Espacios. Vol. 35 (Nº 9) Año 2014. Pág. 17


Sustentabilidade Ambiental dentro do plano de ação das empresas do Setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmético

Environmental sustainability within the corporate action Industry Toiletry, Perfumery and Cosmetics plan - A Descriptive Study

Bárbara dos Santos SPEZAMIGLIO 1, Rogério Cerávolo CALIA 2

Recibido: 06/06/14 • Aprobado: 17/08/14


Contenido

RESUMO:
O mundo em que vivemos sofre graves impactos ambientais, que são causados pelas atividades humanas, principalmente pelos meios de produção, cujo desenvolvimento se deu através da excessiva exploração dos recursos naturais. Sabe-se através de estudos, que os recursos do planeta estão se esgotando, gerando uma conscientização na sociedade e nos Órgãos Governamentais. Dessa forma, para as empresas se adequarem a essa nova realidade, elas devem incorporar a sustentabilidade dentro das suas estratégias. É nesse problema, que o estudo se foca, tendo por objetivo compreender os planos de ações empresariais nas questões de desenvolvimento sustentável, através da análise de dados secundários divulgados pelas próprias empresas em seus relatórios de sustentabilidade. Foram escolhidas quatro empresas do setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, que juntas possuem 42,3% de participação de mercado, demonstrando sua influência nos impactos ambientais causados pelo setor. Estudando o plano de ação de cada uma dessas empresas, foi possível encontrar pontos em comum entre todas elas. Algumas em níveis mais avançados que outras. Porém percebeu-se que todas abrangem quase que todos os aspectos do manual da CETESB, além de valorizar também outras abordagens. Verifica-se assim, a existência de uma tendência das empresas a investir na questão da sustentabilidade e sua importância para o futuro.
Palavras Chaves: Desenvolvimento Sustentável; Impactos Ambientais; Higiene Pessoal Perfumaria e Cosméticos

ABSTRACT:
The world we live in suffers serious environmental impacts that are caused by human activities, especially the means of production, the development of which was through the overexploitation of natural resources. We know through studies that the planet's resources are being depleted, creating an awareness in society and Government Agencies. Thus, for companies to conform to this new reality, they should incorporate sustainability into their strategies. In this problem, the study focuses, aiming to understand the plans of corporate actions on issues of sustainable development, through the analysis of secondary data disclosed by companies in their sustainability reports. Four companies of Toiletry, Perfumery and Cosmetics sector were chosen, which together hold 42.3 % market share, demonstrating their influence on environmental impacts by sector. Studying the plan of action of each of these companies, it was possible to find common ground between them all. Some more advanced than other levels. But it was noticed that all cover almost all aspects of the CETESB manual, and also value other approaches. It appears, therefore, that there is a tendency for companies to invest in the issue of sustainability and its importance for the future.
Key words: Sustainable Development, Environmental Impacts; Toiletry


1. Introduction

Os meios de produção industriais da atualidade vêm sendo desenvolvidos há três séculos, sendo que essa evolução é baseada na exploração dos recursos naturais e movida pelo aumento do consumo desenfreado e pela crescente necessidade de geração de riqueza, trazendo consequências graves para a sociedade e para o ambiente em que esta se insere (Oliveira, et al; 2012). É nesse cenário que emergem as discussões sobre as questões ambientais e sociais por parte da comunidade internacional e da ONU, dando abertura para a elaboração de conceitos como desenvolvimento sustentável.

Com a valorização e reconhecimento internacional das questões ambientais, tema que envolve seriamente o modo como são utilizados os meios de produção atuais, o assunto vem se tornando cada vez mais relevante, principalmente para o mundo organizacional. Para Trevisan (2008, p.2) "a responsabilidade socioambiental deixou de ser uma opção para as organizações, ela é uma questão de visão, estratégia, e muitas vezes, de sobrevivência".

A sustentabilidade apresenta-se não somente como um centro de custos operacionais (Kleindorfer, Singhal, Van Wassenhove, 2005), mas tem contribuído para economizar recursos, eliminar desperdícios e aumentar a produtividade, conforme sugere a hipótese de Porter (Dias, Labegaline, Csllag, p 517, 2012)

Tal hipótese foi criada em um artigo da Harvard Business Review, onde é sugerido que a "imposição de padrões ambientais estimula a busca de inovações tecnológicas para melhor utilização (e reutilização) dos insumos (matérias-primas, energia e trabalho)" (Dias, Labegaline, Csllag, p 517, 2012)

O principal objetivo do presente trabalho está em observar como as empresas estão utilizando as questões da sustentabilidade dentro de seus planos de ação, verificando também os resultados que elas vêm obtendo. A título de melhor caracterização e comparação será feita análise apenas em empresas do setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC), que pode ser descrita pela atividade básica de manipulação de fórmulas, sendo classificada como uma divisão da indústria química, cujas atividades possuem alto grau de tecnologia e dinamismo. O setor de HPPC representa 1/8 da indústria química mundial, sendo uma das divisões que apresenta maior crescimento, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmético.

Juntas, as indústrias desses segmentos produziram no Brasil em 2011, 1.776.300 toneladas, que, convertidas em vendas líquidas, perfizeram 29.412,5 milhões de reais. De 2007 a 2011, o setor teve um crescimento médio anual de 10,9%, demonstrando o potencial dos mercados emergentes e colocando o Brasil em terceiro lugar no ranking mundial.

Este é um setor que tem apresentado crescimento acentuado nos últimos anos, conforme demonstra o gráfico 2. Além disso, este é um dos setores da economia que mais cresce no Brasil atualmente, fato que pode ser observado no gráfico 1, que mostra o crescimento desse setor em comparação ao PIB e a Industria Geral.

Segundo a Abihpec, as razões que explicariam esse crescimento diferenciado do setor são:

-40 milhões de brasileiros ascenderam de classe social para a chamada classe média emergente. (Existe uma correlação direta entre o consumo per capita de produtos HPPC com a renda per capita; esse consumo é extremamente sensível à variação de renda);

-O alto investimento em tecnologia, gerando alta produtividade, que por sua vez, tem proporcionado preços mais acessíveis. (Nos últimos cinco anos, a variação dos preços teve aumento abaixo dos índices de inflação registrados pelo IPCA - Índice de preços ao consumidor amplo – IBGE);

-A constante inovação exigida na área, que proporciona lançamentos de produtos novos de forma constante;

-Aumento da expectativa de vida, com a consequente necessidade de se conservar uma aparência mais jovem, porque o consumo de produtos de HPPC está diretamente ligado com a imagem e a autoestima;

-Aumento da vaidade masculina, que tem provocado aumento do consumo de cosméticos para homens, surgindo um novo segmento de mercado.

Para atingir os objetivos propostos, será estudado quatro empresas que atuam no Brasil. Elas compõem 73% do faturamento líquido total do setor. As organizações foram selecionadas de acordo com a participação de mercado de cada uma, de acordo com dados do Euromonitor, 2012, são elas: Natura (14,5%); Unilever (10,7%); Avon (8,8%); P&G (8,3%).

Para estudar os objetivos propostos nas empresas propostas, o escopo do projeto consiste em realizar um estudo descritivo de cunho qualitativo, através de dados secundários divulgados pelas próprias organizações, em seus relatórios de sustentabilidade, publicado anualmente.

2. Referencial Teórico

2.1. Sustentabilidade nas organizações

Em abril de 1987, a publicação do relatório "Nosso Futuro Comum", traz pela primeira vez o conceito de desenvolvimento sustentável: "O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades... Um mundo onde a pobreza e a desigualdade são endêmicas estará sempre propenso à crises ecológicas, entre outra. O desenvolvimento sustentável requer que as sociedades atendam às necessidades humanas tanto pelo aumento do potencial produtivo como pela garantia de oportunidades iguais para todos." (Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1987)

A elaboração do conceito de sustentabilidade foi decisiva para repensar a forma de desenvolvimento, principalmente porque foi aceito por todos os países vinculados a ONU, marcando sua relevância internacional e chamando a atenção do mundo empresarial, onde alguns começaram a introduzir o desenvolvimento sustentável em suas estratégias, mesmo que de forma superficial (Oliveira et. al, 2012)

Segundo Layrargues (1997), a questão ambiental só ganharia força quando se mostrasse como um problema no meio de produção. Compreende-se, então, porque as empresas só começaram a adotar a ideia da sustentabilidade em 1994, depois que um estudo elaborado por Elkington definiu um modelo de desenvolvimento denominado Triple Bottom Line, que "ganhou destaque nas discussões devido ao fato de criar um modelo que balizaria as discussões sobre o tema, tornando o assunto mais atrativo para as organizações que ainda não haviam se sensibilizado" (Oliveira et. al, p 71, 2012). O modelo é conhecido como 3P (People; Planet and Profits), em português PPL (Pessoas, Planeta e Lucros). O modelo consiste, principalmente, em equilibrar três pilares: econômicos, sociais e ambientais. (Maia, Pires, 2011)

Esse estudo aproxima o conceito de desenvolvimento sustentável da responsabilidade corporativa, (Maia, Pires, 2011) transformando a década de noventa em um período de inserção das questões socioambientais dentro das estratégias empresariais.

2.2. Sustentabilidade no Setor de HPPC

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) é um órgão do Estado, cuja principal função é controlar, fiscalizar, monitorar e licenciar atividades geradoras de poluição, com o intuito de manter e recuperar a qualidade das águas, do ar e do solo. É um órgão considerado centro de referência pela Organização das Nações Unidas (ONU) para as questões ambientais, além disso, tornou-se para a ONU, uma das cinco instituições mundiais da Organização Mundial de Saúde (OMS) no tocante às questões de água e saneamento. A CETESB também é um centro de referência e consultoria do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) quando se trata de resíduos perigosos na América Latina.

Como centro de referência e centralizador do licenciamento ambiental da indústria, a CETESB elaborou relatórios para cada um dos setores da economia, ressaltando os impactos ambientais potenciais de cada um e as medidas aplicáveis. De acordo esse relatório foi feita uma análise das entradas e saídas dos processos, sendo possível identificar os impactos ambientais.

Em suma, nas indústrias de HPPC, os impactos ambientais se resumem basicamente na eliminação e manuseio de resíduos tóxicos, atmosféricos e efluentes líquidos, além de problemas relacionados ao excessivo consumo de água e descarte de embalagens.

3. Análises comparativas

Antes de destacar os pontos de atuação das empresas, é preciso fazer duas ressalvas. A primeira observação é em relação à análise da AVON, pois não foi localizado seu relatório de sustentabilidade do ano de 2012. Sendo assim, diferentemente da Natura, Unilever e P&G, que foi utlizado os relatórios de 2012, as descrições e análises da Avon foram feitas de acordo com as referências de 2011. A segunda observação é em relação à Avon e P&G que não possuem relatórios específicos apenas para o Brasil, como é o caso da Natura e Unilever. Então, vale destacar, que nem todos os projetos e ações descritos por essas empresas foram realizados no Brasil, pois a maioria desses relatórios é elaborada de forma geral, não especificando o lugar, com exceção de alguns casos.

3.1. Visão, Missão e Valores

Dentro de sua visão, missão e principios, a Natura reforça muito a qualidade das relações entre as pessoas, que incluem funcionários e clientes, com o lema "Bem estar Bem". Outro ponto a destacar em seus principios, é que dentre eles, está o principio do desenvolvimento sustentável e da inovação, que em todo o relatório da empresa, demonstra possuir uma relação muito forte. 

As estruturas da Natura e da Unilever são diferentes, pois o negócio da Natura está focado especificamente no mercado de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, enquanto o da Unilever, que possui marcas em diversos setores além do HPPC, como o setor alimenticio, por exemplo. Sendo assim, seu relatório de sustentabilidade desta última se mostrou mais denso, sendo selecionadas apenas as ações voltadas para as áreas de interesse do presente trabalho, sem exlcuir as ações gerais.

Quando olhamos para a visão da empresa, notamos que a Unilever também encaixa o meio ambiente dentro de seus principios, e a preocupação com a redução de impactos ambientais, em sua visão e missão, ao mesmo tempo que preza o crescimento da empresa e o bem estar do cliente. Assim, fica bem demonstrado que o tema da sustentabilidade está presente em sua estratégia.

De forma análoga, no que diz respeito ao foco no negócio, a Avon é similar à Natura, pois seu principal esforço é orientado para o setor de higiene pessoal, perfumaria e cosmético. Dentro desse negócio, a Avon demostra, desde os seus primórdios, investir um grande esforço na valorização do trabalho da mulher e no seu próprio relacionamento com a mulher. Dentro da sua missão, visão e principios, ela deixa esse objetivo muito claro, entretanto não foi encontrada referência à sustentabilidade ambiental. 

Já a P&G, assim como a Unilever, também não possui um foco de negócios apenas no setor de HPPC. Seus principios, visão e missão são voltados para a qualidade de seus produtos e uma entrega segura. Entretanto não foi localizado referências a fatores relacionados à sustentabilidade ambiental.

3.2. Histórico e Governança Coorporativa

No que diz respeito ao histórico, a Natura nasceu em 1969, possuindo 44 anos de existência. Dentro dessa longa jornada, foi identificado que sua primeira atitude em relação à sustentabilidade ambiental data de 1983, quando se tornou pioneira no lançamento de refis, para reduzir o desperdicio e o custo do consumidor. A partir daí, a empresa se envolveu ativamente em diversas ações voltadas para sustentabilidade social e ambiental, como a criação do programa Crer para Ver, criação do Instituto ETHOS, a transformação da biodiversidade brasileira em plataforma técnologica de forma sustentável, entre outras medidas. Verifica-se que a história da Natura é marcada por eventos e atitudes sustentáveis, tanto sociais quanto ambientais.

A história da Unilever começou em 1884, século XIX, como uma pequena fábrica de sabonetes, porém só veio para o Brasil em 1929, com um pequeno escritório. Só depois de 94 anos de existência, em 1978, a empresa realizou sua primeira ação relacionada com a sustentabilidade ambiental, quando fez o investimento de US$ 6 milhões no tratamento de água e efluentes líquidos em uma de suas fábricas no Brasil. Isso em uma época em que a preocupação ambiental não era fortemente discutida.

Depois disso, seu histórico não destaca ações significativas em relação ao tema, até a criação do Instituto Unilever, quando centralizou suas atividades socioambientais e passou a monitorá-las de forma assidua e regular. Em 2003, lançou um relatório de periodicidade anual sobre sustentabilidade, onde destaca e descreve pontualmente seus inúmeros projetos na área.

No decorrer de 127 anos de história, a Avon tomou suas primeiras atitudes sustentáveis de forma mais significativa, a partir de 1989, com a decisão de extinguir o uso de animais em testes de laboratório, tornando-se a primeira empresa a abolir esse tipo de teste e a incentivar a busca por novos. Com o decorrer do tempo, a Avon realizou o lançamento de várias ações, mas a grande maioria voltada para a sustentabilidade social, que leva a bandeira da saúde da mulher e o combate da violência contra a mulher. Na questão ambiental, lançou em 2010 uma campanha de grande impacto o "Viva amanhã mais verde", porém esses são programas mais recentes.

Já em relação ao histórico da P&G não foi localizada referências à sustentabilidade ambiental.

A estrutura da governança corporativa de todas as empresas é parecida, porém cada uma com suas particularidades, algumas em estágios mais avançados que outras, mas todas adotam o respeito aos principios e comprometimento com uma administração segura. Todas possuem Conselhos e Auditorias que garantem o cumprimento de seus valores e principios. Vale ressaltar, que um dos critérios de governança da Natura e da Unilever, é o pagamento de PLR de acordo com metas socioambientais.

3.3. Plano de ação – Sustentabilidade Ambiental

Uma tematica constante e que não aparece no manual da CETESB é o relacionamento com fornecedores. A Natura é uma empresa que investe muito nessa questão, porque a grande maioria de sua matéria-prima é oriunda de comunidades fornecedoras da Amazônia, que dependem do investimento da empresa, através da realização de vários projetos sociais, para que essas comunidades possam sempre estar se desenvolvendo. Fornece também treinamentos a respeito da conscientização ambiental e como explorar a floresta sem degradá-la. Esse tema, apesar de aparecer mais forte na Natura, se mostra uma preocupação de todas as empresas estudadas. Unilever, por exemplo, tem um controle rigido sobre seus fornecedores, exigindo que todos possuam certificação de seus produtos, ao mesmo tempo em que se mostra disposta a ajudá-los a evoluirem na questão da certificação ambiental e também dos direitos humanos. Avon e P&G também citam o tema, apresentando restrições aos fornecedores que não possuem certificação ambiental.

Ainda em consonância com esse tema de relacionamento a Natura, a Unilever e a Avon desenvolveram iniciativas voltadas para a conscientização do consumidor, como as campanhas da Unilever "Cada Gesto Conta" e "Por um Planeta mais Limpo".  A Natura, por sua vez, tem programas educacionais e de conscientização da população das comunidades fornecedoras. A Avon possui um programa em suas Unidades, denominado "Embaixadores Verdes", responsável por conscientizar e promover programas voltados para a sustentabilidade, além disso, recruta voluntários para a plantação de árvores e programas de educação ambiental.

Um ponto de relevância no relatório da Avon é a certificação ambiental de seus prédios e edificios. A empresa destaca isso todo momento em seu relatório, como uma fonte de economia de recursos.

Uma perspectiva que também não é abordada pela CETESB, mas que todas as empresas estudadas desenvolvem projetos é a questão do óleo de palma, pois é um produto tradicionalmente associados à destruição de florestas tropicais. A Unilever, a Avon e a P&G, exigem que todos os seus fornecedores do óleo, garantam a sua origem sustentável. Já, a Natura, investiu em um sistema de exploração agroflorestal, que garante uma produção sustentável.

Dos pontos abordados pela CETESB, a grande maioria é adotada por todas as companhias estudadas, com exceção de solventes, lodos e residuos do tratamento de água e efluentes. No que diz respeito à energia, água, efluentes líquidos, residuos e embalagens, de formas diferentes ou parecidas, as quatro empresas adotaram os temas como preocupação, descrevendo em seus respectivos relatórios, dados de consumo e evolução ao longo do tempo, além de sempre citar a metodologia utilizada no cálculo. Não foi possivel comparar a evolução de cada uma, pois os dados estão em porcentagem, na maioria dos casos, não fornecendo os valores absolutos.

Na questão do carbono e energia, a Unilever, a Natura e a P&G investiram em caldeiras de biomassa, para redução do consumo de energia e emissão de carbono. A P&G ainda desenvolveu um processo, onde é possivel produzir energia termoelétrica, porém o unico empecilho ao projeto foi o aumento de consumo de combustivel. Também é importante destacar, que a Natura foi a única que se apresentou como empresa carbono neutro, pois as emissões que  não consegue evitar, ela compensa através da compra de crédito de carbono. A Natura, a Unilever e a P&G apresentam projetos de otimização de transporte de seus produtos e funcionários, sendo outra forma de redução de carbono.

A Unilever e a P&G também apresentaram projetos de redução de carbono, através de projetos de restauração de equipamentos ao seu funcionamento normal, e elimando os que emitem gases e desperdiçam energia.

Na questão dos residuos, a Unilever se destaca com o projeto em parceria do Pão de Açucar, para recolhimento de embalagens usadas – Estação de reciclagem Pão de Açúcar Unilever. A Natura possui uma ação muito semelhante, porém, atuando com suas revendedoras. A Avon e a P&G também fazem uso de programas de residuos, através de reciclagem em suas manufaturas e reaproveitamento de material. Um objetivo em comum entre todas elas é reduzir a quantidade de residuos destinados a aterros sanitários.

Na questão da água, não houve nenhum projeto de destaque, pois todos têm objetivos de redução até 2020, no mais, tentam melhorias através de projetos simples, que envolvem ecodesign, ou seja, uma forma em que o produto utiliza menos água, quando consumido, reúso e reciclagem de água, identificação de vazamentos e controle rigoroso do consumo de água.

Ao estudar os relarórios de sustentabilidade das respectivas empresas, podemos verificar a relação dos mesmos com dois temas de grande importância: o investimento em inovação e pesquisa e desenvolvimento. As empresas demonstraram inovação com ideias simples como a campanha da Unilever de recolher material reciclavel em pontos de venda do grupo pão de açúcar, o projeto da Avon Embaixadores Verdes, que motiva os funcionários a tomarem iniciativas sustentaveis dentro da empresa. Em relação a investimento em pesquisa em desenvolvimento, podemos citar a caldeira termoelétrica da P&G, que tem a capacidade de produzir energia elétrica e térmica simultaneamente. Exemplo de como otimizar os recursos e contribuir para o meio ambiente através de pesquisas e desenvolvimento de novas tecnologias. Nessa questão, podemos citar também o projeto de produção agroflorestal de óleo de palma, método desenvolvido pela Natura, para garantir uma produção sustentável.

4. Considerações Finais

Como apresentado no presente trabalho, com a contínua intensificação do processo de exploração dos recursos naturais, desde o inicio da Revolução Industrial, o mundo tem sofrido um estresse muito grande, tanto ambiental quanto social. Esse contexto fez com que os Estados e as intituições internacionais se preocupassem com o futuro e sobre o que poderia ser feito para modificar a situação, evitando assim o esgotamento dos recursos para as gerações futuras. Diante disso, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento criou o primeiro conceito do desenvolvimento sustentável, que nada mais é que atender as necessidades do presente sem prejudicar a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades.

Tal conceito surgiu em 1987, podendo ser considerado relativamente recente, quando se compara com a história da civilização e o inicio dos problemas relacionados à sustentabilidade. Apesar disso, ele tem se tornado cada vez mais intrincico à consciência da sociedade, que por sua vez julga que é responsabilidade dos Estados e das empresas tomarem providencias a respeito dos problemas iminentes.

Sendo assim, iniciou-se um movimento de preocupação com a sustetabilidade, por parte do ambiente organizacional, que passou a introduzir o tema dentro das suas estratégias. Como o inicio desse processo aconteceu no começo da década de 1990, ainda há muito dificuldade de alinhamento do principios do desenvolvimento sustentável com as estratégias das empresas, criando abertura para que sejam elaborados estudos a respeito do caso.

A importância de estudar o tema está na sistematização do conhecimento e da experiência, garantindo o aprimoramento do contínuo das ações e projetos relacionados à área. Com esse intuito o presente trabalho realizou uma análise qualitativa dos relatórios de sustentabilidade de 2012, das quatro maiores empresas do setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, apenas no que diz respeito a sustentabilidade ambiental, com a intençao de identificar padrões, vantagens e aspectos abordados.

Foi escolhido o setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, pois como dito anteriormente é um setor que apresenta crescimento constante, até mesmo quando a economia apresentou baixa, além disso, poussi um portfólio muito amplo, gerando uma vasta gama de impactos ambientais.

Para garantir que houvesse parâmetros de comparação, ao verificar se os projetos das empresas abrangiam todos os potenciais impactos, foi utilizado um Guia Técnico da CETESB, que descreve as principais consequencias da atuação das empresas desse setor no meio ambiente.

Depois de analisar os dados secundários colhidos nos relatórios de sustentabilidade das empresas, foi possivel identificar os aspectos em comum entre eles. Dentro do manual da CETESB, as companhias desenvolveram projetos em quase todas as questões levantadas, através de ações pontuais, ou programas mais estruturados, que possibilitou muitas vezes a redução de custos, um dos principais beneficios diretos obtidos pela empresa, sem contar a criação de um vinculo positivo com a imagem da mesma e a melhora do meio ambiente em que vivemos.

Foi possivel observar também que parte das ações tomadas pelas empresas só foram possiveis graças ao investimento em pesquisas e desenvolvimento, um exemplo disso é a caldeira termoelétrica desenvolvida pela P&G, o método de produção agorfloresta de óleo de palma desenvolvido pela Natura entre muitos outros projetos. Outrro tema foi possivel relacionar com as ações das empresas é a inovação, que está presente em diversos pontos, por exemplo, a Unilever conseguiu recolher uma grande quantidade de materiais reciclaveis, através da parceria com o Grupo Pão de açúcar, uma idéia simples e inovadora que possibilitou retirar das ruas uma grande quantidade de poluição.

De forma geral, as empresas estudadas estão investindo pesadamente na área, o que demonstra a valorização da questão do desenvolvimento sustentável dentro das organizações, agregando valor ao longo do tempo e demonstrando uma tendência para o futuro. As empresas estudadas se preocuparam em divulgar e demosntrar o que estão fazendo a respeito, com relatórios completos, que possuem ações, resultados obtidos e metodologias.

É fato que os relatórios da Natura e da Unilever são relatórios mais completo que os relatórios da Avon e da P&G, além do que, possem relatórios direcionados em projetos realizados no Brasil. Como evidência, ressaltamos que, os relatórios da Natura e da Unilever estavam em português, enquanto o relatório da Avon e da P&G era voltado para ações globais e estavam na língua inglesa.

Em relação ao relatório da Avon, seus projetos tem um foco maior para sustentabilidade social e não ambiental, foco do presente artigo. A empresa possui muitos projetos voltados para a saúde e violencia contra a mulher, o que está de acordo com o que foi apresentado em sua missão, visão e valores.

Os quadros 1 e 2 abaixo resumem de forma simples todas os aspectos considerados.

Variáveis de Avaliação

Natura

Unilever

Avon

P&G

Visão, Missão e Valores

Modelo de negócio

Mercado HPPC

Diversos Mercados

Mercado HPPC

Diversos Mercados

Foco

Qualidade das relações

Crescimento com diminuição de impactos

Valorização da Mulher

Qualidade e entrega segura

 Sustentabilidade Ambiental

Sim

Sim

Não

Não

Histórico

Idade da Empresa

44 anos

130 anos Mundo - 85 anos Brasil

127 anos

26 anos Brasil

Inicio das ações Ambientais

1983

1978

1989

Não Localizado

1º Ação Ambiental

Lançamento de Refis

Tratamento de Água e Efluentes Líquidos

Extinção do uso de animais em laboratórios

Não Localizado

Governança Coorporativa

Comprometimento

Sim

Sim

Sim

Sim

Conselhos e Auditorias

Sim

Sim

Sim

Sim

Critérios socioambientais

Sim

Sim

Não

Não

Quadro 1 Tabela Resumo Princípios Empresas

Variáveis de Avaliação
 Plano de Ação

Natura

Unilever

Avon

P&G

Fornecedores

Relacionamento

Grande interação

Fornecedores com certificação

Fornecedores com certificação

Fornecedores com certificação

Projetos conjuntos

Sim

Sim

Não

Não

Consumidor

Conscientização

Conscientização das Comunidades Fornecedoras

Cada Gesto Conta

Embaixadores Verdes

Não Localizado

Por Um Planta Mais Limpo

Óleo de Palma

Fonte

Sistemas Agroflorestais

Fornecedores com certificação

Fornecedores com certificação

Fornecedores com certificação

Carbono e Energia

Principais Projetos

Caldeira de Biomassa

Caldeira de Biomassa

 

Caldeira de Biomassa

Carbono Neutro

Otimização de transporte

 

Produção de Energia Termoelétrica

Otimização de transporte

Restauração de Equipamentos

 

Otimização de transporte

 

 

 

Restauração de Equipamentos

Resíduos

Principais Projetos

Coleta Seletiva - Revendedoras

Estação de reciclagem Pão de Açúcar Unilever

Reciclagem e reaproveitamento de material

Reciclagem e reaproveitamento de material

Água

Principais Projetos

Nenhum destaque

Nenhum destaque

Nenhum destaque

Nenhum destaque

Quadro 2 Tabela Resumo Ações Empresas

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1 Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto–SP, Brasil: barbaraspeza@gmail.com
2 Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto–SP, Brasil: rogeriocalia@gmail.com


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