Espacios. Vol. 37 (Nº 23) Año 2016. Pág. 5

Percepção de risco dos atores sociais em áreas metropolitanas: estudo de caso na comunidade São José – Joao Pessoa. Brasil

Risk perception of social actors in metropolitan areas: Case study in the Community San Jose - João Pessoa. Brazil

Monalisa Cristina Silva MEDEIROS 1; Max Prestes BARBOSA 2

Recibido: 04/04/16 • Aprobado: 30/04/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Referencial Teórico

3. Metodologia

4. Resultados e discussão

5. Considerações Finais

Referências


RESUMO:

Em regiões metropolitanas observa-se muitas áreas de riscos, onde vive uma parcela significativa da população vulnerável resultado do processo de urbanização desordenado e desigual. Este artigo visa investigar a percepção de riscos dos atores sociais (moradores) da comunidade São José localizada na capital do Estado da Paraíba, cidade de João Pessoa, uma vez que investigar a percepção constitui uma importante ferramenta na gestão da diminuição do risco. Utilizou-se uma abordagem qualiquantitativa de caráter exploratório, e a coleta de dados foi realizada através de questionário semiestruturado e observações in lócus. Os resultados apontam que os moradores percebem vários riscos no seu entorno, assim como destacam a ausência do poder público na localidade.
Palavras-chaves: Risco, percepção, atores sociais.

ABSTRACT:

In metropolitan areas observed many areas of risk, which is experiencing a significant portion of the population in vulnerable situation , which is the scenario the outcome of the disorderly , uneven urbanization . Thus , this article aims to investigate the perception of risk of social actors ( residents ) of the St. Joseph community located in the capital of the state of Paraiba , João Pessoa , since investigate this perception is an important tool in risk reduction management. We used a qualitative-quantitative approach exploratory, and data collection was carried out through semi-structured questionnaire and observations in locus. The results show that residents perceive many risks in their environment, and highlights the lack of public power in the locality.
Keywords: Risk, perception, social actors.

1. Introdução

No meio urbano é perceptível a existência de inúmeros problemas sociais e ambientais, que são resultados do processo desordenado de urbanização, que cada vez mais aglomera pessoas nos centros urbanos e direciona uma parcela desta população em condição de pobreza, exclusão social, de alta vulnerabilidade, a viver em áreas consideradas de riscos, pois a localização e características ambientais são inadequadas para ocupação acho melhor colocar humana.

Este é o cenário das grandes cidades brasileiras, sendo comum o aumento dos desastres em áreas metropolitanas, pois no Brasil a expansão urbana ocorreu e vem ocorrendo sem planejamento, associado aos processos produtivos que contribuíram para os diversos problemas nas cidades.

Segundo o IBGE (2010), a população urbana do Brasil é de 84,4%, e a principal complicação deste processo são os desafios sociais, econômicos e ambientais que as cidades enfrentam, visível sobretudo nos grandes centros urbanos e capitais dos Estados que em sua maioria formam áreas metropolitanas que apresentam condições de difícil habitabilidade para a população pobre e carente.

A capital do Estado da Paraíba, João Pessoa, se enquadra neste perfil, uma vez que o seu processo de urbanização, consolidado principalmente na década de 1970 aconteceu com incentivo do Governo Estadual com a construção de vários conjuntos habitacionais na periferia da cidade, mas de forma socialmente injusta,  quando uma porção desta população foi "empurrada" para áreas desvalorizadas ao não conseguirem uma moradia digna, pois a política habitacional não se deu de forma igualitária para todos, e na década de 1980, tem-se então o surgimento das comunidades ou favelas, caracterizadas pelas infraestruturas mínimas dessas áreas, onde as pessoas passam a viver em condições altamente precárias e carentes de serviços urbanos.

Atualmente a região metropolitana de João Pessoa tem uma população de 1.193.892 habitantes (IBGE, 2010), sendo que 8,5% moram em favelas, e estes em sua maioria habitam áreas de risco. Constituem grupos que vivem à margem da sociedade, numa localização de risco, em situação vulnerável agravada pelas circunstâncias socioeconômicas. É fundamental compreender a relação desta população com o ambiente em busca de alternativas e estratégias que possibilitem soluções viáveis.  

Diante desta realidade, este artigo visa investigar a percepção de riscos da comunidade São José (uma das favelas da capital paraibana), onde o histórico de problemas vivenciados desde o início de sua ocupação se relacionam, em partes, com as formas de ocupação (margens do rio Jaguaribe, no seu baixo curso, entre o sopé da falésia morta e a estreita faixa ocupada dos terraços do vale do referido rio). Para isso, utilizou-se uma abordagem qualitativa de caráter exploratório.

Compreender a percepção destes grupos populacionais é extremamente importante, uma vez que este conhecimento pode situar melhor e legitimar os estudos científicos. Além disso, Oliveira (2012 afirma que é importante estabelecer uma relação entre os métodos tradicionais de avaliação de riscos e a percepção das pessoas em relação aos riscos, tendo em vista a importante contribuição que os sentimentos, conhecimentos, medos e receios vivenciados por pessoas que vivem nas chamadas áreas de riscos podem possibilitar.

2. Referencial Teórico

2.1 Complexidades dos conceitos: Risco, desastre e vulnerabilidade social

Risco

O risco está presente na humanidade desde os primórdios. Qualquer atividade cotidiana está exposta a algum tipo de risco, e portanto é incontestável a onipresença do mesmo. Beck (1992, p. 21) afirma que nossa "sociedade é cada vez mais complexa diante de perigos e inseguranças induzidas e introduzidas pela modernização". São mudanças sociais e ambientais que inserem a população num verdadeiro cenário de risco.

Wilches-Chaux (1998) define o risco como um resultado da coexistência ou aproximação estabelecida por dois fatores: a ameaça e a vulnerabilidade. Para este autor a ameaça é a probabilidade de que um fenômeno ocorra, seja de ordem natural ou antrópica capaz de desencadear um desastre. E a vulnerabilidade é condição sob a qual a população está exposta ou em risco de ser afetados pela ameaça. O autor ainda destaca que o risco é dinâmico e mutável, na medida em que eles (fatores) também são ingredientes dinâmicos e mutantes que produzem. Isso implica que não podemos descrever uma área risco como estática.

Lavell (2000) e Cardona (2008) corroboram com este entendimento. Os mesmos definem o risco como a probabilidade de perdas futuras, que é estabelecida pela existência e interação de dois elementos: ameaça e vulnerabilidade.

O risco seria, portanto a relação entre a ameaça e vulnerabilidade, ou seja, é uma função da Ameaça (ou perigo) versus a vulnerabilidade, expresso pela fórmula: Risco = Ameaça x Vulnerabilidade. Uma mesma ameaça pode produzir riscos diferentes sobre os indivíduos.

O risco ainda de acordo com Cardona (2003) é um conceito complexo, por se tratar de algo relacionado ao acaso e possibilidade, e que ainda não se materializou em dano e perda. É, portanto, imaginário, de difícil compreensão e algo mentalmente e intimamente relacionado com o pessoal ou psicologia coletiva.

É por isso, que o conceito de risco também é algo subjetivo, fruto da noção humana ou social. A partir desta compreensão, este estudo se baseia no conceito de risco como uma construção social, segundo a percepção dos indivíduos, destacado por Veyret (2007). Por isso, o risco não é uma coisa física e palpável, mas sim abstrato, e se materializa no desastre.

Desastres

De acordo com Cardona (1996) os desastres são processos sociais resultantes da ocorrência instantânea e real de um fenômeno que caracteriza uma ameaça, onde a condição de vulnerabilidade dos elementos expostos favorece ou facilita uma vez que quando a ameaça e risco se concretiza causa efeitos danosos a todas as dimensões que compõem o meio ambiente urbano.

Ainda de acordo com o mesmo autor, o "desastre" também se refere a situações de anormalidade grave, que afetam a vida, a saúde, os bens e habitat de populações humanas além do limite de resistência e resiliência dos sistemas envolvidos (2008, p.3).

E sobre os seus efeitos, conforme os ensinamentos de Cardona (1993 p.47), "(...) variam de acordo com as características dos elementos expostos e da natureza do evento em si". O impacto pode causar diferente tipos de alterações.

Lavell (2000) explica que os desastres são situações nas quais os níveis de perda e destruição sofridos excedem a capacidade normal de resposta e recuperação da população afetada, exigindo medidas extraordinárias ou apoio externo para restaurar ou melhorar os níveis anteriores de bem-estar e oportunidades.

Em resumo, alguns autores consideram aspectos distintos sobre o conceito de desastre, mas de modo geral, ele é a materialização do risco que afeta negativamente a sociedade e seus componentes, bem como os ecossistemas e meio ambiente como um todo, causando prejuízos.

Vale ressaltar que o desastre também é uma questão política. No Brasil e em muitos países no mundo não se inserem a questão da gestão da redução dos riscos nos planejamentos. Isto teria uma conotação social muito importante, pois implicaria em se ter políticas eficazes no combate aos desastres e no que diz ao respeito ao pelo direito a vida digna de todos os cidadãos.

Vulnerabilidade Social

Segundo Wilches-Chaux (1998) a vulnerabilidade é a condição sob a qual a população está ou é exposta ao risco, que pode ser afetada por um fenômeno artificial ou natural (ameaça), e que deve ser analisado de acordo com as particularidades do local.  Este autor classifica as diferentes formas de vulnerabilidade que uma sociedade pode enfrentar, destacando: física (ou localização), econômica, social, política, técnica, ideológica, cultural, educativa, ecológica e institucional.

A CEPAL (Comissão Econômica para América Latina) considera vulnerabilidade social como a condição de exposição a um evento perigoso, uma ameaça, articulada com a possibilidade de controlar os efeitos da materialização do mesmo, ou seja, a capacidade destes indivíduos de enfrentar os riscos, mediante uma resposta interna ou por meio de apoio externo. E a incapacidade para dar respostas revela à dificuldade de enfrentar os riscos ou inabilidade de adaptação à situação.

De acordo com Medina (1992), a vulnerabilidade é causada pela incapacidade da população para proteger a si mesma em seu ambiente habitado, ou seja, tornar-se mais segura. Em se tratando de áreas urbanas, observa-se que a carência de equipamentos públicos, alicerçada em políticas públicas ineficazes acentua a vulnerabilidade destes indivíduos.

  Estas condições são resultado de um processo de desenvolvimento desigual da economia que sofre a influência de diferentes fatores econômicos e políticos, produzindo profundas desigualdades, que acabam ampliando e/ou acentuando a vulnerabilidade.

A vulnerabilidade é uma condição humana e de suas estruturas, sinônimo de insegurança. Para Cutter et al. (2003) a vulnerabilidade é um produto social resultante da materialização de desigualdades e suscetibilidades no espaço e no lugar. Entender a vulnerabilidade social como uma condição de fragilidade ou fraqueza coletiva, que traduz o somatório de condições de desigualdade social que antecedem a ocorrência de qualquer evento danoso, envolve fatores como: pobreza, idade, gênero, classe social, bem como a experiência acumulada para lidar com eventos adversos (NOSSA et al,. 2013 p. 55).

2.2 Percepção de riscos

Segundo Tuan (1980) a partir da década de 70 a percepção passa a ser objeto de estudo em vários campos. Para Hochberg (1973, p. 11) "a percepção é um dos mais antigos temas de especulação e pesquisa no estudo do homem (...) Estudamos a percepção numa tentativa de explicar nossas observações do mundo que nos rodeia".

A perspectiva com maior influência neste campo é a piagetiana, e para esta a percepção é vista como uma forma de compreender a sociedade, seus valores, ou seja, o entendimento do mundo (SANTELICES, 2004). A percepção leva a compreensão do mundo com seus mais variados elementos e como eles se comportam e se relacionam.

Santelices (2004) afirma que todo indivíduo desenvolve predisposições perceptuais, ou seja, interpreta o que percebe com base em suas crenças e valores.

Souza e Zanella (2009) destacam que a percepção permite estudos que englobam várias áreas de conhecimento, e consiste numa ferramenta interdisciplinar e nesta perspectiva destaca-se a temática sobre a percepção dos riscos, que refere-se à associação do conhecimento e sentimento, diante de uma situação ou um conjunto de circunstâncias que impliquem em consequências (KASPERSON et al., 1988). Logo, procura a compreensão da subjetividade que existe acerca das relações entre o ser humano e os riscos.

Compreender a percepção dos riscos constitui uma importante ferramenta para auxiliar o planejamento de ações, sejam elas emergenciais ou políticas públicas, e por isso tem sido bastante indicado como metodologia de prevenção, pois a partir da avaliação e conhecimento cotidiano de uma população é possível identificar os riscos e evitar os possíveis eventos adversos, uma vez que os técnicos ou políticos na maioria das vezes não possuem os mesmos critérios para perceber o risco.

Por isso, Souza, Zanella (2009 p. 34) afirma que a investigação no campo da percepção dos riscos apresenta, entre seus principais objetivos, o reconhecimento das diferentes respostas humanas à tipologia de eventos extremos e às situações de perigo.  A percepção torna-se um componente decisivo na estruturação de respostas ao perigo, influenciando vários aspectos da vida individual e coletiva.

É importante considerar a percepção de todos para uma avaliação mais consistente, uma vez que para análise do risco é preciso conciliar o objetivo (operacional) e o subjetivo (percebido). A percepção deve ser vista como uma ferramenta a mais, devido sua importância no contexto social, conforme afirma Souza e Zanella (2009), pois nos ajuda a compreender as inter-relações que se estabelecem entre a população e os ambientes diante de uma situação de ameaça, e revela situações que procedimentos puramente técnicos não são capazes de apreender.

3. Metodologia

3.1 Área de estudo

O estudo foi desenvolvido no município de João Pessoa capital do Estado da Paraíba, Brasil, que está localizada na mesorregião da Mata Paraibana e na microrregião de João Pessoa.  A cidade está situada a 07° 05' 00" de latitude Sul e 34° 50' 00" longitude Oeste e altitude de 40 metros em relação ao Nível Médio do Mar (NMM).  Ao que se refere a sua vizinhança, se limita com os municípios de Cabedelo ao Norte, Bayeux e Santa Rita a Oeste, Conde ao Sul e ao Leste com Oceano atlântico.

João Pessoa possuí uma população de 742.478 habitantes e um território de 210,6 km², o que aponta uma densidade demográfica de 3.655,19 hab./km² segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010).

Neste macro espaço, destaca-se o bairro São José, área objeto de estudo, (Figura 1), que atualmente possui 7.078 habitantes, representando 0,98% da população da capital paraibana (IBGE, 2010), e faz parte do cenário de sério comprometimento sócio ambiental.

Figura 01: Localização do Bairro São José.

Fonte: Elaboração própria (2016).

O bairro surgiu como um assentamento espontâneo informal desordenado de migrantes de baixo poder aquisitivo que ocuparam sem licença todo o vale às margens do rio Jaguaribe (consideradas Área de Preservação Permanente, APP), e próximo a encostas, acarretando graves prejuízos sociais e ambientais, levando a uma baixa qualidade de vida para os moradores e sérias agressões ao meio ambiente, o que a caracteriza como uma ocupação desordenada em área de risco (LIMA, 2006).

3.2 Procedimentos metodológicos

A pesquisa baseia nos pressupostos da pesquisa quali quantitativa, ou seja, caráter misto, corte transversal, com os atores sociais, por meio da realização de entrevistas. Apresenta caráter exploratório, pois tem a finalidade de proporcionar um maior entendimento sobre a problemática, com vistas a torná-lo explícito, abrindo assim espaço para a interpretação (GIL, 2008).

Os atores sociais (stakeholders) consistem nos moradores da comunidade/bairro São José que foram entrevistados visando apreender a percepção sobre os riscos enfrentados pelos mesmos. Foram utilizados os seguintes procedimentos teórico-prático-metodológicos: Pesquisa bibliográfica; Pesquisa de Campo (observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem espontaneamente na coleta de dados a eles referentes e no registro de variáveis que se presumem relevantes, para analisá-los e correlacionar com a percepção dos moradores da área); Realização de entrevistas semi estruturadas (foi realizada perguntas em uma ordem determinada, mas dentro de cada questão houve a liberdade do entrevistado em suas respostas) (LAKATOS, MARCONI, 2005).

O instrumento de coleta de dados foi um questionário com um total de 15 perguntas semiabertas. Quanto ao tamanho da amostra, foi utilizada a técnica da saturação, onde o tamanho final da amostra é interrompido quando os dados coletados passam a ser repetitivos e deste modo apresentar redundância de acordo com o entendimento do pesquisador (BITSCH 2005; FONTANELLA et al., 2008).  Assim, a pesquisa realizou um total de 30 entrevistas com famílias residentes na comunidade, e a escolha destas foi baseada em dois critérios: a) ser residente da área há no mínimo cinco anos; b) proximidade das áreas que apresentam maiores riscos, que segundo a Defesa Civil da cidade de João Pessoa é as margens do rio Jaguaribe e a encosta.

A pesquisa obteve a aprovação do Comitê de Ética da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), tendo o Número do Parecer: 1.373.383, datado em 17 de Dezembro de 2015, com autorização para aplicação dos questionários. Foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), onde os sujeitos após serem informados sobre o objetivo da pesquisa, optaram de livre e es­pontânea vontade, em participar do estudo.

Para a análise dos dados foi utilizada a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) desenvolvida por Lefevre & Lefevre no fim da década de 90. O DSC é um discurso-síntese elaborado com partes de discursos de sentido semelhante, e consiste numa téc­nica de tabulação e organização de dados qualitativos, onde é possível conhecer os pensamentos, as repre­sentações, as crenças e os valores de uma coletividade sobre um tema especifico que permite conhecer em detalhes a representação subjetiva do cotidiano e para isso fazendo uso de métodos científicos (FIGUEIREDO et al. 2013).

As opiniões coletadas através das entrevistas foram registradas de forma, individual e os dados de acordo com sua frequência, observando a ideia central de cada opinião e em seguida sendo agrupadas de acordo com as ideias centrais (IC), e assim montando uma fala coletiva, como sugere Figueiredo et al. (2013). É importante mencionar que em quase todas as perguntas obteve-se um número maior de respostas, uma vez que cada entrevistado pode emitir mais de uma opinião para uma questão.

4. Resultados e discussão

Sem planejamento, o Bairro São José revela um verdadeiro cenário de riscos, bem como uma população altamente vulnerável. De acordo com a Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) e a Coordenadoria Municipal de Proteção de Defesa Civil (COMPDEC), a comunidade São José apresenta o seguinte perfil:

Quadro 1: Perfil do Bairro São José.

BAIRRO SÃO JOSÉ

OBSERVAÇÕES

Área (ha)

21,652

Ocupação espontânea e desordenada.

População

7.078 habitantes (IBGE, 2010).

População altamente vulnerável.

Tempo de ocupação da área

 

 

Iniciou na década de 1970/1980.

Na década de 70 e 80, iniciou-se a ocupação da área, nos taludes, expandindo para as margens do rio Jaguaribe, por famílias de baixa renda oriundas de outras cidades e bairros vizinhos que edificaram moradias no topo e sopé das encostas, originando a formação de um aglomerado subnormal. O poder público ausente e a carência de habitações dignas, contribuiuram para que surgissem áreas de risco neste espaço.

Infraestrutura

♦Água;

♦Energia elétrica;

♦Iluminação pública (insuficiente);

♦Telefone público;

♦Coleta de lixo (insuficiente);

♦Esgoto (insuficiente);

♦Pavimentação (via principal em asfalto e paralelepípedos em outras vias secundarias).

♦ Grande parte das moradias tem ligações clandestinas de água, esgoto e energia elétrica, lançamento de efluentes (topo da encosta), indicador de deslizamento;

♦ Acúmulo de resíduos sólidos (lixo) na área dos taludes, margem no próprio rio;

♦ Moradias precárias, nas margens do rio, no sopé da encosta, como também próximo as escadas hidráulicas (drenagem), área de encosta com alta declividade / inclinação;

♦ Os casebres/moradias localizadas as margens do rio Jaguaribe, lançam seus efluentes domésticos "in-natura" no corpo hídrico, poluindo-o e o eutrofisando.

Padrão de ocupação

Desordenada

Cenário vulnerável.

Danos Ambientais

Vários

♦ Destruição da mata ciliar e ocupação, edificação de moradias as margens do rio Jaguaribe;

♦Assoreamento do rio;

♦ Lançamento dos resíduos sólidos gerados e esgotos no leito do rio,

♦ Resquícios da mata atlântica na encosta do talude destruída pela ocupação desordenada;

♦ Desmatamento.

Tipologia das construções

Misto

♦Alvenaria;

♦Taipa;

♦Material reciclado (topos, sopés e margens do rio).

Uso das edificações

Residencial

♦ Comercial - (pequenos).

Equipamentos Públicos

Creches:  Municipal e Estadual

Posto policial.

Propriedade do Terreno

Público

♦ Domínio do município.

Ocorrências de acidente

 

 

 

  • Em 1984- Acidente deslizamento e desabamento, com 06 óbitos, 16 feridos e mais de 2.000 pessoas desabrigadas, que foram alojadas em abrigos públicos e barracas cedidas pelo exército, instalada as margens da BR-230 (KM-15 – Bairro João Agripino);
  • Em 1989, após 72 horas de chuvas, mais um deslizamento atingindo e soterrando 42 moradias, causando a morte de 13 pessoas, desalojando outras famílias;
  • Em 1991- O Governo iniciou o processo de urbanização do bairro, beneficiando as famílias vítima dos desastres, (Outras famílias voltaram a ocupar os setores vulneráveis a risco de acidentes);
  • Em 1999- Outro deslizamento, afetou 05 casebres (barreira) sem vítimas fatal, na 2ª escada hidráulica, (próximo posto policial a época), onde 25 famílias foram retiradas para um abrigo provisório, instalado pela prefeitura, em um espaço ao lado (posto policial), posteriormente essas famílias foram remanejadas para uma fábrica desativada (LESHEF), no distrito industrial, só em 2001 essas famílias foram beneficiadas com moradias verticalizadas (programa é pra morar) no bairro Paratibe / Valentina Figueiredo;
  • Nos anos 2000, 2002, 2004, 2006, 2007, 2009, 2011 a 2013, as chuvas causaram destruição, por inundações e deslizamentos onde a prefeitura (Defesa Civil, Emlur, Seinfra e Sedes), implementaram ações emergências, como realocação de algumas famílias e demolição de algumas casas e limpeza do rio, com a finalidade mitigar os efeitos negativos a população.

Índices pluviométricos

  • Precipitações acima de 120 milímetros, e em áreas degradadas acelera o processo de instabilidade do solo, saturando o mesmo com consequências de deslizamentos e inundações.

Fonte: Elaboração própria (2016).

A comunidade São José é considerada uma área de risco de acordo com Coordenadoria Municipal de Proteção de Defesa Civil (COMPDEC), pois apresenta áreas ocupadas que são totalmente impróprias para habitação que corresponde as margens do rio Jaguaribe (figura 2), e ainda a falésia, onde o seu sopé (parte baixa da falésia) e o topo foi ocupada pela população (figura 3).

Quando questionamos os atores sociais (moradores) quanto a percepção de estarem expostos a algum tipo de risco, foi constatado que em quase sua totalidade (90% dos entrevistados) acreditam estar exposto a algum tipo de risco, ou seja, percebem o risco na área onde vivem, sobretudo nos períodos chuvosos quando pode ocorrer desastres (inundações/movimentos de massas). Sobre isso, Okamoto (2002) afirma que primeiramente se adquire a sensação do meio, embora não se tenha consciência disso e posteriormente quando a mente seleciona os estímulos que são emitidos, ocorre a percepção, considerando os aspectos de interesse. Essa percepção revelada pelos moradores evidencia a maneira pela qual o ser humano sente e compreende o seu meio (UNESCO, 1977).

Na tabela 1, estão sistematizadas as respostas referentes aos riscos percebidos pelos atores sociais da comunidade São José.

Tabela 1 - Percepção social sobre os riscos existentes na comunidade

Respostas dos atores sociais

N*

A

Inundações

30

B

Deslizamento na "barreira"

30

C

Poluição da água do rio Jaguaribe

23

D

Doenças (dengue, zica, chicugunya, alergias, verminoses)

17

E

Animais peçonhentos que invadem as casas (insetos, baratas, cobras, escorpiões)

10

F

Poluição e lixo nas ruas jogados em terrenos baldios e diretamente no rio e/ou próximo a "barreira", mesmo tendo a coleta da prefeitura semanalmente.

8

*N = Número absoluto de respostas.

Observa-se que a população reconhece como risco principalmente as inundações e movimento de massa/deslizamentos já que são eventos recorrentes na área e portanto já vivem na expectativa da ocorrência destes e tentam se ajustar a situação para tentar minimizar os riscos como por exemplo: aterrando as partes baixas da residência, construindo batentes na entrada das casas para evitar a entrada da água, colocando os móveis e eletrodomésticos suspensos em tijolos, reforçando a estrutura da casa para possivelmente aguentar um forte impacto.

Nestas áreas de riscos, todos os anos ocorrem inundações e deslizamentos devido as chuvas intensas. Câmara et al., (2014) em seus estudos destaca a ocorrência de desastres na comunidade ocasionados por movimentação de massa e desabamentos e inundações desde o início de sua ocupação, e atualmente as ocorrências destes eventos ainda são presentes, embora com menor intensidade dada as ações paliativas por parte do poder público.

Outros riscos são relatados pelos moradores, que são os riscos potenciais que causam prejuízos a população, sobretudo no tocante a saúde pública como pode ser observado na Tabela 1.

Questionados sobre as áreas do bairro que apresentam maiores riscos, as respostas foram enfáticas ao afirmar que correspondem a margem do rio Jaguaribe e ao sopé e topo da falésia. Isso porque, segundo os próprios moradores os desastres ocorrem justamente nestas localidades ocupadas por uma parcela significativa da população que vive muitas vezes em condições indignas e insalubres, e com um alto grau de vulnerabilidade sendo portanto os mais atingidos, e isto se deve ao fato de que quanto menor for o nível econômico, mais vulneráveis são os sujeitos, e menos propensos a uma resposta positiva quando da ocorrência de um desastre (SOUZA e ZANELA, 2009).

A Tabela 2 apresenta a percepção dos moradores a respeito das principais causas responsáveis pelos desastres ocorridos na comunidade.

Tabela 2 - Percepção dos atores sociais sobre as principais causas dos desastres

Respostas dos atores sociais

A

Chuvas fortes

28

B

Ocupação de áreas inadequadas

25

C

População que joga lixo no rio e na encosta na parte de cima

25

D

Retirada da vegetação do rio e da encosta

22

E

Lixo e entulho que faz o rio "transbordar"

20

F

Falta de limpeza que ocasiona a proliferação de várias doenças e animais peçonhentos 

16

G

Falta de infraestrutura e investimentos público

15

H

Construção do shopping que aterrou uma parte do rio e fez com que a passagem da água ficasse estreita e quando chove a água invade as casas

15

I

Ausência do poder público que apresenta apenas medidas paliativas, mas não resolvem a situação caótica da área

14

J

Não sei

2

Fica evidente que os atores sociais investigados demonstram a predominância de respostas referente ao fenômeno natural que é a chuva, que seria a principal causa dos desastres. Mas também apresentam em suas respostas um conjunto de fatores que poderiam ser solucionados ou ao menos minimizados com a atuação efetiva do poder público. Percebe-se uma situação alarmante que precisa urgentemente de uma maior atenção e compreensão dos governantes quanto as necessidades urbanas, sobretudo de populações que vivem em situações de pobreza e exclusão (MARTINS, 2010).

E além disso, Melo & Santos (2011) alertam que a concentração de contingentes populacionais em uma região intensifica os impactos relacionados aos processos naturais, o que é percebido no Bairro São José pelos próprios moradores ao citarem não apenas as fortes chuvas, mas a retirada da vegetação original, ou seja, tem-se uma degradação de áreas ambientalmente frágeis que contribuem para a materialização dos riscos, somados as demais causas; ausência de políticas públicas, ocupações e construções (casas e Shopping Center) irregulares. É preciso observar as questões sociais e políticas em relação à forma como as cidades vêm sendo ocupadas, como alerta Tucci (2008), pois é um importante fator para se buscar soluções viáveis.

A Tabela 3 apresenta as opiniões dos atores sociais sobre os danos e perdas sofridas diante da ocorrência de um evento danoso.

Tabela 3 - Percepção dos atores sociais sobre os principais danos e perdas sofridos

Respostas dos atores sociais

A

Danos materiais, móveis, eletrodomésticos

29

B

Perda de utensílios domésticos, alimentos, roupas

29

C

Abalos emocionais

25

D

Prejuízos a saúde devido o contato com água poluída ou animais peçonhentos

24

E

Perdas afetivas quando se perde tudo ou quase tudo que se levou muito tempo para construir ou adquirir

20

F

Desorganização na vida das pessoas

20

G

Perdas financeiras

15

H

Desvalorização do imóvel

10

I

Necessidade de uso de abrigos

7

Constata-se que os moradores relatam várias perdas e danos diante de um desastre e as lembranças são muito "vivas", tendo em vista que basicamente todos os anos enfrentam a mesma situação, e mesmo quando não há ocorrência, existe ali o perigo iminente. Os danos e perdas mais citados foram os materiais (móveis, eletrodomésticos e utensílios em geral), e muitos enfatizam que já chegaram a perder tudo. Outros danos foram citados e merecem destaque como os prejuízos a saúde, sobretudo quando ocorre inundações onde a população acaba contraindo doenças com a água contaminada ou na ocorrência de acidentes com animais peçonhentos.

Além do transtorno para vida da população de um modo geral, destaca-se os traumas emocionais que a acompanham, pois diante de uma catástrofe as emoções são extremamente intensas, somado ao medo de perder absolutamente tudo, inclusive a vida, e ainda lidar com a sensação de impotência, resultando em um estresse psicológico pós-desastre. Steiner et al., (2013) afirma que esse tipo de sentimento pode trazer sérias consequências negativas ao indivíduo, como o total abandono as convenções sociais causando um comportamento destrutivo ou frustração com a qual o ser humano muitas vezes não é capaz de lidar.

Neste contexto, observa-se também a relação de apego das pessoas ao lugar, o que Tuan (1980) chama de topofilia, que é a relação afetiva que uma pessoa estabelece com o lugar, com o meio que o cerca, embora ainda há aqueles que desenvolvem a topofobia, que é a falta de afetividade ao lugar que também foi observado na comunidade São José, pois diante de tantas perdas alguns se encontram numa situação de total frustração e o lugar que antes era afetivo, passa então a ser aversivo e não saem do bairro por falta de opção e condições financeiras favoráveis.

A exposição a uma situação traumática como um desastre tem um forte impacto sobre a saúde mental das pessoas, que as tornam angustiadas e afligidas pelo medo e ansiedade de uma catástrofe ocorrer novamente e mais uma vez lidar com as perdas (SÁ et al., 2008). Por isso, é essencial um apoio emocional para populações que vivem em áreas de risco e sejam oferecidos serviços que visem e/ou mitigam o impacto emocional de um desastre para que os indivíduos possam retornar ao normal de suas vidas.

A tabela 4 descreve a percepção da população quanto a reação da mesma após ter vivenciado desastres na área.

Tabela 4 - Percepção dos atores sociais sobre como a população reage quando ocorre um desastre

Respostas dos atores sociais

A

Desespero, medo

28

B

Pede ajuda aos vizinhos

27

C

Suspende os móveis e eletrodomésticos (em cima de tijolos) e sai de casa

27

D

Sai imediatamente da residência com a família

24

E

Tenta salvar o que pode (objetos materiais)

23

F

Revolta por achar que o poder público não apresenta soluções para o problema que é recorrente

20

G

Solidariedade

18

H

Procuram assistência e tentam permanecer no local para não perder o pouco que tem

15

I

Aguarda ajuda do poder público (alimentos, colchões, roupas)

11

J

Liga para Defesa Civil

9

É perceptível que a população do bairro São José apresenta despreparo para lidar com um desastre, uma vez que a resposta mais citada é o desespero e medo e muitos relatam que diante desse sentimento não conseguem agir, e isso ocorre pela ausência do poder público no local que deveriam nortear e desenvolver um trabalho de conscientização antes de um desastre para que, diante de evento extremo saibam como agir.

Apesar disso, a população primeiramente busca resolver os danos sem buscar auxílio do poder público, pois expressam um sentimento de revolta e total descredibilidade, ao afirmar que os governantes não fazem nada para de fato resolver o problema e deste modo apresentam, ainda que de maneira tímida, uma certa capacidade de resistir e adaptar-se diante de uma situação adversa. A isso, dá-se o nome de resiliência que de acordo com UNISDR (2009) é a capacidade de um sistema, comunidade ou sociedade expostos a uma ameaça para resistir, absorver, adaptar-se e recuperar-se.

A resiliência desta comunidade é muito precária devido a ineficiência do poder público na localidade, e para que um processo de resiliência seja satisfatório é necessário investimento público e privado capazes de assegurar estruturas que garantam uma melhoria da resiliência econômica, social, cultural e da saúde da população, visando assim prevenir e reduzir as perdas em todos os sentidos (UNISDR, 2009).

A tabela 5 apresenta a percepção dos entrevistados sobre a atuação do poder público e políticas públicas desenvolvidas na área, diante dos desastres recorrentes.

Tabela 5 - Percepção dos atores sociais sobre a atuação do poder público
(defesa civil e prefeitura) diante de situações de desastres.

Respostas dos atores sociais

A

Ruim

22

B

Péssima

19

C

Só aparecem quando acontece algum desastre e depois não retornam

17

D

Não desenvolvem nenhum trabalho para prevenir os desastres

15

E

Ruim, pois desenvolvem apenas medidas paliativas

15

F

Não existe políticas públicas voltadas para a localidade

12

G

Retiraram algumas famílias do bairro e demoliram as casas que se encontravam em áreas de maior risco. As que já foram relocadas se encontram em situação de abandono pelo poder público, pois agora tem um custo de vida que antes não tinham e assim vivem em condições de maior vulnerabilidade social e econômica, e as famílias que aguardam a relocação vivem no bairro com um auxilio aluguel que não dá para pagar um aluguel pois o valor concedido é inferior.

10

É possível verificar nas repostas dos entrevistados a ausência do poder público numa área que é considerada de alto risco pela Coordenadoria Municipal de Proteção de Defesa Civil (COMPDEC). O sentimento expresso em todas as respostas é de insatisfação, ao ponto de considerar a ação dos governantes como ruim e péssima e afirmarem que não existe a prática de políticas públicas no bairro.

A Defesa Civil é um órgão governamental que visa evitar ou mitigar os desastres, buscando resguardar a integridade física e moral da população e restabelecer a normalidade social através de ações de prevenção, socorro e assistências. E cabe ao poder executivo municipal oferecer condições para que a comunidade possa se prevenir e desenvolver respostas adequadas diante de um evento danoso, com o intuito de redu­zir os desastres ou minimizar os prejuízos, através da Defesa Civil (MELO & SANTOS, 2011).

No entanto, segundo os moradores do bairro, existe apenas medidas ou ações emergenciais e paliativas, com o objetivo de minimizar os efeitos negativos momentâneos, mas após não existe o desenvolvimento de nenhum trabalho que vise a prevenção dos desastres e suas consequências, respostas ou ajustamentos, ou ainda que busque uma melhoria para o ambiente.

Outro ponto levantado pelos moradores é o Projeto de urbanização para a comunidade, que de acordo com a Secretaria de Planejamento Municipal consiste na urbanização e construção de moradias verticalizadas para as famílias do bairro com recurso do PAC- II (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo Federal e município, orçado com valor de 65 milhões. O projeto já teve início, e algumas casas foram demolidas e suas famílias relocadas para apartamentos que estão localizados no bairro ao lado (Manaíra), também nas margens do rio Jaguaribe, mas em uma área alta que não oferece risco de inundações.

Porém, as situações de vulnerabilidade destas famílias permanecem e em alguns casos foi agravada, pois aqueles que agora vivem em apartamentos tem um custo de vida mais elevado do que quando residiam no bairro anterior e em suas falas revelam que o poder público não deu nenhuma assistência posterior, o que está levando muitas famílias a venderem os imóveis (mesmo sendo proibido) e retornando para o bairro, ocupando novamente as áreas de riscos. Esta realidade demonstra o não interesse do poder público em buscar soluções para uma população tão castigada e ausência de políticas públicas em áreas tão frágeis ambientalmente e socialmente.

5. Considerações Finais

No Bairro São José o crescimento demográfico não foi acompanhado de obras de infraestrutura que garantissem ao meio ambiente e à população condições seguras para seu desenvolvimento, e resultou na ocupação de áreas de riscos e uma população altamente vulnerável. A partir do estudo é possível afirmar que os órgãos públicos devem priorizar uma gestão da redução de riscos para localidade e não apenas medidas paliativas quando ocorre um desastre.

Foi possível identificar que os moradores percebem vários riscos ao seu entorno e destacam a ausência de políticas voltadas para uma gestão da redução dos riscos. E diante da situação alarmante em que muitas famílias vivem no bairro São José fica evidente que investigar a percepção de grupos populacionais como este é extremamente importante, constituindo uma ferramenta para auxiliar numa gestão de redução dos riscos, a partir da identificação dos riscos e assim preveni-los e evitar os possíveis eventos adversos, através da interação de todos envolvidos no processo, desde os gestores públicos até a comunidade.

Santelices (2004) destaca que as percepções estão determinadas por fatores que muitas vezes não são considerados relevantes pelos especialistas, onde existe um conhecimento significativo e importante a partir das percepções dos "não-especialistas" que contribuirá para prevenção de desastres.

Portanto, a gestão no bairro São José deve ser realizada a partir da integração de todos os setores envolvidos, ou seja, uma ação conjunta por parte dos poderes públicos e com a participação obrigatória da população, para assim, se ter maiores chances de sucesso e menos desastres para esta população já tão sofrida.

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1. Doutoranda em Recursos Naturais. UFCG. E-mail: monalisacristinasm@hotmail.com
2. Professor Titular Doutor. Departamento de Engenharia Agrícola. UFCG. E-mail: maxprestesbarbosa@bol.com.br


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 23) Año 2016

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