Espacios. Vol. 32 (1) 2011. Pág. 15

Incentivo a Inovação Mediante a Cooperação Universidade-Empresa: análise das ações do Governo do Estado do Paraná - Brasil

Incentive the Innovation By the University Company Cooperation: analysis of the actions of the Government of the State of Paraná – Brazil

El incentivo la Innovación Por la Cooperación de la Universitaria Compañía : el análisis de las acciones del Gobierno del Estado del Paraná – Brasil

Carlos Cesar Garcia Freitas* y João Carlos da Cunha**

Recibido:12-04-2010 - Aprobado: 25-10-2010


Contenido


RESUMO:
A cooperação universidade-empresa cada vez mais tem sido utilizada como mecanismo de intervenção social e econômica pelos governos de um modo geral. O presente artigo buscou analisar de que modo o governo do estado do Paraná, tem promovido ações voltadas a desenvolver a inovação no setor produtivo, por meio da cooperação universidade-empresa. Por meio de pesquisa documental, caracterizada como descritiva, constatou-se que tem sido necessário estabelecer demandas induzidas de modo a romper a tradição das instituições de ensino e pesquisa, e quando da existência de ações de cooperação universidade-empresa estas concentram-se em intervenções vinculadas ao setor agrícola.
Palavras-chave: Inovação, Cooperação Universidade-Empresa, Políticas Governamentais.
  ABSTRACT:
The cooperation university-company more and more has been used as mechanism of social and economical intervention by the governments in a general way. The present article looked for to analyze that way the government of the state of Paraná, it has been promoting actions developed the innovation in the productive section, through the cooperation university-company. Through documental research, characterized as descriptive, it was verified that has been necessary to establish induced demands in way to break the tradition of the teaching and researches institutions, and when of the existence of actions of cooperation university-company these concentrate on interventions linked to the agricultural section.
Word-key: Innovation, Cooperation University Company, Government Politics
 
RESUMEN:
La cooperación universidad-compañía se ha usado cada vez más como el mecanismo de intervención social y económico por los gobiernos de una manera general. El presente artículo busca analizar al acción gobierno del estado del Paraná, ha estado promoviendo las acciones desarrollaron la innovación en la sección productiva, a través de la universidad-compañía de cooperación. A través de la investigación documentaria, caracterizó como descriptivo, fue verificado que ha sido necesario establecer las demandas inducido de la manera de romper la tradición de la enseñanza y ha investigado las instituciones, y cuando de la existencia de acciones de universidad-compañía de cooperación éstos se concentran en intervenciones enlazrse a la sección agrícola.
Palabras claves: Innovación, Cooperación Universitária Compañía, Política Gubernamental

1 Introdução

Inserir-se em uma economia globalizada, em que o conhecimento e o capital intelectual constituem vantagem competitiva, é uma tarefa árdua ao Brasil, que sempre teve em pauta o modelo produtivo baseado na mão-de-obra barata não-qualificada e na considerada "abundância' de recursos naturais. Situação esta que não lhe permite desconsiderar nenhuma forma de interação e cooperação que possa contribuir para aprimorar os meios produtivos, em especial o processo de cooperação universidade-empresa. (Fleury, 1999).

Nas duas últimas décadas, a transferência de tecnologia das universidades para as empresas tem proliferado no mundo inteiro, tanto em nações desenvolvidas como em países em desenvolvimento, e mais pesquisadores estão transferindo seus resultados para empresas industriais. (Schugurensky, Naidorf, 2004). A universidade tem sido considerada com uma das principais fontes de conhecimento e parceria para o desenvolvimento de processos de cooperação. (Zanluchi, Gonçalo, 2007).

Tais interações são frutos da pontual necessidade de adaptações constantes das organizações a uma economia globalizada e dinâmica, que se transforma a cada dia. Importante destacar que as pressões sofridas pelas organizações, neste novo contexto, não advêm apenas da acirrada concorrência entre as organizações, mas também pela própria sociedade que passou a ter maior acesso à informação, assim como produtos e serviços mundiais, e já não se dispõe a pagar mais por estes, em função da falta ou atraso da pesquisa e desenvolvimento nas organizações.

A cada dia que passa maior é a necessidade de se realizar pesquisas que atendam ao rápido processo de inovação tecnológica em que o mundo se encontra, e esta realidade tem aproximado instituições universitárias e organizações. Porém estas integrações representam um número muito pequeno frente ao amplo universo de universidades e organizações. (Segatto, 1996).

Apesar da compreensão a cerca do problema, desenvolvimento científico versus inovação tecnológica, tender a uma perspectiva organizacional é importante destacar que os reflexos sociais e econômicos recaem de modo geral sobre a sociedade como um todo, devido à dualidade econômica organizações versus sociedade.

Tal contexto denota a necessidade de uma visão holística a compreender que a complexidade do problema e a busca de uma solução para as demandas por pesquisa e desenvolvimento passam pela via da integração e cooperação, em especial neste estudo pela cooperação universidade-empresa.

A relevância do conhecimento como base da inovação impõe a exploração e interação das mais diferentes fontes para sua obtenção. Com todos os recursos disponíveis atualmente aliados à rapidez com que as mudanças vêm ocorrendo, há uma exigência crescente de combinação de fontes de informação e conhecimento. (Zanluqui, Gonçalo, 2007). Diante disto a habilidade de explorar conhecimentos externos passa a ser um componente crítico para o desenvolvimento de inovações, utilizado por meio do reconhecimento, assimilação e aplicação comercial deste (Cohen et. al. 2001), colocando a universidade como um lócus de informação e conhecimento a ser explorado.

A respeito da cooperação universidade-empresa, muito se tem discutido acerca de questões como barreiras, facilitadores, motivações, processos de transferência de conhecimento, resultados e outros aspectos, que são cruciais para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do processo (Segatto, 1996); entre estes estudos há diversos indícios da atuação pública, entretanto o papel do governo não tem sido especificamente focado, além disso, o aprofundamento do tema sobre óticas diferenciadas poderiam contribuir com o avanço do conhecimento sobre a cooperação universidade-empresa. (Zanluqui, Gonçalo, 2007). Diante disto o presente artigo tem como finalidade analisar a ação do Governo do Estado do Paraná, por meio da cooperação universidade-empresa. Frente aos aspectos expostos se propõe a seguinte pergunta de pesquisa “De que modo o modo o governo do estado do Paraná, tem promovido ações voltadas a desenvolver a inovação no setor produtivo, por meio da cooperação universidade-empresa?”. Para tanto o presente artigo foi desenvolvido metodologicamente por meio de pesquisa documental, caracterizada como descritiva, mediante analise de dados secundários. No levantamento foram considerados os documentos de 2007 a 2009, referente aos editais e informes do governo do Estado do Paraná acerca das chamadas públicas, resultados e prestações de contas.

2. Cooperação universidade-empresa

Plonski (1999) define o termo cooperação universidade-empresa como um arranjo entre instituições de naturezas e finalidades distintas que cooperam entre si, sendo esta ação conjunta ser de modo tênue ou até intenso, chegando a ocorrer a repartição dos reditos que resultarem da comercialização dos resultados da cooperação.

Sobre sua definição, Plonski (1999) destaca a necessidade de se considerar uma abordagem ampla aos termos empresa e universidade de modo a não restringir sua aplicabilidade à compreensão literal. O termo universidade abarca um amplo número de entidades, jurídicas de ensino e pesquisa (instituições de ensino superior, pós-graduação e pesquisa avançada), empresas juniores, assim como pessoas físicas na figura de um docente que se põe a prestar uma consultoria individual. Do mesmo modo a referência empresa cobre um rol extenso de elementos caracterizados por organizações comerciais, industriais e de serviços, assim corno pessoas físicas que operem um negócio informal, ou ainda um empreendedor potencial.

Em decorrência da multiplicidade de atores distintos envolvidos no conceito universidade-empresa, diversos são as interações que podem ser realizadas, tanto no conteúdo transacional, na estrutura de interface e na forma a ser utilizada dentro do processo de cooperação. (Plonski, 1999).

Acerca da interação dos atores acima, cabe destacar a definição dada por Segatto-Mendes (2001, p. 46), que caracteriza o processo de cooperação universidade-empresa como um instrumento de pesquisa cooperativa pelo qual se obtém "um esforço coletivo no sentido de desenvolver novos conhecimentos tecnológicos que servirão para ampliação dos conhecimentos científicos e para desenvolvimento e aprimoramento de novos produtos".

Interação que se dá pelo interesse de ambas as partes em cooperar num processo recíproco, não somente de esforços, mas de contribuição, no qual a universidade pode ampliar seus conhecimentos científicos pela aplicação prática ao fenômeno natural envolvido; assim como a empresa desenvolver e ampliar sua atuação por meio de melhorias nos produtos e serviços oferecidos.

Além do enfoque bilateral mutuamente contributivo estes se refletem em um ganho de escala na dimensão social e econômica no ambiente externo dos atores principais envolvidos.

2.1 Importância social e econômica da cooperação universidadeempresa

Em uma era em que o conhecimento se torna a maior vantagem competitiva a ser conquistada pelas empresas é de se esperar que os olhares se voltem para a gestão e o desenvolvimento do conhecimento. Deste modo o novo papel da informação e do conhecimento nas economias e no processo produtivo tem levado a um reposicionamento da função desempenhada pela universidade frente à empresa, a qual não apenas é responsável pela capacitação profissional, como passa a fornecer conhecimento crucial para a evolução de alguns setores industriais. (Rapini, 2007).

Condição essencial aos países em desenvolvimento, que em se tratando de interação universidade-empresa, tem no processo de cooperação uma resposta positiva ao baixo nível de atividades de P&D desenvolvidas pelas organizações. Conseqüentemente, com raras exceções, estas não têm como rotinas e estratégia de concorrência e crescimento a geração interna de conhecimento. A maior parte das atividades de P&D é realizada pelo setor público, via empresas estatais, instituições de pesquisa e universidades federais. (Sutz, 2000 apud Raplni, 2007).

A falta de investimento em P&D provoca a paralisia tecnológica organizacional, gerando com o passar do tempo à ineficiência, em decorrência da falta de atualização dos métodos de trabalho, assim como a introdução de novos processos; a gestão da tecnologia ajuda a organização a preparar-se para o futuro e reduzir os riscos comerciais e as incertezas, aumentando sua flexibilidade e capacidade de resposta, com a inclusão de novos produtos e serviços; a inovação é um fator essencial em todas as atividades. (Temaguide, 1999). Condição esta que se agrava pelo processo dinâmico e ágil de globalização de mercado que ora provoca uma acirrada concorrência entre as organizações.

A integração entre universidade e empresa tem sido apontada como uma das maneiras de se modernizar os parques industriais, principalmente em países subdesenvolvidos, frente às demandas de modernização. O desenvolvimento de ações de cooperação com universidade tem garantido a muitas organizações o acesso a inovações tecnológicas que asseguram sua competitividade a um custo inferir ao do desenvolvimento da pesquisa individualmente. Tal condição é devida ao acesso ao conhecimento acumulado dos pesquisadores, a infra-estrutura dos laboratórios universitários e o recurso humano capacitado. (Segatto-Mendes, 2001). O uso da cooperação proporciona a empresa um salto qualitativo e quantitativo em termos de desenvolvimento, em decorrência do acesso acima citado, que do contrário poderia levar meses ou até anos para ser obtido, pelo esforço individual. Complementa-se esta assertiva com a recomendação de Porto (2000) de que a cooperação deve ser visualizada não como um elemento adicional ou assistencialista, mas sim como instrumento de trabalho a ser inserido nos processos organizacionais, como um recurso para obter tecnologia.

Plonski (1999) identifica diversos exemplos de bons resultados de processos de cooperação de vinculações intensas e extensas, como são os casos de incubadoras de empresa, parques tecnológicos e tecnópoles. Costa e Cunha (2001), em seu estudo, destacam que apesar das relações de cooperação serem poucas, as empresa que a utilizam apresentam um nível de automação maior, investem mais em pesquisa e desenvolvimento.

Com certeza os benefícios resultantes destes avanços beneficiarão o país como um todo por meio de um setor industrial mais competitivo, pesquisas de melhor qualidade, setor acadêmico com maior estabilidade na execução de pesquisas, maiores e mais rápidas inovações tecnológicas e fortalecimento da economia nacional. (Segatto, 1996)

2.2 Relação universidade-empresa

Porém cabe destacar que mesmo diante da pontual necessidade do desenvolvimento científico e tecnológico na empresa e da percepção do potencial de fomento da universidade, o tema cooperação universidade-empresa encontra resistências no meio acadêmico, como observado na discussão da mesa redonda (Fleury, 1999, p. 35) acerca dos escritos de Henry Newman (1852) e Jaroslav Pelikan (1992).

... a universidade não deve ter relações com as indústrias ou com os governos, bem como não deve ser prisioneira da sociedade em que está inserida: a universidade deve ser um local de recolhimento que permita completa liberdade acadêmica. Dessa forma, o objetivo da universidade deveria ser o de uma área que se posicionasse de forma afastada, insulada das pressões políticas, econômicas e, naturalmente, também religiosas que estão coagindo a sociedade. Guardando distância da sociedade, as universidades poderiam servi-Ia melhor...

Tais argumentos refletem-se ao dilema da autonomia e dependência do papel social da universidade. Se por um lado teme-se que a universidade acabe ficando prisioneira aos prazeres dos setores produtivos, por outro lado questiona-se o verdadeiro papel social da universidade para a sociedade, ou seja, a universidade estaria realizando seu papel colocando-se a serviço da sociedade ou mantendo-se distante para que possa de modo autônomo e objetivo contribuir para o crescimento da sociedade, mesmo correndo o risco de criar profissionais incompatíveis com a mesma e que já não possam mais servi-la.

Numa outra perspectiva Chamoivich (1999, p. 20) afirma que "as alterações recentes da sociedade brasileira, a abertura da economia e a crescente complexidade social dela decorrente são os elementos explicativos centrais" que justificam o novo relacionamento entre a universidade e a empresa.

Apesar de não haver uma unanimidade em relação ao tema, avanços são destacados por Plonski (1999) a respeito da ênfase sobre a discussão acerca do processo de cooperação, de que este tem se deslocado da temática ideológica para a da gestão ou regulamentação do processo. Respeitando-se as diferenças e valorizando os aspectos de complementaridade e similaridade, por meio de uma gestão eficiente do processo, atribuindo responsabilidades e deveres de ambas as partes, é possível criar uma interação saudável aos atores envolvidos.

Acerca disto a vinculação entre a universidade e a empresa não ocorre de um momento para o outro, mas passa por um processo contínuo em que determinados estágios devem ocorrer (Segatto, 1996). Segundo Sbragia (1994 apud Segatto, 1996) estes estágios são em número de três: primeiro seria a disposição a cooperar, no qual se inicia o diálogo entre as partes e a manifestação do interesse; no segundo estágio, ocorre o intercâmbio de informações; e por fim, o terceiro estágio em que, a cooperação se torna efetiva. Entre o inicio e a concretização da cooperacão as partes devem buscar amadurecer o relacionamento de modo a preservar suas características particulares.

Vale ressaltar ainda sobre a relação universidade-empresa que embora o foco da resistência recaia sobre a universidade, isto não é verdadeiro, havendo também por parte da empresa restrições a cooperar. A empresa, ainda que interessada em incorporar conhecimento em seu produto desconfia da universidade local, por ignorar a capacidade científica instalada no país ou por estar pouco exposta à necessidade de competição global. (Chaimovich, 1999). No Brasil, nota-se que ainda não existe uma conscientização, por parte das empresas, acerca das oportunidades e vantagens que podem surgir de uma interação com a universidade, (Cunha, 1999).

Ao que se percebe muito mais são as restrições culturais, decorrentes das histórias individuais (universidade e empresa) construídas de modo autônomas, do que a falta de capacidade intelectual e/ou estrutural para se fazer a cooperacão acontecer.

2.3 Agentes envolvidos na cooperação universidade-empresa

Para que o processo de cooperação possa acontecer é preciso que haja responsáveis em cada uma das instituições envolvidas que possam negociar o processo de transferência da tecnologia. Vale destacar a responsabilidade de ambos, pois são responsáveis de preservar cada qual o propósito da instituição que representam. No respeito pelas diretrizes básicas de cada instituição é que reside a confiança da cooperação. Sem este, o processo de cooperação não terá êxito e pelo contrário acabará gerando resistência a futuros relacionamentos tanto entre as partes atuais como a outras em potencial. Sendo assim, o êxito dependera, em grande parte, do trabalho conjunto do gatekeeper (responsável pela organização) e do agente universitário de interação, que deverão influenciar as pessoas de suas organizações para que a interação realmente aconteça. (Cunha, 1999). Além do gatekeeper e do agente universitário, um terceiro elemento pode parecer no processo de cooperação universidade-empresa que é o governo. Este tem como principal papel fornecer recursos, identificar parceiros potenciais, criar incentivos à pesquisa e inovação e principalmente retirar os desincentivos. Porém pode de modo negativo reduzir a flexibilidade dos acordos, assim como diminuir a diversidade destes (Segatto-Mendes, 2001) em função dos interesses econômicos e sociais. A utilização de processos de cooperação universidade-empresa como instrumento de intervenção econômica e social por parte do governo tem sido uma prática cada vez mais usual. O modelo de cooperação envolvendo a universidade, a empresa e o governo foi registrado na literatura por Sábato e Botana (1968, apud Flores, 2005). Eles propuseram um modelo visando superar o subdesenvolvimento da América Latina, através da inserção da ciência e da tecnologia na rede que compõe o processo de desenvolvimento, por meio de ações governamentais diretas que resultariam numa ação múltipla e coordenada dos três principais agentes. O modelo pode ser representado pela figura 1:

Figura 1: Triângulo de Sábato
Fonte: Sábato e Botana, (1968 apud FLORES, 2005:44)

Acerca do exposto pode concluir-se que em muito tem a contribuir o processo de cooperação universidade-empresa, como instrumento de intervenção social pelo governo, desde que utilizado de modo adequado respeitando-se as diferenças das partes, podendo promover o desenvolvimento econômico e o processo de inovação tão necessário a sociedade como um todo.

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* Universidade Estadual do Centro-Oeste. Email: cesarfreitas@sercomtel.com.br
** Universidade de São Paulo - Brasil. Email: jccunha@ufpr.br

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