Espacios. Vol. 37 (Nº 03) Año 2016. Pág. 18

Aspectos socioambientais da produção de carvão vegetal de origem nativa em uma área de cerrado em Jerumenha, Piauí/Brasil

Aspects socialenvironmental of the charcoal production native origin in an area of savannah in Jerumenha, Piauí

Adriana de Sousa LIMA 1, Kelly Polyana Pereira SANTOS 2, Antonio Alberto Jorge Farias CASTRO 3

Recibido: 18/09/15 • Aprobado: 12/11/2015


Contenido

1. Introdução

2. Material e métodos

3. Resultados e discussões

4. Conclusões

Referências


RESUMO:

Objetivou-se caracterizar a produção de carvão vegetal e os aspectos socioambientais que envolvem a atividade em três carvoarias inseridas em uma área de Cerrado, pertencentes ao município de Jerumenha, PI. Foram realizadas observações in loco e entrevistas semiestruturadas. Os resultados mostraram que a maioria dos trabalhadores é do sexo masculino, casado, com o ensino fundamental incompleto. 65,9% revelaram não ter nenhuma doença. A maioria dos trabalhadores revelou que a atividade não causava impactos ao meio ambiente. Diante da expressiva produção de carvão do Estado, observa-se a necessidade de estudos a fim de avaliar os impactos ocasionados no meio ambiente.
Palavras-chave: Carvoejamento, Saúde do Trabalhador, Condições de Trabalho, Percepção Ambiental.

ABSTRACT:

This study aimed to characterize the production of charcoal and the social and environmental aspects involving the activity in three charcoalfields in the 'Cerrado' of Piauí State, belonging to the municipality of Jerumenha. Data were collected from the observaton in loco and semi-structured interviews. The results showed that the majority of charcoal makers are male , married, with incomplete primary education . 65.9 % reported no illness . Most of the workers revealed that the activity did not cause impacts on the environment . In the face of significant production of the charcoal in the state , there is a need more studies to assess the impact caused on the environment.
Key- words: Charcoal, Worker's Health, Work Conditions, environmental Awareness.

1. Introdução

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de carvão vegetal, correspondendo a 20% do que é gerado no planeta, sendo a maior parte da produção destinada para o consumo interno, impulsionado pela indústria siderúrgica para a redução do ferro-gusa (Duboc et al., 2007; Barcellos; Souto, 2006; silva et al., 2007).

A produção pode ser desenvolvida basicamente de duas formas: tradicional, no qual há o emprego de lenha da floresta nativa, cortada para transformação de áreas agrícolas; ou moderna, carbonizando lenha de floresta plantada (Nogueira; Lora, 2003).

Devido à insuficiência do carvão de florestas plantadas, o aproveitamento de resíduos de desmatamento legais ou ilegais constitui a maneira encontrada pelas indústrias para o suprimento de suas demandas. Embora exista uma alta produtividade da silvicultura brasileira, as florestas plantadas não são capazes de suportar toda a demanda das indústrias, ocorrendo uma carência por ano de 50%, sendo esta suprida por florestas naturais (Calais, 2009).

(Magri, Becker et al., 2012) afirmam que dentre os Biomas brasileiros, o Cerrado se destaca como fornecedor de carvão vegetal e plantio de florestas energéticas. De acordo com (Felfili et al., 2004) a aplicação usual das espécies do cerrado, tem sido para a lenha e o carvão, resultante da limpeza do terreno para áreas agrícolas e pecuária.

A produção de carvão é realizada do mesmo modo que era no século passado, através da combustão incompleta da madeira. Neste processo, a lenha é carbonizada em espaço fechado, durante três dias, com pequena ou com quantidade controlada de oxigênio, em temperaturas que ultrapassam 300º C, ocorrendo o desprendimento de gases não condensáveis, líquidos orgânicos e por fim como resíduo originado sobra o carvão (Dias et al., 2002; Castro et al., 2007; Santos; Hatakeyama, 2012). Esse processo rudi­mentar, dependente da mão-de-obra humana, expõe os carvoeiros ao contato permanente com a fumaça oriunda dos fornos, duras jornadas de trabalho, condições insalubres, sendo considerada como uma atividade desumana (Carneiro, 2002; Duboc et al. 2008; Souza  et al., 2010).

O Piauí ocupa o segundo lugar no Nordeste na produção de carvão vegetal de origem nativa (IBGE, 2010). A produção ainda é realizada de forma rudimentar, em fornos de alvenaria do tipo "rabo-quente" e envolve um grande número de trabalhadores. Segundo o (IBGE, 2012) nos últimos 20 anos houve um aumento de 300% na produção de carvão no Estado, sendo acentuado no ano 1996.  De acordo com (Aguiar, Monteiro, 2005), a produção agrícola no Estado teve seu apogeu na década de 90, com a produção de arroz, feijão e milho, a partir de 1996, houve o incremento da produção com o surgimento da soja, transformando-se na cultura de maior destaque, o que tem se perpetuado até os dias de hoje. Este período de crescimento coincidiu com a expansão da agricultura no Estado, indicando que, com o aumento da produção agrícola, houve a maior disponibilidade de material lenhoso a partir do desmatamento dessas áreas, principalmente dos cerrados, resultando em aproveitamento deste material, através do carvão vegetal.

Considerando a expressiva produção de carvão vegetal no Estado através do aproveitamento lenhoso de áreas desmatadas no Cerrado, e que estudos sobre a caracterização da atividade bem como o processo de trabalho nas carvoarias são inexistentes, o objetivo deste artigo consiste em verificar a atividade de carvoejamento em três carvoarias pertencentes ao município de Jerumenha, bem como caracterizar os aspectos socioambientais envolvidos no processo de produção de carvão.

2. Material e métodos

O estudo foi conduzido em uma área de cerrado no município de Jerumenha, microrregião de Floriano, Estado do Piauí, em duas carvoarias licenciadas pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMAR) e uma carvoaria embargada na mesma cidade (Figura 1).  Foram entrevistados 47 carvoeiros, no período março de 2012 a março de 2013.

Foram realizadas visitas in loco para o acompanhamento das atividades. As coletas de dados foram realizadas mensalmente com o auxílio de formulário padronizado com questões abertas e fechadas, através de entrevistas semiestruturadas (BERNARD, 1988), contendo levantamento de informações, socioeconômicas, atividade de carvoejamento, saúde dos trabalhadores, condições de trabalho bem como a percepção ambiental sobre as carvoarias e a vegetação nativa para a região. Posteriormente, as entrevistas foram transcritas em conjunto com os dados referentes às conversas informais, registradas em diário de campo. As planilhas com as transcrições estão arquivadas no núcleo de pesquisa do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) da UFPI.

Apenas na carvoaria com atividades paralisadas não foi possível realizar a entrevista junto aos trabalhadores.

Antes de cada entrevista foi lido o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), exigido pelo Conselho Nacional de Saúde por meio do Comitê de Ética em Pesquisa, para a elucidação de possíveis dúvidas sobre o trabalho, e após a compreensão por parte do entrevistado o termo foi assinado. Os entrevistados que não souberam escrever tiveram sua digital recolhida no termo.

Figura 1. Localização das carvoarias estudadas, município de Jerumenha, Piauí.

 

Fonte: IBGE adaptada por Clescy Oliveira Silva (2013).

3. Resultados e discussões

3.1. Dados Socioeconômicos

Das três carvoarias selecionadas para o estudo, uma estava com suas atividades paralisadas, portanto, somente duas tiveram seus dados analisados. Foram entrevistados 47 trabalhadores, 93,6% eram do sexo masculino e 6,4% do sexo feminino. A maior ocorrência de homens na atividade está relacionada a carga de trabalho e a necessidade de maior esforço físico durante as atividades. No que tange as mulheres, estas eram destinadas às funções domésticas, tais como o preparo de refeições e limpeza. Esse cenário é diferente do observado por (Aranha Silva, 2002) em carvoarias volantes no Mato Grosso do Sul, no qual além da participação das mulheres na produção de carvão, era comum também a presença de crianças.

A atividade era desenvolvida por carvoeiros de idades que variaram de 19 a 53 anos, com média de 31,68 anos. Este valor, se aproxima do encontrado por (Pimenta et al., 2006), analisando a ação ergonômica de trabalhadores de carvoarias em Buritizeiro, Minas Gerais, com média de 32 anos. A faixa etária de maior número de indivíduos foi de 19 a 29 anos, com 44% dos entrevistados, este fato pode ser explicado pela rotina de trabalho na carvoaria, exigindo assim trabalhadores mais jovens. Trabalhos que envolvem agropecuária e colheita florestal (Silva et al., 2010) marcenarias (Fiedler  et al., 2001) e serrarias (Amorim et al., 2012) também se caracterizam por atividades que dependem de grande esforço físico por parte do trabalhador.

Quanto ao estado civil, 40,4% eram casados, seguido de 31,9% solteiro e 25,5% com união estável. Os dados sobre a escolaridade revelaram que a maior parte possui o ensino fundamental incompleto (70,2%). De acordo com (Leite et al., 2002) a baixa escolaridade é um fator importante que pode influenciar ou até comprometer programas de treinamento e reciclagem na utilização de máquinas e equipamentos.

 Dependendo do cargo que cada carvoeiro exerce, a renda mensal pode variar de um a três salários mínimos. Comparando a renda destes trabalhadores com a renda média da população da região, revela-se que esta está acima do que é verificado para as outras atividades, sendo este aspecto um dos grandes atrativos para estes trabalhadores, além das garantias trabalhistas.

Sobre a experiência de trabalho em carvoarias, o tempo médio encontrado foi de 5,9 anos na atividade, com variação de um mês até 15 anos. Esta média está abaixo do encontrado por (Pimenta et al., 2002) em carvoeiros e (Fiedler et al., 2001) em trabalhadores de serraria no Distrito Federal. Vale ressaltar, que os indivíduos mais jovens, na faixa etária de 19 a 29 anos, apresentaram maior tempo de serviço do que os demais, sugerindo que os mesmos exerciam a atividade desde a infância. Até pouco tempo, nas carvoarias não existia distinção entre crianças e adultos para exercer a atividade, tendo o inicio da atividade ainda na infância, em média com quatro anos de idade (Assunção et al., 2001; Veras; Casara, 2004). 

Para complementação da renda, 61,7% dos carvoeiros realizam atividades secundárias sendo as mais citadas lavrador e pedreiro. Na carvoaria paralisada, os funcionários que não foram absorvidos por outras carvoarias, estavam exercendo outras atividades. De acordo com o encarregado, quando as atividades voltavam ao normal, os trabalhadores regressavam para o carvoejamento.

Quanto à proveniência destes trabalhadores, foi constatado que os Estados do Maranhão e Piauí são fornecedores de mão-de-obra para as carvoarias analisadas, com a maior ocorrência do Maranhão (72,35), destacando as cidades de Pastos Bons, São Domingos do Azeitão, Mirador e Peritoró. Do Piauí destacam-se as cidades de Antonio Almeida, Guadalupe, Jerumenha e Lande Sales.  

De acordo com entrevista com o proprietário da carvoaria, em Jerumenha, no início da implantação da atividade em meados de 2006, houve dificuldade da absorção da população local, devido a falta de experiência dos moradores e conhecimento sobre a atividade. Fato agravado em 2008, com o embargo de uma carvoaria devido a constatação de trabalho análogo a escravidão em suas dependências. Este fato refletiu negativamente, pois, mesmo em carvoarias licenciadas ainda existe o preconceito por parte da população.

3.2. Atividade de carvoejamento

As carvoarias analisadas produzem carvão através do aproveitamento lenhoso do Cerrado, proveniente do plantio de eucalipto. O aproveitamento da vegetação é uma prática regulamentada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) através do Decreto nº 5.975 de 30 de novembro de 2006, no qual consta que existindo supressão vegetacional para o uso alternativo do solo, previamente autorizado, o empreendedor fica obrigado a destinar o material lenhoso para alguma finalidade.

 É importante ressaltar que, de acordo com este Decreto, entende-se por uso alternativo do solo a substituição de florestas por projetos agropecuários, indústria, geração e transmissão de energia e projeto de assentamento para a reforma agrária, mineração e transporte.

Para que ocorra a liberação do aproveitamento do material proveniente do uso alternativo do solo, é necessário que haja o licenciamento para a atividade carvoeira. De acordo com entrevista realizada com a SEMAR, apenas quatro Estados possuem licenciamento próprio para a implantação de uma carvoaria, sendo estes: Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e Piauí. No Piauí, o licenciamento é autorizado através do Decreto nº 13.152, de 14 de julho de 2008 (PIAUÍ, 2008), no qual se exige a comprovação, por parte do produtor de carvão, que a área a ser utilizada para o aproveitamento da vegetação seja direcionada a algum tipo de uso, uma vez que, este uso sempre estará associado a uma autorização e licenciamento.

Ainda segundo este decreto, o licenciamento deverá acompanhar o estudo ambiental e cópias das licenças de instalação (LI) e/ou operação (LO) da atividade de uso alternativo do solo, além do Relatório Ambiental Simplificado (RAS), instruído pela SEMAR, dispondo especificamente a atividade de carvoejamento. Caso a produção de carvão vegetal não encontrar-se sob responsabilidade do empreendedor da atividade de uso alternativo do solo, o produtor de carvão deverá apresentar a cópia do contrato que autoriza a produção.

Segundo (Ulihg et al., 2008) a disponibilidade de carvão vegetal de origem nativa para as siderúrgicas tem início, de modo geral, com o estabelecimento de projetos agropecuários, no qual o proprietário da terra cede a área sem nenhum ônus pela lenha retirada para o produtor de carvão, entretanto, com a exigência que estes, entreguem a área limpa para o plantio.

De acordo com a SEMAR a partir da Licença de Operação (LO) para o carvoejamento, as carvoarias se instalam através da construção da bateria de fornos, cujo número depende da área a ser liberada para o desmatamento e das demais dependências da carvoaria, tais como: alojamentos, refeitório, banheiros. Ainda segundo a SEMAR, caso as carvoarias iniciem as atividades sem a LO, podem ter suas atividades suspensas pelo órgão Ambiental. Além da falta de licenciamento, outros fatores acarretam na paralisação das atividades, tais como descumprimento da legislação trabalhista, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a não comprovação da proveniência do material de origem nativa através do Documento de Origem Florestal (DOF). Segundo o proprietário das carvoarias, outro fator que pode acarretar na paralisação das atividades, são as oscilações do preço do carvão e o mercado de ferro-gusa. O funcionamento da carvoaria está intimamente ligado ao mercado de ferro-gusa, insumo básico para a produção do carvão. (Castro et al., 2007)  afirmam que os produtores de carvão se norteiam  pelo mercado de ferro gusa, assim quando os preços estão elevados, ocorre o incentivo para o plantio e a produção de carvão.

As duas carvoarias apresentam ao todo 160 fornos do tipo rabo-quente, que segundo (Pimenta, 2006) são caracterizados pela produção artesanal, construídos a partir de tijolo e argila, apresentando uma porta e uma chaminé. Os mais utilizados no Brasil e correspondem a 70% do carvão que é produzido (Gregorut; Taccini, 2008).

Dentro da carvoaria, o trabalhador exerce várias funções até obter o produto final, a fim de ser comercializado pela siderúrgica. De acordo com (Dias et al., 2002) as atividades exercidas consistem no corte da lenha na mata nativa, preenchimento do forno, carbonização da madeira, retirada do carvão e o carregamento do caminhão. Para cada atividade existe um cargo definido (Tabela 01).

Constatou-se durante as observações que a jornada diária de trabalho correspondeu a oito horas, de segunda a sexta, e aos sábados quatro horas, correspondendo a 44 horas semanais.  Devido ao calor excessivo durante o dia, geralmente a jornada iniciava-se às cinco da manhã até as dez e o segundo turno iniciava às quatro da tarde.

Dentre as funções listadas (Tabela 01), destaca-se o encarregado e o carbonizador. O encarregado é responsável pela supervisão de todo o processo produtivo e ligado a este, consiste no elo entre os funcionários e o patrão, conhece todo o processo produtivo. Quanto ao carbonizador, este é responsável pela combustão da madeira, sendo de fundamental importância para o funcionamento da carvoaria.

Tabela 01. Lista das funções, atividades e remuneração dos trabalhadores das duas carvoarias licenciadas no município de Jerumenha.

Função

Atividade

Renda (salário)

Barrelador

Resfriamento do forno

1

Batedor de Tora

Transporte da madeira até os fornos

 

1 a 2

Empilhador de tora

Empilhar os troncos

 

1 a 2

Carbonizador

Queima da madeira, responsável pelo carvão.

2 a 3

Cozinheiro

Preparo das refeições

 

1 a 2

Encarregado

Fiscaliza e comanda todas as atividades, responsável pela carvoaria.

 

2 a 3

 

Forneiro

Enchimento e Retirada do carvão no forno

2 a 3

Mecânico

Conserto dos equipamentos e transporte

2 a 3

Motorista

Transporte do carvão até a siderúrgica

1 a 2

 

 

 

Operador de Motosserra

Corte da madeira

 

 

Tratorista

Recolhimento da madeira até os fornos

1 a 2

Zelador

Limpeza dos alojamentos e das áreas sociais

1

O processo de combustão da madeira dura geralmente três dias. Após o enchimento do forno realizado pelo forneiro, o carbonizador controla o cozimento da madeira através da liberação e fechamento dos orifícios do forno, denominados "baianas" ou "tatus", com objetivo de controlar a quantidade de oxigênio, com isso, a intensidade da combustão. Este processo é responsável pela qualidade do carvão, e exige do profissional habilidade e experiência para prever a conclusão do processo (Dias  et al., 2002). A cada seis ou sete dias os fornos rabo quente realizam o ciclo após o cozimento da madeira, o barrelador é responsável por sufocar o forno, até que o forno seja desligado. O processo total de carbonização dura sete dias. Cada forno tem a capacidade de 15 m de lenha que se transformarão em 7 metros de carvão. Com a finalização do processo, o carvão é armazenado em caminhões e destinado até a siderúrgica (Santos, Hatekayama, 2012).

A rotatividade de funcionários nas carvoarias analisadas é alta, ocasionado pelo trabalho ser considerado pelos carvoeiros como extenuante. Observou-se que alguns trabalhadores chegavam sozinhos às carvoarias à procura de trabalho ou trazidos por alguém da família que já estava no carvoejamento. Os novos funcionários são inseridos na atividade de acordo com a experiência. Para os que já exerciam a atividade em outros locais, informavam o seu cargo e assumiam o posto, os que não têm experiência, são colocados nos cargos no qual não exigia requisitos tais como: batedor de tora e empilhador de tora. 

3.3. Saúde do trabalhador

No que se refere aos riscos à saúde ocasionados pela atividade, 65,9% dos trabalhadores não relacionaram nenhum risco decorrente da atividade. Situação semelhante foi observado por (Silva et al., 2010), durante a extração manual de madeira em Minas Gerais, na qual  67%  dos trabalhadores consideravam sua saúde boa. Para (Alves, 2003) a percepção de saúde deve ir além da ausência de doença, ao considerar um contexto mais amplo, como moradia, educação, saneamento, emprego e condições de vida adequadas. Destaca-se que os demais (34,1%), relacionaram a atividade a riscos a saúde, como fumaça, fuligem, peso excessivo e altas temperaturas perto dos fornos, além da exposição à radiação solar. (Dias et al., 2002) também relacionaram estes riscos em carvoeiros no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais.

Assunção, Prais e Dias (2001) associaram a exposição a altas temperaturas como um dos fatores que influenciaram diretamente a saúde dos trabalhadores.  (Pimenta et al., 2006) afirmaram que entre os  problemas de saúde mais frequentes em carvoeiros são dores na coluna, cabeça e braços, devido ao esforço físico excessivo. (Minette et al., 2007) estudando a ergonomia de carbonizadores  no Norte de Minas Gerais, classificaram a atividade como moderadamente pesada e que demandava esforço físico do trabalhador com capacidade cardiovascular acima do permitido para a realização das atividades. (Souza et al., 2010) encontraram como os problemas respiratórios mais comuns em carvoeiros no Rio Grande do Sul,  tosse, espirros e a redução do fluxo respiratório com maior incidência nos indivíduos tabagistas. Quanto a exposição excessiva a luz solar, segundo (Hayashide et al., 2010) estudando trabalhadores rurais sofriam com essa exposição constataram que estes tinham mais chances de apresentarem câncer de pele e ceratose actínica do que outros trabalhadores que não são tão expostos a este tipo de radiação.

Ao analisar a produção de cana de açúcar no Brasil e a saúde dos trabalhadores rurais, (Abreu et al., 2011) encontraram como problemas que agravavam a saúde a alimentação imprópria, transporte inseguro, fatores psicológicos manifestados através da ansiedade, insatisfação, estresse, além da desvalorização financeira.

Em razão de nenhum dos trabalhadores possuírem plano de saúde privado e depender exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS), estes alegaram que quando apresentavam alguma doença retornavam para as suas casas. Ressalta-se que no município de Jerumenha, existem apenas um hospital municipal e um posto de saúde para atender a população. Em razão disso os casos de alta complexidade é direcionado para a cidade mais próxima, Floriano, distante 69,9 km de Jerumenha.

Todos os entrevistados relataram que ainda não sofreram nenhum acidente de trabalho. Quanto à utilização dos EPI's (Equipamentos de Proteção Individual), todos os funcionários confirmaram o uso destes, entretanto, ressalta-se que a partir das observações em campo, constatou-se que a grande maioria não faz uso de todos os equipamentos especificados para cada atividade. A resistência quanto à utilização dos mesmos, justifica-se pelo incômodo relacionado ao uso durante a atividade. Essa resistência também foi constatada por (Fiedler et al., 2001) em serrarias, em que foi observado que 82% dos trabalhadores não utilizavam os EPI's  devido o causavam incômodo.

Ainda no que se refere ao uso dos EPI's, de acordo com os encarregados das carvoarias existe muita dificuldade em fazer com que os trabalhadores adotem estes equipamentos, pois os trabalhadores fazem o uso somente na presença do encarregado.

A utilização dos EPI's é uma prática regulamentada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) através da Portaria 3.214/1978, pela Norma Regulamentadora (NR) 6. Segundo esta norma, além de outras obrigações o empregador deve fornecer o EPI, de forma gratuita e adequada ao risco que cada atividade fornece, bem como exigir a sua utilização.

Partindo da premissa que as condições de trabalho em carvoarias são insalubres (Assunção, Prais e Silva, 2001; Aranha Silva, 2002; Dias  et al., 2002). Convém destacar que nas carvoarias analisadas a realidade é bem diferente. Nestas carvoarias, a estrutura é caracterizada por alojamentos coletivos com armários e instalações sanitárias, separados por sexo, com ventilação e iluminação artificial e natural em locais de fácil acesso. Ainda possui poço artesiano, fossa séptica e refeitório e lavatório comunitário, oficina e borracharia para o conserto das máquinas e equipamentos e escritório com telefone.

O refeitório é equipado por bebedouro, cozinha com despensa, freezers para o acondicionamento dos alimentos perecíveis, fogão a lenha e filtro de barro e lavatório. O ambiente da cozinha é limpo e organizado e higienizado pelas cozinheiras. Quanto às refeições, são três: café da manhã, almoço e jantar. A dieta é composta por carboidratos, proteínas, legumes e frutas, com reposição dos mantimentos a cada 15 dias pelo proprietário da carvoaria.

No que tange ao lazer dos funcionários, observou-se que as carvoarias continham campo de futebol, televisão e ainda jogos (baralho, dominó) utilizados durante a folga. As folgas ocorrem em dois momentos. O primeiro ocorre a partir do sábado à tarde até o final do domingo. Para os carvoeiros que moram em Jerumenha, é permitido retornar para as suas residências, os que vivem em cidades distantes ou no Maranhão ficam na carvoaria. No segundo momento, as folgas mensais, ocorrem a cada 22 dias de trabalho, com duração de quatro dias, sendo revezadas entre os grupos de carvoeiros, para que a atividade não paralise, estas são negociadas de acordo com o período de festividades em suas cidades e feriados. Os trabalhadores são levados e trazidos pelo ônibus fornecido pela carvoaria, a fim de facilitar o retorno dos trabalhadores para a atividade.

Um dos problemas enfrentados pelos empregadores em carvoarias consiste no uso excessivo de álcool durante as folgas mensais, constituindo em fator para o absenteísmo (falta no emprego), pois muitos não retornavam após este período. (Aranha Silva, 2002) observou grande ingestão de bebida alcoólica durante o trabalho sendo um dos motivos de demissões devido ao baixo rendimento.

3.4. Percepção ambiental

Com relação aos impactos decorrentes da atividade, a maior parte dos trabalhadores (55,4%), não relacionou nenhum impacto ao meio. Entretanto, os demais (44,6%) relacionaram os impactos como o desmatamento, poluição do ar e alteração no regime de chuvas ocasionado pelas carvoarias.

Considerando que as carvoarias estão localizadas em área de Cerrado, e esta será utilizada para o plantio de eucalipto, foi questionado os impactos da substituição do cerrado pelo eucalipto. Esta substituição foi vista como positivo para a maior parte dos trabalhadores, pois estes associam a ideia de reflorestamento, bem como geração de emprego para a região, já que, não há utilização da flora nativa.

Constata-se que os carvoeiros avaliam o meio ambiente de forma utilitária, não levando em consideração aspectos como perda da biodiversidade, desmatamento e assoreamento. (Zillmer-Oliveira e Manfrinato, 2011) estudando a percepção ambiental, sobre o meio ambiente, de seringueiros no Mato Grosso do Sul, observaram que a maior parte estava ligada à visão utilitária do ambiente, e concluíram que, como a população inserida estava no local apenas para a exploração econômica do meio, não conseguiam vislumbrar o ambiente além do reflorestamento através do seringal, tais como: o assoreamento, desmatamento, dentre outros. De acordo com o observado no presente estudo, as carvoarias realizam o aproveitamento da vegetação desmatada, não sendo, portanto, a causadora direta do desmatamento.

Como a atividade carvoeira é de caráter temporário, a introdução do eucalipto na região, surge para os trabalhadores como uma forma de vislumbrar a continuação de uma fonte de renda. De acordo com as entrevistas realizadas nesta pesquisa, todos afirmaram a importância das carvoarias para a região, pois estas surgiram como uma nova oportunidade de emprego, já que na região não existe outras oportunidades.

3.5. Dificuldades enfrentadas por produtores de carvão vegetal

O proprietário das carvoarias alega que as dificuldades para exercer a atividade são muitas. A burocracia dos órgãos ambientais e do MTE desestimulam a instalação das carvoarias, bem como as altas despesas para a construção das dependências das carvoarias, além do transporte do carvão até as siderúrgicas. Nas carvoarias analisadas o transporte é realizado para uma siderúrgica localizada em Açailândia, distante 976 km de Jerumenha. Ainda destaca-se o preconceito e a falta de conhecimento em relação à atividade por parte dos proprietários de terra, na qual existe disponibilidade material lenhoso para o a produção de carvão, não disponibilizando suas terras, devido a maior fiscalização em suas terras.

Ainda afirmam que a população e a imprensa discriminam a atividade por falta de conhecimento e associam sempre as carvoarias à ideia de trabalho escravo e de desmatamento.

 Esse fato foi verificado em consultas à população de Jerumenha, muitos não conheciam a atividade e associou o desmatamento ilegal a presença das carvoarias, além da marginalização dos jovens que em busca de trabalho se sujeitavam às condições de trabalho nessas carvoarias. Destaca-se que os carvoeiros solteiros alegaram ter dificuldades para se relacionar devido o preconceito por parte da população em relação a sua atividade.

Uma limitação encontrada no presente estudo constituiu no acesso às carvoarias e consequentemente coleta dos dados, pois, mesmo tratando-se de carvoarias licenciadas, existe o medo e a desconfiança por parte dos carvoeiros por se tratar de ser uma atividade mal vista pela população.

4. Conclusões

Tratando-se da caracterização dos profissionais presentes nas carvoarias estudadas em Jerumenha, constatou-se que a maior parte é do sexo masculino, casado, com faixa etária de 19 a 29 anos, oriundos do Maranhão. A opção pela atividade ocorreu devido a maior remuneração e as garantias salariais. Entretanto, existe uma alta rotatividade de funcionários, devido os trabalhadores considerarem a atividade extenuante.

O Piauí é um dos poucos estados que autoriza a atividade através de Licenciamento específico, sendo este condicionado a um projeto de uso alternativo do solo. A atividade envolve um grande número de trabalhadores, com funções específicas para cada cargo a ser desempenhado. Apesar da maior parte dos carvoeiros considerarem sua saúde boa, existem problemas de saúde inerentes à atividade que devem ser investigados, como a fumaça inalada durante o período de carbonização e carga de trabalho, a fim de se fornecer informações sobre o estado de saúde e assim propor medidas que auxiliam no processo de reabilitação destes.

Os produtores de carvão alegam que uma das grandes dificuldades seria o preconceito e a falta de conhecimento, por parte da população e proprietários de terra por acreditarem que a atividade é marginalizada e ilegal.

Considerando que o Estado ocupa posição de destaque na produção de carvão vegetal no Nordeste, estudos sobre a atividade de origem nativa em outras regiões faz-se necessário a fim de se caracterizar a atividade bem como os impactos decorrentes desta atividade na população envolvida direta e indiretamente nesta.

Referências

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1. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente do Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA)/ Universidade Federal do Piauí (UFPI). adrianbiologa@yahoo.com.br
2. Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente do Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) Universidade Federal do Piauí. kellypolyana@hotmail.com
3. Prof. do Departamento de Biologia da UFPI e do Programa de Mestrado e em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) /PRODEMA/PRPPG/UFPI. albertojorgecastro@gmail.com


Vol. 37 (Nº 03) Año 2016

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