Espacios. Vol. 37 (Nº 05) Año 2016. Pág. 8

Aspectos sobre a erosão pluvial em usos agropecuários

Aspects about erosion rain in agricultural uses

Vanderlei MARINHESKI 1

Recibido: 05/10/15 • Aprobado: 29/10/2015


Contenido

1. Introdução

2. A chuva como principal agente erosivo em ambiente Subtropical

3. Erosão em áreas de uso agropecuário

4. Considerações finais

Referências


RESUMO:

Esse trabalho teve como objetivo apontar os aspectos sobre a erosão pluvial em solos com usos agropecuários. A metodologia foi baseada na revisão de literatura com abordagens em conceitos e resultados de experimentações quanto à perda de solo em diferentes usos agropecuários. Na atualidade, são inúmeros os casos de perdas de terra pela erosão em áreas produtivas. A revisão literária trouxe variáveis de perda de solo em diferentes tipos de cobertura vegetal, usos temporários com plantio de arroz tiveram perdas de até 51.560 kg/solo/hectare/ano, já em áreas com mata as perdas ficaram entre 3 e 4 kg/solo/hectare/ano.
Palavras-chave: Uso do solo. Erosão pluvial. Cobertura vegetal. Agropecuária.

ABSTRACT:

This study aimed to point out the aspects of the rain erosion in soils with agricultural uses. The methodology was based on the literature review with approaches concepts and results of experiments on the soil loss in different agricultural uses. Currently, there are numerous cases of Soil loss by erosion in productive areas. The literature review brought soil loss variables in different types of vegetation, temporary uses with rice planting had losses of up to 51,560 kg / soil / hectare / year as in areas with forest losses were between 3 and 4 kg / soil / hectare / year.
Keywords: Land use. Rain erosion. Vegetal cover. Agricultural.

1. Introdução

Os processos erosivos sempre estiveram presentes no relevo, atuando na esculturação e na caracterização das paisagens, com a remoção, transporte e deposição de materiais, sendo a água e o vento, os principais agentes removedores e transportadores de sedimentos.

Segundo Castro (1956), os processos erosivos são desencadeados por forças ativas e passivas. As forças ativas estão relacionadas aos eventos chuvosos, a declividade, o comprimento das vertentes e a capacidade de infiltração da água no solo. As forças passivas dizem respeito à proteção do solo contra os processos erosivos pela água como, por exemplo, a cobertura vegetal. 

A erosão pode ser definida como a remoção e o transporte de materiais meteorizados (FLORENZANO, 2008). Destacada no Brasil, a erosão pluvial resulta do impacto e escoamento das águas da chuva, que dão início ao ciclo de desagregação e produção de sedimentos. Tricart (1977) explica que em ambientes de bioestasia, a vegetação intercepta parte das gotas da chuva, que chegam com atraso ao solo. Já em ambientes de resistasia, o solo desprotegido da cobertura vegetal sofre o impacto direto das gotas de chuva e do escoamento de seus excedentes.

De início ocorre o salpico, ou seja, a remoção dos agregados por impacto das gotas que são deslocadas, tanto à jusante quanto a montante do local de desagregação. À medida que a intensidade da chuva aumenta, formam-se as poças de água. Com o rompimento dessas poças, acontece o escoamento difuso, provocando a erosão laminar, podendo evoluir para sulcos e voçorocas, conforme o aumento da intensidade das precipitações pluviométricas, característica do relevo e estrutura do solo (CUNHA; GUERRA, et al., 1996).

Salomão et al. (1999) aponta que a erosão laminar se desenvolve em larga escala nas áreas ocupadas por atividades agrícolas, principalmente quando estas ocupam porções do relevo com declividades acentuadas sem proteção da cobertura vegetal. Convém ponderar que o "primeiro impacto erosivo dos solos é propiciado pela ação mecânica das gotas, que promovem o arrancamento e posteriormente o deslocamento das partículas terrosas" (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 29). Registre-se ainda a participação da energia cinética, tanto no impacto das gotas da chuva como no escoamento superficial das enxurradas (LEPSCH, 2002).

Desta forma, a precipitação pluviométrica age em dois momentos: na produção e transporte de sedimentos. O primeiro é com o impacto das gotas de chuva que movimentam as partículas mais finas e, o segundo, com o escoamento de fluxos difusos e concentrados que vão removendo e transportando materiais. Todos esses processos têm o aumento da intensidade com maior declividade do relevo e a intensificação dos índices pluviométricos (CHRISTOFOLETTI, 1980).

Para Guerra et al. (1999), as crostas se formam com o deslocamento das partículas ao longo das encostas, impermeabilizando a camada superficial do solo. A diminuição das taxas de infiltração da água provoca o aumento dos fluxos de escoamentos, resultando nas enxurradas com grande potencial de remoção e transporte de materiais.

Os materiais desagregados são transportados para as partes mais baixas do relevo e, quando abrangem áreas de cultivo, removem camadas férteis do solo, assim como a adubação feita para o plantio das safras. Nessa esteira, Bertoni e Lombardi Neto (1999) contribuem citando que em terras cultivadas, os processos erosivos removem grande porcentagem do fósforo absorvido pelas pequenas partículas do solo e do nitrogênio solúvel pela água.

As áreas do relevo desprotegidas de cobertura vegetal são susceptíveis ao impacto das gotas da chuva que desagregam e movimentam as partículas do solo, representando o início da movimentação da camada superficial do terreno (LEPSCH, 2002). Essa movimentação do solo é o processo erosivo que mais transforma a superfície terrestre e, muitas vezes, não é percebido por não apresentar mudanças imediatas na paisagem.

De acordo com Sorrenson e Montoya (1984), as marcas do desgaste dos solos devido à erosão laminar, foram amenizadas com a intensificação do uso de adubos químicos.

Em consonância com Guerra et al. (2005), alguns fatores controladores devem ser levados em consideração na avaliação dos processos erosivos, tais como: a erosividade da chuva, propriedades do solo, cobertura vegetal, características das encostas e as influências da ação antrópica. Morgan (1986) salienta ainda ser de fundamental importância a identificação desses fatores, relacionando-os com os processos erosivos, ou seja, deve-se compreender como, onde e porque ocorre a erosão.

A ação antrópica sobre o meio ambiente tem contribuído de forma substancial para acelerar os processos erosivos, resultando em perdas de terras férteis, contaminação da água, assoreamento dos cursos de córregos, rios e reservatórios, a destruição dos ecossistemas terrestres e aquáticos, além dos problemas sociais e econômicos que podem ser relacionados à degradação do solo.

O homem, com a ocupação e o uso do solo para práticas produtivas, acelerou os principais agentes erosivos. De início, pode-se destacar a retirada da cobertura vegetal, associada a manejos inadequadas para determinados níveis de declividade, o uso excessivo de adubos e defensivos agrícolas, grande ocupação bovina em pastagens, além das mudanças no "ritmo das relações entre as plantas e o solo" (CHRISTOFOLETTI et al., 2005, p. 420), deixando para trás os lastros de terras degradadas.

Posta assim a questão, é de se dizer que a erosão aumenta com a retirada da cobertura vegetal e a concentração dos fluxos de água, que resultam, principalmente, do uso e manejo do solo inadequado nas áreas agrícolas, trilhas de gado, estradas vicinais (concentração das águas nas linhas de drenagem), e interrupção de coletores em estradas.

2. A chuva como principal agente erosivo em ambiente subtropical

Tenha-se presente que os dois principais agentes erosivos são a água e o vento, que esculpem as formas do relevo, caracterizando e diversificando as paisagens. Desconsiderando o vento, os processos erosivos têm a água (com origem na chuva), como principal agente transportador de solo sobre o terreno (BERTONI; LOMBARDI, 1999). Devido à grande habilidade da água em causar erosão, a chuva torna-se um fenômeno com alto potencial de erosividade (HUDSON, 1961).

Seguindo nesta análise, Guerra (1991) aponta a relação do tempo e espaço na variação do tamanho das gotas. "Os parâmetros utilizados para investigar a erosividade são: o total de chuva, a intensidade, o momento e a energia cinética" (GUERRA, 2005, p.151).

Para Mafra et al. (1999), os processos erosivos pela ação da água se caracterizam por apresentarem trocas de energia e matéria, impulsionados por desequilíbrios do sistema água/solo/cobertura vegetal, que contribuem para remoção constante do solo.

Segundo Bertoni e Lombardi Neto: "A chuva é um dos fatores climáticos de maior importância na erosão dos solos" (1999, p. 45). Conforme os autores, ao relacionar os eventos chuvosos com os processos erosivos, os dados não podem ser somente mensais ou anuais. Deve ser identificada a quantidade e a intensidade da chuva durante certo período de tempo, como exemplo, pode-se citar uma chuva de 30 mm bem distribuída em 24 horas, que possui menos capacidade erosiva do que uma chuva de 30 mm em meia hora. É preciso ainda destacar a frequência dos eventos chuvosos. Chuvas com curto espaço de tempo vão encharcar o solo, o que facilita o escoamento das enxurradas e, mesmo que os índices das precipitações não sejam muito elevados, os mesmos provocarão a erosão.

Ao mencionar a chuva como agente movedor dos processos erosivos, é necessário entender todo o seu funcionamento no desprendimento das partículas do solo. Ellison (1947) diz que as gotas de água durante um evento chuvoso podem mover as partículas cerca de 60 centímetros de altura e 1,5 metros de distância.

O desprendimento e a movimentação dos sedimentos acontecem com a participação da energia do processo, também chamada de energia cinética. O tamanho das gotas, o volume da enxurrada e a distância percorrida, são determinantes para o aumento desta energia. Bertoni e Lombardi Neto (1999) destacam que a velocidade aumenta conforme a dimensão das gotas e a distância do impacto (TABELA 1).

TABELA 1 – Velocidade terminal de gotas de chuva de vários diâmetros.
Fonte: Bertoni e Lombardi Neto (1999, p. 48).

Os autores evidenciam que as gotas de chuva aumentam a velocidade de acordo com seu tamanho, e atingem o valor máximo quando caem de uma altura de cerca de 8 metros. Com base nesses dados, torna-se possível relacionar o poder erosivo das gotas que caem das copas das árvores. Essas gotas aumentam seu diâmetro devido à união de várias outras e, caindo de certa altura, chegam ao ápice da velocidade. Hudson (1982) apresentou um trabalho demonstrando que a energia cinética das gotas da chuva é 256 vezes mais intensa do que a da enxurrada que escoa na superfície.

O montante de material removido vai depender do volume total de água e a velocidade dos processos, estando estes relacionados com o tipo de evento chuvoso e com as características do relevo, no qual os processos ocorrem. Vale lembrar que as vertentes côncavas são concentradoras dos fluxos, predominando os processos em sulcos e ravinas. Já as vertentes convexas dissipam os fluxos, enquanto que as retilíneas têm predomínio nos processos laminares.

Com relação à erosão pluvial, Tricart (1977) destaca a relação entre intensidade da chuva e a estrutura física dos agregados do solo. Estes apresentam características do material e dos processos formadores, sofrendo alterações com as práticas de cultivo. Pode-se melhorar o solo com a adição de matéria orgânica tornando-o mais resistente aos processos erosivos ou comprometer sua estrutura com práticas agrícolas que aumentem a compactação, como exemplo, a utilização de máquinas pesadas em sistema de uso convencional do solo.

Convém enfatizar que as enxurradas transportam sedimentos, nutrientes e produtos agroquímicos, que são carregados até córregos e rios, contaminando a água e os seres vivos, além de causar prejuízos econômicos para o produtor com perda da produtividade da terra.

 

3. Erosão em áreas de uso agropecuário

Conforme elucida Lepsch (2002), a retirada da cobertura vegetal pela ação antrópica em locais de relevo com declividades acentuadas, deixa o solo exposto aos processos erosivos e, se os mesmos não forem controlados, a tendência é que haja incisões de maior profundidade no relevo (sulcos profundos ou voçorocas).

Tricart (1977) completa dizendo que a cobertura vegetal influencia no equilíbrio do ecossistema da seguinte forma: com processos de fotossíntese, absorção da radiação pelas plantas através da interceptação das gotas de chuva com o efeito da rugosidade, diminuindo assim, a velocidade do escoamento das enxurradas. Pinese Jr.; Cruz e Rodrigues (2008) destacam a importância da cobertura vegetal em encostas com declividades acentuadas protegendo, desta forma, o solo da incidência direta das precipitações pluviométricas.

A remoção da vegetação para práticas agropecuárias deixa o solo vulnerável aos processos erosivos, com destaque para a remoção superficial devido à erosão laminar. No entanto, alguns pesquisadores mencionam as influências da cobertura vegetal no aumento da erosão, principalmente em lavouras cultivadas com plantas de folha larga. Morgan (1983) cita o exemplo de lavouras de couve-de-bruxelas na Inglaterra, onde a erosão do solo foi maior em áreas desse cultivo do que em solos totalmente desprotegidos de cobertura vegetal.

No Centro Sul do Estado do Paraná, pode ser destacado o cultivo do milho e fumo, com folhas que acumulam água. Quando esse volume de água cai no solo, supera a capacidade de infiltração, causando o escoamento difuso ou concentrado, desagregando sedimentos (THOMAZ; ANTONELI, 2010).

Considerando as formas de uso e ocupação do solo aliados às características topográficas e influências climáticas, requer-se uma avaliação dos locais e cultivos em que os processos erosivos atuam com maior intensidade, prevendo os melhores métodos de manejo e ocupação do relevo para amenizar a degradação das terras e fornecer boa produtividade.

A cobertura vegetal também deve ser adequada para determinado ambiente. O plantio direto sobre a palhada, por exemplo, além de diminuir a erosão, economiza dinheiro e tempo, podendo-se fazer o plantio com apenas uma passagem de máquinas. E quando decomposta, a palhada torna-se húmus para as plantas utilizarem no crescimento (LEPSCH, 2002). 

Drew (1989) assegura que as práticas agrícolas deixam marcas no ambiente conforme a escala de empreendimento. A intensidade do uso dos recursos naturais, incluindo o solo, a vegetação e a água, marca essas diferenças no grau de exploração. Um bom exemplo pode ser relacionado à economia das sociedades que praticavam uma agricultura arcaica, quando a intensidade do uso dos recursos naturais era bem menor. Já a sociedade moderna, transformou e, num processo contínuo, degrada esses recursos em benefício socioeconômico.    

Os processos erosivos ganham maior participação com as práticas de cultivo não adequadas para as características do relevo degradando, em poucos anos, os melhores solos para a realização das atividades agrícolas. "A erosão foi um dos fatores mais importantes que causaram a queda das primeiras civilizações e impérios, cujas cidades arruinadas estão agora como despojos estéreis das terras mais férteis do mundo" (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1999, p. 14).

Diante do exposto, aumenta-se a importância da compreensão dos mecanismos que aceleram os processos erosivos, principalmente em área cultivada, visto que o solo é a principal fonte da produção de alimentos para a população que já ultrapassa a cifra dos 6,5 bilhões de habitantes no planeta.

A agricultura é uma das atividades mais antigas que o homem desenvolveu na superfície da terra. Para Diniz, "é uma das atividades mais complexas da superfície terrestre, e o homem apesar de com ela conviver a milhares de anos, ainda não conseguiu controlá-la inteiramente" (1986, p.15).

Desde o início das atividades agrícolas, as marcas de degradação do solo e dos demais recursos naturais foram ganhando dimensão. Com isso, o homem foi entendendo que alguns métodos de cultivo tornavam-se mais prejudiciais ao solo e colocavam em risco a produtividade dos mesmos (LEPSCH, 2002). Portanto, diminuir a erosão do solo também já fazia parte dos pensamentos das primeiras civilizações agrícolas e, algumas dessas técnicas, foram aperfeiçoadas de acordo com as características naturais do ambiente.

 Hudson (1982) e Lepsch (2002) apontam que a magnitude da erosão do solo não se restringe somente as suas características e as do ambiente em que está inserido, mas também, ao tipo de manejo que o mesmo recebe durante os preparos. Um hectare de solo pode ter em torno de 400 toneladas de terra removida durante um ano, quando o plantio for feito paralelamente às maiores declividades do relevo. Com a implantação de técnicas que amenizem a erosão, como por exemplo, o cultivo perpendicular às inclinações do relevo aliado ao plantio direto e a adubação verde, o mesmo hectare pode ter somente alguns quilogramas de terra removida durante o mesmo período. 

Com base em Drew (1989), as atividades de uso e ocupação do solo aceleram os processos erosivos como, por exemplo, a movimentação de sedimentos nas encostas ocupadas por práticas agropecuárias. A quantidade de sedimentos que a natureza sozinha removeria ao longo de muito tempo, o homem o faz em poucos anos com práticas agrícolas inadequadas, deixando a parte superficial descoberta, o que contribui para maior vulnerabilidade do solo aos agentes erosivos.

Entretanto, se o mesmo local for cultivado com técnicas de adubação verde, o solo ficará coberto pela palhada, estando mais protegido contra o impacto e ao arraste causado pelas águas.

 Bertoni e Lombardi Neto (1999) ressaltam que em práticas agrícolas o plantio de diferentes culturas proporciona variações nos índices de proteção do solo. Desta forma, o calendário agrícola disponibiliza períodos com maior proteção e cobertura vegetal, sendo estes, no meio do desenvolvimento da plantação. O período após o plantio e próximo à colheita oferece menor proteção, deixando o solo mais propenso a ser erodido.

Assim, a magnitude dos processos erosivos vai depender da quantidade e concentração dos eventos chuvosos nesses períodos de menor proteção vegetal oferecido por determinadas culturas. Wischemeier (1960) dividiu essas fases em cinco períodos:

  1.  Do preparo do solo ao plantio;
  2.  Após plantio até 30 dias;
  3.  Do fim do período 2 até 2 meses após o plantio;
  4.  30 dias após o plantio até a colheita;
  5.  Após a colheita, tendo ou não a presença da palhada.

"A mecanização agrícola através de tecnologias inadequadas constituiu, sem dúvida, um dos principais agentes promotores da erosão e limitantes da produtividade do solo" (MUZILLI et al., 1999, p. 8). Os efeitos da degradação do solo ganham maior dimensão quando se implantam sistemas de cultivos mecanizados, sem técnicas de conservação do solo, deixando a terra bem revolvida para o plantio das safras. Esse processo geralmente é feito em duas operações: primeiro é efetuada a aração ou tombamento do solo, em seguida, passa-se a grade para desmanchar as estruturas e nivelar a superfície.

Drew (1989) mostra que em alguns casos, quando o homem prepara o solo para o plantio, os sulcos abertos nas encostas contribuem para o acúmulo da água, retardando os fluxos das enxurradas. Em consequência, diminuem-se os processos erosivos e aumenta-se a umidade do solo. Isso apenas quando o revolvimento do solo for praticado no contorno das declividades do relevo e somente com pequenos sulcos na terra, sem desmanchar a estrutura da camada superficial.

Mesmo assim, quando ocorrem índices de muita concentração pluviométrica, a camada superficial pode adensar e diminuir o volume de infiltração da água, desencadeando os fluxos de escoamento que vão se encontrando e formando as enxurradas. Com isso, pode ser destacado que algumas práticas de manejo dependem muito das características do evento chuvoso para garantir a eficiência de conservação do solo.

Em um estudo realizado em cultivo convencional (com aração mais duas gradagens) e em cultivo conservacionista (com o uso do escarificador mais gradagem com plantio direto), Schick demonstrou que as perdas de solo foram de 1,5 a 3 vezes maiores no plantio convencional (SCHICK et al., 2000).

No Brasil, o período de plantio é em torno dos meses de setembro e outubro, quando ocorrem os maiores eventos chuvosos, causando intensos processos erosivos. Estudos do IAC (Instituto Agronômico de Campinas/SP) apontam perdas de 21 toneladas de solo/hectare/ano em solos arenosos; 16 toneladas/hectare/ano em solos argilosos e 9,5 toneladas/hectare/ano em solo terra roxa (ROSS, 1996).

O tipo de cultivo e a duração do ciclo das espécies vegetais influenciam na remoção do solo, visto que a cobertura vegetal intercepta os impactos direto das gotas de chuva e, através do sistema radicular, permite a infiltração de uma porcentagem da água empoçada. "A erosão depende, não do que se cultiva, e sim de como se cultiva" (HUDSON, 1982, p. 71).

Quando a camada do solo superficial é removida pela erosão, resta à camada compactada, menor capacidade de infiltração e armazenamento de água. Em sistemas de cultivo convencionais essa porção de subsolo é revolvida com o arado apresentando, geralmente, uma estrutura mais fraca, o que o torna suscetível ao transporte pelas enxurradas. Além disso, as plantas encontrarão dificuldades para germinar e fixar suas raízes em busca de nutrientes.

Um estudo realizado na Bélgica por De Ploey acerca da formação das crostas, mostra que os maiores índices de perda de solo aconteceram quando estes estavam descobertos pela colheita ou logo após o plantio e, ainda, na presença de intensas precipitações pluviométricas (DE PLOEY apud GUERRA et al., 1999).

No quadro 1, podem ser observadas as variáveis de perda de solo com relação aos diferentes tipos de cobertura vegetal. Verifica-se que as maiores perdas por erosão ocorreram nos cultivos temporários, podendo relacioná-los à mecanização intensiva, deixando o solo bem exposto e revolvido, facilitando assim, a desagregação e o transporte. Além disso, os cultivos de ciclo curto deixam o solo desprotegido da cobertura vegetal em boa parte do tempo, tanto no desenvolvimento das plantas quanto no período pós-colheita. Em contrapartida, as menores perdas de solo foram registradas em áreas com cobertura vegetal permanente (pastagens e florestas).

Além das maiores perdas de solo em cultivos temporários, destaca-se também, a destruição da camada grumosa quando esses cultivos são realizados de forma convencional e mecanizados. Primavesi (2002) diz que quanto mais as máquinas agrícolas passarem na superfície, mais prejudicada será a bioestrutura do solo devido à pressão exercida pelas rodas. Com isso, a água terá menor capacidade de infiltração, resultando no escoamento de início difuso, mas que com acúmulo das precipitações, tornam-se concentrados. A menor infiltração das precipitações pluviométricas em solos com a camada grumosa destruída, resulta na falta de água no decorrer do crescimento das plantas.

Outra questão, que merece atenção nas áreas de cultivo, é a presença de fragmentos de rochas (matacões e blocos), que podem acelerar ou diminuir a ação das enxurradas. Para Evans (1996), solos pedregosos podem retardar os processos erosivos com o acúmulo de água em pequenas represas formadas pelos materiais rochosos ou, ainda, acelerar os processos com o rompimento das mesmas.

  IAC apud Ross (1996), estado de São Paulo

Casseti (1983), estado de Goiás

Lepsch (2002)

Cobertura vegetal

Perdas de solo/kg/ hectare/ano

Cobertura vegetal

Perdas de solo/kg/ hectare/ano

Cobertura vegetal

Perdas de solo/kg/ hectare/ano

Pastagem

400

Pastagem

230

Pastagem

700

Cultivo temporário

(algodão)

26.600

Cultivo temporário

(arroz)

51.560

Cultivo temporário

(algodão)

38.000

Cultivo de ciclo longo (café)

900

_

_

Cultivo de ciclo longo (café)

1.100

Floresta nativa

4

Floresta nativa

3

Floresta nativa

4

QUADRO 1 – Perdas de solo por erosão em diferentes usos da terra.
Org: O autor, 2009.

Ao lado da agricultura, a pecuária depende diretamente das condições do solo para garantir boas pastagens, principalmente quando se trata da pecuária extensiva (gado criado solto no pasto, sem confinamento). Áreas de pastagens tornam-se sistemas importantes na conservação ou degradação do solo e na dispersão ou abastecimento dos lençóis freáticos. "O solo constitui o principal componente relacionado à produção agropecuária. Dessa forma, a conservação ou a melhoria de sua qualidade, é essencial para a sustentação da atividade produtiva" (JAKELAITIS et al., 2008, p.118).

As pastagens podem tornar o ambiente mais estável aos processos erosivos, vez que as gramíneas que as constituem, têm papel importante na agregação estrutural do solo, contribuindo com o revestimento vegetal da parte superficial do relevo e disponibilizando matéria orgânica para ser transformada em húmus (GREENLAND, 1971). Essas gramíneas ainda atuam juntamente com o sistema radicular que possibilita maior infiltração e retenção da água, além de controlar a variação térmica (KAY, 1990).

As áreas com pastos podem ter gramíneas nativas ou introduzidas e melhoradas frequentemente pelo homem. Os efeitos erosivos em locais de ocupação pela pecuária merecem atenção porque refletem as formas de uso e manejo do solo.

Quando se trata de pastos naturais, dificilmente o produtor faz o revolvimento do solo para melhorar a produtividade, deixando o local revestido com cobertura vegetal e menos propenso a remoção de sedimentos. Já em pastagens melhoradas artificialmente, é feito, periodicamente, o revolvimento do solo para a adubação e o plantio de novas espécies, expondo a terra à ação dos agentes morfodinâmicos.

Maack já na década de 1960, registrava o desgaste dos solos na região dos campos de Guarapuava e Palmas, devido às queimadas efetuadas para renovação das pastagens. 30 anos antes do referido ano, uma cabeça de gado utilizava de 1 a 2 alqueires de pasto, em 1960 eram necessários de 3 a 4 alqueires (MAACK, 2002).

Bono (1994), em seus estudos sobre os processos erosivos em pastagens, esclareceu que em locais com Cambissolo, tiveram os maiores índices de erosão. Isso pode estar relacionado às características físicas no qual predomina o Cambissolo: declividade acentuada, baixa macroporosidade, baixa permeabilidade e encrostamento pronunciado, fatores estes, que contribuem para os processos erosivos serem mais intensos.

Em mensurações realizadas em áreas de pastagem, Lepsch (2002) estabeleceu perdas de 700 kg de solo/hectare/ano; IAC apud Ross (1996), de 400 kg de solo/hectare/ano e Casseti (1983), de 230 kg de solo/hectare/ano. Essas variáveis podem ser relacionadas às características do relevo, número de animais por área, tipo de pasto (com maior ou menor cobertura vegetal), e a própria intensidade da chuva.

"As pastagens [...] melhoram as condições estruturais do solo e diminuem os processos erosivos pelo aumento da superfície rugosa; entretanto, esses benefícios somente são observados quando essa cultura é conduzida adequadamente" (ENDRES et al., 2006, p. 206).  De forma geral, as pastagens oferecem uma proteção ao solo contra os processos erosivos por manterem um revestimento vegetal superficial e assegurarem maior estabilidade. Mas para sua melhor eficiência, faz se necessário um diagnóstico do local utilizado para esses fins e o tipo de vegetação a ser implantada.

Para Junior Neves (2005), em uma pesquisa desenvolvida em áreas de pastagens na Amazônia, foi constatada a ausência de degradação física do solo, pois o incremento de matéria orgânica melhorou a bioestrutura do mesmo.

Ainda deve ser mencionado o número de animais por área de pasto. Áreas superlotadas ficam mais vulneráveis à degradação do solo devido ao excesso de pisoteio, compactando e desagregando sedimentos a serem transportados pelos processos erosivos (THOMAZ; DIAS, 2009).

4. Considerações finais

Com esse trabalho conclui-se que a erosão pluvial age em dois momentos: com o impacto das gotas de chuva que desagregam os sedimentos e com o escoamento das enxurradas que carregam os materiais soltos. Áreas com praticas agrícolas convencionais e mecanizadas apresentaram elevados índices de perda solo, refletindo–se a importância e necessidade da cobertura vegetal para conter os processos erosivos.

Enfatiza-se também que as enxurradas alem dos sedimentos, transportam nutrientes e produtos agroquímicos, podendo contaminar a água e os seres vivos, além de causar prejuízos econômicos para o produtor com perda da produtividade da terra.

E por fim, salienta-se que os diferentes usos da terra para práticas agropecuárias têm, ao longo do tempo, a erosão acelerada como a principal causa da degradação dos solos férteis. Em síntese, é imprescindível identificar a aptidão da terra quanto sua capacidade de uso para ter maior produtividade e diminuir as perdas.    

Referências

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1. Secretária Estadual de Educação do Paraná – SEED - PR. Email: marinheskigeo@hotmail.com



Vol. 37 (Nº 05) Año 2016

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