Espacios. Vol. 35 (Nº 12) Año 2014. Pág. 9

Open innovation na cadeia têxtil: estudo exploratório de inovações tecnológicas

Open innovation in the textile chain: an exploratory study of technological innovations

Lívia Juliana Silva SOLINO de Souza 1, Samira Yusef Araújo de FALANI 2, Marianna Cruz CAMPOS 3, Mario Orestes Aguirre GONZÁLEZ 4, Mariana Rodrigues de ALMEIDA 5

Recibido: 05/08/14 • Aprobado: 28/10/14


Contenido

1. Introdução

2. Open Innovation

3. Inovação tecnológica têxtil

4. Método de pesquisa

5. Sistematização de tecnologias têxteis com o suporte Open Innovation

6. Considerações finais

Referências


RESUMO:
Desenvolvimento econômico de um país passa pelo desempenho inovador de suas empresas. Dessa forma, a prática da inovação no mercado é imprescindível para o bom desempenho no atual mercado competitivo global. O objetivo do artigo é expor a prática da abordagem open innovation utilizadas na indústria têxtil em desenvolvimento de tecnologias em produtos e/ou processos. Para isso, foi realizado um estudo bibliográfico exploratório sobre os temas: open innovation, inovação tecnológica e cadeia têxtil. Posteriormente, foi feita uma análise de inovações tecnológicas no ramo têxtil, o qual indicou que a prática do open innovation na cadeia têxtil vem ocorrendo com a participação de empresas deste setor, universidades e institutos de pesquisa. Por outro lado, ainda é pouco praticada de forma colaborativa entre empresas, fornecedores, clientes e usuários.
Palavras chaves: Open Innovation; Cadeia Têxtil; Tecnologias Têxteis

RESUMO:
Economic development of a country goes by the innovative performance of its companies. Thus, the practice of innovation in the market is essential for good performance in the current global competitive market. The aim of this article is to expose the practice of open innovation approach used in the textile industry in developing technologies in products and/or processes. Therefore, an exploratory bibliographical study was conducted on the subjects: open innovation, technological innovation and textile chain. Later, an analysis of technological innovations in the textile business was made, which indicated that the practice of open innovation in the textile chain has been occurring with the participation of companies of this sector, universities and research institutes. On the other hand, it is still poorly practiced collaboratively between businesses, suppliers, customers and users.
Keywords: Open Innovation; Textile Chain; Textile technologies

1. Introdução

Considera-se que o desenvolvimento econômico de um país passe pelo desempenho inovador de suas empresas. Essa hipótese ultrapassou o campo puramente acadêmico em fins da década de 1980, ganhando espaço de destaque no debate sobre política industrial (Teixeira et al. 2012). Além disso, Lall (2005) afirma que com o ritmo acelerado das mudanças tecnológicas e dos fluxos de comércio e investimentos, a capacidade de aprendizado nacional está se tornando um fator cada vez mais importante para o processo de inovação.

Holme (2007) complementa que a inovação das técnicas têxteis é permeada pela criatividade da pesquisa, desenvolvimento e equipes de marketing das organizações. Estes pilares relacionam-se com as novas exigências dos consumidores que envolvem um maior valor percebido, individualidade, status, padrões elevados de estética, conforto, aparência e desempenho.

As indústrias do ramo têxtil e de vestuário demonstraram um crescimento mundial, durante o período de 1980 a 2010, de mais de 1200%. Estima-se que até o final de 2013, o comércio brasileiro de vestuário alcance um aumento de 3,3% no número de peças (ABIT, 2013). O cenário estratégico do setor brasileiro revelou em 2008 dificuldades no atendimento da demanda por diferenciação e por preço. Além disso, as tecnologias do setor concentravam-se no estágio intermediário de competitividade (ABDI, 2010).

As mercadorias têxteis e de fabricação de vestuário estão mudando seu eixo produtivo da América do Norte e Europa Ocidental para a Ásia. Com o aumento da população mundial, o consumo global de fibras aumenta, porém nos países desenvolvidos essa não é uma premissa verdadeira. Como os países europeus e norte-americanos não podem competir com os baixos custos salariais dos países emergentes, os investimentos estão focados nas tecnologias têxteis.

Avanços voltados para ciências da computação, sensores, miniaturização e tecnologias relacionadas desenvolveram os tecidos inteligentes. Pesquisas sobre placas de circuito, gerenciamento de energia, sistemas leves, discretos e integrados também foram essenciais para o desenvolvimento de novas tecnologias no vestuário (Axisa et al. 2005).

Segundo Chesbrough (2003; 2011), o desenvolvimento de tecnologias praticadas pelas organizações, na atualidade, segue as abordagens "closed innovation" ou "open innovation", ressaltando que esse último, encontra-se alinhado à realidade da sociedade pela forma de comunicação e relacionamento entre as entidades.

Este artigo objetiva analisar a aplicação da abordagem open innovation em projetos de inovação tecnológica no ramo têxtil. Para isso, foi realizado um estudo bibliográfico exploratório sobre os temas: open innovation, inovação tecnológica e cadeia têxtil. A busca foi de abrangência mundial e foram mostradas aqui as inovações que mais citadas nas mídias da área têxtil.

2. Open Innovation

O processo de geração de inovações vem passando por inúmeras mudanças ao longo do tempo, o que antes era compreendido como uma sequência linear e lógica de atividades está se transformando em sistemas complexos e integrados e que envolvem atores diversos. A geração de inovação nas empresas está caminhando de modelos fechados para modelos mais abertos. Segundo Van Der Meer (2007), os primeiros modelos teóricos pressupunham que a inovação se resumia em uma sequência linear de atividades focadas nas capacidades internas da organização, o que, por sua vez, justificava a importância da área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), responsável por todas as etapas do funil de inovação. Mas os ciclos de vida dos produtos cada vez mais curtos e os processos de P&D custando cada vez mais, além da escassez de recursos, levaram algumas empresas a procurar novas formas de gerar inovações.

O termo "Inovação Aberta" foi proposto por Chesbrough (2003; 2011) e se refere à capacidade das organizações de buscarem ideias, informações e conhecimento fora do ambiente organizacional. Ainda segundo o autor, as empresas perceberam que, para continuar inovando em ritmo acelerado, faz-se necessário vencer a barreira de que cada uma deve desenvolver isoladamente projetos inovadores do início ao fim, em sigilo absoluto, e partir em busca da inovação por meio de parcerias e de colaborações externas.

Um dos princípios básicos da inovação aberta é a constatação de que nem todos os componentes para gerar uma inovação advêm de fontes internas da organização, e que o conhecimento adquirido em fontes externas pode tornar os esforços para inovação mais efetivos ou amplos (Witzeman et al. 2006). As redes de inovação formadas entre empresas e outras organizações e instituições promovem interações de modo colaborativo e baseiam-se principalmente no compartilhamento de conhecimentos.

Para Chesbrough (2011), empresas que se baseiam no modelo de inovação fechada, costumam desenvolver uma aversão a tecnologias desenvolvidas fora da própria empresa, o que representa um risco, pois a velocidade de desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico é uma das principais características do atual paradigma tecnológico. Ainda segundo Chesbrough (2003), vivemos em um período que proporciona muitas oportunidades para a inovação, devido às possibilidades dadas pelas tecnologias, mas as ameaças também se tornam cada vez maiores devido à velocidade com que ocorrem as transformações na nossa sociedade. Dessa forma, as empresas precisam abrir seus processos de inovação para que seja possível a criação de valor nos seus negócios em tempo hábil.

As transformações tecnológicas só se tornam importantes se proporcionarem mudanças estruturais e vantagens competitivas (Porter, 1999). Para Prahalad e Krishnan (2008), a inovação molda as expectativas dos consumidores, assim como responde continuamente às demandas, comportamentos e às experiências dos consumidores que estão em constante mutação. A inovação aberta pode ser definida como o uso proposital de entradas e saídas de conhecimentos com o intuito de acelerar a inovação interna e expandir os mercados para uso externo das inovações (Chesbrough et al. 2006).

No Brasil, empresas como Vale, Braskem, Petrobrás, Natura, O Boticário, Embraer já possuem resultados positivos com a utilização da abordagem open innovation. Dentre os benefícios citados por essas empresas gerados pela adoção dessa estratégia de inovação tem-se principalmente, o acesso a competências complementares em diversos lugares no mundo, antecipar tendências e oportunidades, garantir competitividade e destaque no setor. Vale ressaltar que os benefícios não são gerados somente em termos de novos produtos, algumas empresas citam ainda melhorias em termos dos seus processos de fabricação.

2.1 A cadeia têxtil

No mercado brasileiro o setor têxtil trata-se do 2º maior gerador do primeiro emprego e do 2º maior empregador da indústria de transformação - em 2011 foram registrados 1,7 milhões de empregados. O setor representa 3,5% do PIB total brasileiro e possui grande volume de produção (ABIT, 2012).

Castro (2000) define a cadeia produtiva como o conjunto de componentes interativos, incluindo os sistemas produtivos, fornecedores de insumos e serviços, industriais de processamento e transformação, agentes de distribuição e comercialização, além de consumidores finais.

Verifica-se que a cadeia têxtil é constituída dos segmentos de fiação, tecelagem e acabamento de fios e tecidos. Observa-se a interação entre os segmentos fornecedores a montante (equipamentos, produtos químicos, fibras e filamentos), e os produtores de manufaturas (fios, tecidos, malhas), e bens acabados a jusante (confeccionados e têxteis). Observa-se ainda, que o segmento de tecelagem subdivide-se em: Tecelagem Plana e Malharia, onde cada um destes segmentos pode oferecer ao mercado um produto acabado, que pode estar desconectado dos demais.

Segundo Melo et al. (2007), a descontinuidade do processo produtivo é uma característica marcante da indústria têxtil. Embora os segmentos ou etapas do processo se interliguem pelas características técnicas do produto a ser obtido, e neste caso, o tecido a ser obtido determina o tipo de fibra, as especificações do fio e as características do acabamento, essas etapas não precisam, necessariamente, serem todas internalizadas pelas empresas. É comum a especialização em apenas um ou dois segmentos, o que torna as relações cliente/fornecedor especialmente relevantes em toda a cadeia produtiva.

O setor têxtil e de confecção apresenta uma ampla possibilidade de utilização e combinação de matérias primas e processos produtivos, o que por sua vez, resulta em uma alta diversidade do ponto de vista dos produtos acabados.

O nível de competitividade do setor têxtil tem aumentado ao longo dos anos devido ao mercado internacional contemplar diferentes infraestruturas tecnológicas no processo produtivo. Países como China, Coreia e Índia apresentam características peculiares por obter vantagens competitivas nos aspectos de mão de obra e o menor custo de produção da matéria-prima. Assim, esse setor têxtil se caracteriza por uma forte heterogeneidade estrutural expressa pelas possibilidades de operações e de plantas industriais com distintos níveis tecnológicos, bem como da natureza do processo produtivo.

De acordo com a ABDI (2009), a entrada de empresas brasileiras em segmentos de alto valor agregado é vista como alternativa ao segmento de commodities, em que há grande concorrência mundial. Informações do setor revelam que os tecidos inovadores, mais conhecidos como linha "premium", têm preços, em média, 50% maiores que os convencionais.

Por outro lado, no Brasil, os gastos com pesquisa e desenvolvimento realizados pelas empresas do setor têxtil são reduzidos quando comparados com os realizados por indústrias de outros setores. Isto significa que as inovações tecnológicas na área têxtil são de natureza incremental, e são geradas predominantemente em outros setores industriais (Vieira, 2006).

3. Inovação tecnológica têxtil

Na cadeia produtiva têxtil, o desenvolvimento tecnológico nos processos de produção ou produtos possui natureza basicamente incremental, com pouquíssima inovação radical. Os avanços concentram-se mais no desenvolvimento de novas fibras e máquinas mais velozes.

As tecnologias utilizadas nos subsetores de fiação são incorporadas em máquinas e equipamentos. Dessa forma, observa-se a dependência entre o setor têxtil e desenvolvimentos dos bens de capital quando se faz a verificação do desenvolvimento tecnológico de indústrias ao longo do tempo. Nota-se ainda que o desenvolvimento tecnológico é consequência das modificações químicas nas fibras existentes, por meio da criação de fibras novas, que podem substituir o algodão.

A evolução da fibra passou pelas fases de fibras convencionais, de alta funcionais fibras e as fibras de elevado desempenho (Mukhopadhyay, 1993). As melhorias alcançadas nas técnicas de fiação de fibras, fiação de fusão, fiação úmida e seca, gel de fiação, fiação de bicomponentes, fiação de microfibras, tornaram possível a alta gama de fibras de alto desempenho comercialmente disponíveis (Shishoo, 2002).

Os "tecidos inteligentes" (e-textiles) são derivados dos "materiais inteligentes", definido pela primeira vez no Japão em 1989. Estes tecidos, segundo Langenhove e Hertleer (2004) são capazes de reagir a estímulos ambientes e adaptar-se às funcionalidades na fonte. Para Zhang e Tao (2001), estes tecidos podem ser subclassificados de acordo com a Tabela 1:

Tabela 1 - Classificação dos tecidos inteligentes

Tecidos Inteligentes

Passivos

Ativos I

Ativos II

Fornecem características adicionais independente da mudança no ambiente – sensores. Por exemplo: Roupas de proteção UV, tecido com fibra ótica e tecidos com sensores opticos.

Percebem estimulos e reagem – sensores + atuadores. Materiais da segunda geração de tecidos inteligentes. Mudam de fase, possuem memória de forma, calor.

Comportam-se de acordo com o sistema. Adapta sua funcionalidade para alterar o ambiente. Incluem uma unidade como cérebro, raciocínio, a cognição e o ativador.

Fonte: elaborado pelos autores

A biotecnologia, ciências da computação, microeletrônica, química de polímeros, ciência dos materiais auxiliam no processo de desenvolvimento de "tecidos inteligentes". Quanto ao ciclo de vida dos produtos alguns materiais e estruturas já estão sendo comercializados, enquanto uma parte representativa está em pesquisa e desenvolvimento, como os e-textiles ativos em nível mais avançado (Langenhove, Hertleer, 2004).

Diferentemente das fibras sintéticas, os tecidos inteligentes, construídos através da nanotecnologia, são definidos de maneira a suprir as exigências nada convencionais. As nanopartículas permitem mudar as propriedades dos tecidos, podendo chegar a matar vírus e bactérias, bloquear toxinas, permitindo a troca de calor do corpo e lavá-los sem perder todas essas propriedades (Risbud, 2006).

De acordo com o SEBRAE – Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empresas (2011), instituto americano Global Industry Analysts Inc. prevê que em 2015 o mercado de tecidos inteligentes alcançará US$ 1,8 bilhões, levando em consideração a recessão e a recuperação do país em relação à crise. Esse valor equivale a quase 3,5% do faturamento do setor têxtil brasileiro em 2010.

4. Método de pesquisa

O método adotado tem objetivo exploratório, pois permite o desenvolvimento de novos conceitos e aprofundamento do assunto. O enfoque é qualitativo, na medida em que a abordagem do problema tem o objetivo de expor características específicas do open innovation e como estas se relacionam com a cadeia de produção têxtil.

Inicialmente, periódicos, artigos científicos, estudos de caso, além de sites focados em inovação serviram de embasamento teórico para o desenvolvimento do objetivo proposto em sistematizar estas tecnologias com o suporte do open innovation. A estrutura do método de pesquisa está exposta na Figura 2.

Figura 2- Estrutura do método de pesquisa

Fonte: Elaborado pelos autores

5. Sistematização de tecnologias têxteis com o suporte Open Innovation

Com base em pesquisas em artigos e notícias relacionados à inovação têxtil foram sistematizadas as inovações encontradas, sua fonte, o ano de publicação e sua classificação quanto ao quadro de tecidos inteligentes. A análise das pesquisas citadas na tabela 2 permite saber como surgiu a inovação e consequentemente, como ocorreu a abordagem open innovation no processo de desenvolvimento da tecnologia.

Tabela 2 - Sistematização das tecnologias inteligentes têxteis

Inovações

Fonte/criador/autor

Ano

Classificação

Tecido com economia de energia humana para atletas

Rhodia e Universidade de São Paulo

1992

Ativo II

Tecido antimancha lavável

ZHAO, et al. (2012) - Universidade de Deakin - Austrália

2012

Ativo II

Tecido anti bactericida e anti pesticidas

LIU (2011) - Universidade da California - EUA

2011

Ativo II

Super jeans para motociclistas

SERVAJEAN (2000) - motociclista

2000

Ativo II

Camisa substitui fios em monitoramento de pacientes

MORENO, et al. - Universidade Carlos III de Madrid

2010

Ativo I

Algodão que conduz eletricidade

HINESTROZA, et al. (2010) - Universidade de Cornell - EUA

2010

Passivo

Fabrican Spray-on

TORRES; LUCKAN (2010) - Imperial College London

2010

Ativo II

Meia e Camiseta anti-bromidrose

Sutran e Universidade Politécnica da Cataluna - Espanha

2012

Ativo I

Tecido para diagnóstico do estado saúde

Universidade Rovira i Virgili - Espanha

2012

Ativo II

Fonte: elaborado pelos autores

Tecido com economia de energia humana para atletas

A empresa Rhodia, em 1992, lançou a Microfibra no Brasil, que ficou conhecido como "Tecido Inteligente". Juntamente com técnicos da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadores da Rhodia, foi possível descobrir, por exemplo, que a aplicação da Microfibra em roupas esportivas proporcionava aos atletas uma economia de 10% na energia gasta, durante a prática esportiva.

Tecido antimancha lavável

A tecnologia desenvolvida na Universidade de Deakin na Austrália pelos pesquisadores australianos Zhao et al. (2012) visam aumentar a durabilidade do tecido antimancha, por meio da adição de nanopartículas de sílica revestidas com moléculas do grupo azida. Os testes de laboratório mostraram que o novo revestimento é resistente e que, aplicado a um tecido de algodão, repeliu água, ácidos, bases e solventes orgânicos. Por tanto, o tecido antimancha lavável pode ser usado em várias aplicações como, em revestimento de sensores e de equipamentos médicos, formando até mesmo superfícies antibacterianas, por meio de ajustes na sua construção.

Tecido antibactericida e antipesticidas

A produção da fibra consome quase 25% de todo o agrotóxico produzido no planeta. Uma simples camiseta branca chega a ter 160 gramas desse tipo de substância que faz mal à saúde. Nesse contexto, o pesquisador Gang Sun e sua equipe da Divisão de Têxteis e Vestuário da Universidade da Califórnia, EUA, desenvolveram uma espécie de algodão autolimpante, capaz de eliminar bactérias e resíduos de pesticidas, por meio da incorporação de um tipo de ácido às fibras do tecido que, apesar de incolor, tem estrutura semelhante ao de muitos corantes usados na indústria têxtil. Após esse processo de incorporação, os pesquisadores colocaram no tecido dois tipos de bactérias e um pesticida, que ao ser exposto à luz do sol, os agentes químicos reagiram e eliminaram quase 100% das bactérias e 90% do pesticida.

Super jeans para motociclistas

A partir de estudos, o motociclista francês Pierre-Henry Servajean descobriu que 75% dos seus colegas usam jeans em seus passeios de moto, e a maioria já se acidentou alguma vez nesses passeios. Ao aprofundar a pesquisa, o motociclista descobriu a existência de uma fibra chamada UHMWPE (Ultra High Molecular Weight Polyethylene), que foi utilizada pela Agência Espacial Europeia (ESA) em 2007 para testar um conceito chamado "correio espacial". O motociclista montou uma equipe de desenvolvimento que criou em 2005 o Armalith, tecido misto produzido a partir de uma fibra geralmente destinada à aplicações não-têxteis. Combinada com fio de algodão, esta fibra é em seguida tecida por um processo especial que fornece ao tecido resistência equivalente à do couro, mas com a aparência e flexibilidade do denim. Ao contrário de outras soluções sintéticas, o Armalith deixa a pele respirar.

Camisa substitui fios em monitoramento de pacientes

Alguns cientistas da Universidade Carlos III de Madri (UC3M) desenvolveram uma camisa que monitora o corpo humano (frequência cardíaca, temperatura, etc.) e localiza os pacientes dentro do hospital, com margem de erro de dois metros, podendo ainda determinar se o sujeito está sentado, deitado, andando ou correndo. A informação recolhida pela camisa é enviada, sem usar fios, para um sistema de gerenciamento de informações, que mostra a localização do paciente e os sinais vitais em tempo real.

O sistema foi desenvolvido para ser utilizado em hospitais e conta com duas partes: a estrutura fixa, pré-instalada no hospital, e as unidades móveis (camisas) que se movem com os pacientes. Essa camisa pode ser lavável e tem em sua composição eletrodos que detectam energia bioelétrica através da qual um eletrocardiograma pode ser obtido. Além disso, ela carrega um dispositivo removível que inclui um termômetro e um acelerômetro, responsáveis por medir a temperatura do paciente, sua posição relativa, e seu nível de atividade física.

Com ligeiras modificações, o protótipo também pode ser aplicado em outras áreas, tais como aplicações que envolvem o diagnóstico precoce de anomalias cardíacas em atletas, ou para telemedicina, monitorizando doentes nas suas casas, reduzindo assim o tempo que deve permanecer internado no hospital.

Algodão que conduz eletricidade

Juan Hinestroza e sua equipe de pesquisadores da Universidade de Cornell, já haviam descoberto fibras sintéticas com nanopartículas, criando tecidos funcionais que podem ser utilizados para fabricar uma roupa antibacteriana que protege contra gripes, resfriados e poluição. Decidiram então trabalhar com fios de algodão e o resultado são fibras naturais de algodão capazes de conduzir eletricidade tão bem quanto fios de metal da mesma espessura, sem perder a flexibilidade e a leveza que dão o conforto das roupas de algodão. Eles produziram uma roupa de algodão feita com as fibras funcionalizadas que captura energia solar e a fornece para um dispositivo qualquer, como um carregador de celular. Para esses resultados, os pesquisadores contaram ainda com a colaboração de colegas das universidades de Bologna e Cagliari, na Itália.

Para demonstrar que a tecnologia já superou a fase da teoria, Abbey Liebman, pesquisadora do laboratório de Hinestroza, projetou uma camiseta que utiliza células solares flexíveis que geram eletricidade, disponibilizando-a em um carregador USB fixado na cintura da roupa.

Fabrican Spray-on

O material, desenvolvido pelo acadêmico e estilista espanhol Manoel Torres, em parceria com Paul Luckan, especialista em tecnologia de partículas do Imperial College London, foi batizado de Fabrican Spray-on. Uma vez aplicado na pele com tecnologia aerossol, ele seca instantaneamente, não forma costuras, pode ser lavado e vestido novamente.

O tecido é composto por uma mistura de fibras pequenas, substâncias conhecidas como polímeros - que fazem com que as fibras se unam - e um solvente que permite que ele seja aplicado em forma líquida. Torres criou uma empresa, a Fabrican Ltd, com o professor Luckham, para explorar outras aplicações, como bandagens médicas, lenços umedecidos, perfumadores de ar e estofados para móveis e carros.

Meia e Camiseta anti-bromidrose

A bromidrose é o nome dado ao chulé e ao odor característico nas axilas. O odor se desenvolve em zonas que facilitem a permanência e multiplicação em razão da umidade e temperatura propícia. Desse modo, pesquisadores da Universidade Politécnica da Catalunha (UPC), na Espanha, desenvolveram um tecido capaz de evitar a bromidrose.

Os cientistas garantem que também fungos e a coceira são evitados. A tecnologia foi desenvolvida em parceria com a empresa Sutran, composta pela composição de fibras de celulose, zinco entre outros componentes para a meia. A sistemática da camiseta está baseada em duas peças isoladas por uma câmara de ar: a primeira possui microfibras que absorvem o suor e a segunda é impermeável e evita as manchas nas roupas.

Tecido para diagnóstico do estado saúde

Pesquisadores espanhóis da Universidade Rovira i Virgili (URV) de Taragona estão desenvolvendo um tecido com detectores de substâncias químicas. As fibras são compostas por nanotubos de carbonos que transformam em sinais elétricos para serem interpretados por computadores e basear os diagnósticos realizados.

Os fluidos corporais como suor e urina podem ser seus pH's analisados de forma simples e rápida, sendo úteis para diagnostica doenças como diabetes, fibrose cística,  perceber o estado de cicatrização da pele em contato e em conseguinte pode ter aplicações no âmbito esportivo.

6. Considerações finais

Ao analisar os dados das inovações ocorridas no setor têxtil, percebe-se que a maior parte delas não foram desenvolvidas no Brasil, o que mostra que o setor, apesar de ter números expressivos de pessoas empregadas e empresas participantes, não investe o suficiente em inovação. Apesar do tamanho do parque têxtil brasileiro, o setor foi um dos que mais sofreu com a entrada de produtos importados no país.

Dessa forma, as empresas da indústria têxtil, podem ter, com a inovação, a oportunidade de sobreviver ao mercado atual cada vez mais competitivo. A inovação aberta seria ainda mais adequada uma vez que ela acelera a inovação e expande os mercados para o uso externo das inovações (CHESBROUGH et al. 2006; CHESBROUGH, 2011).

Como visto nas pesquisas, a maioria das tecnologias têxteis observadas são originadas nas universidades e em algumas vezes em colaboração com empresas. Essa relação entre empresa e universidades relembra a questão citada por Mello (2007) que comenta que modelo de inovação aberta permite a discussão de como as empresas podem se inserir em redes globais de inovação e comercialização de tecnologias e a forma pela quais diversas start-ups podem ser originadas para explorar determinados tipos de negócio específicos.

Áreas da ciência como a biotecnologia e nanotecnologia possui grande tendência tecnológica no setor, o que reforça que as inovações tecnológicas têxteis são originadas em sua maioria em outros setores de pesquisa e posteriormente transferidas ao setor têxtil. Alguns fatores como qualificação e políticas governamentais podem ser tópicos a serem discutidos como influenciadores comportamentais da indústria nacional e internacional, visto que como mostra Silva e Mazzali (2001), parcerias entre as universidades, governos e as empresas pode ser vinculado ao crescimento da competitividade global, seguido pelo aumento da demanda por inovações em produtos e processos.

As novas ideias, além de serem constituídas, precisam ser transformadas em bens comercializáveis. As empresas estão buscando, por meio do Open Innovation, a formatação de uma rede colaborativa com fluxos de recursos físicos e tácitos. As oportunidades são multiplicadas, há estímulo a motivação e criatividade dos colaboradores internos e externos, além de facilitar a identificação de forças e fraquezas do core business.

O artigo atingiu seu objetivo, o que permitiu uma análise teórica quanto a prática da Open Innovation na cadeia têxtil. Observou-se que esta prática vem ocorrendo com a participação de empresas deste setor, universidades e institutos de pesquisa. Por outro lado, ainda é pouco praticada de forma colaborativa entre empresas, fornecedores, clientes e usuários. Para futuras pesquisas sugere-se realizar uma pesquisa aplicada, com levantamento de informações do tipo survey para identificar quais os obstáculos da prática da Open Innovation nas empresas da cadeia têxtil.

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1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Brasil. Email: livinha_solino@hotmail.com

2. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Brasil. Email: samyusef14@hotmail.com

3. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Brasil. Email: mariannaccampos@gmail.com

4. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Brasil. Email: mario@ct.ufrn.br

5. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Brasil. Email: almeidamariana@yahoo.com



Vol. 35 (Nº 12) Año 2014
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