Espacios. Vol. 34 (3) 2013. Pág. 16


Influências existentes entre a qualidade de vida e a qualidade de vida no trabalho: Estudo na indústria de laticínio

Influences between quality of life and quality of life at work: Study in the dairy industry

Rúbia Carla Maier 1, Guataçara dos Santos Junior 2 , Luciana da Silva Timossi 3 y Antonio Carlos de Francisco 4

Recibido: 27-09-2012 - Aprobado: 17-01-2013


Contenido

Gracias a sus donaciones esta página seguirá siendo gratis para nuestros lectores.
Graças a suas doações neste site permanecerá gratuito para os nossos leitores.
Thanks to your donations this site will remain free to our readers.

RESUMO:
O objetivo deste estudo foi identificar as relações existentes entre a Qualidade de Vida e a Qualidade de Vida no Trabalho de funcionários da indústria de laticínios através da regressão logística. A pesquisa aplicada se caracteriza como descritiva e quali-quantitativa. Utilizando pesquisa realizada com funcionários da indústria de laticínio, os quais foram investigados através da aplicação dos instrumentos WHOQOL-100 e o modelo adaptado de Walton, ao todo foram entrevistados 548 funcionários. A análise dos dados ocorreu através das técnicas estatísticas de regressão logística. Os resultados encontrados na regressão logística univariada, mostraram que os critérios da QVT possuem influência significativa em QV e que os domínios de QV (exceto domínio espiritualidade) possuem influência significativa em QVT. No modelo de regressão logística multivariado, algumas variáveis apresentaram como não significativas, pois apresentaram valores acima do nível de significância adotado. Considerando as variáveis significativas foi estimado o modelo matemático, encontrando a probabilidade de influência entre as variáveis (domínios, critérios, QV e QVT). Através do estudo do relacionamento entre estas variáveis foi possível concluir as chances de melhoria nos domínios da QV que influenciam positivamente na QVT, e vice-versa, proporcionando ao gestor melhor direcionamento dos seus investimentos.
Palavras-chave: Qualidade de Vida; Qualidade de Vida no Trabalho; Regressão Logística.

ABSTRACT:
The aim of this paper is to identify the relationship between the quality of life and quality of work life of employees of the dairy industry through logistic regression. The research is characterized as descriptive and qualitative-quantitative. Utilizing research conducted with industry dairy employees, which were investigated by applying the WHOQOL-100 and the model adapted from Walton, altogether 548 employees were interviewed. Data analysis occurred statistical through logistic regression techniques . The results found in the univariate logistic regression showed that the criteria of QWL have significant influence on QL and that QL domains (except spirituality domain) have significant influence on QWL. In multivariate logistic regression model, some variables were not as significant as had values above the significance level. Considering the significant variables was estimated mathematical model, finding the probability of influence between variables (fields, criteria, QL and QWL ). Through the study of the relationship between these variables was possible to conclude the chances of improvement in the areas of QL that positively influence the QWL, and vice versa, providing the manager better targeting their investments.
Keywords: Quality of Life, Quality of Working Life; Logistic Regression


1. Introdução

O tema qualidade de vida (QV) é muito discutido tanto na linguagem cotidiana, como em pesquisas científicas. Essa constatação é confirmada por Fleck et al. (2008) quando argumenta que a última década presenciou o crescimento da produção científica na área de QV e saúde, sem focar apenas a doença, mas os construtos sociais e psicológicos envolvendo o bem-estar e a satisfação das pessoas.

O atual contexto empresarial está caracterizado pela maior atenção no capital humano no ambiente de trabalho. Considerando que as pessoas passam uma parcela significativa de suas vidas em organizações, pesquisadores e gestores crescentemente passaram a se preocupar com a qualidade de vida no trabalho (QVT), principalmente no que se refere às condições do ambiente de trabalho, buscando aumentar a satisfação e a motivação do trabalhador e com isso refletir no aumento da produtividade.

A QVT é um tema que tem despertado o interesse por parte do empresariado brasileiro, provavelmente pela possível ligação com a satisfação do empregado e consequentemente perda ou aumento da produtividade que pode surgir desta associação. (FRANÇA; ZAIMA, 2002).

Embora haja um limite sutil entre as questões de trabalho e de vida na família e na comunidade, ambos tratam de questões relacionadas a promover e assegurar a qualidade do bem-estar geral do ser humano. Por isso, tão importante quanto às condições de vida das comunidades são as práticas desenvolvidas pelas empresas, já que é nas empresas que o ser humano desenvolve uma parte muito significativa de sua vida: o trabalho. (OLIVEIRA; FRANÇA, 2005).

Desenvolver e manter uma sensação de bem estar no trabalho não envolve apenas resultados financeiros, envolve, ou deveria envolver questões de QV, bem como horas de trabalho, tempo com a família, cargas de trabalho administráveis, controle de carreira e alguma sensação de segurança no emprego. (COOPER, 2005).

Devido à maior conscientização dos trabalhadores, tem levado reivindicações por um trabalho mais humano e compensador. Para que seja possível trabalhar com o conhecimento das pessoas é necessário que estas estejam bem. Sendo necessário verificar a QV dentro e fora das organizações, pois certamente o funcionário que possui uma boa QV, desempenhará melhor as suas tarefas, produzindo mais e contribuindo com novos conhecimentos.

A empresa deve preparar o melhor ambiente de trabalho, na busca de proporcionar aos seus funcionários satisfação nas tarefas desenvolvidas. A QVT deve buscar atingir vários níveis, proporcionando a saúde física, social e psicológica a seus funcionários, podendo contar com auxílio de programas e ações em QVT.

Para que os programas e investimentos em promoção da saúde dos trabalhadores possam ser fundamentados de forma que realmente atendam as necessidades dos funcionários, é importante que os gestores avaliem e procure conhecer o estilo de vida, os hábitos, a satisfação, a QVT e a QV geral de quem, todo o dia, participa ativamente do processo produtivo. (TIMOSSI, 2009).

As abordagens em torno do tema QV e QVT, vêm sendo tratadas em muitos estudos levando em consideração a relação existente entre elas. Timossi (2009) evidencia que ambas – QV e QVT – podem ser influenciadas por vários aspectos. O conhecimento dos fatores que estão presentes na vida dos funcionários e que lhes causam certa insatisfação pode fornecer subsídios para que a empresa possa agir de forma coerente na tomada de decisão, contribuindo para que ocorra melhoria na vida, levando ao melhor desempenho dentro da organização.

A importância em se estudar QV e QVT está em que a QVT não afeta apenas a satisfação no trabalho, mas também satisfação em domínios da vida, tais como vida familiar, vida lazer, vida social, vida financeira, e assim por diante. (SIRGY et al., 2001).

Este estudo propõe a análise da QV e da QVT de funcionários da indústria de laticínios no estado do Paraná, utilizando-se para verificar a relação existente entre estas o modelo de regressão logística. O que se torna relevante pela necessidade em mensurar a QV e a QVT, verificando através de números a existência de influência entre estas variáveis.

2. Investigação quanto a QV e a QVT

A QV assume importância cada vez maior e está sendo foco de vários estudos, inclusive voltados ao ambiente de trabalho. Timossi (2009) ressalta que mesmo a QV sendo um tema atual e muito discutido, não existe um conceito único que seja capaz de abordar os vários fatores que interferem ou a influenciam.

Martins (2005) relata que a QV não é apenas sinônimo de qualidade do ambiente, de saúde física/mental, entre outros, mas trata-se de um conceito abstrato que deve refletir a interação do homem com o seu meio, é a maneira pela qual o individuo interage com o mundo externo, o que se dá através da sua individualidade e da sua subjetividade.

Neste contexto de QV, o trabalho é que vem ocupar um grande espaço na vida das pessoas, focadas nesta ideia muitas organizações vêm desenvolvendo estratégias com objetivo de estabelecer um equilíbrio entre a relação vida e o trabalho.

As concepções sobre o ser humano no ambiente de trabalho vêm sendo transformadas no decorrer dos anos, o termo QVT é empregado e debatido por muitas empresas na busca de um diferencial. Para Rodrigues (2008, p.76), “[...] a QVT tem sido uma preocupação do homem desde o início de sua existência, às vezes apresentada com outros títulos, mas sempre voltada para trazer satisfação e bem-estar ao trabalhador ao executar suas tarefas”.

Com o avanço e desenvolvimento industrial e as transformações ocorridas no trabalho, o homem deixou de ser visto como uma máquina, numa concepção que se voltava apenas para a produtividade, passando-se a um olhar em que a satisfação dos funcionários se reverte em melhor desempenho e eficiência para o sucesso das empresas.

Entretanto, verifica-se que estas transformações no trabalho motivadas pela acirrada concorrência entre as organizações exigem profissionais qualificados, aumentando a produtividade com metas excessivas, o que vem prejudicado a saúde e a vida das pessoas. Shinyashiki (2002) fala que viver somente para o trabalho, em um regime de competição eterna, está custando um preço altíssimo, sendo chocante a quantidade de doenças que se contrai devido a um estilo de vida que impossibilita o indivíduo de ser feliz.

O foco na QVT torna-se importante devido o trabalho ocupar um grande espaço na vida das pessoas. De acordo com Conte (2003), a importância da QVT reside no fato de que as pessoas passam em ambiente de trabalho mais de 8 horas por dia, durante pelo menos 35 anos de suas vidas.

Torna-se difícil para o indivíduo separar os problemas profissionais de sua vida pessoal, como também inversamente. O trabalho conforme Martel e Dupuis (2006) ocupa os pensamentos, determina o cronograma para o dia, fornece o acesso para o consumidor aos produtos e contribui para a identidade social.

Para Martel e Dupuis (2006), a QVT corresponde a uma condição experimentada pelo indivíduo na busca dinâmica de seus objetivos hierarquicamente organizados, dentro dos domínios de trabalho, onde a redução do espaço que separa o indivíduo a partir destes objetivos é refletida por um impacto positivo na QV geral, no desempenho organizacional e, consequentemente, no funcionamento global da sociedade.

A ideia da QVT é proporcionar um ambiente de trabalho saudável, clima organizacional agradável, propício ao bem estar, satisfação e a motivação dos colaboradores, fazendo com que se sintam valorizados.

Problemas decorrentes da falta tanto da QV como da QVT podem refletir negativamente na vida indivíduo, seja no ambiente de trabalho ou nos seus momentos de tempo livre e lazer, resultando em uma má produtividade, como também problemas de absenteísmo, rotatividade e saúde.

Conte (2003) ressalta que a meta principal do programa de QVT é a conciliação dos interesses dos indivíduos e das organizações, ao melhorar a satisfação do trabalhador, melhora-se a produtividade da empresa.

A abordagem em torno do tema QV e QVT vêm sendo tratada em muitos estudos levando em consideração sua relação. O Quadro 1, a seguir, traz as colocações de alguns pesquisadores sobre esta relação.

Autores

Citações

Loscocco e Roschelle

(1991)

Propuseram que a QV deve ser analisada como a resultante da composição (vida social familiar + realidade do trabalho) e não separadamente.

Grandjean (1998)

Existem vários levantamentos que dão margem à hipótese que há estreitos laços entre a QVT e a QV em geral.

Danna e Griffing (1999)

Salientam que o trabalho e a vida pessoal não são duas coisas separadas, mas domínios inter-relacionados e entrelaçados um no outro.

Nahas (2006)

Pelo menos duas realidades se interpõem no dia-a-dia e podem ser consideradas no estudo da QV: a realidade da vida social familiar (incluindo o lazer) e a realidade do trabalho.

Cooper (2005)

Discorre sobre a percepção que os gerentes têm sobre as muitas horas de trabalho onde apresenta que 69% dos executivos relatam que estas horas prejudicam sua saúde, 77% que afetam de forma adversa seu relacionamento com os filhos e 72% que prejudicam seu relacionamento com seu parceiro.

Vasconcelos (2008)

Apresentou estudos (DIEGUES, 2004; FRANÇA, 2006; ARANHA, 2007) e constatou que subir na carreira é terrivelmente devastador à QV e à saúde de homens e também de mulheres.

Timossi (2009)

Conclui que correlacionar QVT e QV estão de acordo com a premissa atual de gestão de pessoas, pois possibilita avaliar a influência de qualquer critério de QVT sobre a QV geral e também inversamente.

Quadro 1 - Autores que defendem a ideia de relação entre QV e QVT
Fonte: Adaptado de Timossi (2009).

Torna-se evidente a importância de se estudar estas duas variáveis (QV e QVT), para possibilitar a empresa melhor direcionamento de suas estratégias em relação ao seu capital humano e a melhora das condições de vida dos indivíduos na sociedade.

3. Metodologia

Neste estudo se investigou um período específico nos funcionários da indústria de laticínio, onde foi analisado a QV e QVT através da regressão logística. Para atender os objetivos desta pesquisa se utilizou do banco de dados da pesquisa realizada por Timossi (2009), em empresas do ramo de laticínios localizadas no estado do Paraná, em que foi analisada a relação entre a QV e QVT.

As empresas foram selecionadas por acessibilidade, optando por escolher mais de uma empresa, pois o objetivo não é fazer o retrato de uma organização mais de um mesmo setor produtivo. Foram escolhidas empresas classificadas como micro, pequena, média e grande. Fazendo parte da amostra os níveis: diretores e gerência; colaboradores administrativos e setor produtivo (TIMOSSI, 2009).

Foram investigados ao todo 548 funcionários. Estes funcionários foram investigados através da aplicação simultânea dos instrumentos: o WHOQOL -100 e o modelo de Walton.

O WHOQOL–100 foi utilizado para avaliação da QV, trata-se de um instrumento elaborado pela OMS, que questiona sobre como a pessoa tem se sentido em relação a sua QV, saúde, e outras áreas afins. É composto por 100 questões, as quais são seccionadas em 24 grupos de quatro questões cada, que se denomina por ‘facetas’. Um determinado número de facetas constituiu um domínio, o instrumento baseia-se em seis domínios. Estes seis domínios são: físico; psicológico; nível de independência; relações sociais, meio-ambiente e; espiritualidade / religião / crenças pessoais.

Para investigar a QVT, utilizou-se o modelo adaptado de Walton (1973), um dos modelos mais utilizados e relevantes na avaliação da QVT. O modelo é constituído por oito dimensões e/ou critérios, os quais abrangem aspectos básicos das situações no trabalho.

Os oito critérios são: compensação justa e adequada, condições de trabalho, uso e desenvolvimento das capacidades pessoais, oportunidade de crescimento e segurança, integração social na organização, cidadania, trabalho e espaço total de vida e, relevância social do trabalho.

Walton (1973) não traz um questionário constituído, mas um conjunto de dimensões. Timossi et al. (2009) elaboraram um questionário, baseado nas dimensões apresentados por Walton para avaliarem a QVT dos funcionários, com uma linguagem mais propícia a qualquer nível de escolaridade.

Para análise de dados, inicialmente foi realizada a análise descritiva dos domínios da QV e dos critérios da QVT, em seguida se utilizou o teste independência para testar a hipótese de que não há associação entre os domínios com a QVT e entre os critérios com a QV.

Com os domínios que apresentaram uma associação significativa com a QVT e com os critérios que apresentaram associação significativa com a QV, foi implementada a análise de regressão logística. Para então identificar às variáveis da QV que apresentam alguma relação com a QVT geral, e as variáveis da QVT que apresentam alguma relação com a QV geral.

Na análise dos resultados obtidos na aplicação da regressão logística, novamente a associação entre os domínios com a QVT, e entre os critérios com a QV foi avaliada. As razões de chances entre os domínios com a QVT, e entre os critérios com a QV foram estimadas e com auxílio dos testes Pearson, Deviance e Hosmer-Lemeshow, o modelo foi avaliado.

A partir dos resultados obtidos desta análise foram orientados investimentos em QV e QVT considerando os critérios e domínios.

4. Resultados e discussões

Com base nos resultados da pesquisa, recorreu-se primeiramente ao teste de independência qui-quadrado, para examinar as associações entre estes seis domínios da QV com a QVT geral e, as associações entre os oito critérios da QVT com a QV geral.

Os valores obtidos através do teste de independência envolvendo todas as 14 variáveis encontram-se nas Tabelas 1 e 2. Foi possível verificar com um nível de significância α ≤ 0,05, quais variáveis independentes possuem influência significativa em relação às variáveis dependentes.

Na Tabela 1 são apresentados os resultados da análise do teste de independência aplicado para os domínios da QV e QVT geral:

Tabela 1 - Domínios da QV com a QVT Geral

Domínios

Qui-quadrado

Valor de P

Físico

42,940

≤ 0,001

Psicológico

38,951

≤ 0,001

Nível de Independência

10,633

≤ 0,001

Relações Sociais

29,738

≤ 0,001

Meio Ambiente

43,675

≤ 0,001

Espiritualidade/crenças

3,603

0,058

Fonte: Autoria própria (2012).

Entre as seis variáveis (domínios) investigadas, cinco apresentaram dependência significativa. Estas são as que o resultado da análise apresentou valor de p≤0,01 no teste, portanto nestes casos, rejeita-se a independência entre as variáveis analisadas, concluindo que há evidência suficiente para garantir a afirmação de que os domínios de QV e a QVT geral são significativamente dependentes. Isso pode ser afirmado com no mínimo 99,9% de confiança.

Conforme a Tabela 1, a única variável considerada independente de QVT foi o domínio ‘Espiritualidade’ (p=0,058), pois na análise teste de independência apresentou valor de p maior que o nível de significância adotado, α=0,05. É provável que o fato deste domínio não se apresentar significante, devido o instrumento WHOQOL-100 apresentar apenas quatro questões referentes a este domínio.

Na Tabela 2, a seguir, são apresentados os resultados da análise do teste de independência aplicado para os critérios da QVT e QV geral:

Tabela 2 - Critérios da QVT com a QV Geral

Critérios de QVT

Qui-quadrado

Valor de P

Comp. Justa e Adequada

19,910

≤ 0,01

Cond. Trabalho

10,622

≤ 0,01

Capacidades

41,645

≤ 0,01

Oportunidades

45,362

≤ 0,01

Integração Social

74,691

≤ 0,01

Constitucionalismo

44,928

≤ 0,01

Trabalho e Vida

12,773

≤ 0,01

Relevância Social

14,782

≤ 0,01

Fonte: Autoria própria (2012).

Entre as oito variáveis investigadas (critérios), todos os critérios apresentaram dependência significativa, concluindo que há evidência suficiente para garantir a afirmação de que os critérios de QVT e a QV geral são significativamente dependentes.

Após a análise realizada com o teste de independência, será estimado o modelo de regressão logística. Neste caso será trabalhado com a regressão logística binária, pois a tabulação dos dados foi direcionada para esse encaminhamento.

Tabela 3 – Resultados da regressão logística multivariada entre os critérios da QVT na satisfação com a QV geral

Preditor

Coeficiente

 

P

Razão de Chances

Intervalo de confiança 95%

Inferior

Superior

Constante

0,505488

0,349

-

-

-

Comp. Justa e Adequada

0,770681

0,307

2,16

0,49

9,48

Cond. Trabalho

-1,28588

0,071

0,28

0,07

1,12

Capacidades

0,790827

0,190

2,21

0,67

7,20

Oportunidades

2,64805

0,016

14,13

1,65

120,80

Integração Social

2,02273

0,003

7,56

2,03

28,09

Constitucionalismo

0,873157

0,177

2,39

0,67

8,50

Trabalho e Vida

0,401886

0,495

1,49

0,47

4,74

Relevância Social

0,289377

0,655

1,34

0,38

4,75

Fonte: Autoria própria (2012).

A partir dos resultados encontrados na construção do modelo logístico, verifica-se que o modelo exclui algumas das variáveis devido ao nível de significância adotado, ou seja, α ≤ 0,05. Portanto, as variáveis que se encontram acima do nível de significância não poderão fazer parte do modelo logístico.

Buscando estimar o modelo multivariado, as variáveis a serem utilizadas serão: critério 4 e critério 5, sendo ‘oportunidade de crescimento e segurança’ e ‘integração social’, respectivamente. Pois os resultados apresentados na Tabela 3 apontam para uma associação significativa com a QV geral, portanto, há evidências suficientes para afirmar que os critérios ‘oportunidade de crescimento e segurança’ e ‘integração social’ analisados influenciam significativamente a QV geral.

Estas variáveis significativas podem ser consideradas prioridades nas estratégias da empresa para melhorar a QV dos funcionários desta indústria.

Outros testes estatísticos podem ser utilizados para se obter uma maior confiança no modelo multivariado estimado. Para esta validação do modelo são utilizados os testes: Pearson; Deviance e Hosmer-Lemeshow, conforme Tabela 4.

Tabela 4 - Teste de qualidade de ajuste dos dados

Testes avaliados

Valores do modelo - Critérios da QVT na satisfação com a QV geral

Qui-quadrado

P

Pearson

67,8716

0,925

Deviance

46,4428

1,000

Hosmer-Lemeshow

2,2501

0,690

Fonte: Autoria própria (2012).

Verifica-se através dos testes estatísticos aplicados que os resultados apresentaram um ajuste satisfatório em relação ao modelo logístico estimado. Portanto, há evidência suficiente para afirmar que o modelo estimado realiza predições com ótima confiança.

Assim, substituindo os coeficientes na equação de regressão logística, pelos coeficientes estimados encontrados na Tabela 3, tem-se o modelo de regressão logística relacionando a variável dependente QV geral com as variáveis independentes os critérios ‘oportunidade de crescimento e segurança’ e ‘integração social’ têm-se:

Onde:
crit 4 - caso satisfação com este critério 1, caso insatisfação zero.
crit 5 - caso satisfação com este critério 1, caso insatisfação zero.

Estimado o modelo de regressão logística e realizado os ajustes dos dados, é possível exemplificar sua capacidade de predição probabilística.

Supondo que um funcionário da indústria pesquisada se apresente com satisfação nos critérios considerados significativos no modelo estimado (oportunidade de crescimento e integração social), é possível estimar a probabilidade que este funcionário terá de desenvolver uma QV satisfatória.

Para isso, substituem-se na equação estimada de regressão logística os dados do funcionário analisado. É possível verificar com este exemplo, que o funcionário apresentando estas condições de satisfação com os critérios oportunidade de crescimento e integração social, terá aproximadamente 99,44% de probabilidade em desenvolver uma QV satisfatória.

Observando a razão de chances encontradas para o critério ‘oportunidade de crescimento e segurança’. De acordo com o valor encontrado, sugere-se que investimentos neste critério tendem a aumentar as chances, em média, de satisfação na QV em aproximadamente 14 vezes. Isto significa que um funcionário desta indústria que considerar a oportunidade de carreira, o desenvolvimento pessoal e a estabilidade no emprego como satisfatória tem aumentado aproximadamente 14 vezes a chance de ter QV geral satisfatória.

O intervalo de confiança gerado para este critério (oportunidade de crescimento e segurança) apresentou valor muito expressivo, com limite inferior de 1,65 e como limite superior 120,80. Como se trata de um resultado amostral, a verdadeira razão de chances populacional pode assumir qualquer valor entre 1,65 e 120,80.

Quanto à estabilidade no emprego, envolvida neste critério, à medida que cresce os riscos de demissão, estabelece uma insegurança e avolumam as exigências daqueles que permanecem empregados (LOURENÇO, 2008). Isto reflete não apenas na condição financeira do desempregado, que pode abalar sua QV pela falta de recursos, mas também daqueles que continuam no trabalho podendo afetar suas condições psicológicas pela maior esforço exigido no trabalho.

O critério ‘integração social’ de acordo com a razão de chances apresentada tendem a aumentar, em média, de satisfação na QV em 7,56 vezes. Vasconcelos (2008) argumenta sobre este critério que é inconcebível as pessoas trabalharem em uma empresa e não interagirem de maneira cordial, sinérgica e civilizada.

Na tabela 5, apresentam-se os resultados da regressão logística entre os domínios da QV com a QVT geral.

Tabela 5 – Resultados da regressão logística multivariada entre os domínios da QV na satisfação com a QVT geral

Preditor

Coeficiente

P

Razão de Chances

Intervalo de confiança 95%

Inferior

Superior

Constante

-2,97645

0,004

-

-

-

Físico

1,10365

0,000

3,02

1,71

5,33

Psicológico

1,08475

0,018

2,96

1,20

7,59

Nível de Independência

1,43954

0,124

4,22

0,68

26,36

Relações Sociais

0,574083

0,223

1,78

0,70

4,47

Meio Ambiente

0,992355

0,000

2,70

1,59

4,59

Fonte: Autoria própria (2012).

Para estimar o modelo de regressão logística multivariado, serão utilizadas as variáveis independentes: domínio físico, psicológico e ambiente. Os domínios nível de independência e relações sociais apresentaram valores acima do nível de significância adotado (p ≤ 0,05) e por isso não poderão fazer parte do modelo logístico.

Os domínios físico, psicológico e ambiente apresentaram associação significativa com a QVT geral. Portanto, há evidências suficientes para afirmar que os domínios analisados influenciam significativamente a QVT geral, podendo isso ser afirmado com no mínimo 95% de confiança. Estes domínios podem ser considerados como prioridades nas estratégias da empresa para melhorar a QVT dos funcionários.

Para a validação deste modelo estimado se utilizou os testes: Pearson; Deviance e Hosmer-Lemeshow. Os resultados podem ser observados na Tabela 6, a seguir:

Tabela 6 - Teste de qualidade de ajuste dos dados

Testes avaliados

Valores do modelo - Domínios da QV na satisfação com a QVT geral

Qui-quadrado

P

Pearson

7,62835

0,908

Deviance

8,93002

0,836

Hosmer-Lemeshow

0,00031

0,986

Fonte: Autoria própria (2012).

Verifica-se que os dados se apresentaram com um ajuste satisfatório em relação ao modelo logístico estimado. Portanto, há evidência suficiente para afirmar que o modelo estimado realiza predições com ótima confiança.

Assim, substituindo os coeficientes na equação de regressão logística pelos coeficientes estimados encontrados na Tabela 5, tem-se o modelo de regressão logística relacionando a variável dependente QVT geral com as variáveis independentes (domínio físico, psicológico e ambiente).

Onde:
dom 1 - caso satisfação com este critério 1, caso insatisfação zero.
dom 2 - caso satisfação com este critério 1, caso insatisfação zero.
dom 5 - caso satisfação com este critério 1, caso insatisfação zero.

Depois de estimado o modelo de regressão logística e realizado os ajustes dos dados, é possível exemplificar sua capacidade de predição probabilística. Supondo que um funcionário da indústria pesquisada se apresente com satisfação nos domínios considerados é possível estimar a probabilidade que este funcionário terá de desenvolver uma QVT satisfatória.

O resultado encontrado para um funcionário apresentando estas condições de satisfação com os domínios físico, psicológico e ambiente, é de aproximadamente 55,07% de probabilidade em desenvolver uma QVT satisfatória.

Apesar de o modelo apresentar uma qualidade de ajuste significativa, conforme resultados apresentados e discutidos das Tabelas 5 e 6, a probabilidade estimada com o mesmo para os funcionários que apresentam uma condição de satisfação nos domínios 1, 2 e 5, não é alta.

Nesse exemplo, no qual se obteve a probabilidade de 55,07% para um QVT satisfatória não são consideradas as variáveis independentes (domínios) que apresentaram valor de p acima do nível de significância adotado para a pesquisa. Porém, quando testado o modelo considerando todos os domínios a probabilidade de se obter uma QVT satisfatória passou para aproximadamente 90%.

Considera-se este acréscimo significante, portanto, conclui-se que mesmo os valores de p apresentados na Tabela 5 indicando para que alguns domínios não sejam considerados no modelo estimado, deve-se sim utilizá-los. Esta decisão está considerando Gujarati (2006) o qual argumenta que os pesquisadores erroneamente descartam algumas variáveis por estarem com valor de p acima do nível de significância adotado.

Quanto à razão de chances encontrada para os domínios físico, psicológico e meio ambiente indicam uma percepção muito favorável do funcionário. Investimentos nestes domínios tendem a aumentar as chances, em média, de satisfação na QVT em aproximadamente três vezes.

5. Conclusão

O objetivo de identificar a existência de relações probabilísticas entre a QV e a QVT de funcionários da indústria de laticínios através da regressão logística, foi alcançado por meio da metodologia adotada.

Constatou-se com o teste de independência que os domínios de QV não são independentes de QVT geral (exceto o domínio ‘espiritualidade’, pois este se apresentou como independente). E que todos os critérios de QVT não são independentes de QV geral.

Os modelos estimados de regressão logística conseguiram demonstrar a probabilidade de um funcionário desenvolver satisfação com a QV ou satisfação com a QVT, assim como a razão de chance de influência de cada uma das variáveis (domínios e critérios) na variável dependente (QV geral e QVT geral).

Pode-se verificar a regressão logística como uma ferramenta eficiente na busca de ocorrência da satisfação dos funcionários, contribuindo para a tomada de decisão pela gestão da empresa.

Os resultados encontrados sugerem que práticas de gestão podem ser adotadas, e estas trariam impacto direto no sentimento de satisfação destes funcionários investigados. Tais práticas devem estar ligadas aos melhores resultados encontrados, em relação aos domínios e critérios apresentados como de maior influência.

Destacam-se alguns domínios e critérios nesta relação de influência, sendo eles: domínio físico, domínio psicológico, domínio ambiente, critério oportunidades de crescimento e segurança e o critério integração social.

Ao realizar a regressão logística, verificou-se no modelo de influência na QV geral dos funcionários que os critérios da QVT, ‘oportunidades de crescimento e segurança’ e ‘integração social’, apresentaram-se como significativos. Portanto estas variáveis podem ser consideradas como prioridades nas estratégias para melhoria na QV destes funcionários.

O critério oportunidade de crescimento e segurança apresentou uma probabilidade de 99,44% em desenvolver uma QV satisfatória. Confirma-se com estes resultados a influência que o trabalho exerce sobre a QV dos funcionários.

A empresa poderá agir com investimentos em programas de QVT que visem à oportunidade de crescimento e segurança no trabalho, pois se contatou sua influência na vida dos funcionários, o que poderá refletir positivamente no ambiente de trabalho e nos retornos almejados pela empresa. Assim, sugere-se às empresas programas com foco na oportunidade de ascensão profissional, segurança ao funcionário em seu emprego e possibilidades amplas de carreira.

Investimento na integração social também poderá ser positivo, ou seja, a empresa poderá estar desenvolvendo programas de incentivos ao relacionamento com um ambiente de trabalho alegre e descontraído.

Apresentaram-se os domínios físico, psicológico e meio ambiente como influente na QVT dos funcionários, sendo importante para a indústria estudada também estar investindo em programas de QV, com foco nestes três domínios, pois se constatou a influência que estes domínios poderão gerar no ambiente de trabalho, refletindo na produtividade de seus funcionários.

Logo, conclui-se que após os levantamentos para a QV geral e para a QVT geral, estes são influenciados significativamente tanto em relação aos critérios de QVT, como em relação aos domínios de QV, possuindo relações probabilísticas entre estes. O que também mostrou grande valia na busca de melhorias para os funcionários da indústria, podendo contribuir para impulsionar estabelecimento de programas de promoção para QV e para QVT.

Referências

CONTE, A. L. Funcionários com qualidade de vida no trabalho são mais felizes e produzem mais. Revista FAE BUSINESS, n.7, nov. 2003.

COOPER, C. L. A natureza mutante do trabalho: o novo contrato psicológico e os stressores associados. In: ROSSI, A. M.; PERREWÉ, P. L.; SAUTER, S. (Org.) Stress e qualidade de vida no trabalho: perspectivas atuais da saúde ocupacional. São Paulo: Atlas, 2005.

FRANÇA, A. C. L.; ZAIMA, G. Gestão de qualidade de vida no trabalho - GQVT: com ênfase em pessoas equipes e liderança. Manual de Gestão de Pessoas e Equipes: estratégias e tendências. São Paulo: Gente, 2002.

FLECK, M. P. A. et al. A avaliação da qualidade de vida: guia para profissionais da saúde. Porto Alegre: Artmed, 2008.

GUJARATI, D. N. Econometria básica. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

LOURENÇO, E. A. S. O mundo do trabalho adoece. Revista da Rede de Estudos do Trabalho – RET, ano 2, n. 3, p. 1-36, 2008.

MARTEL, J.; DUPUIS, G. Quality of work life: theoretical and methodological problems, and presentation of a new model and measurement instrument. Social Indicators Research, v. 77, p. 333-368, 2006.

MARTINS, D. A. Estresse ocupacional e a qualidade de vida em trabalhadores de manutenção de aeronaves de uma instituição militar brasileira. 2005. 248 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande.

OLIVEIRA, P. M.; FRANÇA, A. C. L. Avaliação da gestão de programas de qualidade de vida no trabalho. Revista de Administração Eletrônica, v. 4, n. 1, p. 1-21, 2005.

RODRIGUES, M. V. Qualidade de vida no trabalho: Evolução e análise gerencial. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.

SHINYASHIKI, R. Qualidade de vida é ter comprometimento. Manual de Gestão de Pessoas e Equipes: estratégias e tendências. São Paulo: Gente, 2002.

SIRGY, M. J.; EFRATY, D.; SIEGEL, P.; LEE, D. J. A new measure of quality of work life (qwl) based on need satisfaction and spillover theories. Social Indicator Research, p. 241-302, feb. 2001.

TIMOSSI, L. S. Correlações entre a qualidade de vida e a qualidade de vida no trabalho em colaboradores das indústrias de laticínios. 2009. 180 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Ponta Grossa.

TIMOSSI, L. S.; PEDROSO, B.; FRANCISCO, A. C.; PILATTI, L. A. A avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho: uma adaptação do modelo de Walton. Bioprodução: qualidade de vida e criação do conhecimento. Ponta Grossa: UTFPR, 2009.

VASCONCELOS, A. F. Espiritualidade no ambiente de trabalho. São Paulo: Atlas, 2008.

WALTON, R. E. Quality of working life: what is it? Sloan Management Review, Cambridge, USA, v. 15, n. 1, p. 11- 21, dec. 1973.


1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Programa de Pós –Graduação em Engenharia da Produção – Brasil - rubiacmaier@yahoo.com.br
2 guatajr@uol.com.br
3 lucianatimossi@hotmail.com
4 afrancisco@utfpr.edu.br


Vol. 34 (3) 2013
[Índice]

[En caso de encontrar algún error en este website favor enviar email a webmaster]