Espacios. Vol. 37 (Nº 28) Año 2016. Pág. 1

Roadmap para medir o nível de segurança com eletricidade em propriedades com produção intensiva de leite no sul do Brasil

Roadmap to measure the level of safety with electricity in properties with intensive milk production in southern Brazil

Marco Antonio Subtil MACEDO 1; Ariel Orlei MICHALOSKI 2

Recibido: 16/05/16 • Aprobado: 15/06/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Produção de leite

3. Instalações de produção de leite

4. Metodologia

5. Critérios para seleção das propriedades a serem pesquisadas

6. Apresentação e aplicação da ferramenta

7. Resultados obtidos

8. Conclusão

Referências


RESUMO:

A contribuição potencial de aspectos de segurança com eletricidade em propriedades com produção intensiva de leite para melhorar a segurança do trabalho tem sido reconhecida. Porém, a realização desse potencial tem sido uma problemática. O objetivo deste trabalho é propor um método de avaliação simplificado e rápido para mapear as instalações elétricas da unidade produtora de leite para saber qual o nível de aderência aos requisitos da Norma Regulamentadora 10 do Ministério do Trabalho em Emprego do Brasil. Na aplicação deste método, verificou-se que é possível obter melhorias significativas no processo de gestão de propriedades rurais adotado pelo gestor da propriedade.
Palavras chaves: segurança, eletricidade, produção de leite

ABSTRACT:

The potential contribution of security with electricity in properties with intensive milk production to improve the safety of the work has been recognized. But the realization of this potential has been a problem . The objective of this work is to propose a simplified and rapid evaluation method for mapping the electrical installations of the producer of milk unit to know what level of adherence to the requirements of Regulatory Standard 10 of the Brazilian Ministry of Labor for Employment. In this method , it was found that it is possible to obtain significant improvements in rural property management process adopted by the property manager.
Key words : security, electricity, milk production

1. Introdução

A competição que as empresas brasileiras estão enfrentando é cada vez mais acirrada e mudanças comportamentais dos gestores, melhorias no sistema de gestão, nos processos produtivos das empresas mostram-se cada vez mais necessários para que a vantagem competitiva seja mantida e/ou aumentada. Neste cenário, um dos setores que sofreu maior impacto foi o agronegócio.

O Brasil tem se destacado no cenário mundial do agronegócio e este segmento tem representado uma fatia considerável no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. A Figura 1 mostra a evolução da participação do agronegócio no PIB brasileiro.

Figura I – Participação do agronegócio no PIB brasileiro.
Fonte: Adaptado (CEPEA, 2015)

Pela Figura 1 percebe-se que de 2003 a 2014 o agronegócio teve uma participação média de mais de 23 % no PIB brasileiro. Mudanças tecnológicas (automação), de sistema de gestão (passando de familiar para profissional), do nível de qualificação tanto dos proprietários como dos funcionários, do nível de conhecimento do mercado, das relações com os fornecedores e nas leis trabalhistas e ambientais, entre outras coisas, possibilitaram que este nível de participação no PIB fosse possível e forçaram um melhor planejamento das atividades para dentro das porteiras. Fazendo com que o controle das atividades, gestão de custos, e programas de qualidade como 5S, TPM, boas práticas de produção ficassem familiares aos empresários rurais.

Porém, um aspecto que tem ficado a margem neste cenário competitivo é a segurança das pessoas e instalações, haja vista que somente em grandes empreendimentos rurais é que a segurança tem sido levada mais a sério.

Segundo Lima Júnior et al (2005), o aumento da vantagem competitiva passa pela eficácia do sistema gestão segurança e saúde dos trabalhadores (SGSST) e deve ser entendido e tratado pelos gestores como um recurso estratégico que irá impactar no potencial interno das mesmas. A implementação de um SGSST eficaz nem sempre é fácil, e muitas empresas enfrentam problemas neste processo, tais como: financeiros, pouco ou nenhum conhecimento sobre o assunto, a falta de assessoramento especializado, entre outros (BARRETO,2011). Neste viés de pensamento, Silva (2014) entende que resistência pelas empresas às mudanças e o nível de saber e conhecimento em segurança e saúde do trabalho da empresa também contribuem para o insucesso da implementação.

Um dos setores do agronegócio que mais sofreu mudanças nesta última década foi a pecuária leiteira, devido aos altos custos de produção, à entrada no cenário de empresários de outros setores investindo em grandes empreendimentos e à tecnologia embarcada nos equipamentos utilizados na ordenha. Isto exigiu que as instalações atuais de grandes fazendas produtoras de leite tenham mais de 75 kW de potência instalada, sendo assim necessário atender às exigências da Norma Regulamentadora 10 Segurança em Instalações Elétricas e Serviços em Eletricidade (NR10) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e não somente ao item 31.22 relativo à parte elétrica da Norma Regulamentadora 31 (NR 31) - Seguranças e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura.

O objetivo deste trabalho é criar uma ferramenta que possibilite de forma rápida saber se a unidade de produção de leite está atendendo às exigências da NR 10 e forneça orientações aos proprietários para eliminar ou mitigar as não conformidades encontradas quanto a: segurança coletiva, segurança individual, procedimentos de gestão e técnicos, relação com os fornecedores de equipamentos que utilizam eletricidade e fornecedores de serviços relacionados com eletricidade.

A base para este trabalho serão os trabalhos desenvolvidos por Rocha (1999) com o check list da NR 18 e de Silva et al (2014) que contribuirá como o roadmap para auxiliar no SGSST os quais serão adaptados para a NR 10.

2. Produção de leite

2.1. Produção de leite no mundo

Segundo o Departamento de Economia Rural da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná (DERAL), em seu relatório anual “Análise Conjuntura Agropecuária – Leite 2014”, o Brasil, com uma produção de 33,3 bilhões de litros de leite, ocupa a quinta posição na produção de leite mundial, bem abaixo da Índia (segundo lugar) e dos Estados Unidos (terceiro lugar) que produziram 141,1 bilhões e 93,1 bilhões de litros de leite, respecitvamente. A União Européia foi o maior produtor de leite em 2014, com 144,7 bilhões de litros produzidos

2.2. Produção de leite no Brasil

A produção de leite no Brasil vem aumentado ano a ano, em muito decorrente da implementação de sistema intensivos de grande porte e pelo melhoramento genético que possibilita aumentar a produtividade de leite por animal em lactação

Segundo relatório do DERAL (2014) a produção de leite no Brasil teve um aumento de 54%  entre 2003 e 2013, pois a produção anual em 2003 ficou um pouco acima de 22 milhões de litros de leite e em 2013 foram produzidos mais de 34 milhoes de litros de leite. Para alcançar estes números a produção de leite está presente em todos os estados da federação. Os estados das regiões Sul e Sudeste do Brasil destacaram-se na produção de leite, haja vista que foram responsáveis por 78% da produção em 2013 e os demais produziram os 22% restantes do total de 34,25 bilhões de litros. A produção dos três estados do Sul do Brasil foi de 11,7 bilhões de litros de leite em 2013, superior a da Argentina que foi de 11,1 bilhões litros produzidos.

2.3. Mão de obra na produção de leite

O agronegócio do leite e seus derivados desempenhou um papel relevante no suprimento de alimentos e na geração de emprego e renda para a população brasileira. O país tem, atualmente, mais de 1,1 milhões propriedades que exploram a atividade leiteira, garantindo mão-de-obra direta na atividade de 3,6 milhões de pessoas. O agronegócio do leite é responsável por 40% dos postos de trabalho no meio rural (EMBRAPA GADO DE LEITE, 2009a). Segundo dados da Embrapa Gado de Leite (2009a), quando o mercado consumidor de lácteos alcança um milhão de reais, criam-se aproximadamente 195 empregos permanentes, fato que supera o setor de automóveis, construção civil, siderúrgico e têxtil.

O número de acidentes de trabalho em 2013, conforme dados do Anuário Estatístico da Previdência Social 2013, totalizou  717.911 acidentes, sendo que deste total, cerca de 20.192 acidentes ou 3,0 %  ocorreram com trabalhadores na exploração agropecuária. Porém, não há dados para saber quantos acidentes foram relacionados com eletricidade e também não há certeza de que os valores apontados refletem a realidade do setor.

3. Instalações de produção de leite

As instalações para produção de leite, via de regra, possuem como principais instalações edificadas: sala de ordenha (local onde é efetuada a ordenha dos animais), sala do leite (local onde fica o tanque de resfriamento de leite); barracões de trato (local onde são alimentados os animais) e bezerreiro.

Para Carvalho et al (2003, Embrapa) uma maior atenção e análise dos dados técnicos, administrativos e financeiros por parte dos produtores no gerenciamento dos recursos têm sido exigidas devido ao maior uso de tecnologias aplicadas nos equipamentos e instalações e consequentemente aos valores envolvidos. Para o autor, sistema de produção semiconfinado (produção a pasto associado à estabulação parcial) ou sistema de confinamento total dos animais (estabulação completa) são fortemente afetados e suas instalações necessitam de um planejamento das instalações que proporcionem, entre outras coisas: aumentar a eficiência da mão de obra; oferecer condição de conforto aos animais; reduzir o número de acidentes e diminuir os custos de produção de leite.

Conforme Carvalho et al (2003), a definição e detalhamento do sistema de produção adequado ao manejo a ser adotado é o item principal para a execução do planejamento global das instalações e consequentemente a definição do arranjo físico mais adequado. Após definido o arranjo físico, as instalações podem ser projetadas com todos os detalhes necessários para construção, entre eles:

  1. Plantas – plantas baixas, cortes, fachadas, detalhes;
  2. Memorial descritivo com especificações técnicas considerados nos projetos arquitetônico, estrutural, hidráulico, elétrico, entre outros;
  3. Orçamento com o custo estimado da obra e
  4. Cronograma físico-financeiro

Com o objetivo de auxiliar os gestores no planejamento e definição de prioridades das ações de segurança em instalações elétricas em unidades de produção de leite, foi verificada a necessidade de se elaboradar uma ferramenta que fornecesse de maneira rápida e confiárvel o nível de aderência dos procedimentos técnicos-operacionais, bem como as instalações elétricas propriemente ditas, às exigências a NR 10 Segurança em instalações elétricas do MTE de 2005.

4. Metodologia

A metodologia utilizada no desenvolvimento da ferramenta de gestão de segurança do trabalho nas instalações elétricas de propriedades de produção intensiva de leite foi de caráter exploratório através da investigação quantitativa e aplicação do roadmap adaptado para a NR 10. O objetivo é descobrir qual o nível de aderência que as instalações elétricas estão em relação às exigências da NR 10 elencados no modelo criado por este trabalho.

A escolha das propriedades visitadas foi caracterizada pelas mesmas serem produtoras de leite de forma intensiva.

A Figura 2 mostra a seqüência para o desenvolvimento dos trabalhos.

Figura 2 – Seqüência para desenvolvimento dos trabalhos

5. Critérios para seleção das propriedades a serem pesquisadas

Os critérios considerados na seleção das propriedades de produção de leite foram os seguintes:

  1. Produção de leite em regime de confinamento total, devido ao número de edificações instaladas serem em maior número que produção de leite a pasto;
  2. Potência instalada maior que 75 kW (potência do transformador) e
  3. Localizadas num raio não superior a 500 quilometros da cidade de Ponta Grossa (cidade onde fica a universidade).

6. Apresentação e aplicação da ferramenta

A ferramenta elaborada por Silva (2011) para ser aplicada nos itens da NR 18 foi a base para desenvolvimento da ferramenta desenvolvida neste trabalho para ser aplicada nos itens da NR 10 para coleta de dados nas propriedades de produção de leite.

Adaptando os critérios adotados por Rocha (2009) e os critérios adotados por Silva (2011), foram definidos os seguintes critérios para a elaboração da ferramenta de pesquisa voltados para a NR 10:

  1. Abordar os itens da norma que fossem possíveis de serem verificados na propriedade em uma única visita. Itens de difícil comprovação não foram considerados, tais como exames clínicos, Atestado de Saúde Ocupacional (ASO), entre outros;
  2. Os itens específicos da parte elétrica que são usualmente aplicados em instalações de leite. Instalações de Alta Tensão não foram contemplados;
  3. O foco principal foi para Sistema de Proteção Contra Descarga Atmosférica (SPDA), painéis, ferramental, mão de obra interna e terceiros;
  4. As perguntas foram elaboradas para que não houvesse exigência de mais de item da norma, evitando a possibilidade de dúbia interpretação e/ou preenchimento;
  5. As principais não-conformidades encontradas nas instalações elétricas tiveram registros fotográficos e uma observação do que estava em não conformidade com o item específico da NR 10. O objetivo deste registro foi o de fornecer aos proprietários e/ou gestores das unidades produtores de leite um laudo para posterior adequação das instalações;
  6. Os pesos adotados para os itens da norma utilizados na ferramenta de Silva (2011) foram adaptados, os quais estão descritos na Tabela 2.

Tabela 2 – Pesos adotados conforme a situação encontrada na instalação

Item atende a norma

Descrição

Peso

Sim

Item está conforme a NR 10

10

Não

Item está em desacordo com a NR 10

0

Parcial

Item atende parcialmente a NR 10 e necessita de melhoria.

5

Sem Avaliação

Item que não foi avaliado por não se aplicar a instalação.

7

Fonte: Adaptado de SILVA (2011)

Os principais itens verificados na pesquisa na propriedades foram:

  1. Qual o nível de conhecimento da NR 10 dos proprietários e/ou gestores;
  2. Quais são as ações adotadas para evitar acidentes com eletricidade;
  3. Qual foi o planejamento das instalações elétricas durante a construção das instalações;
  4. Se a documentação técnica das instalações elétricas existentes atendem às exigências de segurança da NR 10
  5. Como é executada a manutenção nas instalações elétricas;
  6. Se os terceiros conhecem a NR 10;
  7. Existência física e de laudos de SPDA e aterramento nas instalações elétricas;
  8. Se as cercas elétricas estão construídas conforme as especificações do fabricante;
  9. Se os painéis elétricos estão adequados às exigências da NR 10;
  10. Se as ferramentas utilizadas em intervenções estão adequados às exigências da NR 10;
  11. Se as vestimentas utilizadas por terceiros estão adequadas às exigências da NR 10

Para responder as questões acima a ferramenta separou em grupos para facilitar a aplicação e o entendimento da mesma. Os grupos que compõem a ferramenta serão os seguintes:

  1. Documentação técnica - será verificado se existe o PIE, se existe o diagrama unifilar geral e se está atualizado, existência de diagramas dos painéis elétricos atualizados, manuais dos principais equipamentos e de cercas elétricas, desenhos e manuais do sistema de gerador de energia, existência de memorial descritivo e de cálculo dos projetos e condição de armazenamento da documentação;
  2. SPDA e aterramento - verificar se as condições das instalações do SPDA e sistema de aterramento estão em boas condições,  se existem relatórios e laudos, se existe programa de manutenção preventiva, projeto com memorial descritivo e de calculo;
  3. Mão de obra interna - será verificado se existe pessoa responsável pela manutenção das instalações elétricas; se são feitos treinamentos aos funcionários que trabalham nas instalações elétricas; se as pessoas que trabalham nas instalações elétricas possuem autorização formal do proprietário e se são capacitados; se as ferramentas utilizadas possuem isolamento adequado ao nível de tensão das instalações e se estão em condições de uso; se os funcionários que trabalham nas instalações elétricas são submetidos a exames de saúde periódicos compatíveis com as atividades realizadas; se os funcionários utilizam adornos e se recebem orientação formal sobre a proibição do uso de adornos;
  4. Terceiros - Se os terceiros que trabalham nas instalações elétricas da propriedade estão de acordo com as exigências da NR 10, em especial, itens como treinamentos com segurança com eletricidade, se possui responsável técnico habilitado, possui procedimentos adequados para execução dos serviços nas instalações elétricas, se emitem Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) dos serviços executados;
  5. Situações de emergências - se a propriedade possui procedimentos que atendem situações de emergências com eletricidade;
  6. Painéis elétricos - se os painéis elétricos estão de acordo com as exigências da NR 10 quanto a sinalização de advertência, aterramento, identificação dos componentes e cabos, se possui barreira de proteçãoo contra contatos acidentais nas partes energizadas;
  7. Instações elétricas - verificação se as instalações elétricas (eletrodutos, cabos, iluminação e tomadas) estão em boas condições, se não há mistura de cabos de tensões e/ou finalidades diferentes, se não há condições de risco de acidentes com partes energizadas desprotegidas;
  8. Áreas classificadas - verificar se as instalações elétricas em áreas classificadas estão em boas condições e se estão de acordo com o grau de risco determinado na área;
  9. Sinalização de segurança - verificar se há sinalização de segurança nos painéis, instalações elétricas para advertir sobre os riscos de acidentes, para informar quanto a restrição de acesso a áreas de risco, se há sistema de sinalização de bloqueio de equipamento impedido de operar;
  10. Responsabilidades - verificar a existência de laudos, ART’s emitidos por profissionais legalmente habilitados.

A Figura 3 mostra uma parte da ferramenta onde se pode observar as colunas que compõem a mesma.

Figura 3– Visão da ferramenta desenvolvida

Os campos existentes são os seguintes:

  1. Itens das normas- qual o item da NR 10  (NR 31 opcional) o item está relacionado;
  2. Descrição- item a ser verificado e
  3. Avaliação – a avaliação seguiu conforme Tabela 2;
  4. Após feita a avaliação, a ferramenta gera uma nota para cada grupo avaliado e as premissas para avaliação estão conforme Tabela 3.

Tabela 3- Critérios de pontuação

Limites

Pontuação

Ação

Meta de pontuação

8

Sem ação

Limite aceitável

> = 7

Atenção

Preocupante

< 7

Agir imediatamente

 

Ao preencher a avaliação de cada item, um resumo da média parcial de cada grupo é gerado, conforme Tabela 4.

Tabela 4 - Resumo de pontuação de cada grupo avaliado

GRUPOS

AVALIAÇÃO

DOCUMENTAÇÃO TÉCNICA

2,27

SPDA e ATERRAMENTO

0,56

MÃO DE OBRA

3,57

SITUAÇÃO DE EMERGENCIAS

0,00

PAINÉIS  ELÉTRICOS

4,09

ILUMINAÇÃO E TOMADAS

2,73

ÁREAS CLASSIFICADAS

0,00

SINALIZAÇÀO DE SEGURANÇA

0,83

RESPONSABILIADES

2,50

Na Tabela 4 tem-se a média da pontuação de cada grupo avaliado na coluna “Avaliação” e na coluna  “Ação” é gerada a recomendação para uma ação em relação a cada item: se a média ficar abaixo de 7, a recomendação será “Agir imediatamente”, média entre 7 e 8, a recomendação será de “Atenção”. Para facilitar o entendimento, um gráfico é gerado mostrando a situação de cada grupo em relação a meta e ao limite aceitável.

Após o preenchimento do check-list in loco, ele é analisado pelo gráfico e suas notas, apresentado ao proprietário ou gerente. A nota demonstra o desempenho quanto às condições de segurança nas instalações elétricas.

A Figura 4 mostra uma representação gráfica de uma avaliação hipotética.

Figura 4- Representação gráfica dos pontos obtidos em cada grupo analisado

Para facilitar ainda mais o entendimento pelo proprietário, uma avaliação da quantidade de itens atendidos, itens atendidos parciamente e itens não atendidos, conforme Figura 5.

Figura 5 – Resumo

7. Resultados obtidos

A ferramenta foi aplicada  em três propriedades de produção intensiva de leite no sistema de confinamento total dos animais, e o Quadro 1 dá uma visão geral das condições das propriedades visitadas e analisadas.

Quadro 1 – Visão geral das propriedades visitadas

Item

Propriedade I

Propriedade 2

Propriedade 3

Início das Atividades

1988

1955

1955

Área da pripriedade (ha)

1098

240

180

Quantidade de animais em lactação

730

1300

820

Volume diário de Produção (l)

13.500

20.000

12.000

Barracões gerais

2

2

1

Estábulos

4

12

13

Área Construída (m2)

9.100

15.000

9150

Funcionários

26

19

23

Funcionário da propriedade que trabalha na parte elétrica

1

0

0

Potencia instalada (kVA)

427,5

360

225

Tensão (V)

220/127

220/127

220/127

Sistema

Trifásico

Trifásico

Trifásico

Num. fornecedores que atuam na parte elétrica

2

2

2

Grau de instrução

 

 

 

Superior completo

Propriedade - 1

Propriedade - 1

Fornecedor 1 - 6

Superior incompleto

Propriedade - 1

 

Propriedade – 1

Fornecedor 1 – 0

Fornecedor 2 - 1

Superior incompleto

Propriedade - 1

 

Propriedade – 1

Fornecedor 1 – 0

Fornecedor 2 - 1

Segundo Grau completo

Propriedade – 3

Fornecedor 1 – 0

Fornecedor 2 - 1

Propriedade - 2

Propriedade – 3

Fornecedor 1 – 19

Fornecedor 2 - 1

Segundo Grau incompleto

Propriedade - 5

Propriedade - 1

Propriedade - 1

Primeiro Grau Completo

 

 

 

Primeiro Grau incompleto

Propriedade - 17

Propriedade - 15

Propriedade – 18

Fornecedor 1 - 3

Pelo Quadro 1 pode-se verificar que as propriedades estão há muitos anos na atividade e que possuem potência instalada superior a 75 kW, portanto, enquadradas às exigências da NR 10.

Observa-se também que a maioria dos funcionários das propriedades não completou o primeiro grau, e tal situação pode trazer dificuldades na transferência de conhecimento para procedimentos operacionais e de segurança dos equipamentos utilizados na ordenha, os quais estão trazendo maior tecnologia embarcada e exigindo uma maior qualificação dos funcionários.

A Tabela 5  mostra os resultados obtidos com a aplicação da ferramenta nas propriedades.

Tabela 5 – Resultado de cada grupo avaliado nas propriedades

GRUPOS

Propriedade 1

Propriedade 2

Propriedade 3

DOCUMENTAÇÃO TÉCNICA

0,70

2,27

2,27

SPDA e ATERRAMENTO

0,00

0,45

0,56

MÃO DE OBRA

1,15

5,50

3,57

SITUAÇÃO DE EMERGENCIAS

0,00

5,00

0,00

PAINÉIS  ELÉTRICOS

2,50

0,00

4,09

ILUMINAÇÃO E TOMADAS

2,73

6,82

2,73

ÁREAS CLASSIFICADAS

0,00

8,64

0,00

SINALIZAÇÃO DE SEGURANÇA

0,83

0,00

0,83

RESPONSABILIADES

0,00

4,50

2,50

Pela Tabela 5 todas as três propriedades estão com deficiências quanto à aderências de suas instalações elétricas e procedimentos técnicos-administrativos às exigências da NR 10. A propriedade 2 obteve pontuação acima da meta quanto a áreas classificadas (armazenamento de oleo diesel), nas demais propriedades este item não atende as exigências da NR 10. O grupo referente ao SPDA e sistema de aterramento (proteção coletiva de pessoas e instalações) está deficiente em todas as propriedades. Assim como o grupo “Documentação técnica”, pois, ou não existia ou não estava atualizada. Outro grupo que chama a atenção é o grupo “Responsabilidades”, pois nenhuma propriedade possui ART de projeto e nem contrato de prestação de serviços de manutenção das instalações elétricas. Isto faz com que a carga maior da responsabilidade sobre as ocorrências recaia sobre gestores e/ou proprietário. A Figura 6 mostra a representação gráfica da pontuação obtida.

Figura 6– Representação gráfica da pontuação obtida pelas propriedades

Pela Figura 6 percebe-se que a propriedade 3 está com um nível de aderencia aos requisitos da NR 10 mais fraco que as propriedades 1 e 2.

Ao fazer a aplicação da ferramenta foram obtidos dados relevantes e contributivos para a interpretação dos dados levantados pela ferramenta. São eles:

  1. O conhecimento sobre as normas do MTE é baixo pela maioria dos gestores/proprietários;
  2. Nenhum dos gestores ouviu falar ou tem conhecimento da NR 10;
  3. Todos os gestores tem noção da necessidade de aterramento e SPDA, porém, alguns não acreditam no seu funcionamento (acham que para-raios atraem raios);
  4. Todas as propriedades tiveram ampliação das instalações elétricas devido a alteração e/ou instalação de novos equipamentos ou novas instalações;
  5. Somente em uma das propriedades as modificações foram feitas por profissional legalmente habilitado, porém não foram emitidas ART de projeto e execução e memorial descritivo e projeto estavam em poder do fornecedor em vez da propriedade;
  6. Em nenhuma das propriedades ocorreram acidentes de origem elétrica segundo os gestores;
  7. Nenhuma das propriedades fazem inspeções periódicas de caráter preventivo nas instalações elétricas, sistema de aterramento e SPDA;
  8. Todas as propriedades possuem fornecedor de Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e Atestado de Saúde Ocupacional (ASO);
  9. Nenhuma das propriedades tiveram orientação sobre NR 10 tanto de fornecedores de serviços da parte elétrica, fornecedores de equipamentos e fornecedor de PPRA e ASO;
  10. Nenhuma das propriedades possui contrato ou ordem de serviço sob demanda com os fornecedores;
  11. Somente uma das propriedades visitadas possui fornecedor com responsável técnico legalmente habilitado para a parte elétrica, porém o mesmo não emite ART para os serviços realizados sob contrato ou sob demanda;
  12. Nenhuma das propriedades possui procedimentos para situações de emergência e
  13. Somente uma das propriedades possui funcionário que trabalha nas instalações elétricas gerais (iluminação e tomadas de usos geral), porém, o mesmo não possui qualificação e/ou capacitação.

8. Conclusão

A aplicação da ferramenta, indicou que as propriedades de produção de leite de forma intensiva visitadas não estão atendendo os critérios básicos da NR 10 e que os gestores estão ignorantes quanto a isto. Com isto, as responsabilidades civis e criminais recaem quase que totalmente sobre as propriedades, haja vista que não há documentos (contratos, ART’s) que comprovem o vínculo do serviço prestado.

Verificou-se também que as propriedades possuem excelência na produção de leite utilizando instalações e equipamentos com alta tecnologia embarcada, mas pecam em não possuir documentação técnica (diagramas unifilares e manuais), projetos e memorial descritivo das instalações elétricas, sistema de aterramento e SPDA mesmo em instalações novas. Deixam à margem intervenções nas instalações elétricas de maneira preventiva.

Por outro lado, os fornecedores de serviços e equipamentos também não estão adequados para atender as exigências da NR 10, uns por falta de capacidade técnica, alguns por desconhecimento e outros por ambas as coisas.

Conclui-se que o objetivo de criar uma ferramenta de fácil uso e que auxilie os gestores de empresas, não somente produtoras de leite, na gestão do nível de aderência das instalações elétricas às exigências da NR 10 de maneira rápida, foi atingido.

Referências

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Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) (2015), PIB DO AGRONEGÓCIO - PERSPECTIVAS PARA 2015 – RELATÓRIO EXPANDIDO, Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz (ESALQ), disponível em http://cepea.esalq.usp.br/pib/ , acessado em 20/06/2013 às 10:45 hs.

 

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1. Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Campus de Ponta Grossa-PR, Brasil. E-mail: masmacedo@gmail.com
2. Doutorado em Engenharia de Produção na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Docente na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus de Ponta Grossa – PR, Brasil. E-mail:ariel@utfpr.edu.br


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 28) Año 2016

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