Espacios. Vol. 37 (Nº 01) Año 2016. Pág. E-2

Capacidade Absortiva Individual: Uma Perspectiva com Alunos de Administração

Individual Capacity Absorptive: A Perspective with Administration Students

Eduardo Robini da SILVA 1; Fernanda Pauletto D'ARRIGO 2; Juliana FURLAN 3; Paula Patricia GANZER 4; Pelayo Munhoz OLEA 5; Fabiano LARENTIS 6; Eric Charles Henri DORION 7; Cristine Hermann NODARI 8; Adrieli Alves Pereira RADAELLI 9; Cleber Cristiano PRODANOV 10

Recibido: 28/08/2015 • Aprobado: 23/09/2015


Contenido

1. Introdução

2. Referencial Teórico

3. Método de Pesquisa

4. Análise dos Resultados

5. Considerações Finais

6. Referências Bibliográficas


RESUMO:

A capacidade absortiva é definida como o processo de aquisição, assimilação, transformação e exploração do conhecimento, com a intenção de criação de valor para as pessoas e empresas. O objetivo da pesquisa foi analisar a capacidade absortiva no nível individual nas dimensões de aquisição, assimilação, transformação e exploração. O método de pesquisa possui natureza aplicada, com abordagem quantitativa, com objetivos exploratório e descritivo. Como procedimento técnico, foi utilizado o levantamento de dados por survey. Os resultados indicaram que, no nível individual, a aquisição e a assimilação do conhecimento são duas dimensões identificadas do processo de forma independente. A dimensão da transformação e exploração é percebida de forma integrada, onde simultaneamente o indivíduo transforma e explora o conhecimento.
Palavras-chave: Capacidade absortiva. Capacidade absortiva individual.

ABSTRACT:

The absorptive capacity is defined as the process of acquisition, assimilation, transformation and exploitation of knowledge, with the intention of creating value for people and businesses. The objective of the research was to analyze the absorptive capacity at the individual level in the dimensions of acquisition, assimilation, transformation and exploitation. The research method has applied nature with a quantitative approach with exploratory and descriptive purposes. As technical procedure was used data collection by survey. The results indicated that, at the individual level, the acquisition and assimilation of knowledge are two dimensions identified as independently process. The size of the transformation and exploitation is perceived in an integrated manner where both the individual transforms and exploits knowledge.
Keywords: Absorptive capacity. Individual absorptive capacity.

1. Introdução

O interesse pela capacidade de absorção das firmas tem crescido a partir do estudo de Cohen e Levinthal (1990), que definiram capacidade de absorção como a capacidade de uma organização para reconhecer o valor de novas informações e conhecimentos, assimilá-los e aplicá-los para fins comerciais. Pesquisas na área da capacidade absortiva têm se concentrado principalmente no nível da empresa, em uma revisão da literatura sobre a capacidade de absorção, Volberda, Foss e Lyles (2010) chegaram à conclusão de que o nível individual antecede o organizacional e é negligenciado na literatura.

Volberda, Foss e Lyles (2010) afirmam que é necessário um entendimento claro sobre o papel que os indivíduos desempenham em efetivamente absorver conhecimento externo. Cohen e Levinthal (1990) abordam a capacidade de absorção, em que os indivíduos são vistos posicionados em frente e assim permitem que as organizações aprendam com as fontes externas de conhecimento, e isso depende de transferências de conhecimentos através de fronteiras ambientais e das subunidades dentro da empresa.

Corroborando com Cohen e Levinthal (1990), Flatten et al. (2011) afirmam que para que a capacidade absortiva resulte em um melhor desempenho é necessário que a empresa desenvolva a habilidade de reconhecer o valor de novos conhecimentos, bem como sua assimilação e aplicação para o mercado. O avanço tecnológico requer que organizações utilizem a integração tanto de conhecimento externo quanto interno para obter vantagem competitiva, desta forma estão habilitadas a explorar novas descobertas e conhecimentos para evoluir seu desempenho (Flatten et al., 2011).

O artigo possui as questões estruturadas conforme as dimensões da capacidade absortiva, de acordo com os conceitos de Zahra e George (2002), formadas pela aquisição, assimilação, transformação e exploração. Estas dimensões são divididas e descritas em quatro fases que juntas habilitam as empresas a explorar novas descobertas e conhecimentos, e servem como capacidade intangível crucial para aumentar a perfomance da empresa, inovar e ser uma fonte de importante vantagem competitiva.

O objetivo da pesquisa foi analisar a capacidade absortiva no nível individual. Para o alcance dos objetivos propostos foi realizada uma pesquisa quentitativa, com objetivo s exploratório e descritivo, o procedimento o procedimento técnico utilizado foi uma survey com alunos do curso de Administração de uma instituição de Ensino Superior da Serra Gaúcha, a técnica utilizada para a análise dos dados foi a estatística, com análise descritiva e análise multivariada, por meio da análise fatorial.

Quanto a estrutura do artigo, o mesmo está organizado em cinco seções, incluindo a introdução. Na segunda seção, segue descrito o referencial teórico, com a base conceitual da capacidade absortiva e capacidade absortiva a nível individual. Na terceira seção, é descrito o método de obtenção e análise dos dados, onde são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa para o alcance dos resultados. Na quarta seção, seguem os resultados da pesquisa, onde são analisados e discutidos. Na quinta seção, seguem as considerações finais da pesquisa, onde são descritas as conclusões, frente ao objetivo da pesquisa, as limitações da pesquisa e sugestão de pesquisas futuras.

2. Referencial Teórico

2.1 Capacidade absortiva    

Os primeiros estudos sobre a Capacidade Absortiva (ACAP) são do final da década de 80 e início de 90, os primórdios desta teoria foram discutidos por Cohen e Levinthal (1990). Inicialmente o conceito da capacidade absortiva foi apresentado como a capacidade para identificar, assimilar e aplicar o conhecimento do ambiente externo. A Figura 1 apresenta o modelo de capacidade absortiva de Cohen e Levinthal (1990).

Figura 1 - Modelo da ACAP

 


Fonte: Adaptado de Cohen e Levinthal (1990).

Cohen e Levinthal (1990) descrevem que a capacidade de absorção está relacionada com a maneira pela qual uma organização desenvolve rotinas e processos para internalizar e aplicar o conhecimento externo. Porém, nota-se uma maior pesquisa após os anos 2000 com as contribuições de Lane, Salk e Lyles (2001), Zahra e George (2002).

Zahra e George (2002) enfatizam que a capacidade absortiva é uma série de rotinas organizacionais e processos estratégicos. Kim (1997a; 1997b) definiu como capacidade de aprendizagem e solução de problemas das empresas. Este conceito inspirou uma pesquisa sobre o tema da transferência de conhecimentos.

Reconhecer e adquirir a informação externa são importantes, mas segundo Zahra e George (2002) esta informação, depois de reconhecida, deve ser incorporada e transformada. Eles dividem a capacidade absortiva em duas dimensões, combinadas em dois subconjuntos: capacidade absortiva potencial (potential absorptive capacity – Pacap) formada pela aquisição e assimilação; capacidade absortiva realizada (realized absorptive capacity – Racap) formada pela transformação e a exploração. A Figura 2 demonstra o modelo de ACAP de Zahra e George (2002).

Figura 2 - Modelo da ACAP


Fonte: Zahra e George (2002).

A definição da capacidade absortiva traduz a habilidade da organização em primeira fase, identificar o conhecimento técnico e científico disponível no ambiente externo que possui três atributos que podem influenciar ACAP, intensidade, velocidade e direção (ZAHRA; GEORGE, 2002).

A segunda fase refere-se às rotinas e processos que a empresa tem e que permite analisar, processar, interpretar e entender o conhecimento externo, internalizando-o. Neste sentido a compreensão promove a assimilação do conhecimento, que permite a organização processar e internalizar o conhecimento externamente gerado (Zahra; George, 2002).

Assimilação lida com os processos, os hábitos, os métodos e as rotinas da empresa o que leva a uma efetiva avaliação, processamento e compreensão das informações capturadas a partir fontes externas (Kim, 1997a, 1997b; Szulanski, 1996). Esta capacidade está enraizada na compreensão dos indivíduos para a interpretação do conhecimento. Esta fase de ACAP está mais próxima ao nível individual do que ao coletivo.

A habilidade da empresa de reconhecer conjuntos de informações e então combiná-los para chegar a um novo esquema representa a capacidade de transformação, ou seja, a aptidão da organização na transformação desse conhecimento em algo útil para a sociedade (Zahra; George, 2002 p. 190). Zahra e George (2002) sugeriram que esta dimensão "denota a capacidade de uma empresa para desenvolver e refinar as rotinas que facilitam a combinação de conhecimentos existentes e o recém-adquirido e assimilado conhecimento".

A exploração refere-se à capacidade da organização baseada nas rotinas que permite refinar, expandir e alavancar as competências existentes, possibilitando a criação de novas, através da incorporação e transformação do conhecimento adquirido externamente (Cohen; Levinthal, 1990; Zahra; George, 2002). Esta fase tem sido tradicionalmente considerada como a mais relevante, quando Cohen e Levinthal (1990, p. 128) afirmaram que "os funcionários devem ser capazes de aplicar o novo conhecimento externo para fins comerciais", isto sugere que, as outras fases não levam a exploração do conhecimento.

Neste ponto da discussão, enfatiza-se a divisão do construto da capacidade em duas dimensões (capacidade absortiva potencial e capacidade absortiva realizada), não significou, no trabalho de Zahra e George (2002), a realização de testes estatísticos que as validassem. Foram os trabalhos subsequentes como, de Jansen, Van den Bosch e Volberda (2005), Camisón e Forés (2009) e Flatten et al. (2011) que buscaram essa validação.

Segundo Wang e Ahmed (2007), a capacidade absortiva é um dos componentes das capacidades dinâmicas, e refere-se à habilidade da organização em reconhecer o valor de novas informações externas, assimilando-as e aplicando-as.

Godolphim (2013) em estudo com as micro e pequenas empresas indicou que há uma correlação significativa entre a capacidade absortiva, a orientação para o mercado e o desempenho das empresas. No entanto, segundo Flatten et al. (2011), para que a capacidade absortiva resulte em um melhor desempenho é necessário que a empresa desenvolva a habilidade de reconhecer o valor de novos conhecimentos externos, bem como sua assimilação e aplicação no mercado.

Para Flatten et al. (2011) o que faz da capacidade absortiva uma importante fonte de vantagem competitiva é o fato de que as quatro dimensões de Zahra e George (2002) habilitam as empresas a explorarem novas descobertas e conhecimentos para aumentarem a performance da organização. Flatten et al. (2011) propuseram a validação dos construtos através de uma escala norteadora para muitos trabalhos recentes que avalia o grau de comprometimento da empresa com as quatro dimensões propostas por Zahra e George (2002) para fins comerciais e obtenção de vantagem competitiva. 

De acordo com Lee e Wu (2010, p. 124) "o conhecimento por si só não é suficiente. Uma empresa precisa ter ferramentas para explorar e se apropriar desse conhecimento incorporado nas novas inovações organizacionais". Isto significa que a aquisição e assimilação pode trazer conhecimento, mas não garante que ele será transformado e explorado eficientemente.

Todorova e Durisin (2007) buscam integrar as visões de Cohen e Levinthal (1990) e as de Zahra e George (2002), propondo uma variável moderadora chamada de "Regimes de Apropriação". Para os autores, a visão de Cohen e Levinthal (1990) sobre a capacidade absortiva era uma questão de acesso, enquanto para Zahra e George (2002), de proteção.

Todorova e Durisin (2007) afirmam que o conhecimento tanto precisa ser acessado como protegido, ambas as visões estão corretas e devem fazer contexto da capacidade absortiva, portanto, estas demarcações de registros e patentes, proteções intelectuais e termos de restrição, entre outros aspectos são aspectos que controlam o acesso ao conhecimento para organização, mas que simultaneamente atuam como uma ação protetora que permite à organização regular a exposição e oferecimento do seu conhecimento ao ambiente.

O autor não discutiu o nível individual para a capacidade absortiva conforme Cohen e Levinthal (1990), que afirmam que o desenvolvimento da capacidade absortiva de uma organização é sustentado pelo investimento nas capacidades de absorção dos seus membros.

Enquanto a construção da capacidade de absorção foi aplicada principalmente ao nível da empresa, seus fundamentos teóricos residem nas estruturas cognitivas individuais (Cohen; Levinthal, 1990). Capacidade de absorção é baseada em agentes individuais que se engajam na resolução de problemas e atividades de aprendizagem que são agregadas aos níveis de grupos e organizações.

Ao enfatizar o desafio de assimilar novos conhecimentos ao conhecimento existente da organização, Lane e Lubatkin (1998) discutem, em um primeiro momento, o paradoxo entre o conhecimento externo e interno na organização. De acordo com os autores, o conhecimento externo é susceptível de ser incompatível com o conhecimento interno, pois não é formulado no jargão interno da companhia e não se alinha com nenhuma categoria já existente.

Nesse sentido, Cohen e Levinthal (1990) já discutiam a respeito da necessidade das organizações contarem com uma equipe interna de especialistas, competentes em suas áreas e que estejam familiarizados com as necessidades, procedimentos, rotinas, recursos e relacionamentos organizacionais para que possam interpretar determinadas classes de conhecimentos tecnológico, complexo e sofisticado e as integrá-las com êxito nas atividades da organização.

Cohen e Levinthal (1990, p. 134) afirma que "um componente crítico (...) para certos tipos de informações, tais como aqueles associados com a inovação de produto e processo, muitas vezes é específico da empresa e, portanto, não pode ser comprado e rapidamente integrado na empresa". Em outras palavras, é somente quando os indivíduos fazem o esforço para assimilar o conhecimento externo com conhecimento interno e processos que o potencial de conhecimento externo pode ser realizado e, portanto, traduzido em novos produtos, processos e serviços (Zahra; George, 2002).

Existe uma preocupação em relação à capacidade absortiva na dimensão individual que embora a fundação do conceito baseia-se nas teorias de aprendizagem individual (Cohen; Levinthal, 1990), a teoria raramente foi investigada e testada a nível individual (Volberda et al., 2010; Zahra; George, 2002; Lane et al., 2006). Cohen e Levinthal (1990) afirmam que a tarefa de trazer, processar e utilizar o conhecimento externo em organizações acaba por recair na figura dos indivíduos.

Cohen e Levinthal (1990) utilizaram da terminologia "capacidade de absorção" para a capacidade geral de indivíduos, grupos e empresas de reconhecer o valor de novas informações, escolher o que adotar, e aplicá-lo para a inovação. "A capacidade de absorção das empresas depende dos indivíduos que permanecem na interface tanto da empresa quanto do ambiente e externo ou na interface entre as subunidades dentro da empresa" (Cohen; Levinthal, 1990, p. 132).

Allen (1977) trouxe a ideia de Gatekeeper, que são pessoas que capturam e difundem o conhecimento, para ajudar na transferência de informação entre os limites da capacidade de absorção da organização.

Com base na literatura de Cohen e Levinthal e os indícios levantados sobre a importância do indivíduo no processo de aquisição e assimilação, pode-se definir a capacidade de absorção do nível individual como o nível de esforço que os indivíduos comprometem-se a identificar o conhecimento externo, assimilá-lo e utilizá-lo. Embora reconheçamos que antecedentes organizacionais desempenham um papel crucial na determinação de capacidade de absorção no nível da empresa, os esforços individuais constituem importantes blocos de construção da capacidade de absorção (Foss et al., 2011; Volberd et al., 2010).

3. Método de Pesquisa

Quanto ao método, a pesquisa é caracterizada por abordagem quantitativa (HAIR et al., 2005), com objetivo exploratória (Gil, 1996) e descritiva (Appolinário, 2011). Gil (2010) afirma que a pesquisa exploratória tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema. Neste caso, a etapa exploratória ocorreu com a aplicação de técnica estatística multivariada de análise fatorial, que não somente descreve os resultados, mas que os interpreta.

Na pesquisa descritiva o pesquisador se limita a "descrever o fenômeno observado, sem inferir relações de causalidade entre as variáveis estudadas" (Appolinário, 2011, p. 147). Na etapa descritiva, o objetivo foi mensurar a amostra da pesquisa para fins de caracterização.

A pesquisa utilizou como procedimento técnico de levantamento, o método survey de coleta de dados. Para Bryman (1989) e Figueiredo (2004) a pesquisa survey busca dados ou informações sobre ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas, indicado como representante de uma população-alvo.

Por meio de um instrumento de pesquisa, é coletado sistematicamente um conjunto de dados quantificáveis, a respeito de um número de variáveis, que são então examinadas para discernir padrões de associação. Por esta razão, foi desenvolvido um instrumento estruturado de coleta de dados, aplicado junto aos alunos de Graduação e Pós-Graduação em Administração em uma instituição de Ensino Superior da Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul.

O instrumento de pesquisa foi formado por questões compondo as quatro dimensões referentes ao conceito de capacidade absortiva de Zahra e George (2002), entretanto esta pesquisa objetivou mensurar a capacidade absortiva na dimensão individual dos alunos de um curso de Graduação em Administração. Por esta razão, o instrumento de coleta de dados foi adaptado do trabalho de Godolphim (2013) e Machado (2014) que retratam a capacidade absortiva nas organizações. Ambos os autores utilizaram como base teórica no desenvolvimento da escala o estudo de Flatten, Greve e Brettel (2011).

O instrumento de pesquisa envolve 14 variáveis, sendo dividas conforme as dimensões da capacidade absortiva, segundo Zahra e George (2002). Assim, foram estruturadas: aquisição (três variáveis), assimilação (quatro variáveis), transformação (quatro variáveis) e exploração (quatro variáveis). Para validação do questionário no nível individual, o mesmo foi submetido para três especialistas, os quais refinaram o questionário a fim de melhorar a compreensão dos respondentes e suas experiências na dimensão individual, conforme ilustrado no Quadro 1.

Quadro 1 - Questionário validado capacidade absortiva na dimensão individual

Dimensão

Variável

Descrição da variável

Aquisição

AQ1

Busco informações relevantes aos meus estudos como uma atividade cotidiana.

AQ2

Meus professores me incentivam a usar diferentes fontes de informação.

AQ3

Meus professores esperam que eu busque informações em outras fontes, além das transmitidas em sala de aula.

Assimilação

ASS1

Em meu dia a dia, as ideias e conceitos apreendidos em aula são utilizados também em outras atividades da minha rotina.

ASS2

Os professores incentivam a interação e o debate entre a turma para a resolução de problemas.

ASS3

Na sala de aula existe um fluxo de informações entre os alunos e o professor.

ASS4

Meus professores promovem debates e discussões para a troca de informações e desenvolvimento de novos conhecimentos.

Transformação

TRANS1

Tenho a habilidade para estruturar e utilizar o conhecimento adquirido.

TRANS2

Estou acostumado a absorver novos conhecimentos, bem como utiliza-los para outras atividades cotidianas.

TRANS3

Tenho habilidade em articular o conhecimento já existente com novas ideias.

TRANS4

Sou capaz de aplicar os novos conhecimentos em meu dia a dia.

Exploração

EXPL1

Empenho-me no desenvolvimento de novas maneiras de fazer as minhas atividades

EXPL2

Regularmente reconsidero novas maneiras de fazer as minhas atividades de acordo com os novos conhecimentos que adquiro

EXPL3

Tenho habilidade de trabalhar/estudar com mais eficiência adotando novas maneiras de fazer as minhas atividades.

Fonte: Elaborado pelos autores.

As variáveis da escala de capacidade absortiva foram montadas através da escala Likert de sete pontos, variando de "discordo totalmente" a "concordo totalmente", sendo o número 1 o ponto mais baixo (discordo totalmente) e 7 o ponto mais alto (concordo totalmente). Observa-se, no Quadro 1, que o instrumento está dividido em quatro grupos de afirmações, assim formadas: assimilação, aquisição, transformação e exploração.

A análise dos dados foi feita por estatística multivariada, por análise fatorial exploratória. A análise fatorial visa identificar os construtos ou dimensões básicas relacionadas aos dados e para produzir o número de dimensões de análise (Kumar, Aaker, Day, 1999).

4. Análise dos Resultados

A amostra da pesquisa foi composta por 113 alunos do curso de Administração de uma Universidade localizada no Estado do Rio Grande do Sul, 58% dos entrevistados estão matriculados em cursos de Pós-Graduação e 26% estão matriculados no primeiro semestre da Graduação, conforme ilustrado na Figura 3.

Figura 3 - Caracterização da amostra

Fonte: Elaborado pelos autores.

Com o objetivo de analisar os dados quantitativos da pesquisa, foi realizado o teste Kolmogorov-Smirnov de cada variável questionada com o objetivo de identificar se os dados são normais. Assim pode-se identificar a distribuição de probabilidade dos dados, pois as variáveis com distribuição normal são simétricas em torno da média, e também da moda e da mediana (Giacomello, 2009).

Por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov pode-se perceber que os dados apresentam simetria positiva, indicando a normalidade dos dados obtidos. Dados normais diminuem a chance do pesquisador de cometer erros estatísticos (Osborne, 2002).

Para testar a consistência geral dos dados, foi utilizada a medida de adequação da amostra de Kaiser-Mayer-Olkin (KMO) (Hair et al., 2005) que possibilita identificar se o modelo de análise fatorial que está sendo utilizado está adequadamente ajustado aos dados. Para que a amostra seja mais adequada à aplicação da análise fatorial é necessário que o resultado da KMO seja próximo de 1. Na análise, o resultado dos valores de KMO dos fatores foi de 0,826 onde as amostras mostraram-se adequadas para a aplicação de análise fatorial (KMO > 0,5) (Hair et al., 2005).

No primeiro passo da análise fatorial, analisou-se a comunalidade dos indicadores. Na análise das comunalidades, Hair et al. (2005) indicam que sejam excluídas variáveis que apresentem o índice de comunalidade inferior a 0,5, e por isso as variáveis AQ1 (0,368) e ASS1 (0,483) foram retiradas da análise. Após a exclusão das variáveis, a análise fatorial foi executada novamente. A segunda rodada da análise fatorial foi adotada o critério de carga fatorial mínima de 0,5 em cada um dos fatores, já que se trata de uma análise exploratória, de acordo com a Tabela 1.

Tabela 1 – Comunalidade

Variáveis

Extração Inicial

Extração Final

AQ1

0,368

-

AQ2

0,73

0,720

AQ3

0,625

0,764

ASS1

0,483

-

ASS2

0,653

0,640

ASS3

0,718

0,801

ASS4

0,708

0,725

TRANS1

0,67

0,659

TRANS2

0,541

0,522

TRANS3

0,671

0,737

TRANF4

0,7

0,702

EXPL1

0,653

0,651

EXPL2

0,688

0,679

EXPL3

0,657

0,614

Fonte: elaborado pelos autores.

Com as comunidades alinhadas prosseguiu-se a análise fatorial. A mesma resultou em três fatores que explicam 68,45% dos dados. Para facilitar a interpretação dos fatores, utilizou-se o método de componentes principais com rotação ortogonal de fatores, a rotação Varimax (Tabela 2), o que minimiza o número de variáveis com cargas altas sobre um fator (Malhotra, 2006, Kumar; Aaker; Day, 1999) através da maximização das variâncias das cargas dos fatores (Johnson; Wichern, 2002). Isso identifica que a matriz de correlações é adequada à técnica de análise escolhida.

Tabela 2 - Matriz de componente rotacional

VARIÁVEIS

CARGAS FATORIAIS

NOME DO NOVO FATOR

ALPHA DE CRONBACH

FATOR 1

FATOR 2

FATOR 3

AQ2

 

 

,823

FATOR 1: ADQUIRIR

0,707

AQ3

 

 

,868

ASS2

 

,757

 

FATOR 2: ASSIMILIAR

0,707

ASS3

 

,889

 

ASS4

 

,730

 

TRANS1

,798

 

 

FATOR 3:

APLICAR

0,898

TRANS2

,676

 

 

TRANS3

,810

 

 

TRANS4

,817

 

 

EXPL1

,770

 

 

EXPL2

,811

 

 

EXPL3

,740

 

 

Fonte: elaborado pelos autores.

Definidos e renomeados os fatores, realizou-se a análise do Alpha de Cronbach de cada novo fator, conforme a Tabela 2, com a intenção de medir a confiabilidade da consistência interna dos fatores gerados (Kline, 2005).  Segundo Hair et al. (2005), o ideal é que o Alpha de Cronbach tenha resultado acima de 0,7. Entretanto em pesquisas exploratórias este valor pode diminui para 0,6.  No quadro 1 também é possível perceber que o Alpha de Cronbach de três fatores ficaram acima ou perto do valor ideal.

No fator um, foram atribuídas as variáveis da aquisição nomeadas AQ2 e AQ3 e o fator foi renomeado para ADQUIRIR. O fator dois teve as variáveis da assimilação ASS2, ASS3 e ASS4 incorporadas e o fator foi renomeado para ASSIMILAR. Por fim, o fator três teve um agrupamento das variáveis de transformação e exploração TRANS1, TRANS2, TRANS3, TRANS4, EXPL1, EXPL2 E EXPL3 e o fator foi renomeado para APLICAR.

5. Considerações Finais

O objetivo da pesquisa foi discutir as dimensões da capacidade absortiva (aquisição, assimilação, transformação e exploração) do conhecimento adotando o nível individual de análise. Utilizou-se como base teórica a perspectiva de Zahra e George (2002), uma vez que estes autores apontaram as quatro dimensões acima citadas. Ao adaptar as questões do nível organizacional e aplicá-las a indivíduos para observar como os alunos adquirem, assimilam, transformam e exploram conhecimentos específicos do ambiente organizacional, os resultados seguiram parcialmente as definições de Zahra e George (2002).

Os resultados da pesquisa indicaram que a aquisição e a assimilação são dimensões distintas, dentro do grupo da Capacidade Absortiva Potencial (PACAP). Até este ponto o conhecimento é percebido e interpretado pelo indivíduo, os novos conhecimentos são compreendidos e não aplicados, por isso a denominação "potencial" defendida por Zahra e George (2002).

As dimensões referentes a Capacidade Absortiva Realizada (RACAP), a qual envolve a transformação e exploração do conhecimento nas atividades não seguem as definições de Zahra e George (2002). Os resultados desta pesquisa mostraram que, ao se observar a dimensão individual da capacidade absortiva, a dimensão da transformação e exploração do conhecimento é percebida ao passo que o indivíduo transforma o conhecimento, após a assimilação, ele já o explora ao aplicá-lo em suas atividades.

Ao analisar o resultado da pesquisa, traz-se à discussão a abordagem de Cohen e Levinthal (1990), capacidade absortiva utilizados como base teórica por Zahra e George (2002) na construção das dimensões da ACAP. Cohen e Levinthal (1990) defendem a capacidade absortiva como a capacidade para identificar, assimilar e aplicar o conhecimento do ambiente como três fatores.

A pesquisa contribui para os estudos de capacidade absortiva ao passo que discute as dimensões em nível individual, identificando que, neste nível os indivíduos não reconheçam a transformação como algo independente e separado da capacidade de absorção, conforme defendido por Zahra e George (2002).    

Uma limitação da pesquisa é a composição da amostra, tendo em vista que o estudo foi aplicado a alunos do curso de graduação, pode-se questionar se os resultados seriam diferentes quando aplicados a profissionais atuantes no mercado. Como proposta de pesquisas futuras, sugere-se uma segunda explicação para este resultado, aplicado em uma amostra diferente, como profissionais liberais atuantes no mercado de trabalho ou a um grupo de trabalhadores da indústria, comércio e serviços quando expostos a novos conhecimentos.

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1. Aluno de Mestrado em Administração na Universidade de Caxias do Sul (PPGA/UCS). E-mail: dederubini@gmail.com
2. Mestranda em Administração na Universidade de Caxias do Sul (PPGA/UCS). E-mail: fernanda.darrigo@yahoo.com.br
3. Aluna de Mestrado em Administração na Universidade de Caxias do Sul (PPGA/UCS). E-mail: juli.furlan2@gmail.com
4. Doutoranda em Administração na Universidade de Caxias do Sul (PPGA/UCS). E-mail: ganzer.paula@gmail.com
5. Doutor em Administração de Empresas pela Universitat Politècnica de Catalunya. Professor da Universidade de Caxias do Sul (PPGA/UCS) Universidade Feevale. E-mail: pelayo.olea@gmail.com
6. Doutor em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor do PPGA/UCS. E-mail: flarenti@ucs.br
7. Doutor em Administração de Empresas pela Université de Sherbrooke. Professor da Universidade de Caxias do Sul (PPGA/UCS) e

Universidade Feevale. E-mail: echdorion@gmail.com
8. Doutora em Administração pela Universidade de Caxias do Sul. Professora da Universidade Potiguar. E-mail: cristine.nodari@gmail.com
9. Aluna de Doutorado em Administração na Universidade de Caxias do Sul (PPGA/UCS). E-mail: adrieli.radaelli@gmail.com

10. Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo - FFLCH/USP. Professor da Universidade Feevale. E-mail: prodanov@feevale.br


 

Vol. 37 (Nº 01) Año 2016
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