Espacios. Vol. 36 (Nº 22) Año 2015. Pág. 12

Cibercultura, interações sociais e pós-modernidade: realidade versus virtualidade

Cyberculture, social interactions and postmodernity: reality versus virtuality

Gustavo Souza SANTOS 1; Vivianne Margareth Chaves Pereira REIS 2; Cristina Andrade SAMPAIO 3; Josiane Santos Brant ROCHA 4

Recibido: 19/07/15 • Aprobado: 23/08/2015


Contenido

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados e discussão

4. Considerações finais

Referências


RESUMO:

Com a ascensão dos computadores pessoais, da internet e o avanço das tecnologias da informação e comunicação, emergiu a cibercultura. Na pós-modernidade, tais cenários que unem sociabilidade, cultura e comunicação ganham expressividade. O objetivo do estudo foi analisar a influência da cibercultura sobre as interações sociais na pós-modernidade. A pesquisa investigou 30 sujeitos por meio de grupos focais on-line síncronos, mediante interface pública de participação, o Projeto Eu+Cibercultura. Há cenários de base sociológica, antropológica e comunicacional que, sob exame da pós-modernidade, demandam análises sistemáticas de modo a se compreender como se modela a vida e os sujeitos na contemporaneidade.
Palavras-chave: Cibercultura. Sociabilidade. Pós-modernidade.

ABSTRACT:

The rise of personal computers, the internet and the advancement of information and communication technologies made emerge cyberculture. In the postmodernity such scenarios that unites sociability, culture and communication spectres gain expressiveness. The objective of the study was to analyze the cyberculture influence under social interactions in postmodernity . The survey investigated 30 subjects through synchronous online focus groups technique through the public interface of participation, the Eu+Cibercultura Project. There are sociological, anthropological and communication scenarios that under the post modernity perspectiva requires systematic analyzes in order to understand how life and subjects are modeled in contemporary times.
Keywords: Cyberculture. Sociability. Postmodernity.

1. Introdução

Em 1984, William Gibson empregou pela primeira vez o termo ciberespaço, em sua obra de ficção científica Neuromancer (GIBSON, 2003). A narrativa de Gibson apresenta o termo como uma alucinação humana consensual, dada pela operação e interseção de dados e informações de controle computacional e partícipe de uma complexidade tecnocrática admirável. O que dista da construção ficcional do romance e a realidade experimentada na quotidianidade é apenas a trilha fantástica e idílica de um painel onde são delineadas linhas de força tecnocráticas e tecnoculturais. Com os cenários da revolução técnico-científica recente, as premissas de uma modernidade triunfante e a comunicação ressignificando as vivências diárias, o ciberespaço desponta para além de uma agremiação futurista.

O estudioso das processões do virtual e das tecnologias, Pierre Lévy (2000), afirma que o ciberespaço é o zoneamento sobre o qual está contida a humanidade hoje. A ascensão da internet, o percurso de dispositivos, a imanência da comunicação como máxima das relações humanas na contemporaneidade e a oferta de injunção funcional das tecnologias à quotidianidade cunharam essa nova e fascinante ágora. Esse objeto de atração de Lévy e de inúmeros estudiosos e entusiastas consiste na interconexão mundial de computadores sob a conexão via internet e capitaneada por informações e dados em constante fluxo ao acesso de diversos usuários enredados.

Uma torrente contínua de conhecimento em difusão sob coordenadas geográficas e roteiros cronológicos virtualizados, em uma constante veloz e de ininterrupta alimentação, uma rede, uma hiperconexão, uma tessitura global, um caso de dilúvio, a caracterização dos sonhos futuristas ficcionais materializados na moderna história humana, uma estonteante aventura técnica, comunicacional e cultural, eis narrativas sobre esse tempo e espaço escatológicos. O ciberespaço eleva-se em meio a cultura digital sem anular as culturas precedentes (oral, escrita, impressa e eletrônica), mas integrando-as (SANTAELLA, 2003) em uma plataforma de interconexão, anelo social e inteligência coletiva.

Ao entender o ciberespaço como essa ágora onde forças técnicas, dispositivos, pessoas e informações dispostas à apreensão de conhecimento, inter-relações e construção das pautas quotidianas (LÉVY, 2000), destaca-se seu potencial sociocultural. Tal qual a ágora convencional (VELLOSO, 2008), o ciberespaço privilegia formações culturais e de sociabilidade, posicionando-se como um lugar privilegiado de construções simbólicas e tipicamente humanas, expulsando visões que o condenam como arquétipo frio e artificial de uma revolução das máquinas, orientando à constituição de ciborgues e simbioses técnicas outras. Isso está a se verificar, todavia. Importa aqui destacar que as práticas culturais, de socialização, imaginário, representações e identidade desempenhadas nesse seio constituem a cibercultura.

É cadente na cibercultura a dispensa de narrativas de sociabilidade, amparada por linguagens, signos e hábitos perpetrados na quotidianidade essencialmente comunicacional (CASTRO, 2013). Trata-se de uma realidade intempestiva, factual e atrelada ao real. Os eventos do virtual caminham por elucidar práticas e costumes inscritos nas vivências dos sujeitos. Realidade e virtualidade, temas de arguição em tempos de universalização e propulsão da comunicação digital, do ciberespaço e, da cibercultura. Real e virtual antagonizados, malgrado sua rasa compreensão, estão atrelados aos roteiros vivenciais dos sujeitos. O espaço, o tempo, o corpo, a identidade, as relações se virtualizam e se tornam partícipes das léguas do ciberespaço. Um descortinar espetacular de cultura e técnica, de sociabilidade e ubiquidade, de enredamento e comunicação.

Um conto da modernidade? Ou da pós-modernidade? Findam-se as metanarrativas, atrofiam-se tradições e compromissos esmaecem. São liquefeitas as estruturas (BAUMAN, 2001; 2007), toda coisa adquire uma condição hiper, pluri ou trans (LIPOVETSKY, 2013). A cibercultura, portanto, em seu desenvolvimento instalado, acompanha os eventos da condição humana nesses tempos hipermodernos, ou, pós-modernos. Uma enseada a delinear comportamentos e anunciar rumos da condição humana, esteio do presente estudo. O palco empírico desse trabalho se dá na investigação da cibercultura e das interações sociais – e, logo, das formações culturais – que se arrolam a esse cenário tecnocultural, e nele, a caracterização pós-moderna. Um roteiro a contemplar cultura, interações sociais e comunicação face a técnica, face à contemporaneidade, face à condição humana.

Como as interações sociais são influenciadas pela cibercultura na pós-modernidade? Como os conceitos de realidade e virtualidade são contemplados pela cibercultura na contemporaneidade? O que se pode inferir sobre a cibercultura e a condição pós-moderna? Nesse sentido, analisar a influência da cibercultura sobre as interações sociais na pós-modernidade constitui o objetivo desse estudo, que ainda trafegou pela análise da cibercultura nos cenários da condição pós-moderna, através dos conceitos de realidade e virtualidade e a discussão de como a dinâmica social é afetada pelos produtos da cibercultura.

2. Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo, organizado sob a técnica de grupos focais on-line síncronos. Para compor a amostra, foram selecionados brasileiros, entre 18 e 35 anos, fazendo uso pessoal e/ou profissional da internet. A escolha deste recorte etário se justifica pelo acesso a internet e, portanto a conexão com o objeto de estudo, expressiva nesse público e suas características socioculturais de engajamento sociopolítico e cultural (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2013; 2011).

Os participantes foram recrutados através da divulgação pública da pesquisa na internet, delineando seus autos, informações sobre a coleta de dados e benefícios do estudo, denominado de Projeto "Eu+Cibercultura". Para o conclame, seleção e recrutamento dos sujeitos participantes, o projeto foi divulgado na internet por meio de site próprio contendo informações e orientações, e suporte em redes sociais. Tendo em vista a heterogeneidade participante como enriquecedora ao estudo, a seleção e recrutamento não levaram em conta o contato prévio entre os selecionados, entendendo que esse tipo de relacionamento não afetaria o desenvolvimento da coleta de dados, pautada em debates e discussões mais pontuais sem que situações de constrangimento ou reservas pessoais detivessem o fragor empírico.

A divulgação da pesquisa implicou ao interessado em fazer contato via endereço de e-mail específico, recebendo instruções prévias para aceder a um link contendo formulário de inscrição e questões filtro desenvolvidas com a ferramenta Google Docs. O formulário requereu de informações pessoais básicas e questões do tipo filtro, motivações básicas, além do atendimento aos critérios de inclusão e não-inclusão. Todas as solicitações garantiram ao candidato e depois participante selecionado, o sigilo de informações prestadas e a identificação, sendo facultado ao indivíduo divulgar ou não a participação no projeto. Os sujeitos foram ainda, motivados à participação livre de constrangimentos e inseguranças quanto à sua atividade durante a realização da pesquisa.

A inscrição de candidatos à participação no projeto não previram limite máximo, todavia, foram selecionados para integrarem o projeto o número de 30 participantes, seguindo os critérios de inclusão propostos, cabendo à equipe de pesquisa o exame e avaliação dos candidatos. Um quadro reserva de 10 participantes foi preparado para o caso de desistências. Os candidatos selecionados foram contatados através de endereço de e-mail e telefone fornecidos para a comunicação do aceite, esclarecimento de dúvidas e envio de informações detalhadas sobre a pesquisa. O treinamento do participante envolveu uma simulação à distância da coleta de dados, onde o pesquisador e o participante desenvolveram conversação usando a rede social de chat e conferência Skype (o uso do programa foi requerido no formulário de inscrição).

A escolha de um grupo de 30 participantes implicou na realização de 3 grupos focais (A, B e C), compostos de 10 integrantes, quantidade em consonância à preconização da literatura (BORDINI; SPERB, 2011; ABREU; BALDANZA; GONDIM, 2009). O processo de coleta de dados compreendeu a aplicação de um questionário para perfilamento e sondagem de hábitos virtuais dos participantes, e o desenvolvimento dos grupos focais on-line síncronos. Ambas as etapas tiveram datas, horários e duração divulgados aos participantes previamente. O questionário de perfilamento e hábitos virtuais foi composto por 20 questões que indagaram sobre dados sociodemográficos, hábitos de conexão, acesso e hábitos do participante em relação à internet, aplicado por meio da plataforma Google Docs. O roteiro adotado nos grupos focais foi composto por 5 questões semi-estruturadas cobrindo temáticas referentes à cibercultura, interações sociais on-line, hábitos virtuais, identidade na rede e outros aspectos e cenários correlatos ao tema de pesquisa. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo (BARDIN, 2007).

3. Resultados e discussão

Esta seção se divide em duas etapas: a apresentação dos resultados de perfilamento dos sujeitos de pesquisa bem como de seus hábitos virtuais básicos e a exposição discursiva dos resultados oriundos dos grupos focais online síncronos. Leituras de cenários, análises e reflexões são erigidas tendo o objeto de estudo como interlocução e o aparato teórico como lentes analíticas.

Perfilamento dos sujeitos de pesquisa e seus hábitos virtuais

O perfil sociodemográfico dos sujeitos participantes da pesquisa indica o predomínio de jovens adultos, inseridos no mercado profissional e em desenvolvimento de sua qualificação acadêmica, como se pode observar na Tabela 1:

Tabela 1 – Perfil sociodemográfico dos participantes

VARIÁVEL%

%

                                    Sexo

Feminino

62,96%

Masculino

37,04%

                Faixa etária

 

25,15 anos

100%

                Raça

 

Branca

44,44%

Negra

Parda

Amarela

Outra

18,52%

37,04%

       0%

       0%

              Escolaridade

 

Ensino Médio

Primeiro curso superior

Especialização

    3,7%

 77,78%

 18,52%

             Trabalho e estudos

 

Trabalham e estudam

Apenas trabalham

Apenas estudam

66,67%

11,11%

22,22%

A participação feminina é maior, representando 62,96% dos integrantes.  A faixa etária foi compreendida em média de 25,15 anos de idade. Quanto à raça, 44,44% se declaram brancos. A maioria dos participantes, 77,78%, está cursando seu primeiro curso de graduação. Quanto à ocupação, 66,67% conciliam atividades profissionais e estudos.

Tabela 2 – Dispositivos e acesso a internet

VARIÁVEL

%

Computadores em casa

Desktop com acesso a internet

00

55,55%

01

02

03

04 ou mais

37,05%

    3,7%

00,00%

3,7%

Desktop sem acesso a internet

00

01

02

03

04 ou mais

 88,89%

 11,11%

 00,00%                00,00%

00,00%

Notebook

 

00

11,11%

01

02

03

04 ou mais

44,44%

25,93%

14,82%

    3,7%

                        Uso de computadores

 

Computador compartilhado

Computador individual

    3,7%

 77,78%

                     Tipo de conexão à internet

Banda larga convencional

Modem 3G

Conexão discada

92,59%

 7,41%

 00,00%

                    Uso de dispositivos móveis

Smartphone

Tablet

Modem 3G

92,59%*

18,52%*

40,74%*

Dispositivo mais usado

Desktop

Notebook

Smartphone

Tablet

Consoles e outros

18,52%

29,63%

51,85%

00,00%

00,00%

*Percentuais referentes às variáveis consideradas isoladamente.

Na Tabela 2 são apresentados dados sobre uso de dispositivos e acesso a internet do público de estudo. Quanto ao tipo e quantidade de computadores de posse, observa-se maior posse de notebooks (1 unidade em 44,44%) do que computadores pessoais do tipo desktop (1 unidade em 37,05%). Os sujeitos possuem computadores apenas para uso individual (77,78%) e se conectam a internet predominantemente através de conexão banda larga convencional (92,59%). Smartphones são os dispositivos móveis mais usados, seja quando considerados entre aparelhos móveis (92,59%), seja quando comparados com aparelhos móveis ou não (51,85%).

Hábitos e consumo de conteúdo online são expostos na Tabela 3. O acesso a internet é diário (100%) e o tempo de conexão semanal declarado é de mais de 41 horas (44,44%). Entre as atividades online de maior adesão, estão o acesso a redes sociais (100%), envio e recebimento de emails (100%), conversação (100%), consulta de notícias (92,59%), vídeos e música (92,59%), pesquisas acadêmicas (77,78%), e outros. Quanto ao conteúdo consumido, redes sociais (66,66%), conteúdo noticioso (44,44%) e de entretenimento (44,44%) sempre são acessados. Conteúdo acadêmico (59,26%), jogos (62,96%) e sites de compras (48,15%) são quase sempre acessados. Blogs (33,33%) e fóruns (40,74%) quase nunca são acessados. Entre os serviços mais acessados estão o aplicativo Instagram (51,86%), o Facebook (40,74%), WhatsApp (3,7%) e YouTube (3,7%).

Tabela 3 – Hábitos e consumo online

*Percentuais referentes às variáveis consideradas isoladamente.
**Serviços não pontuados: fóruns e sites de interesse.
***Serviços não pontuados: Twitter, Flickr, Google+, Skype, LinkedIn, Pinterest, Tumblr, blogs.

 

As variáveis da Tabela 4 apresentam informações de percepção online geral em questões básicas submetidas à reflexão e opinião pessoal dos sujeitos de pesquisa:

Tabela 4 – Percepção online

Na asserção é possível desenvolver relacionamentos verdadeiros e fazer amigos na internet, 33,33% não concordam nem discordam e 25,93% concordam parcialmente. Sobre a sentença a internet em suas formas de interação, informação e comunicação trazem apenas benefícios, 37,04% não concordam nem discordam, enquanto 29,63% discordam parcialmente. Concordam totalmente que as pessoas têm se exposto muito na internet e a privacidade online tem se tornado difícil de assegurar, 51,86% dos participantes, 22,22% concordam parcialmente. Discordam parcialmente 44,44% dos participantes na sentença eu me sinto seguro (a) em compartilhar informações pessoais e relacionar-me com pessoas que não conheço na internet, porém 11,11% concordam parcialmente. Se a internet é um espaço possível de relacionamentos e socialização, 37,04% dos sujeitos de pesquisa não concordam, nem discordam e 33,33% concordam parcialmente.

Feitas as exposições sobre o perfil dos sujeitos participantes da pesquisa e conhecidos seus hábitos virtuais básicos, passa-se a apresentação e discussão dos dados oriundos dos grupos focais online síncronos. A partir das notas de campo e da análise de conteúdo, emergiram cinco categorias representativas (sociabilidade e fragor relacional, a processão de dispositivos e ferramentas de interação, percalços e promessas, conexão como navegação social e realidade versus virtualidade: o ringue cotidiano) de cinco eixos temáticos (sociabilidade na cibercultura, ferramentas de comunicação e interação online, impacto e percepção das atividades online sobre o cotidiano, conexões e dispositivos como extensões da vida comum e realidade versus virtualidade) afluentes dos dados coletados.

Em quadros são demonstradas as unidades temáticas, de registro e de contexto dos grupos focais (A, B e C) realizados, conforme análise desenvolvida. As categorias elucidam o viço do estudo e são discutidas a seguir.

Sociabilidade e fragor relacional

O fragor relacional e a sociabilidade são os espectros mais expressivos da cibercultura e do rol de produtos, interfaces e esteios que ela dispensa, tendo por substrato do ciberespaço. As infovias do ciberespaço se povoam de sujeitos que, interagindo entre si, vertem a construção de estruturas coletivas de difusão e compartilhamento de dados. Nessas estruturas se emancipam comunidades e coletividades com as quais os sujeitos desenvolvem relacionamentos, sentidos de pertença e enraízam identidades, comportamentos e atos sociais.

No tocante às interações sociais na cibercultura, aproximação e distanciamento formam uma espécie de paradoxo elogioso e ao mesmo tempo cauteloso sobre as relações desenvolvidas nessa malha social cibernética, como se pode acompanhar no Quadro 1 pelo registro do Grupo Focal A.

Quadro 1 – Categoria 1 segundo o Grupo Focal A

GRUPO FOCAL A

Unidade temática: sociabilidade na cibercultura

Unidade de registro: comunicação, relações sociais e aproximação

Unidade de contexto

Participante 1

Acredito que trazendo mais possibilidades de interação... Como isso que estamos fazendo neste momento. Vejo um grande desenvolvimento no fator aproximação, mesmo que não seja física... Mas hoje é possível manter contato e interação com pessoas de qualquer lugar do mundo em tempo real...

Participante 4

Para uma proximidade entre pessoas que estão distantes sim... Aproximadamente tbm!! Mas vejo q isso hoje interfere mto de um modo negativo no contato pessoal, pois as pessoas perdem o controle

Unidade temática: cenários negativos da sociabilidade online

Unidade de registro: comprometimento das relações sociais

Participante 2

A internet sem duvidas desenvolveu a comunicação, pois a deixou mais instantânea quando falamos a distancia... Mas percorreu um caminho contrario ao desenvolvimento em certos pontos, pois muitas vezes usamos através de redes sociais e aplicativos de celulares como WhatsApp para falarmos com quem esta próximo de nós

Participante 5

Há diversas formas pra se explorar essa questão de como se desenvolve as relações sociais através da internet! Aproxima quem está longe... Mas distancia quem está perto! Superficializa o contato físico e o olho no olho... Parece que depois dessa avalanche de comunicação online, as pessoas perderam o quanto é bonito falar as coisas pessoalmente...

Participante 9

Eu acho relativo. Existem realidades de sociabilidade autêntica, como também pode ser forjada... Nota-se que nas relações em que já existe um contato pessoal e real a interação é muito mais íntima,mesmo que virtual... Quando não se tem esse conhecimento pessoal, o virtual pode ser ilusório, fantasioso...

Um padrão similar pode ser identificado nos Quadros 2 e 3 pelos Grupos Focais B e C. Reverberações positivas sobre o impacto dos produtos da cibercultura no cotidiano, todavia com percalços delimitados:

Quadro 2 – Categoria 1 segundo o Grupo Focal B

GRUPO FOCAL B

Unidade temática: sociabilidade na cibercultura

Unidade de registro: comunicação, relações sociais e aproximação

Unidade de contexto

Participante 8

Ela [rede de dispositivos da cibercultura] serve como ponte, né? Permite estreitar relacionamentos e ao mesmo tempo permite que você conheça outros mundos.

Participante 6

A internet através das redes sociais se torna um instrumento disseminador de informações e de interatividade. As pessoas estão cada vez mais conectadas, um exemplo disso são os smartphones que da o a oportunidade das pessoas se relacionarem de onde quer que estejam. Esses aparelhos são cada vez mais tecnológicos e as pessoas estão sempre querendo mostrar através da internet o que estão fazendo e como vivem.

Participante 3

Nos tempos de hoje, a internet e as mídias digitais ganham espaço de uma forma inexplicável. Os meios fazem com que as barreiras sejam quebradas, distâncias diminuídas e nos deixam conhecer pessoas e lugares sem sair da frente do PC ou celular.

Participante 1

A internet encurta as distâncias. Mesmo com pessoas da mesma cidade, através da internet é possível manter contato independente de onde você esteja: do lado, na sala de aula, ou no outro lado do mundo.

Unidade temática:cenários negativos da sociabilidade online

Unidade de registro: comprometimento das relações sociais

Participante 9

Concordo também, apesar de que isso acaba afastando os mais próximos, pois muitas vezes deixamos de dar atenção para quem ta perto para falar com quem ta longe, o olho no olho já não acontece mais com tanta frequência. Em bares, por exemplo, é possível ver q a maioria das pessoas estão mexendo no celular em vez de interagir

Participante 3

Por esse motivo [a possibilidade de relacionamento online], as pessoas se esquecem do velho e gostoso bate papo frente a frente, um abraço e se pronunciam por meio de letras digitadas e áudios gravados, mas tudo isso nos garante mais agilidade e facilidade.

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Quadro 3 – Categoria 1 segundo o Grupo Focal C

GRUPO FOCAL C

Unidade temática: sociabilidade na cibercultura

Unidade de registro: comunicação, relações sociais e aproximação

Unidade de contexto

Participante 4

Acho que as relações sociais pela Internet têm contribuído no aspecto da proximidade nos relacionamentos, a qualquer momento podemos nos comunicar com quem quisermos.  Esse aspecto é muito positivo vista a necessidade de comunicação e interação.

Participante 8

Vejo como algo bom para a sociedade, entretanto é algo que a sociedade ainda está aprendendo a utilizar.

Participante 9

Podem ser vistas positiva e negativamente. As redes sociais,se bem usadas podem se tornar uma excelente e econômica ferramenta de comunicação interpessoais, uma vez que estas aproximam as pessoas, são, atualmente bastante utilizadas nos meios profissionais, acadêmicos, dentre outros.

Unidade temática:cenários negativos da sociabilidade online

Unidade de registro: comprometimento das relações sociais

Participante 1

Mas o problema é o uso exagerado que muitos fazem desse recurso.

Participante 3

Hoje se percebe uma grande tendência das pessoas em se tornarem "escravas" desses meios de comunicação.

Em Lévy (2000), concebe-se que a cibercultura se move por meio de um programa próprio. Tal programa se baseia nos pilares da interconexão de pessoas e dispositivos, na formação de comunidades e na inteligência coletiva. Conectados, congregados e integrados, os sujeitos vertem e se veem em um espectro onde identidade e alteridade (MOZZINI, 2014) produzem um terreno imanente de práticas sociais, culturais e identitárias (LEMOS, 2008; SANTAELLA, 2003). Estas características do programa da cibercultura (LÉVY, 2000a) e de identidade e alteridade, permitem a fecundidade relacional pontuada pelos sujeitos de pesquisa.

É reconhecido o potencial socializante das interações on-line, isto é, formas de encontro, diálogo e comunicação constroem panoramas legitimamente relacionais. Nesse âmbito, é possível inferir que as conexões possibilitam laços coesos, fazer emanar núcleos de diálogo e expressão e permitem ocorrências relacionais difusas e autênticas. A comunicação que não conhece fronteiras e se expande velozmente, todavia, não preconiza apenas odes de louvor.

As possibilidades de interconexão e sociabilidade na cibercultura carregam lacunas e incongruências observáveis nas formas de relacionamento tradicionais e outros tantos casos inéditos com os quais os sujeitos sociais se deparam e passam a lidar. Desvela-se assim, uma espécie de utopia social da cibercultura de congregar tudo e todos. Embora se observe benefícios e potenciais, há contornos ainda inexplorados. Não se sabe precisar impactos sobre privacidade, exposição pessoal, contato com desconhecidos de qualquer parte do mundo, catarses e outros fenômenos dentro de um fenômeno maior que une pessoas, conexões e dispositivos.

De acordo com a oferta dos quadros de referência dos participantes, é possível salientar três linhas gerais de compreensão:

  1. aproximação e interconexão de sujeitos e culturas;
  2. ferramentais de comunicação e interação;
  3. cenários de distanciamento, frieza e idealização de relacionamentos.

As relações on-linelevantam o estandarte da globalização em relação aos fluxos culturais, ou seja, o encurtamento de distâncias que permite uma despolarização das distâncias e o intercâmbio entre sujeitos e suas práticas, como sinalizados pelos sujeitos de pesquisa. Isso se dá por ferramentais de comunicação e interação entendidos em dispositivos, programas, aplicações e sistemas que permitem trocas simbólicas em todos os níveis e de maneira aberta e veloz. McLuhan (2002) chamou tal processo de aldeia global, um cenário de comunhão entre sujeitos e coletividades, identidades e práticas, dispositivos e pessoas.

Ao passo que os cenários oferecem um viço relacional, percebe-se certo antagonismo já que a sociabilidade on-linenão é capaz de suprir todas as necessidades de convivência e contato interpessoal cotidianas.A processão das novas formas de sociabilidade tende, em certo nível, a confrontar os indivíduos e a misturar elementos do contato pessoal físico instaurando cenários de frieza, distanciamento e idealização. Encontros cotidianos passam a ser substituídos paulatinamente, a linguagem passa a ser defectível em toda sua expressão e a convivialidade passa a ser idealizada e confundida.

Todavia, não significa que aqui se aponta uma condenação ou um estado apocalíptico dessas redes e formas de relacionamento. Tampouco se praticam elogios insólitos. No espectro de respostas dos grupos focais e à luz da literatura, delineia-se aqui que a sociabilidade e o fragor relacional da cibercultura exigem racionalidade de uso e práticas. Isto significa que a potencialidade dessa novidade socializante está atrelada a contextos nefastos e prejudiciais à ordem social.

Nos achados da pesquisa, as estruturas antropológicas do ciberespaço precisam ser pensadas sistematicamente nas esferas acadêmica e cotidiana, uma vez que a evolução técnica e comunicacional são rapidamente assumidas pelo homem como extensões. Isso não cessa de reconfigurar relações, liquefazer cenários (BAUMAN, 2001; 2007) e restabelecer construções (LIPOVETSKY, 2013), fazendo com que sujeitos e sociedade se alterem, se movam e se transmutem.

A processão dos dispositivos e ferramentas de interação

Os dados também destacam a processão de dispositivos e ferramentas de interação e comunicação online e sua representatividade no cotidiano, como se observa nos registros dos Quadros 4, 5 e 6:

Quadro 4  – Categoria 2 segundo o Grupo Focal A

GRUPO FOCAL A

Unidade temática: Ferramentas de comunicação e interação online

Unidade de registro: utilidade e interação

Unidade de contexto

Participante 8

As ferramentas de interação são fundamentais no meu dia, por que por meio delas eu interajo com amigos, familiares que moram longe, consigo informações sobre todo o mundo e sobre os assuntos do meu interesse, além de que, ser ainda a realidade do meu trabalho a interação por meio do marketing digital

Participante 5

Eu os avalio [os diversos meios de interação online] como sendo meios que facilitaram a vida em vários aspectos, principalmente em se tratando de velocidade. Porém, inicia-se uma dependência deste meio que leva a uma vida baseada mais no virtual do que no real.

Participante 2

Eu uso frequentemente e faz parte do meu dia a dia! Me cuido pra não ser algo que me domine e eu não perca a noção ao ponto de trocar [...] uma conversa para ver minhas atualizações! Faz parte de nos já [...].

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Quadro 5 – Categoria 2 segundo o Grupo Focal B

GRUPO FOCAL B

Unidade temática: Ferramentas de comunicação e interação online

Unidade de registro: utilidade e interação

Unidade de contexto

Participante 7

[...] são a forma mais rápida de se comunicar. Nossas vidas estão sendo cada vez mais abertas ao mundo, com redes sociais que nos fazem postar cada minuto do nosso dia, como fotos, textos, vídeos, ficam livres para quem quiser ver. A interatividade e rapidez dos novos meios de comunicação deixaram nossas vidas mais rápidas, transações são feitas com apenas um clique, fazendo com que nos relacionamos com pessoas que estão do outro lado do mundo em segundos.

Participante 2

Pra facilitar minha vida, meu trabalho meu serviço minhas coisas pessoais e de graça. Tbm não pago. Eu baixo todos apps até o que me lembra de beber água. [...] Amo ficar na net, já deixei de sair para ficar nela, confesso [...].

Participante 9

Também faço uso de vários deles, me são muito úteis. Mas às vezes percebo que se não coloco limites, acabam atrapalhando um pouco.

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Quadro 6 – Categoria 2 segundo o Grupo Focal C

GRUPO FOCAL C

Unidade temática: Ferramentas de comunicação e interação online

Unidade de registro: utilidade e interação

Unidade de contexto

Participante 6

Eu entendo isso tudo (esses produtos de comunicação) de uma forma muito positiva, pois existe a possibilidade de conhecermos o pensamento de diversas pessoas, seja a forma pela qual entendem, veem, interagem com o mundo. Acho isso fascinante [...].

Participante 8

Eu uso bastante alguns desses meios, e tento me policiar para não ficar totalmente dependente de tais tecnologias. Mas confesso que nos últimos meses me ajudou muito a utilização desses meios, até mesmo no meu processo de formação, por fazer um curso na modalidade EAD.

Participante 1

Embora não use todas, mas vejo com bons olhos, demonstra a criatividade inteligência, promove a comunicação e o lazer, fico pensativo quanto ao uso destes para fins negativos como invasão de privacidade e o desrespeito com o próximo.

Dispositivos, softwares, sistemas, aplicativos e produtos diversos se ajuntam na experiência cotidiana dos usuários. O acesso aos múltiplos recursos e ferramentas online modulam práticas comuns do roteiro de vida diário dos sujeitos. São extensões que agregam funcionalidades diversas às mais distintas ferramentas. A processão de dispositivos e redes faz da cibercultura um esteio de navegação social, onde os indivíduos estão presentes, vertem sua existência e ação e combinam os recursos a fim de produzir tarefas mais eficazes, reduzir distâncias, acessar serviços remotamente, obter velocidade de resposta e otimizar o ordinário.

As unidades de contexto alinhadas à essa categoria que discute o espaço dos dispositivos e programas na vida comum, salientam algumas bases com as quais é possível levantar discussões:

  1. Inseparabilidade, dispositivos e funcionalidades como extensões de vida.
  2. Facilidade e acessibilidade que melhoram o cotidiano.
  3. Percepção de invasão, excesso.

Os sujeitos de pesquisa ofereceram informações aquiescentes sobre a influência cotidiana de produtos da cibercultura. Há um senso unânime de que tal ferramental e pacote de experiências on-line/off-line já fazem parte do ordinário de vida e que já não é possível separar facilmente sua funcionalidade das atividades cotidianas. São funções, estímulos e informações que protagonizam extensões da vida dos sujeitos. As aplicações e dispositivos se tornam interfaces que guiam a experiência cotidiana do usuário com a realidade, tornando-a facilitada, subsidiada por informações úteis e construída numa dimensão on-line e off-line simultânea.

Os aparelhos celulares, aplicativos e perfis em serviços possibilitam aos sujeitos a ampliação da existência e de sua trajetória no ordinário cotidiano. Isso porque tais produtos maximizam experiências pela desmaterialização do corpo, das noções de tempo e de espaço dos sujeitos e os fazem acessar velocidades e instâncias remotas com facilidade, e em benefício, informações privilegiadas, alcances antes não possíveis e resultados considerados de alto valor, pois na concepção do usuário melhoram a vida, facilitam-na. A processão dos dispositivos permite mais do que conexões velozes e fascinantes, mas dão condições para a ampliação do sujeito por inteiro, tornando sua ação no mundo retrátil, flexível e ampliada.

A noção de "facilitadores de vida" não está associada apenas a bases sociotécnicas e inscritas somente na dimensão tecnológica ou comunicacional. Há uma evidência de que essa percepção dos sujeitos se relacione com mudanças do próprio seio sociocultural que passa a servir novos padrões de comportamento, novas buscas e ensejos por parte dos atores sociais. Nota-se uma valorização dos conceitos de facilidade, acessibilidade, controle, encurtamento, instantaneidade e intuição. Esse conjunto conceitual permeia uma série de dispositivos e aplicativos liberados constantemente no mercado e nas telas de usuários em todo o mundo, todavia, a tendência se espraia por baías mais vastas.

É notório que o pulso globalizante (MATTELART, 2000) e a ideia de aldeia global (MCLUHAN, 2002) remodelaram as formas de se conceber o mundo, de agir em torno dele e de construir a existência cotidiana em termos mercadológicos, profissionais, econômicos, socializantes e culturais. Essas transformações reverberam potencialmente nos dispositivos ligados à identidade, sociabilidade e existência (GIDDENS, 1991). Logo, indivíduos passam a manifestar novas necessidades e interesses, reproduzindo consequentemente, novos hábitos e modos de vida. É oportuno ressaltar que o ideal moderno é aqui relido, e nos pressupostos pós-modernos (BAUMAN, 2001; 2007; LIPOVETSKY, 2013), os contornos desses cenários ganham particularidades na forma como os sujeitos vivem tais fenômenos cotidianos.

Há que se destacar que embora dispositivos e funções estejam intrincados nas vivências dos sujeitos e ciosamente utilizados como auxílios oportunos, as noções de que tais produtos sejam invasivos e que seu uso tão recorrente arrefeça experiências mais tradicionais de vida são igualmente perceptíveis. Privacidade, excessos e superexposição são frequentemente discutidos e debatidos no tocante a limites e usos medidos ou adequados para os sujeitos. A reflexão divide as opiniões e colocam as percepções em situação paradoxal: os recursos são oportunos e positivos, mas sua presença passa a ser sentida como excessiva e incômoda.

O desenho da cibercultura e das interações promovidas por ela começa a fornecer um cenário mais completo de influência e experiência concreta diante dos sujeitos. Os achados aqui sugerem um estado de imanência e quase onipresença de dispositivos e sistemas, onde por menos conectado que um indivíduo prefira ser, em diversas situações comuns, ele se deparará com recursos online a que será preciso aceder e completar alguma tarefa. Nesse sentido, essa processão de dispositivos e recursos aponta para um estado onde a experiência cotidiana, os sentidos, os atos, o raciocínio e devir dos sujeitos são modelados e ampliados através de tais funcionalidades. Extensões dos sujeitos, maximização de ação e ampliação da existência podem denotar constituição dos indivíduos nos tempos da cibercultura, nos tempos do hoje.

Percalços e promessas

Na ascensão dos computadores pessoais e na insurgência da internet, o ideal de empoderamento dos indivíduos e de congregação universal erguia-se reluzente. O sonho da integração social global fluía como o espetro mais vívido da modernidade arrojada e tecnicista. Todavia, os bons anelos de sociabilidade e de inovação, aquecidos pela máxima de McLuhan (2002) de uma aldeia global, além de promessas redentoras, figuraria percalços instalados nessa mesma modernidade insólita.

Os resultados apontam para um cenário cambiante entre promessas e percalços ante a emergência da cibercultura, delimitados nos Quadros 7, 8 e 9:

Quadro 7 – Categoria 3 segundo o Grupo Focal A

GRUPO FOCAL A

Unidade temática: Impacto e percepção das atividades online sobre o cotidiano

Unidade de registro: vantagens e desvantagens

Unidade de contexto

Participante 3

A vantagem é que podemos ter várias informações a mão! Uma das grandes desvantagens que eu vejo é o tempo que as vezes se perde... Acabamos ficando desfocados...

Participante 5

Outra grande vantagem é o acesso a informação de maneira geral... O que também muitas vezes pode se tornar um risco a medida que não se aprofunda nos temas... A grande tendência de ler só o título da notícia e depois querer discorrer sobre o tema como grande conhecedor...

Participante 9

Sim... Assustadoramente sim [as relações online estão modelando as relações não online]! Mudanças consideráveis na forma de agir, relacionar...

Da surpresa dos avanços e da acessibilidade de informação e comunicação à mão, à procrastinação e a modulação das relações off-line pelas on-line, experiências dos sujeitos sociais vão se tornando aclaradas.

Quadro 8 – Categoria 3 segundo o Grupo Focal B

GRUPO FOCAL B

Unidade temática: Impacto e percepção das atividades online sobre o cotidiano

Unidade de registro: vantagens e desvantagens

Unidade de contexto

Participante 7

A internet em geral se tornou parte da minha vida, como dito anteriormente. Portanto, como tudo que faz parte de sua vida, passa a existir uma dependência. Eu dependo da internet em diversos aspectos. Me criei com ela, e obviamente, no primeiro momento, passaria por apertos sem ela. Esse 'aperto' vai do aspecto funcional à abstinência. Por exemplo, posso ler livros, fazer pesquisas, ouvir músicas e conversar com quem preciso de maneira rápida através da internet. Isso é uma vantagem. Porém, ao mesmo tempo, um problema, como faria sem ela? Teria que me deslocar até uma biblioteca. Ou comprar CDs. Ou ligar, enviar cartas, ir até a casa de meus amigos. Sou dependente dela neste ângulo, e a dependência não é uma coisa boa, eu acho.

Participante 2

Tudo na vida tem seu lado positivo e negativo, bem como a internet. Pela facilidade de comunicar e interatividade, acaba que não temos mais o afeto de uma conversa face a face, mas por outro lado temos mais rapidez. A internet me deixou mais a vontade para falar com amigos e parentes que estão distantes, e tudo isso de uma forma muito barata. Isso tudo acaba mudando a nossa vida cotidiana, ficamos expostos e ao mesmo tempo livres.

A quotidianidade desenhada pela cibercultura delineia hábitos, formas de se expressar e agir. Vantagens, utilidades, necessidades e desvantagens se misturam para produzir o modus vivendi e operandi no ciberespaço.

Quadro 9 – Categoria 3 segundo o Grupo Focal C

GRUPO FOCAL C

Unidade temática: Impacto e percepção das atividades online sobre o cotidiano

Unidade de registro: vantagens e desvantagens

Unidade de contexto

Participante 4

Realizo pesquisas na área e tenho visto/lido o quanto a internet tem contribuído para o desenvolvimento cognitivo, interacional dessas pessoas. [...] Nunca havia parado para pensar nos impactos da internet na minha vida, a utilizo como uma coisa comum, que já faz parte do meu cotidiano, sem ponderar o quanto ela me auxiliou, transformou, enfim. Percebo que ela alterou minha forma de viver, pois tenho necessidade de me comunicar constantemente, publicar fotos, textos, conversar. [...] Não me considero um viciado em internet, pois não deixo de sair para ficar conectado, acho horrível, ambientes em que as pessoas, mesmo se encontrando, não deixam de lado seus celulares. Assim, a internet e seus produtos, auxiliam as pessoas, sem dúvida, precisa-se, no entanto, usá-la com inteligência e criticidade.

Participante 2

Vejo pessoas mais acomodadas, que às vezes ficam na frente do PC por várias horas, mas não sabem do que se passa ao seu redor ou no mundo.  Na verdade estão sempre prontas para os desafios virtuais, mas tem medo de encarar a vida real.

Participante 8

[...] Já fiz entrevista de emprego. Hoje uso mais para fins acadêmicos, mas claro que converso com amigos e para lazer. Tem sido uma ótima ferramenta... A vida ficou mais pratica.

A organização social se entrecruza com as diversas funcionalidades da cibercultura. É possível assim, indicar os produtos e miríade de ferramentas online como atreladas à vida regular dos sujeitos, como participante de seu agir social, como acoplada ao seu devir. Isso significa que a ação social e cotidiana empreende sempre novos modelos e reflexos de atividade graças à cibercultura. Não se trata de um fenômeno alheio e olvidável das operações humanas comuns. Mas crescem formas e modos de vida autenticamente sociais e intricados nos cenários on-line.

Entende-se assim, que as interações sociais ante a cibercultura não se classificam dentro de um quadro anômalo, mas de um contexto original e fluido de processamento social, cultural, humano. Tampouco significa aqui que uma realidade paralela e distante do corriqueiro se manifesta. Não se trata de duas realidades opostas, e sim equidistantes. Os roteiros da cibercultura se imiscuem dos cenários cotidianos amplamente, não como uma força perniciosa e usurpadora da humanidade, mas como efeito histórico, conjuntural e contextual de humanidade, técnica e existência.

A malha social é off-line e on-line. Não há uma separação. Há a complementaridade funcional, isto é, prospectos próprios que as operações on-line possuem e instâncias específicas das operações off-line. E como produto de fluxos e relações, instabilidade, conflitos, choques, percalços são sentidos, assim como benefícios, avanços e bons prognósticos. O achado mais expressivo sugerido pelos resultados reside na participação dos produtos da cibercultura na vida cotidiana, revelando formas e modos de vida mais complexos e férteis para fenômenos entre virtuais na quotidianidade. Em outras palavras, esses cenários fazem parte da vida dos sujeitos, integram-nos, compõem sua experiência vivencial.

Conexão como navegação social

            A conexão se tornou uma forma de navegação social, vide resultados nos Quadros 10, 11 e 12:

Quadro 10 – Categoria 4 segundo o Grupo Focal A

GRUPO FOCAL A

Unidade temática: conexões, dispositivos e extensões para a vida comum

Unidade de registro: conectividade, vício e utilização

Unidade de contexto

Participante 1

Eu acho que estou num momento de admitir que estes aparelhos tomaram uma parte grande demais...passou do limite. Estou na fase de tentar remediar o que se tornou vicio.O difícil pra mim é o saber dosar... Por que de fato, não dá pra abrir mão das ferramentas hoje...Uma geração dispersa e inquieta eu diria... Olhos fixos numa tela,mente perdida em infinitas informações... Rasas muitas vezes

Participante 6

Infelizmente já não ha como viver sem...

Participante 8

Sinceramente me sinto nu sem meu celular!

Dispositivos se tornam extensões e interfaces para a realidade.

Quadro 11 – Categoria 4 segundo o Grupo Focal B

GRUPO FOCAL B

Unidade temática: conexões, dispositivos e extensões para a vida comum

Unidade de registro: conectividade, vício e utilização

Unidade de contexto

Participante 2

Vital.

Participante 4

O mundo está cabendo em nossos bolsos! Celulares, tablets e outros apetrechos fazem com que nossas vidas sejam mais rápidas. Em minha vida, o celular e computador faz com que eu fique mais antenado, notícias chegam a mim mais rapidamente, o trabalho fica mais fácil com os celulares e aplicativos, o convívio com amigos e familiares fica mais próximo. De qualquer forma, a tecnologia está ao nosso lado, evoluindo a cada dia, nos deixando mais ligados a tudo ao redor.

Participante 6

Confesso que hoje sou multi dependente da tecnologia... Entre todas o celular é o que sou mais dependente, já faz parte de mim. Através dele resolvo todos os meus problemas como entrar em contato com as pessoas, acesso a contas, pesquisas, redes sociais...

Participante 8

Poxa... Esses aplicativos até eu não ter achava tudo uma palhaçada, depois do primeiro, queremos sempre os mais atualizados, os que têm mais funções. Enfim, sou dependente desses aplicativos. Quando a internet está fora do ar, ou não tenho créditos me sinto a pior pessoa do mundo. Hoje o acesso facilitado faz com que estejamos mais próximos de pessoas e das coisas... O grande problema é o vicio.

Participante 9

Ameniza as tristezas da vida, às vezes tenho nada pra fazer vou pra net, fuço tudo. Tbm até coisas q não me convém, mas gosto de ficar na net prq gosto, as vezes leio coisas que me acrescenta as vezes não e por aí vai. tenho necessidade está online o tempo todo tenho amigos e coisas nela tbm, trabalho com a net e é por isso q to o tempo todo.

A conexão passa a desempenhar um papel importante de inserção, realização social e inserção. Uma pulsão existencial para o cotidiano.

Quadro 12– Categoria 4 segundo o Grupo Focal C

GRUPO FOCAL C

Unidade temática: conexões, dispositivos e extensões para a vida comum

Unidade de registro: conectividade, vício e utilização

Unidade de contexto

Participante 1

É meio que uma extensão do nosso corpo, pois quando estou triste ou abatido, procuro através deles (dispositivos) na internet, coisas para animar e motivar. Quando estou alegre ou tenho algum êxito, geralmente compartilho, digamos que faz bem pro ego, receber elogios e felicitações pelas conquistas. Na indignação, também posto, como forma de alertar as pessoas e expressar descontentamento. É algo que alivia, sentir-se ouvido, mesmo que na prática, nem todos se solidarizem ou manifestem.

Participante 4

Para mim a tecnologia é muito importante, mas não acho q é impossível viver desconectado, e até acho e as pessoas q vivem assim devem ser mais felizes rsrs. [...] Prova disso é quando queremos relaxar, o que fazemos é desligar o celular e etc...

Participante 9

[...] Facilitam nossa vida, deixando ela mais rápida, porém às vezes essa "correria" toda nos deixa estressados e ligados o tempo todo. a internet vicia sim, e quem não a utiliza de forma coerente corre o serio risco de ter essa "doença" [vício em internet].

As conexões permitidas pela internet são pervasivas, sencientes e ubíquas. Tais características técnicas se anelam a características de propensão cultural. Os sujeitos têm na conectividade um instrumento com o qual podem existir, verter seu ser e estar, construir relações e construir a si mesmos. Uma imanência é criada e não se trata daquela da processão de dispositivos e sistemas, e sim uma imanência da conexão como meio de posicionamento do devir humano.

Com a conectividade inúmeros laços são estabelecidos entre indivíduos, informações, fluxos e espaços. É uma forma de diluir a própria existência e nela, acessar raias mais amplas. Tem-se assim, um modo particular de navegação social, de pontuar identidades, de dispensar signos e discursos. Com conexões, acessa-se uma modalidade singular de liberdade e, portanto, de retratos de subjetividades.

Os resultados postulam um paradoxo:

  1. Conexões como fator de integração, construção de si e intercâmbios culturais.
  2. Conexões exacerbadas ou intensas, isto é, hiperconexão, estados de dependência.

Conectados e hiperconectados, dois estados distintos emulando e sustentando novas formas de sociabilidade. Esta pervasividade e necessidade de conexão e acesso gestão e modelam novos hábitos, saberes e práticas. O que aqui se indica é um cenário de cenários que deve ser estudado, particularizado e observado ciosamente.

Realidade versus virtualidade: o ringue cotidiano

Com a novidade da vida em rede, das conexões, dos fluxos digitais, da experiência on-line e da inserção da cibercultura no dia-a-dia, tornou-se natural o fomento de um embate que tem por ringue o cotidiano: a oposição entre realidade e virtualidade. Os Quadros 13, 14 e 15 salientam:

Quadro 13– Categoria 5 segundo o Grupo Focal A

GRUPO FOCAL A

Unidade temática: realidade versus virtualidade

Unidade de registro: real, virtual e relações.

Unidade de contexto

Participante 2

Passada! O virtual está substituindo o real. [...] Viraremos robôs. [...] Mas mesmo assim tenho medo... Pq meus pais e avós nunca tiveram contato com a internet e hj isso faz parte de mim

Participante 5

Internet = caminho sem volta. O ser humano deve se humanizar rsss e usar o resto como ferramenta.

Realidade é entendida no conjunto de práticas e vivências off-line, sem qualquer ligação ou dependência de meios virtuais para se processar. Há a ideia de que tudo o que não evoque dimensões virtuais, seja a realidade em vias de fato. Tanto o é assim que, a virtualidade é entendida em todos os projetos e atos por meio de redes, sistemas e dispositivos on-line, não compreendidas como realidade de fato e sim como uma possibilidade mediada e não autêntica de se vida, gerando-lhe oposições de defesa sociológica.

Quadro 14 – Categoria 5 segundo o Grupo Focal B

GRUPO FOCAL B

Unidade temática: realidade versus virtualidade

Unidade de registro: real, virtual e relações.

Unidade de contexto

Participante 4

Eu posso estar errado, mas não consigo mais separar as duas coisas. Não vejo mais o virtual como algo perigoso [...].

Participante 7

Acho q ta substituindo, mas isso depende da pessoa que usa, tem gente q prefere manter um contato cara a cara, porém são poucas as pessoas, a interação na maioria das vezes fica prejudicada [...], na maioria dos bares e restaurantes vc não vê mais as pessoas falando entre ai só nos celulares. [...]Vi em uma propaganda inclusive uma marca de cerveja gaúcha que criou aquele suporte de garrafa de cerveja q quando coloca a garrafa ativa um negócio q bloqueia a internet nos celulares p ver se o povo interage mais

Participante 8

Sim acho, acho que todo mundo tá envolvido nisso e já não tem mais por onde fugir, onde vc vai o primeiro assunto é o mundo virtual, ninguém ver nada ao vivo mais, ver só na net... Sim a net ta ditando como devemos viver. Sim de fato está roubando.

Por vezes o que é virtual, por transformar e ressignificar algumas práticas comuns, é taxado como usurpador da realidade, condição nefasta da humanidade, fator de soçobramento das práticas sociais e culturais. Entretanto, algumas elaborações apontam que um uso desordenado ou um conjunto de dilemas humanos é que fazem com que os ensejos virtuais sejam considerados nocivos.

Quadro 15 – Categoria 5 segundo o Grupo Focal C

GRUPO FOCAL C

Unidade temática: realidade versus virtualidade

Unidade de registro: real, virtual e relações.

Unidade de contexto

Participante 3

Acho que substitui a realidade no que tange a personalidade da pessoa, muitos veem nesses ambientes uma oportunidade de se camuflarem e ser aquilo que não são.

Participante 4

[...] As crianças não sabem jogar futebol se não for pelo vídeo game, cada dia menos vemos crianças puxando um carrinho, porque tem que ser de controle remoto... O mesmo acontece com as relações de amizade. Acho que em alguns casos já há essa substituição do real pelo virtual.

Participante 9

Sim, infelizmente o virtual tem tomado o lugar da realidade, isso é perceptível nas redes sociais, sempre estão todos sorridentes e felizes como se o mundo só fossem flores. Ou então expõem sua vida particular, seus problemas a milhares de seguidores como forma de desabafo ou para "ganhar fama" [...] Também se tem a grande vantagem da grande movimentação q a internet pode fazer com a nação, vimos isso claramente nos protestos #vemprarua!

Embora não acha relação de oposição entre real e virtual, como ensina Lévy (2000), um confronto se estabelece nas intempéries e desarranjos sociais ou culturais observados pelos sujeitos ou em fenômenos que se complexificam diante da temática. Queixas sobre a frieza das relações e a evanescência de diversas facetas da vida são frequentes. Novos padrões de comportamento são notados, como catarse, exposição de si e privacidade. Uma série de aspectos que nublam a compreensão dos dispositivos e sistemas como apenas veículos de inovação técnica.

Pode-se entender o embate real versus virtual nos conflitos instaurados por novos padrões de sociabilidade perpetrados pela interconexão e pelas redes. Estranhamentos e temores tomam muitos sujeitos sociais na justificativa de um apagamento das relações e interações sociais tradicionais, genuínas e cálidas. Há uma tensão no tocante a transformação completa dos modos de vida em módulos virtuais e distantes do contato face a face ou da convencionalidade corriqueira dos relacionamentos.  Uma narrativa obscura da cibercultura é contada tendo como trama o entorpecimento do real pelo virtual.

É preciso chamar atenção para os achados:

  1. Torpor da virtualidade
  2. Realidade usurpada
  3. Transformação radical da vida social e da cultura

Esse entorpecimento sociocultural supostamente perpetrado pela virtualidade em detrimento da realidade se justifica em uma série de casos noticiados e repercussões cotidianas observadas pelos atores sociais. Mazelas da vida on-line revelariam dimensões tórridas da cibercultura, caracterizando-a mais como um malefício moderno do que um bem em si. A realidade seria pouco a pouco usurpada para dar vazão a fábulas do cotidiano e fantasias subjetivas em uma espécie de terror pós-moderno. E assim, uma transformação radical – e talvez irreversível – da vida social e da cultura estaria instalada.

Toca a este trabalho pontuar que ao passo que já se observem transformações substanciais em termos sociais e culturais, esse cabedal de mudanças compõe uma série de eventos de desenvolvimento técnico recente. Isto é, as inovações técnicas são relativamente recentes e os desdobramentos de seu uso e apropriação estariam em uma fase de incubação, portanto, de aprendizado, entendimento e interpretação. Os novos hábitos diante da oferta do ciberespaço ainda se entrecruzam ante a percepção e adesão dos sujeitos. Mesmo na vida pública, o usufruto de produtos da cibercultura ainda não é totalizante. Nesse ínterim, tem-se um quadro de experiências graduais.

Em tempos pós-modernos, é pertinente salientar que uma série de fatores incorre na ordem social para modificar estruturas e renovar conceitos (HARVEY, 2005; HALL, 2006). Não apenas a vida privada é afetada, mas a vida pública igualmente. Realidade e virtualidade compõem paradigmas da própria indagação filosófica sobre o devir humano na contemporaneidade. Assim, o ringue do real versus virtual amplia-se em extensões maiores ligados a bases antropológicas e filosóficas da vida em sociedade e do homem per si. O homem como animal político e social na pregação aristotélica é, indubitavelmente, um animal mais complexo pelo fulgor histórico e técnico, sendo um animal comunicacional e outras platitudes ainda a figurar e definir.

4. Considerações finais

A cibercultura é uma realidade factual da vida social. Realidade esta que transformou formas de se pensar e processar práticas sociais e culturais. Em seus produtos, sinais expressivos de novas configurações de sociabilidade e ativação humanística. Noções de identidade, alteridade, subjetividades, pensamento e devir em cliques, acessos e interações. Sob o edifício pós-moderno, encaram-se sujeitos fragmentados, diluições e volatilidades que dizem respeito a um cenário contemporâneo de ressignificação.

No ciberespaço, o anima social é pleno. Verte sua essência, constrói relacionamentos, interage e existe cambiante, fluido, ágil e pervasivo, tal qual a conexão pela qual acessa redes sociais, sistemas e programações integradas com todo o mundo. Nos achados do estudo, observou-se a processão de dispositivos e redes como instrumentos de vida e a conexão como uma forma de navegação social, caracterizando sujeitos pareados entre vida on-line e off-line.

Chamou a atenção do estudo a franqueza dos sujeitos participantes ao descrever as relações que desenvolvem com a internet e suas múltiplas expressões. Salientou-se não apenas experiências objetivas e visões, mas o testemunho pessoal, a experiência cotidiana, por vezes catártica a que essas novas formas de comunicação os permitem. Nesse sentido, a pesquisa foi exitosa ao atingir o âmago dos depoimentos dos sujeitos sobre dimensões axiais da práxis social.

Há que se destacar ainda que coexistem promessas e percalços nos predicados do ciberespaço. Se por um lado ferramentas e funções fazem do mundo uma aldeia global, por outro, nuvens encobrem os méritos de interconexão, dispensando padrões de comportamento questionáveis. Na perspectiva dos sujeitos, as interações sociais são profundamente influenciadas e reconfiguradas. Isto significa apontar os produtos da cibercultura e sua influência como estopins para uma série de ineditismos no tocante ao devir dos sujeitos.

O método de pesquisa pública pelo Projeto Eu+Cibercultura permitiu ao estudo uma organização sistemática e isenta de erros, tornando o trabalho ágil e confiável nos trâmites de uma pesquisa de selo qualitativo e de campo. A técnica de grupos focais online síncronos permitiu com que o estudo se aproximasse do objeto de estudo de um modo singular, sendo parte do próprio objeto, ali representado nas interações online. No tocante à condução do estudo, o percurso metodológico adotado permitiu o alcance dos objetivos e o atendimento de sua proposta, estimulando ainda o uso da técnica em estudos posteriores afluentes desta temática principal.

Por limitações do estudo, pode-se posicionar aqui que esse tipo de estudo necessita de explorações sistemáticas de diversos espectros metodológicos a fim de se testar as teorias e levantamentos feitos. Além disso, a pesquisa qualitativa por sua caracterização própria não permite uma amostra numerosa, o que pode oferecer uma lacuna analítica à proposta. Está claro, assim, que esse estudo é estímulo para desenvolvimentos e elaborações complementares. O tema é vasto, sua incursão é certeira e sua relevância trafega não só nas instâncias das Ciências da Comunicação, mas na Sociologia, Antropologia e Filosofia.

Constatou-se que a dinâmica social é afetada pela cibercultura e que os cenários pós-modernos são o terreno de desenvolvimento dessa premissa. Premissa essa que evoca o combate epistemológico entre realidade e virtualidade. Um confronto que se estabelece no empoderamento dos sujeitos no seio online, na emancipação de identidades e coletividades, no fragor catártico, na sociabilidade e no cenário tecnocultural que torna a internet e as tecnologias da informação e comunicação campos fascinantes de processamento humano. 

Referências

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1. Mestrando em Geografia (Unimontes). Docente (FIPMoc), pesquisador e designer instrucional (CEAD/Unimontes), Montes Claros, Brasil, gustavo.ccpv@gmail.com
2. Doutoranda em Ciências da Saúde (Unimontes). Docente (Funorte) e pesquisadora (CEAD/Unimontes), Montes Claros, Brasil, viola.chaves@yahoo.com.br
3. Doutora em Ciências da Saúde (UnB) e docente (Unimontes), Montes Claros, Brasil, sampaio.cristina@uol.com.br
4. Doutora em Ciências do Desporto (UTAD), docente (FIPMoc e Unimontes) e pesquisadora (CEAD/Unimontes), Montes Claros, Brasil, josianenat@yahoo.com.br


Vol. 36 (Nº 22) Año 2015

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