Espacios. Vol. 36 (Nº 13) Año 2015. Pág. E-2

Os novos desafios do educador frente ao processo de globalização: a atuação do pedagogo no ambiente organizacional

The new challenges of the educator front of the globalization process: the role of the teacher in the organizational environment

Marcela Soares Polato PAES 1; Joyce Mary ADAM 2

Recibido: 26/03/2015 • Aprobado: 18/05/2015


Contenido

1. Introdução

2. O setor de recursos humanos na economia globalizada

3. O trabalho do pedagogo no setor empresarial: educação para a conformação ou transformação social?

4. Identidade em questão

5. Considerações sobre a análise

Referências


RESUMO:

Este estudo analisou a atuação do Pedagogo no campo da educação não formal, em especial no âmbito empresarial, visando compreender, através de pesquisa bibliográfica de referenciais teóricos que discutem a temática e da realização de entrevista semiestruturadas com profissional que atua nesta área, as possibilidades de se promover uma formação crítica e comprometida com as necessidades de formação dos sujeitos envolvidos, tendo em vista que o modelo de educação corporativa vem disseminando-se na sociedade atual e se consolida como espaço de formação dos trabalhadores cada vez mais recorrente, apontando novos espaços de atuação para o Pedagogo na contemporaneidade.
Palavras-chave: Planejamento, Plano de aula, Educação.

ABSTRACT:

This study analyzed the role of the pedagogue in the non-formal education, especially in business context, to understand, through the development of a bibliographic research, considering theoretical references that discuss the thematic of this research and conducting a semi-structured interview with a professional who works in this area, the possibilities to promote a critical education committed with the formation needs of those involved, because the corporate education model has been disseminated in the current society and consolidated as a space for formation, pointing new spaces of action for the Pedagogue in contemporary.
Keywords: Planning, Lesson Plan, Education.

1. Introdução

Atualmente, não se pode considerar que o curso de Pedagogia restrinja-se apenas a formação de professores.

Este mercado de trabalho sempre esteve aberto e definido para esse profissional que, na maioria das vezes, opta pela docência já que o curso de Pedagogia oferece a maior parte das disciplinas voltada para atuação em instituições escolares.

Entretanto, atualmente é contemplada também nos cursos de Pedagogia a área de formação voltada para a Pedagogia Empresarial, que amplia o campo de atuação desse profissional contemplando o trabalho do Pedagogo para além do trabalho na educação formal, especificamente.

Conforme a Resolução CNE/CP n. 01/2006 que Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura e destaca a finalidade do curso bem como o perfil do profissional que será formado neste curso, evidencia em seu artigo 4º, que o curso de Pedagogia destina-se à formação de professores para atuar na Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio - modalidade Normal, na Educação Profissional, na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas em que sejam necessários conhecimentos pedagógicos. Além disso, aponta que o profissional atuará, dentre outros espaços e atividades, em contextos escolares e não escolares.

Para esta análise, considera-se a educação não formal como aquela que ocorre fora do sistema formal de ensino, como aponta Gohn (2011) para quem esta foi uma área de menor importância no Brasil até os anos de 1980 e que começou a ganhar espaço a partir de 1996 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), que aponta em seu artigo primeiro que a educação deve abarcar: "[...] processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais" (BRASIL, 1996, p.01). Dessa forma, vê-se ampliado o panorama de atuação da educação e, como consequência, também o papel do Pedagogo que passa a atuar no âmbito da educação não formal e, dentre esses espaços, no contexto empresarial.

No setor empresarial a área de Recursos Humanos vem crescendo nos últimos anos e tornando-se uma área estratégica tendo em vista que seu papel, além da administração de recursos humanos, treinamento e acompanhamento do desempenho dos novos colaboradores, atua também em conjunto com outros setores da empresa visando implementar o desempenho dos colaboradores a fim de que suas habilidades profissionais sejam melhores aplicadas no cotidiano da empresa e, assim, visa contribuir com seu crescimento e geração de lucro.

O setor costuma atuar mediante o trabalho de profissionais com formação em áreas diversificadas tais como psicologia, administração e também pedagogia, além de outros cursos afins.

Neste contexto, visando o desenvolvimento das potencialidades dos colaboradores, verifica-se também o surgimento e a expansão das universidades corporativas (UC) nas empresas que vêm substituindo, aos poucos, os antigos departamentos de Treinamento e Desenvolvimento de Recursos Humanos. Tais universidades são:

[...] um sistema de desenvolvimento de pessoas pautado pela gestão de pessoas por competências [...] onde as organizações que aplicam os princípios inerentes à UC estão criando um sistema de aprendizagem contínua" (EBOLI, 2004, P. 48).

Nesse âmbito, há também a emergência de novos espaços de atuação para o Pedagogo tendo em vista tratar-se de uma proposta educativa que se consolida no âmbito empresarial vinculando aspectos inerentes aos processos de ensino e aprendizagem e o contexto do trabalho e acumulação do capital na sociedade contemporânea.

 Neste panorama, observa-se um desenfreado desenvolvimento científico e tecnológico que tem marcado a sociedade atual com profundas mudanças nas organizações, no modo de produção e nas relações humanas, assim, através de programas educacionais, o pedagogo desenvolve atividades que visam à adequação dos profissionais que atuam na empresa ao seu ambiente de trabalho melhorando seu rendimento, auxiliando-o diante dos desafios e mudanças ocorridos nas empresas que vêm se transformando ao longo dos últimos anos com a introdução de novas tecnologias na era da globalização contribuindo no desempenho de suas atividades e promovendo a satisfação pessoal com a realização do seu trabalho.

As atividades desenvolvidas têm natureza educacional, pois, relacionam-se com a transmissão de conhecimentos relativos ao trabalho, a posturas frente às mudanças e novos desafios na empresa e ao desenvolvimento de habilidades e competências para o trabalho. Desse modo:

A pedagogia empresarial é uma possibilidade de atuação do pedagogo muito recente no Brasil surgiu pela necessidade de preparação na formação de pessoal. Essa preocupação, no entanto se dá pela necessidade de um melhor desempenho e formação profissional que foi incentivada inclusive por ações governamentais para sua operacionalização como, por exemplo, a lei nº 6.297/75.  Portanto o pedagogo atua na área de desenvolvimento de recursos humanos, sendo responsável pela preparação e voltada para as necessidades da organização.  A função do pedagogo empresarial é a qualificação de pessoal nas diferentes áreas do saber empresarial gerando qualidade e produtividade. (PRADO et al, 2013, p. 66)

Dessa maneira esse profissional atua como articulador entre desenvolvimento de estratégias organizacionais desenvolvendo atividades no departamento de recursos humanos

Assim, mudanças nos postos de trabalho, dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores frente à inserção de novas e por ele desconhecidas tecnologias e o desafio de aprender novas atividades num mundo onde cresce o desemprego, impera a competitividade e a luta pela empregabilidade requer do profissional mais do que a realização de uma tarefa específica, onde não basta saber fazer, é preciso ser criativo, flexível, saber encarar esses novos processos pelos quais as empresas vêm passando nos últimos anos, são desafios enfrentados no cotidiano dos diversos profissionais que atuam no ambiente organizacional e se consolidam como um campo novo de trabalho para o pedagogo, profissional formado justamente para atuar no âmbito dos processos de ensino e aprendizagem e que descobre agora, no âmbito empresarial ou novo campo de trabalho relacionado à formação continuada de adultos em serviço.

Diante destas considerações, questiona-se: qual será então, o papel do pedagogo que dentro das empresas na sociedade contemporânea? Que atividades ele realizará? Que tipo de empresa contrata esse profissional e para que tipos de atividades ele é contratado? Como contribuir com o desenvolvimento profissional do trabalhador sem se esquecer das dificuldades por ele encontradas, procurando auxiliá-lo nesse processo de adaptação à empresa, aprendizado de atividades, etc visando sua satisfação profissional, seu desenvolvimento profissional e sua formação geral?

Essas são algumas questões que serão abordadas no desenvolvimento desse trabalho cujo objetivo principal visou analisar qual é a área de atuação do pedagogo na empresa e como este profissional atua frente aos novos desafios advindos juntamente com o processo de globalização e a inserção de novas tecnologias e outras mudanças no ambiente organizacional.

Assim, buscou-se levantar e analisar alguns aspectos que envolvem a prática do pedagogo em empresas e identificar, descrever e analisar algumas atividades realizadas por esse profissional, verificando se há algum tipo de atividade voltada para a contribuição na solução dos desafios impostos aos trabalhadores pelas mudanças pelas quais a sociedade e as empresas vêm passando decorrentes do processo de globalização e da nova organização da economia, a fim de contribuir com seu desenvolvimento profissional, sua formação geral e cidadania.

Para atingir tais objetivos foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa que utilizou como instrumento de coleta de dados a pesquisa bibliográfica com base em referenciais teóricos que discutem a temática e a realização de entrevista semiestruturada com profissional que atua como Pedagogo no setor empresarial.

A partir dai, chegou-se aos resultados que serão expostos e discutidos na sequência.

2. O setor de recursos humanos na economia globalizada

Verifica-se ser o processo de globalização o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista onde a necessidade de um mercado constantemente em expansão impeliu a classe burguesa a ampliar suas conquistas visando, para isso, a exploração de novos territórios e mercados a fim de consolidar-se como classe dominante.

A globalização, assim apresenta seu lado perverso, (Santos, 2000) que se materializa num contexto acompanhado por mazelas sociais tais como desigualdades, desemprego e processos de exclusão social que incidem numa parcela da sociedade que não dispõem, em condições de igualdade, de possibilidades de inserir-se no contexto social atual.

Desta maneira, o desemprego e a pobreza aumentam e a qualidade de vida das populações é diretamente influenciada pelos problemas sociais advindos do novo contexto do capital.

Neste âmbito, uma educação de qualidade é cada vez mais um privilégio de poucos. Entretanto como imposição do mercado de trabalho atual há uma exigência cada vez maior de formação continuada ao longo da vida profissional a fim de se atender aos interesses de um mercado em constante transformação e onde, diariamente, novos requisitos são exigidos dos trabalhadores que disputam seu lugar ao sol.

Entretanto, este processo não se afirma como condição essencial e única da existência do capital em sua relação com o trabalho tendo em vista que a constituição da vida se orienta para além das exigências do capital e a formação humana deve consolidar-se enquanto prática emancipadora e de cunho crítico, contribuindo para a formação de sujeitos protagonistas no cenário social contemporâneo que produzam mudanças sustentáveis na sociedade em prol de uma vida comum com maior qualidade.

Diante deste panorama um novo cenário da educação se abre no século XXI com novas perspectivas para o profissional que se insere no mercado de trabalho sob diversas abrangências, como nos mostra a própria sociedade que vive um momento particular no qual se exige profissionais cada vez mais qualificados e preparados para atuarem neste cenário competitivo.

A educação em espaços não escolares vem confirmar esta discussão onde o pedagogo, profissional formado para atuar no contexto dos processos de ensino e aprendizagem desloca sua atuação unicamente do espaço escolar, que até pouco tempo, era seu espaço (restrito) de trabalho, para se inserir em novos espaços de atuação cada vez mais diversificados podendo apresentar-se também como agente de transformação nestes novos espaços, dentre os quais, destaca-se o trabalho do Pedagogo no contexto empresarial mais amplamente analisado neste estudo.

Assim, na "era da competitividade" as empresas precisam se desenvolver frente as seus concorrentes de mercado e, portanto, precisam agregar um valor diferenciado a seus produtos para que, sendo este valor apercebido pelos clientes estes se disponham a pagá-lo, tornando-se um diferencial de concorrência no mercado.

Para isso, não basta investir no produto em si nem apenas em tecnologia, visto que hoje, os produtos são facilmente copiados. A criatividade humana torna-se então um grande diferencial na produção de produtos autênticos e dificilmente copiáveis devido ao diferencial humano (que por ser peculiar a este é impossível de ser copiado) agregado ao seu valor final, segundo Lautenschlaeger (2003).

Desse modo, as empresas vêm investindo diretamente em seus colaboradores, responsáveis por gerar essa "criatividade" e esse diferencial dentro das organizações, mudando o perfil do setor de Recursos Humanos neste momento da economia e da sociedade.

O setor de Recursos Humanos, voltado ao desenvolvimento das potencialidades do indivíduo deverá gerir essa criatividade nas organizações transformando o conhecimento do indivíduo em conhecimento da organização ou para a organização.

Dessa forma, difunde-se hoje o termo educação corporativa em que "[...] trata-se de contar com equipes que cultivem uma nova cultura que enfatiza o compartilhamento do conhecimento, comunicações abertas, espírito de equipe e ampla difusão de novas ideias em toda a organização". (CHIAVENATO, 2003, p. 78).

 É "[...] dar mais liberdade ás pessoas para que elas possam utilizar seu recurso mais importante: a inteligência, o talento e conhecimento". (CHIAVENATO, 2003, p. 77).

Segundo Chiavenato (2003), as pessoas precisam desenvolver certas competências pessoais para atuarem nos novos ambientes de negócios que são:

  1. Aprender a aprender: ou seja, como as pessoas deverão contribuir com tudo na empresa assegurando a qualidade final do produto, precisam ter condições de utilizar conhecimentos técnicos, analisar situações, questionar, pensar criativamente, etc. "aprendendo a aprender" tornando-se parte integrante do capital intelectual da organização.
  2. Comunicação e colaboração: onde a eficiência das pessoas está vinculada com sua habilidade interpessoal de comunicação e colaboração.
  3. Raciocínio criativo e solução de problemas: pois hoje se espera que as pessoas descubram por si mesmas como melhorar e agilizar seu trabalho desenvolvendo habilidades que contribuam com sua capacidade de resolução de problemas, análise de situações, esclarecimento do que não sabem, sugestão de melhorias, etc.
  4. Conhecimento tecnológico: onde hoje a ênfase está na utilização de equipamentos, como o computador não apenas para realizar tarefas relacionadas a seu trabalho, mas para estabelecer contatos profissionais com pessoas ao redor do mundo compartilhando experiências e melhorando o processo de trabalho tornando-se, o computador, uma ferramenta não apenas de trabalho, mas também de aprendizagem dentro da organização.
  5. Conhecimento global dos negócios: onde as pessoas devem aprender novas habilidades técnicas e comerciais que levem em conta o ambiente competitivo global e imprevisível onde: "[...] a capacidade de ver o todo sistêmico (gestalt) em que a organização opera torna-se indispensável para cumprir a exigência de se agregar continuamente mais valor à organização". (CHIAVENATO, 2003, p. 77).
  6. Liderança: as empresas requerem o desenvolvimento de líderes, pessoas "excepcionais" deslocando para a responsabilidade das pessoas o sucesso da organização.
  7. Autogerenciamento da carreira: as organizações estão transferindo para as pessoas a responsabilidade de autodesenvolvimento e autogerenciamento para que elas assumam o controle de sua careira gerenciando seu próprio desenvolvimento profissional considerada uma competência necessária ao trabalho.

Percebe-se que este modelo de educação corporativa está baseado no modelo de aprendizagem pelo desenvolvimento de competências e, não seria estranho então, a necessidade de profissionais especialistas em educação para atuar nesses espaços com lideres potencializadores desse processo de aprendizagem e de desenvolvimento de competências e habilidades.

Esse modelo de competências é baseado nos estudos de PERRENOUD (2000) para quem a noção de competências remete às situações nas quais é preciso tomar decisões e resolver problemas.

Para isso, "muitas organizações estão se transformando em verdadeiras agências de aprendizagem e os antigos órgãos de treinamento estão se transformando em verdadeiras agências de educação corporativa". (CHIAVENATO, 2003, p.77).

Chiavenato (2003) destaca quatro bases para a criação de uma agência de aprendizagem numa corporação que são:

  1. A necessidade de monitorar o que vêm ocorrendo no ambiente de negócios utilizando uma ampla rede de relacionamentos da organização com o ambiente como um meio de continuar a buscar a informação e conhecimento.
  2. Desenvolver meios e recursos para que as pessoas possam utilizar os conhecimentos e informações transformando-os em ações eficazes que produzam resultados concretos e positivos para a organização.
  3. Também é preciso reunir, documentar e organizar as informações e conhecimentos disponibilizando-os através de meios que propiciem sua difusão em todos os níveis da organização.
  4. É necessário também aumentar gradativamente o nível de aprendizagem da organização, medindo o índice de aprendizagem para assegurar os ganhos obtidos de fato.

Dessa forma, a aprendizagem se dá na medida em que as pessoas trabalham e se inter-relacionam com outras pessoas para alcançar seus objetivos buscando a transformação da organização num ambiente focado na mudança e no aprendizado contínuo que envolve todos os seus níveis.

Para que isso ocorra, é necessário que o conhecimento seja capturado e compartilhado dentro da organização. Para isso, as organizações buscam conhecer o valor do conhecimento existente em sua cultura interna e, através de seus recursos humanos potencializá-lo, reciclá-lo e eliminá-lo caso não gere valor.

Assim, o conhecimento dos funcionários da organização é apropriado e canalizado para conforme os interesses do mundo do trabalho no qual se insere sob a ótica do sistema capitalista tornando-o não mais um conhecimento do indivíduo, mas um conhecimento da organização e parte de sua cultura que servirá como diferencial competitivo para a empresa e não mais para o trabalhador.

Face o cenário destacado, o trabalhador perde o domínio sobre o conhecimento que passa a estar relacionado com a cultura daquela determinada empresa onde trabalha e, portanto, perde também a possibilidade de ser transferido para outros ambientes aonde venha a trabalhar agregando valor apenas ao produto de sua atual empresa, pois está intimamente relacionado àquela realidade, não podendo se aplicar a outros ambientes ou copiado. "Essas companhias têm a visão clara de que seu investimento em educação é um veículo para atrair e reter os melhores empregados" (ÉBOLI, 2004, p.86).

Assim:

[...] valorizar a educação como forma de desenvolver o capital intelectual dos colaboradores, transformando-os efetivamente em fator de diferenciação da empresa diante das concorrentes, ampliando assim sua capacidade de competir. Significa buscar continuamente elevar o patamar de competitividade empresarial por meio da instalação, desenvolvimento e consolidação das competências críticas – empresariais e humanas. O novo estilo de gestão exigirá que se forme uma verdadeira cultura empresarial de competência e resultado [...] (ÉBOLI, 2004, p. 85).

Dessa maneira, a educação corporativa torna-se um fator de competitividade.

Esse contexto remete-se aos estudos de Marx sobre a alienação que afirma que:

 [...] a alienação do trabalhador no seu produto significa não só que o trabalho se transforma em objeto, assume uma existência externa, mas que existe independentemente, fora dele e a ele estranho, e se torna um poder autônomo em oposição com ele. (MARX, 1993, p.160).

O trabalhador ganha um salário que não consegue comprar os produtos que ele próprio produziu. Ele produz coisas para os ricos, mas pouco sobra para ele. Esta é a contradição básica do sistema capitalista na época de Marx. Ele não transforma mais a natureza para fazer coisas que estão relacionadas a ele, ou que vão beneficiá-lo diretamente. Sua atividade apenas vai garantir que não morra de fome, pois o salário mínimo é a soma das condições mínimas de subsistência (alimentação e moradia).

Esse conceito aparece juntamente ao conceito de ideologia. O trabalhador é alienado porque o produto do seu trabalho não fica em suas mãos, mas sim, nas mãos do proprietário. Essa atividade do trabalho gera valor, produzido pelo trabalho, que escapa das mãos de quem produziu e, portanto é alienado.

Aqui, o trabalho realizado pode ser considerado como alienado também já que o conhecimento dos funcionários da organização é apropriado por ela e canalizado para seus interesses tornando-o não mais um conhecimento do indivíduo, mas um conhecimento da organização parte de sua cultura que servirá como diferencial competitivo para a empresa e não mais para o trabalhador que perde o domínio sobre esse conhecimento.

O capitalismo está fundado na relação capital e trabalho e, portanto, o controle do trabalho é essencial para o lucro capitalista. Assim,

Essa dominação do inconsciente está baseada mais na introjeção de normas do que na repressão, onde o indivíduo voluntariamente, por sentir-se parte dessa organização, compartilhando de sua cultura não necessita mais da repressão, pois há uma manipulação do inconsciente coletivo na organização criando uma atmosfera de harmonia e deliberando um maior grau de autonomia aos trabalhadores de forma que a manipulação não se exerce mais ao nível da força e da imposição mas é inerente às relações estabelecidas no ambiente organizacional. "A gestão dessa dimensão psicológica de dominação caracterizará a empresa neocapitalista" (HELOANI, 2002, p. 95).

Segundo Heloani (2002), com a internalização desses mecanismos de poder é possível conceder uma maior autonomia para o desenvolvimento do trabalho na organização com "rótulos mais atraentes" como a criatividade, novas responsabilidades, qualificação, etc., sutilmente difundidas e convertidas em "discurso de poder" na verdade exigindo cada vez mais um maior empenho, adestramento e ampliação dos mecanismos de avaliação dentro das empresas, pois a apropriação das capacidades e conhecimentos dos indivíduos seria:

[...] o produto das qualificações de trabalho adquiridas através da experiência individual e envolveria a interação de movimentos conscientes e inconscientes, segundo a tarefa a cumprir, e a necessidade de estabelecer meios de cooperação, em virtude da natureza coletiva do trabalho [...] onde [...] o capital reconhece as qualificações obtidas através da experiência dos seus empregados e incorpora-as na gestão da produção. Ao fazê-lo, passa a absorver tal saber enquanto exercício do poder, pois as responsabilidades delegadas serão objeto de avaliação e controle. (HELOANI, 2002, p. 100).

Trata-se, portanto de se apropriar das qualidades e conhecimentos humanos e redefini-los e representá-los como um produto da organização.

Assim essa subordinação do trabalho ao capital é também afetiva, subjetiva e psicológica.

Pode-se perceber que essa necessidade de se alcançar um maior conhecimento sobre o indivíduo, apropriando-se de seus conhecimentos é colocada de uma forma invertida, onde todos os trabalhadores devem compartilhar seus conhecimentos e seus saberes na organização o que pode resultar frequentemente na domesticação da força de trabalho.

O educador que atuará nesses espaços deve estar atento, pois:

[...] o poder de convencimento das tecnologias educacionais adotadas pelos programas de treinamento de Recursos Humanos estão assentados no funcionamento ideológico. A eficácia da ação de convencer decorre da corrosão inflacionária exercida sobre as palavras. Os termos caros aos movimentos sociais envolvidos em lutas emancipatórias são capturados e adotados nos discursos das empresas. (LAUTENSCHLAEGER, 2003, p.67)

Assim, há uma captação dos sentidos e as palavras perdem seu peso. Aquilo que parece otimizador e tênue pode não se constituir de tanta docilidade tratando-se de um instrumento domesticador da força de trabalho.

Como há uma ausência de disciplinas relacionadas ao trabalho do educador nesses espaços, na grande maioria dos discursos de pedagogia que ainda se voltam ao trabalho do educador dentro dos espaços escolares e, sobretudo ele, muitas vezes, depara-se com a dificuldade de lidar com esses processos ainda que tenha consciência de sua existência.

Como agir então, aqueles que desejam atuar nesses espaços de forma a promover um verdadeiro processo educacional que privilegie o desenvolvimento das capacidades dos trabalhadores de uma forma geral que contribua não apenas com os interesses da organização, mas que esteja relacionada com a possibilidade de promover a formação e o desenvolvimento geral dos trabalhadores que promova a cidadania e a emancipação, distanciando-se da intenção de domesticação da força de trabalho?

A seguir, será apresentado o resultado da analise da experiência profissional de uma profissional com formação em Pedagogia que atua no setor empresarial a fim de possibilitar um aprofundamento das análises aqui apresentadas, face ao trabalho desenvolvimento por um profissional da área.

3. O trabalho do pedagogo no setor empresarial: educação para a conformação ou transformação social?

A fim de se aprofundar as discussões aqui apresentadas e conhecer com maior profundidade o trabalho realizado por profissionais da área educacional no âmbito empresarial foi realizada uma entrevista semiestruturada com uma profissional que atua em uma empresa de grande porte de um município do interior do Estado de São Paulo/Brasil.

Como resultado da entrevista realizada pôde-se observar que a profissional já atuava no setor de Recursos Humanos (na área de Administração de Recursos Humanos) mesmo antes de realizar o curso de Pedagogia e que curso veio fundamentar sua atuação, tendo em vista tendo escolhido este curso por interessar-se por assuntos educacionais.

Conforme o relato da profissional, o setor de Recursos Humanos da empresa em que atua é dividido entre setor Administrativo e setor de Gestão de Pessoas (subdividido nas seguintes áreas de atuação: seleção e recrutamento, treinamento e desenvolvimento e marketing).

A Pedagoga entrevistada é coordenadora do setor de Gestão de Pessoas de toda a empresa e atua prioritariamente em atividades voltadas especialmente para a formação dos colaboradores o que ocorre por meio de programas de treinamento e formação diversificados.

Ela pesquisa, planeja e acompanha a implantação de todos os treinamentos ministrados em todas as filiais da empresa, delegando algumas funções (a aplicação de alguns deles) para os "multiplicadores" (pessoas contratadas, com diversas formações para ministrar alguns treinamentos), já que seria inviável, pelo alto custo e distância entre as filiais, a possibilidade de estar presente em todos os treinamentos.

Como se trata de uma empresa de grande porte ela visita as filiais periodicamente (uma ou duas vezes no ano, cada filial), onde verifica as necessidades de treinamento, depois, propõe alguns objetivos e planeja os treinamentos a serem desenvolvidos em cada uma delas, juntamente como responsável pela atividade no local, que geralmente não é um profissional específico, mas alguém que já desenvolve uma unção específica na empresa e que assume essa segunda função de "multiplicador" de treinamentos. Os treinamentos comportamentais são, em geral, desenvolvidos por ela.

Os treinamentos, em geral, são focados no desenvolvimento e crescimento dos colaboradores (funcionários na empresa), na integração dos "times" e no trabalho em equipe. São propostas metas a serem alcançadas para aumentar a produtividade, a capacidade profissional dos colaboradores, evitar-se o desperdício, etc.

A Pedagoga relata que é preciso sempre conciliar os dois interesses: os objetivos da empresa e as necessidades dos colaboradores. Como se trata de uma empresa privada tem objetivos e metas relacionados com o aumento da produtividade de seus funcionários, crescimento da empresa, etc. Entretanto, visando proporcionar um bom ambiente de trabalho, busca observar as necessidades dos colaboradores o que, obviamente, refletirá nos interesses da empresa também, já que satisfeitos, sendo ouvidos, sentindo-se parte da empresa, os funcionários darão um retorno maior a empresa.

Seria, de acordo com ela, inviável para a empresa e, praticamente impossível para ela realizar um trabalho desvinculado dos interesses da empresa, já que, foi visando seu crescimento e a melhoria na qualidade dos serviços oferecidos que ela foi contratada e, dessa forma, procura sem perder de vista esse ponto, proporcionar o crescimento profissional e pessoal dos colaboradores propondo atividades, buscando melhorias, propiciando reflexões e vivencias que repercutam na formação geral dos colaboradores da empresa contribuindo para a melhoria de sua qualidade de vida fora do ambiente empresarial também.

Foi possível perceber que a Pedagoga procura levar um conhecimento geral aos funcionários propondo textos simples e interessantes que promovem a reflexão sobre cidadania, sobre o cotidiano, etc. A mesma envia também sugestões de cursos, e divulga eventos culturais que acontecerão na região (relacionado mais especificamente à matriz).

Pelo que foi possível observar através de seus relatos, em suas atividades a Pedagoga procura abrir um espaço para que os funcionários falem e exponham suas ideias. As atividades, conforme relatado pela profissional, visam à integração dos funcionários contribuindo com a melhora na qualidade do ambiente de trabalho. Essas atividades trazem á tona discussões que se relacionam com o cotidiano dos funcionários também e não ficam restritas ao ambiente empresarial. Os textos que são utilizados para reflexão, o incentivo a participação em cursos, à promoção do grupo de teatro são atividades que promovem além de aprendizagem e discussão sobre aspectos relacionados à empresa uma aprendizagem mais ampla, relacionada com a vida no sentido geral de todos os funcionários.

Assim, foi possível perceber em suas falas que, embora não seja possível desvincular seu trabalho dos interesses do capital, pois, foi contratada para que de alguma forma seu trabalho contribua com a melhoria dos serviços prestados pela empresa o que reflete sem dúvidas em seu lucro, a Pedagoga e preocupa-se em trazer "um algo mais" para a empresa e para a vida dos trabalhadores com os quais atua. Trata de questões relacionadas ao meio ambiente, cidadania, respeito entre as pessoas, colaboração, amizade, trabalho em equipe, etc. não apenas relacionado a atividades profissionais, mas promovendo uma reflexão mais ampla sobre esses aspectos nos treinamentos que planeja ou executa, visando, assim, também contribuir com sua formação geral, enquanto cidadãos e sujeitos atuantes no mundo contemporâneo.

Percebeu-se também uma frequente abordagem do tema cidadania. A origem da palavra cidadania vem do latim "civitas", que quer dizer cidade. A palavra cidadania foi usada na Roma antiga para indicar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa tinha ou podia exercer. Assim,

A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social.(DALLARI, 1998, p. 14)

Dessa forma, ser cidadão é também construir novas relações e consciências, pois a cidadania é algo que não se aprende com os livros, mas com a convivência, na vida social e pública. É no convívio do dia-a-dia que se exercita a cidadania, através das relações estabelecidas com os outros, com a comunidade e o com o meio ambiente. A cidadania envolve também a solidariedade, a democracia, os direitos humanos, a ecologia, a ética, o respeito mútuo, etc. de modo que:

[...] exercitar a cidadania individual e corporativa também tem se revelado uma das práticas mais eficazes no desenvolvimento de pessoas talentosas e competentes, desempenhando seu papel de ator social na construção e transformação da realidade organizacional e contribuindo para que a companhia também cumpra seu papel de empresa cidadã [...]" e "[...] na esfera econômica, visa à prosperidade e ao lucro [...] (ÉBOLI, 2004, p. 172).

Desse modo, o sujeito torna-se cidadão quando intervém na realidade em que vive. Sendo assim, pode-se perceber que estes temas perpassam o trabalho realizado na empresa pela pedagoga que realiza um trabalho consciente e crítico na medida em que sabe das limitações de seu trabalho, mas procura proporcionar a discussão e aprendizagem de questões relacionadas á cidadania e ao cotidiano dos funcionários. Para isso, visa em seu trabalho, conforme procurou deixar claro em suas falas, que nada seja feito estritamente voltado às discussões na empresa, mas promover um ambiente de discussões e reflexões embora, certamente, a criação deste ambiente contribua de forma efetiva no alcance dos objetivos da empresa.

4. Identidade em questão

Conforme já foi relatado, percebeu-se que, embora não seja possível desvincular seu trabalho dos interesses do capital, pois o profissional pedagogo que atuará em empresas realizará seu trabalho para que de alguma forma contribua com a melhoria dos serviços prestados pela empresa o que reflete, sem dúvidas, em seu lucro terá como desafio buscar propiciar espaços de reflexão e formação que contribuam com o desenvolvimento de um processo de aprendizagem crítico e comprometido com os sujeitos envolvidos.

Na sociedade atual, qualquer educador que deseja promover a emancipação humana em busca da conquista de uma sociedade melhor e mais justa, precisa deixar de lado uma postura conservadora que possa promover a submissão e a exploração humana, buscando alternativas em suas práticas que promovam a formação de pessoas críticas, conscientes e reflexivas, em busca da emancipação e com ela, da igualdade e da liberdade.

Dessa forma, verificou-se que o profissional da área da Educação que atuará no contexto empresarial encontrará um grande desafio: atuar enquanto educador dentro de um espaço empresarial que preza por seus princípios como parte de uma economia globalizada. Sendo assim, verifica-se que:

Nosso mundo, e nossa vida, vêm sendo moldados pelas tendências conflitantes da globalização e da identidade. A revolução da tecnologia da informação e a reestruturação do capitalismo introduziram uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede. Essa sociedade é caracterizada pela globalização das atividades econômicas decisivas do ponto de vista estratégico por sua forma de organização em redes; pela flexibilidade e instabilidade do emprego e a individualização da mão-de-obra. (CASTELLS, Manuel, 2000, p. 17).

Nesse contexto, o profissional passa por um processo de identificação com a função que exerce assim como com relação à sua identidade como educador.

Castells (2000) define identidade enquanto uma fonte de significado e experiência de um povo e:

[...] um processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes de significados. Para um determinado indivíduos ou ainda um ator coletivo, pode haver identidades múltiplas. (CASTELLS, 2000, p. 22)

Assim, as identidades são construídas por normas estruturadas pelas instituições e organizações da sociedade.

Pode-se considerar o pedagogo que atua no contexto empresarial desempenha seu papel enquanto educador e também um gestor da área empresarial ora identificando-se com sua identidade enquanto pedagogo, ora aproximando-se dos valores da empresa, sua identidade enquanto profissional.

Nesse mundo globalizado, a competitividade, o consumo, a confusão dos espíritos constituem baluartes do presente estado das coisas. A competitividade comanda nossas formas de ação. O consumo comanda nossas formas de inação. E a confusão dos espíritos impede o nosso entendimento do mundo, do país, do lugar, da sociedade e de cada um de nós. (SANTOS, 2000, p. 46).

Confusão que impede que se esteja completamente desvinculado aos princípios do capital e atue unicamente como agente transformador da sociedade.

Dessa forma "[...] é fundamental viver a própria existência como algo unitário e verdadeiro, mas também como um paradoxo: obedecer para subsistir e resistir para poder pensar no futuro. Então a existência é produtora de sua própria pedagogia". (SANTOS, 2000, P. 116).

Assim, o pedagogo desenvolve o seu trabalho, identificando com seus princípios enquanto pedagogo e como cidadão desse mundo globalizado, considerando a educação enquanto campo de possibilidades para atuar na transformação do contexto empresarial buscando desenvolver uma cultura empresarial de emancipação, relacionada às necessidades dos trabalhadores e projetada para ocasionar transformações não apenas restritas ao contexto empresarial, sem, entretanto, deixar de levar em conta os interesses da empresa. Identifica-se ora com seus princípios, imposto pelo contexto do trabalho e de acumulação do capital inerente ao modo de produção capitalista predominante no contexto atual, ora com os preceitos advindos de sua formação enquanto educador evidenciando uma dualidade em sua prática diária.

O curso de Pedagogia contribui para a formação do pedagogo enquanto individuo crítico, capaz de analisar e tomar ações coerentes quanto às necessidades identificadas no contexto empresarial, desejando trabalhar pelo e para os recursos humanos e não apenas para o capital. Porém, como a especificidade do trabalho no campo empresarial é atuar de forma que o trabalho venha gerar lucro para a empresa dificilmente se conseguiria desvincular o fato de que, enquanto desenvolve seu trabalho, o profissional procurará aperfeiçoá-lo de modo que este gere o maior lucro possível. Atua a sim visando o bom desempenho dos recursos humanos que, sentindo-se parte da corporação, desempenharão suas atividades de forma menos laboriosa contribuindo para o crescimento da empresa, pois se a atividades do pedagogo na empresa não corresponderem aos objetivos de seus proprietários, certamente será substituído por alguém que o faça, tendo em vista o contexto do trabalho imposto à prática pedagógica empresarial.

Desse modo, cabe, enquanto forma de resistência à esta imposição da qual aprece ser difícil se distanciar:

[...] valorizar a educação como forma de desenvolver o capital intelectual dos colaboradores, transformando-os efetivamente em fator de diferenciação a empresa diante dos concorrentes, ampliando assim sua capacidade de competir. Significa buscar elevar o patamar da competitividade empresarial por meio da instalação, desenvolvimento e consolidação das competências críticas – empresariais e humanas. (ÉBOLI, 2004, p. 86)

Sem, entretanto, esquecer-se de:

[...] estimular o exercício da cidadania individual e corporativa, formando atores sociais, ou seja, capazes de refletir criticamente sobre a realidade organizacional, de construí-la e modifica-la e de atuar pautados por postura ética e socialmente responsável. (ÉBOLI, 2004, p.171)

Esse precisa ser o principal objetivo do trabalho do educador que atua no ambiente organizacional, visando promover um processo educativo que, embora vinculado ao contexto de acumulação do capital, não se constitua unicamente como processo de alienação e nem distancie seu foco da formação dos sujeitos e da busca por sua emancipação enquanto protagonistas de mudanças sociais.

5. Considerações sobre a análise

Na sociedade atual, qualquer educador que deseja promover a emancipação humana em busca da conquista de uma sociedade melhor e mais justa precisa deixar de lado uma postura conservadora que possa promover a submissão e a exploração humana buscando alternativas em suas práticas que promovam a formação de pessoas críticas, conscientes e reflexivas, buscando a emancipação e com ela de a solidariedade, a igualdade e a liberdade.

Para isso, sem dúvida, existem dificuldades e desafios o que corrobora com as análises de Santos (2002) para quem um primeiro desafio centra-se na discrepância entre experiência e expectativa, sendo a experiência, o que se vive no dia-a-dia e a esperança, aquilo que se almeja e que, geralmente, está distante das possibilidades concretas de efetivação imediatas.

Um segundo desafio está na dicotomia entre consenso e resignação, onde se precisa passar de uma ação conformista para uma ação rebelde construtiva e deixando de ser uma massa resignada para pensar em alternativas criativas de transformação na sociedade vigente.

Um terceiro desafio encontra-se na dicotomia espera/esperança, onde é preciso romper com uma espera passiva, de acreditar que não se pode fazer nada para mudar as diversas situações em que se está inserido, esperando-se passivamente, construindo-se um sonho, uma utopia. Entretanto, estes sonhos, estes desejos e essa utopia de uma sociedade melhor são importantes para instigarem o desejo de mudanças.

Ai reside juntamente o lócus privilegiado de sua prática profissional, onde as mudanças que almeja podem começar com suas pequenas atitudes diárias, lançando as sementes de uma revolução social através da conscientização dos trabalhadores que atuam no seu contexto empresarial e da busca de uma sociedade mais justa através da produção de uma formação que permita aos sujeitos pensar e repensar seu devir na vida cotidiana.

É preciso, assim, romper com as negativas perspectivas que o capitalismo trouxe consigo juntamente com a globalização e o neoliberalismo o que corrobora com o que aponta Eboli (2004) para quem os efeitos positivos do processo de globalização, que ela aponta serem o avanço tecnológico, aumento na qualidade de produtos e serviços e fortalecimento da democracia, dentre outros aspectos, poderão ter sua importância minorada se os efeitos controversos deste modelo de sociedade  não forem repensados de modo a se evitar seus feitos prejudiciais no que tange à esfera social viabilizando condições que visem conter o aumento do índice de desemprego, violência e desníveis e desigualdades socioculturais.

Cabe, portanto, como discute Santos (2001), buscar desenvolver processos educativos que conduzam ao reencantamento do mundo, pois com o desenfreado desenvolvimento científico e tecnológico das últimas décadas que tem marcado a sociedade contemporânea com profundas mudanças nas organizações, no modo de produção e nas relações humanas, os programas educacionais desenvolvidos pelos pedagogos podem constituir-se em uma ferramenta de mudanças na atual sociedade.

Sem considerar seu trabalho ingenuamente como capaz "de mudar o mundo" é possível que sua ação consciente, nos diversos espaços aonde venha a atuar possa trazer resultados de emancipação e conscientização humana.

No novo cenário da educação que se apresenta no mundo contemporâneo novas perspectivas para o pedagogo se apresentam num contexto onde a consolidação da educação em espaços não escolares vem confirmar esta discussão de modo que o pedagogo sai então do espaço escolar apresentando-se agora como agente de transformação também na realidade do espaço empresarial.

Como já colocado e que corrobora com o que aponta Libâneo (2002) existe uma ação pedagógica múltipla na sociedade que extrapola o âmbito escolar formal e contempla esferas mais amplas da educação informal e não formal.

Assim, o educador pode aproveitar esses novos espaços de atuação advindos com as mudanças pelas quais a sociedade vem passando de forma a utilizá-los como um espaço de promoção de uma nova perspectiva de sociedade. Um espaço de novas propostas, mudanças e transformações. Ainda que em alguns aspectos precise se adequar ás exigências do capital, pois está é a sociedade em que se vive e não há como negar de fato existe sim um espaço amplo de atuação para o educador que acredita nas potencialidades dos "Recursos Humanos", pois através da promoção da mudança de consciência individual nos sujeitos com os quais trabalha poderá contribuir ensinando-lhes a ver o mundo de maneiras diferentes e de forma crítica, compreendendo a realidade em que se inserem, questionando-a e agindo em prol de melhores condições de trabalho e vida profissional, como colocado por Galo (1995) para quem seria, então um primeiro passo para a transformação e também é como concebemos, a partir deste estudo, ser uma ação possível do Pedagogo dentro do panorama da sociedade atual e do contexto do trabalho na sociedade capitalista.

O desafio que advém à Pedagogia é, portanto, criar uma nova constituição de uma Pedagogia Empresarial empreendedora e com o poder de reinventar práticas pedagógicas num mundo de hoje. Preparar profissionais para alternativas de mercado de trabalho repensando suas práticas e orientando-se para a busca por uma sociedade mais justa e menos opressora.

O educador se envolve, com seu trabalho na mundialização do Capital, mas sua prática educativa deve estar voltada para um processo de emancipação de uma nova sociedade e é justamente este foco que não pode ser perdido em sua prática profissional quer no ambiente formal ou não formal e deve orientar suas ações, tomadas de decisão e práticas realizadas no contexto da educação contemporânea.

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1. Doutoranda e Mestre em Educação pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - Campus de Rio Claro na linha de pesquisa: Educação: política gestão e o sujeito contemporâneo e Especialista em Educação Infantil Centro Universitário UNINTER. Possui graduação em Pedagogia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" e em Gestão Pública pelo Centro Universitário UNINTER. Atua como Executivo Público na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo / Diretoria de Ensino da Região de Limeira.. e-mail: marcelaspp@gmail.com
2. Professora Livre-docente da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Possui doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1996) e livre-docência pela Unesp. Esteve como academic visitor na Universidade de Cambridge-Uk/Faculty of Education e como professora visitante da Université Picardie Jules Verne-Amiens - França. Realizou estágios de pós-doutorado na França, Universidade de Paris X e na Universidade Complutense de Madrid,Espanha. Pertence à linha de pesquisa Educação: politicas, gestão e o sujeito contemporâneo, atuando principalmente nos seguintes temas: gestão e politica educacional, teoria organizacional, políticas para a juventude, política educacional e relações de poder e violência escolar. Líder do Grupo Educação Cultura e Subjetividade; vice-líder do Grupo de Pesquisa Educação Jovens e Violência e membro do CAREF- Centre Amiénois de Recherche en Education et Formation/ Université Picardie Jules Verne/ França. Bolsista Pq2. e-mail: joyce@rc.unesp.br


Vol. 36 (Nº 13) Año 2015
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