Espacios. Vol. 37 (Nº 02) Año 2016. Pág. 14

Concepções epistemológicas nas organizações: A metáfora dos sete pecados capitais na administração

Epistemological concepts in organizations: The metaphor of the seven deadly sins in the administration

Marise SCHADECK 1; Denize GRZYBOVSKI 2; Luis Adriano RODRIGUES 3; Zélia Maria MIREK 4

Recibido: 02/09/15 • Aprobado: 24/10/2015


Contenido

1. Considerações Iniciais

2. A epistemologia aplicada à administração das organizações

3. A metáfora e sua gênese

4. Os sete pecados capitais

5. Considerações finais

Referências


RESUMO:

Este artigo tem por objetivo apresentar a nova metáfora dos sete pecados capitais, buscando a compreensão sobre os conceitos para definir uma concepção epistemológica. Restringe-se este artigo aos conceitos desenvolvidos por Aristóteles, Pêcheux e Morgan como podem contribuir na área da administração, os sete pecados capitais, epistemologia da Administração, definição de metáfora, usos, funções, terminologia associada e diferenciação de analogia. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica nos estudos publicados. Os resultados apontaram que tais estudos estão contribuindo com a Administração, pois por meio principalmente porque se pode obter um maior entendimento de características da área de administração.
Palavras-chave: Epistemologia; Metáfora; Pecados Capitais

ABSTRACT:

This article aims to present the new metaphor of the seven deadly sins, seeking the understanding of the concepts to define an epistemological conception. This article is restricted to the concepts developed by Aristoteles, Pêcheux Morgan and how they can contribute in the area of administration, the seven deadly sins, Directors of epistemology, metaphor definition, uses, functions, associated terminology and differentiation of analogy. Therefore, it held a literature search of published studies. The results showed that these studies are contributing to the Administration for through mainly because they can get a greater understanding management area characteristics.
Keywords: Epistemology; Metaphor; Deadly Sins.

1. Considerações Iniciais

A escolha do tema concepções epistemológicas e a metaforização dos sete pecados capitais, prende-se ao fato do mesmo ser atual e relevante, porque atinente às práticas administrativas que devem ser observadas e analisadas nas organizações.

Nas palavras Savater (2006, p. 10), os sete pecados capitais "são a expressão da ética social e comunitária usada pelo Cristianismo para tentar conter a violência e tornar saudável a conflituosa sociedade medieval".

Os referidos pecados transcenderam a ideia de que servem para vetar alguns comportamentos agressivos, tendo sido alvo de penitência pela Igreja Católica por muitos anos, e que objetivou, no seu uso, determinar certa pacificação ou certa conduta e diminuição ou contenção de determinadas ações. Savater (2006) explica que, em determinadas sociedades e/ou culturas, é possível transferi-los metaforicamente a qualquer ação humana, tanto pessoal como profissional. No entanto, não se encontrou estudos no Brasil a respeito da temática no contexto das organizações empresariais (SCHADECK, 2014).

De acordo com Morgan (1996, p.16) "Usamos a metáfora sempre que tentamos compreender um elemento da nossa experiência em face de outro". Segue o autor esclarecendo que todo processo metafórico apresenta um procedimento comparativo. Isso gera uma busca automática em o sistema de conhecimento do ser humano, algo inerente e próprio da espécie, que deseja atribuir uma semelhança entre A e B, que viabilize a metáfora (MORGAN, 1996).

A partir dessa base Morgan (1996, p. 17) revela "Usando diferentes metáforas para entender o caráter complexo e paradoxal da vida organizacional, somos capazes de administrar e planejar organizações de formas não pensadas como possíveis anteriormente".

Declarações metafóricas propostas para análise nesta pesquisa estão relacionadas ao sentido comum, um conhecimento óbvio para todos, geralmente limitados por domínios de saberes relacionados aos processos de socialização do sujeito, evidenciando a influência das ideias passadas no passar de gerações, crenças e costumes.

Para dar resposta a problemática evidenciada, propôs-se como objetivo geral do estudo, abordar a metáfora dos sete pecados capitais, buscando a compreensão sobre os conceitos e funções para definir concepções epistemológicas.

A metodologia utiliza a pesquisa bibliográfica, de cunho qualitativo. Nesse sentido foram tomados como base para este estudo teórico-reflexivo autores, tais como: Chevalier e Loschak (1980), Glynn et al. (1994), Jacobina (2000), Serva, Dias e Alperstedt, 2010, Aristóteles (1983), Morgan (1996) Savater (2006), Pêcheux (1997), dentre outros.

O referencial foi construído a partir dos conceitos de epistemologia e metáfora pesquisados na literatura revisada. Por fim, discorre-se sobre epistemologia e metaforização dos sete pecados capitais aplicados à Administração das organizações.

Diante disto, constatado que há uma necessidade harmônica enquanto aspecto físico e psíquico, este estudo busca dilucidar, no âmbito profissional, nas organizações de trabalho, como organizações sociais, a interação de um grupo de indivíduos que, como integrantes da mesma, estabelecem entre si relações que determinam o desempenho de papéis diferenciados. As novas formas de organização do trabalho nas empresas estão levando os trabalhadores a inserirem-se a contínuas e cada vez mais relações interpessoais complexas, tema que tangencia a presente revisão de literatura.

2. A epistemologia aplicada à administração das organizações

Por epistemologia entende-se a ciência do conhecimento definida como o conjunto de conhecimentos que têm por objeto o conhecimento científico, visando a explicar os seus condicionamentos (sejam eles técnicos, históricos ou sociais, sejam lógicos, matemáticos, ou linguísticos), sistematizar as suas relações, esclarecer os seus vínculos, e avaliar os seus resultados e aplicações (SEVERINO, 1996).

Japiassu (1991) se refere a três tipos de epistemologia, quais seja a epistemologia global ou geral - quando se refere ao saber globalmente considerado, seja este especulativo ou científico; a epistemologia particular - quando se relaciona a um campo particular do saber, seja este especulativo ou científico; e a epistemologia específica - quando se refere ao estudo próximo, detalhado e técnico da organização, do funcionamento e das possíveis relações que uma disciplina, enquanto unidade de saber científico, mantém com outras disciplinas.

Morin (1991) ao explicar como um grupo de cientistas adere a um paradigma, não obstante a ampliação operada no conceito de paradigma continua a utilizá-lo para analisar a ciência e suas transformações, trabalhando insistentemente a oposição entre o paradigma da disjunção e o paradigma da complexidade. Assim, em busca da concretização da transdisciplinaridade científica e filosófica, proporcionando a interação entre fenomenologia, dialética e teoria dos sistemas e as obras de Cornelius Castoriadis, René Girard e Ivan Illich, ele "reforça a construção desse paradigma emergente (o paradigma da complexidade) e delineia a ideia de autonomia - conceito esse relacionado à reação dos indivíduos à padronização excessiva colocada pela sociedade" (SERVA; DIAS; ALPERSTEDT, 2010, p. 2).

Varela (1989, s.p.), partindo da ideia de um programa que programa a si próprio, conceitua então a autopoiese. Ele buscou esclarecer

[...] o seu mecanismo de auto-organização a partir da lógica de funcionamento interno dos sistemas autoprodutores, relacionando auto-organização com autonomia. A partir disso, o conceito de autonomia supõe a ideia inicial de um comportamento próprio, ou seja, de um sistema se definindo a partir de seus próprios comportamentos e em seguida ensejando a interação com o ambiente para dar conta da sua identidade.

Morgan (1996, s.p.) entende que "a interação de um sistema com seu ambiente é um reflexo e parte de sua própria organização, o que leva ao entendimento de que o ambiente não está dissociado do sistema, sendo, na verdade, parte dele". Sendo assim, a ideia de complexidade deve dar conta do paradoxo autonomia e dependência sem se apoiar na exclusão de qualquer desses termos. Como consequência, segundo Morin (1982, p. 77), "[...] temos de aprender a pensar conjuntamente ordem e desordem. Sabemos vitalmente trabalhar com o acaso [...]".

A complexidade reapareceu com o advento da cibernética e da teoria da informação. Para alguns pesquisadores, a palavra "complexidade" associada ao respectivo paradigma ainda é sinônimo de complicação, de emaranhado. Mas o que fica claro é que esse conhecimento não se reduz a uma mera complicação: ele é profundo e apareceu por diversas vezes na história da filosofia. A complexidade se traduz no problema da dificuldade de pensar, uma vez que o pensamento é um combate com ele próprio, com e contra a lógica, com e contra as palavras, com e contra os conceitos (SERVA; DIAS; ALPERSTEDT, 2010, p. 5).

A partir de Estudos Organizacionais desenvolvidos por Burrel e Morgan (1979) observam-se quatro paradigmas (funcionalista, humanista radical, estruturalista radical e interpretacionista), dois deles de abordagem subjetivista: o interpretacionista e o humanista radical; e dois de abordagem objetiva: o funcionalista e o estruturalista radical. Os mencionados autores consideram clara a oposição paradigmática, como, por exemplo, a comparação entre o paradigma interpretacionista e o funcionalista.

O paradigma interpretacionista questiona o objetivismo do funcionalismo e se propõe buscar sua superação. Enquanto para os funcionalistas as organizações são objetos tangíveis, concretos e objetivos, ou seja, de abordagem instrumentalista, os interpretacionistas veem as organizações como processos que surgem das ações intencionais do ser humano, individualmente ou em harmonia com outras intenções. Para esse segundo grupo, a realidade social se constitui de uma rede de representações complexas e subjetivas, uma vez que essas diversas intenções interagem para interpretar o mundo e dar sentido a ele (VERGARA; CALDAS, 2005).

Peci (2006) ao estudar a teoria neoinstitucional identifica os processos de interação entre as organizações no campo organizacional como conscientes, mas percebe evidente o distanciamento entre essa perspectiva e o construtivismo social, que se dá no nível inconsciente (BERGER; LUCKMANN, 2001).

Os paradigmas se opõem, principalmente ao conceberem, cada um ao seu modo, a natureza da organização. "O funcionalista adota a concepção sistêmico-sincrônica, teleológica, não histórica, harmônica e integrativa; o paradigma crítico baseia-se nas concepções sociológica, dialética, histórica, desmistificadora, 'acionalista' e emancipadora" (SERVA, M.; DIAS, T.; ALPERSTEDT, 2010, p. 5).

Serva (1992, s.p.) publica estudo indica alguns temas que podem ser explorados nos estudos sobre organizações com base na epistemologia da complexidade:

  1. o enriquecimento da percepção da relação ambiente-organização, ampliando o conhecimento sobre a construção da identidade organizacional e revelando com mais clareza as formas de influência das organizações sobre o ambiente;
  2. a compreensão da 'contraprodutividade', com base na análise dos distúrbios do funcionamento interno dos sistemas autoprodutores, como alternativa à opção pela análise tradicional das disfunções da burocracia;
  3. nas teorias da administração pública, o emprego da lógica paradoxal e da discussão do binômio autonomia-dependência na análise da relação entre as esferas pública e privada que marcam o cotidiano das organizações e empresas públicas;
  4. a consideração da 'desordem' (ruídos, eventos inesperados, crises, conflitos etc.) como dimensão inegável das organizações, aperfeiçoando os conhecimentos sobre mudanças organizacionais e evitando o reducionismo do recurso único à abordagem da mudança planejada;
  5. a análise das organizações da economia social, do terceiro setor, ou ainda das organizações 'alternativas' e 'coletivistas', cuja realidade é marcada pela confluência de racionalidades e lógicas opostas, como a lógica do mercado e a lógica da solidariedade.

A epistemologia da complexidade é indicada por Chanlat e Séguin (1983), para utilização nos estudos organizacionais e na própria epistemologia da administração. Dentre as contribuições potenciais da epistemologia inerente ao paradigma da complexidade para a epistemologia da administração e a teoria das organizações, "entende-se que a adoção de paradigmas da ordem e de paradigmas da desordem numa perspectiva de complementaridade seria, ao mesmo tempo, a maior contribuição e o seu maior desafio" (SERVA; DIAS; ALPERSTEDT, 2010, p. 6).

Para Chevalier e Loschak (1980) a ciência da administração pode utilizar os conhecimentos oriundos de outras ciências a fim de alargar e apurar sua problemática, enriquecer os seus instrumentos conceituais e aperfeiçoar suas técnicas de investigação. Para desenvolver essa proposta, enfocam três princípios fundamentais: 1) uma abordagem integrativa - cabe à ciência administrativa integrar as diferentes disciplinas que a compõem, não implicando sua síntese, mas estabelecendo os diversos aspectos que compõem a análise das organizações; 2) instrumentos conceituais - a fim de escapar das armadilhas do formalismo jurídico, a ciência da administração deve recorrer ao aparelho metodológico elaborado em outras ciências; 3) meios de investigação - a fim de alimentar a sua reflexão teórica, a administração deve utilizar ao máximo as investigações empíricas, pois sem elas os conhecimentos dessa ciência seriam apenas especulações intelectuais.

3. A metáfora e sua gênese

3.1. Um percorrido linguístico

O caminho teórico deste capítulo passará pela definição de metáfora na visão clássica de Aristóteles, que em seus estudos mencionava-na como integrante da Retórica, chegando à análise crítica do discurso, ciência interpretativa que apoia suas concepções à historicidade do sujeito, linguagem e significado.

Na retórica clássica, o estudo da metáfora, tradicionalmente  estava ligado ao estudo das figuras de retóricas ou tropo. A metáfora, como integrante da Retórica da Idade Média, preocupava-se basicamente com o decoro, tencionando proporcionar prazer estético à compreensão, concedendo à linguagem comum um aspecto poético, quer dizer, era atribuída a ela a função de embelezamento da linguagem, por vezes dando lugar a um discurso sofístico, repleto de argumentos falsos ou raciocínios defeituosos (SCHADECK, 2014).

Retórica surgiu na Sicília a meados d século V A.C, justo no episódio em que Corax, um ministro da época, necessitou dar explicações ao povo sobre questões relacionadas a terra e à propriedade. Seu discurso, de maneira absoluta, era tão persuasivo, convincente e eloquente que fez que a população, de forma dramática, fosse levada a acreditar e aceitar suas palavras. A partir desse momento, Corax passou a ensinar a arte da retórica como arte da oratória e persuasão. (SOUZA, 2001).

E assim esta nova disciplina tomou forma com uma carreira fantástica. "Passou a ser ensinado no sistema de educação grego e era apresentada como fundamental e útil na ação política, na administração das cidades e no sistema de decisão, deliberação e julgamento de causas nos tribunais" (SOUZA, 2001, p. 160).

Para Aristóteles (1983, p.42):

[...] a retórica é a faculdade de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar persuasão. Nenhuma outra arte possui esta função, porque as demais artes têm, sobre o objeto que lhes é próprio, a possibilidade de instituir e de persuadir; mas a retórica parece ser capaz de, por assim dizer, no que concerne a uma dada questão, descobrir o que é próprio para persuadir.

Para Mendes (sd), com relação ao ponto de vista etimológico, no âmbito geral e retornando para a área da antiga retórica, a metáfora deriva da palavra grega metaphorá através da união de dois elementos que o compõem - meta que significa "sobre" e pherein significado "transporte". Neste sentido, a palavra metáfora surge como sinônimo de "transporte", "movimento", "transferência" e um sentido mais específico, "transporte de sentido próprio em um sentido figurado".

Ainda na Retórica clássica a metáfora definiu-se em dois tipos: in praesentia (comparação abreviada) e in absentia (elíptica). Em um conceito mais esclarecedor Michel Le Guern (1973), define o primeiro tipo da seguinte maneira: quando os dois termos são expressos e ligados por uma relação atributiva ou opositiva, já o segundo tipo de metáfora está conceituado pelo autor como somente quando aparece o termo metafórico, nesse particular, o outro termo é sugerido pelo próprio contexto ou pela analogia.

Por sua vez, prolongando a exposição com vistas para a análise etimológica do termo grego methaphorà, e seguindo a mesma linha, Metha, entendida como fração verbal, revela-se como alteração ou mudança, ou seja, há uma mudança, uma transposição de um elemento para outro, e até também com significado de "entre" e "com" revelando sua característica advérbio e preposição. Assim, a palavra methaforà denota a ideia de mudança, produção de transformações, a própria palavra indica a proposta de mover algo, transferindo significados (MENDES, s.d.).

Retomando a Aristóteles, é possível afirmar que metáfora é a aplicação de uma coisa ou um nome pertencente à outra coisa. É o uso de um termo que serve para substituir outro em tal situação para, evitando a repetição elementos já mencionado, produzindo o matiz, a relação mútua buscada, e que se faça uma aplicação deferente ao significante, ou seja, o que ocorre é um vínculo conotativo, análogo entre o termo próprio e substituído.

Somados a etimologia da palavra e a definição aristotélica, o que se pode avaliar do conceito da palavra grega é que para Aristóteles, a metáfora é o "desvio", a substituição, é como a palavra estranho que se emprega no lugar de um nome. "A metáfora a transposição do nome de outra coisa para outra; transposição do gênero para a espécie, ou de espécie para o gênero, ou de espécie para outra, por via de analogia" (SCHADECK, 2014, apud Aristóteles, 1983, cap. XXI, p.327).

Lopes (1986), de acordo com a taxonomia de desvio, com base nos pensamentos de Aristóteles, e a classificação da metáfora por Le Guern, também amplia o princípio da mesma teoria afirmando que a metáfora é um processo de comparação curto, elíptico. É o resultado de uma comparação entre duas palavras, A e B. A expressão seria então comparado com o B e que define a partir de uma fundação comparante. Isso gera uma busca automática no sistema de conhecimento do ser humano, algo inerente e próprio da espécie, que deseja atribuir uma semelhança entre A e B, que viabilize a metáfora.

No século XX, recupera-se a condição da metáfora como elemento e instrumento de conhecimento. Com o estruturalismo de Saussure,   em Curso de Linguística Geral (1974), a linguística saussuriana, postula uma linguagem composta de puros significantes e não de signos.

Dentre os autores que prosseguem seus estudos sobre a metáfora, Paul Ricouer (1983, p.77-78), diz que:

[...] a metáfora e os outros tropos são sentidos impróprios ou figurados: postulados do próprio e do impróprio ou do figurado; [...] a lacuna lexical é preenchida pelo pedido de empréstimo de um termo estranho: postulado do empréstimo; [...] o termo pedido de empréstimo é aplicado  ao tipo de coisa considerada ao preço de um  desvio entre o sentido impróprio  ou figurado da palavra pedida de empréstimo e o seu sentido     próprio: postulado do desvio ;[...] o termo pedido de empréstimo, tomado no seu sentido figurado, substitui uma palavra ausente...: axioma da substituição.

Assim, Schadeck (2014, apud,Ortega y Gasset (1991) diz que:

A metáfora é um instrumento de indagação filosófica de interpretação da realidade. Serve como símbolo e hipótese, é a transposição de uma coisa desde seu lugar real a seu lugar sentimental, serve para designar o que o nosso intelecto não pode ver, mas percebe (tradução minha) ( p. 390-391).

Prossegue dizendo que a metáfora não é somente uma transposição prazerosa e sim, pelo fato de apresentar dois sentidos, duas significações, essa duplicidade gera novos conhecimentos criando um imaginário entre as coisas reais possibilitando uma evasão da realidade (SCHADEK,2014).

A metáfora é provavelmente a potência mais fértil que o homem possui. Sua eficiência chega a tocar os confins da dramaturgia e parece um instrumento de criação que Deus deixou esquecido dentro de uma criatura na hora de fazê-lo. (Ortega y Gasset- 1991, p. 57).

Em estudos mais recentes, no decorrer do século XX, algumas noções começam a serem alteradas ou somadas as já vistas, dando lugar a outras definições no que concerne o estudo da metáfora.

Grice (1975), no Postulado Conversacional, avalia o processo metafórico como violador das máximas. Na máxima de Qualidade, que tem como principio básico a "verdade" (não informe aquilo que você acredita ser falso, - não informe aquilo para o que não possa fornecer evidências suficientes), a violação se dá pelo fato da metáfora estar relacionada a uma linguagem que fala de outra coisa, mostrando muitas vezes um discurso vago. Há uma violação ostentosa dessa máxima. O teor de verdade pode não cooperar para que a interlocução seja bem-sucedida, a metáfora se fixa como uma mentira evidente que é usada com intenção comunicativa, que deseja ser verdadeira.

Já Pierce (1995), da Semiótica, de acordo com seus estudos, apresenta uma divisão para os sinais, divisão essa que fala dos modos de representação do mundo. Os tipos de sinais são: índices, símbolos e ícones. A metáfora configura-se no estudo dos ícones. O autor desvela que a metáfora estabelece um comportamento relacional de semelhança com aquele elemento que deu a conhecer como o designado. Os ícones figuram no campo da analogia.

Lakoff e Johnson (1991) outorgam à metáfora outra conotação, apoiando-se, sobretudo na especificação das metáforas estruturais. "São - nos dizem- metáforas mediantes as que vivemos" (p.95). O que se estabelece é uma estruturação metafórica parcial da realidade no discurso. Nesse panorama, os autores analisam a proposição da metáfora como elemento que dispõe e ordena as partes de um todo da realidade, uma vez que a metáfora faz parte do processo e uso de expressões para a comunicação de modo geral. A linguagem segue em um passo firme e reto quando estruturada. Ao mesmo tempo, é importante que se diga, que esse estudo apresenta algumas lacunas, pois nenhuma metáfora é suficiente para assegurar uma compreensão total do que se quer enunciar, ou de um determinado conceito.

  Searle (1995), diz que em um âmbito mais geral e não tão específico, que o que dita a fundamentação sobre o estudo das metáforas é o fato determinante que o princípio básico de funcionamento de toda metáfora é

[...] a emissão de uma expressão, com seu significado literal e com as condições de verdade correspondentes, pode, de várias maneiras próprias das metáforas, fazer vir à mente outro significado e um conjunto de condições de verdade correspondentes (p.135).

Na perspectiva da Análise de Discurso, este estudo abordará o conceito de metáfora em Pêcheux (1997) que propõe como base conceitual à ideia que há uma relação entre metáfora e produção de sentido, constituindo assim, o modo de significação das palavras. As palavras não apresentam um único sentido, um único significado, pois dependendo da formação discursiva que representam podem significar diferentemente(SCHADEK,2014).

E, segundo Pêcheux,

[...] o sentido é sempre uma palavra, é uma expressão ou uma proposição por uma outra palavra, uma outra expressão ou proposição, e esse relacionamento, essa superposição, essa transferência (meta-phora), pela qual elementos significantes passam a se confrontar, de modo que "se revestem de um sentido" (1997-p. 263).

Diante disso, e opondo-se à retórica aristotélica, bem como a tudo que já se evidenciou sobre o estudo da metáfora, conceitos além de desvio, substituição e transposição, Orlandi (1999), com base nos estudo de Pêcheux, conceitua o sentido metafórico não mais como um desvio do sentido literal. A autora propõe um novo paradigma, em que preconiza à concepção de metáforas como deslizes ou transferências de sentidos, estando ela na base do movimento dos sentidos. Sendo que as metáforas estão inseridas nos processos cognitivos de interpretação, fato de que não há sentido sem interpretação (SCHADECK, 2014).

Segue a autora explanando que a Análise de Discurso trabalha exatamente com este feixe de significados e, nesse eixo de trabalho, onde língua e história correlacionam-se, produzindo deslizamentos de sentido ou transferência de sentidos, dando forma de corpo no efeito metafórico. O sentido entrelaçado com o ideológico e o histórico é que determinará a interpretação e constituição do sujeito (SCHADECK, 2014).

O efeito metafórico, o deslize-próprio da ordem do simbólico-é lugar da interpretação, da ideologia, da historicidade.  Essa é a relação entre língua e o discurso: a língua é pensada "como sistema sintático intrinsecamente passível de jogo e a discursividade como inscrição de efeitos linguísticos materiais da história" (Pêcheux, 1980, p.32).

Diante disso, Schadeck (2014), explana que as metáforas para AD, são estudadas como transferência e, como se explicitou, estão na base da constituição do sujeito, na relação língua / discurso. A metáfora está inserida no movimento que as palavras fazem estabelecendo sentidos, nessa transferência de significação que o discurso propõe constantemente.

Não obstante, não é raro o termo analogia ser utilizado como metáfora, modelo, símile e exemplo (DUARTE, 2005). Contudo, a metáfora distingue-se da analogia porque pode ser entendida como um mediador, isto é, uma espécie de intermediário entre formas análogas e semânticas de pensamento. A principal contribuição das metáforas é seu valor heurístico, ou seja, "está em que suas relações, presentes no campo semântico, passam a ser acessíveis à imaginação, possibilitando descobrir e criar relações mais precisa no campo das pesquisas" (CANDIOTTO, 2008, p. 26).

3.2 A metáfora nas organizações

Morgan (2006) analisa metaforicamente as organizações em um estudo profundo e extraordinário desde uma perspectiva múltipla, como exemplo de máquinas, e como tal, são assim desenhadas e funcionam como máquinas, desenvolvendo um pensamento mecanicista, mostrando que se espera que a organização se comporte de forma exata, com rotinas, metódica e com previsões.  Os administradores pensam como máquinas, agindo de acordo com um padrão exigido.

Para Schultz (1994) a metáfora cultura aparece justo para constituir o significado e significância que os sujeitos adotam como comportamentos explicitamente ordenados ou estabelecidos e informais. A organização é composta pelos atores que dela fazem parte e que constantemente estão se significando enquanto sujeitos, assim, dessa maneira as ações podem ser acordadas a partir das interpretações de cada um, para nessa consonância acordam seus atos.

Não é raro o termo analogia ser utilizado como metáfora, modelo, símile e exemplo (DUARTE, 2005). Contudo, a metáfora distingue-se da analogia porque pode ser entendida como um mediador, isto é, uma espécie de intermediário entre formas análogas e semânticas de pensamento. A principal contribuição das metáforas é seu valor heurístico, ou seja, "está em que suas relações, presentes no campo semântico, passam a ser acessíveis à imaginação, possibilitando descobrir e criar relações mais precisa no campo das pesquisas" (CANDIOTTO, 2008, p. 26).

4. Os sete pecados capitais

4.1 Aspectos conceituais dos pecados capitais

O pecado, a Bíblia já conceituou.  Padre Gregório Magno, no século VI, o classificou. A Igreja católica reformulou no século XXI, mas etimologicamente pecado significa errar o alvo.

Assim, pode-se entendê-lo, atendo-se ao significado da palavra, como equivoção,  promoção de situações que levam ao desgaste físico e mental do ser humano.

Tomlin (2008) explana sobre a gênese do pecado dizendo que o mesmo teve origem como forma de lembrar algun modos e padrões de comportamentos se manifestava em épocas antepassadas. Não há registro de onde veio à lista.

Alguns dizem que veio de uma lista de oito maus hábitos definidos por Evágrio do Ponto, teólogo e monge grego do século IV. Cerca de 200 anos depois, enqunto escrevia um livro de reflexões sobre o livro de Jó, Gregório, o Grande, papa de grande inflência reduziu lista a sete itens, e o número prevaleceu (TOMLIN, 2008, p.25).

Leite (2002) expressa seu conceito de pecado como sendo uma exposição de um processo interior, tendo como base principal as atitudes e os comportamentos além do comum que uma pessoa possa conter de forma exagerada e/ou desordenada. Continua a autora explicitando que o bem e o mal supostamente são resultantes de uma relação. Complementariamente, os pecados podem ser consequencias de desiquilibrios entre aquilo que se tem propriamente com aquilo que se gostaria de ter.

Leite (2002) reforça complementando que os pecados podem ser avaliados como pecados sociais, às vezes por uma conotação negativa que supostamente dispõem. É preciso analisar de forma contrária. Nem sempre eles terão somente aspecto negativo, pela carga de significados que a palavra contempla.

Visto por outro ângulo, os pecados podem desenvolver as virtudes capitais. Essas qualidades aparecem em contrapartida aos pecados. É positivo quando o pecado capital torna-se elemento de motivação para a busca de competitividade entre sujeitos no ambiente interno e externo da organização. Aparece com carga positiva quando influencia no crescimento e o fortalecimento de competências dentro das organizações que geram retornos satisfatórios para todos os membros do grupo (AQUINO, 2008).

De acordo com Savater (2006) os pecados são considerados capitais quando dão origem a outros vícios. São Tomás descreveu: "Um vício capital é aquele que tem um objetivo excessivamente desejável, de tal maneira que, ao desejar, o homem comete muitos pecados, todos os quais, como se diz, têm origem naquele vício que é sua fonte principal" (SAVATER, 2006, p.11).

Savater (2006, p.11) explana que "o pecado não é uma coisa inamovível. Varia de acordo com o ponto de vista do observador e em comparação com a evolução do contexto social e cultural".

Para Leite (2002, p. 67) "a luxúria vem do luxo, excesso, descomedimento, desvirtuamento da sexualidade. Não existe ser humano que não seja atraído pelas facilidades de consumo- não apenas materiais, mas também de pessoas".

Já o pecado da gula se dá ao fato de que, por ocasiões quando comemos algo em excesso extrapolamos, quer dizer comemos além do necessário, e isso, obviamente traz uma sensação de mal-estar, indigestão, neste caso referindo-se à parte física. Faz-se por pura gula. (TOMLIN, 2008).

O pecado da avareza aparece quando os interesses próprios são ultrapassados e não tem limites sobre esses. A avareza fica no controle das ações quando o interesse do sujeito se torna o valor máximo. Há só interesse por si, o indivíduo sente-se como o único, preocupando-se somente com ele, sua vida, sua prosperidade a qualquer custo. Não é o desejo temporário por algumas coisas, mas o desejo exagerado de tê-los (TOMLIN, 2008).

A soberba é a mãe de todos os pecados. Savater (2006, p.31) preceitua que a soberba é "de acordo com as Escrituras Sagradas não só o maior de todos os pecados, mas a própria raiz. Portanto, é dela que vem a maior debilidade". "Não precisamos recorrer à teologia para classificar a soberba de pecaminosa."

Segue o autor nessa mesma linha considerando que o pecado da soberba é o

desejo de colocar-se acima dos demais. Não é ruim que um indivíduo tenha uma boa opinião a respeito de si próprio-salvo que nos canse muito com os relatos de suas façanhas, reais e inventadas- o negativo é que não admita que ninguém em nenhum campo fique acima dele (SAVATER, 2006, p.35).

O pecado da ira conceitua Savater (2006, p.77) "Quando o movimento instintivo da ira é despertado, ficamos cegos, estúpidos, transformados em uma espécie de besta obcecada. Esse excesso é prejudicial, mas eu creio que algum nível de cólera é necessário".

O pecado da inveja para Leite (2002, p. 27) é o pecado mais difícil de ser identificado. "Trata-se de um sentimento incômodo, de tristeza com o fato de o outro ter algo que faz parte do alvo do próprio desejo, mesmo que se tenha o desejado. [...] o invejoso não quer que o outro o tenha."

Por fim, o pecado da preguiça para Herkenhoff (2007, p.75) é "a pouca disposição para o trabalho; extrema lentidão na realização de tarefas; falta de vontade de fazer algo que requer nossa ação; aborrecimento diante de misteres cotidiano; adiamento imotivado de deveres etc.".

4.2 Uma nova metáfora organizacional

Há uma grande preocupação com o ser humano, parte integrante do seu âmbito de desenvolvimento. O sucesso de uma organização depende em grande parte da implementação de estratégias que lhe ofereçam vantagens competitivas, e isso, implicitamente, está relacionado com o pessoal que as executa. O desempenho eficaz dos membros de toda a organização será o produto não só do potencial desses para levar a cabo as suas funções, mas também o grau de motivação e satisfação laboral que possuam.

A orientação de Neves (2008) é de que falar dos pecados capitais é fazer uso da metáfora simbólica às atitudes de líderes e colaboradores dentro da organização. Quando se faz alusão à gula, primeiro pecado refere-se ao fato de que muitas vezes, determinados colaboradores, em uma ânsia por melhores colocações no âmbito interno da empresa, ultrapassam o limite humano, ora trabalhando muito, ora passando por cima de tudo e de todos. Assim sendo, a alusão ao pecado da gula se dá ao fato de que, por ocasiões quando comemos algo em excesso extrapolamos, quer dizer comemos além do necessário, e isso, obviamente traz uma sensação de mal-estar, indigestão, neste caso referindo-se à parte física. Faz-se por pura gula.

Para Motta e Caldas (2011, p.299) "[...] a organização toca uma veia sensível do indivíduo, levando-o a sustentar a causa do desejo, ao mesmo tempo em que ela manobra os signos de uma busca sem fim". A organização participa de algumas realizações de seus colaboradores, ela pode ter um plano de gratificações e recompensas que vão estimular o desejo de querer sempre mais. Isso muitas vezes move a organização para o alcance de suas metas, mas não pode sobremaneira alguma prevalecer aos princípios de ética e valores estipulados, sendo única forma de realização pessoal e profissional (MOTTA, CALDAS, 2011).

O segundo pecado capital é o da soberba. Metaforicamente refere-se quando, tanto empresário e colaborador conclamam saber tudo. Tornam-se arrogantes pelo excesso de conhecimentos e experiências que dizem ter.  Acreditam que não necessitam participar de treinamento e desenvolvimento, desdenhando muitas vezes aos outros e a seus próprios concorrentes. Pensam que não é necessário buscar conhecimento para agregar valor à sua empresa. Empresário e colaboradores sentem-se os melhores em tudo (NEVES, 2008).

Ao analisar-se o pecado da inveja, terceiro pecado, é possível traçar usar a metáfora com as situações em que os mercados se encontram. Por mais que o mercado se contraia, há que manter uma atitude de colaboração com os stakeholders. Tratar de arrebatar toda a riqueza regional contraída faz com que o mercado se acomode, isto é, cai-se em guerras de preços que mínguam a utilidade de todos. É melhor chegar a acordos, colaborar, e não tratar de combinar com tudo. O sol nasce para todos. Assim, muitos empresários acabam invejando a seus concorrentes, não tendo criatividade em suas ações. Da mesma forma quando os colaboradores invejam a seus colegas por cargos, salários, reconhecimento e valorização que não possuem. A inveja não é saudável para clientes internos e externos (SANTOS, 2010).

Schadeck (2014) argumenta que a preguiça, como quarto pecado capital, na empresa é aquele que evidencia que empresários e colaboradores acreditam que não há necessidade de esforço extra para atingir os objetivos e metas que levam ao sucesso da organização.

O autor complementa no sentido de que o trabalho, o comprometimento de cada um, a forma como cada colaborador dedica-se a seu trabalho e a sua rotina de aprendizagem constante é que diferencia uma empresa da outra, é que marca o que uma organização tem de potencial competitivo a mais que a outra. Dessa maneira análoga, ficar esperando que os clientes batam à porta da empresa, não é uma ação no mínimo de uma empresa que deseja figurar entre as que têm um resultado positivo tanto financeiro como de ambiente empreendedor e cooperativo, mas sim de pessoas preguiçosas (NEVES, 2008).

Nessa linha de metaforização, aparece o quinto pecado a ira. Neves (2008) explica que enquanto seres humanos somos os únicos culpados pelas nossas próprias ações. De nada adianta culpar aos demais ou tentar buscar culpados para falhas cometidas por nós mesmos. Outras vezes são os administradores que desenvolvem esse hábito mau. Eles têm a necessidade de por a culpa em alguém por algo, alguns casos já estão sendo vistos como assédio moral.

A ira deve ser evitada no âmbito da empresa, afim de que não vire rotina e futuramente provoque problemas organizacionais de difícil reversão, em especial pelos possíveis danos psicológicos e/ou físicos (NEVES 2008).

Da luxúria, sexto pecado, segue o autor explanando, é um pecado comum de ser cometido pelos empresários. Muitas empresas quando começam a gerar lucros desejam figurar com status que não aquele inicial. Inscrevem-se em um âmbito de luxo e prazeres muitas vezes desmedidos. Não há um alinhamento e uma separação entre o físico e o jurídico. Tudo se mistura- gastos pessoais com gastos da empresa. Por vezes, o empresário perde o foco e começa a misturar finanças pessoais com as da empresa. Gastos excessivos em momentos inoportunos (NEVES, 2008). Há que se exercer certo controle a esses tipos de gastos sem planejamento.

Por fim, o último pecado capital, usando a metáfora no âmbito organizacional, trata-se da avareza, ação oposta à luxúria. Da avareza, a ações comumente se referem ao fato de que muitos empresários acreditam que treinar seus funcionários é um gasto e não um investimento. Dar a eles algum benefício, além do exigido por lei, não figura em seus planos de recompensar aos colaboradores (NEVES, 2008).

Poder-se-ia elencar outros itens que se relacionam com a avareza de gestores no âmbito da organização. Falta de higiene e segurança no trabalho, qualidade de vida, falta de treinamento e desenvolvimento e outros tantos itens que dificultam o relacionamento entre colaboradores.

Desde os questionamentos apresentados por Foucault na década de 1970, sobre as certezas científicas, a forma como compreendemos as organizações se transformou, até mesmo as teorias organizacionais apresentaram rupturas. Contudo, permanece presente nos estudos de Bourdieu, que os elementos simbólicos configuram campos de poder e dessa forma podem comprometer o desenvolvimento das organizações. Nesse sentido, a cultura organizacional é uma variável capaz de promover o desenvolvimento organizacional.

Cultura e desenvolvimento organizacional são dois conceitos fundamentais a serem difundido pelas organizações. Cultura como identidade própria da organização. Ou seja, é o conjunto de suas características que a identifica e a diferencia das demais. Já o desenvolvimento organizacional é um processo que ocorre dentro da organização, conforme a cultura interna regente. O desenvolvimento visa à mudança. É um processo contínuo de aprimoramento com o objetivo principal de proporcionar a inovação.  Ambos os conceitos são singulares para cada organização.

Neste processo de desenvolvimento organizacional é necessário ter presente que a única forma de mudar as organizações é através da mudança em sua "cultura", isto é, mudar os sistemas de vida, de crenças de valores e de formas aceitadas de relações entre as pessoas. A cultura transmite-se no tempo e vai se adaptando de acordo com as influências externas e as pressões internas, produto da dinâmica organizacional, além de conseguir que as pessoas tenham uma consciência de pertencer, de serem efetivamente membros da instituição (MOTTA e VASCONCELOS, 2002). As mudanças dentro do ambiente organizacional dizem respeito às capacidades de adaptação das organizações às diferentes transformações que sofre o ambiente interno e externo, mediante as aprendizagens. Os agentes destas mudanças assumem um novo comportamento organizacional.

Não há mais espaços para ações individuais e simplistas, onde poucos participam e outros tantos não cooperam no constante processo de adaptação às situações de mudanças e desenvolvimento pessoal, interpessoal e coletivo, assim como o desenvolvimento tecnológico e regional onde a organização esta inserida. As organizações são entidades vivas e em constantes transformações e adaptações, mas isso depende de como estão envolvidos e interagem os sujeitos que dela participam. Aprender a lidar com a complexidade de imagens e simbologias da organização é o grande desafio dos atores envolvidos com ela e nela.

5. Considerações finais

No caso da teoria das organizações, um olhar sobre a organização como sistema epistemológico e sobre a capacidade de os pesquisadores identificarem os pontos cegos das teorias atualmente utilizadas pode ser um exemplo da tentativa de um avanço epistemológico, conforme defende Guerreiro Ramos com sua abordagem substantiva.

Existem questionamentos acerca da complexidade e sua possível contribuição para a mitigação dos pontos cegos da teoria organizacional vigente. Compreender esses questionamentos e agir sobre eles passa é uma trajetória necessária para a tomada de consciência acerca da complexidade dos estudos organizacionais, visando contribuir para o avanço da reflexão epistemológica no campo da Administração. A literatura revisada aponta que a administração terá de aprender que a compreensão do mercado começa pela compreensão de como os consumidores distribuem sua renda disponível. Uma administração que não aprender a inovar, tampouco, terá condições de embutir em sua administração cotidiana atividades empreendedoras que percorrem caminhos paralelos.

A administração precisa de mais informações sobre o que está acontecendo lá fora. Ela existe para produzir resultados dentro da sociedade e para modificá-la. O centro da sociedade moderna é a instituição administrada.

A epistemologia da complexidade é indicada para estudos organizacionais e a própria epistemologia da administração. Dentre as contribuições potenciais da epistemologia inerente ao paradigma da complexidade para a epistemologia da administração e a teoria das organizações, entendem alguns autores, como Serva, Dias e Alperstedt, que a adoção de paradigmas da ordem e de paradigmas da desordem numa perspectiva de complementaridade seria, ao mesmo tempo, a maior contribuição e o seu maior desafio.

Quanto ao uso da metáfora dos sete pecados capitais para explicar ações e comportamentos que impactam na vida das empresas e geram mudanças conceituais e comportamentais nas organizações.

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1. Graduação em LETRAS pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (1988), graduação em Administração pela Universidade Paulista (2014) , especialista em Língua espanhola, Gestão de Pessoas e Gestão Ambiental. É mestra em Desenvolvimento pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (2014)
2. Bacharel em Administração (URI Campus Erechim - 1988). Mestre em Dirección y Organización de Empresas (Universidad Museo Social Argentino/UMSA - 2000). Doutora em Administração (UFLA - 2007)
3. Mestrando UFSM em Estratégia em Organizações, graduação pela Faculdade de Direito Santo Ângelo no curso de Administração com ênfase em Comércio Exterior (2011), Especialização pelo curso de Pós-Graduação em Gestão Estratégica (2012). EMail: luisadriano@bol.com.br
4. Possui graduação em Ciências Contábeis pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (1992), graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Pelotas (2012) e mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Maria (2003)


Vol. 37 (Nº 02) Año 2016

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