Espacios. Vol. 37 (Nº 08) Año 2016. Pág. E-1

Influência da educação ambiental na percepção de alunos do ensino público de Pombal, Paraíba, quanto a gestão dos resíduos sólidos

Influence of environmental education in perception of public education students from Pombal, Paraíba, for the management of solid waste

Alda Leaby dos Santos XAVIER 1, Edevaldo da SILVA 2, Elzenir Pereira de Oliveira ALMEIDA 3

Recibido: 04/11/15 • Aprobado: 02/12/2015


Contenido

1. Introdução

2 Metodologia

3. Resultados e Discussão

4. Conclusão

5. Agradecimentos

Referências


RESUMO:

Essa pesquisa avaliou a influência da inserção da Educação Ambiental na percepção socioambiental de alunos sobre a gestão dos resíduos sólidos. Foram entrevistados 86 alunos do ensino médio público da cidade de Pombal, Paraíba, Brasil, com a aplicação de um questionário, antes e depois, de uma vivência didática em Educação Ambiental sobre a gestão dos resíduos sólidos. A vivência didática melhorou em, pelo menos, 30,0%, a compreensão e sensibilização dos alunos sobre essa temática. A inserção da Educação Ambiental no contexto escolar é uma estratégia didática fundamental para educar os alunos quanto aos aspectos socioambientais que envolvem os resíduos sólidos.
Palavras chaves: Escola, Comportamento, Problemas socioambientais.

ABSTRACT:

This study evaluated the influence of environmental education inserting the environmental awareness of students on the management of solid waste. They interviewed 86 public high school students in the city of Pombal, Paraíba, Brazil, with the application of a questionnaire before and after of a didactic experience in environmental education on the management of solid waste. The teaching experience has improved by at least 30,0%, understanding and awareness of the students on this topic. The inclusion of environmental education in the school context is a key teaching strategy to educate students about the social and environmental aspects involving solid waste.
Keywords: Solid waste, behavior, social and environmental problems.

1. Introdução

A crescente preocupação com as questões ambientais está diretamente relacionada com os problemas enfrentados pela sociedade atual, onde ações antrópicas têm causado excessiva exploração e degradação do meio ambiente, devastando a biota terrestre (Pereira et al. 2013).

O homem ao longo do tempo modificou o ambiente e adquiriu praticas insustentáveis ao equilíbrio do planeta. Com o surgimento de novas tecnologias modificou o mundo para suprir as necessidades individuais, causando problemas ambientais em níveis globais (Kondrat, Maciel, 2013). "A problemática ambiental expande-se de maneira gradual, imperceptível e a curto prazo, a medida que vivenciamos uma expansão social e urbana" (Silva et al. 2015 p, 1).

O seu estilo de vida o distanciou do ambiente, e a influência do sistema econômico de consumo, contribui para um dos grandes problemas ambientais, que é a elevada quantidade de resíduos sólidos produzidos pela humanidade (Sobarzo, Marin, 2010).

O tratamento desses resíduos tornou-se um fator desafiador tanto para população quanto para os governos, visto que a sua destinação incorreta tem causado problemas de ordem ambiental e social (Souza et al. 2013). A questões ambientais relacionadas aos resíduos sólidos é emergente nos projetos de Educação Ambiental, por objetivar a sensibilização e conscientização de um problema identificado (Andrade, Sorrentino 2013).

No Brasil, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) apresenta medidas que buscam solucionar essa problemática, tais como a substituição dos lixões por aterros sanitários e um redesenho da cadeia produtiva, com a inclusão da logística reversa (Brasil, 2010). Entretanto, as normas da PNRS ainda não têm sido cumpridas adequadamente na maioria dos municípios brasileiros.

Para a mitigação dos problemas relacionados à gestão dos resíduos sólidos a sociedade civil, governos, entidades privadas, universidades e escolas necessitam apresentar estratégias de solução imediata, que possam contribuir para uma sociedade consciente e responsável pelos seus problemas socioambientais. Contribuindo para um equilíbrio entre homem/natureza onde as necessidades atuais sejam atendidas de forma que não comprometa as gerações futuras (Closs, Antonello, 2014).

Para a sensibilização e compreensão dessa problemática ambiental a Educação Ambiental se torna fundamental, devendo ser inserida no contexto formal e não-formal da sociedade. Para tanto, é necessária uma interação entre educação e ambiente para que se possa propor, através da educação, uma convivência harmoniosa entre sociedade/ambiente (Iared, Oliveira, 2011).

Segundo o Plano Nacional de Educação Ambiental (PNEA), sancionado na Lei no 9.795 (Brasil, 1999, p.01):

Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

A Educação Ambiental tem sido inserida no contexto social e, o rompimento das ideias simplistas sobre o tema é um ponto importante para mudança de valores e comportamentos da população (Pereira, Gibbon, 2014). Neste sentido, ela apresenta-se como uma importante ferramenta para mudança social (Cuba, 2010).  Tem como função a formação de cidadoas ambientalmente educados e socialmente responsáveis, apresenta o papel de desmitificar a ideia de que os interesses individuais devem superar os interesses da coletividade (Júnior et al. 2012).

As abordagens ambientais no âmbito escolar necessitam estar presente em todos os níveis de ensino, a educação tem poder de mudança social e intelectual, obtendo como resultado a sensibilização e conscientização do alunado e da comunidade para aquisição de práticas sustentáveis.

Analisar a influência do ensino da Educação Ambiental no perfil socioambiental dos alunos se faz necessário, para verificar se a Educação Ambiental nas escolas tem educado os alunos para um comportamento mais integral, enquanto cidadão, diante das questões ambientais ou se eles a percebe de forma limitada e, consequentemente, gera cidadão com comportamentos ambientais limitados ou pouco adequados.

Essa pesquisa teve como objetivo avaliar a influência da inserção da Educação Ambiental na percepção ambiental dos alunos quanto às questões ambientais relacionados aos resíduos sólidos.

2. Metodologia

O estudo foi realizado na Escola Estadual de Ensino Médio Monsenhor Vicente Freitas, localizada no município de Pombal, Paraíba. A população amostral foi definida a partir do total de alunos matriculados na escola (n = 776) e considerando um erro padrão igual a 10% (Rocha, 1997). Dessa forma, a amostragem constituiu de 86 alunos que cursam o 1º e 3º ano do ensino médio, distribuídos em três turmas e selecionados de forma aleatória. A pesquisa foi desenvolvida em três etapas distintas, a saber:

  1. Etapa 1: Aplicação de questionário estruturado com 16 questões, sobre "resíduos sólidos". 
  2. Etapa 2: Vivência didática de uma hora, sobre os "resíduos sólidos". A vivência foi uma exposição dialógica e expositiva desenvolvida segundo plano de ensino específico (Tabela 1).

Tabela 1- Plano de Ensino da vivência didática ministrada na pesquisa.

Plano de Ensino

Objetivos específicos: Entender o papel da Educação Ambiental; compreender o que são resíduos sólidos; compreender a influência do sistema econômico de consumo para o agravamento desse problema; conhecer as consequências socioambientais da destinação incorreta dos resíduos sólidos; compreender o que é reciclagem; identificar que mudanças de comportamentos e valores contribuem para minimizar essa problemática que envolve os resíduos sólidos.

Conteúdo Programático: Conceito de Educação Ambiental e resíduos sólidos; diferenciar consumo de consumismo; Destinação incorreta dos resíduos: suas consequências e implicações socioambientais; Reciclagem; Deveres de todos os cidadãos quanto a gestão dos resíduos sólidos.

Metodologia: Palestras expositivas e dialogadas.

Recursos Didáticos: Projetor de vídeo (Datashow) e quadro branco.

Avaliação da Aprendizagem: A avaliação será feita através de questionários aplicados aos alunos antes e após da vivência didática.

Para classificação (certa, certa em parte e errada) das questões conceituais, foram utilizados os conceitos pré-definidos em legislação brasileira que verse sobre o tema (Tabela 2).

O questionário foi constituído de 13 itens de múltipla escolha e 3 perguntas discursivas para que os alunos definissem 3 conceitos: Educação Ambiental; Lixo e Reciclagem. Os itens de múltipla escolha foram estruturados no modelo da Escala de Likert (Tabela 3), com 5 níveis de respostas, que variaram desde discordo completamente (Nível 1) à concordo completamente (Nível 5). As análises dos dados foram por meio da estatística descritiva, utilizando o software Microsoft Excel 365.

Tabela 2 – Relação de conceitos utilizados para avaliar as respostas dos alunos entrevistados quanto às perguntas conceituais.

Conceito

Definição

Referência

Educação Ambiental

Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

BRASIL, 1999

PNEA - Lei Nº 9.795, de 27 de abril de 1999.

Lixo

Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada.

BRASIL, 2010

PNRS – Lei nº 12;305 de 2 de agosto de 2010.

Resíduo - Define resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.

Reciclagem

 Processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa.

3. Resultados e Discussão

Dentre os alunos que participaram da pesquisa, 52,3% (n= 45), foram do gênero feminino e 47,7% (n= 41) do gênero masculino, com idades entre 14 a 17 anos.

Metade dos alunos (n= 38) concordaram que a Educação Ambiental muda o comportamento na sociedade e 59,2% (n= 45) também acredita que ela muda a maneira como eles percebem o meio ambiente (Tabela 3). Após a vivencia didática, esses percentuais se elevaram para 92,7% (n= 51) e 89,1% (n= 49) respectivamente.

Para Silva et al, (2013) a Educação Ambiental tem por finalidade mudar a forma de observar o mundo, e contribuir para formação de indivíduos críticos quanto a sua postura diante dos problemas ambientais da atualidade. Vasconcelos, Silva (2015) afirmam que a sociedade passa por um período de tomada de consciência em relação as questões ambientais. Isso foi percebido nesta pesquisa, onde houve uma mudança significativa dos alunos quanto as concepções do papel desempenhado pela Educação Ambiental.

Tabela 3 - Comparação entre as respostas da avaliação antes e depois da vivência em Educação Ambiental

Item

Afirmações

Antes

Depois

DCP

I

CCP

DCP

I

CCP

i1

A Educação Ambiental muda meu comportamento na sociedade

6,6

43,4

50,0

1,8

5,5

92,7

i2

A Educação Ambiental muda à forma como eu vejo o meio ambiente

13,2

27,6

59,2

3,6

7,3

89,1

i3

A Educação Ambiental mudar minha vontade de consumir ou comprar algo que desejo

18,4

55,3

26,3

1,8

16,4

81,8

i4

As destinações incorretas dos resíduos sólidos podem causar problemas a minha saúde.

5,3

30,3

64,5

0,0

7,3

92,7

i5

As destinações incorretas dos resíduos sólidos podem causar problemas ao meio ambiente

5,3

28,9

65,8

1,8

12,7

85,5

i6

Eu sei o destino final dos resíduos sólidos da sua cidade

35,5

38,2

26,3

16,4

29,1

54,5

i7

Hoje eu saberia fazer a coleta seletiva

21,1

39,5

39,5

1,8

23,6

74,5

i8

Se eu consumir menos produtos eu produzo uma quantidade menor de lixo

14,5

27,6

57,9

1,8

18,2

80,0

i9

Eu também sou responsável pelos problemas ambientais da minha cidade

9,2

43,4

47,4

0,0

23,6

76,4

i10

Eu sei quais os problemas ambientais de minha cidade

25,0

52,6

22,4

5,5

41,8

52,7

i11

Eu reutilizo materiais (garrafas, sacolas, etc) que iriam para o lixo.

38,2

43,4

18,4

12,7

34,5

52,7

i12

Se o lixo for colocado em lixões fora das cidades resolveria o problema do lixo em minha cidade.

46,1

32,9

21,1

50,9

34,5

14,5

i13

 Eu me preocupo com a quantidade de lixo que produzo

22,4

51,3

26,3

10,9

34,5

54,5

DCP: Discordo completamente ou em grande parte; I: Indiferente, nem concordo, nem discordo; CCP: Concordo completamente ou em grande parte.

Poucos alunos (26,3%, n= 20) concordavam que a Educação Ambiental muda à vontade de consumir ou comprar algo que se deseja. Entretanto, esse percentual elevou-se para 81,8% (n=45) após esclarecimentos da vivência didática.

Várias mudanças ocorrem no modo de produção ao longo do tempo "A sociedade passou a dar preferência ao homem consumidor" (Silva et al. 2015, p. 1) e as empresas investiram em propagandas que atraíssem a população para o consumo desenfreado, contribuindo para exploração dos bens naturais de forma excessiva. Devido ao atual cenário de degradação dos recursos a sociedade passou a criticar o modo de produção das empresas, que vai desde a extração da matéria-prima até a disposição final do produto, a partir dessa problemática as instituições adotaram discursos e posturas socioambientais em busca da sustentabilidade (Silva, 2011). Porém, essa realidade não atingiu todos os setores produtivos, o capitalista oculta da sociedade os problemas que o consumo tem gerado, como o elevado volume de resíduos produzidos.      

Com a inserção da Educação Ambiental, a mudança da percepção dos alunos foi evidente,  o consumo foi abordado como algo que se relaciona com a tomada de decisão por parte do indivíduo levando em consideração as consequências coletivas. "As práticas educativas ambientalmente sustentáveis apontam para propostas pedagógicas centradas na criticidade dos sujeitos, com vistas à mudança de comportamento e atitudes, ao desenvolvimento da organização social e da participação coletiva" (Jacobi et al. 2011, p. 28).    

Boa parte dos alunos (depois: 85,5%, n= 45 e depois: 92,7%, n=51 da vivência didática) concordaram completamente ou em grande parte que a destinações incorretas dos resíduos sólidos podem causar problemas de saúde e ao meio ambiente. Corroborando com essa ideia, Santiago, Dias (2011), afirmaram que as disposições finais dos resíduos provocam impactos negativos quando depositados de forma inadequada, tornando-se um dos principais problemas socioambientais.

Dos municípios Brasileiros 59% ainda depositam seus resíduos em lixões ou aterros controlados (Brasil, 2011). Entretanto, de acordo com o plano nacional dos resíduos sólidos, essa maneira de disposição e gestão dos resíduos sólidos deverão ser substituídas, nos próximos anos (2018 – 2021), por alternativas mais limpas, em todos os municípios brasileiros (Brasil, 2015). Onde os resíduos tenham um tratamento final socioambiental mais adequado quando comparado aos lixões.

Os alunos mudaram de perspectiva, após compreenderem os principais problemas causados pela disposição inadequada dos resíduos, como a proliferação de vetores, que são responsáveis por doenças que afetam a saúde da população.

 Rocha et al. (2011 p. 30) afirmam que gestão inadequada causa "problemas sanitários relacionados à poluição dos mananciais, o assoreamento dos rios e córregos, entupimento de bueiros, contaminação do ar". A poluição dos mananciais ocorre devido ao líquido produzido pelos materiais orgânicos presentes no lixo (chorume), contribuindo para degradação do meio ambiente.

Pouco mais da metade dos alunos entrevistados (54,5%, n= 20) julgaram saber o destino final dos resíduos sólidos da sua cidade e sabem sobre os problemas ambientais que os afetam (52,7%, n = 29) e um número maior de alunos (76,4%, n = 42) se percebe como responsáveis por essa problemática.  80,0% (n = 44) concordaram que a pratica de redução de consumo produziriam uma menor quantidade de lixo, dessa forma com praticas socioambientais inadequadas a humanidade passou a consumir e descartar mais produtos ocasionando em um elevado acumulo de resíduos (Andrade et al., 2014).

Segundo Costa, Rodrigues (2014) a reeducação socioambiental pode diminuir a agressão causada pelo lixo no meio ambiente, através da disseminação de medidas simples como reciclagem por meio da pratica de coleta seletiva. Assim, a inserção da Educação Ambiental no ambiente escolar, com o comprometimento didático dos educadores, é fundamental para o desenvolvimento do saber ambiental dos alunos.

Pesquisa reportada por Silva et al. (2014) também obtiveram resultados positivos após uma vivencia didática, onde o percentual de alunos que saberiam realizar a coleta seletiva elevou de 52% para 81%. A vivência didática aqui reportada também foi positiva para esse conhecimento elevando de 39,5% (n= 30) para 74,5% (n= 41) os alunos que saberia completamente ou em grande parte realizar uma coleta seletiva.

Neta; Fonseca (2012, p. 94) reportaram que antes da inserção da Educação Ambiental na escola "havia um individualismo muito grande, falta de engajamento nas questões ambientais e problemas com o lixo, pois, não havia a coleta seletiva".

O homem preocupava-se apenas em manter o lixo distante da população, descartando-o em lugares longe da cidade supondo que o problema seria resolvido (Costa, Rodrigues, 2014). Os alunos participantes desta pesquisa 50,9% (n= 28), após a vivencia em Educação Ambiental, discordaram completamente ou em grande parte dessa afirmativa, pois compreenderam que essa pratica piorava à problemática ambiental.

Antes da vivencia didática, apenas 26,3% (n= 20) dos alunos afirmaram se preocupar em algum nível com a quantidade de lixo que produz e somente 18,4% (n=14) afirmaram reutilizar materiais que iriam para o lixo. Entretanto, a vivência didática proporcionou um aumento desses percentuais para 54,5% (n= 30) e 52,7% (n= 29), respectivamente.

Cada pessoa produz por dia 1,02 kg de lixo (Brasil, 2011), e essa elevada quantidade de resíduo produzido, ocasionou no atual cenário desequilíbrio ambiental, onde ações individuais causam danos irreversíveis à saúde do planeta (Almeida et al, 2013). A mudança quanto as responsabilidades individuais são refletidas nos dados após a vivencia, pois, os alunos tratavam as questões socioambientais dissociadas do seu cotidiano e, após o conhecimento compartilhado, perceberam que fazem parte dos problemas e, principalmente, das possíveis soluções.

Rocha et al. (2011) mostraram em seu estudo que, após o conhecimento adquirido no decorrer do curso (Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental), os alunos apresentaram maior interesse com questões socioambientais, estando preocupados com os problemas relacionados ao lixo buscando formas de reduzir a produção de resíduos e mostrando-se mais consciente quanto as praticas individuais.    

A Educação Ambiental apresenta-se nesta vertente onde a reconstrução de valores de forma intima e pessoal alicerçam cidadãos críticos e reflexivos sobre seus atos na sociedade (Trópia et al. 2013).

Os resultados obtidos reportaram que 70,9% (n= 61) dos alunos compreendiam a Educação Ambiental de forma limitada (Tabela 4), sendo comum concepções fragmentadas que associam o conceito de Educação Ambiental somente à aspectos ambientais, atendendo parcialmente o seu verdadeiro conceito, que trata tanto questões ambientais quanto as sociais (Pereira, Gibbon, 2014).

Essa percepção limitada (Tabela 5) remonta ao período em que o Brasil (1970 -1980) estava sobre o comando rígido militar e passava por um processo de redemocratização, onde a criticidade era restrita e a Educação Ambiental foi fortemente influenciada a um perfil conservacionista e a ideologia ecológica estava vinculada aos setores governamentais e científicos onde os aspectos ambientais eram separados dos sociais (Lima, 2009).  

Tabela 4 – Análise das respostas dos alunos segundo a frequência (%)
quanto ao conceito de Educação Ambiental, lixo e reciclagem.

Conhecimento

Classificação das Respostas

Certa

Certa em parte

Errada

O que é Educação Ambiental?

Antes

3,5

70,9

15,1

Depois

25,6

60,5

5,8

O que é lixo?

Antes

37,2

25,6

27,9

Depois

61,6

15,1

18,6

O que é reciclagem?

Antes

12,8

24,4

50,0

Depois

32,6

19,8

40,7

Foi verificado um baixo percentual (3,5%, n= 3) de alunos que compreendiam de forma correta e ampla o conceito de Educação Ambiental. Porém, após a vivencia didática, esse percentual aumentou para 25,6% (n= 22).

Tabela 5 – Percepção dos alunos referentes aos conceitos de Educação Ambiental, Lixo, Reciclagem.

Avaliação

Respostas Limitadas (certa em parte erradas)

Educação Ambiental

Certa

É a educação que educa os indivíduos ambientalmente e socialmente**

Forma cidadãos conscientes com seus atos, e comprometidos com o cuidado ambiental e social da comunidade.**

Certa em parte

É a educação que conscientiza a população na preservação do meio ambiente*

É a educação que serve para nos ajudar a aprender como cuidar do meio ambiente*

Conscientiza a população para importância de preservar o meio ambiente*

Lixo

Certa/rejeito

São coisas que não tem mais utilidade, já não serve mais*

Restos de resíduos que não podem ser reutilizado ou reciclado**

Certa/resíduos solido

Resíduos que foram consumidos e jogados fora para o reuso ou reciclagem*

O que sobra das atividades que realizamos, existem lixos domésticos, hospitalares, industriais entre outros**

Reciclagem

Certa

O processo no qual os resíduos passam para se transformar em um objeto novo**

É transformar algo que já foi consumido, em algum útil através da alteração físicas e química dos produtos**

Erradas

A reutilização das coisas que não usamos mais*

É a reutilização do lixo que podem servir ainda de alguma maneira*

*Respostas antes da vivencia didática **Respostas depois da vivencia didática.

Eles compreenderam que a Educação Ambiental está relacionada com a mudança social, os indivíduos assumem novos comportamentos que serão refletidos na coletividade, contribuindo para formação de cidadãos ambientalmente educados e socialmente responsáveis (Kondrat, Maciel, 2013). Ela deve proporcionar uma visão holística de mundo, onde o social não está separado do ambiental (Rodrigues et al. 2014). Observou-se que os alunos perceberam que o conceito de Educação Ambiental aborda questões sociais/ambientais em conjunto superando a ideologia conservacionista.

 Foi observado que 37,2% (n= 32) dos alunos conceituaram o "lixo" de forma correta. Após a vivencia didática esse percentual aumento significativamente para 61,6 % (n= 53). Percebeu-se que os alunos não entendiam a diferença entre o conceito de rejeito e resíduo, pois, nos dois momentos (antes e depois da vivência) esses termos foram citados, definindo "lixo" como sendo rejeito e vice-versa.

Segundo Oliveira (2015), ocorre uma diferença quanto essas terminologias, onde rejeitos estão relacionados a um "lixo" que não possui mais utilidade e que deve ter uma disposição final ambientalmente adequada, já os resíduos é um material resultante das diversas atividades humanas que ainda podem ser úteis.

O termo "lixo" passa por um processo de mudança no início do século XX agora sendo denominada resíduos. "Embora lixo e resíduo sejam usados cotidianamente como sinônimos, este último estaria associado ao material sólido classificável, aproveitável, reutilizável, reciclável, etc., em oposição ao rejeito, que se refere ao que não pode ser aproveitado". (Bronzatto, Oliveira, 2014 p. 273). A PNRS, torna refere-se ao "lixo" como rejeitos (Brasil, 2010).

Outro conceito que foi apresentado de forma equivocada é o da reciclagem, onde 50,0% (n= 43) dos alunos possuíam uma visão errônea, associando-o à reutilização dos materiais que são descartados, sendo muito frequente o termo "reutilizar" nas respostas dos alunos. Porém, após a vivencia didática, o percentual de respostas errôneas foi reduzido para 40,7% (n= 35).

Fonseca et al, (2014) reportaram que após palestra ministradas sobre o conceito de reutilização e reciclagem, 71% dos alunos julgaram saber o que é reciclar, essa percepção quanto às diferenças conceituais foi possível após gincana e oficinas que possibilitou o envolvimento dos alunos na construção de brinquedos com materiais reutilizados e a reciclagem de papel da escola.

Essa diferença é explicitada no trabalho de Silva et al. (2014) que asseveram que a reutilização está ligada à forma de como ocorre o reaproveitamento do produto. Assim, os resíduos não passam por um reprocessamento, não se torna um novo produto, já a reciclagem o reprocessamento ocorre e um novo produto surge a partir dos resíduos gerados pela comunidade.

Silva et al. (2014) confirmam essa mudança quanto às concepções dos alunos após a aplicação de palestras e oficinas que tratam de questões ambientais e sociais, ocorrendo "uma evolução na aprendizagem e a transformação de conceitos" (Silva et al. 2014 p.259).

Dessa maneira, a vivencia didática que busca a inserção da Educação Ambiental tem sido reportada por diversos pesquisadores como fundamental para a compreensão e envolvimento dos alunos quanto a essa temática. Essa melhoria proporcionada por essa vivência foi observada em todas as questões reportadas nesta pesquisa, aumentando, em pelo menos, 30%, a sensibilização e/ou conhecimento dos alunos que participaram da pesquisa (Figura 1).

Figura 1 – Avaliação da variação percentual entre as respostas de antes e depois,
para cada item do questionário aplicado, da vivência didática sobre resíduos sólidos. 

Assim, esses resultados reiteram que ações em Educação Ambiental inseridas no contexto escolar trazem efeitos positivos significativos na percepção dos alunos sobre os problemas e conceitos inerente à Educação ambiental e aos resíduos sólidos.

4. Conclusão

A inserção da vivência didática em Educação Ambiental, particularmente, sobre a gestão dos resíduos sólidos, proporciona um aumento significativo do percentual de alunos que sabem e/ou percebem de maneira mais ampla, crítica e reflexiva os problemas e conceitos relacionados a essa temática, saindo de uma visão fragmentada para uma percepção mais integral.

A vivencia didática também proporciona o rompimento das ideias simplistas do conceito de Educação Ambiental, "lixo" e reciclagem.  Dessa maneira, é veemente a necessidade da inserção da Educação Ambiental na gestão escolar para garantir uma educação continuada, interdisciplinar e transformadora, envolvendo os alunos no contexto socioambiental local e global.

5. Agradecimentos

Ao Programa de Bolsas de Extensão (PROBEX) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Referências

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Andrade, D. F., Sorrentin, M. (2013): "Da Gestão Ambiental à Educação Ambiental: As Dimensões Subjetiva e Intersubjetiva nas práticas de Educação Ambiental". Pesquisa em Educação Ambiental, 8(4), p 88-98.

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Brasil. Regulamenta a Lei no 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/Decreto/D7404.htm>. Acessado em: 04 de maio de 2015.

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1. Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) alda_leaby_15@hotmail.com
2. Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) edevaldo@cstr.ufcg.edu.br
3. Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) elzenirpereira@bol.com.br


Vol. 37 (Nº 08) Año 2016

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