Espacios. Vol. 36 (Nº 17) Año 2015. Pág. 5

Formação de Arranjo Produtivo Local (APL) Como Promotor da Competitividade de Micro e Pequenas Empresas – MPE's: Analise no APL Mineral – CE

The Formation of the Local Productive Settlements - LPS As Sponsor of Competitiveness Of Micro and Small Enterprises - MSE's: LPE Analysis In Mineral - CE.

Francisco de Tarso Ribeiro CASELLI 1; Maria de Lourdes Barreto GOMES 2

Recibido: 08/05/15 • Aprobado: 16/06/2015


Contenido

1. Introdução

2. Suporte teórico

3. Metodologia

4. Resultados e Discussões

5. Conclusões

6. Referências


RESUMO:

Este artigo analisa as vantagens obtidas por micro e pequenas empresas que compõem o APL Mineral CE no Nordeste do Brasil. A análise de dados se deu através de estatística não paramétrica e análise do discurso. A pesquisa constatou que foram obtidos ganhos relativos a mecanização do processo de beneficiamento e extração, melhor aproveitamento da matéria-prima, legalização ambiental entre outros com formação do APL Cariri Mineral – CE, no entanto devido a problemas de governança e despreparo dos membros para atuação em conjunto impede maiores ganhos competitivos.
Palavaras-chave: Arranjo Produtivo, Desenvolvimento Regional, Competitividade, Mineração.

ABSTRACT:

This article analyzes the advantages obtained by micro and small businesses that make up the LPS Mineral EC in northeastern Brazil. The data analysis using nonparametric statistics and discourse analysis. The survey that relative gains were obtained mechanization of the processing and extraction process, better utilization of the raw material, environmental legalization and others with training LPS Cariri Mineral In conclusion - CE, however due to governance problems and unpreparedness of the members to act together prevents additional competitive gains.
Keyword: Productive Arrangement, Regional Development, Competitiveness, Mining.

1. Introdução

A globalização provocou modificações no cenário econômico mundial, desencadeando transformações nos processos de produção, no comportamento do consumidor e, consequentemente, nas relações de concorrência entre empresas, independente do porte.

A competição entre as empresas tornou-se globalizada, o que resultou em mudanças significativas na economia mundial, não sendo a distância geográfica um impeditivo para a manutenção das relações comerciais (Pinto, Costa, 2008).

Neste contexto, especial atenção deve ser dada a exposição das economias nacionais as crises internacionais, que podem levar ao crescimento da exclusão social e elevação da pobreza, sendo preciso articular a atuação de recursos locais e externos para promoção do desenvolvimento em escala mundial (Alves, 2010). Sob a ótica da interação global, o desafio de se manter de forma sustentável no mercado, leva as organizações a desenvolverem estratégias diversificadas, tais como o menor preço, maior produtividade, maio eficiência no processo etc.

No entanto, para as pequenas e microempresas – MPE's o desenvolvimento de novas estratégias de negócio que possibilitem a concorrência com organizações de maior porte altamente mutáveis não é tão simples, sendo necessário um realinhamento de sua estratégia. Isso acontece porque em geral as MPE's apresentam menor nível de qualificação da mão-de-obra, maiores restrições orçamentárias, atuando em mercados estritamente locais, não estando preparadas para atuar globalmente (Ali, Peerlings, 2011).

As MPE's têm buscado se adaptar a este novo modelo de mercado, adotando uma estratégia que se apresenta cada vez mais difundida, representada pela atuação em conjunto de empresas que terminam por formar aglomerações produtivas, possibilitando benefícios que não seriam possíveis caso atuassem individualmente. Esta estratégia tem sido particularmente utilizada como forma de garantia da sobrevivência das MPE's no mercado (Imbuzeiro, Lustosa, 2010).

Os resultados das vantagens oriundas do trabalho em equipe, são a razão para a adoção de uma estratégia de atuação em arranjo, porém é importante a promoção de uma estrutura que possibilite a permanência destas em face de mudanças políticas, técnicas, entre outras, que podem resultar na desestruturação do arranjo e na perda de suas vantagens (Tavares, 2011). Este artigo se enquadra nesta temática ao abordar  as vantagens competitivas obtidas pela formação do APL Cariri Mineral, segundo a percepção dos gestores que compõem o APL.

2. Suporte teórico

2.1. Arranjos Produtivos

A formação de arranjos empresariais não é algo novo, porém sua definição inicial foi dada por Marshall no século XIX, na Inglaterra, ao observar as vantagens adquiridas por pequenas e médias empresas ao atuarem de forma conjunta. A cooperação interorganizacional aparece como uma necessidade estratégica para os agentes econômicos que operam na economia capitalista, surgindo o desafio de conciliar competição e cooperação (Keller, 2008). Partindo desta constatação, buscando promover o desenvolvimento local, os governos investem no desenvolvimento de arranjos produtivos. A ideia da utilização de aglomerações de micro, pequenas e médias empresas na promoção do desenvolvimento, busca a redução de desequilíbrios regionais, o combate a má distribuição de renda e a atração de investimentos públicos que gerem oportunidades de emprego, contribuindo para o desenvolvimento econômico local (Lastres et al., 1998). Tal fato é possível segundo Sugahar e Sousa (2012) a proximidade geográfica dos recursos e mão de obra especializada que podem contribuir para o desenvolvimento regional.

Na concepção da Rede de Pesquisa de Arranjos Produtivos e Inovativos Locais-RedeSist (2005), os APL's são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais com foco em um conjunto específico de atividades econômicas e que apresentam vínculos de interdependência, cooperação e aprendizagem, voltados para a capacitação inovativa, essencial para a competitividade e para a capacitação social. Devido a estas características, este tipo de arranjo passa a ser visto como uma ferramenta de desenvolvimento regional.

Os APL's são sistemas que podem ser utilizados para promover a cooperação empresarial, a inovação contínua e o desenvolvimento sustentável, principalmente das pequenas e médias empresas (Galdámez et al., 2009).

A formação de um APL favorece o acesso a recursos e competências especializadas em escala, facilitando a capacitação produtiva e tecnológica, o acesso a financiamentos e suprimentos, e a comercialização da produção das empresas participantes (Furlanetto et al. 2011).

Um dos desafios na promoção e formação de arranjos produtivos é mensurar os benefícios que estes propiciarão as empresas participantes. Deste modo, faz-se necessário a criação de um sistema de indicares de desempenho-SID que possibilite a identificação e avaliação dos pontos fortes e fracos do aglomerado (Cardoza, 2005).

Conhecer bem quais são os ganhos que podem surgir da formação de arranjos produtivos locais e quais variáveis exercem influência nos ganhos é fundamental para se traçar o plano de ação empresarial. Deste modo, devemos compreender a competitividade de forma ampla, devido a sua relação direta com o ambiente de mercado, fatores internos as organizações, decisões governamentais, entre outros. Portanto, para se definir o nível de competitividade de determinada empresa, são necessários modelos de abordagem sistêmica, devido a complexidade das interações entre os agentes que compõem o ambiente de negócios.

2.2. Competitividade

A competitividade não pode ser compreendia apenas pelas características apresentadas por uma empresa ou o produto representado por seu desempenho no mercado ou apenas pela capacidade de formulação e implantação de estratégias. O preceito para se entender a competitividade pelo reflexo de seu desempenho em determinado seguimento é chamado de Visão Estática da Competitividade. Modelo de Porter (1990). Por outro lado, a competitividade, na visão dinâmica, é vista como a capacitação técnica e gerencial da empresa que permite desenvolver estratégias eficazes, modelo de Coutinho e Ferraz (1994).

O modelo de Coutinho e Ferraz (1994) compreendem que somente quando estas duas visões são utilizadas de maneira complementar é que se pode mensurar e compreender o quanto competitiva é determinada organização. Ainda de acordo com os autores citados, o desempenho de uma empresa é condicionado por um conjunto de fatores internos a empresa, relativos ao setor de sua atuação e ao sistema econômico, político, social e tecnológico do ambiente social em que está inserida.

O sucesso da estratégica competitiva de uma empresa consiste na identificação da sua cadeia de valor. A Cadeia de Valor é o conjunto de todas as ações específicas, necessárias para se levar um produto, pelas tarefas mais críticas de qualquer negócio, até as mãos do cliente (Borchardt, Sellitto, 2002). Neste sentido, (Porter, 1990) busca utilizar as regras da concorrência a favor da empresa tendo como base de análise o que o autor chama de forças competitivas. Sendo assim, podemos entender competitividade como o resultado das ações produtivas, administrativas e comerciais que levam a organização a atingir seus objetivos, por meio da aquisição e manutenção de clientes (POSSAMAI et al., 2004).

Deste modo, se deve compreender a competitividade de forma ampla, devido a sua relação direta com o ambiente de mercado, fatores internos as organizações, decisões governamentais, entre outros. Portanto, para se definir o nível de competitividade de determinada empresa, são necessários modelos de abordagem sistêmica, devido a complexidade das interações entre os agentes que compõem o ambiente de negócios.

3. Metodologia

A pesquisa tem natureza quali-quantitativa e caráter exploratório sendo realizada em um arranjo produtivo de mineração localizado na microrregião do Estado do Ceará denominada Cariri, especificamente nos municípios de Nova Olinda e Santana do Cariri por concentrar a exploração de calcário laminado. A região conta com 33 empresas cadastradas na Cooperativa de Mineração dos Produtores da Pedra Cariri – COOPEDRAS onde foram pesquisadas 25 empresa, ou seja, 76% do universo.

O desenvolvimento da pesquisa se deu em três frentes: revisão bibliográfica e documental, entrevista e coleta de informações e análise dos dados. O instrumento de coleta foi um questionário estruturado onde é feita a caracterização da empresa e posteriormente trata de levantar informações sobre os fatores determinantes da competitividade identificados durante a revisão da literatura, dividindo-os em classes. O mesmo foi aplicado aos gestores das empresas, onde inicialmente se buscou a caracterização da empresa e posteriormente trata de levantar informações sobre os fatores determinantes da competitividade. Neste caso dividiu-se em classes com base na escala de Likert com graduação de: 0-nenhuma a 4-muita alta. As questões abertas possibilitaram a captura do discurso dos entrevistados e os pontos subjetivos sobre o tema, que não poderiam ser observados por meio de perguntas fechadas. Para análise destas questões, utilizou-se a técnica de análise do discurso, conforme recomendado por Vergara (2005).

Os testes estatísticos utilizados na pesquisa foram métodos não-paramétricos onde as questões foram divididas em blocos, baseados nas classes de fatores da competitividade, onde o entrevistado deu sua avaliação sobre o ponto inquirido.

A partir das observações, procurando identificar se havia relação entre as variáveis e a capacidade produtiva da empresa foi executado o teste Gama de Goodman-Kruskal (γ) onde o coeficiente gama (γ) avalia o grau de concordância entre fatores, verificando se existe relação entre a avaliação e os entrevistados e suas respostas (Barbetta, 2006). A pós o cálculo de γ, este foi submetido ao teste de significância com α = 0,05 e escore padronizado z = 1,96, segundo a tabela da distribuição normal. Em seguida γ foi transformado em zγ, para comparação entre ele e o escore onde caso zγ < z tab não se rejeita H0. Caso contrário zγ > z tab se rejeita a hipótese nula de que não há relação entre os avaliadores (entrevistados) e suas respostas (Levin, 2004). Partindo destes princípios foi realizada a análise e discussão dos dados confrontando os resultados obtidos com a literatura estudada.

4. Resultados e Discussões

4.1. Caracterização do Arranjo

A atividade de exploração do calcário na região destina-se ao revestimento na construção civil e gera aproximadamente 1500 empregos diretos, como também mais de 4000 indiretos, sendo as cidades de Nova Olinda e Santana do Cariri responsáveis por aproximadamente 15% da produção de rochas para revestimento no estado do Ceará. O arranjo é formado por micro e pequenas empresas que trabalham com a extração, o beneficiamento e a comercialização do calcário laminado.

Segundo dados da Gerência do DNPM Cariri, em 2011, estas empresas apresentavam cerca de 80 frentes de lavras cadastradas junto aos órgãos oficiais. Segundo dados da COOPEDRAS (2013) o número de associados é variável, existindo os que abandonam a cooperativa, novos cooperados e retorno de outros. As empresas que participaram da amostra foram agrupadas em 3 grupos por nível de produção: até 2000 m3 por mês, maior que 2000 m3 até 4000 m3 e maior que 4000 m3 , conforme mostrado na tabela - 1.

A maior parte das empresas estão no mercado há mais de 6 anos, e apenas 8% com menos de 2 anos de participação. Se cruzarmos esta informação com a data de início do programa de consolidação do APL Mineral Cariri – CE em 2004, se tem indícios da inibição de novos entrantes, o que decorre da organização para atuação conjunta que conforme listado por Porter (1990), podem constituir barreiras a novos entrantes: a economia de escala, o acesso à matéria-prima, a experiência adquirida e o apoio governamental. Identificou-se que os mineradores participantes do projeto estão praticamente voltados para a atividade de extração e beneficiamento do tipo corte, não diversificando as atividades como planejado pelo governo.

A escolaridade predominante no arranjo é a de nível fundamental com 57%, seguido por 34% de semianalfabetos. Esta realidade pode ser entendida como um entrave ao desenvolvimento do arranjo, uma vez que o nível de instrução é fundamental para criação de vantagens competitivas como apontam Coutinho e Ferraz (1994), Lastre e Albagli (1999) e Tigre (2006).

Os trabalhadores que estão diretamente envolvidos na extração possuem o conhecimento tácito. No entanto, para que este se traduza em forma de vantagem competitiva, é necessário que seja este convertido em conhecimento explícito, havendo a possibilidade de difusão e aperfeiçoamento.

Durante a pesquisa foram identificados 13 mercados consumidores da pedra cariri, com cinco destes correspondendo a 72% da produção (Ceará, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e Pernambuco). Os demais equivalem a 26% da produção, merecendo destaque a Espanha respondendo por 2% do mercado. O empresário exportador entrevistado afirma que não consegue vender mais para a Espanha devido a não agregação de valor ao produto as placas que seguem para comercialização. Tal fato difere do que acontece com as empresas do Sertão do Seridó da Paraíba, local em que os rejeitos são aproveitados para a confecção de placas ornamentais projetadas que têm como principal destino a Europa e o Sudeste do Brasil.

4.2. Análise da influência do APL na competitividade das empresas

A definição correta de uma estratégia de negócios é fundamental ela norteia o modelo de gestão da organização e como este será desenvolvido. Segundo Porter (2004), estratégia é o conjunto de diretrizes gerais para a atuação da empresa. Entre os componentes estratégicos está a infraestrutura física projetada e implantada da empresa. Buscando permitir uma melhor visualização dos resultados foram utilizados gráficos do tipo radar e de barras além de tabelas de contigência construídos a partir da frequência das respostas obtidas o qual determina o posicionamento da empresa a partr da auto-avaliação da mesma.Quando questionados sobre a relação das suas necessidades produtivas e sua estrutura física os componentes do APL avaliaram que existe relação como mostra o gráfico 1.

Segundo os entrevistados, a maioria das empresas possui uma estrutura padrão, estando o diferencial na disponibilidade de área para lavra. Este resultado corresponde a opinião de 41% da amostra e no teste de associação entre as classe foi obtido o valor de γ = 0,32, o que demonstrou uma associação moderada entre a resposta dada e a capacidade produtiva das empresas. Quando questionadas sobre a relação de parcerias com seus fornecedores, as empresas tiveram reações negativas, como mostra o gráfico 2.

É notado no gráfico 2 a concentração nos itens nenhum e baixa. Este posicionamento leva a reflexão sobre a visão empreendedora das empresas que constituem o arranjo. Na visão dos entrevistados, por se tratar de uma atividade extrativista de um recurso primário, a parceria mais importante seria com os clientes. O teste de associação apontou γ = 0,36 que indica uma associação moderada entre a capacidade produtiva e a valorização da importância de formar parcerias com os fornecedores.

Os empresários parecem não compreender que firmar parcerias com aqueles que lhes fornecem insumos produtivos pode levar a obtenção de vantagens, como descontos e confiabilidade de entrega. Outro importante fator competitivo é a promoção da inovação que aumenta a qualidade, eficiência do processo e a competitividade dos produtos (Sluszz,2013) sendo deste modo considerado um dos fatores mais importantes para a sobrevivência e competitividade da empresa como apontam McArthur e Sachs (2001) e Tigre (2006).

Questionados sobre a importância das inovações trazidas pelo programa do APL, como novas técnicas de extração, máquinas mais modernas, entre outras, a maioria dos empresários atribui que o investimento em inovação não tem importância como fonte de vantagem competitiva. Um deles, produtor do grupo C afirmou que: "Não tem o que mudar. A pedra já sai pronta".

Segundo o teste estatístico, a correlação entre a capacidade de produção e o entendimento de importância é positivamente forte com γ = 0,58. Ao separarmos em classes, temos que 80% das empresas do tipo C entendem como nula a influência de investimentos em inovação para competitividade, contra 40% das do tipo A.

Durante a pesquisa, os depoimentos mostram que as atuais líderes do mercado ocupam esta posição por terem obtido resultados positivos no programa. A estatística de associação entre a classe da empresa e sua resposta obteve correlação alta com γ = 0,59. Para 56% dos mineradores, a estruturação do APL teve importância alta ou crítica no acesso e fluxo de informações por parte das empresas, enquanto 36% acredita que nada mudou em relação ao acesso a informação e tecnologias.

Os investimentos também se refletem quanto a estrutura e suporte da produção. A soma daqueles que investiram chega a 76%, o que é condizente com o processo de implantação do programa que priorizou a melhoria dos processos produtivos, com desenvolvimento de novas máquinas e equipamentos, como relatado por Peiter et al. (2007), Mendes Filho (2009) e Vidal (2010).

O programa se concentrou na mecanização do processo e na melhoria da extração. No entanto, 48% dos empresários não viram como diferencial a implantação de novas técnicas de produção, como propostas pelo CETEM, contra 42% que avaliaram estas como importantes ou altamente importantes. Outro ponto importante em uma empresa é o capital humano que segundo Siscsú (2004) quando bem administrado é fonte de vantagem competitiva. A tabela 2 mostra a avaliação dos empresários do APL relativa aos aspectos do capital humano.

Os dados mostram que 84% das empresas acreditam que não é importante promover a capacitação da MO. Este fato pode ser confirmado através da análise da opinião dos entrevistados sobre o tema, que  afirmam "não há necessidade da promoção de cursos de capacitação, eis que a extração e o beneficiamento do calcário são atividades extremamente simples, existindo uma grande disponibilidade de pessoas já com experiência prática na mineração". Todavia, 72% entendem a polivalência da MO como de elevada importância ter colaboradores que possam executar diferentes atividades na lavra e beneficiamento da pedra. "Uma organização precisa encontrar meios de manter e aumentar sua participação no mercado se quiser seguir viva".

As respostas dos empresários quando questionados sobre o papel do programa na conquista de novos mercados são mostradas no gráfico 03. Observa-se que maior parte dos entrevistados apontou que as ações do programa foram de grande contribuição para o aumento do mercado consumidor, que se estendeu desde a região Norte do Brasil até a Espanha. Apesar disto, 40% dos entrevistados afirmaram que não houve contribuição para o aumento de participação no mercado, sendo o grau de associação negativamente fraco com γ = -0,14. Quanto ao acesso a novos mercados possibilitados pelo programa, 56% dos entrevistados dizem que não houve influência, enquanto que 44% acreditam que houve influência.

Embora o programa inicialmente tenha se preocupado em divulgar a marca do APL Mineral Cariri - CE, após o término da participação do Governo e do CETEM na articulação direta do programa em 2009, esta atividade foi descontinuada devido, em razão da não mobilização dos membros do APL. A saída dos órgãos oficiais na articulação e coordenação do APL se deu a partir do entendimento de que, naquele momento, as empresas componentes poderiam conduzir a estruturação e consolidação do arranjo. Segundo Da Silva et al. (2013) o desenvolvimento local acontece quando as próprias organizações de atender suas necessidades imediatas e vocações e potencialidades.

Contudo, como já apresentado anteriormente, as empresas demonstram baixo interesse em atividades colaborativas o que dificulta a articulação interorganizacional.

A articulação interorganizacional afeta o ambiente socioeconômico onde estas organizações estão inseridas, promovendo alterações significativas nas variáveis que exercem influência no desempenho destas (COUTINHO e FERRAZ, 1994). A avaliação dos empresários sobre as implicações do programa no ambiente socioeconômico em que as empresas do APL estão inseridas é apresentada na tabela 3.

Percebe-se que os empresários entendem que o processo de formação do arranjo não trouxe nenhuma contribuição para a melhoria da estrutura do setor. Contudo, os itens formação de parceria na cadeia produtiva e valorização do produto possuem, respectivamente, 32% e 44% de percepção de contribuição alta e muito alta. Estes resultados são condizentes com os apresentados anteriormente, quando foi diagnosticado que os empresários não acham importante a formação de parcerias e a qualificação da mão de obra.

Os atores do APL foram questionados sobre o impacto do programa sobre a competitividade destes, obtendo γ = 0,03, sendo fraca associação entre a capacidade produtiva e as respostas, conforme mostrado no gráfico 4. Apesar de certa insatisfação com o próprio programa, 60% dos entrevistados afirmam que o projeto contribui de forma alta ou muito elevada para o aumento da competitividade das empresas, enquanto que para 24% houve uma contribuição média, ao passo que para 4% e 12% houve pouca ou nenhuma contribuição, respectivamente.

O APL, na visão da maioria dos entrevistados, é fonte de vantagem competitiva frente aos concorrentes. A opinião das empresas sobre influência das ações do programa relacionadas a estrutura da concorrência é mostrada na tabela - 4.

Na questão relacionada ao marketing, segundo 52% dos entrevistados, não houve qualquer modificação nas práticas anteriormente adotadas. De outra lado, para 48% houve algum tipo de influência positiva neste aspecto.

Dos quatro itens da tabela 4, somente melhoria de marketing apresenta uma estatística de frequência acumulada para algum tipo de influência menor que a relativa a nenhuma influência. Ao serem indagados sobre os ganhos em infraestrutura e tecnologia foram obtidas as respostas apresentadas na Tabelas-5 e 6.

A maioria das empresas (76%) atribui relevância alta ou muito alta para o papel do programa de estruturação do APL nos ganhos tecnológicos no setor. Em as questões avaliadas foi obtida importância alta ou muito alta (superior a 60%). Este dado reforça que as atividades do programa tiveram como foco os aspectos tecnológicos do processo produtivo, em detrimento da formação e conscientização dos empresários para o trabalho coletivo. Os cooperados também concordam que o programa trouxe benefícios quanto a preservação ambiental por conta das novas técnicas e modernização dos equipamentos justificando o investimento uma vez que a preservação ambiental se reverte no preço dos produtos Abreu, Mesquita e Silva Filho (2014). No teste de correlação foi constatada, para todas as respostas, correlação fraca entre a capacidade produtiva e as respostas dadas pelos entrevistados

No segundo bloco de avaliação da influência da formação do APL sobre os ganhos tecnológicos, tem-se uma situação inversa a anterior onde a maioria das empresas atribui nenhuma ou pouco importância as ações do APL para os ganhos tecnológicos mostrados na Tabela 6.

Os empresários apontam que não houve ganhos como redução de custos de transporte, a não ser na coleta de resíduos que é vendido para uma empresa de cimento no município de Barbalha – CE. O valor da venda dos rejeitos é revertido para cooperativa. Os empresários também demonstraram insatisfação em relação a dificuldade de abrir novas lavras, por ser obrigatória a filiação a COOPEDRAS. É percebido nos seus argumentos que não existe uma visão de diversificação das atividades, existindo o único propósito de abrir novas frentes de lavra, quando seria possível iniciar negócios de suporte ou beneficiamento da pedra cariri.

Os entrevistados afirmam que as melhorias se darão por exigência do mercado e da competição entre os próprios participantes do APL. A maior parte dos entrevistados afirma que as inovações podem contribuir para a redução dos custos com MO e insumos, pois 56% das respostas indicam que  as inovações podem influenciar na redução do custo de MO devido a mecanização.

Para 60% dos entrevistados, as inovações podem influir na redução dos custos de insumos de forma média, alta ou muito alta, devido ao desenvolvimento de recursos de maior durabilidade e que proporcionem maior rendimento na produção. Desta forma entende-se que a formação do APL implica em ganhos competitivos, porém ainda existem deficiências a serem sanadas para que este atinja plenamente seu potencial como promotor da competitividade.

5. Conclusões

A pesquisa constatou que o APL Mineral Cariri - CE utiliza a metodologia desenvolvida pelo CETEM de formar cooperativa entre os componentes do arranjo, para promoção das relações interfirmas.

Foi observado que a mão de obra que compõem o arranjo tem predominantemente baixa escolaridade, tanto no setor operacional como no administrativo, fato este que tende a influenciar na visão estratégica sobre a importância da formação de parcerias e promoção da inovação. Esta visão restrita sobre a qualificação não colabora para melhoria do desempenho e produtividade das empresas.

Os componentes do arranjo acreditam que o investimento em inovações não é fundamental devido à natureza do produto. Acredita-se que a inovação mais importante seria uma maior mecanização do processo, o que aumentaria a quantidade de placas produzidas. Foi diagnosticado que as empresas do arranjo deixam de penetrar no mercado internacional em função da não agregação de valor ao produto.

Através da análise do histórico das empresas que participam do APL, é notado que este serviu como força para barrar novos entrantes, eis que poucas empresas adentraram no mercado de calcário laminado depois da implementação do programa. Para que o arranjo cumpra seu objetivo de promover a competitividade é preciso o desenvolvimento de ações que promovam sua reestruturação, mediante a qualificação dos empresários para uma atuação conjunta bem como eliminando as distorções entre as empresas de menor a maior capacidade produtiva.

Considerando o conhecimento da realidade vivida no APL, algumas proposições de pesquisas futuras podem ser formuladas como: estudo incluindo as empresas que adquirem a Pedra Cariri para confecção de objetos de arte e decoração para obtenção de uma visão mais ampla sobre a cadeia produtiva; análise do impacto socioeconômico da formação do APL Mineral Cariri - CE para toda a região; estudo comparativo entre os APLs Minerais existentes no Nordeste e seus níveis de desenvolvimento e articulação, podendo assim compartilhar as experiências de práticas de sucesso e principais dificuldades.

Além das propostas de trabalhos citadas sugere-se que a COOPEDRAS, o CETEM ou o SEBRAE desenvolva programas de treinamentos direcionados aos gestores sobe boas práticas de gestão para que estes possam aproveitar as potencialidades oferecidas pelo APL.

6. Referências

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1. Doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA em Rede pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Mestre em Engenharia de Produção na área de Gestão da Produção pela UFPB (2013). Especialista em Tecnologia de Processamento de Alimentos de Origem Vegetal pelo IF Sertão-PE (2010). Bacharel em Engenharia de Produção Mecânica pela Universidade Regional do Cariri (2003). Atuando principalmente nos seguintes temas: Gestão da Produção, Arranjos Produtivos, Competitividade, Meio Ambiente e Tecnologia de Alimentos. Atualmente é Professor da Universidade Federal do Piauí - UFPI, na área de Planejamento e Controle da Produção (PCP).
2. Possui graduação em Economia pela Universidade Federal da Paraíba (1973), Mestrado em Engenharia Mecânica com área de concentração em Produção pela Universidade Federal da Paraíba (1980) e Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2002). Atualmente é professor Associado IV da Universidade Federal da Paraíba. Tem experiência na área de Engenharia de Produção, com ênfase em Planejamento, Projeto e Controle de Sistemas de Produção, atuando principalmente nos seguintes temas: qualidade, tecnologia, trabalho, estratégia e organização industrial.


 

Vol. 36 (Nº 17) Año 2015

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