Espacios. Vol. 35 (Nº 5) Año 2014. Pág. 22


Análise da contribuição da cogeração de energia elétrica em relação à receita total da Empresa Cosan S.A. nos períodos de 2009/10, 2010/11 E 2011/12*

Analysis of the contribution of cogeneration electricity on the company's total revenues cosan s.a. periods in 2009/10, 2010/11 and 2011/12

Alexandro Leonel LUNAS 1 y Divina Aparecida Leonel Lunas LIMA 2

Recibido: 17/08/13 • Aprobado: 26/04/14


Contenido

RESUMO:
A produção do setor sucroalcooleiro no Brasil associa-se ao discurso mundial de uma nova alternativa de geração de energia através de uma fonte renovável a cana-de-açúcar. Este processo criou expectativas em torno do crescimento do setor e da competitividade das empresas. A geração de energia elétrica para o consumo própria das usinas criou um know how no setor que permitiu que o mesmo avançasse para a produção de excedentes de energia elétrica contribuindo para aumentar a receita destas empresas e melhorando sua competitividade. A escolha da empresa Cosan para objeto de estudo deve-se ao fato de ser uma das maiores deste segmento e pelo processo de abertura de seu capital que permite acesso às demonstrações contábeis necessárias para a análise dos dados da geração de receita. A análise dos dados indica que a empresa tem apresentando uma evolução na receita derivada do aumento da venda de excedentes de energia elétrica. A tendência pelos dados analisados é que a cogeração seja considerada um dos produtos, e não apenas como uma estratégia de redução dos custos do açúcar e do etanol indicando um novo padrão produtivo neste setor.
Palavras-chave: setor sucroenergético, energia elétrica, geração de excedentes, receita.

ABSTRACT:
The production of sugar and ethanol sector in Brazil joins the global discourse of a new alternative source of energy via a renewable source to cane sugar. This process raised expectations around the sector's growth and competitiveness. The generation of electricity for own consumption of power plants has created an expertise in the industry that allowed it to move forward the production of surplus electricity contributing to these companies increase revenue and improving its competitiveness. The company's choice for Cosan object of study due to the fact that it is one of the largest in this segment and the process of opening its capital that allows access to the financial statements required for the data analysis of revenue generation. The data analysis indicates that the company is presenting an evolution in revenues derived from increased sales of surplus electricity. The tendency for the data analyzed is that cogeneration is considered one of the products, and not just as a strategy for reducing costs of sugar and ethanol production indicating a new standard in this industry.
Key words: sugarcane industry, electrical energy, generating surplus revenue.


1. Introdução

Na administração, o controle dos custos é parte essencial para uma boa gestão, mas, controlar tudo na grande maioria das entidades torna-se muito oneroso, o que talvez, não traga benefícios em termos econômicos.

De acordo com Martins (2001 p. 30) “cada informação provoca um gasto (nenhuma é gratuita) e pode trazer um beneficio. Essa relação entre gasto e benefício precisa ser muito bem avaliada na hora da implantação do sistema de custos”.

Nesta relação de custo versus benefícios, um subproduto do setor sucroalcooleiro que não teve um papel importante para a gestão por um bom período foi o bagaço da cana-de-açúcar, visto que a gestão não o tinha como um potencial gerador de resultados. Esse subproduto ganhou destaque no momento que este setor, tornou-se autossuficiente em termos energéticos (energia elétrica) pela cogeração.

O setor agregou valor ao bagaço da cana-de-açúcar com a geração da própria energia e avançou com a produção de um excedente para ser comercializado no mercado, gerando assim na linha de produção um novo produto a cogeração de energia elétrica, a partir da biomassa do bagaço da cana-de-açúcar.

De acordo com Cortez et. al. (2008) a biomassa perdeu sua importância na utilização para geração de energia há pouco mais de 100 anos, devido à concentração nesta área da produção de fontes de combustíveis fosseis, como petróleo e gás natural, reduzindo assim a contribuição da biomassa no contexto mundial.

Ainda, de acordo com os autores, a biomassa tem origem em resíduos sólidos: urbanos, animais, vegetais ou industriais e florestais, sendo sua principal utilização para fins energéticos.

De acordo com Cortez et. al. (2008) o Brasil é um dos maiores produtores agrícolas, consequentemente um dos que mais gera biomassa a partir de resíduos vegetais. Pode citar que principais produtos agrícolas com suas biomassas no Brasil são: a cana-de-açúcar – (bagaço); o arroz – casca; o café – (casca) em coco; a mandioca – (rama); o milho – (palha e sabugo); a soja – (restos de cultura).

A biomassa entra novamente no ciclo de geração de energia, com potencialidades para trazer benefícios, não só ao meio ambiente, por ser considerada uma fonte de energia limpa, mas também como um novo produto a ser explorado pelas empresas com a crescente preocupação mundial com o esgotamento das fontes de combustíveis fosseis e pelo discurso ambiental de fontes renováveis. O setor sucroalcooleiro brasileiro foi o primeiro a ser considerado como uma alternativa viável para o mundo quanto à produção a partir da cana-de-açúcar de combustíveis (etanol) e energia.

As principais fontes para geração de energia elétrica em termos mundiais são provenientes de fontes poluidoras, como as derivadas do petróleo e nuclear, contudo no Brasil, o cenário é de fontes renováveis de energia é o predominante. A principal fonte para geração de energia elétrica no país é a hidráulica, considerada barata e limpa, coloca o pais em destaque em termos ecológicos, mas gera também um problema em períodos de longa estiagem, visto que a dependência por este tipo de fonte é acima de 80%. Conforme a Figura 1 demonstra as principais fontes de energia elétrica em 2011 no Brasil.

Fonte: Adaptado do BEN 2012.

Figura 1 – Fontes de geração de energia no Brasil em 2011.

Com a estabilidade e o desenvolvimento econômico a partir do Plano Real houve uma demanda crescente do consumo de energia elétrica, mas a matriz energética praticamente depende de uma única fonte a hidráulica, esta dependência foi sentida mais nitidamente em 2002, com a crise energética. Esta crise provocou vários debates entre agências governamentais para sanar a crise, promessas por parte do governo em investimentos e incentivos para a diversificação das fontes energéticas, foram feitas e um novo cenário foi projetado. Tais fatores impulsionaram algumas empresas do setor sucroalcooleiro a produzirem energia elétrica acima da sua necessidade com destino à comercialização.

O presente artigo tem a seguinte proposta de pergunta para a problematização: Qual a representatividade em termos percentuais sobre a Receita Operacional Líquida (ROL) da comercialização do excedente da “Energia Elétrica”, a partir do bagaço da cana de açúcar na empresa Cosan S.A. nos anos 2009, 2010 e 2011?

A hipótese levantada nesta pesquisa é que a comercialização do excedente de Energia Elétrica desta empresa tem potencial de crescimento para a geração da R.O.L total e sua contribuição evolui ano após ano.

Com isso, pretende-se com esta pesquisa evidenciar a relevância, da cogeração de energia elétrica, a partir do bagaço da cana-de-açúcar tem para a composição da Receita Operacional Líquida de uma das maiores empresas do setor a Cosan S.A. Estudos de casos neste setor são importantes por gerar informações que podem ser tomadas como instrumento de gestão mais eficiente das empresas do agronegócio brasileiro.

A produção de energia sempre foi um dos entraves para o crescimento econômico de qualquer nação. A dependência de uma única fonte de energia é considerada um dos maiores riscos para as estratégias de crescimento econômico de um país. Desta forma, todas as políticas públicas para o setor energético buscaram diversificar a matriz energética nacional.

Esta diversificação é caracteriza pela alta participação de fontes não renováveis de energia na maioria dos países e algumas fontes consideradas altamente poluentes, caso da energia nuclear. O Brasil é um dos países que tem uma das melhores distribuições entre fontes renováveis e não renováveis, sendo que a maioria da energia elétrica produzida no país é originaria das fontes hidráulicas e com potencial a ser explorado para utilização da biomassa, conforme destacado anteriormente.

Neste contexto, o bagaço de cana-de-açúcar que era utilizado apenas para autossuficiência energética das usinas, tornou-se um importante componente para a geração do excedente de energia elétrica, para uma potencial comercialização no mercado consumidor.

Esta fase contemporânea caracteriza-se por uma alteração na denominação do setor antes sucroalcooleiro para sucroenergético. Esta mudança é orientada pelas entidades representativas deste setor, que buscam reforçar a sua importância para as estratégias de desenvolvimento sustentável do país. Neste artigo o termo sucroenergético foi adotado, pois entende-se que o mesmo representa melhor as mudanças tecnológicas deste setor quanto a sua produção industrial.

Assim, este artigo pretende contribuir com a discussão de um assunto relativamente novo para a contabilidade, em que o peso de sua relevância esta no processo de desenvolvimento econômico e social que esta diretamente relacionada à necessidade de energia de preferência que seja de uma fonte renovável.

Ao coletar os dados nas demonstrações financeiras, analisá-los e encontrar os índices será possível fazer a correlação da real importância ou não da cogeração de energia elétrica para com os resultados econômicos conseguidos pela empresa nos respectivos períodos.

O artigo esta estruturado nas seguintes sessões: Fundamentação Teórica, Análise dos Dados e Resultados, Conclusão e Referências.

2. Fundamentação teórica

Segundo CONAB (2012) o Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, com 8,52 milhões de hectares plantados na safra de 2012/2013, com uma produção média de 69,9 t/ha, que corresponde aproximadamente 166 milhões de toneladas de bagaço de cana-de-açúcar. O que torna esta biomassa relevante no contexto de geração de energia elétrica, não só para autossuficiência das usinas, mas principalmente para venda do excedente na rede, uma alternativa de geração de receita a mais para o setor sucroenérgetico.

A produção da safra de cana-de-açúcar de 2011/12 em comparação com a safra de 2012/13 pode ser visualizada na Tabela 1.

Tabela 1 – Comparativo da área, produtividade e produção, safras 2011/12 e 2012/13.

Fonte: Conab (2012).

Conforme Tabela 1, a maior produção encontra-se na Região Sudeste no estado de São Paulo, com 323 milhões correspondendo a 54,20% de toda safra 2012/13 e o estado de Goiás participa com 8,8% do total do país. Os novos investimentos para aumento desta produção nestes dois estados estão sendo confirmados nos próximos anos, com novas usinas e expansão da área plantada. A concretização destes investimentos poderá contribuir para uma melhor distribuição da produção nacional entre os estados brasileiros.

De acordo com Dantas Filho (2009) a produção da cana-de-açúcar e as atividades geradas a partir dela, representam 2,2% do PIB brasileiro. O que demonstra a importância deste setor para a economia.

Com a cogeração da energia elétrica a partir do bagaço da cana-de-açúcar existe uma perspectiva para aumento desta participação. Salienta-se que a maioria das usinas ainda faz a cogeração apenas para autossuficiência e que os excedentes gerados não são utilizados de forma econômica pelas empresas.

De acordo com UNICA (2008) até 2015 a energia gerada pelo bagaço da cana-de-açúcar vai corresponder a 15% de toda a energia elétrica gerada no país. A representatividade em 2011 esta em torno de 2,9%.

De acordo com Dantas Filho (2009) apud Ripolli (1999), o Brasil por sua extensa área agricultável não pode desprezar a energia elétrica gerada a partir da biomassa, e deve fazer desta, uma fonte para diversificação da sua matriz energética que dependente da energia hidráulica conforme já foi destacado anteriormente neste estudo.

Ressalta-se que algumas barreiras ainda existem para a utilização da biomassa bagaço como fonte de energia elétrica, conforme Dantas Filho (2009) apud Ripolli (1999), são elas:

  • Dificuldades de acesso à rede de distribuição;
  • Preço ofertado para comercialização da energia;
  • Falta de interesse das concessionárias para contratos de longa duração; e
  • Inexistência de financiamentos em condições melhores.

No entanto, mesmo com estas dificuldades, algumas empresas do setor sucroenergético estão fazendo a cogeração além de sua necessidade, gerando excessos que são comercializados na rede, como exemplo a empresa fonte desta pesquisa Raizen Energia (joint-venture entre Cosan e Shell).

De acordo com Dantas Filho (2009, p. 25) apud (Brighenti, 2003)

a cogeração é uma prática cada vez mais tradicional do setor sucroalcooleiro, sendo aplicada em várias partes do mundo. No Brasil, desde a instituição do Programa Brasileiro do Álcool (Proálcool1), parte significativa das usinas sucroalcooleiras tornou-se autossuficiente em termos energéticos. Elas passaram a gerar toda a energia necessária para suprir sua demanda, utilizando cada vez mais o bagaço da cana-de-açúcar, que responde por 30% do conteúdo energético da cana moída, chegando a render excedentes que podem ser vendidos à rede.

O bagaço da cana de açúcar é uma biomassa importante no contexto de geração de energia elétrica e deve ser maximizado. Esta nova realidade proporciona às empresas cogeradoras uma oportunidade de diversificação de sua linha de produção, com investimentos para esta cogeração.

A Figura 2 apresenta a participação na matriz energética brasileira das principais fontes renováveis e não renováveis.

Fonte: Empresa de Pesquisa Energética – EPE. BEN (2012).

Figura 2 – Repartição da oferta interna de energia.

Conforme a Figura 2, as maiores fontes consideradas renováveis são as geradas a partir da energia hidráulica e, em seguida, as derivadas do produto da cana-de-açúcar com os produtos álcool e energia elétrica (bagaço). A potencialidade de crescimento quanto à cogeração de energia elétrica possibilidade uma perspectiva ainda maior, podendo chegar a 15% da energia elétrica utilizada no país, conforme salientado anteriormente neste artigo.

De acordo com Balat et. al. (2009, p. 1746) “a biomassa é considerada a fonte renovável de energia com maior potencial para contribuir para as necessidades de energia da sociedade modernas para ambos os países industrializados e em desenvolvimento em todo mundo”.

O consumo por energia em nível mundial apresenta um crescimento significativo, devido ao crescimento econômico verificado nos países emergentes. Esta necessidade de energia tem contribuído para busca de alternativas para atendimento deste consumo. No caso do Brasil, o consumo é atendido por diferentes fontes de energia, conforme pode ser visualizado na Tabela 2.

Tabela 2 – Consumo da energia no Brasil por fontes.


Fonte: BEN (2012).

Os dados da Tabela 2 indicam um crescimento em torno de 38% do consumo de energia e um aumento maior ainda quanto ao consumo das energias consideradas renováveis, por exemplo: o bagaço da cana-de-açúcar como biomassa 56% e 72% do álcool etílico, enquanto os não renováveis como os derivados do petróleo, com crescimento no consumo menor, em torno de 29%. Um dos fatores que explicam este aumento é a comercialização a partir de 2005 dos carros flex fuel no Brasil gerando a possibilidade de consumo alternativo entre gasolina e etanol para os consumidores.

A diversificação da matriz energética brasileira contribui para o país ser reconhecido internacionalmente por produzir grande parte de sua energia de fontes renováveis, contribuindo desta forma para a questão da ambiental quanto a possibilidades de um desenvolvimento sustentável com novos produtos.

Este aumento na produção e no consumo dos itens derivados do produto da cana-de-açúcar, tais benefícios devem ser percebidos nas demonstrações financeiras das empresas que fazem parte deste setor. A escolha da empresa Cosan S.A se deve ao fato da mesma ser uma das maiores do setor em termos de produção, faturamento e além de ter ações negociadas na Bovespa.

3. Procedimentos metodológicos

3.1 Coleta de dados

A base de dados são as informações disponibilizadas na Bovespa (Empresas Listadas/Cosan/Demonstrações Financeiras ITR) dos anos de 2009/10, 2010/11 e 2011/12, mais especificadamente nas demonstrações de resultado (DRE) dos respectivos anos, uma análise de balanço com índice de Margem Líquida e ainda uma análise de conteúdo nos relatórios anuais que possibilitam fazer uma relação entre receita com a comercialização da cogeração de energia elétrica e a receita total, apurando um índice de receita de energia/receita total, para estimar a importância da cogeração de energia elétrica, a partir do bagaço da cana de açúcar, nos resultados econômicos da empresa.

3.2 Classificação dos dados

Após coleta e análise dos dados, foi realizada a classificação em torno dos índices encontrados, sendo fundamentado no índice de receitas (Cogeração/Receita Total) nos anos pesquisados. Elaborando gráficos para demonstrar a relação dos dados e assim contribuir para a análise final dos resultados.

Neste artigo não foi realizado testes estatísticos. Entende-se que em futuras pesquisas poderá haver a necessidade de se trabalhar com a correlação entre índices apurados.

Para contribuir para a análise foram elaborados e discutidos os dados através de figuras, tabelas dentre outras ferramentRevas para melhor entendimento para a resposta ao problema desta pesquisa.

3.3 Caracterização do grupo Cosan

Conforme Relatório Anual de 2011 o grupo Cosan está organizado nas seguintes empresas: Raízen Combustíveis Distribuição e Comercialização de Combustíveis, Raízen Energia Produção e Comercialização de açúcar e etanol e cogeração de energia, Rumo Logística Serviços de transporte, armazenagem elevação portuária de açúcar, Cosan Alimento Varejo de açúcar, e Outros Negócios Lubrificantes e especialidades;

Na Figura 3, pode ser visualizada a formação societária do grupo.

Fonte: Relatório Anual (2011).

Figura 3 – Empresas do Grupo COSAN com sua participação na sociedade.

Conforme demonstrado na Figura 3, o grupo Cosan é formado por várias empresas, com destaque na Raizen que é uma joint venture com a Shell, a qual tem participação de 50%, tanto na distribuição de combustíveis, quanto na da produção do açúcar, etanol e cogeração de energia a partir do bagaço da cana de açúcar, acordo comum concluído em 2011.

De acordo com Relatório Anual da Cosan de 2011, a Raizen tem uma produtividade de: 2,2 bilhões de litros de etanol por ano, 4 milhões de toneladas de açúcar, tornando-se a maior exportadora de açúcar do mundo. Sua capacidade de cogeração de energia através da queima do bagaço da cana-de-açúcar é de 900 MW, o que a torna a maior geradora de energia mundial através do bagaço da cana. As 24 usinas que fazem parte da Raizen são, autossuficientes quanto à energia que consomem, mediante o processo do cogeração, e destas 11 tem um excesso de cogeração de energia a qual é comercializada, mediante spot ou por meio de leilões promovidos pelo governo federal dentro do Sistema Nacional de Transmissão Elétrica.

Conforme a fonte anterior, o grupo Cosan é o maior produtor de açúcar, etanol e cogeração de energia a partir do bagaço da cana de açúcar, no Brasil, com capacidade de moagem de 65 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra de 2011/12.

De acordo com dados fornecidos pela empresa no Relatório Anual de 2011, no Quadro 2 destacam-se os seguintes fatos históricos para o grupo Cosan.

Quadro – 2 – Fatos internos históricos importantes para o Grupo Cosan

Ano

Fato

1936

Fundação da Usina Costa Pinto em Piracicaba-SP.

2000

Fundação oficial da Cosan S.A

2002

Aquisição da Usina da Barra

2005

Abertura de Capital na BM&F Bovespa (US$ 400 milhões)

2008

  • Compra dos ativos da ExxonMobil no Brasil;
  • Lançamento da Radar;
  • Criação da empresa Rumo Logística.

2009

Aquisição da NovaAmerica incluindo a marca União.

2010

Acordo com a Associação com a Shell nos negócios açúcar, etanol e distribuição de combustíveis.

2011

  • Inicio das operações da Raizen Joint-Venture entre a Cosan e a Shell;
  • Internacionalização da Cosan Lubrificantes e Especialidades

Fonte: adaptado do Relatório de Administração da Cosan (2011).

Na Figura 4 apresenta-se a evolução nas receitas operacionais líquidas do Grupo Cosan.

Fonte: Adaptado do Relatório de Administração da Cosan (2011).

FIGURA 4 – Receita operacional líquida (R.O.L) do grupo Cosan.

Conforme os dados da Figura 4 observa-se que o grupo Cosan teve uma evolução substancialmente quanto à geração de receita operacional líquida em uma década com um aumento de 1.621,43%, de uma R.O.L em 2002 de R$ 1,4 bilhão para uma R.O.L em 2011 de R$ 24,1 bilhão.

A formação da receita operacional líquida do grupo é importante, no sentido de verificar os principais produtos que compõem o mix do grupo. Neste artigo foi realizada uma análise mais detalhada do produto foco de pesquisa deste trabalho, delimitando dentro do grupo Cosan a empresa Raizen Energia, responsável pela produção dos produtos: açúcar, etanol e a cogeração de energia elétrica.

Ainda, foi feita uma segunda comparação de dados entre os R.O.L pela cogeração e a o R.O.L total obtido pela empresa Raizen Energia. Estes dados foram dos anos de 2010 e 2011, visto que estes são os anos em que a Raizen Energia começou suas atividades.

4. Análise dos resultados

Nesta seção, apresentam-se os resultados encontrados das receitas com cogeração de energia e sua importância para a receita total da empresa analisada, juntamente com os resultados dos índices dos períodos analisados, para contribuir com a análise dos resultados.

4.1 - Análise do R.O.L da Cogeração de Energia Elétrica com R.O.L do grupo Cosan

De acordo com Relatório Anual de 2009, o grupo COSAN teve uma receita operacional líquida de R$ 6.270,1 bilhões. Deste total, a contribuição da cogeração de energia elétrica a partir do bagaço da cana de açúcar foi de R$ 15,1 milhões, parcela pequena, visto que apenas as três usinas do grupo faziam a cogeração de energia elétrica para venda do excedente, obtendo uma representatividade de 0,24%, ou seja, para cada R$ 100 de R.O.L, a empresa obteve R$ 0,24 de R.O.L, com a cogeração de energia.

Ainda de acordo com este relatório os principais produtos foram: açúcar e o etanol. Salienta-se que a cogeração não é apenas para comercialização, mas também utilizada para a própria produção dos produtos principais.

Os dados do Relatório Anual de 2010 indicam que o grupo Cosan teve uma receita operacional líquida de R$ 18.063,5 bilhões. Deste total a contribuição da receita operacional líquida da cogeração de energia elétrica foi de R$ 186,0 milhões, um crescimento de mais 12 vezes do que o registrado no ano anterior, e obteve uma participação de 1,03% da R.O.L total do grupo. O aumento esta relacionado com os investimentos feito para a cogeração de energia elétrica a partir do bagaço da cana de açúcar, conforme as metas da empresa em expandir e tornar-se a maior empresa de geração de energia limpa através do bagaço da cana do mundo.

Mesmo com a participação de apenas 1,03% no R.O.L total do grupo, este percentual não pode ser descartado. Entende-se que o grupo Cosan tem várias empresas e esta representatividade em comparação com ano anterior cresceu mais de 5 vezes.

De acordo com Relatório Anual de 2011 o grupo Cosan teve uma receita operacional líquida de R$ 24.096,9 bilhões, deste total a contribuição da receita operacional líquida da cogeração de energia elétrica foi de R$ 235,1 milhões, um crescimento de 26,39% em relação ao ano anterior. Este desempenho confirma uma tendência de crescimento contínuo dos últimos três anos, do produto “cogeração de energia” (Figura 5).

Fonte: Elaboração própria.

Figura 5 – R.O.L da Energia Elétrica a partir do bagaço da cana de açúcar.

Percebe-se na Figura 5, que a participação do R.O.L manteve um crescimento considerável, ano após ano, comprovando que a empresa tem perspectivas positivas quanto à participação deste produto na R.O.L total, enfim, na contribuição deste produto para o resultado econômico do grupo. Esta importância pode ser comprovada no fluxograma fornecido pela empresa, conforme Figura 6, que demonstra os seus principais produtos:

Fonte: Adaptado do R.A Cosan (2011).

FIGURA 6 - Fluxograma da diversificação da produção na Empresa Cosan

Conforme a própria empresa demonstra na Figura 6, há um interesse na diversificação de seus produtos. O novo produto, a cogeração de energia para a comercialização, é considerada um importante produto para a empresa Raizen Energia, que antes trazia apenas o açúcar e o etanol como produtos, agora traz neste novo formato, três produtos, com a inclusão da cogeração de energia elétrica a partir do resíduo “bagaço da cana” corroborando a importância da cogeração.

Embora a representatividade esteja baixa em relação a R.O.L total, a empresa está em crescente expansão. Este novo produto se torna economicamente viável para a empresa, visto que, além da economia que se tem na utilização da própria energia que as unidades têm para produção do açúcar e do etanol, o excesso desta cogeração tem mercado.

Um dos entraves, entretanto, de acordo com a UNICA (2008), é a falta de regulamentação quanto aos excedentes de energia estipulados nos contratos e o preço que devem ser comercializados estes. Esta é uma barreira a ser transposta pelo mercado e pelas empresas do setor sucroenergético.

A Figura 7 apresenta os dados percentuais da R.O.L total e da R.O.L da cogeração de energia elétrica comercializada pela empresa estudada.

Fonte: Elaboração própria.

Figura 7 – Percentual da R.O.L da Cogeração em relação a R.O.L total.

A participação não chega a 1,5% do total da R.O.L total, mas ao analisar-se no contexto geral, pode-se concluir que esta participação esta condicionada a um grupo de empresas ao qual, apenas uma faz a cogeração de energia elétrica, que é a Raizen Energia, assim, delimitou-se mais uma comparação a R.O.L da cogeração em relação a R.O.L da Raizen Energia que será feito no próximo item.

4.2 - Análise do R.O.L da Cogeração de Energia Elétrica com R.O.L do Empresa Raizen Energia (participante do grupo Cosan)

A empresa do grupo que desde 2010 é responsável pela produção destes produtos é a Raizen Energia, assim pode-se perceber uma maior representatividade da cogeração em relação à R.O.L nesta empresa do grupo Cosan.

Na análise da representatividade do R.O.L cogeração em relação ao R.O.L da empresa Raizen Energia pode indicar que a participação da comercialização da energia elétrica produzida pela empresa é significativa para suas receitas, conforme pode ser visualizado na Figura 8.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 8 – Participação da R.O.L da Cogeração em relação a R.O.L total da Raizen Energia.

Em termos percentuais a representação foi de 2,91% em 2010, ou seja, para cada R$ 100 de receita operacional líquida da empresa Raizen Energia, desde R$ 2,91 foram obtidos através da cogeração de energia elétrica neste ano.

A Raizen Energia já estava em funcionamento em 2010, porém, a consolidação final desta joint-venture foi finalizada em 2011, tal conjuntura permite inferir que a representação seja uma maior representatividade da venda através da cogeração, em relação ao ano anterior. A Figura 9 apresenta os dados para o período de 2011/12.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 9 - Participação da R.O.L da Cogeração em relação a R.O.L total da Raizen Energia.

Conforme a Figura 9 indica que a participação teve um aumento e chegou a 3,24% em relação às receitas líquidas totais da empresa Raizen Energia. Estes dados comprovam a tendência de evolução continua deste produto para a geração de receitas na empresa.

A tendência, conforme apresentado nas Figuras 8 e 9 é que a cogeração seja considerada um dos produtos, e não apenas como uma estratégia de redução dos custos do açúcar e do etanol. Este nova alternativa econômica para as empresas do setor sucroenergético podem indicar novas estratégias tecnológicas para a adoção de um novo padrão neste setor.

5. Conclusão

Os dados deste artigo indicam que a cogeração de energia elétrica para a comercialização pelo setor sucroenergético brasileiro é um dos mercados potenciais, demonstrando uma nova tendência na busca de alternativas renováveis de energia. A empresa analisada no estudo é uma das principais do país e apresenta uma política de expansão e metas para a sua consolidação como uma das maiores mundialmente no setor sucroenergético.

A participação da comercialização da energia elétrica gerada pela empresa estudada, a partir do bagaço da cana de açúcar apresentou uma evolução no período analisado tanto para o grupo, quanto especificamente para a empresa Raizen Energia responsável pela cogeração de energia elétrica. Enquanto que, para o grupo, a participação situa-se em menos de 1,5% para a empresa Raizen esta participação está em 3,24% para o último período analisado. Entende-se que esta participação é significativa, já que é um produto gerado a partir de um subproduto deste setor e com um aproveitamento para a geração de energia elétrica para o próprio consumo da empresa.

Os dados sobre a evolução da R.O.L do grupo Cosan, representa um importante indicativo sobre a importância do setor sucroenergetico, já que a empresa do grupo que tem a maior participação é ligada diretamente a esta atividade. E sua principal matéria prima é a cana-de-açúcar, desta deriva-se o caldo que é totalmente aproveitado na produção dos produtos açúcar e etanol, e também o bagaço produzido na separação da biomassa com o caldo.

Os dados pesquisados corroboram com o entendimento de que o bagaço da cana-de-açúcar deixa de ser meramente um subproduto da produção do açúcar e etanol, para se tornar um dos produtos deste setor, incentivando investimentos nesta área na empresa pesquisada.

Por fim, o trabalho contribuiu para a inferência de que o bagaço da cana-de-açúcar utilizado para a cogeração traz uma contribuição positiva para a empresa pesquisada. Ressalta-se que um dos fatores para o setor sucroenergético investir em cogeração de energia elétrica, é a necessidade da diversificação da matriz energética do país.

A cogeração através do bagaço da cana-de-açúcar pode contribuir com o setor energético brasileiro, que contará com mais um importante mecanismo de abastecimento energético, que se bem administrado, com garantias de contratos sobre a comercialização dos excedentes e com investimentos na infraestrutura, a tendência é a consolidação da geração de energia através desta biomassa.

Entende-se, que em futuros estudos sobre o tema, deverá ser analisado não só as receitas geradas pela energia elétrica, a partir do bagaço da cana-de-açúcar, mas, a participação da mesma na utilização própria para a autossuficiência energética da empresa, pois esta destinação contribui para a competitividade da empresa com redução de custos na composição final dos produtos das empresas deste setor.

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UNIÃO DA INDÚSTRIA DE CANA-DE-AÇÚCAR. O despertar da Bioeletricidade. São Paulo, 2008b. Disponível em: http://www.unica.com.br/palavra-do-presidente/11160879920327850689/o-despertar-da-bioeletricidade/> pesquisado em 03 de janeiro de 2013.


* Resultados de pesquisa do primeiro autor no Mestrado em Contabilidade – Multiintitucional (UNB, UFPB, UFRN) – Universidade de Brasileira, Universidade Federal da Paraíba e Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Pesquisa apresentado no Congresso da SOBER em 2013.
1 Unidade Universitária da UEG de Santa Helena de Goiás – Mestrando em Contabilidade pela UNB – E-mail: alexandrolunas@gmail.com
2 Unidade Universitária da UEG de Santa Helena de Goiás – Doutora em Desenvolvimento Econômico pelo IE/Unicamp – E-mail: divalunas@gmail.com


Vol. 35 (Nº5) Año 2014
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