Espacios. Vol. 35 (Nº 13) Año 2014. Pág. 2

Da Produtividade à Produtividade Verde: Reflexões sobre a evolução conceitual rumo àsustentabilidade 1

From the Productivity to the Green Productivity: Reflection about the conceptual evolution towards for the sustainability

Luís Jorge Monteiro FERNANDES 2; Lúcia Santana de FREITAS 3

Recibido: 12/08/14 • Aprobado: 16/10/14


Contenido

1. Introdução

2. Da produtividade à produtividade verde

3. Considerações finais

4. Bibliografia


RESUMO:
O objetivo deste estudo foi apresentar a evolução do conceito de Produtividade rumo à Produtividade Verde. Com este propósito foram apresentados os aspectos conceituais, o contexto e os princípios que norteiam a produtividade ao longo do tempo, bem como, os principais aspectos que caracterizam a Sustentabilidade Organizacional. Dessas discussões conclui-se que a Produtividade Verde demonstra ser uma importante ferramenta congruente com os princípios da sustentabilidade empresarial, uma vez que mantém a perspectiva econômica que caracteriza a produtividade convencional e incorpora a dimensão ambiental através da redução do uso dos recursos naturais e a minimização dos impactos, bem como, a dimensão social através da diminuição ou eliminação das actividades ou ações que afetam negativamente a saúde, a segurança e o bem estar de todos os envolvidos com o processo produtivo.
Palavras-chave: Produtividade, Sustentabilidade Organizacional, Produtividade Verde.

ABSTRACT:
The aim of this study was to present the evolution of the concept of Productivity toward Green Productivity. For this purpose, was presented the conceptual aspects, the context and the principles that guide each of the productivity as well as the main aspects that characterize Organizational Sustainability. These discussions it is concluded that Green Productivity is an important tool based on the principles of corporate sustainability, it keeps the economic perspective that characterizes the conventional productivity and incorporate the environmental dimension by reducing the use of natural resources and minimization of impacts, as well as, the social dimension through the reduction or elimination of activities or actions that affect negatively health, safety and welfare of everyone involved with the production process.
Key words: Productivity, Organizational Sustainability, Green Productivity

1. Introdução

A produtividade empresarial dita "convenvional"que ao longo dos últimos dois séculos vêm sendo utilizada por diferentes autores como uma relação entre a produção de bens e serviços e os insumos utilizados no processo produtivo, tem sido feito com uma abordagem assente na matriz econômica. Esse ponto de vista é justificado, por ser calcado nos princípios do modelo de desenvolvimento que priorizam o crescimento econômico a qualquer custo, levando com que as empresas, quando da análise da produtividade estejam a negligenciar os aspectos ambientais e sociais dos processos industriais.

Nessa perspectiva, (Sanches, 2000) alerta que as empresas industriais que procuram manter-se competitivas ou mesmo sobreviver e se ajustar a esse novo ambiente de negócios, que já se mostra bastante concorrido, marcado por incertezas, instabilidades e rápidas mudanças, percebem cada vez mais que, diante das questões ambientais, são exigidas novas posturas, seja na maneira de operar suas organizações e também seus negócios.

Diante deste novo contexto empresarial, devem ser incorporados nos planos de negócios das unidades industriais, não só os tradicionais aspectos econômicos, mas também as variáveis sociais e ambientais que caracterizam todo e qualquer processo produtivo. Para  (Jappur, et al, 2008) isto se enquadra nos princípios da estratégia da sustentabilidade empresarial, em que deve-se incluir nos objetivos estratégicos, cuidado com o meio ambiente, bem-estar das partes interessadas e constante melhoria da sua própria reputação.

Tal comportamento é resultante das exigências dos consumidores para com produtos ambientalmente menos impactantes, pela escassez de determinados recursos, pela acirrada competitividade econômica, pela demanda em relação a eco-eficiência, pela necessidade de eco-rotulagem, pela demanda de políticas de saúde ocupacional e de riscos ambientais, entre outros, levando a mudanças por parte de algumas organizações industriais na busca de processos produtivos mais eficientes (Avishek et al, 2008).

Portanto, os modelos de avaliação da produtividade caracterizada pela razão entre os inputs e os outputs, em que os fatores de produção considerados são essencialmente o capital, força de trabalho e outros insumos intermediários tornam bastante limitados por não contemplarem as questões sociais e ambientais. É deste contexto, que surge a Produtividade Verde (PV), que se apresenta como importante ferramenta de apoio a tomada de decisão com base nos preceitos da sustentabilidade empresarial.

À PV que é uma estratégia desenvolvida pela Organização Asiática de Produtividade, tem por base a integração de dois importantes conceitos, quais sejam a melhoria da produtividade e a proteção ambiental (APO, 2001). Portanto, a PV apresenta-se como um conceito que tem por objetivo melhorar a performance econômica organizacional através do aumento da produtividade e a minimização dos impactos ambientais decorrentes das atividades através da proteção ambiental.

Diante disto, o presente ensaio tem como objetivo analisar à evolução do conceito de produtividade à produtividade verde. Nesse âmbito, pretende-se: apresentar os aspectos conceituais, o contexto e os princípios que norteam cada tipo de produtividade; identificar as principais variáveis que as caracterizam; e analisar ascontribuições e aplicações da produtividade e da PV.

2. Da produtividade à produtividade verde

Nesta segunda parte do trabalho será abordado inicialmente a produtividade convencional, seus diferentes conceitos, principios e contexto de aplicação. Em seguida serão tratados a sustentabilidade em nível organizacional, origem e aspectos contemplados. Por último, a partir do entendimento dos dois pontos anteriores e suas mútuas implicações será abordado à PV.

2.1.Produtividade

O conceito de produtividade que para (Logamuthu, Zailani, 2010), apareceu pela primeira vez na literatura em 1766, num artigo escrito por um matemático francês, e que a partir daí, das diferentes definições encontradas, genericamente, os pesquisadores vem conceituando-a como uma relação entre o que entra num sistema de produção e o que sai na forma de bens e serviços.

De uma forma geral, essa relação que caracteriza à produtividade vem sendo aplicada em diferentes circunstâncias e em vários níveis do sistema econômico, influenciando decisões, desde o escopo mais micro como uma simples operação, passando pela avaliação mais macro, como de uma nação. Em nível de nação, à produtividade reflete o conceito de renda per capita, em nível da empresa reflete a relação entre o faturamento e os custos totais, devendo incluir toda a cadeia produtiva, desde os fornecedores até os clientes, e em nível operacional é determinada pela capacidade produtiva dos recursos envolvidos numa operação industrial (Contador, 1994).

Para (Prokopenko, 1987, apud Tangen, 2002) o conceito da produtividade goza de aceitação geral devido a dois motivos: i) a definição sugere que esta é pensada para ser aplicada dentro de um contexto de uma empresa, uma indústria ou uma economia como um todo; ii) independentemente do tipo de produção, o sistema econômico ou político, a definição de produtividade permanece a mesma, desde que o conceito básico seja a relação entre a quantidade e qualidade dos bens e serviços produzidos e a quantidade dos recursos utilizados para produzi-los.

Por isso, se compreendem as numerosas tentativas de precisar o conceito de produtividade, que parece depender do ponto de vista de quem usa e do contexto em que é empregado. Autores como (Ferreira, Torres, 2005) realçam que, "desde seu aparecimento os pesquisadores vêm recortando-lhe os contornos, distinguindo-os de outras figuras e procurando encontrar instrumentos que possibilitem proceder a sua medida de gestão", o que mostra a sua grande importância como parâmetro para a avaliação da competitividade das nações, organizações, processos produtivos e produtos.

Não obstante, a sua vasta área de aplicação, para os propósitos deste trabalho, a análise da produtividade será feita sob o ponto de vista organizacional, e que por isso se faz necessário fazer a conceituação teórica do termo produtividade na pespectiva empresarial.

Nesse âmbito, e partindo do conceito genérico da produtividade, estudiosos como (Contador, 1994) considera-a como sendo a relação entre os resultados da produção e os recursos produtivos a esta aplicada por uma empresa, e (Suder, 2006) define-a como a utilização eficiente dos recursos por parte de uma organização na produção de bens e serviços. De forma mais específica, para (Tangen, 2002) a produtividade é definica geralmente dentro da engenharia industrial como a relação entre a saída e a entrada dentro de um processo produtivo de transformação.

A figura 1 apresenta esquematicamente o conceito de produtividade, que é definida genericamente pela quantidade de recursos que entra no sistema, que após passarem por um processo de transformação, são agregados valores, e estes saem em forma de produtos ou serviços, que espera-se que venha proporcionar melhoria dos indicadores econômicos-financeiros de uma organização.

Figura 1: Apresentação esquemática do conceito de produtividade
Fonte: Elaboração própria

A relação que define à produtividade tem por base alguns princípios que servem para direcionar as atividades de uma organização. Esses princípios que de acordo com à (APO, 2006) são três, o de geração de emprego, o da cooperação entre gestão e trabalho e o da distribuição justa, os quais estão descriminados no quadro1.

Quadro1: Principios da Produtividade e seus aspectos relevantes

Princípio

Aspectos

Geração de Emprego

A longo prazo, a melhoria da produtividade vai aumentar o emprego. No entanto, durante a transição, ou antes da realização das ações em prol da melhoria da produtividade, as entidades envolvidas devem cooperar para gerar medidas adequadas para a transferência de trabalho excedente para áreas onde é necessário e, portanto, evitar possíveis desempregos

Cooperação entre Gestão e Trabalho

No desenvolvimento de medidas concretas para aumentar a produtividade, trabalho e gestão devem cooperar, de forma a discutir, estudar e deliberar sobre medidas que estão em conformidade com as condições existentes na respectiva empresa

Distribuição Justa

Os ganhos da melhoria da produtividade devem ser distribuídos de forma justa entre todos os envolvidos, sejam os da gestão, da força de trabalho e os consumidores

Fonte: Elaborado a partir da (APO, 2006)

Esses princípios que norteiam à produtividade estabeleçam linhas gerais de interrelação entre a geração de emprego e a necessidade de cooperação entre a gestão e o trabalho, para que se possam usufruir dos ganhos a longo prazo. No entanto, tudo isto só será possível se houver uma justa distribuição dos ganhos da melhoria da produtividade entre todos os envolvidos no processo.

À produtividade que para (Tangen, 2002) é, provavelmente, um dos aspetos mais debatidos dentro da indústria de transformação, bem como, dentro das comunidades de pesquisa que estão preocupados com a melhoria do desempenho e suas respectivas formas de medição, é um conceito que aborda termos como lucratividade, eficiência, valor, inovação e qualidade de vida no trabalho.

Nesse âmbito, a medição da produtividade representa uma medida de avaliação do sucesso económico alcançado pela empresa, e que este rácio é importante para que se possa avaliar a "saúde" da economia em geral, de um sector de actividade ou de uma empresa em particular (Cibrão, 2006).

Por este motivo que à produtividade tem sido considerada por muitos como uma avaliação econômica de entrada dos recursos e saída de produtos e serviços. Por isso, os modelos de produtividade são considerados como modelos de contabilidade econômica, centrados em quatro classes de insumos, o trabalho, a capital, os materiais e a energia (Tuttle, Heap, 2007).

A relevância e os diversos usos potenciais da determinação da produtividade foram abordados por (Moreira, 1991) quando destaca que esta pode ser usada: como ferramenta gerencial, que juntamente com outros indicadores gerenciais, auxilia no controle e monitoramento das ações implementadas pela empresa; como instrumento de motivação, pois a existência de indicadores de produtividade pode servir de estímulo à adoção de melhorias; auxilia na previsão de necessidades futuras de recursos produtivos; é um indicador do crescimento relativo de áreas ou categorias funcionais dentro de uma organização; serve para fazer comparação do desempenho de unidades de uma mesma empresa; serve de comparação do desempenho de uma organização com o setor a que pertence; usado como instrumento de análise das fontes de crescimento econômico, verificando seu papel como indicador da evolução do agregado econômico; etc.

Do exposto, é de se ter em mente que à produtividade é um conceito relativo, que é usada para fazer a comparação, tanto de variações de um padrão de um determinado ponto no tempo, como por exemplo de um concorrente ou de outro departamento, ou de mudanças e de análise de tendências.

Sendo assim, a avaliação da produtividade representa um dos mais importantes elementos para a geração de vantagens competitivas de uma empresa sobre os seus concorrentes e que por isso, sua análise, posiciona-se como um importante elemento de apoio aos administradores na gestão de uma organização.

É de evidenciar, com um ou outro detalhe que tem sido acrescentado ao conceito de produtividade, denota-se que trata de uma medida de mensuração de eficiência com que os recursos são utilizados para serem transformados em resultados econômicos para uma organização. Também, é de destacar, que ao longo de mais de dois séculos, a produtividade, provavelmente é uma das questões mais debatidas no setor industrial, e que tem sido aplicada em muitas circunstâncias e em diferentes níveis do sistema econômico, fazendo com que a mesma seja considerada como uma das variáveis mais importantes que regem as atividades de produção econômica.

Essa abordagem da produtividade como um importante componente econômico de análise da atuação da empresa, talvez esteja relacionada, por um lado, com o fato da produtividade ser uma função de número de produtos que estão sendo manufaturados, e por outro lado, representa os recursos consumidos durante o processo. Nesse caso, do ponto de vista econômico, a produtividade pode ser analisada através do aumento do valor acrescentado as materias primas e/ou redução de custos de produção durante a fabricação dos produtos.

Acredita-se que o olhar essencialmente econômico que caracteriza a produtividade durante a avaliação da eficiência de um produto, de um processo produtivo ou de uma organização como um todo, se coloca porque os insumos de produção que são utilizados na sua avaliação, são elementos majoritariamente de natureza econômica.

Entretanto, o meio empresarial se depara actualmente com diversas questões que não se restringem meramente ao âmbito econômico. Além de mudanças nos próprios padrões de consumo existe uma conjugação de fatores que indicam que a análise das atividades empresariais não devem se restringir apenas ao âmbito econômico, possuem também significativo efeito no meio ambiente e na sociedade (Azevedo, 2006).

É assim, que das preocupações do impacto do desenvolvimento econômico sobre o meio ambiente e a sustentabilidade do crescimento econômico tem atraído os economistas a considerar a sensibilidade ambiental na avaliação da produtividade, fazendo com que, ao longo dos anos o paradigma da produtividade esteja passando por uma evolução e o seu conceito se expandindo (Gandhi et al, 2006).

Tal expansão advém, por um lado, pelas limitações do conceito de produtividade focado apenas em aspectos econômicos, e, por outro lado, pela procura de abordagens estratégicas de gestão organizacional concebida com base na integração dos aspectos econômicos e ambientais, resultando na necessidade de se desenvolver novas formas de analisar a produtividade, que não considere apenas as entradas convencionais, tais como, capital, energia intermediária e insumos não energéticos, mas também que incorporem o valor não mercantil dos aspectos ambientais (Cao, 2007).

Ciente disto, nos últimos tempos, percebe-se que as empresas têm passado por alterações nos modelos de gestão e organização, na tentativa de incorporar práticas e parâmetros pautados na busca da sustentabilidade organizacional.

2.2. Sustentabilidade nas Organizações

O termo sustentabilidade que tem sua origem basicamente relacionada ao conceito de desenvolvimento sustentável (DS) que foi introduzido em 1987, pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas, a quando da publicação do Relatório da Comissão Brundtland. Nesse relatório, que ficou conhecido como Nosso Futuro Comum, definiu-se DS como um desenvolvimento que seja capaz de atender as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem às suas próprias necessidades.

O conceito de DS, que desde o seu início, vem passando por várias definições, mas todas essas com uma base comum, que se trata das dimensões que compõem o termo sustentabilidade, segundo (Sant´Anna, 2013) está calcado sobre os pressupostos da sustentabilidade econômica, ambiental e social. Com isto, este conceito passou a figurar sistematicamente na semântica de linguagem internacional, servindo como eixo central de pesquisas realizadas por organismos multilaterais, e, mesmo, por grandes empresas (Claro et al, 2008).

Embora tenha emergido como uma ideia política na agenda internacional, ou seja, de uma visão macro, o conceito de DS e os princípios da sustentabilidade vêm sendo aplicado em nivel organizacional. Acredita-se que mesmo na indústria que muitas vezes é vista como fonte da degradação ambiental, isto vem acontecendo, já que esta é tida como um importante ator social, devendo desempenhar um papel proeminente na criação de um futuro sustentável (Zamcopé et al, 2012).

Desta realidade, centenas de conceitos e definições têm sido propostas, referindo-se a uma maneira mais humana, mais ética e mais transparente de fazer negócios (Zamcopé et al, 2012). Desses conceitos que tem aparecido em diferentes meios, seja acadêmicos ou empresariais, com o propósito de abordar a responsabilidade das empresas para além dos objetivos puramente econômicos, destaca-se: responsabilidade social empresarial, cidadania corporativa, empreendedorismo sustentável e sustentabilidade empresarial.

Para o propósito deste estudo, será analisado a Sustentabilidade Empresarial ou Organizacional (SE), mesmo considerando que o próprio conceito ainda permanece difuso por englobar diversas questões complexas, que pela sua própria natureza, dinâmico, variável no tempo e entre empresas, em função das expectativas dos stakeholders, e que por isso a dificuldade de encontrar definições concretas ou de identificar fronteiras claras é uma de suas próprias características definidoras (Dias, 2009).

Dos conceitos encontrados, a SE vem sendo pensada freqüentemente com base no tripé da sustentabilidade, ou seja, o Triple bottom line que é um termo proposto pelo cientista social inglês John Elkington. Para (Domenghetti, 2009) citado por (Sant´Anna, 2013), o triple bottom line é um conceito que reúne, simultaneamente, o resultado econômico-financeiro, o resultado social e o resultado ambiental, tornando-se um imperativo para o sucesso das corporações. Partindo da proposta de Elkington a sustentabilidade nas organizações passou a ser compreendida tendo por base a necessidade de durante a avaliação, dar igual valor tanto às questões ambientais, sociais e conômicas.

Baseado no citado tripé, (Dias, 2009) argumenta que a SE corresponde à consideração das três dimensões da sustentabilidade nas políticas e atividades das organizações, integradas com a vertente institucional que chama a atenção para as questões relativas às formas de governança das instituições, dos sistemas legislativos e para o quadro da participação dos grupos de interesse considerados parceiros essenciais na promoção dos objectivos para a construção de uma forma de DS.

Alertando para a questão mercadologia, uma organização produtiva interessada em se posicionar no mercado como uma organização sustentável deve pautar na busca constante de um equilíbrio entre as dimensões econômica, ambiental e social. Nesse contexto, segundo (Coral, 2002) para que uma empresa seja considerada sustentável tem que atender aos critérios de ser economicamente viável, ocupar uma posição competitiva no mercado, produzir de forma que não agrida o meio ambiente e contribuir para o desenvolvimento social da região e do país onde atua.

A figura 2 representa um modelo de sustentabilidade a ser aplicado pelas empresas e que tem por base o conceito de sustentabilidade segundo a abordagem de integração das três dimensões do tripé da sustentabilidade.

Figura 2: Modelo de sustentabilidade empresarial segundo a abordagem do triple bottom line
Fonte: (Coral, 2002)

A figura 2 mostra que o conceito de sustentabilidade empresarial tem uma visão abrangente, extrapolando os tradicionais aspectos de melhoria dos indicadores econômicos, requerendo, a incorporação conjunta de ações em prol da sustentabilidade social e ambiental, tanto a nível interno como externo a empresa.

Assim, a organização que optar pela sustentabilidade empresarial continua visando o lucro, que é seu objetivo primordial, só que passa a considerar o impacto de suas atividades no meio ambiente procurando amenizá-los de maneira eficiente, desempenhando ao mesmo tempo ações de cunho social, seja em benefício de seus funcionários ou da comunidade (Azevedo, 2006). Nesse quadro, a sustentabilidade empresarial passa a ser vista como um diferencial competitivo diante da concorrência, e a proteção ambiental esta passando a fazer parte dos objetivos de negócios das organizações e o meio ambiente não é mais encarado como um adicional de custo, mas como uma possibilidade de lucros, em um quadro de ameaças e oportunidades para a empresa (Santos, 2000).

Do acima transcrito, é de evidenciar, que a sustentabilidade de uma empresa dependerá, basicamente, de sua capacidade em estabelecer um equilíbrio entre sua competitividade no mercado, sua relação com o meio ambiente natural e sua atuação em termos de responsabilidade social.

Diante disto, o compromisso das unidades produtivas para com a sustentabilidade empresarial vem ganhando cada vez mais espaço nas discussões e planejamento das organizações empresariais. Essas discussões que são dirigidas aos diferentes stakeholders, com o objetivo de vincular práticas gerenciais ambientais, sociais e econômicas a uma imagem positiva da empresa, segundo (Claro et al, 2008), fez com que a preocupação com o meio ambiente passasse a fazer parte da arena política e das estratégias das empresas privadas, pois, de alguma forma, possibilitavam ou limitavam o seu desenvolvimento.

Para (Dias, 2009) o desenvolvimento das atividades de produção em harmonia com o meio ambiente serão em prol da geração de valor para o accionista e benefício económico para o mundo, a redução dos impactos no ambiente até níveis ecologicamente sustentáveis proporcionando, sempre que possível, uma interacção positiva com o meio ambiente e desenvolvendo negócio de forma ética e responsável beneficiando a vida daqueles que estão relacionados.

Essa tendêndica crescente, em consolidação no ambiente corporativo, quanto ao valor da sustentabilidade na gestão das organizações aponta para a necessidade de se acelerar a adoção dos princípios de sustentabilidade e de estabelecer suas práticas em conformidade com o perfil de atuação da empresa e das demandas dos diversos tipos de público que com esta interage.

Assim, da convergência de estratégias que englobem as diversas dimensões da sustentabilidade fez-se surgir um novo mercado de oportunidades para a produção de bens e serviços de maneira mais sustentável e que promova um estilo de vida sustentável. Por isso, que tem aparecido e evoluido muitos conceitos e estratégias relacionadas com a performance de produção que incluí a importância das preocupações ambientais e dos recursos no desenvolvimento de tecnologias e sistemas de gestão de produtos e processos (Pineda-Henson, Culaba, 2004).

Neste contexto, o entendimento e utilização da produtividade pautada apenas na dimensão econômica se tornam bastante restritiva e limitada, necessitando de repensar seus limites e capacidade de resposta. É neste âmbito, que a produtividade verde surge trazendo importantes contribuições, por um lado, preenchendo lacunas existentes no contexto e formas de utilização da produtividade dita convencional, e, por outro lado, apresenta-se como importante ferramenta na busca da sustentabilidade organizacional.

A procura por modelos gerenciais que direcionem as organizações a desenvolverem atividades de forma a causar menos impactos ambientais e que propiciam retornos econômicos altos e ainda possam levar ao aumento da produtividade, tem resultado em mudanças por parte de algumas organizações industriais na busca de processos produtivos mais eficientes (Avishek et al, 2008). É desta realidade, que enquadra algumas ferramentas que tem por base não só a inclusão dos tradicionais aspectos econômicos, mas também os aspectos sociais e ambientais, destacando-se aqui à PV.

A PV que segundo (Logamuthu, Zailani, 2010) teve sua origem no Japão, através de uma concessão especial feita pelo governo japonês a Organização Asiática de Produtividade (APO4), que mais tarde elaborou o seu Programa Especial sobre Meio Ambiente com o objetivo de dar resposta à necessidade de articulação de estratégias de desenvolvimento econômico com preservação ambiental.

Como resultado em 1994 a APO introduziu a estratégia da PV, que teve por base as recomendações da Cimeira da Terra que aconteceu no Rio Janeiro em 1992 (APO, 2001; Hur et al, 2004; Lin et al, 2013), em que ficou assente que o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental seriam as bases para a definição de estratégias de DS (Saxena et al, 2003; Ahmed, 2012).

Deste alinhamento, à PV ficou conceituada como uma estratégia, que através da aplicação de adequadas ferramentas, técnicas e tecnologias de produtividade e políticas de gestão ambiental, possam reduzir o impacto ambiental das atividades de uma organização, levando simultaneamente a melhoria da produtividade e o desempenho ambiental de um negócio, o que proporciona o desenvolvimento sócio-econômico em geral (APO, 2001).

Partindo deste posicionamento da APO, surgiu na literatura outros conceitos, de diferentes teóricos e pesquisadores, mas todos relacionados basicamente a concepção inicial da PV introduzida pela Organização Asiática de Produtividade.

Nesse sentido, segundo (Avishek et al, 2008), à  PV é uma estratégia, que além de melhorar simultaneamente à produtividade e o desempenho ambiental, leva em geral ao desenvolvimento sócio-econômico sustentável e a melhoria na qualidade de vida humana. Já (Mohanty, Deshmukh, 1999) consideram a PV como a busca por tecnologias limpas que conciliem a necessidade de maior produção com a missão de proteger o meio ambiente. Também, (Tuttle, Heap, 2008) reforçaram o conceito afirmando que se trata de uma estratégia que faz com que as organizações se diferenciam dos concorrentes, e tenham maior rendimento e consigam aumentar a parcela de mercado devido às vantagens que são geradas. Para tanto, faz-se necessário a aplicação combinada de adequadas ferramentas, técnicas e tecnologias de produtividade e de gestão ambiental que reduzem o impacto ambiental de uma atividade, produtos e serviços de uma organização, contribuindo para o aumento da rentabilidade e da geração de vantagem competitiva.

Ainda tentando explicar o conceito da PV alguns teóricos vão mais longe, acrescentando que se trata de uma revolução em nível de produção industrial e de gestão ambiental que pode provocar uma ruptura com o sistema produtivo vigente. Entre eles destaca-se (Pineda-Henson, Culaba, 2004) que postulam que a PV trata de um novo paradigma para a produção sustentável onde a conservação de recursos e minimização dos desperdícios constituem uma estratégia que simultaneamente melhora a performance ambiental e à produtividade, e que através da proteção ambiental fornece as bases para um desenvolvimento mais sustentável. Sobre este aspecto, (Miyai, 1997) argumenta que a PV está no coração do conceito do DS e (Ahmed, 2012) evidencia que a PV é um caminho prático para responder as mudanças rumo ao DS.

Dos diferentes conceitos da PV pode-se resumir que se trata de um modelo estratégico concebido com uma abordagem prática para que as organizações passassem a lidar, "com a produtividade focada numa estrutura de melhorias constantes, e da proteção ambiental que fornece as bases para o desenvolvimento sustentável" (Saxena et al, 2003). Com isto espera-se criar um ambiente produtivo que proporcione o aumento da produtividade na era de forte concorrência e de fortes pressões ambientais dos diferentes stakeholders.

Esquematicamente, a figura 3 apresenta o conceito da estratégia da PV, que consiste na integração de duas importantes estratégias de desenvolvimento, que são o aumento de produtividade e a proteção ambiental.

Figura 3: Conceito de Produtividade Verde
Fonte: (APO, 2006)

Entende-se da figura 3 que a PV se dá através de uma "engrenagem" que inter-relaciona a minimização ou mesmo eliminação de alguns impactos ambientais com a melhoria do desempenho econômico levando assim ao DS.

Nessa perspectiva, com a implementação continuada de ações que leve simultaneamente a proteção ambiental e a melhoria da produtividade a organização estará desenvolvendo ações rumo a sustentabilidade, já que, cada vez mais, o negócio está sendo direcionado para um novo modelo, que é caracterizada como tendo valor em três dimensões, a ambiental, a econômica e a social.

Para tanto, e tendo em conta que o principal objetivo da PV é integrar a proteção ambiental na mesma arena que a melhoria da produtividade de base econômica, sua estratégia é suportada por alguns princípios. O quadro 2 apresenta não só os tipos de princípios, como também as principais características de cada um.

Quadro 2. Tipos de Princípios da Produtividade Verde.

Tipos

Princípios

Caracteristicas

Ecológicos

Responsabilidade

Necessidade da empresa assumir a responsabilidade por suas ações e decisões. Necessidade das empresas prestar contas de suas ações a vários grupos de pessoas e não apenas aos acionistas tradicionais, já que normalmente, órgãos reguladores responsabilizam os poluidores. A forma como as pessoas estão interpretando a responsabilidade corporativa está mudando, inclusive, outros grupos empresariais, como fornecedores, clientes, consumidores e o público em geral, estão todos buscando cada vez mais responsabilização pelas ações e os impactos das atividades empresariais.

Poluidor Pagador

O conceito de poluidor-pagador reflete a responsabilidade, colocando sobre o poluidor o ônus dos custos incorridos na despoluição ambiental. Este princípio é a base de sanções pecuniárias e de outras penalidades dos sistemas de tributação de poluição.

Abordagem de Precaução

O princípio da precaução preconiza uma abordagem cautelosa, positiva e antecipatória. Em termos de proteção ambiental, o princípio da precaução geralmente significa que, onde existem ameaças de danos graves ou irreversíveis ao meio ambiente estes devem serevitados ou reduzidos ao máximo na sua fonte geradora. Normalmente é aplicado em situações onde o impacto de um evento é longo prazo e difícil de reverter.

Produtividade

Rentabilidade

Estipula a necessidade de gerar lucros, seja através da economia em matérias-primas, praticando a eficiência dos recursos, ou através do aumento da produtividade, melhoria da qualidade ou aumento de vendas. A produtividade verde reconhece que a rentabilidade é um ingrediente essencial para qualquer tipo de atividade econômica que almeje ser sustentável.

Vantagem Competitiva

Este princípio defende competitividade em preços, qualidade e, no caso da produtividade verde, no segmento de produtos e processos "amigos da natureza."Considerando que a prática da PV irá criar novas oportunidades de negócios, fornecerá vantagem competitiva em mercados onde a "qualidade" tem sido o foco, incluindo logicamente a qualidade ambiental.

Envolvimento das pessoas

Envolvimento, comprometimento e desenvolvimento dos funcionários são cruciais para a implementação eficaz da PV. Necessidade de motivar as pessoas e também ter o comprometimento da cúpula.

Fonte: Elaborado a partir de (APO, 2006).

Não obstante, alguns desses princípios que suportam a PV são usados por outras práticas de gestão ambiental e de melhoria da produtividade, mas o que se tem constatado é que estes geralmente são considerados de forma fragmentada ou segregada, sendo que os princípios de melhorias de produtividade são gerenciadas por um departamento e os princípios ambientais por outro.

Com estes princípios, a PV, que segundo (Pineda-Henson, Culaba, 2004) "emergiu gradualmente com o propósito básico de aumentar a produção com a mínima utilização de matéria prima e de recursos", vem ganhando importância no meio empresarial e as empresas que optarem pela estratégia da PV podem alcançar níveis mais elevados de desempenho econômico e ambiental, em que as vantagens conjuntas de melhorias em toda a linha e com menores cargas ambientais parecem possível, se não uma meta absoluta a ser seguida, pelo menos, como uma tendência (Hur et al, 2003).

Os benefícios da PV são destacados pela APO quando é realçado que esta oferece oportunidade de perpetuar uma busca incansável por uma posição mais competitiva que requer menos energia, mais economia de dinheiro e esforço, e ajuda a comunidade (APO, 2001). Na mesma linha (Suder, 2006) e (SIPI, 2012) apresentam alguns benefícios que as unidades produtivas que optam pela implementação da estratégia da PV possam ter, destacando os seguintes: aumento da rentabilidade, melhoria da saúde e segurança, fabricação de produtos de qualidade, promoção da proteção ambiental, garantia de conformidade regulatória, melhoria da imagem da empresa, elevação do moral dos empregados, o que contribuí para o desenvolvimento sustentável.

Numa análise de cunho econômico, mais particularmente no tocante à produtividade e consequente melhoria em nível da rentabilidade que leva a melhorias ambientais, apesar de que para (Hur et al, 2003) existe um preconceito popular de que qualquer solução para resolver o problema ambiental será muito dispendiosa, a estratégia da PV que leva ao aumento da produtividade é financeiramente benéfico para a indústria e o comércio, pois reduz os custos operacionais, através da redução do desperdício e da poluição e ainda do uso de menos energia e recursos materiais, que obviamente, será bom para o meio ambiente (Mohanty, Deshmukh, 1999).

A figura 4 demonstra esquematicamente que a PV é uma ampla estratégia para aumentar a produtividade e o desempenho ambiental e que se usada convenientemente pode levar a uma mudança positiva no desenvolvimento socioeconômico e ambiental das organizações. Essa mudança será percebida através da redução dos impactos ambientais, do aumento da rentabilidade do negócio e do aumento da qualidade de vida, tanto dos funcionários, bem como da população proxima a unidade produtiva.

Figura4: Vantagens da aplicação da estratégia da Produtividade Verde

Fonte: (APO, 2006)

Do apresentado, à PV posiciona-se como uma estratégia que dá resposta não só ao setor empresarial que visa maior rentabilidade econômica, mas também a outros stakeholders. Isto será percebido, tanto através de ações de melhoria da performance ambiental bem como no aumento da qualidade de vida, e também através da melhoria do desempenho social, desenvolvendo assim maneiras de conduzir as estratégias de melhoria de produtividade para as opções que maximizam tanto benefícios ambientais como sócio-econômicos.

A importância da estratégia da PV, como uma importante ferramenta para uma melhor gestão dos problemas sociais, ambientais e econômicos que afetam as organizações, tem feito aparecer na literatura especializada estudos que abordam o tema da PV demonstrando que a sua implementação vem se firmando como um modelo de gestão para as unidades produtivas, que através de práticas associadas à noção de sustentabilidade, podem alcançar melhores níveis de gestão, tornando-se mais competitivas e mais lucrativas.

O quadro 3 apresenta alguns estudos, de natureza teórica e/ou empírica que demonstra uma certa diversidade de aplicação da estratégia da PV.

Quadro 3: Exemplos de estudos teóricos e/ou empíricos e suas contribuições

Fonte

Tipo de Estudo/ Objetivo

Contribuição

(Bleischuwitz, Von Weizsacker, 1999)

Estudo teórico;

Objetivo de mostrar o apelo que tem sido feito para a mudança de rumo da produtividade convencional para a produtividade verde.

É demonstrado que é vital o aumento da eco-efiência em processos produtivos e também da necessidade de reformas em nível dos mecanismos de fiscalização e de impostos ecológicos.

(Mohanty, Deshmukh, 1999)

Estudo teórico-empírico;

Objetivo de mostrar a validação de um modelo suportado pela PV, de como é possível estabelecer um racio entre os resíduos e o total de recursos que entram no processo e como influencia no desempenho da produtividade de uma organização.

Mostra como é que a gestão de resíduos através da PV, pode melhorar a produtividade já que os resíduos não agregam valor, quando reduzidos, diminuem o custo com a gestão dos mesmos e o custo operacional diminui, e com isto gera vantagem competitiva.    

(Saxena et al, 2003)

Estudo teórico-empírico;

Objetivo de demonstrar como é que estratégia da PV apoia na identificação de problemas ambientais e de produtividade e ainda na proposição de melhorias de crescimento sustentável para uma indústria de óleo alimentar na India

Enaltece a estratégia da PV como uma ferramenta que propicia ganhos financeiros e de produtividade e também como programa que facilita o desenvolvimento e a implementação de sistema de gestão ambiental em organizações que objetiva a certificação pelas normas da ISO.

(Parasnis, 2003)

Estudo teórico-empírico;

Proposito de mostrar como a PV pode ser implementado com sucesso para a melhoria continua na gestão de energia de um hospital e assim propiciar melhoria de produtividade e de desempenho ambiental.

Mostra que no contexto da PV a gestão de energia pode harmonizar a proteção ambiental com a melhorar da produtividade e gerar lucro;

Mostra também a importância do envolvimento de todos para o sucesso do programa da PV.

(Pineda-Henson, Culaba, 2004)

Estudo teórico;

Objetivo de desenvolver um modelo de diagnostico para a avaliação da PV de processos de manufatura que pode ser convertido num software para ser usado como um suporte inteligente de decisão

Vem demonstrar que a estratégia da PV é abrangente e é suportada pela integração de diversas ferramentas e técnicas de gestão, como é o caso da AHP (analise hierárquica de processo), a LCA (analise de ciclo vida) e indicadores ambientais.

(Moharamnejad, Azarkamand, 2007)

Estudo teórico-empírico;

Objetivo é implementar a PV como ferramenta de análise do consumo de energia, água, combustíveis e de avaliação dos poluentes numa companhia de aviação.

Recomenda a aplicação de técnicas de gestão para suportar a estratégia da PV e assim aumentar a produtividade e melhorar o desempenho ambiental na indústria de aviação.

(Tuttle, Heap, 2008)

Estudo teórico;

Objetivo é descrever o pensamento em torno de "PV" fornecendo fatos que mostram a necessidade de enfrentar as questões ambientais e econômicas de forma integrada.

Apresentação de um framework que trata as questões ambientais e econômicas de forma coerente e sistemática; Apresenta um novo pensamento e novas formas de abordar a produtividade com suporte a PV.

(Logamuthu, Zailani, 2010)

Estudo teórico;

Analisar como é que os fatores que influenciam a implementação de práticas de PV aumentam a produtividade e melhora a performance ambiental. 

Rica contribuição teórica acerca da PV;

Ficou demonstrada que a PV contribuí para o aumento da produtividade e da performance ambiental e sendo mais abrangente que outras ferramentas de gestão como é o caso das ISO´s.

Analisando o quadro 3, percebe-se as várias contribuições que a PV pode gerar como estratégia de gestão que contribuí para aumentar a produtividade e na melhoria da performance ambiental.

Os trabalhos de (Bleischuwitz, Von Weizsacker, 1999; Saxena et al, 2003; Pineda-Henson, Culaba, 2004; Tuttle, Heap, 2008; Logamuthu, Zailani, 2010) como estudos teóricos contribuem para a divulgação da metodologia da PV e também, até certo ponto, é feito uma comparação entre os modelos de produção tradicional e a nova abordagem para a produtividade industrial assente na integração dos aspectos econômicos e ambientais a quando da definição de processos produtivos.

Já (Mohanty, Deshmukh, 1999; Parasnis, 2003; Moharamnejad, Azarkamand, 2007) através de pesquisas empíricas demonstram, além de ganhos práticos já adquiridos com a aplicação da abordagem da produtividade verde em diferentes setores industriais, mas também contribuam para a divulgação da abordagem da PV e da sua importância para diferentes setores da sociedade.

Dessas publicações, é de enaltecer que contribuem para ampla divulgação da estratégia da PV que de aplicações restritas apenas a processos de manufatura tem-se expandido a vários outros setores da sociedade. A própria APO reconhece isto, e afirma que a produtividade verde que decolou inicialmente do setor industrial, está agora sendo cada vez mais aplicada à agricultura, indústria de serviços e mesmo as comunidades, evoluindo assim, como uma estratégia geral de desenvolvimento sócio-econômico sustentável (APO, 2002).

Acrescentando, (Hitomi, 1997) diz que através da busca de tecnologias limpas que conciliem a necessidade de maior produção com a missão de proteger o meio ambiente, a PV está sendo reconhecida como um tema global e, lentamente, está sendo adotado como uma filosofia organizacional e como um conjunto de estratégias para gerir a produção inovadora, mas com responsabilidade, e, finalmente, numa base competitiva mais sustentável.

Assim, a abordagem da PV que segundo (Suder, 2006) "deve ser gerenciada como um ativo estratégico em qualquer organização cujo futuro depende do desenvolvimento sustentável", se for utilizada de forma eficaz pode ser considerada uma ampla estratégia para melhorar a produtividade e a performance ambiental e com isto provocar uma mudança positiva no desenvolvimento sócio-económico das organizações publicas e privadas, ou seja, a PV pode ser entendida como uma importante ferramenta alinhada com as recomendações da Cimeira da Terra no Rio que era de procurar uma nova abordagem para o DS e assim entrar na corrida para a sustentabilidade organizacional.

Analisando o que foi abordado sobre a PV, esta pode ser vista como uma ferramenta de gestão ambiental que pode proporcionar benefícios sociais, econômicos e ambientais para as organizações e para as comunidades, que na prática direciona as ações das empresas rumo a sustentabilidade dos processos produtivos.

É de notar que a abordagem da PV pode contribuir para melhorar a eficiência da gestão dos materiais em termos econômicos e ambientais de uma empresa, ajuda na resolução dos problemas nas indústrias, gera satisfação econômica aos proprietários e trabalhadores que querem também melhoria de condições de trabalho, e ainda contribua para melhorar a qualidade de vida e criar condições para ações em direção a um desenvolvimento mais sustentável.

Não obstante a PV ser uma ferramenta que tem por base o tripé da sustentabilidade, a integração dos aspectos ambientais e sociais na formulação das estratégias empresariais, vem reforçar ainda mais o componenente econômico, já que, as melhorias sócio-ambientais que levam a redução dos impactos ambientais dos processos produtivos, que proteje e melhora a qualidade do meio ambiente, que propicia melhores condições de saúde e de segurança das pessoas, e entre outros, que garante a conformidade legal, melhora a qualidade da produção, aumenta a produtividade, torna o negócio mais competitivo, mais inovador e ambientalmente mais responsável, criando vantagens comerciais o que aumenta a rentabilidade.

Do exposto, fica demonstrada que a estratégia da PV está fortemente relacionada a sustentabilidade empresarial, que tem como propósito integrar a proteção ambiental na mesma arena em que são vistas as melhorias de produtividade e com isto gerar benefícios sócio-econômicos, que se traduzem na melhoria da qualidade de vida das pessoas e leva a um desenvolvimento mais sustentável. Por outras palavras, a estrategia da PV que é formada por um componente de programas de melhoria de produtividade, com o propósito de procurar uma nova abordagem para um desenvolvimento mais sustentável e assim encontrar um meio para entrar na corrida a sustentabilidade, demonstra que um meio ambiente saudável e uma economia robusta e competitiva são mutuamente dependentes.

Para tanto, é necessário, que durante a formulação de estratégias gerenciais as empresas terão que incorporar também os princípios da PV, já que ela conduz ao desenvolvimento de estratégias de gestão que crie opções de melhorias para as organizações produtivas. É de referenciar que à PV como uma estrutura que orienta escolhas alternativas sobre uma ampla gama de oportunidades técnicas e gerenciais sustentaveis, a mesma poderá trazer não apenas melhoria da qualidade dos bens e serviços, mas também a redução dos impactes ambientais e dos custos operacionais de forma a aumentar a produtividade e melhorar a performance ambiental, criando assim oportunidades de crescimento para as organizações e de progresso para as comunidades.

Ante ao abordado, à PV surge como uma estratégia de gestão que leva a mudanças na forma de gerir e de pensar as organizações criando condições que se traduzem na geração de benefícios econômicos, ambientais e sociais para os envolvidos no processo de implementação da estratégia da PV e com isto promover uma "revolução" verde, que envolva o desenvolvimento industrial, o desenvolvimento ecológico e o desenvolvimento dos recursos humanos.

A estratégia da PV contribuí para diferentes oportunidades de geração de vantagens organizacionais, destacando a melhoria do desempenho ambiental com consequências no aumento da produtividade industrial, que contrasta com os conceitos da produtividade de base essencialmente econômica, que não são eficazmente sustentáveis na perspectiva ambiental e social.

É importante destacar que à PV continua a manter a perspectiva econômica da produtividade, através da contemplação dos indicadores já consolidados, mas vem incorporar aspectos relacionados a sustentabilidade organizacional, quais sejam a proteção sócio-ambiental através da geração de menos impactos sociais e ambientais e também na redução do uso dos recursos naturais e na preservação ambiental, que são variáveis a se ter em conta durante a analise de qualquer processo produtivo.

Por outro lado, é de realçar algumas limitações relacionadas ao processo de transição da produtividade à PV, mas concretamente, os aspectos da valoração e a temporalidade da análise. No tocante ao aspecto tempo, existe a dificuldade em identificar em tempo real os impactos sociais e ambientais já que são analisados sempre pós-acontecimento das atividades produtivas, o que muitas vezes faz com que os mesmos sejam feitos mais na estimativa ou por comparação com outras realidades. Em relação à valoração destacam-se as dificuldades em fazer a avaliação econômica ou de custos de todos os aspectos ambientais e sociais que caracterizam as atividades produtivas. Esta particularidade, que é uma limitação de quase todas as ferramentas de gestão ambiental, também apresenta-se quando da análise da PV, e que por isso precisa ser superada para que a mesma possa tornar uma ferramenta mais robusta e passa a ser mais utilizada pelas organizações.

Não obstante tais limitações, destaca-se que a PV pode ser considerada uma importante ferramenta rumo a práticas empresariais sustentáveis, e com isto trás relevantes contribuições na construção de um desenvolvimento econômico mais sustentável.

Por fim, cabe evidenciar que a evolução da produtividade à PV é um caminho longo, que necessite ainda de muitas reflexões e debates, e que por isso, espera-se que este ensaio tenha contribuído como um passo a mais nesta caminhada.

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1 Este trabalho é parte integrante de um projeto de tese que esta sendo desenvolvido junto ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Universidade Federal Campina Grande - UFCG/PB, Brasil.
2 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Universidade Federal Campina Grande - UFCG/PB; Brasil; Bolsista da Capes; E-mail: luisjorgef@gmail.com

3 Professora da Unidade Acadêmica de Administração e Contabilidade da Universidade Federal Campina Grande - UFCG/PB; Brasil; E-mail: luciasdefreitas@ch.ufcg.edu.br

4 A Organização Asiática de Produtividade é um organismo intergovernamental que comporta 19 países da Ásia do Pacífico.


Vol. 35 (Nº 13) Año 2014
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