Espacios. Vol. 37 (Nº 23) Año 2016. Pág. 16

Crowdfunding e a percepção de valor para os stakeholders: o caso do Projeto Quilombo Solar

Crowdfunding and perception of value for the stakeholders: the case of the Quilombo Solar Project

Stéphanie Caroline Malulei CACCIOLARI 1; Caroline Pauletto Spanhol FINOCCHIO

Recibido: 04/04/16 • Aprobado: 08/05/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Procedimentos metodológicos

3. Teoria de redes

4. Crowdfunding

5. Apresentação e discussão dos resultados

6. Considerações finais

Referências


RESUMO:

O objetivo deste artigo é investigar a percepção de valor dos principais stakeholders, quanto à participação em um processo de financiamento coletivo (crowdfunding). O objeto de análise foi o Projeto Quilombo Solar, presente na plataforma Kickante. Foi realizadauma pesquisa qualitativa com os principais stakeholders, em que se destacaram um apoiador e o autor do Projeto Quilombo solar, bem como o responsável pela plataforma Kickante. Conclui-se que a dinâmica de percepção de valor por parte dos stakeholders, está inclusa em um "novo momento" de análise que percebe o consumidor/indivíduo como um todo, o que inclui motivações no campo sentimental.
Palavras-chave: crowdfunding, criação de valor, marketing 3.0, percepção de valor, stakeholders, sustentabilidade.

 

ABSTRACT:

This paper aims to investigate the perception of value of the main stakeholders, the participation in a collective funding process (crowdfunding). The object of analysis was the Quilombo Solar Project, present in Kickante platform. A qualitative research was conducted with the main stakeholders, in which stood a supporter and author of solar Quilombo Project, as well as responsible for Kickante platform. Conclude that the dynamics of perception of value on the part of stakeholders, is included in a "new phase" analysis that perceives the consumer / individual as a whole, which includes motivations in the sentimental field.
Keywords: crowdfunding, marketing 3.0, perceived value, stakeholders, sustainability, value creation.

1. Introdução

Com o advento da web 2.0 e o aumento da capacidade de alcance das redes digitais, inaugura-se um novo momento da internet que possui entre suas principais características a possibilidade de interação entre o usuário e as plataformas virtuais (O'REILLY, 2007). Tapscott (2007)afirmou que o surgimento de uma plataforma global e colaborativa poderia remodelar alguns aspectos das relações humanas.

Frente ao cenário de mudança mencionado, o processo de financiamento coletivo começou a chamar a atenção de grandes centros de pesquisa ligados a tecnologia como é o caso do Massachussetts Institute of Technology (MIT) (MOLLICK, 2014). Segundo Mollick (2014), o caráter inovador do tema pode trazer grandes pesquisas relacionadas a um novo momento da internet, no qual novos negócios não dependem mais de capital de risco para seus financiamentos.

Nesse contexto, surge o crowdfunding que pode ser considerado um novo fenômeno mundial. Segundo uma pesquisa produzida pela empresa Massolution, as transações de crowdfunding chegaram a US$ 2.7 bilhões em 2012, representando mais de um milhão de projetos apoiados (MASSOLUTION, 2012). Esse fenômeno vem suprir a lacuna existente entre as opções de financiamento para as pequenas empresas em transição, como as start-ups, e os novos projetos de inovação em diversas áreas(ATHERTON, 2012). O crowdfunding tornou-se um método inovador para atrair investidores e projetos de inovação, principalmente de cunho artístico, cultural e social.

Plataformas virtuais como a Kickstarter, maior do mundo atualmente, já conseguiu captar mais de 1,5 bilhão de dólares, envolvendo aproximadamente 5,1 milhões de financiadores e mais de 50 mil projetos criativos. No Brasil, as plataformas mais proeminentes são a Catarse e a Kickante, porém, atualmente existem mais de 40 plataformas, mas com volume de investimento pouco significativos (AGRAWAL; CATALINI; GOLDFARB, 2013).

Essa nova realidade colaborativa e o processo de crowdfunding, vem gerando discussões empresariais e governamentais em todo mundo. Esse novo modelo propicia a criação de empregos, auxiliando assim o crescimento da economia (KITCHENS; TORRENCE, 2012). No processo de crowdfunding, verifica-se a interação de diferentes agentes, denominados stakeholders, ou seja, a parte interessada nas organizações.

Buscando compreender a participação dos stakeholders no processo de crowdfunding, destaca-se a afirmação de Valančienė e Jegelevičiūtė (2014) de que a identificação dos stakeholders só pode ser observada à medida que se investiga a percepção de valor durante todo o processo do financiamento coletivo.

Diante disso, surgiu o seguinte problema de pesquisa: qual a percepção de valor dos stakeholders participantes do processo de crowdfunding?

Para responder ao questionamento apresentado, foi selecionado o projeto Quilombo Solar presente na plataforma de crowdfunding Kickante como lócus da pesquisa, uma vez que possui grande relevância ambiental e social. Segundo a pesquisa (MASSOLUTION, 2012), esses temas representam uma tendência para os próximos anos por estarem associados aos atuais desafios enfrentados pelas diferentes organizações, entre elas as governamentais, privadas e do terceiro setor, especialmente nos países em desenvolvimento.

Considerando a emergência do tema e a existência de poucos estudos no Brasil dedicados a essa problemática, é que se optou pelo desenvolvimento desta pesquisa que tem como objetivo principal identificar a percepção de valor dos stakeholders participantes do processo de crowdfunding do Projeto Quilombo Solar.

2. Procedimentos metodológicos

Quanto aos objetivos, esta pesquisa se caracteriza como exploratória. Quanto aos procedimentos, optou-se por utilizar a metodologia de pesquisa bibliográfica e de estudo de caso(CRESWELL, 2013; YIN, 2013), na qual a plataforma Kickante e, em especial, o projeto Quilombo Solar representam as unidades de análise. Alinhado ao tipo de pesquisa, optou-se pelo método qualitativo de entrevistas como fonte de informações primárias.

A plataforma Kickante foi escolhida em virtude de sua popularidade, volume financeiro transacionado e por abrigar um elevado número de projetos de cunho social, ambiental e artístico. Fundada em outubro de 2013, a Kickante já faturou mais de R$ 4 milhões de reais em arrecadações e tomando como base uma análise na plataforma até o mês de julho de 2015, a mesma possuía 213 projetos cadastrados. Analisando todos os projetos até a data determinada, observou-se que apenas 16% não conquistaram as metas estipuladas e desses 16% metade chegou muito próximo dela. Os seguimentos que merecem destaque são: projetos ambientais e sustentáveis com 21% do total, até a data estipulada, cultural com 37% do total e sociais com 17% do total (KICKANTE, [201-]).

Como a plataforma possui diversos projetos, escolheu-se um deles como objeto desta investigação, o Quilombo Solar. O referido projeto tem como objetivo instalar o primeiro sistema de energia solar em uma comunidade de Niterói – RJ, o Quilombo do Grotão, situado no Parque Estadual da Serra da Tiririca. A proposta do projeto foi conciliar o desenvolvimento sustentável e o uso da energia solar com a preservação das comunidades tradicionais e da cultura popular das mesmas(KICKANTE, 2014).

A partir da definição das unidades de análise, julgou-se necessário conhecer a percepção de valor dos apoiadores do projeto. Assim, dentre a lista de apoiadores do projeto Quilombo Solar fornecida pela plataforma Kickante, foi selecionado o apoiador que contribuiu com o maior valor.

Após esse processo, foram realizadas entrevistas semi estruturadas(GERHARDT; SILVEIRA, 2009) com três informantes chave. O roteiro das entrevistas é composto por questões abertas e direcionadas aos stakeholders (apoiadores, responsável pela plataforma Kickante e o autor do projeto), todas as questões foram relacionadas aos objetivos da pesquisa. Os indicadores utilizados para a subdivisão do roteiro foram: motivação, benefício e custo.

A primeira entrevista foi realizada com a fundadora da plataforma Kickante para melhor compreender o mercado nacional de crowdfunding, bem como identificar sua proposta de valor. A segunda entrevista foi realizada com o autor do projeto Quilombo Solar, visando identificar quais os benefícios orientaram sua inserção em uma plataforma de crowdfunding. Por fim, a terceira entrevista foi realizada com um dos apoiadores do projeto Quilombo Solar, com o objetivo de identificar quais os benefícios e os custos envolvidos quando de sua participação como apoiador.

As entrevistas foram realizadas na segunda e terceira semana de fevereiro de 2016, tiveram a duração média de 10 min cada e foram feitas por meio de vídeo conferência.Após a realização das entrevistas, as mesmas foram transcritas em um editor de texto, sendo posteriormente analisadas por meio da técnica de análise de conteúdo. A análise de conteúdo é o conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens, indicadores que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/ recepção destas mensagens (BARDIN, 1977).

3. Teoria de redes

Uma rede é composta por um conjunto de relações ou laços entre autores (indivíduos ou organizações) e as redes sociais são definidas como: um conjunto de nós ou atores (pessoas ou organizações) ligados por relações sociais ou laços de tipos específicos. Os laços e relações possuem força e conteúdo. O conteúdo inclui informação, conselho ou amizade, interesses compartilhados ou pertencimentos e, tipicamente algum nível de confiança (GRANOVETTER, 1973, p. 219).

A dinâmica do crowdfunding pode ser considerada uma dinâmica de rede,pois,baseia-se principalmente na interação entre investidor, projeto ou iniciativa apresentada e a plataforma intermediária (site de captação de recursos). Para Leimeister et al. (2009), essa dinâmica é viabilizada por meio da web, pois a mesma está inserida em um contexto de rede.

De acordo com o modelo proposto por Baran (1964), cada padrão de rede apresenta uma configuração de conexão diferente e são essas conexões que demonstram o tipo de interação existente entre os "indivíduos", "setores" e modelos de comunicação. As redes centralizadas possuem um só núcleo, um ponto focal com diversas conexões. As redes descentralizadas possuem vários núcleos centrais, sendo cada núcleo, o centro de suas conexões. As redes distribuídas não apresentam núcleos centrais e todos os pontos se conectam formando a imagem de uma teia.

Ao analisar a dinâmica do crowdfunding, verifica-se que esse processo pertence a um tipo de rede distribuída. A rede distribuída não possui barreiras entre as interações/ligações dos "nós" o que caracteriza o dinamismo do crowdfunding.

 

4. Crowdfunding

A primeira definição do fenômeno de crowdfunding como modelo de negócio foi de Schwienbacher e Larralde (2010), como segue:

Um convite aberto, essencialmente através da Internet, para o fornecimento de recursos financeiros, quer sob a forma de doação ou em troca de alguns recursosde recompensa e / ou direitos de voto, a fim de apoiar as iniciativas com propósito específico [...] (SCHWIENBACHER; LARRALDE, 2010, p. 21).

Um estudo que merece destaque é o de Monteiro(2014). A autora realizou uma vasta revisão na literatura entre 2003 e 2014 sobre o tema e afirmou que a maioria dos autores aborda a questão do modelo de crowdfunding como: i) uma alternativa de financiamento, ii) como um dos fatores de sucesso de um projeto e, iii) nos aspectos gerais que influenciam o comportamento dos apoiadores.

Para Vargas (2013) na pesquisa que investiga as principais motivações de investimento no crowdfunding, a ação de divulgação de projetos colaborativos, por meio das redes sociais, é um fator motivador de investimento, assim como a crença nas mudanças sociais e ambientais. Ainda segundo os autores, tais mudanças ocasionadas por projetos de inovação, fazem com que o consumidor tenha confiança e sentimentos positivos relacionados ao novo modelo de financiamento coletivo.

4.1. Os stakeholders no processo decrowdfunding

Um stakeholder pode ser qualquer pessoa ou instituição que afeta ou é afetada pelas atividades de uma organização(FREEMAN; REED, 1983). Considerando a importância e a influência dos stakeholders para as organizações, surgiu a seguinte questão: como se dá a relação entre os stakeholders em um processo de crowdfunding?A resposta foi obtida a partir do estudo desenvolvido por Valančienė e Jegelevičiūtė (2014). As autoras apresentaram um novo modelo de interação dos stakeholders no modelo do financiamento coletivo. Na Figura 1 pode-se observar que todas as partes são agentes de influência do processo e interagem por meio da plataforma.

Figura 1- StakeholderFramework

Fonte: Elaborado a partir deValančienė eJegelevičiūtė (2014, p. 23)

Segundo a Figura 1 nota-se: i) a existência da plataforma de negócio para propor ideias (site), neste caso representado pela plataforma Kickante,ii) projetos e ideias do público geral que talvez não possuíssem a oportunidade de conquistar um financiamento de uma forma tradicional;iii) Investidores que analisam as ideias e os projetos propostospara investir.

Seguindo essa abordagem,Valančienė e Gimžauskienė (2012) classificaram os stakeholder sem dois grupos: contextual (sociedade, governo e órgãos reguladores e não estão diretamente ligados a criação de valor para a organização ou negócio) e organizacional (shareholders, consumidores, fornecedores e colaboradores, estando estes diretamente ligados a criação de valor para organização).

A partir das contribuições de Valančienė e Jegelevičiūtė (2014) é que se optou por investigar os stakeholders organizacionais, uma vez que esses teriam maior potencial de criar valor para a organização. Nesta pesquisa, os stakeholders são representados pelo autor do Projeto Quilombo Solar, por um apoiador do projeto e por um responsável pela plataforma, cujas percepções de valor foram identificadas.

4.2. As motivações dos stakeholders

Como já destacado, as pesquisas acadêmicas sobre crowdfunding ainda se encontram na fase inicial(BELLEFLAMME; LAMBERT, 2014; GERBER; HUI, 2013; SCHWIENBACHER; LARRALDE, 2010).No entanto, as publicações até o momento apresentam pontos importantes quanto ao modelo do financiamento coletivo, no caso do crowdfunding.Um desses elementos refere-se a motivação. Para o presente estudo, torna-se importante destacar a motivação como um atributo necessário para a melhor compreensão da percepção de valor por parte dos stakeholders envolvidos.

De acordo com Belleflamme e Lambert (2014)os stakeholders do financiamento coletivo não são investidores ou consumidores comuns.Eles necessitam fazer parte de um projeto empreendedor e desejam, por conta da interação com outros stakeholders, conseguir expandir sua rede de contatos (SCHWIENBACHER; LARRALDE, 2010).

Para alguns autores, as motivações para se envolver em um processo de crowdfunding dependem das características dos projetos e de seus autores de projetos, pois, as motivações podem ser moldadas pelo contexto social e institucional que os autores, estão inseridos (GIUDICI; GUERINI; LAMASTRA, 2013).

Segundo Ordanini et al. (2011), as motivações para participação do processo de financiamento coletivo dependem do tipo de crowdfunding em que a plataforma é focada. Essas motivações mudam de acordo com o foco de cada plataforma. Ainda para a autora, dentre as principais motivações encontradas estão: ser ao menos parcialmente responsável pelo sucesso de um projeto, querer ser a primeira pessoa a ter um produto inovador e exclusivo e usar ferramentas inovadoras, e a identificação com determinada causa e retorno financeiro.

4.3 Breves notas sobre valor percebido

Com advento da web 2.0 e em tempo de rápidas mudanças relacionadas aos negócios on-line, como o crowdfunding, torna-se imprescindível a avaliação do conceito de percepção de valor. Ao longo do tempo, diversas plataformas na web procuraram maneiras de se diferenciar para que pudessem entregar bem seus serviços que gerassem uma percepção de valor positiva para seus clientes.

Um novo conceito está surgindo, segundo Kartajaya, Kotler e Stiawan (2010), quando se refere ao novo marketing e os conceitos de valor percebido. O marketing 3.0 pode ser definido por um conceito de marketing que busca centrar suas estratégias na percepção do ser humano (KARTAJAYA; KOTLER; STIAWAN, 2010).Esse conceito vem corroborar com o novo estudo sobre percepção de valor. Para Kartajaya, Kotler e Stiawan (2010) o futuro da percepção de valor está em 3 conceitos chave: colaboração, cultura ou comunização, espiritualidade ou criação de caráter.

A colaboração envolve as novas formas de criação de produtos, serviços e experiências por meio da colaboração das empresas, consumidores e fornecedores interligados por uma rede de inovação. A comunização se refere ao conceito de tribalismo em marketing, ou seja, os consumidores passam a confiar mais nas marcar que se posicionam de maneira horizontal, por meio das mídias sociais, respondendo e auxiliando os mesmos.

Ao tratarmos do novo conceito de marketing 3.0 e relacionando-o a percepção de valor para os stakeholders envolvidos no processo de financiamento coletivo, podemos destacar a satisfação desse novo consumidor, que também pode ser cocriador de um projeto. O ambiente virtual, no caso das plataformas de crowdfunding, é facilmente monitorado, e assim como em uma plataforma virtual o cliente não precisa sair do conforto do seu lar, é mais fácil saber se o mesmo cliente revisitou o site ou quantas vezes o mesmo investiu em determinados projetos, ou seja, de que forma se comporta no site e dá pistas sobre sua satisfação em relação aos projetos e a plataforma(BERNARDES; LUCIAN, 2015).

5. Apresentação e discussão dos resultados

Nesta seção são apresentados os resultados da pesquisa, obtidos por meio das entrevistas realizadas com osstakeholdersselecionados. Para tanto, está subdividido em três partes:i) motivação dos stakeholders, ii) benefícios percebidos pelos stakeholders e iii) os custos envolvidos. Foram considerados stakeholders: a autora do projeto Quilombo Solar, um apoiador/financiador do projeto (kickador) e a responsável pela plataforma Kickante.

5.1. Motivação dos stakeholders

5.1.1. Autora do Projeto

Dentre os stakeholders pesquisados, a autora do projeto Quilombo Solar é o que possui maior nível de escolaridade. Além disso, por ser a autora, é a que apresentou maior conhecimento sobre o projeto e grande envolvimento com o mesmo.

Para Giudici, Guerini e Lamastra (2013), as motivações para se envolver em um processo de crowdfunding dependem das características dos projetos e de seus stakeholders, pois as motivações podem ser moldadas pelo contexto social e institucional que os mesmos estão inseridos.Nesse contexto, a Autora do Projeto fez a seguinte afirmação:

Eu coordeno projetos do Greenpeace no Brasil.Eu trabalho com o Greenpeace Suíço. Eu escrevi um projeto em 2013 falando que a gente precisava trabalhar com essas coisas no Brasil, precisávamos trazer pro Brasil essa novidade, que a partir da normativa 482 da ANEL, todos os brasileiros podem ser micro-geradores de energia através de uma rede distribuída, precisávamos dessa visibilidade para a normativa.Era uma oportunidade incrível que tínhamos (informação verbal)

A autora do projeto evidenciou a importância da construção coletiva e envolvimento social. Essa colaboração é um dos pilares da construção do conceito do Marketing 3.0 (KARTAJAYA; KOTLER; STIAWAN, 2010). Ainda em sua declaração, a autora faz menção a um outro projeto que serviu de base para o desenvolvimento do projeto Quilombo Solar e, segundo ela, desde muito cedo começou a se envolver em projetos sociais e ambientais.

Quanto ao sentimento gerado ao ver o projeto sendo executado, a Autora do Projeto afirma que:

A minha vida é pautada na divulgação da energia solar, eu sou especialista em energia solar, principalmente no treinamento de jovens. Eu dou treinamentos em energia solar pra jovens do mundo inteiro. Eu de fato acredito que sem o envolvimento do jovem na sociedade nós não conseguimos mudar os paradigmas que temos hoje. Sinto como se estivesse realizando um dever e isso me trás felicidade, estou fazendo o que amo (informação verbal)

Para Ordanini et al. (2011), as motivações na participação do processo de financiamento coletivo mudam de acordo com o foco de cada plataforma, mas principalmente, está entre as principais motivações: ser responsável ao menos parcialmente pelo sucesso de um projeto e identificação com determinada causa. Assim, na pesquisa em questão, a autora do projeto sempre se identificou com causas ambientais e sente-se feliz ao ver que é responsável por algo que está se concretizando.Nesse sentido, pode-se afirmar que a percepção de valor compartilhada pela autora do projeto está no campo sentimental e colaborativo.

No tocante a escolha do crowfunding para arrecadação de recursos para o projeto, a Autora do Projeto declarou:

Depois do juventude solar que foi financiado 100% pelo Greenpeace Suíça ganhou visibilidade. Logo depois, fui procurada pelo Renatão do QuiIlombo, líder comunitário e presidente da ACOTEM. Eles queriam trazer essas discussão para a cidade de Niterói e então eu escrevi o projeto Quilombo Solar nos moldes do projeto juventude solar, com o propósito de treinamento de jovens da favela. Como nós partimos de pouca verba e só tínhamos uma parte disponibilizada pelo Greenpeace Suíço, nós optamos pelo financiamento coletivo. Seria uma forma de construir coletivamente, trazendo o envolvimento da sociedade. Foi uma decisão muito sábia muito acertada(informação verbal)

Para a autora do projeto, a plataforma Kickante foi uma escolha acertada, pois proporcionou a construção coletiva de um projeto em que a mesma acreditava. Para Valančienė e Jegelevičiūtė (2014) o processo do crowdfunding muda a perspectiva dos stakeholders envolvidos no processo.Tal fator permite que todos estejam envolvidos no processo de construção coletiva e criação de valor.

No tocante as doações recebidas para o projeto,a Autora do Projeto declara:

Consegui uma doação da Solar SpA uma fundação Suíça que disponibiliza recursos para projetos principalmente na África, mesmo sendo Brasil, eles abriram uma exceção por reconhecerem que era um comunidade de descendentes africanos. A verba pelo Kickante foi um terço da meta (informação verbal)

Para a autora do projeto, a utilização da plataforma kickante, possibilitou a colaboração dos stakeholders e foi de grande importância para a arrecadação de recursos e sucesso do projeto.

5.1.2. Apoiador do projeto

Quando questionado sobre os motivos que levaram o apoiador entrevistado a investir no projeto Quilombo Solar por meio do financiamento coletivo, o Apoiador do Projeto fez a seguinte declaração:"eu já havia colaborado com outro projeto da Kickante, um projeto de música, ai eu vi a publicação no face de um amigo e resolvi entrar pra ver. Não paguei de cara não... assisti os vídeos primeiro e depois de uns dias retornei ao site e paguei"(informação verbal).

De acordo com a pesquisa de Mollick (2014), possuir um material, um projeto bem divulgado nas redes sociais digitais, é um fator chave para o sucesso do modelo de crowdfunding.

Giudici, Guerini e Lamastra (2013) aponta o capital social como um fator chave para o sucesso do crowdfunding. Para Franco (2005), o capital social é a cooperação ampliada socialmente. Dessa forma, para os projetos de crowdfunding é importante que essa estrutura de cooperação, objeto de divulgação na plataforma e redes sociais digitais, esteja bem montada. Assim, para o entrevistado em questão a rede social digital e o conhecimento por meio da confiança e amizade da plataforma e o material do projeto foi um fator imprescindível investir no projeto.Quanto a escolha do projeto Quilombo Solar, o Apoiador do Projeto declarou:

Eu sempre fui ligado nessas coisas de meio ambiente sabe?! Na verdade nunca tive grana pra colocar energia solar na minha casa. Achei show de bola a iniciativa do projeto e o pessoal ainda ensinou os meninos a construírem o próprio gerador. Achei fantástico (informação verbal).

Para Vargas (2013)a ação de divulgação de projetos colaborativos, por meio das redes sociais, é um fator motivador de investimento, assim como a crença nas mudanças sociais e ambientais. Ainda segundo a pesquisa, tais mudanças ocasionadas por projetos de inovação, fazem com que o consumidor tenha confiança e sentimentos positivos relacionados ao novo modelo de financiamento coletivo.

Ainda relacionado a motivação, o Apoiador do Projeto declarou:"como eu falei né?! Eu vi no Face de um amigo mas o que me chamou atenção mesmo foi o propósito do projeto. Sou formado em geografia e acho que a gente tem que fazer a nossa parte pra construir um mundo melhor" (informação verbal).Para Ordanini et al. (2011),a identificação com determinada causa é um fator importante para a decisão de investir no financiamento coletivo.

No que tange ao sentimento gerado ao ver o projeto ser executado, o Apoiador do Projeto declara:"fui lá porque ganhei a feijoada daí eu vi um monte de cartazes sobre o projeto e alguns dos meninos que estavam sendo treinados pelo projetos, foi demais. Senti como se tivesse colaborado pra uma coisa grande sabe?!"(informação verbal).

Para Schwienbacher e Larralde (2010)pode-se dividir o crowdfunding em diferentes modelos de negócio de acordo com a recompensa adquirida pelo investidor e o tipo de investimento. Em um desses modelos a recompensa é simbólica, como é no caso do Quilombo Solar, porém, suficiente para que o apoiador sinta-se inserido no projeto.

5.1.3. Responsável pela plataforma Kickante

Quando questionada sobre a missão da empresa, a Responsável pela Plataforma declarou: "a nossa missão é utilizar a nossa plataforma de crowdfunding de modo que possamos fazer a diferença no mundo" (informação verbal).

No tocante aos valores difundidos pela empresa, a Responsável pela Plataforma declarou: "temos muitos, mas os principais são: valorização do ser humano, fazer o bem e fazer a diferença no mundo" (informação verbal).

A Responsável pela Plataforma demonstrou, tantos nos valores quanto na missão da empresa, a preocupação com o "fazer a diferença" no mundo.

No tocante a cultura da empresa, declarou:

Então Né... nós ainda estamos nesse processo de formar uma cultura forte, é tudo muito novo ainda e como começamos com poucos funcionários, só agora que estamos percebendo essa diferença. Acho que aqui agora a gente tem a noção de que todo mundo trabalha feliz e motivado, ou pelo menos tenta, pois sabem que estão fazendo sua parte para um mundo melhor. O lucro é importante obvio mas não é o principal para nós (informação verbal)

A responsável pelo projeto, por meio de sua declaração, explicita que a empresa ainda está criando uma cultura, mas passa a segurança de que os funcionários trabalham felizes e que a empresa não foca somente no lucro.

Quanto a veracidade dos projetos cadastrados, a Responsável pela Plataforma declarou:"nós costumamos entrar em contato com as pessoas que cadastram, temos funcionários que fiscalizam isso sim"(informação verbal).

A responsável demonstra a preocupação com a conferência dos projetos cadastrados em sua fala, para isso, disponibiliza funcionários para conferir os projetos.

Quanto as responsabilidades da plataforma com os autores e apoiadores, declarou:

As coisas principais são: garantir que o projeto realmente exista, damos ideias de formatos de campanhas e de como deixar a campanha com todos os recursos como: vídeos, imagens e projeto bem feito. Para quem apoia, nós queremos mostrar que somos um site com credibilidade e confiança. Mostramos sempre os nossos projetos com metas alcançadas em destaque (informação verbal)

A responsável pela plataforma deixa clara a preocupação com a veracidade do projeto como fator principal para a confiança e credibilidade dos usuários sejam eles autores ou apoiadores. Segundo Vargas (2013), a ação de divulgação de projetos de crowdfunding nas redes sociais digitais é um fator motivador de investimento. Ainda segundo os autores as mudanças ocasionadas por projetos inovadores fazem com que o consumidor tenha sentimentos de confiança. No caso da plataforma kickante, sua representante demonstra o cuidado com a transmissão do sentimento de confiança para apoiadores e autores.

No que tange a motivação para continuação dos trabalhos da plataforma, a Responsável pela Plataforma declarou:"primeiramente, sempre tive um sonho de mudar o mundo, e graças a Deus agora, de certa forma, tenho os meios para isso. Nada trás mais felicidade do que saber que você está auxiliando sonhos a se tornarem possíveis"(informação verbal).

Assim como a autora do projeto, a responsável pela plataforma também sente-se feliz em poder colaborar para um mundo melhor. Sente como se estivesse fazendo a sua parte. Para Kartajaya, Kotler e Stiawan (2010) uma das características no marketing 3.0 é a visão do ser humano como um ser pleno. No momento em que a responsável afirma que se sente feliz ao saber que está "auxiliando sonhos" a motivação está no campo sentimental. Esse campo no marketing 3.0 percebe o consumidor como: um corpo físico, uma mente capaz de ter pensamentos independentes, um coração que pode sentir a emoção e espírito filosófico.

5.2. Benefícios para os stakeholders

5.2.1. Para a autora do projeto

No tocante aos benefícios percebidos após a execução dos projetos, a Autora do Projeto declarou:

Eu acho que o público que participou costuma visitar o quilombo solar. Já conseguimos saber que vários moradores do entorno já instalaram o sistema em suas casas. Alguns jovens resolveram seguir a escola técnica dentro da área visando o emprego verde. Esse impacto é mais positivo... maior do que a própria economia na conta de luz. E o Quilombo do grotão é um pólo cultural, quer dizer isso tem um poder de replicabilidade muito interessante (informação verbal)

Para a autora do projeto os benefícios percebidos para a comunidade estão associados também com que investiu e divulgou. O público passou a frequentar o local que é um pólo cultural. Alguns moradores instalaram o sistema em suas casas.

A autora confere grande importância ao desenvolvimento social quando ressalta que o impacto dos jovens ensinados pelo projeto ao buscarem o emprego verde , ou seja, buscar emprego em projetos de sustentabilidade,é mais significativo do que a economia na conta de luz.

O modelo de financiamento coletivo proporciona que o consumidor se torne parte do processo de produção facilitando assim ações e projetos sociais(VALIATI, 2013).

5.2.2. Para o apoiador/financiador

Quanto ao acompanhamento da execução do projeto, o Apoiador do Projeto entrevistado declarou:"cara então eu via os e-mails que a kickante enviava mas não cheguei a ir lá durante e execução não. Eu confiava que o negócio tava andando sabe?!" (informação verbal). O apoiador demonstra que confiou na plataforma. Bernardes e Lucian (2015) expõem a confiança como um dos aspectos mais importantes nos relacionamentos na plataforma de crowdfunding.Rousseau et al. (1998) acredita que a confiança é um estado psicológico que envolve a aceitação da vulnerabilidade, tendo em vista as expectativas positivas criadas sobre o comportamento do outro. A confiança pode ser vista como facilitadora de práticas colaborativas, somadas as forças das ações coletivas(BOTSMAN; ROGERS, 2011).

No tocante ao benefício trazido pelo projeto, o Apoiador do Projeto declarou: "olha, sinceramente pra mim foi a felicidade de saber que eu tava colaborando com um projeto incrível e saber que tava fazendo aquela pontinha pra um mundo melhor"(informação verbal).O apoiador, assim como a representante da plataforma e a autora do projeto, sente-se parte da ação por um mundo melhor. Como já descrito, o crowdfunding está inserido no consumo colaborativo e nas estratégias de Marketing 3.0. Tal modelo de consumo e estratégia fazem com que o consumidor, nesse caso apoiador, sinta-se parte de algo maior e participa do processo de coprodução de valor (BERNARDES; LUCIAN, 2015), trazendo sentimento de participação, pertencimento e felicidade.

Quanto ao retorno financeiro declarou que não houve nenhum retorno financeiro.E em relação a outro tipo de retorno, o Apoiador do Projeto declarou:"ganhei a feijoada e esse sentimento que te falei"(informação verbal).O Apoiador expõe de que o sentimento gerado e o brinde simbólico(feijoada) o deixou com sentimento de felicidade e satisfação em relação ao projeto. Segundo Lewis (2004) um programa que adota um sistema de recompensas para o estímulo da participação de um consumidor ou apoiante, possui grande valor, pois tal relação irá contribuir para a satisfação do consumidor ou apoiante que se envolverá mais com o programa ou projeto.

Além disso, o Apoiador do Projeto destacou:Acho que a confiança que eu depositei no site. De certa forma ,esse meu amigo que postou sobre o projeto, também ta sempre engajado nessa coisas, ai fui eu, ele e minha namorada na feijoada. Ainda curtimos um sambinha(informação verbal). O Apoiador do projeto evidencia em suas declarações que o valor investido o proporcionou uma feijoada no Quilombo e diversão com os amigos.Para Chandon,Wansink eLaurent (2000),os benefícios não monetários estão sempre associados a um status de entretenimento.

5.2.3. Para a representante da plataforma

No tocante ao fator comum sobre os projetos que alcançam suas metas, a Responsável pela Plataforma declarou:

Bem, geralmente são projetos muito bem estruturados, bem divulgados nas redes sociais e com objetivos bem desenhados (informação verbal)

A responsável pela plataforma ressalta a boa estruturação de projetos como fator comum de sucesso. Para Mollick (2014), o sucesso dos projetos de crowdfunding está relacionado ao poder das redes na Web. Fator esse percebido em comum nos projetos que obtém sucesso, cumprem sua meta.Mitra e Gilbert (2014)associaram o descrever de um projeto de maneira vibrante e com boa ortografia como um dos fatores para o sucesso. Belleflamme e Lambert (2014)atribui conhecer opúblico para apoiar o projeto como principal fator para o sucesso.

Quanto ao diferencial dos projetos que alcançam as metas, a responsável pela plataforma declarou,que acredita que sejam os projetos com objetivos bem estruturados e bem desenhados. Quanto a existência de uma pesquisa de satisfação para os autores e apoiadores, a Responsável pela Plataforma diz que:

Eu cheguei a introduzir isso na outra pergunta mas não terminei... Nos enviamos e-mail mkt para os kickadores e para os autores também, mas não chega a ser uma pesquisa de satisfação. Em alguns e-mails até pedimos sugestões. Não Queremos enviar muitas fichas e fazer o usuário perder muito tempo com o e-mail sabe?!(informação verbal)

Quanto a divulgação da plataforma por parte dos autores dos projetos e coleta dessas informações a Responsável pela Plataforma declarou:

Então nos vemos os posts no Facebook que alguns fazem para divulgação do projeto mas não da pra acompanhar todos. Tem uma parte da equipe que fica monitorando as menções nas redes sociais e na maioria são positivas(informação verbal)

Novamente, a responsável pela plataforma mostra a importância das redes sociais na divulgação do projeto e a percepção disso pela equipe, que monitora diariamente os comentários positivos e negativos.

5.3. Custos para os stakeholders

5.3.1. Para a autora do projeto

A autora declarou que o valor gasto na execução do projeto, foi de trinta mil reais. Ainda segundo a autora, o projeto durou três meses, com o auxílio de cinco voluntários em parceria com o Greenpeace.

A Autora do Projeto forneceu algumas informações extras como as relacionadas ao perfil dos jovens envolvidos no projeto:

Jovens a partir de 14 anos, alguns ainda não ingressaram no ensino médio mas estão próximo. Não tem acesso ao que os jovens de classe média tem. Uma comunidade que não é favorecida em diversos aspectos. Eles não teriam como ter acesso a isso se nós não tivéssemos ido lá e dado essa sacudida neles. O projeto recebeu o premio CREA RJ de meio ambiente e esse reconhecimento p o projeto construído dessa forma, sem verba e acreditando que um mundo melhor é possível. Isso da a certeza que estamos no caminho correto (informação verbal)

Em relação aos custos do projeto, uma parte foi doada por uma instituição na suíça (Solar spA),e um terço, foi obtido pelos financiamento coletivo por meio da plataforma Kickante. Notou-se também na declaração da autora que o projeto exigiu grande esforço de trabalho de voluntários e comunidade. Confirmou-se também que o projeto além de proporcionar energia solar, teve um cunho social de capacitação de jovens carentes.

5.3.2. Para o apoiador/financiador do projeto e para a responsável pela plataforma

O financiador/apoiador do projeto investiu cento e trinta reais e não houve nenhum outro custo envolvido. Já no caso de um projeto não alcançar a meta de arrecadação, a Responsável pela Plataforma declarou:

Em alguns casos o projeto tem a opção de ter mais um prazo. Os apoiadores investem sabendo que pode ser que o projeto não alcance a meta né?! A grande maioria dos nossos projetos alcança as metas mas é de nosso interesse que todos alcance, pois, assim recebemos um percentual maior (informação verbal)

No tocante a devolução do dinheiro por parte da plataforma, a responsável deixou claro que isso não ocorre. Em relação aos custos de manutenção da plataforma a responsável declara que é bem alto mas não entra em detalhes.

Quanto a sua dedicação à plataforma, a Responsável pela Plataforma declara:

Acho que me dedico tanto, que nem sei mais em que momento não estou pensando nos negócios da empresa. Mesmo assim faço com amor e o prazer é tanto que não é um fardo, tenho uma vida também além disso (informação verbal)

A responsável pela plataforma demonstra em sua fala que mesmo estando o tempo todo conectada ao negócio da empresa, não sente que é um fardo, pois, faz com amor e prazer.

No tocante aos desafios para o gerenciamento da plataforma, a Responsável pela Plataforma declara:

Procuro sempre fazer o meu melhor mas no começo de todo negócio temos sempre muitos desafios né?! Hoje a coisa ta bem mais tranquila mas acho que os desafios vão aparecendo no dia a dia e no geral a gente lida bem com eles (informação verbal)

A responsável deixa claro que os desafios são diários, mas que no começo eram maiores. Demonstra que a empresa, plataforma, consegue lidar bem com todos esses desafios. O Quadro 1resume as percepções de valor dos stakeholders.

Quadro 1 - Projeto Quilombo Solar

VALOR PERCEBIDO

AUTORES

APOIADOR

RESPONSÁVEL PLATAFORMA

Motivação

1- Mostrar para os Brasileiros que todos poderiam ser geradores e energia solar.

1- Sentir identificação com projetos ambientais;

2- Confiança na divulgação de amigos por meio das redes sociais

1- Realização de um sonho

Benefício

1-Ensino de jovens carentes, 2-Poder de replicabildade do projeto, 3-Instalação de geradores na comunidade 4- Jovens em busca do emprego verde 5- Prêmio CREA de meio ambiente

1-Sentimento de Felicidade

2- Sentir-se parte da mudança no mundo

3 - feijoada.

1- Sentir-se parte da mudança do mundo;

2- realização de um sonho

Custos

Trinta mil Reais, três meses de trabalho

Cento e trinta Reais

Grandes custos para manter a plataforma (valor não informado)

Fonte: elaborado pela autora

6. Considerações finais

O estudo das teorias de redes e redes sociais e a sua importância para a evolução nas formas de interação, colaboração e o sucesso do modelo de financiamento coletivo vem corroborar a importância da percepção de valor pelos stakeholders. Ao tratarmos do projeto Quilombo Solar nota-se que as percepções de valor no tocante a motivação tanto para autor do projeto, como para apoiador do projeto e assim como para responsável pela plataforma estão inseridas no campo simbólico e sentimental e não financeiro. Diante do exposto, se solidifica o modelo proposto Valančienė e Jegelevičiūtė (2014), no qual a influência de todas as partes no processo tem o mesmo valor e interdependência.

No tocante ao estudo da evolução da teoria de redes e redes sociais, o modelo apresentado por Baran (1964), vem ilustrar a evolução das relações sociais e do modelo da web que foi um fator crucial para a possibilidade da existência de um novo tipo de negócio colaborativo, crowdsourcing, evoluindo para o modelo do crowdfunding. O modelo demonstra o aprimoramento por meio de um novo processo de conexões, rede web 2.0, que no caso do projeto Quilombo Solar, é exposto como fator primordial para o sucesso de divulgação e arrecadação de fundos para o mesmo.

A relação de confiança é o principal fator exposto pelo apoiador e autora do projeto como motivação para escolha da plataforma kickante. Tal relação de confiança é de extrema importância para cocriação de valor para os stakeholders envolvidos no projeto. Diante desse tipo de relação, confiança, como fator de motivador de escolha, nota-se que a plataforma apresentou um posicionamento de destaque nas redes sociais digitais e boa divulgação, fator esse, notado pela pesquisa feita pela Catarse e Chorus([2014?]) como sendo um ponto crucial para a falta de conhecimento do financiamento coletivo no Brasil. Já a motivação do autor e apoiador relacionada ao projeto mostraram a importância da identificação individual com uma causa, fator esse confirmado por Ordanini et al. (2011).

Diante da possibilidade acadêmica de inovação acerca de um tema, ainda pouco explorado nacionalmente, a pesquisa trouxe a reflexão sobre um "novo momento" de análise do modelo de percepção de valor por parte dos consumidores, no qual posiciona-os como co-criadores, investidores e apoiadores. Tal momento, vem corroborar com a percepção do indivíduo como um todo, pilar esse evidenciado pelo marketing 3.0, de acordo com Kartajaya, Kotler e Stiawan (2010). Em contrapartida, o estudo encontrou limitações, também devido ao caráter inovador, e ainda pouco explorado na pesquisa acadêmica nacional.

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1. Email: stephaniemalulei@gmail.com


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 23) Año 2016

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