Espacios. Vol. 37 (Nº 11) Año 2016. Pág. 1

Trajetórias da inovação: uma análise na base de dados Scopus

Trajectories of innovation: an analysis in the Scopus database

Eliana Andréa SEVERO 1; Eric Charles Henri DORION 2; Julio Cesar Ferro de GUIMARÃES 3; Isadora Ribeiro Amaral de SOUZA 4; Pedro Orlando SEVERO 5

Recibido: 26/12/15 • Aprobado: 25/01/2016


Contenido

1. Introdução

2 Metodologia

3 Resultados e Discussões

4 Considerações Finais

Referências


RESUMO:

A inovação vem sendo amplamente discutida na literatura, devido a sua importância para as organizações e a sociedade. Entretanto, encontram-se diversas definições para a inovação, o que muitas vezes acaba distorcendo as acepções e sua importância. Perante o exposto, este estudo tem como objetivo realizar uma revisão bibliográfica acerca da inovação. A metodologia utilizada tratou-se de uma pesquisa qualitativa e exploratória, por meio da revisão da literatura na base de dados Scopus. Os resultados destacam a inovação permite que as organizações acessem novos mercados, realizem novas parcerias, adquiram novos conhecimentos e aumentem suas receitas, gerando, por consequência, vantagens competitivas a médio e longo prazo.
Palavras-chave: Inovação. Organizações. Base de dados Scopus.

ABSTRACT:

Innovation has been widely discussed in the literature, due to its importance for organizations and society. However, there are several definitions of innovation, which often ends up distorting the meanings and importance. Given the above, this study aims to conduct a literature review on innovation. The methodology treated is a qualitative exploratory study, through literature review in the Scopus database. The results highlight the innovation allows organizations to access new markets, implement new partnerships, acquire new knowledge and increase revenues, generating therefore competitive advantages in the medium and long term.
Keywords: Innovation. Organizations. Database Scopus.

1. Introdução

Na área de Ciências Sociais Aplicadas, a inovação vem sendo discutida por diversos teóricos e pesquisadores, o que permite observar a sua importância para as organizações e a sociedade contemporânea. A inovação, desde o economista Schumpeter (1934), propicia a capacidade de gerar competitividade às empresas, bem como prima para o desenvolvimento econômico de uma região (Legros; Galia, 2011; Cantner; Joel; Schmidt, 2011).

Conforme Van de Vem (1986), Danneels (2002), Teece (2007) e Severo (2013) a inovação permite a ampliação do potencial de produção, o desenvolvimento de produtos diferenciados para o atendimento das necessidades do mercado, objetivando a capacidade de competitividade das organizações, criando, por conseguinte, melhorias de desempenho organizacional.

Contudo, a literatura traz diversas definições e importâncias para a inovação, o que muitas vezes acaba distorcendo as acepções para o termo inovação. Perante o exposto, este estudo tem como objetivo realizar uma revisão bibliográfica acerca da inovação. Neste contexto, utilizou-se livros, artigos científicos bem como a base de dados Scopus para realizar a revisão da literatura.

2. Metodologia

A presente pesquisa se classifica como qualitativa e exploratória. A pesquisa qualitativa visa desenvolver modelos, tipologias e teorias, para descrever e explicar as questões sociais (Gil, 2007; Gibbs, 2009). Conforme Creswell (2007), a pesquisa qualitativa pode ser também exploratória, pois é utilizada com a finalidade de explorar um tópico, quando suas variáveis e bases teóricas são desconhecidas, bem como esclarecer e modificar conceitos e ideias (Gil, 2007).

A coleta de dados ocorreu por meio da revisão bibliográfica. Com a finalidade de consolidar a pesquisa sobre o tema, primeiramente, foram verificadas as base de dados, na qual a pesquisa seria realizada. Após um estudo das diversas possibilidades, optou-se por utilizar a base Scopus, por se tratar da maior base de dados de resumos e citações de literatura científica revisada por pares. O processo de pesquisa, na base Scopus, foi realizado entre 28 julho a 01 de novembro de 2011, o qual foi dividido em duas principais etapas:

  1. a primeira etapa visa à busca e identificação de artigos na base de dados, através do acesso a base de dados: o processo de pesquisa teve como base o termo em inglês para inovação: innovation. Nessa busca, limitou-se à pesquisa de artigos por palavras-chave, adotando-se a configuração de Limit to article. No refinamento por área de conhecimento, a fim de refinar a pesquisa descrita no campo Subject Area, optou-se a área Social Sciences & Humanities. Na identificação dos artigos, adotou-se o critério de seleção dos cinquenta artigos mais citados, relacionados ao termo de pesquisa;
  2. a segunda etapa consistiu na leitura crítica dos resumos dos 50 artigos mais citados. Na leitura dos resumos, observou-se que alguns artigos não se enquadravam na temática pesquisada, os quais foram, então, excluídos. Permaneceram para a leitura completa somente os que realmente tratavam da temática pesquisada, objetivando uma intercomparação entre os mesmos e a elaboração de considerações sobre a temática.

Perante o exposto, a Figura 1 apresenta o processo da metodologia de pesquisa, utilizado na base de dados Scopus. Para a análise e interpretação dos dados utilizou-se a análise de conteúdo, o que segundo Bardin (2006), trata-se de um conjunto de técnicas de análise das comunicações escritas, objetivando a obter, por objetivos e procedimentos sistemáticos, indicadores que permitam inferir condições de produção/reprodução destas mensagens.

Figura 1 – Processo de metodologia da pesquisa na base de dados Scopus
Fonte: Elaboração própria (2013).

3. Resultados e Discussões

A execução do processo de pesquisa na base Scopus encontrou 15.802 registros de artigos para o termo innovation. No decorrer da pesquisa, foi possível ainda identificar, os cinco periódicos com maior número de registros sobre inovação (Figura 2). Entretanto, no momento de leitura dos resumos dos 50 artigos mais citados, verificou-se que alguns artigos não se enquadravam totalmente na temática pesquisada. Em função disto, foram selecionados 15 artigos para a leitura completa (Figura 3), pois estes se tratavam de artigos que corroboravam com o contexto desta pesquisa.

 

Innovation

Número de artigos publicados

Título do Periódico

499

Research Policy

409

International Journal of Technology Management

382

Technovation

305

Technological Forecasting and Social Change

207

International Journal of Innovation and Learning

Figura 2 – Periódicos com maior número de registros sobre as temáticas pesquisadas
Fonte: Elaboração própria (2013).

A Figura 3 apresenta os 15 artigos que tratam de inovação, o número de vezes que foram citados, o que ressalta a sua importância na academia, o título, o nome dos autores, o nome do periódico, bem como a temática/assunto que se abordavam.

Número de citações

Título do artigo

Autor (es) e ano

Nome do Periódico

Assunto

3470

Dynamic capabilities and strategic management

Teece, Pisano e Shuen (1997)

Strategic Management Journal

Capacidades dinâmicas e gerenciamento estratégico, para satisfazer às exigências de um ambiente em mutação.

2124

The balanced scorecard-measures that drive performance

Kaplan e Norton (1992)

Harvard Business Review

Indicadores para a avaliação do grau de cumprimento dos objetivos estratégicos e apuração das causas do insucesso.

1633

User acceptance of information technology: toward a unified view

Venkatesh et al., (2003)

MIS Quarterly: Management Information Systems

Ferramenta para avaliar o sucesso de novas tecnologias na área de Tecnologia da Informação (TI).

1119

Development of an instrument to measure the perceptions of adopting an information technology innovation

Moore e Benbasat (1991)

Information Systems Research

Ferramenta para medir as percepções de adoção e difusão de inovações de TI nas organizações.

568

Central problems in the management of innovation

Van de Ven (1986)

Management Science

O processo de inovação se trata dos fatores que facilitam ou inibem o desenvolvimento de inovações, sendo eles: pessoas, ideias, transações e contexto ao longo do tempo.

530

The dynamics of innovation: from National Systems and "mode 2" to a Triple Helix of university-industry-government relations

Etzkowitz e Leydesdorff (2000)

Research Policy

Modelo da tríplice hélice, interação universidade-empresa-governo.

309

A conceptual and operational definition of personal innovativeness in the domain of information technology

Agarwal e Prasad (1998)

Strategic Management Journal

Percepção das novas TI adotadas nas organizações.

285

The role of innovation characteristics and perceived voluntariness in the acceptance of information technologies

Agarwal e Prasad (1997)

Decision Sciences

Voluntariedade externa percebida influencia na aceitação de novas TIs.

279

Interorganizational alliances and the performance of firms: a study of growth and innovation rates in a high-technology industry

Stuart (2000)

Strategic Management Journal

Beneficiamento das alianças empresariais no desempenho organizacional.

271

Innovation in cities: science-based diversity, specialization and localized competition

Feldman e Audretsch (1999)

European Economic Review

As indústrias (serviços) complementares, que compartilham uma base científica comum, tendem a se agrupar em espaços geográficos específicos, assim a diversificação promove maior inovação do que a especialização das atividades.

260

The dynamics of product innovation and firm competences

Danneels (2002)

Strategic Management Journal

Influência da inovação de produtos para a renovação da empresa.

258

Regional innovation systems: institutional and organizational dimensions

Cooke, Uranga e Etxebarria (1997)

Research Policy

Sistema Nacional de Inovação para promover a aprendizagem sistêmica e inovação interativa.

251

Explicating dynamic capabilities: the nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance

Teece (2007)

Strategic Management Journal

Capacidade necessária para sustentar o desempenho da empresa em uma economia aberta, com a inovação rápida e globalmente dispersas fontes de invenção, inovação e capacidade de produção.

242

Transferring, translating, and transforming: an integrative framework for managing knowledge across boundaries

Carlile (2004)

Organization Science

Framework, para especificar desajustes práticos e políticos que ocorrem, quando a inovação é desejada, através do conhecimento comum que os atores usam para compartilhar e avaliar conhecimentos específicos.

232

Information systems innovation among organizations

Swanson (1994)

Management Science

TI básica e inovação são cada vez mais cruciais para a sobrevivência competitiva e o sucesso organizacional.

Figura 3 – Artigos mais citados referentes ao termo innovation
Fonte: Elaboração própria (2013).

De acordo com a Figura 3, os artigos mais citados ocorreram de 1986 a 2007. Os principais assuntos, abordados nesses artigos, ressaltam a importância da inovação no contexto organizacional, as quais permitem que as organizações acessem novos mercados, realizem novas parcerias, adquiram novos conhecimentos e aumentem suas receitas, gerando, por consequência, vantagens competitivas a médio e longo prazo.

Neste contexto, a partir da pesquisa bibliográfica de livros e artigos científicos, bem como da pesquisa na Base de dados Scopus, foi possível identificar um conjunto de obras que contribuíram significativamente para a construção dos conceitos, tipologias e modelos de inovação, bem como de sua importância para as organizações. A Figura 4 apresenta a síntese das principais obras que trataram da inovação em um processo evolutivo de conceito, relacionando a inovação e suas abordagens.

Conforme a Figura 4, o processo evolutivo do conceito e abordagem da inovação inicia com o pioneirismo de Schumpeter (1934), percebendo-a como um valor econômico, já Drucker (1985) associa a inovação com o empreendedorismo, ou seja, o empreendedor inova ao abrir o seu próprio negócio. Kaplan e Norton (1992) destacam a inovação por meio dos indicadores para a avaliação de objetivos estratégicos.

Nota-se, portanto, que os conceitos de inovação têm evoluído ao longo do tempo no que tange ao entendimento do que seja inovar e dos atores que fazem parte dessa engrenagem (Drucker, 1985; Dosi, 1988; Damanpour, 1991; Garcia; Calantone, 2002). Então, a partir da década de 80, a inovação passou a ser considerada um processo que se desenvolve de forma endógena, e o conhecimento, no que concerne às novas tecnologias, não nasceu fora do sistema econômico para depois penetrá-lo. Entende-se, pois, a inovação como resultado de interações, desenvolvidas dentro da empresa e do mercado, e como a criação de conhecimento aos fornecedores de bem, serviço e tecnologia (Vincent; Bharadwaj; Challagalla, 2004, Carlile, 2004; Calantone; Harmancioglu; Droge, 2010; Henard; Dacin, 2010).

Carlile (2004) complementa a ideia acima exposta, ressaltando que, através de múltiplas interações, é possível criar interesses comuns que reforcem a partilha e o acesso ao conhecimento especializado. Assim, os processos de negociação constituíram importantes mecanismos de integração do conhecimento especializado, um aspecto cientificamente relevante ao qual a literatura começa a dar a devida visibilidade teórica.

Figura 4 – Síntese da revisão da literatura sobre a evolução da inovação
Fonte: Elaboração própria (2013).

No que tange a tipologia, Abernathy e Utterback (1978) destacam a inovação radical como sendo complexa, e a incremental mais simples para atender as necessidades do mercado. Para Christensen (1997), as inovações sustentadoras são obtidas por inovações incrementais, já as disruptivas (inovações radicais) quebram as trajetórias tradicionais dos processos de inovação. Garcia e Calantone (2002) trazem uma nova conceituação, a really new, que em um nível macro resultará em uma descontinuidade de mercado ou tecnológica, mas não em ambas. Em um nível micro, o really new provoca uma descontinuidade de mercado e/ou tecnológica, representando 50% de todos os tipos de inovações.

Contudo, o Manual de Oslo (2005) destaca quatro tipologias de inovação: i) produto; ii) processo; iii) marketing; e, iv) organizacional; as quais vem sendo amplamente utilizadas e discutidas no meio acadêmico (Figura 5).

 

Inovação de produto

Consiste na introdução de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado no que diz respeito às suas características ou aos usos previstos dos produtos previamente produzidos pela empresa.

Inovação de processo

Processo novo ou substancialmente aprimorado envolve a introdução de tecnologia de produção nova ou significativamente aperfeiçoada, de métodos para oferta de serviços ou para manuseio e entrega de produtos novos ou substancialmente aprimorados, como também de equipamentos novos ou significativamente aperfeiçoados em atividades de suporte à produção.

Inovação em marketing

Consiste na implementação de um novo método de marketing, com mudanças significativas na concepção do produto ou em sua embalagem, no posicionamento do produto, em sua promoção ou na fixação de preços. Tais inovações são voltadas, para melhor atender às necessidades dos consumidores, abrindo novos mercados ou reposicionando o produto de uma empresa no mercado, com o objetivo de aumentar as vendas.

Inovação organizacional

A inovação organizacional acontece por meio da implementação de um novo método organizacional nas práticas de negócio da empresa, na organização do seu local de trabalho ou em suas relações externas, desde que não tenha sido utilizada anteriormente pela empresa e seja resultado de decisões estratégicas.

Figura 5 – Classificação da inovação
Fonte: Adaptado do Manual de Oslo (2005).

De acordo com Gallouj (2007), a classificação da metodologia do Manual de Oslo traz a análise das definições restritivas ao setor industrial, além de se voltarem para inovações tecnológicas. Por sua vez, Gallouj e Weinstein (1997) procuraram desenvolver um modelo discricional da inovação de processos que pudesse ser usado na indústria de serviços, mas, conforme a interpretação do Manual de Oslo (2005), em virtude da abrangência setorial, a inovação pode ocorrer em qualquer setor da economia.

Os modelos de inovação constituem temas de interesse nos meios acadêmicos e empresariais e possibilitam uma leitura de como a inovação deve ocorrer, pois as inovações podem se transformar em um diferencial que conduza à criação de valor e riqueza para a organização (Feldman; Audretsch, 1999). O modelo linear do processo de inovação (Figura 6) é o resultado de um procedimento sequencial, iniciado com pesquisa básica, pesquisa aplicada e desenvolvimento experimental, cujos resultados seriam levados à produção e depois à comercialização (Ocde, 1992). Este modelo não sugere feedback, não possibilita a obtenção de troca de informações, principalmente, o retorno dos consumidores (Kline; Rosenberg, 1986).

Figura 6 – Modelo linear do processo de inovação
Fonte: Adaptado de OCDE (1992).

Para Sirilli (1998), tal modelo negligencia as atividades externas à P&D, ao considerar a inovação tecnológica como um ato de produção em lugar de um processo social contínuo, abarcando atividades de gestão, aprendizado, coordenação, negociação, investigação de necessidades de usuários, aquisição de competência, gestão do desenvolvimento de novo produto, gestão financeira, entre outras.

O modelo linear se limitou, quando foi constatado que os investimentos em P&D não levavam automaticamente ao desenvolvimento tecnológico e ao sucesso econômico do uso da tecnologia. Assim, o modelo linear de inovação, sustentado pelas teorias clássica e neoclássica, passou a ser considerado superado. Após tais constatações, surgiram as abordagens não-lineares ou interativas, que procuram enfatizar o relacionamento entre as etapas, os efeitos de feedback e a relação do processo com outros agentes (Kline; Rosenberg, 1986).

Nos modelos não-lineares (Rothwell, 1994) ou interativos (Kline; Rosenberg, 1986), a inovação avança através de projetos e reprojetos, que se realizam com a contribuição de diversas fontes de feedback e interações entre Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) em todas as fases (Figura 7).

Figura 7 – Modelo interativo de inovação (modelo de ligações em cadeia)
Fonte: Adaptado de Kline e Rosenberg (1986).

Legenda da Figura 14: C – cadeia central de inovação; D – ligação direta entre a investigação e a fase inicial da invenção/realização do projeto analítico; F – efeito particularmente importante de retroação, entre necessidades do mercado e utilizadores, bem como as fases a montante do processo de inovação; f – efeitos de feedback ou de retroação entre fases contíguas; M – apoio à investigação científica, proveniente de instrumentos, máquinas, ferramentas e procedimentos da tecnologia; S – apoio à investigação científica, através de programas públicos de investigação, que pretendem responder às necessidades da sociedade/mercado; e K-I – ligações entre conhecimento (K) e investigação (I) nos dois sentidos.

Conforme Etzkowitz e Leydesdorff (2000), o modelo da tríplice hélice propõe uma interação coparticipativa entre governo, empresa e universidade. Conforme os autores, muitos países estariam buscando aderir a tríplice hélice, tentando fortalecer um ambiente inovador, com iniciativas trilaterais para o desenvolvimento econômico, baseado no conhecimento e nas alianças estratégicas entre empresas, laboratórios governamentais e grupos de pesquisa acadêmica. Chesbrough (2006) destaca os modelos de inovação fechada (closed innovation), e aberta (open innovation), no modelo de inovação fechada (Figura 8) a empresa gera, desenvolve e comercializa as suas próprias ideias, sem uma interação com outros agentes externos.

Figura 8 – Modelo de inovação fechada
Fonte: Adaptado de Chesbrough (2006).

Entretanto, no final do século XX, com o devido aumento do volume e distribuição da informação disponível, vindo de várias fontes (universidades, empresas, centros de pesquisa e tecnologia), ficou claro que esse sistema fechado necessitava mudar. Além disso, algumas empresas compreenderam que os seus grandes centros de P&D apresentavam resultados excelentes, mas, algumas vezes, inúteis em seu ramo de atuação.

Desta forma, o modelo de inovação fechada mudou, já que as pequenas empresas, fortalecidas intelectualmente com pesquisadores experientes, vindos de grandes empresas, e novos pesquisadores, oriundos de universidades, incentivadas economicamente por meio de financiamentos de capital de risco, disputam uma fatia de um mercado cada vez mais diversificado e dinâmico (Souza, 2009).

Todos esses fatores quebraram o círculo virtuoso da inovação fechada, porque as novas empresas procuravam buscar alternativas fora de seus empreendimentos. Sendo assim, para gerar mais valor e ganhar competitividade, algumas organizações adotaram o modelo de inovação aberta, como alternativa para as tradicionais práticas de inovação.

Neste sentido, para Chesbrough (2003), o modelo de inovação aberta (Figura 9) se trata de um paradigma, considerando-se que as empresas podem e devem utilizar tanto ideias externas como internas, bem como caminhos internos e externos para o mercado, quando procuram avançar na sua tecnologia, mesclando, consequentemente, práticas dos modelos tradicionais com a interação de agentes externos. O autor ainda argumenta que, na economia do conhecimento, muitas empresas não possuem orçamento nem competências necessárias para dar respostas rápidas ao mercado, comprometendo, portanto, o tempo de desenvolvimento de tecnologias e produtos, tornando, então, os limites das organizações mais permeáveis e flexíveis.

Figura 9 – Modelo de inovação aberta
Fonte: Adaptado de Chesbrough (2006).

Neste cenário, as organizações desempenham um papel determinante no processo de inovação, que é percebido como uma atividade incerta e complexa. As inovações acrescentam valor a produtos, processos e serviços em cenário crescentemente competitivo e altamente globalizado, pois fomenta lucros, permite acesso a novos mercados, gera emprego e renda, fortalecendo marcas. Tais vantagens tornaram-se, por conseguinte, fundamentais no cenário globalizado, no qual as empresas são obrigadas a competir, tanto no mercado interno quanto no externo, com concorrentes instalados em qualquer parte do mundo.

Consoante isso, por fim, destaca-se a inovação em uma perspectiva sustentável (Barbieri et al., 2010), ou seja, um tipo de inovação que contribua para o alcance do desenvolvimento sustentável, no âmbito econômico, social e ambiental. Nesta contexto, espera-se que as organizações sejam inovadoras e entreguem para o mercado produtos/serviços com conceitos socioambientais e de valor econômico.

4. Considerações Finais

A pesquisa mostrou que a inovação está diretamente relacionada com o incremento da performance econômica das empresas, crescimento de mercado e aumento da rentabilidade. Entre os achados da pesquisa destaca-se que a inovação pode ser considerada como uma capacidade dinâmica, que integra e potencializa diferentes recursos estratégicos, mobilizando estes em direção ao crescimento econômico da empresa e da região onde ocorre a inovação, entretanto há necessidade de políticas públicas que incentivem as inovações, bem como a associação entre as empresas e Instituições de Ensino/Pesquisa para o desenvolvimento de inovações significativas.

Outro aspecto fundamental desta pesquisa, refere-se ao caminho que a inovação trilha em direção a sustentabilidade em suas três dimensões: econômica, ambiental e social. Neste aspecto, considera-se que os recursos usados para a inovação, bem como o produto/serviço inovador, deve necessariamente respeitar os preceitos ambientais e gerar impacto positivo na sociedade.

Este estudo contribui para as pesquisas acadêmicas no que tange a identificação do processo evolutivo dos conceitos de inovação, nos aspectos de processos e tipologias, bem como evidência a interação entre os diferentes agentes da inovação, considerando a necessidade de uma estrutura organizacional que suporte o processo inovativo em um ambiente propício, suportado por uma cultura organizacional que permita a interação entre os indivíduos e outras organizações.

As limitações do estudo referem-se ao recorte temporal que a pesquisa optou, entretanto permite a possibilidade de realizar novas pesquisas considerando os artigos mais recentes publicados nos Journals consultados, no intuito de analisar os novos cominhos e dilemas da inovação.

Referências

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1. Doutora em Administração. Programa de Pós-Graduação Mestrado em Administração. Faculdade Meridional (IMED) – Brasil – elianasevero2@hotmail.com
2. Doutor em Administração. Programa de Pós-Graduação em Administração. Universidade de Caxias do Sul (UCS) – Brasil –echdorion@gmail.com
3. Doutor em Administração. Programa de Pós-Graduação Mestrado em Administração. Faculdade Meridional (IMED) – Brasil –juliocfguimaraes@yahoo.com.br
4. Graduanda em Administração. Faculdade Meridional (IMED) – Brasil – isadora.ribeiro@aiesec.net
5. Graduando em Direito. Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) – Brasil – pedrosevero1980@hotmail.com



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