Espacios. Vol. 36 (Nº 20) Año 2015. Pág. 22

A influência da motivação dos membros para o sucesso das Comunidades de Prática

Motivation's Influence of the Members for the Success of Communities of Practice (CoPs)

Juliana CLEMENTI 1; Julieta K. W. WILBERT; Gertrudes A. DANDOLINI; João Artur de SOUZA

Recibido: 23/06/15 • Aprobado: 18/08/2015


Contenido

1. Introdução

2. Procedimentos metodológicos

3. Revisão da literatura

4. Resultado e discussões

5. Considerações finais

6. Referencias


RESUMO:

Em recentes pesquisas sobre motivação vinculada a Comunidades de Prática (CoPs), verificou-se que estudos que investiguem a motivação de participantes de CoPs ainda são escassos. Por isso, o presente estudo visa contribuir para preencher essa lacuna. Como resultado, identificou-se a existência de um inter-relacionamento entre as teorias motivacionais e a teoria sobre CoPs, verificando-se que a estrutura de CoPs favorece a motivação individual na comunidade. Porém, essa relação não ocorre automaticamente, conforme sugerido neste estudo, o moderador da comunidade pode ser o intermediário dessa relação para a implementação de estratégias motivacionais afim de estimular a participação dos membros
Palavras-chave: Motivação em CoPs; Comunidades de Prática; teoria da autodeterminação; moderador de CoPs.

ABSTRACT:

In recent research on motivation linked to Communities of Practice (CoPs), it was found that studies that investigate the motivation of CoPs of participants are still scarce. Therefore, the present study aims to fill this gap. As a result, it identified the existence of an inter-relationship between the motivational theories and the theory of CoPs, verifying that the CoPs structure fosters individual motivation in the community. However, this correlation does not occur automatically, as suggested in this study, the community moderator may be the intermediary of this relationship for the implementation of motivational strategies in order to encourage the participation of members
Keywords: Motivation; Communities of Practice; Theory of Autodetermination; motivation in CoPs; moderator of CoPs

1. Introdução

A literatura destaca o papel da gestão do conhecimento como fator de melhoria do desempenho organizacional [1, 2] e de facilitador de processos de inovação [3, 4].Dentre os instrumentos da gestão do conhecimento, as CoPs - Comunidades de Prática contribuem para o compartilhamento de conhecimento, ideias, paixões, expertises e interesses em torno de um tema ou temática [5].

As CoPs têm sido alvo de vários pesquisadores quanto a sua utilização para o atingimento dos objetivos organizacionais [6, 7], a partir do entendimento de que as organizações podem apoiar estrategicamente as redes informais existentes, estabelecendo comunidades que atendam aos seus interesses [8].

Dos vários aspectos estudados sobre as CoPs, a motivação das a participação das pessoas em CoPs tem sido destacada como sendo um dos principais fatores críticos de sucesso para o funcionamento das comunidades [5, 9]. No contexto organizacional, saber estimular a motivação dos colaboradores é vista como uma vantagem competitiva estratégica [10]. Portanto, compreender o que motiva as pessoas a decidirem por um determinado comportamento torna-se relevante para o sucesso de qualquer projeto.

Estudos que discutem como motivar os participantes de grupos ou comunidades ainda são escassos [6, 11], por essa razão, a presente pesquisa traz uma contribuição a essa lacuna, primeiramente, aspectos da motivação no âmbito das comunidades de prática, e em segundo, destaca o papel de um dos atores no processo: o moderador de CoPs. Desta forma, a pesquisa tem por objetivo responder à seguinte pergunta: como é promovida a motivação dos membros de comunidade de prática para assegurar a sua existência?

O presente artigo está organizado com a seguinte estrutura: na seção 2 apresentam-se os procedimentos metodológicos; na seção 3 traz-se a revisão de literatura com relação a Comunidades de Prática e a Motivação; na seção 4 apresenta-se o resultado da pesquisa sobre motivação enfatizando a abordagem de Ryan e Deci [12] que dão sustentação à seção 5, quando é apresentada a teoria da motivação autodeterminada desses autores, apresentando seu inter-relacionamento com a teoria das comunidades de prática; por fim, na seção 6, emergem as considerações finais e sugestões para pesquisas futuras.

2. Procedimentos metodológicos

Este artigo resulta de uma pesquisa teórica sobre a motivação nas comunidades de prática, e examina teorias e conceitos, "com vistas à reconstrução de teorias, estruturação de sistemas e modelos teóricos e geração de novas hipóteses" [13].

A pesquisa teórica não requer coleta de dados e investigação de campo, sendo sua forma básica a pesquisa bibliográfica, a consulta a livros, artigos, trabalhos monográficos, jornais e enciclopédias, com objetivo de compreender e discutir a revisão da literatura sobre um tema ou uma questão intrigante da realidade [14].

Nesta pesquisa, primeiramente foi realizada uma busca sistemática na base de dados Web of Knoledge com as palavras-chave: community of practice and motivation (comunidades de prática e motivação). Somado a isso foram realizadas consultas a fontes bibliográficas secundárias (artigos científicos de outras fontes, livros, dissertações e teses).

Em seguida fez-se a revisão de literatura dos artigos selecionados com base nos seguintes critérios: as palavras-chaves apareciam no título, pertenciam a categoria de artigos de revista, em língua inglesa.

A literatura selecionada foi tratada por meio de análise de conteúdo, o que resultou no pressuposto de que é preciso desenvolver mais o campo da motivação na área das comunidades de prática para que possam orientar a aplicação estratégias motivacionais.

3. Revisão da literatura

3.1 Comunidades de Prática

O conceito de comunidades de prática é multifacetado, e demonstra ter evoluído com o tempo [15]. Para Paulino [5], o conceito de CoP reflete sobre a dimensão social na aprendizagem, ou seja, como as pessoas se reúnem em torno de um tema para aprender com as interações e com as relações sociais.

A ideia de comunidades de prática não é nova: Wenger et. al. [7] lembram que todas as sociedades formam comunidades, reconhecidas ou não, seja no trabalho, na escola ou nos passatempos. Na Idade Média, os artesãos experientes passavam seus conhecimentos e ensinava as habilidades e as práticas nas suas comunidades [7].  Dessa forma, as CoPs estiveram por muito tempo associadas à transmissão de conhecimentos no contexto de aprendizagem situada.

O conceito pautado na aprendizagem situada foi originariamente descrita por Lave e Wenger [16], tendo sofrido adaptações, a partir da percepção de sua adequação enquanto instrumento de gestão, inicialmente explicitada por Brown e Duguid [17].

Comunidades de prática são grupos de pessoas que compartilham uma preocupação, um conjunto de problemas, ou uma paixão sobre um tópico, e que aprofundam seu conhecimento e experiência nesta área, interagindo em meios contínuos [7].

Essa perspectiva de CoPs no campo da gestão em organizações é relativamente recente [18]. Nesse contexto, as CoPs são entendidas como uma técnica que fomenta o compartilhamento do conhecimento explícito e implícito [6]. O conhecimento implícito é considerado mais relevante que o explícito em processos que envolvem a inovação [19] e a CoP facilita o seu compartilhamento.

Com base em Kilbride et. al. [20], a estrutura fundamental de uma CoP apresenta a combinação de três elementos: um domínio de conhecimento, um grupo de pessoas interessados no domínio e uma prática compartilhada relativa ao domínio, conforme apresenta a Figura 1.

Figura 1 - A inter-relação dos três elementos-chave de uma CoP

Fonte: Adaptado de Kilbride et. Al. [20]

Uma CoP pode ser vista como um organismo vivo [5] possuindo um ciclo de vida. Sobre esse, Wenger et. al. [7] apontam cinco etapas pelas quais uma CoP pode passar, as numa uma sequência básica:

  1. Surgem networking dispersos, com potencial para tornarem-se mais conectados e mais importantes como parte da organização – inicial;
  2. Em seguida, os membros se conectam e aderem a uma comunidade, a CoP cresce – coalescência;
  3. Quando madura, as comunidades passam por círculos de baixa e alta atividades – maturidade;
  4. Atingem a fase de manutenção dos conhecimentos e das práticas – manutenção;
  5. Por fim se transformam, encerrando suas atividades, ou se tornando clubes sociais, ou se transformando em outras comunidades, ou sendo institucionalizadas – transformação.

No decorrer destas fases de desenvolvimento, os três elementos fundamentais (domínio, comunidade e prática) se transformam e norteiam o envolvimento e a motivação dos membros. É possível que em uma comunidade, de acordo com o andamento das atividades, essas fases não se desenvolvam linearmente ou até mesmo que alguma delas não ocorra.

O avanço das tecnologias da informação e comunicação propiciou que a interação entre membros de comunidades de prática ocorra com o auxílio da mediação tecnológica, transpondo barreiras geográficas e de tempo [5, 6, 9, 21]. As chamadas Comunidades de Prática Virtuais (VCoPs - Virtual Community of Practice) têm sido utilizadas por grandes empresas como HP, IBM e Xerox, para possibilitar a interação entre seus empregados que trabalham em filiais multinacionais ao redor do globo, e assim, buscar a transferência de conhecimento entre as pessoas e a solução de problemas comuns [22].

A existência de uma CoP depende da participação de seus membros e, neste contexto a motivação é um dos principais fatores que alavanca a participação dos indivíduos porque basicamente a motivação é orientadora do comportamento humano [12, 23, 24, 25, 26].

Dessa forma, entender os motivadores psicológicos que contribuem para que os membros participem de uma CoP é fundamental para assegurar a sua manutenção [12]. O próximo item explora o conceito de motivação, bem como os fatores que a influenciam.

3.2. Motivação

A palavra motivação tem origem no latim motivus, e implica uma causa que serve para movimentar ou mobilizar algo [26]. A motivação é descrita como sendo forças internas e externas que levam o ser humano à ação [25], e é um fenômeno difuso e complexo, compondo-se de interações entre dinâmicas internas, externas, interpessoais e organizacionais [27]. Murray [24] e Lee et. al. [28] afirmam que o motivo é um fator humano interno que dá início, dirige e integra o comportamento de uma pessoa, podendo ser entendido como algo que a leva para a ação [23].

    A título de ilustração de um panorama da diversidade nos enfoques sobre a motivação, traz-se a classificação de Murray [24], que menciona teorias distintas que norteiam o conceito de motivação:

a) Teorias cognitivas: homem é racional e busca satisfação dos desejos conscientes. Por exemplo, filosofias de Platão, Aristóteles, Tomás de Aquino, Descartes, Hobbes e Spinosa.       

b) Teorias hedonistas: formulações filosóficas de que o homem procura o prazer e evita a dor e o sofrimento. Por exemplo, o modelo de excitação afetiva de McClelland.

c) Teorias do instinto: ações são moldadas pelo instinto humano. Por exemplo, a lista de instintos de McDougall.

d) Teorias do impulso: impulso à ação é derivado pelo desequilíbrio homeostático ou tensões internas e causas externas. Por exemplo, conceito de impulso homeostático cunhado por Clark L. Hull.

Além de Murray [24], Ryan e Deci [12] trazem a abordagem da teoria da autodeterminação, com enfoque que se alinha à teoria de comunidades de prática de Wenger et. al. [7]. A abordagem de Ryan e Deci [12] com relação à motivação sugere uma resposta à pergunta de pesquisa explicitada anteriormente, ou seja, como promover a motivação dos membros para a manutenção de comunidades de prática. Dessa forma, apresenta-se a seguir o trabalho de Ryan e Deci [12] que na visão dos autores do presente trabalho, pode sustentar a questão da motivação em comunidades de prática.

 3.2.1 Teoria da Auto-determinada e a teoria da integração orgânica

A visão dicotômica da motivação, classificando-a em intrínseca e extrínseca, proveniente da visão da dualidade platoniana, é uma das linhas de pesquisa na área de motivação [29].

A motivação extrínseca é movida pela satisfação indireta ou necessidades instrumentais [28, 29, 30], sendo o exemplo clássico a remuneração financeira [6], recompensa social [23] enquanto que a motivação intrínseca é a satisfação obtida pelo trabalho em si [23, 28, 31].

Nas décadas de 70 e 80, pesquisas concluíram que a motivação extrínseca, apesar de contribuir para a produtividade organizacional, pode ter um efeito negativo sobre a motivação intrínseca [25]. Estudos mais recentes indicam que a motivação extrínseca não é necessariamente incompatível com a intrínseca [23], podendo ser complementares, ou seja, em alguns casos, a motivação intrínseca pode derivar de motivadores extrínsecos [32].

Na evolução dos estudos sobre as teorias de motivação intrínseca e extrínseca, destacam-se Ryan e Deci, que delinearam no início do século 21 a teoria da autodeterminação ou Self-Determination Theory (SDT) e teoria da integração orgânica ou Organismic Integration Theory (OIT). Essas duas teorias trazem elementos da motivação intrínseca e abrem as portas para a compreensão de como as pessoas se motivam, esclarecendo os diferentes níveis de motivação [33].

Para a SDT, três necessidades intrínsecas são inatas e psicológicas a todos os indivíduos: competência, autonomia e relacionamento; e estes fatores podem estar mais ou menos presentes na ação, mas todos são fundamentais para estimular um comportamento autodeterminado [12]. Em outras palavras, para que os indivíduos estejam motivados intrinsecamente, é necessário que eles tenham um poder de escolha, uma percepção de autoeficácia e o sentimento de conexão com o grupo a que pertencem. Na Figura 2 observa-se a composição desses três fatores:

Figura 2: Teoria da Autodeterminação

Fonte: Clementi [33].

Ryan e Deci [12] relatam que as motivações intrínseca e extrínseca são multidimensionais, existindo um continuum em que um indivíduo pode estar intrinsecamente motivado, extrinsecamente motivado ou desmotivado [30]. A teoria da integração orgânica (OIT) afirma que há um processo de interiorização e integração de reguladores do comportamento baseados em motivadores extrínsecos, até que se transformem em intrínsecos [12]. Nesse sentido, a SDT e a OIT complementam as teorias de motivação intrínseca e extrínseca, e principalmente a SDT apresenta uma importante contribuição no sentido de balizar profissionais e pesquisadores no desenvolvimento de estratégias motivacionais para promover a motivação individual [33].

3.2.2. Teoria da Integração Orgânica      

Ryan e Deci [12] relatam que as motivações intrínseca e extrínseca são multidimensionais, existindo um continuum em que um indivíduo pode estar intrinsecamente motivado, extrinsecamente motivado ou desmotivado.A figura 3 apresenta um esquema sobre as diferentes dimensões da motivação humana e os reguladores relativos à motivação extrínseca, apresentados pela OIT.

Figura 3: Teoria da Integração Orgânica.

 

Fonte: Elaborado pelos autores.

A teoria da integração orgânica (OIT) afirma que há um processo de interiorização e integração de reguladores do comportamento baseados em motivadores extrínsecos, até que se transformem em intrínsecos [12].

Regulação Externa: Comportamentos são realizados para satisfazer uma procura externa ou obter uma recompensa de necessidade externa.

Regulação Introjetada: Tipo de regulamento interno, ainda bastante controlado porque as pessoas executam tais ações com a sensação de pressão, a fim de evitar a culpa ou ansiedade ou por orgulho. A forma clássica de introjeção é o envolvimento do ego em que uma pessoa realiza um ato, a fim de melhorar ou manter a autoestima.

Regulação Identificada: Ocorre quando os regulamentos ou atividades identificadas foram totalmente assimilados ao senso próprio. Isso ocorre através do autoexame e trazendo novos regulamentos e atividades em congruência com outros valores e necessidades.

Regulação Integrada: é a forma mais autônoma de motivação extrínseca. A pessoa se identifica com a importância pessoal de um comportamento e, assim, aceita a sua regulamentação, como o seu senso próprio.

Nesse contexto, observou-se que a SDT e a OIT complementam as teorias de motivação intrínseca e extrínseca, e principalmente a SDT apresenta uma importante contribuição no sentido de balizar profissionais e pesquisadores no desenvolvimento de estratégias motivacionais para promover a motivação individual [33].

4. Resultado e discussões

Nesta seção apresenta-se a temática da motivação em CoPs à luz da teoria autodeterminada (SDT), explicitando-se a intersecção existente entre a teoria da motivação e a de comunidades de prática. Apresenta-se também o papel fundamental do moderador de CoPs na facilitação do processo de interiorização e integração de reguladores do comportamento baseados em motivadores extrínsecos, até que se transformem em intrínsecos, conforme a teoria da integração orgânica (OIT) [12].

4.1 Intersecção das teorias: Comunidades de Prática e motivação

Ao analisar as três necessidades intrínsecas dos indivíduos mencionadas por Ryan e Deci [12] - competência, autonomia e relacionamento - e lançar um olhar às comunidades de prática, verifica-se que há um entrelaçamento entre as teorias de CoPs e a SDT.

Segundo Wenger et. al. [7], o modelo estrutural de CoPs apresentam três dimensões: domínio (interesse pelo tema central), comunidade (relações sociais) e prática (aplicação do conhecimento). Na intersecção com a teoria da motivação autodeterminada, observa-se três dimensões semelhantes: autonomia (poder de escolha), relacionamento (conexão com o grupo), competência (percepção da auto eficácia), conforme ilustrado na Figura 2:

Figura 4: Teoria da motivação autodeterminada no desenvolvimento das CoPs

Fonte: Clementi [33].

A constatação da existência de dimensões na CoP que atendem às necessidades intrínsecas de motivação dos indivíduos possibilita dizer que a estrutura de CoPs propicia que as pessoas se mantenham motivadas a participarem e a contribuírem com o compartilhamento de conhecimento.

Aqui é oportuna a seguinte reflexão: se a estrutura básica de CoPs favorece a motivação das pessoas, por que muitas delas não se sustentam ao longo do tempo, ou morrem logo após o nascimento?

Com base na revisão de literatura, observou-se que somente a estrutura da CoP não é suficiente para manter alto o nível de motivação dos participantes e nem para garantir sua sobrevivência (fonte). Além disso, as fases de maturidade e manutenção são carentes de estratégias explicitas, que materializem a conexão existente entre a estrutura da CoP e os elementos da motivação autodeterminada [33]. Mas, ainda que as teorias das CoPs e da SDT se mostrarem congruentes, a conexão efetiva deste elo não ocorre automaticamente.

Em busca de encontrar uma forma para desenvolvimento e aplicação de estratégias motivacionais no contexto das CoPs, verificou-se na literatura das comunidades a existência do moderador, que, encarregado pela manutenção das CoPs, pode ser o intermediário desta relação.

4.2 O desafio de motivar os membros de CoPs: a importância do moderador

A participação dos membros das Comunidades de Prática se refere ao processo de se tornar parte e também das relações com os outros que refletem este processo, portanto, sugere ação e conexão, envolve o corpo, a mente, as emoções e as relações sociais num sentido de fazer, falar, pensar, sentir e pertencer [7]. A diferença entre os membros que participam ativamente ou inativamente ainda é grande, por isso é preciso motivar os indivíduos para aumentar as chances da comunidade se tornar sustentável [34].

O compartilhamento de experiências nas comunidades é uma opção pessoal, ou seja, depende da motivação do indivíduo; este é um processo complexo, pois os interesses variam de pessoa para pessoa, como: curiosidade pelo tema, vontade de adquirir novos conhecimentos, construir uma rede de contatos, ou de aumentar o status dentro da organização [9].

Pesquisas recentes [35, 36, 37, 38, 39, 40] apontam a importância dos moderadores na gestão das CoPs, considerando que entre suas funções, consta que devem estimular a participação e o engajamento dos membros para compartilharem conhecimento.

Face ao papel decisivo que o moderador de CoPs possui no aspecto motivacional dos membros, apresenta-se a seguir a sua função na comunidade, destacando-se a necessidade de sua atuação no sentido de motivar cada membro da CoP.

4.3 Moderadores (e motivadores) de Comunidades de Prática

O moderador de uma CoP é um membro responsável pelo ambiente, onde é possível gerar informações, construir novos conhecimentos e promover sinergias que levam a transformação da realidade, ou seja, trata-se essencialmente de motivar e criar um clima agradável para facilitar a construção do conhecimento da prática [37].

O moderador é importante para o funcionamento das CoP, pois ele deve cultivar o apoio técnico, os aspectos sociais da comunidade e facilitar aprendizagem, ou seja, ele realiza diferentes papéis em diferentes fases ao longo o processo que englobam funções técnicas, organizacionais, sociais [41]. Verifica-se que moderador tem um papel importante, mas não central: se por um lado ele deve ser um guia que mantém o foco e as relações, por outro ele não deve ficar no caminho das experiências dos indivíduos [37].

Ao longo do tempo, o papel do moderador evoluiu. Na década de 1980, ele controlava os acessos, avaliava o conteúdo, disseminava as normas e viabilizava a tecnologia para a interação social; gradualmente ele passou também a promover estas relações sociais [42].

Atualmente, os moderadores exercem papel de anfitrião, facilitador e organizador da comunidade e devem ser responsáveis por orientar o projeto em relação aos objetivos estabelecidos [37]. Eles têm o potencial de reconhecer as práticas, gerar o senso de pertencimento entre os membros e facilitar as relações, neste sentido deve ter competência, credibilidade e confiabilidade [36].

É importante o moderador ser uma liderança motivadora, para assegurar a confiança entre os participantes e destes com a instituição (WILBERT et. al. 2013). A liderança adequada cultiva e sustenta um ambiente de compartilhamento de conhecimento e facilita o desenvolvimento de confiança nas comunidades [36].

Dentre as competências necessárias para os moderadores, destacam-se algumas vinculadas à atividade de motivar ou de manter a motivação do grupo em alta [40], permitindo que, a partir de estímulos fornecidos por ele (moderador), os membros da CoP possam fazer emergir a motivação intrínseca, conforme a teoria da integração orgânica: a) Fornecer um senso de pertencimento, de identidade; b) Reconhecer os participantes pelo compartilhamento do conhecimento; c) Derrubar barreiras para tornar a CoP atrativa como: falta de tempo, resistências ao compartilhamento do conhecimento, falta de comprometimento;d) incrementar a capacidade inovativa da organização por meio do gerenciamento alinhado da CoP; e) Gerenciar conflitos e confiança entre participantes; f) Atrair os membros a participação; g) Alavancar o compartilhamento do conhecimento.

Para motivar as pessoas, os moderadores eficazes têm capacidade de construir alianças, promover a confiança e encontrar formas inovadoras para incentivar a participação [36]. Além disso, o moderador pode semear conversas usando perguntas e solicitações que inspiram discussão, além de fazer perguntas, compartilhando reações nos comentários ou ideias [39].

Ainda lançando-se o olhar para o moderador de CoP como um motivador da comunidade, destaca-se que seu papel é evolutivo ao longo do ciclo de vida da comunidade:no início, as suas responsabilidades geralmente se concentram em incentivar a participação. À medida que a comunidade cresce e se torna mais ativa, o papel do moderador se deslocará para monitorar a conversa e manter o foco [39].

Conclui-se, portanto, que o moderador é um elemento catalisador da comunidade, em torno do qual a dinâmica do grupo é determinada.

 Manter uma comunidade com membros motivados é um desafio para os moderadores [5,38]. Wilbert et. al. [41] sugerem que se escolha o moderador dentre as pessoas intrinsecamente motivadas na comunidade; de fato, para que uma pessoa possa motivar outras, primeiramente ela deve estar altamente motivada.

Conclui-se que a estrutura da CoP possui elementos que favorecem o surgimento de motivação intrínseca nas pessoas. Entretanto, a sua sustentação depende que as diferentes dinâmicas entre a motivação intrínseca e extrínseca, conforme a teoria da integração orgânica explica, sejam catalisadas por estratégias de motivação. Uma dessas estratégias para motivação em CoPs é a gamificação, estudada e proposta por Clementi [33]. Contudo, qualquer que seja a estratégia, ela vai depender sempre de uma figura humana na CoP para implementar essa estratégia, e por esse motivo, a figura do moderador de CoPs torna-se essencial quando se trata de motivação em CoPs.

5. Considerações finais

Este artigo apresentou a temática da motivação em comunidades de prática. Embora as pesquisas atuais sobre comunidade de prática reconheçam a importância da motivação para o sucesso das comunidades, ainda há oportunidades de pesquisas que clarifiquem comoestimular a motivação de seus membros.

Por isso, esta pesquisa integrou as duas áreas de pesquisa: motivação e comunidades de prática. Após uma busca e revisão de literatura, a intersecção destes dois campos de pesquisa foi desenvolvida com as teorias de Wenger et. al. [7] para Comunidades de Pratica, e Ryan e Deci [12] para motivação autodeterminada - SDT.

Com base nessas teorias, observou-se qu os elementos fundamentais das CoPs – domínio, comunidade e prática -possuem uma essência motivadora, pois se referem aos elementos centrais da motivação intrínseca: autonomia, relacionamento e competência. Isso indica que a estrutura das comunidades de prática é essencialmente motivadora.

No entanto, a longo prazo, a motivação se torna um desafio para as CoPs, já que sua sobrevivência depende de participação espontânea dos membros. Assim, torna-se necessário criar mecanismos que alimentem as comunidades para que elas possam continuar existindo e progredir no domínio escolhido. É nesse ponto que as estratégias motivacionais podem ser inseridas, e o moderador, através de suas ações, pode tornar possível que a motivação nas CoPs não seja apenas um aspecto fortuito, mas sim algo que pode ser gerenciado como estratégia de manutenção de CoPs.

A constatação da existência de intersecção entre as teorias de Ryan e Deci [12] e Wenger et. al. [7] abre novos campos de investigação: por exemplo, sugere-se verificar o grau de importância do moderador por meio de estudo empírico que investigue o comportamento de CoPs sem e com moderador. Outra proposta é verificar empiricamente o perfil teórico do moderador de CoPs sugerido por Wilbert et. al. [40], posto que a literatura aponta que nem todos estão aptos a moderarem CoPs.

Recomenda-se também o aprofundamento no tema motivação nas CoPs, e para isso buscar outras teorias motivacionais com base na psicologia para esclarecer como ela norteia o comportamento humano no contexto das comunidades. Finalmente, menciona-se que é importante desenvolver pesquisas com finalidade de verificar na prática como a motivação impacta as CoPs, ou seja, desenvolver e aplicar uma pesquisa empírica de como a motivação dos indivíduos interfere no sucesso das CoPs. Pesquisas empíricas sobre diferentes estratégias motivacionais aplicadas às CoPs são imprescindíveis para aumentar o leque de possiblidades que alavanquem o sucesso dessa ferramenta nas organizações.

6. Referencias

[1] BÜSCHEL, B.; RAUB, S. (2002); Building Knowledge- creating Value Networks. European Management Journal, v. 20, n. 6, pp. 587–596.

[2] LIN, H-F. (2007); Effects of extrinsic and intrinsic Motivation on Employee Knowledge Sharing Intentions. Journal of Information Science, v.33, n.2, p. 135–149

[3] WEISSENBERG, M. A.; EBERT, D. Stitching an organisation's knowledge together communities of practice as facilitator for innovations inside an affiliated group. In: HOWLETT, R. Innovation through Knowledge Transfer 2010, Springer-Verlag Berlin Heidelberg , pp. 245-252, 2011.

[4] WANG, Z.; WANG, N. Knowledge sharing, innovation and firm performance. Expert Systems with Applications, n. 39, pp. 8899–8908, 2012.

[5] PAULINO, Rita de Cássia Romeiro. (2010); Uma abordagem para apoio à gestão de comunidades virtuais de prática baseada na prospecção de participantes ativos.222 p. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico, Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento, Florianópolis.

[6] JEON S., KIM, Y.-G., KOH, J. (2011); An integrative model for knowledge sharing in communities-of-practice. Journal of Knowledge Management, v. 15, i. 2, p. 251 – 269.

[7] WENGER, E.; MCDERMOTT, R. A.; SNYDER, W. M. (2002); Cultivating communities of practice: A guide to managing knowledge. Harvard Business Press.

[8] ZBORALSKI, K.; et. al. (2006); Organizational benefits of communities of practice: a two-stage information processing model. Cybernetics and Systems: An International Journal, v. 37, pp. 533–552.

[9] SCHMITT, Sabrina Rebelo. (2012); Fatores críticos de sucesso à manutenção de Comunidades de Prática e suas dimensões de análise. 170p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico, Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento, Florianópolis.

[10] TREMBLAY, M. A. et al. (2009); Work Extrinsic and Intrinsic Motivation Scale: Its Value for Organizational Psychology Research. Canadian Journal of Behavioural Science, v. 41, n. 4, p. 213–226.

[11] LI, R.Y; POON, S.W. (2011); Using Web 2.0 To Share Knowledge Of Construction Safety: The Fable Of Economic Animals. Economic Affairs, v. 31, I. 1, p. 73–79.

[12] RYAN, R. M.; DECI, E. L. (2000); Intrinsic and Extrinsic Motivations: Classic Definitions and New Directions. Contemporary Educational Psychology, n. 25, p.54–67.

[13] UNIVALI (2011). Produção acadêmico-científica [recurso eletrônico]: a pesquisa e o ensaio/Universidade do Vale do Itajaí. – Itajaí : [Universidade do Vale do Itajaí], 2011. 133f. Disponível em <http://www.univali.br/vida-no-campus/biblioteca/Documents/caderno_9.pdf> Acesso em 29/04/2015.

[14] VILAÇA, M. L. C. (2010). Pesquisa e ensino: considerações e reflexões. E-scrita: revista do Curso de Letras da UNIABEU Nilópolis, v. I, Número2, Mai. -Ago.

[15] KISLOV, R.; HARVEY, G.;WALSHE, K. (2011). Collaborations for Leadership. Applied HealthResearch and Care: lessons from the theory of communities of practice,v. 6, n. 64, pp. 1-10.

 [16] LAVE, J.; WENGER, E. (1991); Situated Learning: Legitimate Peripheral Participation. Cambridge: Cambridge University Press.

[17] BROWN, J. S.; DUGUID, P. (2000). "Balancing act: How to capture knowledge without killing it". Harvard Business Review.

[18] LAKSOVA, K. B.; MANN S.; DAHLGREN L. O. Developing a community of practice around teaching: a case study. Higher Education Research & Development, vol. 27, n. 2, p. 121–132, 2008.

[19] DU PLESSIS, M. (2007); The role of knowledge management in innovation. Journal of Knowledge Management, v. 11, n. 4, pp. 20-29.

[20] KILBRIDE, C. et al. Developing Theory And Practice: Creation Of A Community Of Practice Through Action Research Produced Excellence In Stroke Care. Journal of Interprofessional Care, v. 25, p. 91–97, 2011.

[21] TOMAEL, M.I. (2008); Redes de Conhecimento. Data Grama Zero - Revista de Ciência da Informação, v.9, n.2.

[22] GONGLA, P.; RIZZUTO, C.R. (2001); Evolving communities of practice: IBM Global Services. IBM Systems Journal, v. 40, n.4, pp. 842-862.

[23] COVINGTON, M. V. (2000); Intrinsic Versus Extrinsic Motivation in Schools: A Reconciliation. Current Directions in Psychological Science, v.22, n.9

[24] MURRAY, E. J. (1978); Motivação e Emoção. 4. ed. Rio de Janeiro (RJ): Zahar, 177p.

[25] VALLERAND.R.J. (2004); Intrinsic and extrinsic motivation in sport. Encyclopedia of Applied Psychology. v. 2.

[26] WERBACH, K.; HUNTER, D. (2012); For the Win: How Game Thinking Can Revolutionize Your Business. Wharton Digital Press.

[27] HARDRÉ, P. L. (2003); Human Performance Technology Beyond Two Decades of Motivation: A Review of the Research and Practice in Instructional Design and Human Performance Technology. Human Resource Development Review 2: 54

[28] LEE J. Q., et al. (2010); The relationship between future goals and achievement goal orientations: An intrinsic–extrinsic motivation perspective. Contemporary Educational Psychology n.35, p. 264–279

[29] REISS, Steven. (2012); Intrinsic and Extrinsic Motivation. Teaching of Psychology, 39(2), p.152-156.

[30] AREEPATTAMANNIL, S. et. al. (2011); Intrinsic motivation, extrinsic motivation, and academic achievement among Indian adolescents in Canada and India. Social Psychology of Education, n.14, 427–439.

[31] HAYENGA, A. O.; CORPUS, J. H. (2010); Profiles of intrinsic and extrinsic motivations: A person-centered approach to motivation and achievement in middle school. Motivation and Emotion, 34:371–383

[32] MONETA, G. B., SPADA M. M. (2009); Coping As A Mediator Of The Relationships Between Trait Intrinsic And Extrinsic Motivation And Approaches To Studying During Academic Exam Preparation. Personality and Individual Differences, n. 46, p. 664–669.

[33] CLEMENTI, Juliana. (2014); Diretrizes Motivacionais para Comunidades de Prática Baseadas na Gamificação. 199p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico, Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento, Florianópolis.

[34] BISTA, S. K. et al. (2012); Using Gamification in an Online Community. 8th International Conference Conference on Collaborative Computing: Networking, Applications and Worksharing, p.14-17.

[35] BARNETT et al. (2012); General practice training and virtual communities of practice - a review of the literature. BMC Family Practice, 13:87.

[36] BOOTH, S. E.(2012); Cultivating knowledge sharing and trust in online communities for educators. Journal Educational Computing Research, v. 47(1), p. 1-31.

[37] GAIRÍN-SALLÁN, J. et. al. (2010); Who exactly is the moderator? A consideration of online knowledge management network moderation in educational organisations. Computers & Education 55, p.304–312

[38] GOUVEA, M.T.A et. al. (2008); Promovendo o aprendizado organizacional por meio de comunidades de pratica. Revista Educação Profissional, v. 34, n.3. Rio de Janeiro: Biblioteca Tecnica Senac, pp.49-61

 [39] STEPANEK, J. et al. (2013); Facilitating Online Communities of Practice. Lessons Learned, v. 3, issue 1.

[40] WILBERT; J.K.W.; et. al. (2013); O moderador de comunidade de prática virtual em ambiente de inovação aberta: uma visão introdutória. Anais III International Congress of Knowledge and Innovation – CiKi, p. 372-385.

[41] GRAY, B. (2004); Informal Learning in an Online Community of Practice. Journal Of Distance Education Revue De L'éducation À Distance ,v. 19, n. 1, p. 20-35

[42] WHITE, R. W. Motivation reconsidered: the concept of competence. Psychological Review Vol. 66, 1959.


1. Email: rpambiental@gmail.com


Vol. 36 (Nº 20) Año 2015

[Índice]

[En caso de encontrar algún error en este website favor enviar email a webmaster]