Espacios. Vol. 37 (Nº 22) Año 2016. Pág. E-1

Contribuições da educação profissional na modalidade a distância para a gestão e valorização da diversidade

Contributions of professional education in distance learning for managing and valuing diversity

Elaine ARANTES 1; Adriano STADLER 2; Jansen Maia DEL CORSO 3; Anderson CATAPAN 4

Recibido: 01/04/16 • Aprobado: 15/04/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Revisão bibliográfica

3. Aspectos metodológicos

4. Apresentação, análise e discussão dos resultados

5. Considerações finais

Referências


RESUMO:

RESUMO Este artigo examina as contribuições da educação profissional na modalidade a distância (EAD) para a reflexão e ação para a valorização da diversidade (relações étnico-raciais). Foi realizadauma pesquisa descritiva com análise documental de dados secundários provenientes de relatórios de seminários sobre afrodescendência e cultura indígena realizadosentre 30/07/2013 e 30/01/2014por 450 estudantes de curso profissionalizante em sete Estados nas cinco regiões do Brasil. Participaram: 1520 moradores, 26 tutores presenciais e autoridades públicas. Ao todo, 2070 pessoas foram envolvidas.São apresentadas ao longo do artigo as reflexões sobre as temáticas e as propostas dos estudantes para a gestão pública.
Palavras chave: Diversidade; Afrodescendência; Cultura indígena;Ensino a Distância; Ações afirmativas.

ABSTRACT:

This article examines the contributions of education in distance learning for reflection and action to valuing diversity (ethnic-racial relations). It was held a descriptive document analysis of secondary data from seminars reports on afroamericanand indigenous culture made between July, 30/2013 and January, 30/2014 by 450 students from vocational course in seven states in five Brazilian regions. Participants: 1,520 inhabitants, 26 present tutors and public authorities. In all, 2070 people were involved. Throughout the article perceptions are also presentedabout both subjects as well as proposals from the students for public management.
Key words: Diversity; Afroamericanculture; Indigenous culture; Distance learning; Governmental affirmative actions

1. Introdução

O contexto social homogeneizante, a padronizaçãoe a cultura organizacional uniforme deixaram de serem paradigmas no contexto empresarial brasileiro, seja ele público ou privado.  Conceitos de heterogeneidade, pluralidade e variedade têm sido cada vez mais inseridos na gestão das organizações já que as atividades profissionais têm sido desenvolvidas em um ambiente cada vez mais diverso desafiando conceitos e regras consagrados pela Administração. As diferenças entre os indivíduos podem trazer tanto dificuldades como benefícios para uma organização, daí a importância de se discutir a gestão da diversidade no contexto empresarial.Esta discussão passa pela formação de indivíduos e profissionais capazes de refletir e promover mudanças no ambiente em que vivem (Schmidt, 2007; Pereira, 2008; Freitas e Dantas, 2012). Na base da conscientização para mudanças está a reflexão, conforme sinalizam Montagneret al (2010, p. 15): "educar para diversidade não significa apenas reconhecer as diferenças, mas refletir sobre as relações e os direitos de todas (os)".

A formação de indivíduos e profissionais por meio da modalidade a distância de ensino tem sido uma prática cujas características permitem atingir um grande número de indivíduos nas mais diferentes e distantes localidades do Brasil. Segundo o Ministério da Educação (MEC) (2016), o número de matrículas em cursos na modalidade EAD tem crescido 18% ao ano e, em 2014, 190 mil estudantes foram formados.Atividades desenvolvidas no âmbito da modalidade a distância de ensino contribuem para o desenvolvimento da consciência individual e coletiva, seguindo uma metodologia que atenda às expectativas educacionais e contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa.

A afrodescendência está presente na formação do povo brasileiro de maneira tão intensa que ensejou a formação de políticas públicas educacionais voltadas para o estudo da história do continente africano. Por sua história desde a ocupação de terras brasileiras, os povos indígenas integram o contexto brasileiro e nele permanecem se relacionando com povos não indígenas nas mais diversas condições. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Brasil apresenta uma diversidade criativa fundada especialmente nos povos indígenas e na afrodescendência que pode contribuir para promover as manufaturas e com isso melhorar as condições de vida em localidades mais pobres.

As políticas públicas, o diálogo na sociedade e a conscientização social são passos importantes para a diminuição das desigualdades e a melhoria da qualidade de vida no Brasil. Nas últimas décadas, especialmente desde 1998 quando o Instituto Ethos de Responsabilidade Social iniciou movimentos junto a empresários e políticos brasileiros na direção da gestão socialmente responsável, o país tem mudado sua postura com relação ao tratamento das desigualdades.O presente artigo desloca a discussão sobre a diversidade do âmbito político e empresarial para colocar foco no ensino e na promoção da reflexão dos estudantes utilizando os meios proporcionados pela modalidade a distância de ensino, os quais contam na Resolução nº1 de 30/05/2012 do Conselho Nacional de Educação, que estabelece a inclusão da educação em direitos humanos pelos sistemas de ensino. O presente trabalho busca responder a questão norteadora: como a modalidade de ensino a distância pode contribuir para a gestão e valorização da diversidadeformando indivíduos e profissionais conscientes sobre este tema no Brasil?

Para obter tais respostas, objetiva-se, neste artigo examinar as contribuições da educação profissional na modalidade educação a distância (EAD) para a reflexão sobre a diversidade com foco nas relações étnico-raciais e suas contribuições para a diminuição da desigualdade social. Como objetivos específicos, o artigo pretende: 1. Detalhar a metodologia adotada na modalidade EAD para promover a discussão entre estudantes, comunidade e autoridades públicas sobre a diversidade nas cinco regiões brasileiras; 2. Apresentar os resultados quantitativos e qualitativos dos das discussões por meio de seminários realizados pelos estudantes em suas comunidades; 3. Discutir os impactos da realização destes seminários; 4. Oportunizar subsídios para a continuidade de ações desta natureza por outros pesquisadores e docentes, utilizando a modalidade de ensino a distância.

O desenvolvimento destes temas transversais apresenta a relação entre as teorias e pressupostos filosóficos e a realidade que nos cerca, propondo reflexões sobre questões voltadas para o reconhecimento e a valorização da diversidade em nosso país formado por culturas tão diferentes e para a preservação do meio ambiente.

A gestão e valorização da diversidade nas organizações, o ensino profissional e a modalidade a distância de ensino são temas apresentados e discutidos na revisão bibliográfica. Na sequência, apresentam-se os aspectos metodológicos adotados para o desenvolvimento da pesquisa realizada. Os dados são apresentados e discutidos à luz da teoria sobre a gestão da diversidade e seu ensino e discussão no contexto educacional brasileiro. Por fim, são apresentadas considerações sobre o tema e os achados que a pesquisa proporcionou bem como são apresentadas recomendações dos autores para futuros trabalhos nesta área.

2. Revisão bibliográfica

2.1 Gestão da diversidade e ações afirmativas

Diversidade é um conceito cuja abrangência e contextualização precisam ser compreendidas. Montagneret al (2010, p. 17) propõem uma reflexão inicial sobre a relação entre diversidade, equidade e igualdade como princípio ético e equidade no tratamento das diferenças entre os indivíduos: "equidade (...) revela que as diferenças entre os grupos não deveriam comprometer a igualdade de direitos. Afinal, as diferenças não podem, em uma democracia, converter-se em desigualdades". A equidade, para Sposati (2002), possibilita que não haja discriminação na manifestação e no respeito às diferenças. No Brasil, a diversidade tem merecido atenção na formação de políticas públicas no tratamento das desigualdades para a promoção da justiça social. Ao se falar em igualdade de direitos, desigualdades percebidas em relação a alguns grupos e equidade no tratamento, pode-se definir diversidade como sendo:

a representação, em um sistema social, de pessoas com afiliações a grupos claramente diferentes e termos de significado cultural. A questão da diversidade em um contexto de sistema social é caracterizada por um grupo majoritário e por grupos minoritários, isto é, aqueles grupos com menor quantidade de membros representados no sistema social (Cox J., 1993, p. 5-6)

Da mesma forma, no ambiente organizacional a diversidade possui um significado sui generis:

A diversidade inclui todos, não é algo que seja definido por raça ou gênero. Estende-se à idade, história pessoal e corporativa, formação educacional, função e personalidade. Inclui estilo de vida, preferência sexual, origem geográfica, tempo de serviço na organização, status de privilégio ou não privilégio e de administração ou não administração. (Nkomo e Cox Jr., 1999. P.334-335).

Seja no ambiente social ou empresarial, a cultura brasileira, conforme aponta Freitas (2009, p. 41) foi formada pelo que o autor chama de "triângulo racial" formado pela miscigenação entre o povo português que colonizou o Brasil, os indígenas que aqui estavam antes da ocupação portuguesa e os africanos trazidos como força de trabalho que, na visão de Ribeiro (2006), predominou até o fim do período colonial.  O Brasil é um país que apresenta uma grande contradição quando se trata de tratar a questão da diversidade. Por um lado

os brasileiros valorizam sua origem diversificada, incluindo as raízes africanas, presentes na música, na alimentação, no sincretismo religioso; gostam de se imaginar como uma sociedade sem preconceitos de raça ou cor. Mas, por outro lado, é uma sociedade estratificada em que o acesso às oportunidades educacionais e às posições de prestígio no mercado de trabalho é definido pelas origens econômica e racial (Fleury, 2000, p. 19).

O levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostra ainda que a composição de renda e escolaridade da população brasileira distribuída por suas diversas etnias aponta que há ainda um longo caminho a percorrer. O levantamento indica que 47,7% da população brasileira, composta naquele ano por cerca de 191 milhões de pessoas, se declaram brancas; 43,1% se declaram pardos; 7,6% se declaram pretos; 1,1% como amarelos e 0,4%, indígenas. Embora a soma daqueles que se declararam negros, ou seja, pretos ou pardos, sejamsuperiores ao percentual daqueles respondentes que se declararam brancos, seu nível de escolaridade é menor assim como são menores os salários que recebem (IBGE, 2010).

O reconhecimento da diversidade é o primeiro passo para atuar na incorporação dos sujeitos sociais às sociedades democráticas. Esta incorporação passa pelo direito à ação e à opinião cuja privação, para Arendt (1989), é o reflexo da negação dos direitos humanos fundamentais. Dois caminhos são conhecidos para tratar a questão das desigualdades: 1) a intervenção da gestão pública por meio de ações afirmativas já que se trata da interação entre os indivíduos na sociedade e; 2) a intervenção da iniciativa privada por meio da gestão da diversidade oferecendo as mesmas condições de trabalho para as pessoas nas organizações (Alves e Galeão-Silva, 2004).

Se por um lado ambos os caminhos têm como objetivo a inserção das minorias na sociedade e no mercado de trabalho, por outro lado há autores que discutem a eficácia tanto das ações afirmativas como da gestão da diversidade. Thomas Junior (1990) vê com restrições as ações afirmativas sustentadas pela legislação imposta pela gestão pública. Na sua percepção, estas ações contribuem para a entrada das minorias nas organizações exclusivamente por serem minorias e não pelo critério da meritocracia. A crítica de Thomas Junior (1990) em relação a estas medidas é que, se por um lado estas medidas obrigam as empresas a contratarem, por outro lado, muito pouco ou nada contribuem com a ascensão destes indivíduos a cargos mais elevados nas organizações.  A gestão da diversidade é também criticada por Alves e Galeão-Silva (2004) que afirmam que custa mais para as organizações contratar funcionários provenientes das minorias, pois se trata de indivíduos despreparados que necessitam de mais investimento em capacitação e que oferecem em troca menos resultados do que se poderia esperar.      Existe então uma lacuna que se forma tendo de um lado a ação afirmativa e sua consequente inserção no mercado e de outro lado o reconhecimento e a real valorização das minorias nas organizações. Para diminuir esta lacuna Moreira et al (2011), ao abordarem as pessoas com deficiência inseridas no contexto das minorias, colocam foco na importância da qualificação e preparação para o mercado de trabalho.

As ações afirmativas do governo brasileiro têm sido implementadas no sentido de contribuir com a inserção de minorias no ensino e no mundo de trabalho. A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação sistematizou as orientações para a inclusão da discussão de temas transversais no currículo escolar brasileiro. Foram então detalhadas as abordagens dos temas na educação para os níveis infantil, fundamental, médio, para jovens e adultos e nas licenciaturas. Este movimento foi feito em continuidade ao que preconiza a Lei 10.639/2003 que instituiu a obrigatoriedade do ensino de História da África e da Cultura Afro-brasileira nas escolas brasileiras. (SECAD/MEC, 2006). A Lei 11.645/08 inclui o ensino sobre a cultura indígena como obrigatório além da abordagem da História e Cultura Afro-Brasileira nas instituições de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana do MEC seguem também este princípio. A Resolução nº 1 de30/05/2012 do Conselho Nacional de Educação estabelece a inclusão da Educação em Direitos Humanos bem como a discussão sobre promoção da sustentabilidade sócio ambiental pelos sistemas de ensino, conforme consta nos artigos 1 e 2:

Art. 1º A presente Resolução estabelece as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (EDH) a serem observadas pelos sistemas de ensino e suas instituições. Art. 2º A Educação em Direitos Humanos, um dos eixos fundamentais do direito à educação, refere-se ao uso de concepções e práticas educativas fundadas nos Direitos Humanos e em seus processos de promoção, proteção, defesa e aplicação na vida cotidiana e cidadã de sujeitos de direitos e de responsabilidades individuais e coletivas (Resolução 1 de 30/05/2012 do Conselho Nacional Brasileiro de Educação)

A proposta de abordagem e reflexão aplicadas aos estudantes sobre temas transversais pelas instituições brasileiras de ensino oferece suporte para sua formação como indivíduos e como profissionais. Indivíduos conscientes de sua importância para a formação de uma sociedade justa que preserva o meio ambiente. Profissionais éticos:

em cujo julgamento, iniciativa e habilidade administrativa nós confiamos para decidir quais produtos e serviços devem ser produzidos, para orientar sua produção, para dirigir o desenvolvimento econômico do país, para distribuir a renda entre trabalhadores e proprietários e para prover as bases econômicas para a defesa nacional (Bowen, 1953 p. 3).

A agenda que aguarda os profissionais formados pelos cursos profissionalizantes não se compõe apenas técnicas voltadas para a atividade produtiva. Além da técnica necessária para o exercício da função, a agenda organizacional integra elementos sociais, ambientais e econômicos na busca pelo bem estar no planeta não somente no presente, mas também para as gerações futuras. Estas reflexões levaram Elkington (2012, p. 25) a apontar a sustentabilidade como o resultado do equilíbrio entre "prosperidade econômica, qualidade ambiental e justiça social". Entre as questões envolvidas nestes três pilares, Elkington (2012) aponta a agenda ambiental como sendo mais desafiadora para os executivos do que as questões sociais. A sustentabilidade das organizações, dos profissionais e dos indivíduos passa pelo desenvolvimento da consciência individual e coletiva que conduz a ações positivas e que começa em cada pequena comunidade fazendo com que um grande país seja também uma grande Nação.

3. Aspectos metodológicos

O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva realizada no contexto brasileiro. Diversas outras pesquisas contemporâneas vêm sendo realizadas no contexto brasileiro (Oliveira, Catapan& Vicentin, 2015; Abibet al., 2015; Paula et al., 2015; Castro et al., 2015; Stolf et al., 2015), o que justifica a seleção deste país. A pesquisa teve como base o levantamento das ações realizadas por estudantes de um curso de educação profissional a distância, ofertado em 5 regiões brasileiras em 7 diferentes estados, a 24 turmas, dispostas nestes polos de apoio presencial. Assim, a pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os seminários estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados. Parte de questões ou focos de interesses amplos, que vão se definindo à medida em que o estudo se desenvolve Envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo. (Godoy, 1995 p. 58)

As pesquisas qualitativas são "de cunho subjetivista, e contemplam a visão de mundo dos sujeitos, definem amostras intencionais, selecionadas por tipicidade ou por acessibilidade, obtém os dados por meio de técnicas pouco estruturadas e os tratam por meio de análise de cunho interpretativo. Os resultados não são generalizáveis" (Vergara e Caldas, 2007 p. 226).

Primeiramente foi utilizada a técnica da análise documental para averiguar as leis, planos nacionais de educação, programas de educação profissional, especialmente aqueles que constituíram a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica. Um modelo de análise documental é proposto por Cellard (2008) ao afirmar que o processo se inicia por meio de uma análise preliminar do documento. Para o autor, deve-se fazer um exame crítico do documento compreendendo: o contexto histórico e social em que está inserido; a credibilidade dos autores; a autenticidade e confiabilidade do texto; a natureza do texto; os conceitos-chave e a lógica interna do texto. Depois disso, realiza-se a análise do documento propriamente dito. As análises dos documentos foram realizadas por meio da análise de conteúdo que, conforme Bardin (2011),segue uma lógica a partir de grades abertas, fechadas e mistas. Neste estudo utilizou-se a grade fechada, haja vista que as categorias de análise são acerca da diversidade com foco nas questõesde ensino de diretos humanos - afrodescendentes e cultura indígena - conforme indicado na Resolução 1 do Conselho Nacional Brasileiro de Educação.

3.1. Caracterização do objeto de estudo

Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia têm como especialidade a oferta de educação profissionalizante e tecnológica nas modalidades presencial e a distância aliando práticas pedagógicas a conhecimentos técnicos e tecnológicos. A pesquisa e a extensão devem compõem as atividades desenvolvidas nestas instituições e seus docentes são orientados para, através de projetos, envolverem não somente os discentes, mas também a comunidade onde estão inseridos. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná foi criado com a Lei 11.982 de 29/12/2008 e possui atualmente 21 campi em todo o estado.

Nesta instituição, inicia-se a trajetória do Curso Técnico em Serviços Públicos EAD, o qual é objeto de pesquisa deste trabalho. A turma iniciou em 2012 com 5.000 estudantes e foi oferecido pelo IFPR em parceria com os Institutos Federais de Rondônia (IFRO), Acre (IFAC), Bahia (IFBAIANO), Mato Grosso do Sul (IFMS), Norte de Minas Gerais (IFNMG); Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS) e Triângulo Mineiro (IFTM) assim como com as Secretarias de Educação do Piauí (SEDUC) e do Paraná (SEED). Foram formados 108 polos de apoio presencial, cada um com um tutor presencial selecionado pela instituição parceira. O suporte para o conteúdo das aulas era oferecido por uma equipe de tutores a distância com formação na área das disciplinas. Consideram-se neste artigo dados secundários provenientes de relatórios sobre a realização de seminários temáticos com o tema "Valorização da Diversidade"realizadosentre 30/07 e 30/01/2014 pelos estudantes de 26 polos do Curso Técnico em Serviços Públicos na modalidade EAD.

A partir dos relatórios postados pelos estudantes no AVA, foi possível: conhecer o alcance que tiveram os seminários junto à comunidade do município; examinar a abordagem dada para o tema que os estudantes escolheram; analisar as reflexões dos estudantes sobre o tema escolhido; examinar suas propostas para a comunidade e para a gestão pública e, por fim, analisar as mudanças ocorridas na comunidade, após a realização do seminário. Estas constatações são apresentadas e discutidas neste trabalho para subsidiar as considerações e recomendações que serão feitas adiante. A figura 1 apresenta o cronograma de trabalho para o desenvolvimento do projeto de Valorização da Diversidade.

Figura 1 – Cronograma de Desenvolvimento dos Seminários Temáticos 


Fonte: Elaborado pelos autores

Os trabalhados se iniciaram em março de 2013 com a discussão entre a direção de ensino e a coordenação do curso sobre o atendimento à normativa prevista na Resolução 1 do CNE. Posteriormente foi elaborado e disponibilizado aos estudantes o material de orientação para a elaboração dos seminários temáticos nos polos. O evento deveria envolver todos os estudantes com os objetivos de abordar, discutir, refletir e propor ações municipais considerando pelo menos um de temas transversais. Os temas foram: Relações Étnico-Raciais com foco na Afrodescendência e Cultura indígena. Esta atividade foi oportunizada como uma forma de interdisciplinaridade entre as disciplinas de Cerimonial, Protocolo e Eventos, Ética e Licitações todas compunham a grade curricular do Curso Técnico em Serviços Públicos.

A figura 2 apresenta a hierarquização da presente ação, pois o governo por meio da resolução do CNE propõe a ação afirmativa do ensino de Direitos Humanos nos diversos níveis de ensino. A partir de então, o IFPR/EAD propõe aos polos a organização dos seminários temáticos nos 24 polos de educação em 5 diferentes regiões brasileiras e assim a ação é realizada. Tal evento proporciona a discussão e reflexão entre os alunos e a comunidade envolvida nos eventos, e a partir de então, buscou-se levantar as propostas fomentadas a partir do seminário temático. Tais propostas deveriam ser direcionadas às entidades locais, visando promover a diversidade e promover mudança social.

Figura 2 – Hierarquização das ações afirmativas envolvidas nos seminários temáticos

Fonte: Elaborado pelos autores

4. Apresentação, análise e discussão dos resultados

4.1 Descrição geral do projeto

Considerando que os objetivos do projeto se estendiam para além da discussão dos temas, mas deveria ser um meio para a reflexão, ação e mudança social, adotou-se o formato de seminário temático. Esta é uma técnica de aprendizagem que inclui a pesquisa, a discussão e o debate. Estas são atividades que convergem plenamente com os objetivos do projeto. Os seminários promovem a reflexão dos alunos e a troca de ideias no sentido da conscientização para a importância dos temas propostos. As reflexões feitas em conjunto proporcionam encaminhamentos para a mudança social em uma práxis pedagógica interdisciplinar e fundamentada.

Quadro 1 – Abrangênciada realização dos seminários temáticos no Brasil

Estado

Polos

Alunos

Público

Palestrantes e participantes de mesas redondas

Total por estado

Acre

2

14

66

7

87

Bahia

11

214

762

31

1.007

Mato Grosso do Sul

6

81

260

15

356

Minas Gerais

3

64

221

7

292

Paraná

1

12

43

1

56

Piauí

1

35

15

5

55

Rondônia

2

30

153

8

191

Total por categoria

 

450

1.520

74

2.044

Total de polos/tutores presenciais

26

 

 

Total pessoas envolvidas

2.070

Fonte: Pesquisa de campo.

O quadro 1 apresenta abrangência do projeto, o qual envolveu 7 estados de 5 diferentes regiões do Brasil, totalizando 26 polos de apoio presencial da EAD, envolveu ao todo 450 alunos, contando com a participação de um público externo de 1520 membros das comunidades locais, totalizando 2070 pessoas envolvidas. Destacam-se os 11 polos da Bahia, que tiveram um número bastante expressivo de participantes 1007 pessoas envolvidas.     

Onúmero expressivo de alunos participantes é proporcional aos números da EAD no Brasil, o qual é significativo, de modo especial em localidades de pequeno porte, as quais possuem menos acesso às instituições de ensino, fazendo com que a EAD cumpra a função social.

Quadro 2: Número de seminários realizados por tema

Estado

Temas dos Seminários Temáticos

Afrodescendência

Cultura indígena

Acre

1

1

Bahia(1)

8

3

Mato Grosso do Sul

4

2

Minas Gerais

3

0

Paraná

1

0

Piauí

1

0

Rondônia (2)

3

1

Total por tema

21

7

(1) um polo na Bahia abordou os dois temas

(2) um polo em Rondônia abordou os dois temas

Fonte: Pesquisa de campo.

Os estudantes deveriam promover o evento convidando a comunidade e as autoridades públicas do município. As aulas das três disciplinas se iniciaram em 30/07/2013 e se estenderam por onze semanas, até dia 24/09/2013. Durante o período da transmissão ao vivo das aulas relativas às três disciplinas, toda a equipe do IFPR/EAD envolvida no projeto se mobilizou utilizando os recursos tecnológicos disponíveis, para oferecer suporte aos estudantes e tutores presenciais: conversas via chat disponibilizadas no AVA; pessoalmente no dia da transmissão ao vivo das aulas; por email; e por telefone, via 0800 disponibilizado pelo IFPR/EAD.Os estudantes foram orientados que teriam prazo até dia 30/01/2014 para realizarem os seminários e postarem no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) os relatórios finais.

Considerando que a modalidade do curso é a EAD, os tutores presenciais foram orientados para se envolverem e oferecerem suporte aos estudantes para o desenvolvimento de seminários que atingissem os objetivos propostos. No EAD, é importante que o tutor presencial envolva o maior número de alunos e a comunidade em geral para que realmente o seminário seja eficaz, eficiente e efetivo.

4.2 Análise de conteúdo dos relatórios dos seminários temáticos

A primeira grande categoria de análise é a questão da afrodescendência no Brasil, no qual seminários foram realizados sob a forma de palestras, workshops, mesas redondas, exposições de fotos, apresentações culturais de dança, música, artesanato e culinária afrodescendente. Destaca-se um concurso de beleza negra realizada no Mato Grosso do Sul.

Quadro 3. Atividades sobre a afrodescendência no Brasil

Região

Estado

Atividades realizadas nos seminários

Reflexões dos participantes dos seminários

Norte

Acre

Palestras

As palestras abordaram: a questão do racismo latente nas relações de família, trabalho e escolaridade nos tratos com as minorias; políticas de ação afirmativa como medidas compensatórias; criação, aplicação e fiscalização de leis que garantam meios igualitários para todos os cidadãos por meio de uma política de reparação por anos de marginalização do negro.

Rondônia

Workshop; apresentações de dança e teatrais; capoeira e Boi Bumbá

A experiência contribuiu para que os participantes da Roda de Conversa passassem a ter uma nova compreensão acerca de sustentabilidade e da importância do respeito à diversidade cultural, quando se pensa em presta um serviço social de excelência.
Negro sim, diferente não.

Nordeste

Bahia

Roda de conversa; palestra; mesa redonda; apresentação de coral; degustação de comidas típicas; exposição de artefatos típicos; exposição de painel fotográfico; apresentação de capoeira;

Pela experiência que obtivemos com a organização deste evento, podemos, por fim salientar que este acontecimento serve como estratégia para garantir a participação popular.   Visando um amplo debate sobre a Política de Assistência Social no Município, é importante divulgar os eventos de mobilização e Conferências nos meios de comunicação disponíveis, tais como rádio, jornais locais, carro de som, faixas, cartazes, internet e avisos nos locais de uso público.

Piauí

Exposição de artesanato; degustação de comidas típicas; apresentação do grupo de capoeira

Eventos culturais são importantes para as pessoas conhecerem a cultura africana que é por muitos desconhecida e desvalorizada.

Centro Oeste

Mato Grosso do Sul

1º Concurso Beleza Negra Estudantil; palestras; mesa redonda; apresentação de capoeira

É importante refletir a respeito dos desafios que enfrenta a inclusão social no país e as dificuldades que a cultura e a história afro-brasileira e africana encontram para serem aceitas e respeitadas em nossa sociedade.

Sudeste

Minas Gerais

Palestra; apresentação de capoeira; degustação de comidas típicas; exposição de artefatos típicos

A partir no evento realizado concluímos que a cultura afrobrasileira não é difundida na sociedade com os valores originários. Muitas vezes ouvimos falar de raça, cor, preconceito e não analisamos o verdadeiro sentido e importância da cultura afro-brasileira em nosso país.                                                 

Sul

Paraná

Palestra

A cultura negra teve muita influência na sociedade como: rezas, referências dos santos, candomblés, roupas, hinos das igrejas e muitos outros. Os jovens de hoje não sabem o porquê de cada ação. Eventos assim são importantes por isso.

Fonte: Pesquisa de campo.

As principais reflexões versam acerca da valorização da consciência negra. De modo especial, o debate sobre o racismo e as questões da marginalização de populações afrodescendentes no Brasil, fazem com que haja maior visibilidade e fomento à busca por relações sociais mais igualitárias na sociedade. Observa-se que houve envolvimento da comunidade nas discussões sobre o tema por meio das atividades propostas pelos estudantes.

4.2.1Cultura indígena

Questões referentes à cultura indígena fizeram parte de 7seminários realizados em 4 estados de 3 diferentes regiões do Brasil. Palestras, exposições e workshops foram as estratégias utilizadas para envolver estudantes e membros das comunidades locais nos eventos de valorização da diversidade.

Quadro 4- Atividades sobre a cultura indígena no Brasil

Região

Estado

Atividades realizadas nos seminários

Reflexões dos participantes dos seminários

Norte

Acre

Palestra

Os povos indígenas precisam de atendimento médico porque têm doenças dos não indígenas. Temos obrigação de ajudá-los.

Rondônia

Workshop

É preciso incentivar o empreendedorismo indígena.

Nordeste

Bahia

Exposição de plantas medicinais

Os índios têm muito para nos ensinar.

Centro Oeste

Mato Grosso do Sul

Exposição de artesanato

As peças em cerâmica dos índios são muito bonitas e poderiam dar uma renda para eles.

Fonte: Pesquisa de campo.

As principais reflexões se concentraram sobre a valorização da cultura indígena, por meio dos conhecimentos que esta população tem a compartilhar. Destaca-se em Rondônia e Mato Grosso do Sul que o empreendedorismo pode ser uma alternativa à população indígena para valorizar seus produtos e gerar possibilidades de geração de renda, inclusão social e de modo especial, reconhecer e valorizar os produtos oriundos das comunidades, como é o caso das peças de cerâmica e demais artefatos produzidos artesanalmente por eles.

4.3 Propostas de práticas para valorização da diversidade

Os relatórios postados no AVA pelos estudantes do Curso Técnico em Serviços Públicos foram analisados também do ponto de vista das propostas apresentadas para o poder público e para a comunidade. O objetivo da apresentação destas propostas é promover a mobilização não somente do poder público, mas também das pessoas que moram no município. Os estudantes enviaram ofícios para a prefeitura do município sugerindo atividades conforme descrito no Quadro 5.

Dividiram-se as propostas apresentadas pelos estudantes em três grupos considerando o número de vezes que apareceram nos relatórios. Foram consideradas como integrantes do grupo de alta incidência as propostas que se repetiram na maioria dos relatórios analisados. Conforme se observa, tanto no que diz respeito ao tema da afrodescendência como o tema da cultura indígena, os eventos com palestras aparecem classificados como de alta incidência. A grande maioria dos estudantes considerou importante a realização dos seminários temáticos para promover o conhecimento e a reflexão sobre os temas. O envolvimento de empresários também foi percebido como importante nestes eventos para promover a integração entre as minorias e o mercado de trabalho. Como sugestões de média incidência, tem-se a preparação dos professores e a melhoria da qualidade de vida dos povos indígenas. Classificadas como baixa incidência de propostas estão a capoeira, concurso de desenhos e acesso dos indígenas às tecnologias de informação.

Quadro 5: Propostas de Ações a partir do Seminário Temático

TEMA DO EVENTO

PROPOSTAS APRESENTADAS PELOS ESTUDANTES PARA IMPLANTAÇÃO NO MUNICÍPIO

AFRODESCENDÊNCIA

ALTA INCIDÊNCIA: Palestras e eventos organizados pela Secretaria da Cultura, professores e alunos nas escolas valorizando a cultura afrodescendente; no próximo evento, convidar empresários para participar.

MÉDIA INCIDÊNCIA: Preparação dos professores para abordarem o tema nas aulas.

BAIXA INCIDÊNCIA: Prática da capoeira; concurso de desenhos

CULTURA INDÍGENA

ALTA INCIDÊNCIA: Realização de exposições nas escolas sobre a cultura indígena; Construção de um Centro, Casa de Cultura indígena; Posto de saúde para atendimento médico nas comunidades indígenas. Os empresários precisam participar dos próximos eventos.

MÉDIA INCIDÊNCIA: Melhorias na condição de vida dos indígenas no município.         

BAIXA INCIDÊNCIA: Possibilitar aos indígenas o acesso às Tecnologias de Informação

Fonte: Pesquisa de campo.

Estas sugestões de ações práticas a partir desta ação afirmativa foram fortemente incentivadas a serem enviadas às autoridades locais, com o propósito de que se tornem pauta da agenda de discussões de poder público e terceiro setor, bem como possam ser utilizadas como mecanismos de gestão da diversidade nas empresas privadas das comunidades.

4.4 Discussão dos resultados

O objetivo proposto pelo o presente artigo foi examinar as contribuições da educação profissional na modalidade educação a distância (EAD) para a reflexão sobre a diversidade com foco nas relações étnico-raciais e suas contribuições para a diminuição da desigualdade social. A literatura existente sobre este tema aponta para um caminho necessário a ser percorrido para que a diversidade seja valorizada e reconhecida. Este caminho se inicia com o conhecimento sobre os temas, passa pela reflexão promovendo a conscientização e culminando com a ação prática e constatação de seus resultados(Schmidt, 2007; Pereira, 2008; Montagneret al, 2010; e Freitas e Dantas, 2012).Thomas Junior (1990) e Alves e Galeão-Silva (2004) reforçam a importância da melhoria destes resultados extrapolando da simples inclusão no mercado para a efetiva valorização e reconhecimento das minorias. Os autores incluem neste caminho a importância da preparação das minorias para o mercado de trabalho.Os resultados apresentados pelos seminários promovidos pelos estudantes, em diversos estados do Brasil foram determinantes para que este caminho fosse percorrido: conhecimento, reflexão, conscientização e ação para mudança social.

O conhecimento sobre os temas iniciou-se durante a disciplina de Ética oferecida pelo Curso Técnico em Serviços Públicos e foi expandida pelos estudantes com as pesquisas para a organização dos seminários. Ao integrar música, dança, teatro, culinária, artesanato e fotografia nas atividades (Quadros 3 e 4) que realizaram, os estudantes não somente tiveram informações e construíram conhecimento sobre os temas como também compartilharam a experiência do processo ensino-aprendizagem com a comunidade de seu município.

As reflexões foram promovidas tanto pelo contato com os objetos expostos e apresentações culturais, mas também pelas palestras e discussões promovidas durante os eventos. Por meio das atividades que promoveram, os estudantes envolveram-se profundamente com os temas haja vista as reflexões que fizeram e que estão apresentadas nos Quadros 3 e 4. Sobre o tema da afrodescendência, estudantes de Rondônia declararam que os seminários promoveram "uma nova compreensão acerca de sustentabilidade e da importância do respeito à diversidade cultural". No Acre, estudantes refletiram sobre a importância da ação pública por meio de"leis que garantam meios igualitários para todos os cidadãos por meio de uma política de reparação por anos de marginalização do negro". A participação popular e a realização de eventos culturais foram sinalizadas como importantes movimentos para os estudantes da Bahia e do Piauí. A inclusão social foi o foco dos estudantes do Mato Grosso do Sul como caminho para diminuir as desigualdades no Brasil. A difusão da cultura africana é uma prática incomum no Brasil, na opinião dos estudantes mineiros e paranaenses. No que diz respeito à cultura indígena, os estudantes de Rondônia e Mato Grosso do Sul voltaram suas reflexões para a importância do empreendedorismo. Sugeriram que os povos indígenas sejam preparados para atividades empreendedoras e foi sugerido que o artesanato fosse uma opção. Na Bahia, os estudantes apontaram para a valorização dos povos indígenas pelo conhecimento que têm e sugeriram que se aprenda o que eles têm para ensinar. No Acre, apontou-se para a obrigação que os povos nãoindígenas têm com o tratamento médico de indígenas uma vez que lhes transmitiram doenças antes desconhecidas.

A conscientização dos estudantes sobre os temas orientou-os para a proposta de ações em seus municípios envolvendo o poder público, os professores, os moradores de maneira geral e, especialmente as famílias para que integrassem um movimento no sentido de difundir as culturas afrodescendente e indígena para sua compreensão e valorização. Muitas destas propostas foram discutidas durante o próprio seminário, pois as autoridades municipais estavam presentes ao evento. Teve alta incidência também a sugestão de incluir empresários na lista de convidados dos próximos eventos para abrir oportunidades no mercado de trabalho para os povos indígenas e para conscientizar as organizações sobre a valorização das minorias. Estas propostas estão apresentadas no Quadro 5 e incluem não somente a realização de novos eventos nas escolas como estes promovidos pelos estudantes, mas também, ações lideradas pela prefeitura municipal. Estas propostas convergem para percorrer o caminho proposto pelos autores mencionados neste trabalho (Schmidt, 2007; Pereira, 2008; Montagneret al, 2010; e Freitas e Dantas, 2012) no sentido de promover o círculo virtuoso do conhecimento, reflexão, conscientização e ação para mudança social.

5. Considerações finais

A contribuição trazida pela realização destes seminários e pela sua descrição feita neste artigo se dá pela importância da abordagem do tema da valorização da diversidade nos contextos pessoal e profissional. No contexto pessoal, conforme abordado na revisão teórica sobre o tema, faz-se necessária a construção de uma sociedade justa, solidária e atenta às necessidades das minorias. No contexto profissional, é fundamental a inclusão de temas transversais para a formação daqueles que atuarão nas organizações.  Suas decisões afetam as vidas das pessoas e suas famílias influenciando sua vida em sociedade. Ao encurtar distâncias, a EAD coloca as tecnologias da informação à disposição da disseminação deste processo formativo, proporcionando a formação pessoal e profissional de estudantes nas diversas regiões de um país.

Os resultados descritos e discutidos no presente trabalho demostram que a valorização da cultura afrodescendente e da cultura indígenaé o resultado do conhecimento de seus principais aspectos, seguida por reflexões dos indivíduos e levando finalmente a ações envolvendo comunidade e poder público. Não se trata de uma única ação isolada, mas de um processo contínuo da sociedade. As desigualdades somente serão diminuídas e por fim, extintas, se os indivíduos se unirem. Questões ligadas ao preconceito, discriminação e racismo demandam atenção das autoridades públicas para a reparação das injustiças e equiparação de direitos.  Oensino profissionalizante tem papel relevante nesse contexto uma vez que prepara profissionais para atuarem num mercado de trabalho cada vez mais diverso. A gestão da diversidade nas organizações passa pela tomada de decisões destes profissionais.

A gestão das empresas públicas precisa colocar foco em ações afirmativas em torno de temas transversais que promovam ações no sentido da valorização da diversidade. Esta medida valoriza a competitividade não somente no setor privado, como indicam alguns autores. Também no setor público a valorização da diversidade proporciona ao Estado capacidade para atingir seu objetivo maior que é a promoção do bem estar social. O EAD pode e deve ser utilizado como meio para o alcance de um número cada vez maior de cidadãos brasileiro em regiões cujo acesso presencial se torna difícil face à infraestrutura por vezes deficiente. Na medida em que o gestor público tiver mais conhecimento sobre a diversidade, mais claro ficará para ele o caminho a ser trilhado na tomada de decisões que afetam um município, um estado e um país. A interatividade entre o público e a comunidade é fundamental neste processo. É neste contexto que se inserem ações como a que foi descrita neste artigo envolvendo estudantes de um curso profissionalizante na modalidade EAD, ofertado em todas as regiões brasileiras.

O ensino profissionalizante deve incluir a preparação deprofissionais para que suas decisões sejam pautadas no reconhecimento da condição do sujeito social que tem direito à ação e à opinião e sua incorporação à sociedade. No contexto público, as ações afirmativas colocam em práticao papel do poder público de harmonizar o convívio das pessoas. A sociedade deve estar atenta ao desempenho do gestor público não somente demandando ações, mas atuando como parceira. As instituições educacionais podem contribuir com o alcance dos objetivos de ações afirmativas. A EAD tem papel relevante neste processo ao dispor de tecnologias de informação e comunicação que contribuem para encurtar distâncias e aumentar a abrangência da discussão sobre diversos temas. Ao proporcionar a proximidade entre estudantes e professores, a EAD pode contribuir cada vez mais com o processo de conhecimento, reflexão, ação e mudança social nas comunidades brasileiras para diminuição das desigualdades e valorização da diversidade.

As limitações deste estudo se referem ao fato de que nem todas as variáveis da diversidade foram contempladas. Neste estudo segue-se apenas àquelas propostas pelo Conselho Nacional de Educação. Também se limita pela análise documental, a qual teria resultados mais claros se aplicada junto aos alunos pesquisas quantitativas. Sugere-se que futuros estudos tratem de temas como meio ambiente e acessibilidade no mercado de trabalho, gênero, mulheres e os idosos como tema de discussão no contexto da inclusão social, bem como as demais questões que envolvem a diversidade. Deve-se registrar que o público foram estudantes de Técnico em Serviços Públicos. Este estudo pode ser aplicado a estudantes de outras áreas da educação profissional e superior, nos modelos presenciais e a distância.

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1. Bacharel em Administração pela FAE Business School; Mestre e Doutoranda em Administração pela PPAD/PUC/PR. Professora do Instituto Federal do Paraná, Campus Pinhais.E-mail: elaine.arantes@ifpr.edu.br
2. Bacharel, Mestre e Doutorando em Administração pela UNIVALI-SC. Professor do Instituto Federal do Paraná, Campus Curitiba.E-mail: adriano.stadler@ifpr.edu.br
3. Doutor em Ciências da Administração pelo ESADE, Barcelona. Professor do PPAD/PUC/PR. E-mail:  del.corso@pucpr.br

4. 4Pós Doutor em Gestão pela Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal. Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. E-mail: andecatapan@yahoo.com.br


 

Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 22) Año 2016

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