Espacios. Vol. 37 (Nº 11) Año 2016. Pág. 16

Prática profissional do secretariado executivo em organizações: Indícios de uma prática no contexto social brasileiro

Professional practice of executive secreariat in organizations: Evidence of a practice in the brazilian social context

Fabiana Regina Veloso BÍSCOLI 1; Daniela Giareta DURANTE 2; Yara Lucia Mazziotti BULGACOV 3

Recibido: 19/12/15 • Aprobado: 30/01/2016


Contenido

1. Introdução

2. Referencial Teórico

3. Procedimentos Metodológicos

4. Algumas evidências da prática profissional de secretariado executivo no mercado de trabalho brasileiro

5. Considerações finais

Referências


RESUMO:

O objetivo deste artigo é localizar indícios da constituição da prática organizacional do secretariado executivo como uma prática social. Parte-se dos Estudos Baseados em Prática (EPB) e discorre-se sobre a prática do secretariado, visando responder: a prática profissional do secretariado executivo em organizações brasileiras constitui-se numa prática social? Utilizam-se dados secundários da RAIS, disponibilizados pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Foi possível evidenciar que o secretariado executivo é uma prática social constituída na história da sociedade brasileira, em relação com outras formas de organização, que construiu conhecimento social e cultural, que permitiram sua criação, legitimação e permanência no meio social.
PALAVRAS-CHAVE: Secretariado Executivo. Estudos Baseados em prática. Prática Situada.

ABSTRACT:

This paper aims at finding evidence the constitution of the organizational practice of the executive secretariat as a social practice. It is based on the Practice-based Studies (PBS) and it talks about the practice of the secretariat, seeking to answer: does the professional practice of the executive secretariat in Brazilian organizations constitute itself in a social practice? For this purpose, secondary data from RAIS are used, made available by the Ministry of Labor and Employment. It was possible to evidence that the executive secretariat is a constituted social practice in the history of Brazilian society, in relation with other forms of organization, that built social and cultural knowledge, which allowed its creation, legitimation and permanence in the social environment.
KEYWORD: Executive Secretariat. Practice Based Studies. Located Practice.

1. Introdução

Este artigo toma a prática ocupacional do secretariado executivo nas organizações como um objeto de estudo, a fim de estudá-lo à luz das teorias da prática e ao movimento do practice turn. Deste modo, caracterizando-se por uma perspectiva de análise histórica, situada e contextualizada, na relação concreta com a sociedade, em contraposição às teorias abstratas no âmbito dos estudos organizacionais. (NICOLINI, 2013; GHERARDI, 2012; GHERARDI; STRATI, 2014).

Com sua ênfase qualitativa a abordagem da prática representa uma contribuição com ponto de vista que foge do mainstream, oferecendo uma visão ontológica, epistemológica e metodológica alternativa para o campo da administração. A ontologia relacional, que a caracteriza, permite compreender a realidade socialmente construída na relação entre sujeito-objeto, rompendo dicotomias como mente-objeto, estrutura-ação, teoria-prática. Aliada a esta perspectiva, a epistemologia da prática coloca na realização prática o locus onde o conhecimento é gerado, socializado, mantido e transformado (GHERARDI, 2012). Coerente com esta perspectiva, para acessar o conhecimento prático, está é uma abordagem metodológica que se firma na análise histórica, situada no contexto social, cultural, político e econômico situado no tempo e no espaço e materializado em discursos, artefatos, símbolos e objetos. Assim a análise da prática contribui para o entendimento da experiência situada, num fazer cotidiano, de práticas sociais. (SCHATZKI; KNORR-CETINA; VON SAVIGNY, 2005; NICOLINI, 2013; GHERARDI, 2012; GHERARDI; STRATI, 2014). 

A atividade profissional de Secretariado Executivo tem se mostrado relevante no mercado de trabalho nacional brasileiro. De acordo com os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), foram criados 14.017 novos postos de trabalho entre 2009 e 2012, ocupando a quarta posição na geração de novos postos de trabalho no período (IPEA, 2013).

A evolução da profissão no contexto da dinâmica produtiva brasileira e do mercado de trabalho em geral foi analisada por Santos e Moretto (2011), que constataram o crescimento do emprego do secretariado em 61% no período 2003 a 2011, com uma média de 7% ao ano. Com isso os autores argumentam que a profissão acompanhou a dinâmica econômica nacional, com crescimento constante e positivo no período, tanto em relação à produção nacional quanto à evolução do emprego formal do país.

Para contextualizar historicamente esta atividade profissional, há registros de que ela tenha surgido nas civilizações antigas, na figura dos escribas, que eram pessoas com alto nível de intelectualidade e conhecimento cultural, dominavam a escrita e por isso ocupavam lugares de prestígio na sociedade. Os escribas destacaram-se como assessores, cuja confiança e sigilo das informações foram determinantes para o sucesso dos seus líderes (NONATO JUNIOR, 2009), características que permanecem fundamentais na prática profissional.

Com a Revolução Industrial, que modificou o sistema produtivo e os processos empresariais, a presença de assessores na realização de atividades administrativas passou a ser requisitada no mundo dos negócios. Outra transformação ocorreu com o ingresso da mulher no mercado de trabalho, especialmente após a 2ª guerra mundial, já que a mão de obra masculina se tornou escassa. Com as inovações tecnológicas introduzidas e o estabelecimento da competitividade organizacional, os processos empresariais se tornaram mais complexos, modificando o perfil dos trabalhadores, consequentemente, dos secretários executivos.

Paralela às transformações sociais e empresariais, e a necessidade de mão de obra qualificada, surgiu a formação acadêmica em Secretariado Executivo, outro passo significativo na evolução histórica da atividade profissional, responsável pela capacitação técnica, humanística e intelectual do profissional. A profissão de secretariado, regulamentada no Brasil pela Lei 7.377 de 1985, atualmente se caracteriza pela assessoria estratégica aos diferentes níveis de gestão empresarial, necessitando gerir processos, projetos, pessoas, e informações, e, para isso, demonstrar competências técnicas, comportamentais, relacionais, analíticas, gerenciais, entre outras (PISCOPO; SILVEIRA, 2013; NONATO JUNIOR, 2009).

Toma-se, pois, como perspectiva esta evolução social histórica do secretariado executivo a partir da teoria da prática, indagando: a prática profissional do secretariado executivo em organizações brasileiras constitui-se numa prática social? Assim, e de forma específica, define-se como objetivo deste estudo identificar indícios da constituição da prática profissional do secretariado executivo nas organizações como uma prática social mediante a análise de dados fornecidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), na Relação Anual de Informações Sociais - RAIS.

Para chegar a estas considerações, no tópico 2 são resgatados os fundamentos teóricos dos EBP, especialmente aqueles que subsidiam a practice turn. Na sequência, apresentam-se as escolhas metodológicas, seguidas da análise descritiva conforme dados e registros localizados na RAIS. Por fim, são apresentadas algumas conclusões dos autores sobre os achados da pesquisa.

2. Referencial Teórico

As teorias da prática agrupando contribuições de várias áreas dentre elas a psicologia social, sociologia e antropologia, rompem, do ponto de vista epistemológico, com a separação sujeito – objeto. Partem do pressuposto que a realidade é construída socialmente na relação entre sujeito e objeto (GHERARDI, 2012).  

Assim como vários autores da sociologia e da psicologia social, compreende-se, nesta abordagem, que a realidade é construída por um sujeito ativo, mas que se encontra numa realidade já construída por outros sujeitos, e, portanto, capaz de limitar ou nortear seu olhar e suas ações, mas, recursivamente, este sujeito é capaz de atuar coletivamente, transformando a sua realidade (BERGER; LUCKANN, 2011).

Neste sentido, as teorias da prática buscam compreender os aspectos da vida em sociedade que permitem aos atores sociais construir esta realidade, o modo como eles se organizam, com quais influências, e quais mecanismos são acionados para que as ações se tornem mantenedoras ou transformadoras dessa realidade. Para tanto, toma-se como ponto de partida, a prática. Esta é a unidade de análise para as pesquisas sobre os fenômenos sociais porque é neste fazer coletivo, concreto, que os sujeitos se organizam (GHERARDI, 2012; NICOLINI, 2013; SHCATZKI, 2012). Pode-se argumentar, desta forma, que as práticas são sociais, e de modo processual, se constituem no social, ali se mantém e se reproduzem ao longo do tempo, e também é ali, no social, que as transformações ocorrem.

Para ser breve, apresentam-se aqui alguns dos principais pressupostos extraídos destes estudos. Inicialmente é preciso compreender que os fenômenos ocorrem no social, mas é necessário esclarecer que "social phenomena cannot consist simply of people's actions but must consist of these actions together with, or in the context of, these practices" (SCHATZKI, 2012, p. 14). Trata-se de uma prática contextualizada no social, na vida concreta de grupos sociais e não apenas representa as ações realizadas por pessoas, mas conhecimento gerado e mantido na realidade prática.

Gherardi (2011) amplia esta perspectiva ao mostrar que a principal preocupação das ciências sociais não deve ser nem a experiência do ator individual nem a existência de uma ou outra forma de "totalidade social", mas sim um conjunto de práticas sociais ordenadas no espaço e no tempo (espacialidade e facticidade).

Complementar a esta concepção, Gherardi (2012) alerta que o contexto não pode ser compreendido como recipiente em que as atividades estão inseridas, mas refletem a ideia de um ambiente em conexão com as práticas, numa relação recursiva de co-produção social, em que objetos, ações, sujeitos, discursos são mutuamente constitutivos, deixando artefatos materiais e simbólicos evidentes a ponto de mostrarem aos praticantes que ali se inserem "o que vem depois" no desempenho da prática, é uma metáfora que transmite a sensação de como os seres humanos e artefatos se entrelaçam para o desempenho do fluido de uma prática.

Ao lado deste ponto de vista, pode-se mencionar uma das contribuições de Nicolini (2013), o qual destaca que toda prática precisa ser reconhecida por um grupo de profissionais, e os praticantes precisam reificar tais práticas num coletivo, em um corpo social que existe independentemente da prática. Ou seja, uma prática precisa estar em relação com o social, onde outros grupos a reconheçam como prática e assim, interajam com ela. Ao afirmar desta forma, o autor resgata a dimensão histórica de formação de uma prática, mas para ele é preciso ir além disso, explicando também como as pessoas aprendem e mantém esta prática, como encontram ordem nela, como criam regras e normas que orientam os praticantes e como se mantém num contexto mais amplo.

Schatzki (2012) resgata que neste contexto de atividades realizadas com as práticas, com o social, convencionam-se as ideias de vários estudos em torno deste tema sobre a interação entre o fenômeno social e a as características psicológicas da vida humana, que estão amarradas, juntas numa teia explicativa que entende a atividade humana como habilidades corporais não propositais. Gherardi (2012) desenvolve também a expressão teia de relações entre humanos e não-humanos, que segue nesta mesma direção, e também da utilização do corpo e dos sentidos numa prática, elementos que mostram como, especificamente naquela prática, o corpo faz parte de uma coreografia que revela o modo como as atividades de uma prática acontecem, como são desenhadas pelos corpos atuando, sentindo, realizando uma boa prática, imprimindo conceitos de bom, ruim, feio, bonito, numa dimensão material e discursiva aos praticantes.

Forma-se assim, uma "teia" de conexões, que materializa no fazer cotidiano e situado de uma prática, as construções de sentido, as construções normativas e culturais, de pessoas agindo individualmente, mas agindo para o fenômeno social, permitindo seu crivo individual, reflexivo, mostrando a forte influência individual e também a forte influência social, com uma base cultural, histórica e discursiva. Gherardi e Nicolini (2002) sugerem que a comparação entre as perspectivas numa constelação de práticas é possível graças a uma prática discursiva orientada para o alinhamento dos elementos mentais e materiais, no quadro das posições discursivas mutuamente responsáveis. Estes alinhamentos são provisórios e instáveis, os quais produzem tensões, descontinuidades e incoerências tanto quanto produzem ordem e significados negociados (consonância).

Percebe-se que esta abordagem amplia a percepção sobre a prática, colocando-a como unidade de análise para compreensão de fenômenos sociais. Embora nem todos os aspectos estejam detalhados neste artigo pretende-se, na próxima seção, utilizar alguns aspectos essenciais desta abordagem para buscar na prática profissional do secretariado executivo em organizações argumentos que possam situa-la como uma prática social.

3. Procedimentos Metodológicos

A abordagem da prática pressupõe uma análise complexa, ampla e profunda sobre o modo como ela se constitui no contexto social e organizacional, como os seus praticantes localizam uma ordem social, retratando discursos, comportamentos e história. Neste estudo, faz-se uma abordagem inicial, talvez se aproximando da sugestão de Nicolini (2013) para o que chama de zooning out. Ou seja, um olhar de fora, para perceber a prática de forma mais distante para depois aproximar-se dela e compreende-la em profundidade. Isto porque o artigo faz parte de outra pesquisa mais ampla, um projeto de tese de doutorado. A pesquisa é qualitativa e se caracteriza pela utilização da coleta de uma série de materiais empíricos que descrevem a rotina, os problemas e os significados nas vidas das pessoas (DENZIN, LINCOLN, 2006). Na perspectiva epistemológica da prática é possível acessar os fenômenos sociais como cultura, práticas discursivas, ordem social, intencionalidade, agência, legitimação, reprodução e transformação social por meio das práticas. Quando se desenha um quadro analítico amplo é possível captar vários elementos da realidade social na realização prática, reconhecendo a limitação de tempo de pesquisa, acesso ao campo, disponibilidade do pesquisador e muitos outros fatores. Por esta razão, este artigo contempla apenas uma das fases da pesquisa, enquanto outras fases estão em desenvolvimento.

Argumenta-se ainda que Denzin e Lincoln (2006) incluem entre as contribuições da pesquisa qualitativa o fato de que elas permitem adequar as medições quantitativas e as análises estatísticas que normalmente não se ajustariam ao problema de pesquisa. Para a pesquisa qualitativa, especialmente na abordagem da prática, vários elementos devem ser considerados relevantes na compreensão dos fenômenos sociais. Assim, os dados estatísticos devem ser cautelosamente investigados, pois alguns aspectos que aparentemente são indicativos de pouca relevância estatística podem indicar justificativas para a contextualização de fenômenos socais como, por exemplo, a quantidade e a localização dos profissionais por gênero. A possível relação desta categoria com a distribuição salarial ou outras categorias analíticas representam um contexto social que explica a condição dos profissionais no contexto organizacional. Este é mais um motivo para que os dados quantitativos sejam um ponto de partida para análises qualitativas na pesquisa da prática.

Assim, neste estudo, a abordagem é descritiva, pois buscou-se dados estatísticos oficiais que apresentassem informações reais da profissão de secretariado executivo no Brasil. Um instrumento legal desenvolvido pelo governo nacional brasileiro, por meio do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) é a Relação Anual de Informações Sociais - RAIS. Instituída pelo Decreto no 76.900, de 23/12/75, a RAIS tem por objetivo "o suprimento às necessidades de controle da atividade trabalhista no País, e ainda, o provimento de dados para a elaboração de estatísticas do trabalho e a disponibilização de informações do mercado de trabalho às entidades governamentais" (RAIS, 2015).

Utilizou-se nesta fase da pesquisa dados secundários disponibilizados pela RAIS, referentes ao Código Brasileiro de Ocupação número 2523 que trata do Secretariado Executivo e suas subclassificações (quadro 1), seguindo com uma análise qualitativa que possibilite direcionar a construção conceitual do secretariado executivo como prática social. Destaca-se que estão disponíveis dados oficiais da RAIS a partir de 2003 até 2013 por isso utilizaram-se dados comparativos entre esse período com o intuito de comparar dados mais antigos com os mais atualizados, buscando localizar alterações significativas ou mesmo continuidades que permitam descrever um cenário desta prática no contexto nacional. Assim, ao final das análises, foi possível levantar alguns indícios que permitem afirmar que a prática profissional do secretariado executivo nas organizações é uma prática socialmente constituída no contexto brasileiro, que apresenta elementos a serem explorados para ampliar um olhar sobre fenômenos de natureza social como referências culturais, ação e construção de significados e discursos, legitimação e ordem social em torno desta prática.

4. Algumas evidências da prática profissional de secretariado executivo no mercado de trabalho brasileiro

Inicialmente um dado bastante evidente de que o secretariado executivo existe enquanto uma construção profissional no meio social das relações de trabalho no cenário brasileiro é a sua constituição como categoria profissional, com a descrição das atividades pertinentes. Com base na Lei nº 7.377/85, que regulamenta o exercício desta profissão no Brasil, o MTE criou a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), que tem por finalidade a identificação das ocupações no mercado de trabalho, para fins classificatórios junto aos registros administrativos e domiciliares (RAIS, 2015).

Quadro 1 – Códigos da ocupação do Secretário Executivo no Brasil

Código da ocupação

Descrição das Funções

2523-05 Secretária(o) executiva(o)

2523-10 Secretário bilíngue

2523-15 Secretário trilíngue

Assessor de diretoria, Assessor de presidência, Assistente de diretoria, Assistente de presidência, Auxiliar administrativo de diretoria, Auxiliar administrativo de presidência, Secretário de diretoria, Secretário de gabinete, Secretário de presidência, Secretário pleno, Secretário sênior, Tecnólogo em secretariado.

2523-20 Tecnólogo em secretariado escolar

Secretário de escola (tecnólogo), Secretário escolar (tecnólogo)

Descrição Sumária: Assessoram os executivos no desempenho de suas funções, atendendo pessoas (cliente externo e interno), gerenciando informações, elaboram documentos, controlam correspondência física e eletrônica, prestam serviços em idioma estrangeiro, organizam eventos e viagens, supervisionam equipes de trabalho, gerem suprimentos, arquivam documentos físicos e eletrônicos auxiliando na execução de suas tarefas administrativas e em reuniões.

Obs.: Esta família não compreende: 3515-Técnicos em secretariado, taquígrafos e estenotipistas.
Fonte: elaborado pelas autoras com base nos dados da RAIS/MTE, 2015.

Assim, percebe-se que no contexto organizacional brasileiro, o secretariado executivo é concebido e classificado em categorias diferentes, mostrando a sua relevânia na relação com outras comunidades de prática. Comunidades de prática é um conceito utilizado por Silvia Gherardi e Davide Nicolini (GHERARDI, 2012, 2014; NICOLINI, 2013; GHERARDI; NICOLINI, 2002) para mostrar que uma prática se constitui em meio a outras práticas, assim o secretariado executivo se constitui também em conjunto com os diretores, gerentes, técnicos administrativos, professores e outros profissionais com os quais se relaciona no cotidiano. Também percebe-se que a própria classificação os inclui em certas categorias e os exclui de outras, para reforçar o reconhecimento e legitimidade desta prática no contexto organizacional e também no contexto social, fazendo valer esta identidade diante de órgãos representativos como sindicatos, federações e mesmo para aplicação dos direitos trabalhistas, tornando esta identidade legítima também nas áreas jurídico legais, trabalhistas e onde quer que seja necessária a atuação desta prática no meio social.

Para mostrar a relevância do secretariado executivo no contexto nacional, também importa perceber como a distribuição no território nacional vem acontecendo. Para mostrar essa distribuição, o quantitativo de profissionais registrados em dezembro de 2013 (RAIS, 2015) e a segmentação por gênero são apresentados na tabela 1.

Tabela 1 – Secretários Executivos no Brasil em 2003 e 2013: distribuição por UF e por gênero

UF

2003

2013

Masculino

Feminino

Total

Masculino

Feminino

Total

%

%

%

%

%

%

Acre

23

11,33

180

88,67

203

0,22

355

42,62

478

57,38

833

0,51

Alagoas

119

19,87

480

80,13

599

0,65

251

20,81

955

79,19

1206

0,74

Amapá

21

18,10

95

81,90

116

0,13

71

21,85

254

78,15

325

0,20

Amazonas

163

25,87

467

74,13

630

0,68

1433

40,10

2141

59,90

3574

2,20

Bahia

1502

26,65

4134

73,35

5636

6,12

2868

28,88

7064

71,12

9932

6,12

Ceará

310

15,13

1739

84,87

2049

2,23

1005

24,04

3175

75,96

4180

2,58

Distrito Federal

401

16,81

1985

83,19

2386

2,59

989

18,88

4250

81,12

5239

3,23

Espírito Santo

295

18,45

1304

81,55

1599

1,74

699

22,90

2354

77,10

3053

1,88

Goiás

556

12,89

3758

87,11

4314

4,69

1726

18,02

7854

81,98

9580

5,90

Maranhão

162

14,90

925

85,10

1087

1,18

806

24,54

2478

75,46

3284

2,02

Mato Grosso

180

10,77

1491

89,23

1671

1,82

476

13,68

3003

86,32

3479

2,14

Mato Grosso do Sul

347

19,34

1447

80,66

1794

1,95

690

18,42

3056

81,58

3746

2,31

Minas Gerais

1674

14,59

9796

85,41

11470

12,46

3018

13,99

18562

86,01

21580

13,30

Pará

245

17,55

1151

82,45

1396

1,52

1400

30,09

3252

69,91

4652

2,87

Paraíba

447

28,64

1114

71,36

1561

1,70

433

24,99

1300

75,01

1733

1,07

Paraná

851

16,07

4443

83,93

5294

5,75

1654

16,95

8105

83,05

9759

6,01

Pernambuco

523

18,77

2263

81,23

2786

3,03

1099

22,61

3762

77,39

4861

2,99

Piauí

201

26,10

569

73,90

770

0,84

332

23,23

1097

76,77

1429

0,88

Rio de Janeiro

1455

17,55

6835

82,45

8290

9,01

2392

21,55

8708

78,45

11100

6,84

Rio Grande do Norte

317

25,02

950

74,98

1267

1,38

369

22,67

1259

77,33

1628

1,00

Rio Grande do Sul

1694

25,43

4968

74,57

6662

7,24

2383

20,64

9160

79,36

11543

7,11

Rondônia

174

15,33

961

84,67

1135

1,23

296

14,76

1710

85,24

2006

1,24

Roraima

25

16,89

123

83,11

148

0,16

160

26,19

451

73,81

611

0,38

Santa Catarina

488

17,49

2302

82,51

2790

3,03

859

16,52

4340

83,48

5199

3,20

São Paulo

3835

15,63

20706

84,37

24541

26,67

5804

16,76

28830

83,24

34634

21,34

Sergipe

453

37,62

751

62,38

1204

1,31

288

23,76

924

76,24

1212

0,75

Tocantins

72

11,46

556

88,54

628

0,68

412

21,35

1518

78,65

1930

1,19

Total

16533

17,97

75493

82,03

92026

100,00

32268

19,88

130040

80,12

162308

100,00

Fonte: elaborado pelas autoras com base nos dados do MTE, RAIS 2003 e 2013 (RAIS, 2015).

Os dados apontam para uma distribuição em poucas Unidades Federativas (UF) com grande quantidade de profissionais, em que 34,65% concentram-se em Minas Gerais e São Paulo e, em outro extremo, muitas UF com poucos profissionais. Observa-se também que 48,58%, quase metade dos profissionais, atuam em quatro UF (Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo). Por outro lado, interessa à pesquisa da prática compreender todo e qualquer tipo de informação que mostre relevância no cenário da prática social, de modo que informações detalhadas sobre pouca ou muita representatividade, podem ser exploradas, podendo também indicar o tipo de construção social que está relacionado a esta informação naquelas regiões.

Outros fatores como o gênero podem ser foco de estudo sobre esta prática, assim como os salários, segmentos por onde esta prática tem se inserido e se tornado relevante para a área de secretariado e para o contexto organizacional, o que será objeto de análise deste artigo, a partir deste momento.

No ano de 2003, estavam registrados no Brasil 92.026 secretários executivos, já em 2013, eram 162.308 profissionais registrados, mostrando um crescimento de 76,37% (70.282 profissionais a mais) em 10 anos. Deste total, observa-se o aumento de 52,24% de profissionais do gênero masculino (15.735 profissionais a mais) e 72,25% de profissionais do gênero feminino (54.547 profissionais a mais).

Em geral, há maior quantidade de profissionais secretários executivos do gênero feminino nos anos de 2003 e também de 2013. Em 2003 são 75.493 mulheres (representando 82,03% do total) e em 2013, são 130.040 mulheres (que equivalem a 80,12% do total).

Já, observando separadamente por Estados, identificam-se em alguns que a proporção entre o número de profissionais do gênero masculino e feminino estão mais equilibrados. No ano de 2003, Paraíba, Piauí, Bahia e Amazonas tinham em torno de 25% a 28% de homens contra, 72% a 75% de mulheres, e Sergipe (37,62% de homens). Já em 2013, observa-se maior equilíbrio entre os gêneros nos estados do Acre e Amazonas, cujas proporções se aproximam de 50%. Em contrapartida, tem-se uma diferença grande em outros estados. Em 2003 em Mato Grosso, Acre e Goiás (em torno de 10 a 12% de homens), e em 2013, Mato Grosso, Minas Gerais e Rondônia (com percentuais em torno de 14% de homens).

Com isso é possível perceber em detalhes quais foram os estados em que o percentual relativo a gênero cresceu ou decresceu, devendo ser observado também a proporção de crescimento relativa, dado o crescimento total de secretários executivos tanto por estado quanto nacionalmente. Outro foco que entrou em análise para este estudo diz respeito à remuneração e ao setor onde atuam os profissionais de secretariado executivo. A Tabela 2 mostra a participação em percentuais, por faixa de remuneração anual média, em salários mínimos entre as UF. Ou seja, observando os valores totais de 2003 e 2013 é possível perceber quanto cada UF tem de participação nos salários dos Secretários Executivos.

Tabela 2 – Participação dos Secretários Executivos no Brasil em 2003 e 2013: por faixa de remuneração anual média, em salários mínimos entre as UF.

UF

2003

2013

Até 1,00

1,01 a 3,00

3,01 a 5,00

5,01 a 7,00

7,01 a 10,00

10,01 a 15,00

15,01 a 20,00

Mais de 20,00

Total

Até 1,00 

1,01 a 3,00 

3,01 a 5,00 

5,01 a 7,00

7,01 a 10,00

10,01 a 15,00

15,01 a 20,00

Mais de 20,00

Total

Acre

0,5%

0,3%

0,1%

0,1%

0,1%

0,0%

0,0%

0,0%

0,2%

0,42%

0,9%

0,6%

0,2%

0,1%

0,1%

0,0%

0,0%

0,5%

Alagoas

0,7%

0,8%

0,7%

0,5%

0,3%

0,4%

0,2%

0,5%

0,7%

1,22%

1,2%

0,5%

0,6%

0,6%

0,2%

0,5%

0,6%

0,7%

Amapá

0,1%

0,2%

0,1%

0,1%

0,0%

0,0%

0,0%

0,3%

0,1%

0,41%

0,4%

0,2%

0,2%

0,2%

0,4%

0,1%

0,0%

0,2%

Amazonas

0,1%

0,8%

0,8%

0,7%

0,6%

0,5%

0,4%

0,5%

0,7%

0,56%

2,0%

4,4%

3,7%

3,4%

1,9%

1,2%

2,1%

2,2%

Bahia

6,6%

5,7%

8,1%

7,4%

6,6%

6,0%

4,3%

1,6%

6,1%

5,06%

7,2%

5,3%

6,0%

10,5%

7,1%

10,1%

9,2%

6,1%

Ceará

10,3%

2,8%

2,2%

1,4%

0,6%

0,3%

0,3%

0,4%

2,2%

5,00%

4,5%

2,1%

1,7%

1,7%

0,7%

0,3%

0,7%

2,6%

Distrito Federal

0,5%

2,7%

2,9%

3,0%

2,5%

2,8%

2,9%

4,0%

2,6%

0,44%

2,7%

4,4%

3,9%

5,9%

6,9%

10,2%

7,2%

3,2%

Espírito Santo

1,7%

2,1%

2,5%

1,4%

1,3%

0,6%

0,5%

0,4%

1,7%

1,30%

2,3%

2,5%

2,1%

1,8%

0,9%

1,1%

0,6%

1,9%

Goiás

7,1%

6,7%

2,7%

1,7%

0,9%

0,5%

0,4%

0,3%

4,7%

7,24%

9,1%

3,6%

1,7%

1,9%

1,4%

0,9%

0,6%

5,9%

Maranhão

2,4%

1,5%

0,8%

0,5%

0,4%

0,1%

0,1%

0,3%

1,2%

2,61%

3,0%

1,6%

1,2%

1,2%

0,8%

0,2%

0,6%

2,0%

Mato Grosso

2,4%

2,7%

1,2%

0,7%

0,5%

0,3%

0,2%

0,3%

1,8%

2,66%

3,5%

1,0%

0,7%

0,5%

1,1%

0,6%

0,2%

2,1%

Mato Grosso do Sul

2,4%

2,8%

1,1%

1,4%

1,0%

0,6%

0,4%

0,3%

1,9%

1,38%

3,1%

1,3%

0,8%

0,7%

2,1%

1,3%

1,7%

2,3%

Minas Gerais

25,7%

15,5%

9,4%

8,1%

7,1%

5,2%

2,5%

3,3%

12,5%

28,86%

24,2%

10,1%

6,3%

4,9%

3,5%

3,1%

4,9%

13,3%

Pará

1,6%

1,9%

1,9%

1,3%

0,8%

0,6%

0,5%

0,1%

1,5%

2,43%

4,1%

2,5%

2,3%

1,2%

0,9%

1,1%

0,6%

2,9%

Paraíba

2,8%

2,4%

1,3%

0,7%

0,7%

0,4%

0,3%

0,3%

1,7%

1,69%

1,8%

0,9%

0,4%

0,4%

0,5%

0,6%

0,2%

1,1%

Paraná

7,0%

6,6%

5,1%

4,5%

6,1%

3,5%

4,3%

3,6%

5,8%

7,25%

8,3%

6,6%

11,4%

4,3%

4,8%

1,8%

1,7%

6,0%

Pernambuco

2,2%

3,5%

3,9%

3,7%

2,0%

1,5%

1,1%

0,8%

3,0%

2,67%

4,3%

2,8%

1,9%

1,8%

1,4%

2,3%

1,3%

3,0%

Piauí

0,9%

0,9%

0,5%

0,7%

0,5%

0,8%

0,8%

0,3%

0,8%

1,28%

1,4%

0,4%

0,4%

0,3%

0,2%

0,2%

0,1%

0,9%

Rio de Janeiro

2,0%

6,1%

10,3%

13,9%

14,5%

14,6%

13,5%

16,4%

9,0%

1,67%

6,5%

9,0%

9,4%

10,9%

12,0%

11,0%

24,3%

6,8%

Rio Grande do Norte

2,9%

1,8%

1,4%

1,1%

0,5%

0,2%

0,2%

0,3%

1,4%

0,81%

1,4%

0,7%

0,4%

0,7%

0,3%

0,4%

0,4%

1,0%

Rio Grande do Sul

5,3%

6,5%

8,7%

8,1%

9,8%

8,6%

8,2%

8,4%

7,2%

10,19%

10,7%

7,2%

7,0%

6,6%

4,0%

5,1%

5,0%

7,1%

Rondônia

1,5%

1,9%

0,6%

0,4%

0,1%

0,1%

0,1%

0,1%

1,2%

1,52%

2,0%

0,3%

0,3%

0,2%

0,1%

0,1%

0,7%

1,2%

Roraima

0,1%

0,1%

0,4%

0,1%

0,1%

0,1%

0,2%

0,0%

0,2%

0,26%

0,5%

0,5%

0,4%

0,3%

0,3%

0,1%

0,2%

0,4%

Santa Catarina

3,5%

3,6%

3,9%

3,0%

2,8%

1,5%

1,4%

1,7%

3,0%

3,42%

5,0%

2,9%

2,5%

1,6%

1,1%

1,2%

1,3%

3,2%

São Paulo

6,0%

17,4%

27,9%

34,7%

39,8%

50,3%

57,2%

55,8%

26,7%

5,29%

19,9%

27,2%

33,6%

37,5%

46,7%

45,1%

35,4%

21,3%

Sergipe

2,6%

1,9%

0,9%

0,8%

0,4%

0,3%

0,2%

0,1%

1,3%

2,11%

1,5%

0,5%

0,5%

0,4%

0,2%

1,0%

0,2%

0,7%

Tocantins

1,1%

1,0%

0,5%

0,3%

0,1%

0,1%

0,0%

0,0%

0,7%

2,25%

2,0%

0,9%

0,4%

0,4%

0,3%

0,2%

0,1%

1,2%

Total

100,0%

100,0%

100,0%

100,0%

100,0%

100,0%

100,0%

100,0%

100,0%

100,00%

100,0%

100,0%

100,0%

100,0%

100,0%

100,0%

100,0%

100,0%

Fonte: elaborado pelas autoras com base nos dados do MTE, Rais 2003 e 2013 (RAIS, 2015).

Observa-se, na tabela 2, que as UF que tem maior representatividade estão associadas àquelas com maior quantidade de profissionais (tabela 1). Mais importante que isso, entretanto, é avaliar o quadro sob o ângulo de quanto cada UF representa por cada faixa salarial. Por exemplo: em 2003, os profissionais que eram remunerados com valores acima de 20 salários mínimos atuavam em São Paulo (55,8%), no Rio de Janeiro (16,4%) e no Rio Grande do Sul (8,4%); já nas UF Acre, Rondônia e Tocantins não havia nenhum profissional com este salário. E, no ano de 2013, observa-se na coluna correspondente aos salários acima de 20 mínimos, uma pequena alteração, embora São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul continuem com maior representatividade, as UF Bahia e Distrito Federal aumentam seus percentuais, com profissionais de salários mais altos no país.

Nesta mesma linha de raciocínio, é importante observar a participação das UF em cada faixa salarial, e perceber como este quadro se altera entre 2003 e 2013. Por exemplo, no ano de 2003, a maior concentração de salários mais baixos, no valor de até 1 salário mínimo, estava em Minas Gerais (25,7%) e no Ceará (10,3%), e no ano de 2013, Minas Gerais e Rio Grande do Sul agregam maior quantidade de profissionais com esta faixa salarial. Outro dado em destaque é o Estado de São Paulo que em 2003 concentra o maior percentual em quase todas as faixas salariais (de 1,01 até mais de 20 salários mínimos), com destaque ao percentual para os profissionais melhor remunerados do país, o que se repete no ano de 2013. Este dado indica que grande parte dos profissionais secretários executivos brasileiros atua nesta UF, em todas as faixas salariais. As UF Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul apresentam comportamento semelhante, embora com percentuais menores. Como mencionado anteriormente um destaque às UF Distrito Federal e Bahia que passaram em 2013 a apresentar percentuais de profissionais com salários altos (nas faixas acima de 7,00 salários mínimos), o que mostra aumento do mercado de trabalho com altos salários nestas UF.

Observando agora por coluna, é possível afirmar que, tanto nos dados de 2003 como nos de 2013, a faixa salarial dos mais altos valores (acima de 7 salários), correspondem a distribuição mais discrepante entre as UF, em que algumas UF concentram grande percentual dos salários e outras não têm nenhuma representação. Já nas outras colunas, que representam as faixa salariais menores (até 7 salários mínimos), há representação em todas as UF, ou seja, existem profissionais atuantes com salários mais baixos em todas as UF. Outra informação a ser extraída dos dados são pequenos percentuais em várias UF de salários mais altos, podendo ser um indicativo de que novas oportunidades com salários mais altos estão surgindo nestes Estados ao longo dos anos, como Amazonas, Mato Grosso do Sul e Paraná. Agora, a tabela 3 mostra, dentro da UF, como estão distribuidos os salários (entre menos de um a mais de 20).

Tabela 3– Participação por média salarial, em salários mínimos nas UF

UF

2003

2013

Até 1,00

1,01 a 3,00

3,01 a 5,00 

5,01 a 7,00

7,01 a 10,00

10,01 a 15,00

15,01 a 20,00

Mais de 20,00

Total

Até 1,00 

 1,01 a 3,00

3,01 a 5,00

5,01 a 7,00

7,01 a 10,00

10,01 a 15,00

15,01 a 20,00

Mais de 20,00

Total

Acre

9,90%

77,80%

7,40%

2,50%

2,50%

0,00%

0,00%

0,00%

100,00%

5,60%

74,30%

15,30%

2,80%

0,80%

0,60%

0,10%

0,00%

100,00%

Alagoas

8,20%

58,90%

14,00%

5,50%

4,30%

4,80%

1,20%

3,00%

100,00%

15,10%

63,50%

7,70%

5,60%

5,00%

0,80%

0,90%

0,90%

100,00%

Amapá

6,90%

62,10%

15,50%

4,30%

0,90%

0,00%

0,00%

10,30%

100,00%

5,80%

61,60%

11,10%

8,30%

4,90%

7,70%

0,60%

0,00%

100,00%

Amazonas

1,90%

55,40%

16,50%

7,60%

7,00%

6,50%

2,20%

2,90%

100,00%

3,60%

43,40%

26,00%

12,20%

9,70%

3,30%

0,70%

1,10%

100,00%

Bahia

7,80%

43,70%

17,90%

9,40%

9,20%

8,30%

2,80%

1,00%

100,00%

9,00%

53,30%

11,10%

7,20%

10,70%

4,60%

2,20%

1,70%

100,00%

Ceará

14,90%

61,20%

13,90%

4,80%

2,50%

1,30%

0,50%

0,60%

100,00%

11,40%

67,40%

10,40%

4,70%

4,20%

1,10%

0,20%

0,30%

100,00%

Distrito Federal

1,00%

46,80%

15,20%

9,10%

8,30%

9,10%

4,50%

5,90%

100,00%

1,90%

45,20%

17,10%

8,90%

11,40%

8,50%

4,10%

2,50%

100,00%

Espírito Santo

5,60%

58,00%

18,80%

6,30%

6,40%

2,90%

1,10%

0,80%

100,00%

4,00%

61,50%

17,10%

8,30%

5,90%

2,00%

0,80%

0,30%

100,00%

Goiás

14,10%

71,70%

8,00%

2,80%

1,60%

1,00%

0,40%

0,30%

100,00%

14,00%

72,70%

7,70%

2,10%

2,00%

0,90%

0,20%

0,10%

100,00%

Maranhão

18,30%

64,10%

9,10%

3,60%

2,60%

1,00%

0,20%

1,00%

100,00%

16,00%

63,70%

10,00%

4,40%

3,70%

1,50%

0,20%

0,30%

100,00%

Mato Grosso

9,80%

73,30%

9,40%

3,10%

2,20%

1,20%

0,40%

0,60%

100,00%

10,40%

76,90%

6,20%

2,30%

1,40%

2,00%

0,40%

0,10%

100,00%

Mato Grosso do Sul

6,30%

72,00%

7,80%

5,50%

4,30%

2,60%

0,90%

0,60%

100,00%

6,50%

76,20%

7,30%

2,50%

2,00%

3,50%

0,70%

0,80%

100,00%

Minas Gerais

11,60%

62,40%

10,50%

5,10%

4,90%

3,50%

0,80%

1,00%

100,00%

13,30%

68,90%

9,70%

3,50%

2,30%

1,00%

0,30%

0,40%

100,00%

Pará

8,30%

57,00%

17,80%

6,90%

4,70%

3,60%

1,30%

0,30%

100,00%

8,80%

69,40%

11,10%

5,80%

2,60%

1,20%

0,50%

0,20%

100,00%

Paraíba

8,00%

71,50%

10,50%

3,20%

3,50%

2,00%

0,60%

0,60%

100,00%

10,90%

70,80%

10,70%

2,40%

2,30%

1,90%

0,80%

0,20%

100,00%

Paraná

6,90%

54,70%

12,50%

6,10%

9,10%

5,20%

3,00%

2,40%

100,00%

7,10%

56,20%

13,70%

14,00%

4,50%

3,20%

0,40%

0,30%

100,00%

Pernambuco

6,30%

53,30%

18,20%

9,70%

5,80%

4,10%

1,40%

1,00%

100,00%

7,50%

67,90%

12,00%

4,70%

3,70%

1,80%

1,00%

0,50%

100,00%

Piauí

8,90%

56,10%

9,40%

6,60%

5,20%

8,10%

4,00%

1,60%

100,00%

13,70%

73,80%

5,90%

3,00%

2,20%

0,70%

0,30%

0,10%

100,00%

Rio de Janeiro

0,90%

30,70%

15,70%

12,10%

13,90%

13,70%

6,10%

7,00%

100,00%

1,20%

48,00%

16,80%

10,10%

10,00%

6,90%

2,10%

3,90%

100,00%

Rio Grande do Norte

10,80%

63,00%

14,20%

6,00%

3,20%

1,40%

0,60%

0,90%

100,00%

8,40%

71,90%

9,30%

3,20%

4,50%

1,40%

0,60%

0,40%

100,00%

Rio Grande do Sul

3,20%

41,20%

16,20%

8,80%

11,60%

10,00%

4,60%

4,50%

100,00%

7,60%

60,90%

13,10%

7,30%

5,80%

2,20%

0,90%

0,80%

100,00%

Rondônia

11,20%

77,50%

7,10%

2,30%

0,80%

0,40%

0,40%

0,30%

100,00%

10,00%

82,30%

3,10%

2,00%

1,00%

0,40%

0,10%

0,60%

100,00%

Roraima

9,50%

33,70%

36,50%

5,40%

6,10%

4,70%

4,10%

0,00%

100,00%

9,80%

59,60%

14,90%

7,40%

4,60%

2,90%

0,30%

0,50%

100,00%

Santa Catarina

5,00%

53,00%

17,90%

7,70%

8,00%

4,20%

1,90%

2,20%

100,00%

6,10%

69,90%

11,60%

5,80%

3,10%

1,40%

0,50%

0,50%

100,00%

São Paulo

1,50%

28,40%

14,30%

10,20%

12,80%

15,90%

8,70%

8,10%

100,00%

1,90%

45,50%

16,20%

11,60%

11,00%

8,60%

2,80%

1,80%

100,00%

Sergipe

10,80%

69,30%

9,80%

4,60%

2,50%

2,10%

0,50%

0,40%

100,00%

13,20%

66,30%

9,00%

5,00%

3,00%

1,00%

1,70%

0,20%

100,00%

Tocantins

13,90%

70,50%

10,10%

3,80%

0,80%

0,60%

0,20%

0,20%

100,00%

13,90%

71,00%

9,30%

2,30%

2,10%

1,00%

0,30%

0,10%

100,00%

Total

6,0%

47,3%

13,7%

7,8%

8,6%

8,4%

4,0%

3,9%

100%

7,4%

59,4%

12,7%

7,3%

6,2%

3,9%

1,3%

1,1%

100%

Fonte: elaborado pelas autoras com base nos dados do MTE, Rais 2003 e 2013 (RAIS, 2015).

Observando os totais, na última linha da tabela 3, percebe-se que os salários dos secretários no Brasil diminuiram entre o período 2003-2013, já que cresceu a quantidade de profissionais remunerados nas faixas salariais menores. As faixas salariais "até 01" e entre 1,01 e 3,00", juntos, passaram de 53,3% para 66,8% do total de profissionais registrados na RAIS, enquanto reduziu o número de secretários nas demais faixas salariais. Este dado também mostra que é nas faixas menores que estão localizados a maior parte dos secretários no Brasil, tanto no ano de 2003 quanto de 2013.

Também é possível extrair outras informações dos dados da tabela 3, observando os salários dos profissionais dentro de cada UF. Um exemplo é o Acre, o primeiro da tabela, que em 2003, mostra que todos os secretários executivos recebem entre 0 e 10 salários mínimos, já em 2013 há um pequeno percentual de profissionais recebendo entre 10 e 15 salários mínimos (0,60%) e entre 15 e 20 salários mínimos (0,10%). Esta análise pode ser realizada para todas as UF. As UF que apresentam uma distribuição mais equilibrada entre todas as faixas salariais são, por ordem alfabética: Amazonas no ano de 2013, Bahia em 2003, Distrito Federal nos dois períodos, Rio de Janeiro em 2013 e São Paulo nos dois períodos.

Novamente destaca-se que os dados menores podem ser significativos como, por exemplo, o fato de que no Amapá havia em 2003 um percentual de 10,30% de profissionais que recebiam acima de 20 salários (comparando sempre com relação aos demais secretários daquela UF), e no ano de 2013 não há mais nenhum profissional recebendo este salário. Essa queda também ocorreu no Distrito Federal, no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e em São Paulo. Cabe, porém, analisar para onde migraram esses profissionais, para uma faixa salarial menor, mas em percentuais sutis, as quais no total demonstram um aumento de profissionais com salários menores.

De todo modo, o caráter exploratório desta pesquisa apresenta como objetivo subjacente localizar indicativos que permitam mostrar um caminho para pesquisas futuras. Assim, pode-se dizer que a faixa salarial do secretário executivo é um indicativo de que esta prática se insere no contexto social brasileiro, uma vez que se apresenta em todas as faixas salariais, em todas as suas Unidades Federativas, tendo sua representatividade no cenário de práticas de trabalho, com um grande quantitativo de profissionais atuando (162.308 profissionais em 2013). Os dados que mais se destacam a serem alvo de novas investigações são as questões das faixas salariais e de gênero, podendo ser investigado como esta distribuição aconteceu ao longo da história cultural e social brasileira, como estas caracteríticas se legitimaram a ponto de estarem normatizadas e consistentes neste cenário.

Outro aspecto relevante na análise da prática profissional diz respeito ao setor econômico em que os profissionais trabalham. A esse respeito, tomou-se como referência a classificação do IBGE, que agrupa em oito grandes setores da economia, conforme tabela 4.

Tabela 4: Quantidade de profissionais por setor IBGE

Ano

Extrativa mineral

Indústria de transformação

Serviços industriais de utilidade pública

Construção Civil

Comércio

Serviços

Administração Pública

Agropecuária, extração vegetal, caça e pesca

Total

2003

325

11.033

754

2.220

13.585

46.841

16.153

1.115

92.026

0,4%

12,0%

0,8%

2,4%

14,8%

50,9%

17,6%

1,2%

100%

2013

624

14.007

1.154

4.628

24.499

82.012

33.238

2.146

162.308

0,4%

8,6%

0,7%

2,9%

15,1%

50,5%

20,5%

1,3%

100%

Fonte: elaborado pelas autoras com base nos dados do MTE, Rais 2003 e 2013 (RAIS, 2015).

Observa-se que tanto em 2003 quanto em 2013, são os setores de serviços e de administração pública que mais empregam, destacando-se que os serviços correspondem a 50% do total em ambos os anos analisados e esses dois setores juntos empregam praticamente 70% dos profissionais secretários. A representatividade dos setores, de modo geral, não se altera no período, evidenciando certo padrão. Por exemplo, o setor de construção civil em 2003 empregava 2,4% dos profissionais e em 2013 passou para 2,9%. Ocorreu uma queda no setor de indústria de transformação em 3,4%.

Coletaram-se também dados demonstrativos por UF, os quais, por falta de espaço neste artigo, são apenas descritos no texto e analisados em conjunto com a tabela 4. Os setores extração mineral, serviços industriais de utilidade pública, construção civil e agropecuária, extração vegetal, caça e pesca, tanto em 2003 quanto em 2013 estão distribuídos de forma homogênea entre os estados. Todos os estados empregam nos setores mencionados, mas com baixa representatividade. Já o setor indústria de transformação, em 2003, foi mais significativo nos estados de Santa Catarina, São Paulo e Amazonas, empregando respectivamente 19,3%, 19,1% e 16,5% dos profissionais registrados nestes estados. Em 2013 a maior representatividade permaneceu nos estados de Santa Catarina e São Paulo, no entanto, no Amazonas caiu para 2,7%.

No setor do comércio, também se observam variações. Em 2003 esteve mais relevante nos estados de Acre (29,1%), Amapá (27,6%), Tocantins (24,2%), Mato Grosso (23,8%) e Maranhão (23,4%). Em 2013, no entanto, em todos esses estados houve queda, com exceção de Mato Grosso. A queda foi especialmente no Acre que passou para 10,1% de secretários empregados neste ramo. Em 2013 a representatividade maior passou a ser nos estados de Rondônia (25,2%), Mato Grosso (25,3%) e Mato Grosso do Sul (23,3%).

O setor de serviços é representativo em todas as unidades federativas tanto em 2003 quanto em 2013. A menor representatividade registrada em 2003 foi nos estados de Roraima (27,7%) e Paraíba (30,3%), mas no Distrito Federal chegou a 66,5% e no Rio de Janeiro 64,9%. Em 2013 a menor representatividade é registrada no Amazonas (15,3%) e as maiores permanecem Distrito Federal (67,6%) e Rio de Janeiro (64,8%).

Em relação ao setor de administração pública, sua representatividade é mais variável entre os estados. Em 2003 chegou a 57,1% no estado da Paraíba, 50,7% em Roraima e 45,8% na Bahia enquanto o Acre e Rio de Janeiro registram 2,5% e 7,0% respectivamente. Em 2013 no Acre passou para 33,5% e Paraíba caiu para 28,4%. As maiores representatividade em 2013 são registradas em Amazonas (72%), Bahia (47,3%), Pará (46,4%) e Roraima (44,8%). Já a menor representatividade está no Distrito Federal com 6,2%.

Os dados evidenciam que, embora os setores de serviços e administração pública são os que mais empregam secretários executivos em todo o país (70%), todos os setores estão representados e em todas as UF, no entanto, em determinados estados a representatividade de um setor é maior que em outros, a depender de outras características do estado, especialmente econômicos, industriais, PIB, extensão geográfica, entre outros, por isso, uma análise mais específica por UF poderia trazer indicativos interessantes da prática do secretariado executivo.

A tabela 5 apresenta o comportamento de cada setor por estado da Federação durante o período analisado, ou seja, são dados que possibilitam identificar em quais setores da economia, por estado, a contratação de secretários aumentou ou diminuiu entre 2003-2013. De modo geral, observa-se novamente um comportamento divergente entre os estados, enquanto num estado a contratação de secretários cresceu significativamente no setor, em outro estado ocorreu queda representativa.

No setor extrativista mineral houve oscilação positiva e negativa durante o período. Enquanto no estado do Acre caiu -100%, no estado de Pernambuco cresceu 1.300% a contratação de secretários. A quantidade de secretários no setor indústria de transformação teve crescimento em 24 das unidades federativas, chegando a 637,5% em Roraima. O crescimento negativo ocorreu em Sergipe (-34,7%), Amazonas (-7,7%) e Rio de Janeiro (-0,5%). Na média nacional foi o setor em que houve menor aumento da quantidade de profissionais secretários (27%).

O setor serviços industriais de utilidade pública aumentou a contratação de secretários em 53,1% em média nacional. No Distrito Federal o crescimento chegou a 741,7% e nos estados do Ceará 466,7% e Rondônia 375%. Por outro lado, o crescimento foi negativo nos estados do Espírito Santo, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Tabela 5 – Comportamento dos setores entre 2003 e 2013, por UF

Unidade

Federativa

Extrativa

mineral

Indústria de transformação

Serviços industriais de utilidade pública

Construção

Civil

Comércio

Serviços

Administração Pública

Agropecuária, extração vegetal, caça e pesca

Total

Acre

-100,00%

212,50%

100,00%

250,00%

42,40%

261,20%

5480,00%

11,10%

310,30%

Alagoas

*

36,50%

*

84,60%

42,10%

109,20%

249,30%

-15,00%

101,30%

Amapá

100,00%

150,00%

266,70%

350,00%

68,80%

252,90%

144,00%

*

180,20%

Amazonas

*

-7,70%

114,30%

515,40%

48,70%

77,70%

4262,70%

-100,00%

467,30%

Bahia

30,00%

44,30%

161,90%

142,20%

86,90%

67,20%

82,00%

60,80%

76,20%

Ceará

350,00%

57,50%

466,70%

151,20%

71,70%

80,60%

188,80%

0,00%

104,00%

Distrito Federal

*

104,90%

741,70%

285,60%

49,80%

123,50%

91,20%

733,30%

119,60%

Espírito Santo

-15,00%

56,10%

-47,50%

63,30%

59,30%

70,80%

230,10%

135,70%

90,90%

Goiás

316,70%

68,00%

44,00%

280,00%

94,50%

112,20%

207,20%

183,80%

122,10%

Maranhão

*

89,90%

100,00%

70,70%

137,80%

197,90%

321,20%

293,30%

202,10%

Mato Grosso

20,00%

66,40%

120,00%

123,40%

121,10%

105,90%

116,00%

129,80%

108,20%

Mato Grosso do Sul

300,00%

132,10%

148,00%

278,30%

155,00%

119,00%

43,60%

69,00%

108,80%

Minas Gerais

92,10%

49,30%

84,00%

96,30%

70,30%

107,90%

50,30%

95,40%

88,10%

Pará

400,00%

46,00%

-66,70%

150,00%

128,00%

156,90%

533,10%

258,30%

233,20%

Paraíba

166,70%

60,00%

-64,30%

83,30%

188,60%

83,10%

-44,70%

10,00%

11,00%

Paraná

-14,30%

49,80%

157,10%

185,50%

73,80%

57,90%

216,70%

80,00%

84,30%

Pernambuco

1300,00%

90,60%

-29,10%

66,70%

103,70%

71,90%

75,80%

7,80%

74,50%

Piauí

-50,00%

51,00%

*

191,70%

112,00%

74,70%

95,20%

55,60%

85,60%

Rio de Janeiro

111,60%

-0,50%

-26,40%

14,70%

43,20%

33,50%

78,70%

64,70%

33,90%

Rio Grande do Norte

-70,00%

3,80%

266,70%

41,00%

35,90%

45,50%

15,00%

-71,10%

28,50%

Rio Grande do Sul

91,70%

63,60%

11,10%

102,20%

104,90%

94,20%

29,30%

129,40%

73,30%

Rondônia

600,00%

18,60%

375,00%

115,40%

88,80%

77,80%

78,00%

50,00%

76,70%

Roraima

*

637,50%

*

100,00%

263,60%

346,30%

265,30%

*

312,80%

Santa Catarina

36,40%

44,30%

-11,60%

267,30%

138,00%

88,50%

61,10%

144,00%

86,30%

São Paulo

70,00%

0,20%

85,70%

78,50%

57,70%

46,10%

55,30%

64,50%

41,10%

Sergipe

-33,30%

-34,70%

250,00%

-3,70%

88,50%

31,80%

-43,60%

120,00%

0,70%

Tocantins

300,00%

81,80%

233,30%

200,00%

139,50%

211,70%

344,60%

135,70%

207,30%

Total

92,00%

27,00%

53,10%

108,50%

80,30%

75,10%

105,80%

92,50%

76,40%

*Não é possível avaliar o crescimento porque um dos anos é igual a zero.
Fonte: elaborado pelas autoras com base nos dados do MTE, Rais 2003 e 2013 (RAIS, 2015).

A construção civil foi o setor que registrou maior crescimento nacional (108,5%) no período. Foi negativo apenas no estado de Sergipe (-3,7) e nos estados do Amazonas e Amapá o crescimento alcançou 515,4% e 350,0% respectivamente. No entanto, este setor emprega apenas 2,9%, em média, dos profissionais secretários no Brasil. Nos setores de comércio (80,3%) e serviços (75,1%) o aumento no número de secretários durante o período foi um pouco menor comparando com a construção civil, no entanto, em ambos os setores não foi registrado crescimento negativo. Além disso, o setor de serviços empregou praticamente 50% dos secretários tanto em 2003 quanto em 2013, em todo o país (conforme tabela 4).

O setor administração pública é o segundo que mais emprega (20,5%) e também o segundo que mais cresceu (105,8%) durante o período. O crescimento nos estados do Acre e do Amazonas chegou a 5.480% e 4.262,7%, respectivamente. Em dois estados houve crescimento negativo: Paraíba (44,7%) e Sergipe (43,6%). O setor agropecuária, extração vegetal, caça e pesca, apesar de empregar apenas 1,3% do total de secretários no país, durante 2003 e 2013 cresceu 92,5%, ficando atrás apenas de construção civil e administração pública. Os maiores crescimento ocorreram no Distrito Federal (733,3%) e nos estados do Maranhão (293,3%) e Pará (258,3%). No Rio Grande do Norte, Amazonas e Alagoas o crescimento foi negativo neste setor.

Esses dados confirmam as evidências anteriores de que a prática de secretariado executivo é desenvolvida em todos os setores da economia e encontra-se em ascensão, acompanhando os movimentos do mercado. A evolução é demonstrada pelo crescimento positivo médio ocorrido no período 2003-2013 em todos os setores, ficando em destaque o setor da construção civil e administração pública que apresentaram maior crescimento nacional. Por outro lado, a análise por estado permitiu esclarecer que em algumas regiões um setor é mais representativo em detrimento de outro e, por isso, não é possível generalizar. Há necessidade de atentar para as características específicas de cada estado.

5. Considerações finais

O propósito deste artigo foi trazer algumas evidências que possibilitem caracterizar a prática profissional do secretariado executivo nas organizações como prática social. Para tanto, utilizou-se algumas referências bibliográficas que caracterizaram a história desta prática e também alguns dados concretos, constantes na base oficial de dados da RAIS que descrevem indícios de como esta prática acontece no cenário nacional.

A partir dos dados bibliográficos, história contada e reforçada nas escolas, academia e entre os profissionais de secretariado executivo, observa-se uma prática discursiva que associa atividades de relação entre as pessoas que detinham um conhecimento sobre escrita e guarda de documentos (os escribas: primeiros secretários), com as pessoas que dominavam a elite da história antiga; mostram como as relações com pessoas de comando acompanham esta prática desde o seu início e como são relevantes para sua identidade. Percorrendo as descrições atuais desta prática, observa-se que este traço permanece na identidade dos secretários executivos, caracterizando-o na atual conjuntura social em que se evidencia a hegemonia das organizações.

Junto a esta caracterização estão as atividades e funções descritas pela CBO, que legitimam uma posição de relação com diretorias, presidências, coordenações e outros cargos de gestão nas organizações. Estes aspectos mostram a construção das "comunidades de práticas" em que o secretariado executivo se constituiu (GHERARDI; NICOLINI, 2002; GHERARDI, 2012). Paralelamente a essas comunidades, pode-se dizer que o conhecimento gerado por esta prática, na sua relação com outras práticas e com os atores sociais, permitiu construir práticas discursivas que relacionam o secretariado executivo a outros aspectos que reportam a questões como sigilo profissional, ética, intermediação entre hierarquias, que passaram a compor o código de ética desta profissão, a lei que a regulamenta e ao exposto na CBO. O espaço limitado para este artigo não permitiu trazer mais evidências de tais documentos, entretanto, é possível aprofundar as investigações e, em outras oportunidades, expor mais detalhes sobre elas.

Para este artigo, optamos por trazer outras evidências que constam na base de dados da RAIS, pois o seu acesso é mais limitado aos leitores do que os documentos citados anteriormente. Para citar como evidências de uma prática que se constitui e se legitima no meio social das organizações, apresentou-se a distribuição dos secretários executivos nas UF brasileiras, e ainda a relação deste quantitativo com o gênero dos profissionais atuantes, os salários recebidos e os setores econômicos em que estão trabalhando. Foi possível identificar que o gênero feminino predomina entre os secretários, a remuneração concentra-se na faixa entre 1 e 3 salários mínimos, e o setor de serviços e administração pública são os que mais empregam estes profissionais, com destaque aos setores de construção civil e administração pública que apresentaram maior crescimento no período. Foi possível ainda demonstrar o movimento de todas essas categorias analíticas ao longo dos 11 anos analisados (entre 2003 e 2013).

Além desta descrição de dados, o objetivo foi apontar de forma exploratória, as informações em seus detalhes, que pudessem ser ampliadas em estudos acerca do pressuposto de que o secretário executivo é uma prática social. Aspectos da história da humanidade que retratam as relações e atividades mencionadas ao início, assim como a história situada do cenário nacional brasileiro que traz uma formação da legislação e normatização das profissões, das relações de trabalho e das relações organizacionais podem explicar como estes aspectos históricos e culturais possibilitaram a constituição do secretariado executivo como uma prática. Esta história também permite dizer que foram condições sociais que geraram o quadro que se apresenta nos dados mencionados ao longo deste trabalho, como o movimento de gênero e as questões salariais em torno da profissão, mas o movimento diferente em cada UF e certamente diferente em cada local situado em que se possa pesquisar.

Para além da história, os dados apresentados são a realização concreta da prática profissional de secretariado executivo no contexto das organizações e da sociedade. Portanto, esta pesquisa, além de mostrar um quadro geral sobre onde, dentro do território nacional brasileiro, atuam os secretários executivos, quais seus salários e os setores em que trabalham e o crescimento por setor desta profissão, também indicam um potencial para pesquisas futuras. Pesquisas que possam investigar os motivos desta distribuição, podendo indicar, por exemplo, uma correspondência ao movimento da economia nacional, à distribuição populacional, onde estão instaladas indústrias, empresas de serviços, onde existem maiores possibilidades de mercado de trabalho para os secretários executivos, setores com maiores salários, a relação com os cursos de formação superior, que atribui caráter legal ao exercício da profissão, assim como a relação com as políticas nacionais de formação superior, ou ainda com as entidades representativas como sindicatos, os quais podem estar incentivando, fiscalizando ou discutindo a abrangência da profissão em território nacional e uma série de outras hipóteses a serem desvendadas.

Acredita-se que se cumpriu o objetivo de localizar indícios de que o secretariado executivo é uma prática: que foi constituída na história da sociedade, em relação com outras formas de organização, que construiu conhecimento social e cultural, que permitiram sua criação, legitimação e permanência no meio social, através de práticas discursivas e pelas ações materializadas no cotidiano dos fazeres. Entretanto, cabe mencionar as limitações encontradas, especialmente a amplitude da abordagem de estudos da prática associada à limitação de espaço. Isto impediu ampliar argumentos e referenciar dados tão importantes quanto os que foram mencionados, tais como as questões relacionadas à história social, nacional e regional, relacionando evidências econômicas, políticas e culturais que podem fazer o pesquisador mergulhar em análises mais apropriadas à temática da prática. E ainda, foi necessário omitir dados importantes para os profissionais de secretariado executivo, também consultados na base de dados da RAIS, como os setores que melhor remuneram, a idade dos profissionais atuantes, as razões dos desligamentos destes profissionais, e claro, analisar o discurso oficial registrado neste banco de dados frente às práticas discursivas construídas na realidade situada e contextual que se pretende estudar.

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1. Aluna do Programa de Doutorado da Universidade Positivo. Docente do curso de Secretariado Executivo da UNIOESTE e-mail: fbiscoli@yahoo.com.br
2. Docente do Curso de Secretariado Executivo da Universidade Federal do Ceará e-mail: danielagiareta@gmail.com

3. Professora do Programa de Doutorado da Universidade Positivo e-mail:ybulgacov@gmail.com


 


Vol. 37 (Nº 11) Año 2016

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