanda. Essa visão foi sintetizada pela abordagem demand pull (puxada pela demanda) para o estudo das relações entre a ciência e a tecnologia. (CAMPOS, 2006, p. 143)

De acordo com Rothwell (1994), esses modelos, technology-push e demand-pull, são considerados como a primeira e a segunda geração do processo de inovação. Além desses, o autor ainda destaca a terceira geração, “coupling model of innovation”, que define como a combinação entre os dois modelos anteriores, com uma forte ligação entre as áreas de marketing e de P&D. A quarta e quinta gerações o autor define como modelos integrados (integrated innovation process), que visam diminuir as desvantagens apresentadas pelos anteriores, adaptando-se a empresa e ao contexto no qual ela está inserida.

Entretanto, neste estudo, devido à sua limitação e à fonte de dados, serão considerados os modelos technollogy-push e demand-pull, bem como a possibilidade de integração desses dois modelos, para análise da adoção da inovação no setor alimentício paranaense. Cabe aqui destacar que o foco em apenas um dos modelos é prejudicial, conduzindo a inutilidade do setor de P&D e a ameaças de competidores baseados em novas tecnologias (BREM e VOICHT, 2007).

Nesse sentido, a questão que se coloca ao presente estudo é: qual dessas abordagens mais efetivamente influencia o processo inovativo no setor de alimentos paranaense? Ou existe um equilíbrio entre as demandas do mercado e o desenvolvimento de P&D nessas empresas? O objetivo, então, é de realizar uma análise desse setor industrial no que tange à inovação de produto ou processo e os fatores determinantes e relacionados com essa adoção. A justificativa teórica e prática para este trabalho está na identificação da tendência inovativa na indústria alimentícia do Paraná, podendo servir de guia na condução do enfoque inovativo em novas indústrias do setor, bem como o incremento de pesquisas nessa área.

Dessa forma, para a execução do trabalho, foi traçado um levantamento do aparato teórico, estudando autores que abordam os modelos de mudança técnica, os quais se constituem nos impulsionadores do processo inovativo. Além disso, como aplicação deste estudo, foi realizada uma análise dos dados disponibilizados pela PINTEC – Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica1 2003/2005, do Estado do Paraná, especificamente na indústria alimentícia. A PINTEC é uma pesquisa nacional, realizada pelo IBGE junto às empresas industriais extrativas e de transformação. O setor foi escolhido intencionalmente, por ser um dos que mais inovam, dentre os setores da indústria extrativa e de transformação paranaense.

A partir dessa contextualização, o trabalho seguirá com a fundamentação teórica, abordando, inicialmente, os pressupostos dos determinantes do progresso técnico e da adoção de novas tecnologias. Posteriormente, trata da descrição das distintas abordagens de análise do processo inovativo, apresentando os modelos de inovação. Segue o estudo da prática adotada pelas indústrias alimentícias paranaenses na adoção de inovações, com o detalhamento metodológico, bem como a análise e discussão dos dados apresentados e conclusões pertinentes.

2. Os Determinantes do Progresso Técnico

A crescente competição em âmbito internacional tem sido foco de discussões, em relação ao desenvolvimento econômico dos países mais industrializados e a aceleração do progresso técnico de países como a Coréia do Sul e Taiwan. De acordo com Sbicca e Pelaez (2006), os estudos enfatizam que isso é resultado de ação coordenada, composta por diferentes organizações e mecanismos que incentivam a inovação tecnológica de países ou determinadas regiões, denominados de sistemas de inovação.

Segundo Freeman (1995), a expressão e o conceito de “Sistema Nacional de Inovação” foi inicialmente utilizada por Bengt Lundvall, propondo um referencial de análise com ênfase na aprendizagem. A visão sistêmica da inovação permite estabelecer explicações para as diferentes taxas de crescimento da economia e sua associação com a inovação tecnológica.

Pode-se definir um sistema de inovação como um conjunto de instituições públicas e privadas que contribuem nos âmbitos macro e microeconômico para o desenvolvimento e a difusão de novas tecnologias. Dessa forma, o SI é um instrumental de intervenção através do qual os governantes de um país podem criar e implementar políticas de Estado a fim de influenciar o processo inovativo de setores, de regiões ou mesmo de nações. Esta definição envolve dois aspectos centrais: a idéia de sistema e o conceito de inovação. (SBICCA; PELAEZ, 2006, p. 417)

Assim, o processo de inovação envolve outros agentes além da firma inovadora – tais como os relacionados ao consumo, ao financiamento e à regulação da tecnologia, bem como aqueles envolvidos na produção e na difusão dos conhecimentos científicos e tecnológicos, caracterizados pelas universidades e os centros de pesquisa.

Portanto, o conceito de inovação ganha destaque na abordagem schumpeteriana. Segundo Szmrecsányi (2006), em termos econômicos, a inovação tecnológica corresponde à aquisição, introdução e aproveitamento de novas tecnologias, entendidas como o conjunto de conhecimentos técnicos, na produção e/ou distribuição de quaisquer bens ou serviços para o mercado. Coube a Joseph Alois Schumpeter (1883-1950) a primazia da caracterização dos três processos correlatos às atividades inovativas, quais sejam: a descoberta ou invenção, a inovação propriamente dita e a sua difusão nas atividades econômicas.

A inovação, para Schumpeter (1988), impulsiona o desenvolvimento capitalista e se caracteriza por um ou mais dos seguintes fatores: 1) introdução de um novo produto; 2) introdução de um novo método de produção; 3) abertura de um novo mercado; 4) conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-primas; 5) uma novidade na organização industrial, como por exemplo, a criação ou a fragmentação de uma posição de monopólio.

As inovações tecnológicas têm uma dinâmica singular que acompanha os processos de instauração de novos paradigmas e do desenvolvimento de trajetórias tecnológicas. Segundo Dosi, Orsenigo e Labini (2002), a noção de trajetórias tecnológicas está associada com a realização progressiva das oportunidades inovadoras oriundas de cada paradigma, que pode ser medido, em princípio, em termos das mudanças nas características técnico-econômicas fundamentais de produtos e processos.

É nesse contexto que, para Schumpeter (1988), a inovação tecnológica possui a característica marcante de romper o equilíbrio entre os mercados, dando origem aos ciclos econômicos e transformações nas estruturas das organizações. Tanto o crescimento como o desenvolvimento econômico nunca são contínuos e tranqüilos no capitalismo, processando-se pelo contrário por uma sucessão periódica de crises e expansões. As instituições que organizam o conjunto da sociedade em cada fase do capitalismo tiveram uma compatibilidade com os aspectos econômicos e tecnológicos, refletindo em processos de mudanças daquelas que lideram a dinâmica capitalista, bem como o desenvolvimento de mecanismos de apropriação.

No entanto, o histórico de evolução desses mecanismos de apropriação dos diversos países possui diferenças importantes, em que a construção adequada desse histórico constitui-se na busca de articulações para a economia nacional.

Uma tipologia rudimentar dos sistemas nacionais de inovação sugere que a linha divisória dos diferentes sistemas envolve a existência do catching up – isto é, a existência de um processo de redução da distância tecnológica entre países. Acima deles estão os sistemas maduros, abaixo deles os sistemas imaturos. (ALBUQUERQUE, 2006, p. 246).

No caso do Brasil, a sua inserção no contexto da inovação tecnológica é ainda reduzida, apesar dos esforços e políticas implementadas nos últimos anos. Segundo Sbicca e Pelaez (2006), o processo de industrialização brasileiro foi intensificado após 1930, com forte participação do governo, notadamente através da estatização dos serviços de infra-estrutura. Posteriormente, de 1956 a 1960, buscou-se uma diversificação da base industrial, com predominância do capital estrangeiro. No entanto, as estratégias de crescimento das indústrias visavam fundamentalmente o aumento da capacidade produtiva, com pouca ou nenhuma ênfase no aumento da capacitação tecnológica. As políticas implementadas a partir de 1968 até 1985, deram ênfase à capacitação do país para adaptação e criação de tecnologia própria, o que não convergia com a política econômica vigente. Ao longo desse período, o desenvolvimento científico e tecnológico ficou basicamente restrito ao investimento estatal em instituições de pesquisa e de ensino universitário, praticamente sem vínculos com o setor produtivo.

Os autores ainda acrescentam que, ao longo da década de 1970, o Brasil completou o setor de bens de capital e a indústria de base, onde esta manteve, desde então, a atualização de sua capacitação tecnológica, tornando-se competitiva em nível internacional. Já os anos 1980 foram conhecidos como a “década perdida” em termos de crescimento econômico, fazendo com que as firmas brasileiras adotassem uma postura defensiva ao invés de avançar no desenvolvimento tecnológico, tendo também a estagnação da infra-estrutura de pesquisa.

No decorrer desse período, as empresas estatais foram utilizadas como instrumento de programas de estabilização macroeconômica, ocorrendo, na década de 1990, medidas para redefinição do Estado na economia, incluindo as privatizações. O resultado foi uma considerável perda de controle nacional sobre empresas industriais e de serviços, com o aumento de investidores estrangeiros. Alguns dados sugerem uma melhoria na capacitação tecnológica na década de 1990, o que deve ser necessariamente interpretado observando-se um panorama mais amplo para a economia brasileira (SBICCA; PELAEZ, 2006).

De acordo com Albuquerque (2006), no caso do Brasil, sendo um país que deve realizar o catching up, é necessária a criação de incentivos de proteção às adaptações, inovações incrementais e melhoramentos em produtos e processos gerados na fronteira internacional, pois sua evolução se processa à medida em que é bem-sucedido o esforço interno nesse sentido.

Tendo essas considerações iniciais sobre a atividade inovativa e sua ocorrência como fator de desenvolvimento dos países, o trabalho segue com a apresentação das abordagens de análise do processo de inovação.

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* Professora da Universidade Estadual do Centro-Oeste . Email: marlete.beatriz@yahoo.com.br.
** Universidade Federal do Paraná. Email: christiane_ht@yahoo.com.br
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Universidade Federal do Paraná. Email: d_vigorena@yahoo.com.br

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