Espacios. Vol. 37 (Nº 18) Año 2016. Pág. 7

Competências dos agentes locais de inovação: Análise de conteúdo utilizando Atlas TI

Competences of local innovation agents: Content analysis employing Atlas TI

Gustavo Dambiski Gomes de CARVALHO 1; Dilmeire Sant'Anna Ramos VOSGERAU 2; Hélio Gomes de CARVALHO 3; Roberto CANDIDO 4; Marcia Beatriz CAVALCANTE 5

Recibido: 29/02/16 • Aprobado: 19/03/2016


Conteúdo

1. Introdução

2 Referencial teórico

3 Procedimentos metodológicos

4 Apresentação e discussão dos resultados

5 Considerações finais

Referências


RESUMO:

Os agentes locais de inovação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) buscam desenvolver as competências de inovação das empresas, mas também acabam desenvolvendo as suas próprias competências durante o programa. Este trabalho tem como objetivo identificar as competências pessoais desenvolvidas pelos agentes locais de inovação no ciclo 2012-2014 do Programa ALI no Estado do Paraná, Brasil. Dez artigos produzidos pelos agentes foram utilizados como fonte de dados, os quais relatavam, entre os seus diferentes tópicos, as competências que os agentes desenvolveram. A pesquisa é de abordagem qualitativa e utiliza o software Atlas.ti como ferramenta para organizar os extratos de conteúdo. Entre os principais resultados destacam-se os principais conhecimentos, habilidades e atitudes desenvolvidos. Em relação ao conhecimento, destacou-se o aprendizado por meio da experiência como agente de inovação. Em relação às habilidades, destacaram-se criatividade, abordagem ao cliente, comunicação, entre outras. Em relação à atitude, destacaram-se o orgulho de participar do Programa ALI e o crescimento pessoal, que esteve diretamente relacionado ao crescimento profissional.
Palavras-chave: Competências. Inovação. Radar da Inovação. Dimensões da Inovação. Programa Agentes Locais de Inovação (ALI). Micro e Pequenas Empresas (MPE).

ABSTRACT:

The local innovation agents of the Brazilian Micro and Small Business Support Service (SEBRAE) seek to develop the innovation competences of enterprises, but also end up developing their own competences during the program. This research aims to identify the personal competences developed by the local innovation agents during the 2012-2014 cycle of the LIA program in the state of Parana, Brazil. Ten articles produced by the agents were used as data source, which reported, among its different topics, the competences developed by the agents. The research has a qualitative approach and it employs the Atlas.ti software as a tool to organize the content extracts. Among the most important results, it stands out the main kwnoledges, skills and attitudes. Regarding the knowledge, it is worth mentioning the learning by experience as innovation agent. Regarding the skills, it is worth mentioning creativity, customer approach, communication, among others. Regarding the attitude, it is worth mentioning proud of participating in the LIA program and personal growth, which was directly related to professional growth.
Keywords: Competences. Innovation. Innovation Radar. Innovation Dimensions. Local Innovation Agents Program (LIA). Small and Medium-sized Enterprises (SME).

1. Introdução

No atual contexto competitivo das organizações empresariais, cada vez mais busca-se diferenciais por meio de competências exclusivas que diferenciem e agreguem valor aos produtos e serviços oferecidos. Essa diferenciação pode se dar por meio, principalmente, de capacitação para a inovação. Inovação, neste contexto, considerado como algo novo e que produza resultados para a empresa.

As médias e grandes empresas têm seus orçamentos e estratégias de capacitação para inovação bem estruturados. As micro e pequenas empresas (MPE), por sua vez, têm maior dificuldade de desenvolver suas competências no dia a dia pelas mais diferentes razões: custo, tempo, retorno do investimento, preocupação com a perda do colaborador, entre outras. Para suprir essa limitação na obtenção de competências para inovar na MPE, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) implantou em 2008 uma ação denominada Programa Agentes Locais de Inovação (Programa ALI) que, hoje, atua em todo o Brasil. Esses agentes disseminam a cultura da inovação nas MPE e o Programa já atingiu todos os estados brasileiros. Esse agente, na maioria das vezes um jovem recém formado até três anos, atua como disseminador e também aprende e desenvolve competências que levará para toda a sua vida profissional. Os agentes locais de inovação elaboraram artigos científicos que descrevem os resultados do Programa ALI no estado do Paraná, no ciclo 2012-2014. O objetivo deste trabalho foi identificar as competências pessoais desenvolvidas pelos agentes locais de inovação no ciclo 2012-2014 do Programa ALI no Estado do Paraná por meio da análise dos artigos publicados. A pesquisa é de abordagem qualitativa e utiliza o software Atlas.ti como ferramenta para organizar os extratos de conteúdo.

O programa ALI possui abrangência nacional e foi utilizado como base para diveras pesquisas (CAPELEIRO; ARAÚJO, 2013; CARVALHO et al., 2015a; 2015b; DEZINOT, 2014; OLIVEIRA et al., 2011, 2014; SILVA NÉTO; TEIXEIRA, 2011, 2014). Contudo, a maioria dos estudos envolveu as dimensões do Radar da Inovação desenvolvidas pelas empresas, principalmente sob um prisma quantitativo. Assim, essa pesquisa preenche uma lacuna, pois ainda não há estudos sobre competências no contexto do programa Agentes Locais de Inovação do SEBRAE.

O trabalho encontra-se estruturado em cinco seções além desta introdução. A segunda seção apresenta o referencial teórico, relacionado a competências, inovação e o Programa Agentes Locais de Inovação. A terceira seção descreve os procedimentos metodológicos utilizados. A quarta seção apresenta e discute os resultados encontrados. A quinta seção discorre sobre as considerações finais e sugestões de futuros trabalhos complementares a este realizado.

2. Referencial teórico

2.1. Competência

Pesquisas têm estudado a competência sob diversos âmbitos, desde o individual até o organizacional. Além disso, destacam-se estudos de competências nas organizações de ensino, envolvendo tanto as competências dos discentes quanto dos docentes.

Para Zarifian (1996), competência envolve a metacognição e as atitudes relacionadas ao trabalho, o qual está cada vez mais complexo e dinâmico devido a um contexto de crescente competitividade. Um conceito seminal de competência desenvolvido por Durand (1998) envolve três dimensões interdependentes: conhecimentos, habilidades e atitudes (Figura 1).

Figura 1 - Dimensões da Competência

Adaptado de Duran (1998).

Para Marcarenhas (2008), o conhecimento é o resultado da busca humana pelo aprendizado. A habilidade envolve o saber e fazer e utiliza-se do conhecimento para solver problemas e a atitude envolve conhecimento e habilidade para fazer as coisas acontecerem. Bittencourt (2004) classifica o conhecimento e a habilidade como elementos essenciais das competências, ao passo que a habilidade é classificada como competência individual. Por fim, destaca-se que as competências podem ser adquiridas pelas pessoas por meio do processo de aprendizagem, da experimentação e da prática (KLIEME, HARTIG, RAUCH, 2008; TARDIF, 2002). Assim, a aprendizagem está diretamente relacionada à transformação de conhecimentos, habilidades e atitudes (BRANDÃO, BORGES-ANDRADE, 2007; POZO,2002)

Ruthes e Cunha (2007) frisam que a atitude foi um elemento da competência desconsiderada pelas organizações no passado. Contudo, Jacques (1988) já destacava a importância desse elemento, pois pode contribuir para uma performance superior das pessoas no ambiente de trabalho.

Dutra, Hipólito e Silva (2000) definem competência como a capacidade da pessoa gerar resultados dentro dos objetivos da organização. Nesse contexto, "o resultado alcançado (desempenho) representa, em última instância, a própria competência do indivíduo (BRANDÃO; GUIMARÃES , 2001, p. 13)."

Prahalad e Hamel (1990) destacam a importância da gestão das competências para o desempenho das organizações. Fleury e Fleury (2001) defendem que a competência deve agregar valor econômico às organizações, mas também deve agregar valor social ao indivíduo. Os autores indicam que os indivíduos que desenvolvem competências para a organização também estão desenvolvendo competências para si mesmos.

Entre os estudos no âmbito das organizações de ensino, as competências dos docentes também são geralmente compostas a partir da relação entre conhecimentos, habilidades e atitudes. Os conhecimentos docentes envolvem principalmente o domínio dos conteúdos. As habilidades docentes envolvem planejamento, execução, domínio de ferramentas e clareza nas explicações. As atitudes docentes envolvem principalmente a dedicação e a conduta profissional (ALVAREZ; GARCÍA; FLORES,1999; KUNTER et al, 2013; RAQUEL; PABLO; MARC, 2008; VEIGA et al., 2005; VILLA; VILLA, 2007).

Entre estudos de competências em outros contextos, destaca-se a pesquisa de Cardoso, Mendonça Neto e Oyadomari (2010), que identificou três competências principais do contador gerencial: técnicas, comportamentais e de postura. No contexto de organizações de saúde, Benetti et al. (2007) e Saupe et al. (2005) elaboraram e utilizaram ferramentas de gestão de competências para os profissionais da saúde. Assim, observa-se a importância do tema competência, pois é interdisciplinar e tem aplicação prática em diversos contextos.

2.2. Inovação e o programa agentes locais de inovação

Inovação envolve a transformação de ideias em valor (BAREGHEH; ROWLEY; SAMBROOK, 2009). O Manual de Oslo é uma referência mundial no tema e define inovação como a introdução de produtos (bens ou serviços), processos, práticas de marketing ou organizacionais novos ou significativamente melhorados (OCDE; FINEP, 2005).

A inovação pode contribuir para qualquer estratégia genérica (PORTER, 1998), por exemplo: por meio da criação de novos produtos para a estratégia de diferenciação; por meio da introdução de novos processos ou práticas organizacionais para a estratégia de liderança em custo; por meio da criação de novos serviços, mercados específicos ou modelos de negócios para a estratégia de nicho. Por isso, é por meio da inovação que as empresas têm buscado vantagem competitiva (BURGELMAN; CHRISTENSEN; WHEELWRIGHT, 2012; CARVALHO, REIS; CAVALCANTE, 2011; IRELAND; WEBB, 2007; TIDD, BESSANT; PAVITT, 2008).

Nesse contexto, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) desenvolveu o programa Agentes Locais de Inovação (ALI) com o objetivo de levar a inovação para as micro e pequenas empresas (SEBRAE, 2014). Pesquisas realizadas com base nos dados do Projeto ALI revelam a conjuntura da inovação nas MPEs brasileiras.

Oliveira et al. (2011; 2014) analisaram MPEs do estado de Pernambuco e verificaram que, de forma geral, setores industriais distintos inovam de modo diferente e, por isso, sugerem um método equilibrado para comparar em termos de inovação empresas de setores distintos. Carvalho et al (2015a) analisaram MPEs do estado do Paraná e verificaram que as dimensões da inovação mais desenvolvidas pelas empresas de diferentes setores industrias foram plataforma e marca. Além disso, os autores corroboraram Oliveira et al. (2011; 2014) ao verificar que a intensidade da inovação é significativamente diferente para setores distintos. Carvalho et al. (2015b) verificaram que as empresas entrantes no Programa ALI do estado do Paraná em diferentes períodos possuem perfil semelhante em termos de inovação.

Capeleiro e Araújo (2013) realizaram uma análise qualitativa sobre quatro empresas fabricantes de estruturas pré-moldadas do estado do Rio Grande do Norte e observaram que as MPEs não possuem uma cultura de inovação, mas inovam a partir de necessidades dos clientes. Por outro lado, os autores identificaram que os empresários possuem amplos conceitos de inovação, o que pode incentivar a cultura da inovação. Dezinot (2014) analisou a inovação em empresas de tecnologia da informação (TIC) do estado do Rio de Janeiro e identificou que cerca de metade das MPEs de TIC têm dificuldades nas dimensões presença, ambiência inovadora e organização. Além disso, o autor destacou que muitos empresários não participaram do programa ALI por acreditarem (erroneamente) que o planejamento e implementação de inovações são inacessíveis e de custo elevado. Por sua vez, Campelo Filho (2015) verificou o progresso em termos de inovação nas MPE do estado do Piauí dos setores do comércio, indústria de alimentos, confecção, serviços de estética e hotelaria.

3. Procedimentos metodológicos

Em relação à natureza, esta foi uma pesquisa aplicada. Em relação à forma de abordagem do problema de pesquisa, foi utilizada uma abordagem qualitativa. Em relação aos objetivos da pesquisa, esta foi uma pesquisa descritiva. Já em relação à investigação dos dados, envolveu análise de conteúdo. Em relação ao nível de análise, à unidade de análise e ao corte temporal, o nível de análise foi individual, a unidade de análise foi o agente local de inovação e o corte temporal foi do tipo transversal, pois abrangeu artigos produzidos pelos ALI em um mesmo período.

Esta pesquisa utilizou documentos como fonte de dados. Assim, esta pesquisa utilizou dados secundários para análise. Os documentos foram os artigos produzidos pelos agentes locais de inovação durante o seu período de atuação. Os artigos foram disponibilizados aos pesquisadores por meio de um professor que atuou como orientador dos ALI. No total, foram identificados em torno de 30 artigos que continham uma seção específica sobre a aprendizagem do ALI. Desses, foi selecionada uma amostra de 10 artigos para análise, devido a limitações de recurso e tempo. Contudo, acredita-se que a amostra seja representativa da população do estudo, conforme sugere Bardin (1994, p. 97).

Apesar de partir dos artigos escritos pelos ALI, ou seja, documentos, a pesquisa não envolve uma análise documental, mas de conteúdo, pois, conforme Bardin (1994): "o objetivo da análise documental é a representação condensada da informação para consulta e armazenagem; o da análise de conteúdo, é a manipulação de mensagens [...] para evidenciar os indicadores que permitam inferir sobre uma outra realidade que não a da mensagem."

A análise de conteúdo seguiu, de modo geral, as três fases sugeridos por Bardin (1994): (1) pré-análise; (2) exploração do material; e (3) tratamento, inferência e interpretação. A Figura 2 apresenta o roteiro de análise utilizado e os procedimentos empregados no Atlas.ti. Em relação à operacionalização da análise no Atlas.ti, destaca-se o trabalho de Walter e Bach (2015), que demonstra a utilização de algumas funcionalidades do software em um estudo de estratégia.

Na pré-análise, foram realizados três passos: (1) seleção e leitura superficial dos textos; (2) definição das unidades de registro; e (3) listagem de categorias iniciais. No primeiro passo, seleção e leitura inicial dos textos, foi criada a unidade hermenêutica no atlas.ti, isto é, o arquivo de projeto. Em seguida, os textos selecionados foram inseridos no projeto.

Figura 2 - Roteiro de análise de conteúdo utilizado

Autoria própria com base em Bardin (1994).

O segundo passo envolveu a definição das unidades de registro. Nesta pesquisa, optou-se por utilizar o tema como unidade de registro, o qual não possui tamanho pré-definido, ou seja, não se limita a uma frase, linha ou parágrafo, mas ao conteúdo da mensagem.

O terceiro passo envolveu a listagem de categorias iniciais com base nos temas do referencial teórico e também com base em temas que emergiram da leitura inicial dos textos. A Figura 3 apresenta o gerenciador de códigos (code manager) e também apresenta por meio de setas um modo de acessá-lo no software Atlas.ti. Nessa listagem inicial, foram inseridos códigos com base no referencial teórico como conhecimento, habilidade e atitude, e códigos que emergiram a partir da leitura inicial como dificuldade para inovar e ideias aplicadas promoveram ganhos.

Figura 3 - Listagem de códigos iniciais

Autoria própria (2015).

A segunda fase da análise de conteúdo sugerida por Bardin (1994), exploração do material, também envolveu três passos: (4) citação de trechos relevantes e atribuição de códigos; (5) reagrupamento e estabelecimento de relações entre códigos; e (6) categorização. A Figura 4 apresenta como realizar o passo 4 no Atlas.ti, isto é, criar uma citação (quotation) de um trecho relevante e atribuir código (code) a essa citação. Na Figura 4, o código foi atribuído da seleção na lista de códigos existentes (select code from list). Também é possível criar um código novo (enter code name(s)), ou ainda, requisitar que o Atlas.ti crie um código nomeado automaticamente com o início do trecho selecionado (code in Vivo).

Figura 4 - Atribuição de códigos

Autoria própria (2015).

Na codificação, também foram inseridos comentários nos códigos atribuídos. A Figura 5 apresenta como realizar a inserção de comentários nos códigos. De modo geral, os comentários contiveram resumos dos trechos selecionados e foram separados por agente local de inovação. Por exemplo, na Figura 5, P3 representa o artigo da pessoa número três, isto é, o terceiro artigo do grupo de 10 artigos produzidos pelos agentes locais de inovação.

Figura 5 - Inserção de comentário em códigos

Autoria própria (2015).

A inserção de comentários contribui para o passo 5, reorganização e estabelecimento de relações entre códigos. Nesse passo, o visualizador de rede foi criado e os códigos foram importados, conforme apresentado na Figura 6. Após a importação, os códigos foram organizados de acordo com a semelhança dos temas.

Figura 6 - Visualizador de rede

Autoria própria (2015).

A Figura 7 apresenta um conjunto de códigos que foram organizados próximos uns aos outros por estarem relacionados às habilidades dos ALI. Percebeu-se pelo visualizador de rede que o código habilidade poderia ser subdividido em outros códigos. Desse modo, percebeu-se que a habilidade se transformaria de código em uma categoria, pois apresentou ser mais ampla do que o previsto inicialmente. Os novos códigos criados a partir dessa subdivisão compuseram a categoria habilidade.

Os novos códigos foram criados principalmente a partir de habilidades específicas descritas pelos ALI. Em seguida, retornou-se aos trechos em que o código habilidade havia sido atribuído inicialmente para atribuição desses novos códigos. Esse procedimento foi uma das principais atividades do passo 5, que envolve a reorganização dos códigos por meio de divisão, agrupamento e estabelecimento de relações. Destaca-se que o mesmo processo de reorganização ocorreu para os conhecimentos e para as atitudes, que também passaram de códigos para categorias.

Figura 7 - Organização dos códigos no visualizador de rede

Autoria própria (2015).

Por fim, todo o conjunto de códigos foi classificado nas três categorias principais relacionadas à competência: conhecimentos, habilidades e atitudes. A categorização dos códigos (criação de famílias no Atlas.ti) constituiu o passo 6. A Figura 8 apresenta como realizar esse passo no Atlas.ti.

Figura 8 - Categorização (criação de famílias)

Autoria própria (2015).

Por fim, a última fase da análise de conteúdo sugerida por Bardin (1994) envolve o tratamento, inferência e interpretação dos resultados. Para isso, foi utilizado principalmente o visualizador de rede do Atlas.ti, que permite uma visualização geral dos códigos, famílias e suas relações. Os resultados e a rede formada são apresentados na próxima seção.

4. Apresentação e discussão dos resultados

O objetivo do trabalho foi identificar as competências dos agentes locais de inovação. Na análise de conteúdo, foram identificadas três categorias principais relacionadas à competência: conhecimentos, habilidades e atitudes. Desse modo, os resultados foram organizados do seguinte modo: primeiramente, foram destacadas as redes de cada categoria detalhadamente e, ao final, foi destacada a rede de competências como um todo.

Em relação à categoria conhecimento, em especial a aquisição de conhecimentos, os ALI destacaram: o aprendizado pela experiência como ALI; a obtenção de conhecimentos por meio de relacionamentos, principalmente com empresários; e o aprendizado por meio da capacitação oferecida pelo próprio SEBRAE. A seguir, foi destacado um trecho de um artigo relacionado ao aprendizado obtido pela experiência como ALI:

Em aproximadamente  dois anos como Agente Local de inovação, todo processo experienciado desde o momento do processo seletivo até a finalização das empresas no Programa ALI, possibilitou inúmeras oportunidades de conhecimento, aprendizado e  networking (rede de contatos).

Os ALI também destacaram que aprenderam sobre diferentes perspectivas dos empresários, das dificuldades que as MPE têm para inovar, das possibilidades de inovação e também sobre os segmentos industriais em que atuaram. A Figura 9 apresenta os códigos associados à categoria conhecimento e seus comentários.

Figura 9 - Análise da categoria conhecimentos

Autoria própria (2015).

Em relação à categoria habilidade, os ALI destacaram a importância da capacitação oferecida pelo SEBRAE, o crescimento profissional e habilidades específicas adquiridas como criatividade, abordagem ao cliente, negociação, relacionamento, comunicação, entre outras. A Figura 10 apresenta a análise da categoria habilidades por meio do visualizador de rede, que contém os códigos relacionados e seus respectivos comentários.

Figura 10 - Análise da categoria habilidades

Autoria própria (2015).

A seguir, foram destacados dois trechos de artigos relacionados à categoria habilidades. O primeiro destaca a importância do Programa para o desenvolvimento de habilidades. A segunda destaca algumas habilidades desenvolvidas pelos ALI.

A sistemática do Programa ALI - Agente Local de Inovação possibilitou, por meio de suas dinâmicas, desenvolver  uma sistemática que, sendo adotada por cada agente, neste caso, o autor deste trabalho, contribuiu imensamente para o desenvolvimento da criatividade de cada um.

Foram desenvolvidas habilidades de negociação e comunicação.

Em relação à categoria atitudes, os ALI destacaram a o crescimento pessoal e também o orgulho em participar do Programa ALI. Identificou-se que o crescimento pessoal esteve diretamente relacionado com o crescimento profissional, o qual foi um código pertencente à categoria habilidades. Assim, a análise sugere que a atitude (em especial, o crescimento pessoal) se desenvolve à medida que a habilidade também se desenvolve (em especial, o crescimento profissional). A análise da categoria atitudes é apresentada na Figura 11.

Figura 11 - Análise da categoria atitudes

Autoria própria (2015).

A análise da competência de forma resumida está apresentada na Figura 12, que contém as categorias conhecimentos, habilidades e atitudes e os códigos relacionados a elas. O resultado da análise completa, que inclui os comentários, está apresentado no Anexo A. Por meio dessa análise, foi possível observar que os conhecimentos, habilidades e atitudes estão relacionados, conforme indicado pela literatura. Em especial, conhecimentos propiciaram o desenvolvimento de habilidades, as quais, por sua vez, contribuíram para aumentar a satisfação pessoal e, consequentemente, a atitude.

Figura 12 - Análise da competência

Autoria própria (2015).

5. Considerações finais

O objetivo geral da pesquisa, identificar as competências desenvolvidas pelos ALI, foi atingido por meio da identificação dos principais conhecimentos, habilidades e atitudes desenvolvidos. Em relação ao conhecimento, destacou-se o aprendizado pela experiência como ALI. Em relação às habilidades, destacaram-se criatividade, abordagem ao cliente, comunicação, entre outras. Em relação à atitude, destacaram-se o orgulho de participar do Programa ALI e o crescimento pessoal, que esteve diretamente relacionado com o crescimento profissional.

Entre as limitações metodológicas da pesquisa, destaca-se principalmente a amostragem realizada. Contudo, acredita-se que esta foi adequada, pois contemplou diferentes perfis de agentes locais e, portanto, acredita-se que foi representativa da população. Destaca-se também que a metodologia da pesquisa foi bem detalhada, o que pode contribuir para um aumento da utilização da análise de conteúdo e do Atlas.ti na área de Administração.

Pesquisas futuras poderiam ampliar a análise de conteúdo realizada por meio de entrevistas com os agentes locais de inovação e também com gestores envolvidos no Programa ALI. Outras pesquisas também poderiam abranger outros tópicos na área de Administração utilizando a análise de conteúdo com o Atlas.ti.

Com este trabalho, pretende-se contribuir para um maior entendimento das contribuições do Programa ALI do SEBRAE para a formação prática de profissionais comprometidos com a inovação na micro e pequena empresa.

Referências

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VEIGA, L.; LEITE, M. R. S. D. T.; DUARTE, V. C. Qualificação, competência técnica e inovação no ofício docente para a melhoria da qualidade do ensino fundamental. Rev. adm. contemp., Curitiba , v. 9, n. 3, p. 143-167, Set. 2005.

VILLA, A.; VILLA, O. El aprendizaje basado en competencias y el desarrollo de La dimensión social en las universidades, Educar, v. 40, p. 15-48, 2007.

WALTER, S. A.; BACH, T. M. Adeus papel, marca-textos, tesoura e cola: inovando o processo de análise de conteúdo por meio do atlas. ti. Administração: Ensino e Pesquisa, v. 16, n. 2, p. 275-308, 2015.

Zarifian, P. A gestão da e pela competência. In: Seminário Educação Profissional, Trabalho e Competências. Rio de Janeiro: Centro Internacional para a Educação, Trabalho e Transferência de Tecnologia, 1996, Mimeo.

ANEXO A – RESULTADO ANÁLISE DE CONTEÚDO – VISUALIZADOR DE REDE


1. Mestre em Administração pela PUCPR
2. Dr. em Ciências da Educação pela Université de Montréal, Professora da PUCPR.
3. Dr. em Engenharia de Produção pela UFSC, Professor da UTFPR.

4. Dr. em Engenharia pela USP, Professor da UTFPR

5. Dr. em Tecnologia pela UTFPR


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 18) Año 2016

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