Espacios. Vol. 36 (Nº 20) Año 2015. Pág. 4

Turismo de baixo carbono como ferramenta para a eficiência tecnológica dos meios de hospedagem e transportes

Low-carbon tourism as a tool for technological efficiency of accommodations and transport

Rodrigo de Sousa MELO 1; Maria do Socorro Lira MONTEIRO 2

Recibido: 21/06/15 • Aprobado: 23/07/2015


Contenido

1. Turismo e mudanças climáticas

2. Propostas de adaptações tecnológicas para consolidar o turismo de baixo carbono nos setores de hospedagem e transporte

3. Conclusão

Referências


RESUMO:

Este artigo analisou as ferramentas tecnológicas destinadas à minimizar as emissões de CO2 nos meios de hospedagem e transportes, endereçando assim os princípios do turismo de baixo carbono para o enfrentando da emergente crise climática. Para tal, realizou-se pesquisas bibliográficas e documentais sobre os referidos temas. Os resultados indicam que diversos recursos tecnológicos estão disponíveis para fomentar o uso de energias renováveis, reduzir o consumo de água e o incremento de transportes sustentáveis nos deslocamentos turísticos. Como também, impõe-se a necessidade de ações educativas com os gestores, funcionários e visitantes na revisão dos seus hábitos de consumo.
Palavras-chave: Turismo de baixo carbono, meios de hospedagem, transporte.

ABSTRACT:

This article analyzed the technological tools to minimize CO2 emissions in accommodations and transport, as well addressing the low-carbon tourism principles for facing the emerging climate crisis. To this end, there was bibliographical and documentary research on these topics. The results indicate that a range of technological resources are available to promote the use of renewable energy, reduce water consumption and increase sustainable transport in tourist displacements. But also, it must be the need for educational activities with managers, staff and visitors to review their spending habits
Keywords: Low-carbon tourism, Accomodations, Transport.

1. Turismo e mudanças climáticas

Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - em inglês Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC, 2006) o aquecimento climático não é um equivoco, uma obra do acaso, e sim uma série de evidências decorrentes de observações do aumento global das temperaturas do ar, do derretimento de gelo e neve em larga escala, e do aumento do nível dos oceanos, decorrentes sobretudo do aumento de ações antrópicas como a queima de combustíveis fósseis, destruição de florestas, e diversos tipos de poluição.

Realça-se que o aquecimento global é a elevação da temperatura média anual da terra causada pelo aumento das concentrações na atmosfera dos chamados gases do efeito estufa, sobretudo nos últimos 100 anos. Estes gases alteram as características da atmosfera fazendo com que o calor fique concentrado como numa estufa.

Como observado, diversas atividades humanas estão contribuindo para as mudanças climáticas, e entre elas está o turismo. O turismo é uma das atividades de fundamental importância para a economia mundial, por ser considerada geradora de emprego e renda, e por contribuir no desenvolvimento socioeconômico e ambiental, quando devidamente planejada e administrada. Para Cooper (2007) "o turismo é uma atividade relevante para a economia e que apresenta impactos significantes sobre as economias, os ambientes e a sociedade". 

Segundo a Organização Mundial do Turismo – OMT (2009) as mudanças climáticas já são um fato evidente, podendo assim afetar o fluxo das viagens, a cadeia produtiva do turismo, e as decisões dos turistas com relação a escolha dos destinos visitados. A perda da biodiversidade, alterações nos regimes climáticos, aumento do nível do mar, desaparecimento de ilhas, são exemplos de impactos negativos para o turismo, uma vez que o setor utiliza-os como atrativos.

Além de ser vítima, o turismo também contribui de forma significante para as mudanças climáticas, através das atividades desenvolvidas nos meios de hospedagem, nos deslocamentos turísticos, e nas outras operações turísticas, pois todas são responsáveis por emitir dióxido de carbono e outros gases poluentes na atmosfera.

De acordo com a OMT (2008), as emissões de carbono provenientes do turismo, incluindo transportes, hospedagem e outras atividades, respondem por cerca de 5% das emissões globais de CO2. Entre todos os setores turísticos, os transportes são considerados os mais poluidores, com uma contribuição significativa para o aquecimento global de 54% a 75% do total das emissões turísticas.  Com relação aos meios de hospedagem foi estimado que em 2005, as emissões de dióxido de carbono realizadas por este setor foi de 21%.

Realça-se que o transporte é parte essencial da engrenagem turística, porém é o setor que mais contribui para as emissões de gases causadores do efeito estufa. De acordo com a OMT (2009) os veículos elétricos, incluindo os ônibus ou bondes de energia renovável são opções de transportes sustentáveis, pois não provocam a poluição do ar, como também a utilização de carros com biocombustíveis, a substituição de carros velhos por novos, o incentivo a implantação de ciclovias, e o aperfeiçoamento dos transportes públicos.

No setor de hospedagem o consumo de energia é o principal responsável pelas emissões de carbono, pois a utilização de ar condicionado, televisão, chuveiro elétrico, frigobar demanda o uso intenso de energia elétrica. A mitigação das emissões nos meios de hospedagem pode ocorrer através do uso de energias renováveis (ex: solar e eólica), na substituição de equipamentos velhos e mais poluentes, na reciclagem do lixo, e na implantação de um sistema de gestão ambiental.  De acordo com a OMT (2009), uma das medidas sustentáveis para reduzir o consumo de energia nos hotéis é a utilização do keycards (cartão-chave) de entrada para os quartos dos hotéis, através dele os sistemas de energia dos apartamentos ascendem e apagam automaticamente quando os cartões são inseridos ou retirados do dispositivo base. 

Segundo a OMT (2009), a tendência para 2035 é que as emissões provenientes das atividades turísticas aumentem em 130%. Este aumento está relacionado à crescente demanda de viagens nacionais e internacionais, pois estima-se que o turismo mundial crescerá 179% até 2035, e a participação do transporte aéreo nas emissões de dióxido de carbono vai crescer de 43% em 2005 para 53% em 2035.

Nesse quadro, o turismo apresenta uma contribuição significativa para as alterações climáticas e com a possibilidade de aumento das emissões previstas até 2035, faz-se necessário pensar em desenvolver estratégias, projetos e ações destinadas a mitigar a contribuição do turismo para as mudanças climáticas. Para mitigar as emissões de dióxido de carbono e outros gases poluentes que contribui para as alterações climáticas, a OMT (2008;2009) vem despertando a atenção do setor para as questões climáticas.

Ademais, os visitantes também podem colaborar para diminuir os impactos de suas viagens com a compensação de carbono, através da utilização de energia renovável, do consumo consciente de energia energética e por meio de sequestro de carbono através de incentivo a projetos florestais e comunitários.Assim, o setor do turismo ao mesmo tempo em que contribui para as mudanças climáticas pode também colaborar para a mitigação das mudanças climáticas, por meio de diversas medidas sustentáveis.

Com ênfase no panorama atual de intensificação das mudanças climáticas, com o aumento das emissões de carbono decorrentes das atividades turísticas, e com a necessidade de medidas sustentáveis para modificação do quadro atual das emissões, diversas propostas conceituais e metodológicas vem sendo discutidas para conciliar as metas econômicas, com as ecológicas e as sociais. Entre elas, está o turismo de baixo carbono.

Destarte, Huang e Deng (2011) salientam que o turismo de baixo carbono tem o propósito de estimar o cálculo da emissão de carbono (CO2) dos prestadores de serviços turísticos e dos visitantes, como base pedagógica para sensibilizar esses atores para minimizar os impactos ambientais produzidos pelo turismo.

Assim, incorporar os princípios e métodos do turismo de baixo carbono nos destinos turísticos possibilitará a redução das emissões de gases poluentes que contribuem para as mudanças climáticas, como também auxiliará na manutenção dos patrimônios natural e cultural, pois estes são matérias-primas básicas para diversos segmentos do turismo.

O desenvolvimento do turismo de baixo carbono como ferramenta para a gestão sustentável de destinos turísticos requer mudanças tecnológicas, gerenciais, legais e educativas. Assim, este artigo apresentou as ferramentas tecnológicas disponíveis para os meios de hospedagem e os transportes minimizarem as emissões de CO2 nos destinos turísticos, embasado no emergente paradigma do turismo de baixo carbono.

2. Propostas de adaptações tecnológicas para consolidar o turismo de baixo carbono nos setores de hospedagem e transporte

2.1. Meios de hospedagem

A hotelaria ou o conjunto de meios de hospedagem compõe uma das bases mais significativas do sistema turístico, que corresponde à infra-estrutura. Seu desenvolvimento é considerado imprescindível ao incremento da Oferta Turística de determinado destino, para que se possa receber bem os turistas e lhes propiciar uma experiência qualitativa de viagem, pois, como afirma Gazoni (2005) "os turistas necessitam, com poucas exceções, de um local para descansar e recuperar as energias durante seu tempo de permanência na destinação". Dessa forma, acredita-se que a hospedagem é um equipamento importante para o desenvolvimento do turismo de uma localidade. 

De acordo com Amazonas (2014), dentre as diversas atividades econômicas relacionadas ao turismo, os meios de hospedagem são os que geram maior circulação de capital e também os que mais consomem recursos naturais, especialmente os grandes hotéis e resorts.  Este fato torna-se ainda mais preocupante considerando o que afirma Vieira (2004, p.9):

A hotelaria é um segmento que está muito propenso a desperdiçar. A grande maioria dos hóspedes ainda não tem uma consciência voltada para a economia. Cuidados com detalhes que podem parecer pequenos, para um hotel poderão representar gastos incalculáveis como: banho demorado, água correndo no lavatório sem preocupação com o consumo que isso representa, ar-condicionado funcionando com portas e janelas abertas e outras formas de desperdiçar que fogem do controle da gerência.

Entretanto, acredita-se que se planejada e voltada ao atendimento dos princípios do turismo de baixo carbono, a hotelaria pode contribuir com uma mudança nos hábitos de consumo na sociedade, gerando menos impacto ambiental.

Boas perspectivas já começam a surgir nesse sentido, pois como afirma Garcia (2013, s/p), ''aos poucos, a hotelaria está acordando e dando maior atenção à necessidade de dedicar recursos e foco estratégico aos dois grandes pilares da sustentabilidade: meio ambiente e entorno social''.

É importante ressaltar que as tecnologias e práticas aplicadas aos hotéis devem estar incorporadas desde o projeto arquitetônico do empreendimento e serem pensadas em conjunto, para que o edifício, além de eficiência energética, tenha um caráter de construção sustentável.

 Outrossim, o objetivo principal destas tecnologias é a melhoria na gestão dos recursos naturais, especialmente energia elétrica e água, reduzindo custos, colaborando para a conservação dos recursos naturais e trazendo uma imagem de empresa ambientalmente responsável.

De acordo com Amazonas (2014) as principais tecnologias aplicadas são as seguintes:

  1. Elevadores inteligentes - São elevadores que diferem dos convencionais por apresentarem soluções que reduzem o consumo de energia, o ruído causado pelo transporte e o tempo de espera dos usuários;
  2.  Sensores de presença - O sensor de presença é um equipamento eletrônico capaz de identificar a presença de pessoas dentro do seu raio de ação e acender a lâmpada do ambiente e depois de certo tempo, a ser determinado pelo usuário, a lâmpada se apaga.
  3.  Televisores e aparelhos de ar condicionados de baixo consumo;
  4. Sistemas de desligamento automático por cartão - os cartões funcionam como uma chave geral do apartamento e só liberam a energia para o apartamento quando o cartão estiver no local indicado.
  5. Aquecedor solar de água - composto por placas coletoras solares e um reservatório de água conhecido como  Boile. As placas coletoras são responsáveis pela absorção da radiação solar. A energia térmica absorvida pelas placas é transmitida para a água que circula no interior de suas tubulações de cobre. O reservatório térmico é um recipiente para armazenamento de água aquecida.  São cilindros de cobre ou de aço inoxidável, porém isolados termicamente com poliuretano sem CFC (Cloro-fluor-carbono), para diminuir ao máximo as perdas de calor pelo processo de condução térmica. Dessa forma, a água permanece aquecida e pronta para o consumo a qualquer hora do dia ou da noite. A caixa de água fria alimenta o reservatório, mantendo-o sempre cheio.

Além das tecnologias sustentáveis que podem ser aplicadas aos hotéis, existem práticas que atendem a estas tecnologias e outras que independem daquelas e que podem ser incorporadas à gestão, no intuito de trazer mais sustentabilidade ao empreendimento, como por exemplo o reaproveitamento da água pluviais, tendo em vista que  grande parte do consumo de água do hotel ocorre nas torres de resfriamento dos sistemas de ar-condicionado, descarga de banheiros, regas dos jardins e operações de limpeza em geral, a água utilizada para tais procedimentos torna-se reciclada e reaproveitada, podendo ser dispensados requisitos de potabilidade da água, o que facilita soluções próprias de abastecimento.

Outras práticas sustentáveis que podem ser facilmente aplicadas aos meios de hospedagem podem ser a coleta seletiva, o envio de resíduos às cooperativas de catadores, o armazenamento e correta destinação do óleo de cozinha, a busca por fornecedores locais, etc. Também faz-se relevante destacar que alguns empreendimentos tem investido em ações de Educação Ambiental tanto com funcionários como com seus hóspedes através de campanhas educativas para o reuso de toalhas, idéias verdes sendo premiadas pelos hóspedes, colheita na horta conjuntamente, etc.

Nesse contexto, salienta-se que o Brasil é um país que possui potencial para geração de energia através de fontes renováveis, como o sol e o vento. Entretanto, poucos destinos turísticos utilizam tais fontes para suprir a demanda energética. Portanto, em função desse cenário, faz-se mister investir no aperfeiçoamento e barateamento destas fontes e na criação de normas jurídicas para incentivar o uso de tecnologias limpas nos destinos turísticos. Nessa perspectiva, Gossling (2013) e Becken et al. (2011) reconhecem que devido o consumo de energia ser um dos principais contribuintes para as emissões de carbono, a economia de energia ou uso de fontes renováveis possibilita a gestão sustentável dos destinos turísticos no contexto do turismo de baixo carbono;

Já para Beni (2007) e Hall (2004) a problemática dos resíduos sólidos afeta expressivamente a experiência turística, ora por falta de fiscalização dos órgãos competentes, ora por falta de educação de todos aqueles usuários dos destinos turísticos. Todavia, evidenciam que as possibilidades de reutilização e reciclagem dos resíduos são múltiplas, pois com a tecnologia disponível e com ações de educação ambiental é possível reduzir a geração de resíduos, e consequentemente mitigar as emissões de carbono.

Logo, a implantação de projetos de coleta seletiva e a criação de cooperativas de catadores, e recicladores são ações necessárias para consolidar a proposta de incentivo à reciclagem, haja vista que na natureza nada se perde, tudo se transforma, na medida em que uma folha caída no solo, volta ao ciclo natural, através da reutilização por seres integrantes de diversas cadeias alimentares, o que revela que o desperdício de matéria e energia é muito pequeno. Porém, por outro lado, realçam que os seres humanos, desenvolveram um sistema linear e não cíclico, o que acarreta em desperdícios de matéria e energia, as quais comprometem a estabilidade do sistema. Caso seja adotado um processo cíclico, através da reciclagem, a perda de matéria e energia seria minimizada, com a possibilidade de requalificação do consumo humano e com a preservação do capital natural

 2.2. Transportes

Com a previsão para um crescimento na ordem de 179% até 2035, o setor de transporte é, além disso, considerado o mais poluidor dentre os diversos setores turísticos (OMT, 2008). Mas o transporte é um setor de fundamental importância para a economia e para a própria população que dele depende para seus deslocamentos diários.

Dentro do setor turístico, o tipo de transporte que causa maiores impactos ainda é o aeroviário. Para garantir redução de impactos em termos de emissão de gases de efeito estufa neste e nos demais setores de transporte, a palavra chave é eficiência energética. A indústria de transporte aéreo permanece em crescimento vertiginoso e Shcmitt (2012) afirma que, se antes a indústria buscava apenas aumentar o alcance a velocidade, o tamanho das aeronaves e reduzir o consumo de combustível, atualmente, o foco está concentrado nas implicações ambientais e, claro, na economia. A grande vantagem é que melhorar a eficiência do combustível traz benefícios tanto para o meio ambiente quanto para a indústria, acrescenta o referido autor.

Em documento técnico sobre transporte urbano sustentável feito pelo Ministério Federal para a Cooperação e desenvolvimento econômico da Alemanha (BMZ), Bongard et al. (2011) sugerem que o transporte de baixo carbono, não apenas melhora as condições de vida e bem estar, mas traz inúmeros benefícios associados como: aumento na segurança energética, pela redução na demanda por petróleo; redução de congestionamentos que, por sua vez, minimiza a poluição do ar e sonora; além de aumentar a atratividade das cidades, o que se reflete diretamente no desenvolvimento econômico e turístico.

Há várias pesquisas sendo realizadas no setor de transporte em nível global e novas tecnologias estão sendo desenvolvidas a fim de repensar o conceito de transporte coletivo e reduzir impactos ambientais provenientes dessa atividade. No entanto, o caminho a percorrer ainda é bastante longo e está distante do ideal. Transporte de baixo carbono foi tema da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento sustentável (Rio+20) e, desde então, muitos avanços foram observados, principalmente em transporte ferroviário. O transporte ferroviário de alta velocidade (high speed transport – HST) tem sido cada vez mais adotado em trechos com grande fluxo de passageiros e viagens relativamente longas. Reis et al. (2013) analisaram vantagens e desvantagens do transporte intermodal, e concluíram que a combinação do transporte ferroviários de alta velocidade com o aeroviário deve ser encorajada.

Embora eficiente em relação à função, o HST ainda está distante de ser uma modalidade sustentável quando comparado com outras modalidades de transporte. Segundo Miyoshi (2013), em pesquisa realizada no Reino Unido, os resultados projetados para 2033 mostram um potencial limitado do HST para a redução de emissão de CO2.

O fato é que o transporte de baixo carbono apresenta barreiras de implementação que, precisam ser vencidas por ações estratégicas, principalmente na defasagem de tempo entre as decisões e o efeito esperado, quando os resultados só se veem a longo prazo e dependem da manutenção de decisões políticas, além de decisões em outros setores que refletem no setor de transporte.

Tavora (2012) em uma compilação de dois artigos sobre a transição para uma economia verde mostra que uma estimativa do investimento necessário para essa transição seria da ordem de 2% do Produto Nacional Bruto (PNB) do mundo ao ano e que cerca de 60% desse montante deveria ser investido em eficiência energética - o que inclui o setor de transportes – e produtos renováveis. A mudança da economia atual para a chamada economia verde, onde se prevê uma real redução de emissão de carbono, é uma transição que demanda, não apenas pesquisa nos diversos setores, mas uma reavaliação do modelo econômico vigente.

No incentivo ao transporte público destaca-se que recorrentemente a mídia divulga ações do governo federal, como a diminuição de impostos para a aquisição de carros de passeio. Entretanto, medidas para desenvolver os diversos modais do transporte público e produzir menos emissões de carbono são raras, não obstante ser de notório conhecimento que a implantação de ciclovias, a melhoria dos sistemas de ônibus, metrôs e similares, são medidas essenciais para reduzir as emissões de carbono, que podem beneficiar tanto os residentes, quanto os visitantes.

Nessa perspectiva, a Agência Ambiental Federal Alemã (2005), mostra explicitamente o papel do transporte individual nas emissões de CO2, como pode ser demonstrado na Tabela 1.

Tabela 1 - Emissões de CO2 por tipologia de meios de transporte

Tipologia dos meios de transporte

Emissões de CO2 por passageiro e km(g)

Avião

370

Carro

150

Trem

50

Ônibus

30

Fonte: Agência Ambiental Federal Alemã (2005).

Em conformidade com a Tabela 1, observou-se que as emissões provenientes de transportes públicos, como ônibus e trens, é significativamente menor do que as da tipologia carro, embora este último ainda seja o principal meio de transporte empregado nas viagens de curta distância. Inclusive, como exposto anteriormente, o transporte aéreo é o principal emissor de CO2 referente aos deslocamentos turísticos, e como o número de viagens nacionais e internacionais só tendem a aumentar, segundo dados da OMT (2013) e do Conselho Mundial de Viagens e Turismo, em inglês World Travel & Tourism Council (WTTC), repensar medidas para redução das emissões através da eficiência tecnológica é condição essencial em direção a sustentabilidade do turismo (WTTC, 2013).

Ademais, a Figura 1 demonstra a importância da eficiência tecnológica para mitigação das emissões de CO2 nos cenários futuros.

Figura 1 – Cenários de emissões turísticos em 2005 e 2035, e as respectivas estratégias de mitigação.

Fonte: OMT e UNEP (2008).

Apoiado na Figura 1, conforme a OMT e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em inglês United Nations Environment Programme - UNEP (2008), a eficiência tecnológica poderá reduzir em 38% as emissões turísticas e a substituição nos modais de transportes e no tempo de permanência em 44%, a combinação de ambas reduzirá as emissões de CO2 em 2035 em cerca de 68%.

Com efeito, observou-se que as tecnologias sustentáveis são ferramentas essenciais para promover o turismo de baixo carbono nos meios de hospedagem e transportes, uma vez que uma gama de tecnologias que minimizam as emissões de CO2 estão disponíveis e outras em processo de aperfeiçoamento.

 

3. Conclusão

Este artigo expôs algumas das tecnologias disponíveis para mitigar as emissões de CO2 dos meios de hospedagem e dos transportes, endereçando assim alguns dos objetivos do turismo de baixo carbono.

Neste contexto, frente a emergente crise climática, os segmentos turísticos precisarão desenvolver ações de adaptação e mitigação para manterem-se competitivos. Sendo assim, algumas das medidas essenciais é a redução dos consumos de água e energia, e a substituição da matriz de combustíveis fósseis por fonte de energia renováveis nos meios de hospedagem e transportes.

Para tal, já existe um elenco de tecnologias disponíveis para o uso racional e substituição das tecnologias mais poluentes por outras sustentáveis, as quais podem contribuir para uso racional de energia e água e para a mitigação das emissões de CO2 dos transportes.

Entretanto, para que tal realidade se materialize, faz-se necessário incentivos governamentais para ampliar o consumo de tecnologias sustentáveis, sensibilização dos empresários e usuários, e mobilização dos atores turísticos em prol da efetivação do turismo de baixo carbono como um novo paradigma gerencial e educacional.

Referências

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1. Possui Graduação em Turismo pela Universidade Católica de Pernambuco (2000), Especialização em Gestão de Ambientes Costeiros Tropicais pela Universidade Federal de Pernambuco (2002), Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba (2006), e Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente na Universidade Federal do Piauí, desde 2012. Atualmente é Professor Assistente I (Dedicação Exclusiva) da Universidade Federal do Piauí (Campus Parnaíba - PI). E-mail: rodrigomelo@ufpi.edu.br

2. Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Piauí (1983), Mestrado em Economia Rural [C. Grande] pela Universidade Federal da Paraíba (1993) e Doutorado em Economia Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (2002). Atualmente é Professora Associada, Nível I, da Universidade Federal do Piauí. E-mail: socorrolira@uol.com.br


 

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