Espacios. Vol. 37 (Nº 23) Año 2016. Pág. 15

Características das empresas incubadas no MIDI tecnológico que se compatibilizam com a formação de cluster

Characteristics of incubated companies in the technological midi that make compatible with cluster formation

Marco Aurélio Batista de SOUSA 1; Ilse Maria BEUREN 2

Recibido: 06/04/16 • Aprobado: 08/05/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Cluster

3 Procedimentos metodológicos

4 Características atribuídas ao cluster presentes nas empresas incubadas

5 Conclusões

Referências


RESUMO:

Este estudo tem por objetivo identificar as características das empresas incubadas no MIDI Tecnológico que se compatibilizam com as preconizadas na abordagem teórica para a formação de cluster. Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória do tipo survey, buscando estabelecer relações entre o referencial teórico do estudo e a realidade das empresas pesquisadas nesta incubadora. A população alvo do estudo compreendeu as empresas residentes no MIDI Tecnológico, utilizando-se de questionários com questões abertas e fechadas além de visitas in loco para coletar dados e informações pertinentes à pesquisa. Para analise dos dados foi utilizada as abordagens qualitativa e quantitativa. E, os resultados da pesquisa demonstram que as características das empresas incubadas na incubadora, mesmo com evidências fracas, na maioria se compatibilizam com as preconizadas na abordagem teórica para a formação de cluster.
Palavras-chave: Características das empresas incubadas; características para a formação de cluster; cluster

ABSTRACT:

This study was done to identify the characteristics of incubated companies in the technological MIDI that are compatible with the outlined ones in the theoretical approach to create cluster. Therefore, an exploratory survey was done, searching to establish relations between the theoretical reference of the study and the reality of the researched companies in this incubator. The target population of this study was the resident companies in the Technological MIDI, using questioners with open and closed questions and also in loco visits to collect data and information relevant to the research. For the analysis of the data, qualitative and quantitative approaches were used. And , the research results, show us that the characteristics of the incubated companies in the incubators, even if with weak evidence, are in the majority, compatible with the outlined ones (recommended ones) in the theoretical approach to create cluster.
Keywords: Incubated companies characteristics; cluster formation characteristics; cluster.

1. Introdução

O final do século XX foi marcado por uma série de acontecimentos e alterações nos mais variados segmentos da sociedade, que incentivaram a competitividade dos mercados. Acontecimentos como a globalização, a formação e organização de blocos econômicos entre países, a redução ou a eliminação de barreiras alfandegárias, dentre outros fenômenos, obrigaram as organizações a se adaptarem a esta nova realidade competitiva.

Estes acontecimentos, além do desenvolvimento e da expansão dos mercados, têm sido acompanhados pela constante e crescente evolução da tecnologia, proporcionando transformações nas atividades realizadas pelas organizações, dando a elas a possibilidade de desfrutar de suas funções.

Entretanto, salienta-se que nem todas as organizações apresentam o mesmo estágio de desenvolvimento e aprimoramento de suas atividades, não conseguindo participar de tais transformações por várias razões: restrição de crédito, falta de investimentos, entre outros. Geralmente as empresas de pequeno porte encontram mais dificuldades, especialmente em captar recursos e competências, sejam elas quais forem.

Neste cenário, as incubadoras de empresas surgem como uma estrutura que tem a capacidade de promover e colaborar em projetos que resultem na constituição de empresas mediante a formação técnica e gerencial do empreendedor, possibilitando o processo de inovação e contribuindo para o seu desenvolvimento (LEITE, 2000).

A sobrevivência dos empreendimentos, originários de um processo de incubação, depende da capacidade de avaliar e contrapor a dinâmica competitiva, que deriva em grande parte da acumulação de um conjunto de diferentes elementos que possam favorecer a continuidade de suas atividades. Medeiros et. al. (1992) relatam que as empresas terão grandes dificuldades em sobreviverem sozinhas em um mercado cada vez mais exigente e competitivo.

A ideia é a de que nenhuma empresa é competitiva isoladamente. Necessitam de mecanismos que possam contribuir para a sua sobrevivência, principalmente as pequenas empresas e uma das possibilidades para que essas entidades possam desfrutar de apoio, após o processo de incubação, é a formação de alianças e redes de relacionamentos entre si, como por exemplo, um cluster.

A formação deste tipo de agrupamento pelas empresas que passaram pelas incubadoras de empresas seria uma alternativa para que elas permaneçam unidas e continuem a compartilhar recursos. Além disso, aproveitar outras questões que foram trabalhadas quando do período de incubação, dando mais ênfase à cooperação entre elas, o que facilitará a formação do cluster.

Esta forma de cooperação entre empresas possibilita mais poder de negociação com seus fornecedores e clientes, redução dos seus custos totais, aumento da capacidade produtiva e de inovação, propiciando, inclusive, a conquista de novos mercados. A associação tende a aumentar a lucratividade de cada empresa individualmente, bem como promover o desenvolvimento do cluster.

Assim, diante desta contextualização, o foco central desta pesquisa foi estudar as características das empresas residentes em incubadora de empresas e verificar se estas coadunam com as preconizadas na literatura para formar um cluster. Para tanto, este trabalho esta estruturado da seguinte forma: seção 2 comenta-se a respeito dos clusters, sua importância, suas vantagens, suas características e o seu processo de formação; em seguida na seção 3, destaca-se a respeito da metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa e posteriormente na seção 4 apresentam-se os resultados do estudo mediante a exposição das características atribuídas ao cluster presentes nas empresas incubadas. E, por fim, na seção 5, têm-se as conclusões.

2. Cluster

A concepção de agrupamentos setoriais em determinado espaço geográfico e sob o enfoque econômico de acordo com Schmitz (1997), Garcez (2000) e Leonello (2001), deriva das observações e análises dos chamados distritos industriais britânicos, que foram realizadas pelo economista inglês Alfred Marshall, no final do século XIX. As observações e análises feitas por Marshall mencionavam os possíveis ganhos de eficiência, proporcionados pela especialização produtiva de firmas localizadas em uma mesma região geográfica, e os benefícios que a cooperação e a concentração de atividades produtivas poderiam trazer aos parceiros.

O paradigma de desenvolvimento ao qual se refere esta forma de associativismo organizacional vem evoluindo e se expandido pela divulgação de estudos e experiências realizadas em diversos países. Porter (1998) e Casarotto Filho e Pires (1999), citam a região da Emilia-Romagna, na Itália, e o Vale do Silício, nos Estados Unidos, como as localidades que possuem o maior destaque em todo o mundo em função das conquistas que obtiveram com a prática associativa entre empresas e com o modelo de cluster, influenciando a experiência em outros países.

Porter (1998) e Dias (2002), entendem que os clusters se constituem de diversas empresas, entidades e instituições, que, juntas em uma mesma localidade, podem proporcionar uma interação econômica e de estratégias de decisão, com o objetivo de alcançar competitividade.

Este tipo de organização procura intensificar as atividades produtivas e inovadoras de forma integrada à questão do espaço e das vantagens competitivas proporcionadas pela proximidade das empresas e pelas relações existentes entre elas. Busca estimular à aglomeração, a afinidade, a articulação, o estabelecimento de um ambiente favorável e o apoio de instituições em função da consolidação e do fortalecimento de alianças.

2.1 Importância dos clusters

A importância dos clusters pode ser entendida nas concepções e fatores que envolvem os aspectos relacionados à organização industrial e à economia regional (BRITTO e ALBUQUERQUE, 2001).

Na perspectiva da organização industrial, a importância do cluster,sob o enfoque da literatura organizacional, está intrínseca à viabilização de ações que permitam às empresas enfrentar desafios do mercado, além de criar alternativas em face da crescente concorrência e competitividade. Estas alternativas possibilitam às empresas, mediante a interação, o aumento da produtividade, o alcance de matéria-prima, mão de obra, maquinário, informação, bens e serviços com mais qualidade, entre outros aspectos que facilitam a sua incursão e permanência no mercado.

Enquanto na perspectiva da econômica regional, o cluster se destaca como um mecanismo de incursão e estímulo ao desenvolvimento da região na qual está inserido. A consideração atribuída à economia regional reporta aos fatores locais que influenciam a instalação de uma entidade empresarial em uma determinada localidade. Estes fatores são formados por condições ambientais, políticas públicas e de entidades privadas, direcionadas ao desenvolvimento regional, que buscam, entre outros aspectos, estimular a fixação de empresas na região, proporcionando benefícios e condições para a sua consolidação e expansão.

Paiva Júnior e Barbosa (2001) comentam que, além dos membros do cluster se beneficiarem de investimentos feitos de forma coletiva com a intenção de aumentar a produtividade grupal, o cluster também contribuirá na geração de novos negócios, por reduzir os riscos e promover a descoberta de oportunidades de mercado.

2.2 Vantagens em se associar em cluster

As empresas, ao participarem de um cluster, poderão obter ganhos de eficiência que dificilmente conseguiriam se agissem de forma isolada. O cluster, por meio da interação entre as empresas, decorrente da atuação articulada entre elas, proporcionará ao conjunto vantagens que se refletem em desempenho diferencial à atuação de cada empresa individualmente, visando estimular o ambiente de competição. Desde modo, Gaspar et. al. (2014, p. 3) afirmam que as vantagens conquistadas pelos participantes de um cluster, "dependem da concentração espacial e da determinação do equilíbrio entre a competição e cooperação entre as empresas participantes".

Porter (1998, p. 80) diz que este agrupamento empresarial pode oferecer às empresas vantagens que afetam a sua competitividade de três maneiras principais:

primeiro, pelo aumento da produtividade das empresas sediadas na mesma região; segundo, pela orientação da direção e a velocidade da inovação, a qual sustentará o futuro crescimento da produtividade; e terceiro, pelo estímulo à formação de novos negócios, que se expandem e fortalecem o próprio cluster.

A produtividade, de acordo com Porter (1999, p. 221), é "o valor por dia de trabalho e por unidade de capital ou por recursos físicos utilizados".  No cluster, segundo este autor, as empresas terão a possibilidade de operarem mais produtiva e eficientemente, na aquisição de insumos, no acesso s informações, na complementaridade entre elas, no acesso a instituições e bens públicos, e nos incentivos e mensuração do desempenho.

Igliori (2001) faz referência que neste agrupamento surge o espaço para que as empresas ganhem competitividade ao participarem dos processos de inovação.

O ambiente no cluster e a sinergia entre os agentes contribuirão para este fato, e decorrem da constatação de que os fluxos de inovação são potencializados quando se formam sistemas de relacionamento entre empresas e agentes (governo, fornecedores, empresas, instituições e outros) fundamentados localmente.

A formação de novos negócios surge em função da oportunidade que é oferecida pelo próprio cluster. Porter (1999, p. 237) cita que:

os indivíduos que trabalham dentro ou nas suas proximidades percebem com maior facilidade as lacunas a serem preenchidas nos produtos, nos serviços ou nos fornecedores. Com base nesse insight, esses indivíduos mais rapidamente deixam as empresas estabelecidas para iniciar novos negócios com o objetivo de preencher essas lacunas.

Estes novos negócios buscam atender às necessidades das empresas, sejam elas quais forem. Ao redor do cluster, instalam-se outras empresas, com o intuito de preencher as lacunas existentes e contribuir para a cadeia de suprimento das empresas, que vai desde a matéria-prima e outros insumos até a saída do produto final para venda.

Para Leonello (2001), a grande vantagem do cluster está no fato de que ele resgata o poder de competitividade das empresas. Este sistema possui características próprias, que colaboram e estimulam as empresas a alcançarem e a se apropriarem dessas vantagens.

2.3 Características do cluster

As características do cluster incluem certas questões que incidem sobre suas peculiaridades, sendo estas distintas a cada modelo organizacional existente, neste caso, a cada cluster e seu desenvolvimento. Apesar disto, há características comuns em praticamente todos eles,inclusive com consenso dos seguintes autores: Schimitz (1997), Porter (1998; 1999), Barboza (1999), Britto (2000), Amato Neto (2002), Badê (2002), Suzigan et. al. (2002) e Zacarrelli (2002). No Quadro 1 apresenta-se estas características, com as respectivas descrições.

Características

Descrição

Concentração geográfica e setorial de empresas

 

Condição essencial para a existência do cluster. Esta concentração promoverá facilidades ao agrupamento e ao processo associativo entre os seus participantes.

Proximidade física entre as empresas

 

 

Contribui para que as vantagens e oportunidades obtidas através do cluster possam ser compartilhadas por todos. E para amenizar os possíveis obstáculos impostos pelo mercado, mediante o fortalecimento deste agrupamento empresarial.

Estrutura coletiva compartilhada

 

Refere-se aos recursos, infraestrutura e serviços que são compartilhados no cluster.

Presença de agentes não similares

Responsáveis por auxiliar as empresas no desenvolvimento de suas atividades e em abastecê-las em suas necessidades.

Afinidade entre as empresas

 

Tendência das empresas em combinar-se, motivadas pela atração, simpatia destas entidades originadas na identidade de seus interesses.

Cooperação entre empresas

Atuação conjunta a fim de atingir um determinado objetivo.

Parcerias entre empresas

União e ação conjunta no desenvolvimento de bens ou serviço, ou mesmo em algo que possam vir a favorecê-las.

Competição entre empresas

Necessária para a manutenção de seus respectivos mercados.

Rede de relacionamentos

 

 

Favorece o fortalecimento, o desenvolvimento e a expansão do cluster e das empresas que dele participam. Isto ocorre, devido à possibilidade de alcançar diferentes agentes, como universidades, centros de pesquisas e outros que colaboram com o cluster em suas necessidades.

Formação de alianças entre as empresas e com outras instituições fora do cluster

Irá colaborar para fortalecer o cluster, por iniciativa das empresas na reunião de associações empresariais e no envolvimento com outras instituições.

Confiança entre empresas

 

Elemento central de cooperação e parceria que sustenta as relações entre empresas, entidades e do próprio cluster.

Flexibilidade empresarial e organizacional

Possibilita a agilidade nas respostas aos anseios e às necessidades do mercado consumidor, mais rápidas que a de seus concorrentes.

Processo constante de inovações em suas atividades

 

Um dos fatores fundamentais para a sobrevivência do agrupamento empresarial. No cluster, este processo é intensificado pela rede de relações entre os diferentes agentes dentro e fora da organização.

Qualificação da mão-de-obra

 

Capacidade de atrair pessoas talentosas, e o próprio processo de inovações promovido pelo agrupamento irá estimular e contribuir para esta qualificação.

Qualidade dos bens e serviços desenvolvidos e produzidos pelas empresas

Possibilidade de melhoria da qualidade do que é produzido pelas empresas, mediante a introdução de novas técnicas de produção, consultorias especializadas e inovações.

Ganhos de eficiência

 

Proporcionados pela capacidade do agrupamento em promover ações conjuntas entre as empresas e entre agentes externos.

Aumento da competitividade das empresas

Ocorre pela mobilização e esforços conjuntos para a melhoria e capacitação técnica, operacional e administrativa das empresas.

Quadro 1: Características do cluster

Dentre estas características, a concentração geográfica e setorial de empresas em uma determinada localidade é, de acordo com Amato Neto (2002), essencial para a existência do cluster.

Porém, somente essa concentração não garante a sua existência. Badê (2002) relata que essas empresas precisam estar próximas uma das outras para melhor aproveitar os recursos e compartilhamento das vantagens obtidas através deste modelo organizacional.

A concentração de empresas em certas regiões e as proximidades físicas entre elas, favorecem, entre outros fatores, o compartilhamento da estrutura coletiva existente. A Organização das Nações Unidas – ONU (1998, p. 6) destaca que "os agrupamentos organizados são caracterizados por um processo de estrutura coletiva, principalmente no que diz respeito à infraestrutura e aos serviços, concebidos para analisar e enfrentar problemas comuns".

Além do mais, estes fatores também impulsionam e estimulam a instalação nestes agrupamentos ou ao seu redor de diversos agentes que contribuem, cada um com suas especificidades, para o desenvolvimento do cluster. Britto (2000, p. 9) revela que outra característica identificada no cluster é "o agrupamento de agentes não similares, mas que apresentam competências complementares, o que reforça a interdependência entre eles", os quais são responsáveis pelo fornecimento de insumos e recursos de que o cluster, assim como as empresas que o formam, necessitam para o desenvolvimento de suas operações.

No que concerne à característica afinidade, Porter (1999, p. 240) destaca que "o aglomerado é uma forma de rede que se desenvolve dentro de uma localização geográfica, na qual a proximidade das empresas e instituições assegura certas formas de afinidades e aumenta a frequência e o impacto das interações". A afinidade é fundamental para que as empresas possam se relacionar entre si e desenvolver ou praticar ações conjuntas. 

Estas características favorecerão o processo cooperativo entre as empresas e a formação de parceria entre elas. Almeida e Fischmann (2002) esclarecem que as empresas podem cooperar mediante o empréstimo de ferramentas, pela troca de experiências técnicas e administrativas com outras empresas do cluster, dependendo da situação.

Em relação às parcerias realizadas pelas empresas, estas são ocasionadas pelo desenvolvimento de algum tipo de produto, processo ou serviço conjuntamente ou na realização de alguma atividade, em ações que as empresas possam se beneficiar, sejam elas quais forem.

A cooperação e as parcerias formadas, pelas empresas pertencentes ao cluster, não impedem a competição entre elas. Schmitz (1997) cita que as empresas competem para preservar a sua atuação em um ambiente interno e externo e, ao mesmo tempo, cooperam em áreas nas quais não são competitivas umas com as outras, bem como estabelecem parcerias para almejar novos mercados e consumidores ou para alcançar outros objetivos. 

Barboza (1998, p. 9) salienta que a "combinação de cooperação e competição entre as empresas na localidade se auto-estimula e poderá gerar sinergias que serão poderoso fator de inovação, crescimento e expansão da atividade local".

Estas sinergias se dão tanto entre as empresas que compõem o cluster, como também decorrem do auxílio e do estímulo das redes de relacionamento com diferentes agentes que promovem o desenvolvimento do cluster e de seus participantes.

As redes de relacionamentos também são características presentes no cluster que auxiliam as empresas na busca de vantagens, sendo fundamentais para a expansão deste agrupamento empresarial.

Os relacionamentos entre empresas e diferentes agentes proporcionarão a formação de alianças entre estas entidades dentro e fora do cluster. A formação de alianças, para Barboza (1998), normalmente é realizada com o poder público e entidade da sociedade civil, sendo estas vinculadas às atividades econômicas, como as associações empresariais.

Essas associações, conforme Porter (1999, p. 240), "desempenham um papel importante na facilitação do processo de formação de redes". Elas podem colaborar na instituição de centros de serviços direcionados para o controle de qualidade para formação, capacitação e qualificação da mão de obra, entre outros.

A rede de relações, constituída por meio do cluster pelas empresas que dele participam, promove a inter-relação de confiança entre os diferentes agentes, assim como entre as empresas pertencentes ao cluster. A confiança, segundo Amato Neto (2000, p. 61), é "elemento central nas relações de cooperação e fator decisivo, que faz com que os parceiros respeitem os compromissos assumidos entre as empresas pertencentes à determinada rede". Ela só é estabelecida quando do fortalecimento das relações entre os diferentes protagonistas do cluster e das redes de relações diversas.

A confiança e o fortalecimento das relações de interdependência, entre as outras características já mencionadas, levam à complementaridade das competências no interior desses aglomerados e a uma maior flexibilidade das empresas que deles participam.

A agilidade e a flexibilidade contribuem para que as entidades possam, na concepção de Amato Neto (2002, p. 57), responder "a crises e oportunidades de forma mais dinâmica, uma vez que suas especialidades podem ser reorganizadas em novos processos". Além de conquistar mercados e oportunidades, adequando-se com mais facilidade e sem grandes traumas às exigências e aos anseios dos consumidores.

Para tanto, as empresas pertencentes ao cluster precisam manter um processo constante de inovações em suas atividades. Porter (1999) diz que a existência do aglomerado, bem como o seu desenvolvimento, proporcionam um aumento da capacidade das empresas em inovarem suas atividades, sejam elas quais forem, mediante a associação das empresas em cooperação, parcerias, rede de relacionamentos, formação de alianças.

Com isto surgem neste tipo de agrupamento, pessoas talentosas e qualificadas, em função da rede de relações mantida pelo aglomerado, pelo processo constante de inovação. O cluster também é caracterizado pela possibilidade de atrair pessoas com mais qualificação e qualificar a mão de obra já existente na região. Pela qualificação da mão de obra e outros fatores identifica-se no cluster uma melhoria da qualidade dos bens e serviços desenvolvidos e produzidos pelas empresas que o constituem.

Estas características, dentre outros fatores, possibilitam que as empresas e o conjunto do cluster consigam ganhos de eficiência coletiva em suas atividades, que individualmente não teriam a capacidade de conquistar.

Os ganhos referentes à eficiência coletiva obtida pelas empresas, como também pelo próprio agrupamento, favorecem o aumento da competitividade destas organizações e lhes permitem ampliar as fronteiras de atuação e abarcar novas oportunidades de negócios. 

Garcez (2000, p. 356) esclarece que "a ocorrência da ação conjunta é que vai determinar a possibilidade de inserção no panorama competitivo em patamares melhor posicionados, promovendo os chamados ganhos de eficiência e elevando a competitividade".  Além disto, o aumento na competitividade das empresas é acompanhado pelas vantagens do cluster, que contribui em termos de produtividade, flexibilidade, inovação e acesso a diferentes tipos de insumos.

Essas características constituem avanços na posição competitiva para as empresas inseridas no cluster. No entanto, será a capacidade do cluster de implementar políticas que fomentem o desenvolvimento das oportunidades inerentes à concentração geográfica, e das empresas em saber aproveitá-las, que determinará o seu sucesso.

As conquistas que o cluster pode almejar e conseguir estão relacionadas com seu processo de formação

2.4. Processo de formação de um cluster

O cluster representa uma organização constituída por empresas independentes, ligadas entre si por laços mútuos, não necessariamente contratuais ou formais, que comungam objetivos e/ou interesses comuns e desenvolvem ações coordenadas que se repetem ou que se envolvem ao longo do tempo, compartilhando riscos e oportunidades. A interdependência das empresas que configuram o cluster é o resultado da autonomia que cada uma delas tem em tomar suas próprias decisões.

Zaccarelli (2002, p. 198) cita que "um cluster não é uma organização formalizada de empresas, na qual elas se inscrevem e ganham uma carteirinha de membro do cluster como se fosse um clube ou associação". Neste agrupamento, a seleção dos participantes acontece naturalmente, já que isto decorre da vontade dos empresários de formar parcerias e se agrupar, ou de acontecimentos que, sem esta intenção, contribuem para este direcionamento, e das necessidades de associar-se.

Desta maneira, o processo de formação do cluster pode ocorrer tanto pelo agrupamento espontâneo de empresas similares em uma determinada região quanto pelo agrupamento intencional e planejado de empresas similares em uma região.

a) Agrupamento espontâneo de empresas similares em determinada região

No agrupamento espontâneo, as empresas vão se agrupando sem que haja uma intenção inicial para este fato. Quando uma determinada empresa se instala em uma região e ocorre sua consolidação e sucesso, surgem ao seu redor outras empresas que tendem a seguir o mesmo caminho para abastecê-la ou tentar desfrutar de algum outro possível benefício. Porter (1999, p. 252) identifica que:

os eventos aleatórios por vezes são importantes no nascimento de um aglomerado. A formação das primeiras empresas numa localidade reflete, em geral, iniciativas empreendedoras que não se explicam inteiramente pela existência de circunstâncias locais favoráveis. Em outras palavras, essas empresas poderiam ter germinado em qualquer uma de muitas localidades semelhantes. O estabelecimento do aglomerado Callaway Golf em Carlbad, em vez de qualquer outra cidade do Sul da Califórnia, foi mero produto do acaso.

A instalação de um empreendimento em uma localidade implica questões que envolvem aspectos relacionados à viabilidade dos seus negócios e à possibilidade de expandi-los e se beneficiar de algo que existe na região e que fez a empresa nela se fixar. Portanto, como salienta Porter (1999, p. 253), "o que parece acaso talvez seja o resultado de circunstâncias locais preexistentes".

No entanto, no processo de formação de um cluster, também há situações em que o agrupamento empresarial foi planejado e direcionado a uma determinada área geográfica, em função de algum atrativo existente.

b) Agrupamento intencional e planejado de empresas similares em uma região

O agrupamento intencional e planejado de empresas similares em uma determinada região envolve questões, tais como: conhecimento das potencialidades, vantagens locais e regionais, e de todo o envolto que está à mercê de sua constituição. Amato Neto (2000, p. 55) destaca que "podem ser citados casos em que os clusters foram formados por fatores e condições locais, demanda local e indústrias relacionadas".

Porter (1998) sintetiza este processo de formação do cluster ao ressaltar alguns fatores que podem interferir nas condições locais. Sendo assim, o cluster pode ser formado por intermédio de pesquisas realizadas em centros de estudos, como universidades; por circunstâncias e estratégicas locacionais, como: infraestrutura, portos e ambiente que facilite a sua fixação.

Outro fator é a existência anterior de indústrias de insumos, indústrias correlatas, ou até mesmo de clusters inteiros correlatos que promovem o aparecimento de outros clusters. Além disto, o cluster também pode emergir quando uma ou duas empresas de inovação estimulam o crescimento de outras.

Independentemente da maneira de como é formado o agrupamento, espontâneo ou intencional, quando ele começa a se formar, um ciclo de auto-sustentação vem ao seu encontro e promove seu crescimento. Isto é fomentado especialmente quando instituições locais fornecem apoio, sendo que a principal razão para a sua formação, conforme Igliori (2001), está na capacidade competitiva, que é derivada do relacionamento das empresas.

A sua formação, bem como o seu desenvolvimento, para Zaccarelli (1995), não é algo que acontece de um momento para o outro, pois precisa de um espaço de tempo, em decorrência das particularidades e da necessidade de maturação das práticas associativas e dos fatores próprios à sua constituição e consolidação.

3. Procedimentos metodológicos

A presente pesquisa caracteriza-se como sendo do tipo exploratório. As principais finalidades deste tipo de estudo, de acordo com Tripodi, Fellin e Meyer (1981, p. 64), são "desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias a fim de fornecer hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores".

Dentre dos preceitos de um estudo desta natureza, este artigo foi dividido em duas etapas: pesquisa em fontes secundárias e pesquisa do tipo survey. A pesquisa em fontes secundárias ocorreu por meio de levantamento bibliográfico sobre o tema. Em relação ao estudo do tipo survey, Freitas et. al.(2000, p. 105) relatam que este pode ser descrito "como a obtenção de dados ou informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas, indicando como representante de uma população-alvo, por meio de um instrumento de pesquisa, normalmente um questionário".

No que diz respeito à abordagem da pesquisa caracteriza-se por utilizar tanto a abordagem qualitativa quanto a quantitativa.

A abordagem qualitativa foi usada por descrever as características de uma determinada população, ou seja, as empresas incubadas no Midi Tecnológico, bem como suas simetrias em relação à formação de um cluster, e assim "contribui no processo de mudança de determinado grupo possibilita, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades dos indivíduos" (RICHARDSON, 1990, p. 80). Enquanto a abordagem quantitativa foi utilizada por "empregar como parâmetro o uso de critérios, categorias, escalas de atitudes, ou, ainda, identificar com que intensidade, ou grau, um determinado conceito, uma opinião, um comportamento se manifesta" (OLIVERIA, 1997, p. 116). O que ocorreu quando da solicitação dos respondentes em pontuar quais características atribuídas ao cluster estavam presentes nas empresas incubadas (Tabela 1) e destacá-las por meio de uma média quantidade de atribuições, e em outro momento do texto (Tabela 2) apresentar a intensidade destas características em escalas que variam de zero (características muito fraca), a quatro (característica muito forte).

Em relação ao nível de análise da pesquisa ele é organização, pois contempla a incubadora de empresa MIDI Tecnológico, e os empreendimentos que nela residem correspondem às unidades específicas de análise e a população do estudo.

A respeito desta incubadora, cabe destacar que se trata de um projeto de incubação de empresas de base tecnológica, localizado em Florianópolis/SC e mantido pelo SEBRAE/SC, em parceria com a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (ACATE) que a gerência. Além destas entidades à incubadora conta com várias outras para a manutenção de suas atividades.

A incubadora iniciou suas atividades em 1997 e no ano seguinte lançou o seu primeiro edital para selecionar projetos para o processo de incubação. Atualmente conta com 14 módulos em uma área física de 1.000 m², módulos de uso individual, que variam de 22 a 55 m², mobiliados com mesas, cadeiras, armários, arquivos, aparelhos de ar condicionado, linhas telefônicas e acesso à internet. Também fazem parte desta área física: um auditório, salas de reunião; sala de informática todas devidamente equipadas para melhor atender os empreendedores.

No MIDI Tecnológico, os serviços que são disponibilizados às empresas são os serviços administrativos: reprografia, encadernação e plastificação de documentos; recepção, controle, emissão e entrega de fac-símiles; office-boy; serviços de correio; de copa; de manutenção, conservação e limpeza; serviços de recepção, segurança e vigilância 24 horas. E, assim, pode-se destacar que a incubadora oferecem aos empreendimentos incubados condições favoráveis para que eles desenvolvam seus produtos/serviços e conquistem o mercado.

A incubadora apoia as empresas na obtenção de recursos financeiros e capital humano. Fornece consultorias para marcas e patentes, gestão empresarial, administração financeira e contábil, marketing, e outros. Incentiva e auxilia, quando da participação destas empresas em eventos. Isenta e/ou reduz a carga tributária municipal dos incubados. Fornece subsídios de até 50% sobre o valor das áreas ocupadas pelas empresas. Promove o acesso direto ao programa de exportação de produtos relacionados ao desenvolvimento de software e de assistência médico-hospitalar e odontológica para os empreendedores e funcionários.

As empresas em incubação no MIDI Tecnológico são especializadas na produção de hardware e software ena prestação de serviços nas áreas de: informática, design, eletroeletrônica/automação, Internet/e-commerce e médico-hospitalar. Estes empreendimentos em sua maioria possuem mais de uma pessoa (sócio), e algumas delas não possuem funcionários em seu quadro efetivo, em função de suas peculiaridades de produção. 

Para a coleta de dados nestes empreendimentos, utilizou-se como instrumento de pesquisa um questionário contendo questões abertas e fechadas que foi entregue em mãos aos representantes dos empreendimentos em incubação, além das visitas in loco para coletar dados e informações pertinentes à pesquisa. Posteriormente à obtenção destes dados, procedeu-se a sua organização e análise descritiva que tem por finalidade "enumerar ou descrever as características dos fenômenos (coisas, objetos, conhecimento ou eventos) com base em dados protocolares e ideográficos" (TRUJILLO FERRARI, 1982, p. 240).

4. Características atribuídas ao cluster presentes nas empresas incubadas

No período de incubação, algumas empresas desenvolvem e potencializam características que também podem ser atribuídas ao cluster. Entretanto, muitas delas não percebem que as possuem, o que, de certa forma, as impede de desenvolvê-las e aprimorá-las.

Sendo assim, buscou investigar quais das características atribuídas ao cluster são encontradas nas empresas em incubação no MIDI Tecnológico. Para tanto, solicitou-se aos respondentes que destacassem estas características, das quais resultou o cálculo da média e do desvio padrão de intensidade da presença destas características e o seu grau de intensidade.

a) Média e desvio padrão de intensidade da presença das características atribuídas aos clusters nas empresas incubadas

No que se refere à média e ao desvio padrão de intensidade da presença das características atribuídas aos clusters nas empresas incubadas, analisadas neste estudo, os resultados encontrados estão destacados na Tabela 1.

Tabela: 1 Média e desvio padrão de intensidade da presença das
características atribuídas aos clusters nas empresas incubadas

Características

Média

Desvio Padrão

Total de respostas

Divisão e compartilhamento dos recursos entre empresas.

2,79

0,94

14

Rede de informações e serviços entre as empresas

2,57

0,77

14

Qualidade dos produtos e serviços desenvolvidos pelas outras empresas

2,57

0,88

14

Qualificação de mão-de-obra das empresas

2,50

0,78

14

Renovação tecnológica das empresas

2,50

0,88

14

Crescimento e desenvolvimento das empresas

2,50

0,83

14

Empregos gerados

2,43

0,86

14

Processo constante de inovações em suas atividades

2,29

0,93

14

Afinidades entre empresas

2,29

0,86

14

Flexibilidade empresarial e organizacional

2,15

 

13

Intercâmbio de informações entre empresas

2,14

0,78

14

Rede de relações entre diferentes agentes, como universidades, centros de pesquisa, outras empresas próximas as suas empresas

2,14

0,82

13

Competitividade das empresas

2,07

0,75

14

Cooperação entre empresas

1,93

1

14

Parceria entre empresas

1,93

0,76

14

Confiança entre empresas

1,93

0,85

14

Potencialidade de produção

1,86

0,73

14

Flexibilidade gerencial e administrativa nas empresas

1,71

0,90

14

Poder de negociação destas empresas

1,71

0,84

14

Formação de alianças entre empresas e outras instituições

1,71

0,85

14

Formação de alianças entre empresas

1,57

0,88

14

Algum tipo de relações de complementaridade, quer seja produtiva, tecnológica, insumos, mão-de-obra

1,23

0,61

13

Atuação coletiva ou co-desenvolvimento de produtos, tecnologias e serviços

1,21

0,71

14

Integração com outras empresas

1,21

0,71

14

Estrutura organizacional rígida

1,00

0,68

14

                                                                                                                                                     

A característica que obteve a maior média entre os respondentes foi à divisão e compartilhamento dos recursos entre empresas, com 2,79. Também são observadas com mais intensidade as características: qualidade dos produtos e serviços desenvolvidos pelas outras empresas e rede de informações e serviços entre as empresas, ambas obtiveram média 2,57; qualificação da mão-de-obra das empresas, com 2,50, sendo que o mesmo valor é encontrado para renovação tecnológica das empresas e para o crescimento e desenvolvimento das empresas.

Na sequência, aparecem: empregos gerados, com média 2,43; processo constante e inovações em suas atividades e também afinidades entre as empresas, com 2,29; flexibilidade empresarial e organizacional com 2,15; intercâmbio de informações entre empresas e rede de relações entre diferentes agentes, ambos com 2,14; e competitividade das empresas, com2,07.

Em uma posição menos frequente, nota-se a presença das características: cooperação entre empresas; parceria entre empresas e a confiança entre empresas, com 1,93 cada uma; potencialidade de produção com 1,86; poder de negociação destas empresas, bem como a formação de alianças entre empresas e outras instituições e a flexibilidade gerencial e administrativa nas empresas, com 1,71; formação de alianças entre empresas, com 1,57; algum tipo de relações de complementaridade, com 1,23; atuação coletiva e integração com outras empresas, ambas com 1,21; e na última posição encontra-se a estrutura organizacional rígida, com média de1,00.

Em relação aos valores que correspondem ao desvio padrão, apresentado nesta tabela, salienta-se que as características que mais se aproximam de sua média as que apresentarem o menor desvio padrão, que, neste caso, são as seguintes: algum tipo de relação de complementaridade com desvio padrão de 0,61 e a estrutura organizacional rígida, com0,68. 

b) Intensidade da presença das características atribuídas ao cluster nas empresas incubadas

Para alcançar um parâmetro a respeito desta questão, solicitou-se aos respondentes que atribuíssem, numa escala de 0 (zero) a 4, para cada uma das características identificadas nas outras empresas em incubação. A nota 0 (zero) representa uma característica muito fraca, a nota (1) fraca, a nota (2) moderada, a nota (3) forte e a nota (4) muito forte. Os dados levantados constam na Tabela 2.  

Tabela 2: Intensidade da presença das características atribuídas
aos clusters nas empresas incubadas

Características

 Intensidade – Escala

Total

0

1

2

3

4

de resp.

Divisão e compartilhamento dos recursos entre empresas

1

5

4

4

14

Rede de informações e serviços entre as empresas

1

4

9

14

Qualidade dos produtos e serviços desenvolvidos pelas outras empresas

 -

1

6

5

2

14

Qualificação de mão-de-obra das empresas

 -

 -

8

5

1

14

Renovação tecnológica das empresas

 -

2

4

7

1

14

Crescimento e desenvolvimento das empresas

 -

1

6

6

1

14

Empregos gerados

1

8

3

2

14

Processo constante de inovações em suas atividades

3

6

3

2

14

Afinidades entre empresas

1

2

4

6

1

14

Flexibilidade empresarial e organizacional

2

7

4

 

13

Intercâmbio de informações entre empresas

2

1

5

5

1

14

Rede de relações entre diferentes agentes, como universidades, centros de pesquisa, outras empresas próximas as suas empresas

1

1

5

5

1

13

Competitividade das empresas

1

2

7

3

1

14

Cooperação entre empresas

 -

7

2

4

1

14

Parceria entre empresas

2

2

6

3

1

14

Confiança entre empresas

2

3

4

4

1

14

Potencialidade de produção

1

3

7

3

14

Flexibilidade gerencial e administrativa nas empresas

2

5

3

3

1

14

Poder de negociação destas empresas

2

4

6

 -

2

14

Formação de alianças entre empresas e outras instituições

3

3

4

3

1

14

Formação de alianças entre empresas

2

5

5

1

1

14

Algum tipo de relação de complementaridade, quer seja produtiva, tecnológica, insumos, mão-de-obra

1

8

4

 -

-

13

Atuação coletiva ou co-desenvolvimento de produtos, tecnologias e serviços

3

7

2

2

-

14

Integração com outras empresas

3

7

2

2

-

14

Estrutura organizacional rígida

6

2

6

14

 

Dentre as características analisadas, a que obteve o maior grau de intensidade foi a divisão e compartilhamento dos recursos, sendo considerada uma característica muito forte entre as empresas.

As características que receberam mais indicações, consideradas com um grau de intensidade forte, foram a rede de informações e serviços entre as empresas, seguida da renovação tecnológica das empresas. Salomão (1998) diz que a renovação tecnológica é um fator de sobrevivência das empresas e muito importante para a formação do cluster.

Consideradas com um grau de intensidade moderado entre as empresas, têm-se as características empregos gerados e a qualidade da mão-de-obra das empresas, ambas com o mesmo número de indicações. Em segundo lugar aparece a competitividade das outras empresas, a flexibilidade empresarial e organizacional e a potencialização da produção.

As características apontadas como sendo fracas foram: algum tipo de relação de complementaridade quer seja produtiva, tecnológica, insumos, mão-de-obra. Em seguida, a cooperação entre empresas, a integração entre empresas e também a atuação coletiva ou co-desenvolvimento de produtos de tecnologia e serviços.

A característica estrutura organizacional rígida foi considerada como a que possui o menor grau de intensidade entre as empresas, para os respondentes, ela é muito fraca. A classificação desta característica como a mais fraca de todas as observadas é um fator positivo para o processo de formação do cluster.

Mesmo com evidências fracas, observou-se nas empresas algumas das principais características atribuídas aos clusters. Algumas com um grau de intensidade muito forte, outras, porém, não foram identificadas com esta mesma intensidade e devem ser trabalhadas e potencializadas, por serem importantes para o cluster.

Deve-se atentar para o fato de que possivelmente estas características que foram mencionadas irão variar sua intensidade de acordo com as necessidades das empresas. 

5. Conclusões

As incubadoras de empresas, como os clusters, se configuram em mecanismos de apoio, auxílio e promoção às entidades empresariais, oferecendo vantagens e facilidades para a consolidação e difusão dos negócios dentro e fora de suas estruturas.

Em relação às incubadoras de empresas, estas se destinam a abrigar empreendedores, fornecendo-lhes estrutura física, material, além de outros recursos, apoiadas por entidades públicas e privadas, com o intuito de contribuir para a criação de um ambiente propício para o desenvolvimento de projetos específicos e para a criação de empresas.

Ao egressarem da incubadora, a união dessas empresas poderá minimizar as dificuldades com os quais poderão se deparar. O relacionamento poderá se dar de diferentes formas, entre elas, mediante o agrupamento empresarial denominado de cluster. Esta modalidade de associativismo é interessante pela flexibilidade e pelas vantagens competitivas que as empresas poderão obter por intermédio dele.

Para que possa ocorrer este tipo de agrupamento empresarial, faz-se necessário observar alguns fatores que são essenciais ao seu processo de formação. Sendo assim, este estudo se propôs verificar quais são as características das empresas incubadas no MIDI Tecnológico, que se compatibilizam com as preconizadas na abordagem teórica, para a formação de um cluster.

De forma mais específica, buscou-se descrever as características preconizadas na literatura para a formação de um cluster e verificar quais as características inerentes à formação de um cluster estão presentes nas empresas incubadas no MIDI Tecnológico.

Observou-se que, dentre as características atribuídas ao cluster, à concentração geográfica e setorial de empresas e a proximidade física entre elas são essenciais para a constituição de um agrupamento desta natureza. Pela concentração e proximidades destas empresas, é possível identificar outras características atribuídas a este agrupamento.            

Outra característica é a presença de agentes não similares, que mostram competência complementar para auxiliar as empresas pertencentes ao cluster em sua sobrevivência e competitividade, ante as dificuldades e obstáculos impostos pelo mercado.

A afinidade entre as empresas do cluster e a forte cooperação e parceria entre elas, a fim de desenvolver ações conjuntas, são outras características. Entretanto, verifica-se também a existência neste agrupamento da característica de competição entre as empresas que procuram a manutenção de sua parcela no mercado e, com isto, desenvolver e fortalecer o próprio cluster.

Em seu desenvolvimento e fortalecimento, enfatiza-se a presença de uma rede de relações com diferentes agentes e a formação de alianças entre as empresas do cluster e diversas instituições fora deste agrupamento, o estabelecimento da confiança entre as empresas do cluster, bem como as relações fixadas com outros agentes.

A flexibilidade empresarial e organizacional das empresas e do agrupamento, como um todo, facilitará, entre outros aspectos, o processo constante de inovações em suas atividades, a qualificação da mão de obra, a qualidade dos bens e serviços desenvolvidos e produzidos pelas empresas.

Estas características, entre outras, favorecerão as empresas a obterem ganhos de eficiência coletiva e aumentar sua competitividade, o que não conseguiriam caso agissem isoladamente. Identificadas algumas das características atribuídas ao cluster pela literatura especializada, buscou-se identificar quais as características inerentes à formação de um cluster estão presentes nas empresas incubadas no MIDI Tecnológico.

As características encontradas na literatura consultada, relacionadas ao cluster, são observadas nas empresas incubadas. Algumas são mais perceptíveis, identificadas facilmente e com um alto grau de intensidade, outras, todavia, estão presentes, mas com baixa intensidade. 

O fato de estas características possuírem intensidade diferente entre as empresas, não é algo que possa inviabilizar o processo de formação de um cluster. No entanto, faz necessário na própria incubadora potencializar as características consideradas como principais para a aproximação destas empresas, como o estabelecimento de ações conjuntas, a cooperação, a parceria, a divisão e o compartilhamento de informações, serviços e recursos e a confiança entre estas entidades.

A constatação da presença de algumas das características atribuídas ao cluster na literatura consultada representa um passo importante em direção à possibilidade de se formar um cluster entre as empresas incubadas. Porém, é preciso verificar se estas empresas estão dispostas a se associarem, ou mesmo identificar alguma intenção por parte das empresas para que isto possa acontecer.

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1.Professor Doutor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Três Lagoas. Email: mcbsousa@bol.com.br
2. Professora Doutora da Universidade Federal de Santa Catarina, campus Florianópolis


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 23) Año 2016

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