Espacios. Vol. 34 (11) 2013. Pág. 21


A infraestrutura de Fortaleza-CE para sediar os eventos da Copa do Mundo em 2014 na percepção de seu público universitário

The infrastructure of Fortaleza-CE for host the World Cup events in 2014 on the perception of its public university

Ana Karine Lima de MEDEIROS 1, Rafael Fernandes de MESQUITA 2 y Fátima Regina Ney MATOS 3

Recibido: 25-09-2013 - Aprobado: 12-10-2013


Contenido

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RESUMO:
Fortaleza é a capital do estado do Ceará, que está localizado na região nordeste do Brasil, país que sediará a Copa Mundial de 2014, campeonato de futebol disputado entre diversos países do globo e que, atualmente, é a maior competição internacional do mundo. Deste modo, o país tornou-se um canteiro de obras para promover melhorias em sua infraestrutura a fim de recepcionar o evento, de modo satisfatório. Porém, o que o público, aqui representado pelos universitários, pensa sobre a infraestrutura da cidade para a recepção dos jogos? A pesquisa, ora apresentada, tem sua abordagem quantitativa, edificada em método survey e, para isso, aplicamos questionários com discentes de instituições privadas de ensino superior com o intuito de responder ao objetivo do estudo. Como principais resultados, consideramos que o país tem investido muito em atender às exigências que um evento de tal porte demanda, mas que o público universitário de Fortaleza não credita confiança a sua plena consecução.
Palavras-chave: Futebol. Copa do Mundo. Fortaleza.

ABSTRACT:
Fortaleza is the state capital of Ceará, located in Northeastern Brazil, which will host the World Cup 2014 football championship played between different countries of the globe and is currently the largest international competition of the world. Thus, the country became a construction site to promote improvements in its infrastructure in order to welcome the event satisfactorily. However, what the public, represented here by the university, think about the city's infrastructure for the reception of the games? The research, presented here, has its quantitative approach, built on survey method and, therefore, we applied questionnaires with students of private institutions of higher education in order to meet the study objective. As main results, we consider that the country has invested heavily to meet the requirements that an event of such scale demand, but that the public university credits Fortaleza not trust its full achievement.
Keywords: Soccer. World Cup. Fortaleza.


Introdução

O futebol é um dos esportes mais praticados por atletas mundiais e, além de ser bastante popular, é instrumento para movimentação direta de grande montante de recursos financeiros oriundos tanto da iniciativa pública quanto da privada, bem como indiretamente em publicidades das quais, principalmente, os jogadores participam.

No ano de 2014, o Brasil será o Estado que sediará a realização dos jogos da copa mundial. Deste modo, o país precisa, para cumprir a agenda do evento, de uma série de melhorias em sua infraestrutura para recepcionar o campeonato e, assim, desde que esta participação foi confirmada, o país está em fase de obras nas cidades-sedes, dentre elas, Fortaleza.

Porém, o investimento realizado será suficiente? O país estará apto, em tempo, à execução do campeonato mundial? Não intentamos, neste trabalho, responder a estas questões, pois elas deverão ser respondidas quando da realização do evento, mas buscamos avaliar como está a percepção do público, especificamente o universitário, da cidade de Fortaleza – Ceará, sobre a infraestrutura da cidade para a realização da Copa Mundial de 2014.

Assim, o estudo utilizou-se de um método survey de pesquisa, por meio da aplicação de questionários de perguntas fechadas, com opções de respostas em escala Likert, para descrever a opinião dos respondentes quanto a questões envolvendo as temáticas: trânsito e mobilidade urbana, gestão pública, entretenimento, segurança pública, bares, hotéis e restaurantes.

Após uma breve explanação do histórico do futebol, da copa do mundo, dos investimentos planejados para a realização deste evento no Brasil, apresentamos a análise descritiva dos resultados da pesquisa, em dados percentuais, e algumas conclusões advindas deste estudo.

1. O Futebol

1.1 Breve histórico do futebol no mundo

As práticas de jogos podem ser obsevadas desde os primórdios da humanidade como forma de diversão em comunidade ou de ritual religioso. Conforme Lima (2002, p. 5) “tais praticas são aspectos das mais variadas culturas ao redor de todo o mundo” e permanecem movimentando grandes somas financeiras em prol de sua continuidade. Jogadores, times e grandes eventos são objetos de atenção de grupos empresariais.

Não existem dados precisos sobre a origem do futebol, no entanto registros datados por volta de 3000 a.c, na China, bem como na Grécia do século I a.C., e Itália na Idade Média, mencionam violentas práticas militares que lembram o atual esporte (BARBOSA, 2005). Ainda segundo o autor, o jogo foi chamado de “gioco del calcio” na Itália e chegou a Inglaterra por volta do século XVII, conforme relata que somente “na Inglaterra, o jogo ganhou regras diferentes, foi organizado e sistematizado”, no entanto, “o profissionalismo no futebol foi iniciado somente em 1863”, sendo a Football Association criada na Inglaterra, com o objetivo de estabelecer e mudar as regras do futebol quando necessário.

No início, os times de futebol na Inglaterra eram formados pelos operários das fábricas espalhadas pelo país. Segundo Lima (2002, p. 7) foi nesse período que iniciaram as rivalidades entre os times e a identificação por parte da população pelos clubes de futebol, seja por razões comunitárias, culturais e até mesmo religiosas. Tal massificação do futebol fez com que o historiador inglês Eric Hobsbawn chamasse o jogo de futebol como "a religião leiga da classe operária".

Conforme Sevcenko (1994, p. 36), “o século XIX pode ser considerado o século do imperialismo inglês pelo mundo. Assim como o comércio inglês se expandiu, os seus aspectos culturais também. E com o futebol não foi diferente”.

1.2 Brasil e Futebol: relações patrimonialistas

Segundo Honorato et al. (2009, p. 31), “o esporte, e especificamente no caso do futebol, veio na bagagem de um paulistano do Brás, Charles Muller, que viajou para Inglaterra aos nove anos de idade para estudar, onde tomou contato com o futebol e, ao retornar ao Brasil em 1894, trouxe a primeira bola de futebol e um conjunto de regras”. Este foi apenas o início de uma paixão nacional, que chegou ao Brasil há pouco mais de cem anos, mas que influencia toda a sociedade desde então. Estes autores ainda comentam que “cada sociedade tem o seu modo próprio de jogar e torcer, que resultam de sua história, sua cultura e da interação dessas com as outras, o futebol faz-se, portanto, construção cultural”.

Inicialmente o futebol era um esporte aristocrático, mas com o tempo passou a ser praticado em todos os níveis sociais, sendo um instrumento de união. Para Honorato et al “De esporte de elite nos seus primórdios, tornou-se extremamente popular ao aceitarem negros, fato este que ocorreu em meados da década de 20 do século XX” (2009, p. 32).

Segundo Barbosa (2005), alguns fatos merecem ser citados na história do futebol no Brasil: a criação do Mackenzie, o primeiro clube "genuinamente brasileiro" (1898); o futebol foi levado para o Rio de Janeiro (1900); criação da primeira liga de futebol brasileira (1901); disputa do campeonato paulista, o primeiro oficial do Brasil (1902); criação da Federação Brasileira de Sports (atual CBF) (1914); primeira excursão de time brasileiro, o Clube Atlético Paulista, pela Europa (1925); o Brasil sedia uma Copa do Mundo (1950).

Conforme o site da FIFA, o Brasil se sagrou 5 vezes campeão da Copa do Mundo de Futebol e ocupa o primeiro lugar em títulos, sendo seguido pela Itália e Alemanha. Os anos em que o Brasil ganhou o título foram: 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002.

Para Junior e Carvalho (2012, p. 96), “não é de admirar o extraordinário espaço que essa modalidade esportiva detém nos meios de comunicação (televisão, rádio, jornais, revistas e rede mundial de computadores) e o montante de recursos financeiros e econômicos que movimenta”, o patrocínio dos grandes grupos empresariais é intenso. “O Brasil literalmente para em dia de jogo da seleção masculina de futebol pelos grandes torneios internacionais”.

2. A Copa Mundial

2.1 O Campeonato de Futebol no mundo

Hoje em dia, o futebol é o esporte mais popular da terra. Em praticamente todos os países ele é praticado e possui ligas e confederações. São bilhões de torcedores em todo o mundo, que torcem pelos seus clubes e por suas seleções nacionais. O evento esportivo mais lucrativo e esperado é a Copa do Mundo de Futebol, ocorrida de quatro em quatro anos e acompanhada por mais da metade da população mundial. Esse esporte movimenta quantias imensuráveis de dólares anualmente, devido a contratos televisivos e patrocínios, assim como, devido a transação de jogadores (LIMA, 2002, p. 3).

Desde os tempos mais remotos, diversos países promovem grandes eventos esportivos como estratégia para atração de investimentos e de destaque internacional, conforme Domingues et al (2011, p. 410). Estes autores afirmam também que “os benefícios econômicos destes eventos retratam um argumento utilizado para justificar o esforço e o gasto público para sediar tais eventos”, no entanto, continuam o raciocínio dizendo que é muito difícil de estimar estes benefícios, visto que envolvem vários fatores (2011, p. 410).

Conforme mencionado no site da FIFA, esta instituição surgiu em 1904 quando as associações de futebol da França, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Espanha, Suécia e Suíça, reunidas, criaram a Fédération Internationale de Football Association (FIFA). Ao longo do tempo vários países se associaram à FIFA e em 1930 ocorreu a primeira Copa do Mundo de futebol.

A Copa do Mundo de Futebol é a maior competição internacional de esporte único e é disputada pelas seleções masculinas principais das 208 federações afiliadas à FIFA. A competição é jogada a cada quatro anos, à exceção de 1942 e 1946, quando não ocorreu em função da Segunda Guerra Mundial.

2.2 O contexto da Copa Mundial no Brasil

A Copa do Mundo de seleções tem o status de maior evento esportivo do planeta e exerce sobre o povo brasileiro um enorme fascínio, uma paixão incomum a ponto de unir a todos, ricos e pobres, pessoas dos mais variados credos e ideologias (HONORATO et al., 2009, p. 32).

Em 2014 o Brasil será sede da Copa do Mundo de Futebol, mas está não será a primeira vez que o país terá um evento desta magnitude, visto que também sediou este campeonato em 1950, quando foi derrotado na final pelo Uruguai (FRESSA et al., 2012, p. 107). Segundo estes autores, o país será “o principal responsável pela organização desse megaevento, estando em evidência para todo o mundo, sendo necessário assim analisar de forma mais detalhada a preparação do país para recebê-lo e realizá-lo com sucesso” (2012, p. 107). A pergunta é: O país está preparado para um evento deste porte?

Segundo Silva e De Lorenzi (2007, p. 10), existem muitas dúvidas em relação à capacidade do país para se mobilizar e preparar para este campeonato. Estas dúvidas estão pautadas principalmente nos acontecimentos advindos dos jogos Panamericanos do Rio. Os autores citam alguns pontos críticos em relação a esta experiência:

  • Governos federal, estadual e municipal disputando os créditos e lucros do evento;
  • Ameaças seguidas de não conclusão das obras em tempo hábil;
  • Orçamento que aumentou mais de oito vezes em sua previsão inicial;
  • Denúncias repetidas do TCU sobre superfaturamentos e gastos públicos sem licitação;
  • Não concretização das promessas de melhorias na infraestrutura da cidade do Rio, especialmente em transportes, segurança e saúde, que terminaram não saindo do papel.

O momento atual é de muitas expectativas segundo Silva e De Lorenzi (2007, p.12):

Estão de voltas as promessas de melhorias na infraestrutura das cidades-sede e do país; estão de volta as garantias de que quem vai financiar as reformas e construção de estádios será a iniciativa privada (mas, claro, com financiamentos camaradas do BNDES); estão de volta as certezas quanto aos valores a serem agregados ao turismo e à economia do país; está de volta, enfim, um estranho sentimento de que quem é contra é anti-patriota e que o povo brasileiro deve se sentir agradecido à FIFA e aos envolvidos na proposta nacional (CBF, Governo Lula, governos de estados e municípios), pela oportunidade de realizarmos e “participarmos” de uma Copa do Mundo no Brasil.

Um dos grandes desafios para o governo brasileiro é criar uma estrutura mínima para o contingente de turistas esperado neste campeonato. Para os autores Fressa et al. (2012, p. 112), o nível de geração de emprego se elevará no período pré-campeonato e durante a Copa. Estes autores ainda mencionam que será necessário investimento massivo na formação profissional daqueles que estarão prestando serviços no atendimento dos turistas, bem como para aqueles que estarão trabalhando na revitalização das cidades e/ou preparação de suas infraestruturas. O mercado de recursos humanos da capital precisa ser ampliado e qualificado para a recepção do evento.

Fressa et al. (2012, p. 112) citam que o Brasil passará por um grande teste: a Copa das Confederações, que acontecerá um ano antes da Copa do Mundo de 2014, com atividades já iniciadas nos meses de maio e junho de 2013, e discorrem sobre as possíveis vantagens e desvantagens de ser ter um evento deste porte no país, principalmente em termos de movimentação turística, dentre as quais destacam-se:

Tabela 1

Vantagens

Desvantagens

Visibilidade

Atrasos

Expansão comercial

Indefinição

Infraestrutura física

Irregularidade

Geração de empregos

Aumento de custos

Segurança

Dívidas

Desenvolvimento humano

Falta de planejamento

Turismo

Corrupção

Fonte: Fressa et al. (2012, p. 111-114)

Da mesma forma que Silva e De Lorenzi (2007), Fressa et al. (2012, p.117) afirmam que “que muitas dívidas estão sendo contraídas tanto pelo poder público quanto pela iniciativa privada, ou seja, há sérios riscos de o dinheiro público ser indevidamente desperdiçado” e que “muitos gastos que estão sendo feitos agora visando à Copa se tornarão dívidas para o futuro, com grandes empréstimos sendo retirados junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)”.

Para Domingues et al. (2011, p. 412), “ aliado ao aspecto do endividamento público, a falta de planejamento após o megaevento esportivo pode provocar a subutilização das infraestruturas construídas e, com isso, produzir alto custo de manutenção”.

Conforme divulgado através do sítio eletrônico do Ministério do Esporte, em Janeiro de 2010, foram escolhidas 12 (doze) capitais para sediar os jogos do mundial e neste mesmo evento governadores, prefeitos e ministro dos esporte assinaram um termo com a matriz de responsabilidade de cada ente federativo na preparação do evento. Os investimentos dividem-se em dois grupos: mobilidade urbana (avenidas, corredores metropolitanos, acessos a aeroportos, urbanização no entorno dos estádios) e reformas ou construção de estádios. Segundo esses dados, a totalidade dos investimentos foi financiada por órgãos estatais, esferas públicas e parcerias público-privadas (PPP). O quadro de investimentos em obras por capital-sede é o descrito abaixo:

Tabela 2

Cidades-Sede

Valor (R$ milhões)

Part.(%)

% PIB Mun.

% PIB Estadual

Manaus (AM)

1.837,80

11,93%

5,34%

4,37%

Fortaleza (CE)

1.031,60

6,70%

4,22%

2,05%

Natal (RN)

695,00

4,51%

8,66%

3,03%

Recife (PE)

1.168,00

7,58%

5,64%

1,88%

Salvador (BA)

1.131,30

7,35%

4,23%

1,03%

Belo Horizonte (MG)

1.431,60

9,30%

3,75%

0,59%

Rio de Janeiro (RJ)

1.910,00

12,40%

1,37%

0,64%

São Paulo (SP)

3.096,50

20,11%

0,97%

0,34%

Curitiba (PR)

603,90

3,92%

1,60%

0,37%

Porto Alegre (RS)

498,60

3,24%

1,49%

0,28%

Cuiábá (MT)

894,70

5,81%

11,32%

2,10%

Brasilia (DF)

1.101,00

7,15%

1,10%

1,10%

Total

15.400,00

100,00%

1,95%

0,70%

Fonte: Adaptado Ministério do Esporte (2010)

O investimento total previsto para adequação do país ao mundial de futebol é de R$ 15,4 bilhões, no entanto, conforme Estender et al menciona (2011, p. 3), estas estimativas devem ser relativizadas, visto que, na experiência dos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro, os investimentos foram inicialmente orçados em 500 milhões de reais, mas no final foi consumido mais de R$ 4 bilhões. A cidade objeto deste artigo é Fortaleza. Os investimentos efetuados nesta localidade serão detalhados na subseção 4.1.

3. Procedimentos metodológicos

3.1 O lócus da pesquisa

Fortaleza é a capital do estado do Ceará. Está localizada no Nordeste do Brasil e, segundo dados do IBGE, na última pesquisa censitária, realizada em 2010, a cidade possuía uma população de 2.452.185 habitantes e uma área 315 km², sendo a capital de maior densidade demográfica do país, com 7 815,7 hab/km².

Conforme dados do IBGE, a cidade tem o 9º maior PIB municipal da nação e o maior do Nordeste, com R$ 37,1 bilhões e é um importante centro industrial e comercial do Brasil, com o sétimo maior poder de compra do país. A economia da cidade está concentrada na área de serviços e o turismo ocupa um lugar de destaque, visto a vasta área litorânea, com 34 km de praias. Em relação a sua população, 47% constituída por homens e 53% por mulheres. Referente à faixa etária, 44% da população possuem entre 20 e 40 anos, segundo dados do IBGE.

Nas cidades contemporâneas, as mudanças socioespaciais se operam numa temporalidade acelerada, acarretando um descompasso entre o crescimento demográfico, as práticas espaciais e a implantação de políticas públicas voltadas para suprir as necessidades desse movimento de desterritorialização dos fluxos no sentido da reterritorialização, por meio do estímulo da criação, da reinvenção do cotidiano dos lugares, em uma base de comunicação entre os diferentes códigos culturais e de cooperação entre os interesses daqueles que vivem, habitam e atuam nos espaços urbanos. (IPIRANGA, 2010, p. 86).

A capital cearense foi escolhida como uma das cidades-sede da copa de 2014. Segundo dados do Ministério do Esporte, estima-se gastar R$ 1,03 bilhões em obras de preparação da cidade para recebimento deste evento esportivo e mais R$ 153,4 milhões em projetos básicos e desapropriações, perfazendo o total de R$ 1,19 bilhões gastos. Os investimentos previstos na cidade concentram-se na reforma do Estádio Castelão, conforme dados do documento “anexo de investimentos" publicado no site do Ministério dos Esportes:

Quadro 1

Fonte: Ministério do Esporte (2010).

3.1.2 Arena Castelão

Conforme publicado no portal da Copa do Governo Federal, o estádio de Fortaleza para a Copa das Confederações e para a Copa do Mundo foi o primeiro dos 12 em obras no Brasil a ser entregue. A cerimônia de entrega da obra ocorreu em 16 de dezembro de 2012. O estádio será sede de seis partidas da Copa do Mundo de 2014: quatro jogos na primeira fase, sendo um da Seleção Brasileira, e outros dois com cabeças de chave (D1 e G1), além de uma partida das oitavas de final e outra das quartas de final.

Na Copa das Confederações da FIFA 2013, Fortaleza receberá três jogos. São dois pela fase de grupos - Brasil x México (19 de junho) e Espanha contra o campeão da África (23 de junho) - e uma semifinal, no dia 27 de junho.

3.1.3 Mobilidade Urbana

Seis projetos de mobilidade urbana, com investimento de R$ 570 milhões, integram o planejamento de Fortaleza para a Copa do Mundo da FIFA 2014, segundo o site do Ministério dos Esportes. São três BRTs, um VLT, duas estações de metrô e uma via de ligação entre a Zona Hoteleira e o Aeroporto, batizada de via Expressa.

Todas estas obras deveriam estar concluídas, segundo o cronograma inicial, em dezembro/12, mas à exceção da Arena Castelão, todas as demais estão atrasadas. A nova estimativa, conforme o site portal da Copa, é que as obras sejam concluídas até meados de Junho/13, atendendo assim o prazo da Copa das Confederações.

3.2 Metodologia utilizada

3.2.1 Tipo de pesquisa e caracterização

A metodologia utilizada é de abordagem quantitativa, enunciada através da representação numérica da percepção dos indivíduos entrevistados em dados percentuais. Utilizou-se como método a pesquisa do tipo survey, pois esta, conforme Babbie (2003) tem por finalidade três objetivos gerais, sendo eles a descrição, a explicação e a exploração. Dedicar-nos-emos neste trabalho à descrição.

As surveys também integram o conjunto central da pesquisa social, pois elas oferecem uma maneira rápida e relativamente barata de descobrir as características e crenças da população em geral. As surveys são um dos métodos empregados com mais frequência na pesquisa social e são utilizadas igualmente pelo governo, pelos pesquisadores acadêmicos na universidade e pelas organizações militantes. (MAY, 2004, p. 109).

Neste tipo de pesquisa, empregada para descrever uma amostra não probabilística de uma população, buscamos identificar “quais situações, eventos, atitudes ou opiniões estão manifestos em uma população”, por meio da descrição de um subgrupo desta população, segundo Freitas et al. (2000, p. 106).

3.2.2 População, amostra e instrumento de coleta de dados

O presente trabalho foi desenvolvido com grupos de estudantes universitários, de Instituições de Ensino Superior – IES privadas, na cidade de Fortaleza – CE que, conforme pesquisa censitária de 2010, possuía 102.929 pessoas cursando ensino de graduação, das quais 70.711 frequentavam IES particulares (IBGE, 2010).

Utilizou-se como técnica de pesquisa a aplicação de questionários que ocorreram em vários dias, no período de março a abril do ano de 2013. Foram aplicados 419 questionários em um público escolhido pela conveniência da disponibilidade para respondê-los.

Professores de diferentes IES aplicaram estes questionários em sala de aula, após breve explanação sobre a finalidade da pesquisa e depois devolveram os formulários respondidos sem qualquer identificação dos respondentes, para manter a privacidade e o direito de não identificação do público participante, condição explicada previamente.

Os questionários foram impressos em papel, possuíam perguntas fechadas e, como opções de resposta, apresentaram, em escala Likert, as variações: “muito satisfeito”, “satisfeito”, “regular”, “ruim”, “péssimo” e “sem resposta”, sendo que aqueles que marcaram a última quadrícula não foram considerados para a análise, por não apresentarem opinião a respeito da temática.

4. Análise Descritiva dos Dados

Nesta seção apresentaremos os resultados descritivos dos 419 questionários aplicados para avaliar a percepção do público universitário de Fortaleza – Ceará sobre a infraestrutura da cidade para sediar os eventos da Copa do Mundo do ano de 2014, visto que esta será uma das cidades-sedes.

O público respondente é predominantemente formado por jovens e 75% deles estavam na faixa etária entre 18 e 30 anos, em que 53% do total de entrevistados possuíam entre 18 e 25 anos, enquanto apenas 14% do público eram formados por indivíduos com mais de 40 anos. Dentre os respondentes, 45% eram do sexo masculino e 55% eram do sexo feminino e 67% do total eram solteiros.

Além destas características, a amostra não probabilística era composta por pessoas que possuíam renda familiar entre 1 e 6 salários mínimos brasileiros 4, aproximadamente 58% dos entrevistados, enquanto 37% recebia acima de 6 salários mínimos mensais e 5% menos que 1 salário por mês.

Além destas características socioeconômicas, também investigamos a cidade de origem do público pesquisado, pois a percepção sobre uma cidade que se conhece a fundo pode influenciar a resposta. A este questionamento, 79% afirmaram ser oriundos de Fortaleza, enquanto 21% são representantes de cidades do interior do estado ou de outros estados.

Tabela 3

Trânsito e Mobilidade Urbana

 

1

2

3

4

5

6

Transporte público na cidade

0%

1%

17%

33%

48%

0%

Quantidade e facilidade de acesso às ruas e avenidas

0%

2%

27%

37%

34%

0%

Sinalização e controle do tráfego

0%

5%

33%

37%

25%

0%

Tráfego aéreo (suficiente para atender à demanda)

0%

10%

38%

26%

21%

5%

Legenda: (1) Muito Satisfeito (2) Satisfeito (3) Regular (4) Ruim (5) Péssimo (6) Sem resposta

Fonte: Pesquisa direta (2013)

Após montar um perfil socioeconômico dos respondentes, o questionário indicava perguntas referentes a trânsito e mobilidade urbana, com as variáveis apresentadas na tabela 3. Ao visualizar os resultados indicados, percebemos que as colunas que representam os índices “regular”, “ruim” e “péssimo” são aquelas com maior percentual, o que sugere uma imagem ruim destes serviços na cidade, perante o público universitário. Importante apontar que nenhum dos entrevistados afirmou estar muito satisfeito com os itens observados.

Tabela 4

Gestão Pública

 

1

2

3

4

5

6

Uso e gestão dos recursos públicos

0%

3%

29%

31%

34%

4%

Transparência das ações para a consecução dos objetivos da Copa 2014

1%

4%

28%

30%

35%

3%

Legenda: (1) Muito Satisfeito (2) Satisfeito (3) Regular (4) Ruim (5) Péssimo (6) Sem resposta

Fonte: Pesquisa direta (2013)

Também foram investigados aspectos da gestão pública dos recursos, bem como a transparência nas ações das instituições do Estado no seu uso para a consecução dos objetivos da agenda de investimentos para a Copa do Mundo de 2014. Nestes tópicos percebemos a mesma tendência dos questionamentos anteriores, as respostas “regular”, “ruim” e “péssimo” são aquelas com maior percentual, representando mais de 93% do público entrevistado, enquanto as opções “muito satisfeito” e “satisfeito” apontavam, aproximadamente, apenas 5% do total.

Tabela 5

Mercado de Entretenimento

 

1

2

3

4

5

6

Quantidade e capacidade das casas de show, boates e entretenimento noturno

4%

25%

42%

18%

7%

5%

Opções para entretenimento diurno

3%

22%

38%

23%

10%

3%

Pontos turísticos da cidade (estrutura para recepcionar turistas)

1%

11%

35%

28%

26%

0%

Legenda: (1) Muito Satisfeito (2) Satisfeito (3) Regular (4) Ruim (5) Péssimo (6) Sem resposta

Fonte: Pesquisa direta (2013)

Em relação ao mercado de entretenimento, a análise aponta outras características diferenciadas daquelas observadas nas categorias anteriores. Há participação maior no público respondente nas opções “muito satisfeito”, apesar da insipiência de menos de 5% dos totais, e “satisfeito”, com variações de 11% a 25% nos tópicos apresentados. A participação nas demais opções de resposta ainda é alta e representativa, mas as informações desta tabela indicam que no que tange às opções de diversão, incluindo alternativas diurnas e noturnas, a cidade está melhor amparada em comparação à sua gestão pública ou ao controle do trânsito e a mobilidade urbana.

Tabela 6

Segurança Pública

 

1

2

3

4

5

6

Eficácia das políticas de segurança pública na proteção ao cidadão e combate à criminalidade

0%

1%

13%

25%

59%

1%

Tranquilidade de locomoção na cidade

0%

1%

15%

27%

57%

1%

Contingente policial na cidade

0%

3%

17%

32%

47%

1%

Legenda: (1) Muito Satisfeito (2) Satisfeito (3) Regular (4) Ruim (5) Péssimo (6) Sem resposta

Fonte: Pesquisa direta (2013)

No que diz respeito à segurança pública, objeto de grande preocupação tanto de turista que vem de fora e não conhecem o local, como do público morador das grandes cidades, a tendência das respostas aponta grande insatisfação, compreendendo mais da metade dos totais respondentes na opção “péssimo”. Este quadro indica que a amostra entrevistada não se sente segura quanto à eficácia das entidades responsáveis pela segurança civil, bem como a tranquilidade na locomoção diária na cidade.

Tabela 7

Hotéis, Bares e Restaurantes

 

1

2

3

4

5

6

Estrutura hoteleira na cidade

4%

30%

46%

10%

4%

6%

Estrutura dos bares e restaurantes na cidade

5%

35%

42%

11%

5%

2%

Recursos humanos (qualificação da mão de obra)

1%

13%

47%

25%

12%

2%

Aptidão dos estabelecimentos para receber os turistas durante o evento

1%

8%

34%

29%

26%

1%

Diversidade de hotéis, bares e restaurantes para os diferentes públicos que a cidade receberá

3%

16%

46%

23%

9%

3%

Legenda: (1) Muito Satisfeito (2) Satisfeito (3) Regular (4) Ruim (5) Péssimo (6) Sem resposta

Fonte: Pesquisa direta (2013)

Nesta última categoria, foram investigados aspectos relacionados aos bares, restaurantes e hotéis da cidade. Fortaleza é uma capital nordestina de grandes atrações turísticas e, por isso, necessita de grande estrutura de empresas que prestam os serviços citados, inclusive pela sua relevância e imagem internacional, que poderá ser beneficiada durante e após os jogos da Copa do Mundo. Porém, o público entrevistado não credita tanta confiança na composição destas instituições na cidade. Grande parte das repostas está identificada entre as opções “regular” e “ruim”, demonstrando a má percepção do público a respeito destas variáveis.

Por fim, o questionário apresentava duas perguntas fechadas com três possibilidades de resposta, sendo elas: “sim”, “não” e “sem resposta”. O público deveria responder se eles acreditavam que os investimentos realizados seriam suficientes para cobrir às necessidades da cidade, em que 76% afirmaram que não, demonstrando pouca confiança na eficácia das ações públicas. Como segundo questionamento, foram convidados a dar sua opinião sobre a cidade ser capaz de atender às demandas exigidas pela magnitude do evento, em que 83% afirmaram que não. A credibilidade da cidade e de sua estrutura, perante o público universitário questionado, está insipiente.

5. Conclusões

Um país passa por grandes e profundas transformações econômicas e sociais quando se abre ao mundo. A globalização diminui fronteiras e permite que, cada vez mais, os Estados se aproximem. Uma das consequências desta aproximação é a promoção de eventos mundiais, realizados em um único país, mas que contam com a participação de mais de 200 outros, tal como a Copa do Mundo.

Eventos deste porte demandam por estruturas específicas, cidades que comportem o imenso contingente turístico e local que prestigiará a execução de jogos de futebol com seus jogadores, que fazem às vezes de ídolos. Desta forma, analisamos como o público universitário percebe a infraestrutura de Fortaleza, no Ceará, para a recepção dos eventos da Copa Mundial.

As categorias analisadas, a partir das respostas aos questionários aplicados, indicam uma provável insatisfação em relação ao fornecimento de serviços e a infraestrutura da cidade, o público universitário da cidade não está satisfeito com o que visualiza, tanto no presente, enquanto observa os investimentos e as obras, quanto no futuro, enquanto coloca sua opinião a respeito de sua confiança na boa execução das atividades programadas.

Ipiranga (2010, p. 87) afirma que os investimentos realizados em cultura, podem elevar a qualidade de vida da população nas cidades, “entrelaçando o tecido urbano com o social e os objetivos econômicos com os simbólicos”. A Copa Mundial pode ser uma alavanca para esta melhoria. O evento é impulsionador de investimentos, bem como atrativo para turistas dos mais diversos lugares do mundo.

Apesar de ser o único estado a entregar as obras em dias, do estádio que sediará os jogos da Copa Mundial no Brasil, dentre os demais estados da federação brasileira que participarão do evento, o Ceará, e mais especificamente, Fortaleza, ainda têm muito que fazer para garantir a confiança do público universitário, especialmente no sentido de que poderão cumprir a agenda do campeonato mundial, apesar de este já um imenso trabalho em prol de benefícios futuros ao país.

6. Referências

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1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da Universidade de Fortaleza – PPGA/Unifor. E-mail: anaklmedeiros@terra.com.br
2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da Universidade de Fortaleza – PPGA/Unifor. E-mail: fernandesrafael@live.com
3 Doutora em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Pernambuco e Professora do Mestrado e Doutorado em Administração da Universidade de Fortaleza. E-mail: fneymatos@unifor.br
4 Com o dólar cotado em, aproximadamente, R$ 2,15 (dois reais e quinze centavos), o valor de um salário mínimo brasileiro é de $ 316 (trezentos e dezesseis dólares).


Vol. 34 (11) 2013
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