Espacios. Vol. 37 (Nº29) Año 2016. Pág. 22

Perfil empreendedor de servidores em uma universidade pública brasileira

Entrepreneur profile of servants in a brazilian public university

Marcus Vinicius Gonçalves da SILVA 1; Maria Lucia Figueiredo Gomes de MEZA 2; Thiago Cavalcante NASCIMENTO 3; Anderson CATAPAN 4

Recibido: 29/05/16 • Aprobado: 12/07/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Referencial Teórico

3. Procedimentos metodológicos

4. Resultados e discussão

5. Considerações finais

Referências


RESUMO:

Com as mudanças socioeconômicas ocorridas em nível mundial, as organizações privadas e públicas têm buscado profissionais capacitados para criar e inovar. Nas instituições universitárias os processos de empreendedorismo e de inovação podem vir a contribuir de forma significativa para a qualificação de seu quadro de profissionais. Este artigo pretende trazer uma contribuição científica sobre o empreendedorismo público, analisado sob os aspectos da pessoa (o agente empreendedor), em uma instituição de ensino superior pública, tendo como escopo a investigação da percepção dos servidores quanto às suas características comportamentais empreendedoras. O método de pesquisa utilizado foi o estudo de caso, com aplicação de um questionário aos servidores de 13 câmpus da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). O questionário foi desenvolvido conforme a metodologia ONU/Empretec/Sebrae, a fim de avaliar as dez características comportamentais empreendedoras desenvolvidas pelo psicólogo David Clarence McClelland. Os resultados revelam que os servidores da UTFPR possuem características comportamentais empreendedoras; porém, algumas ainda incipientes, que podem ser desenvolvidas por meio de capacitação pessoal e de fomento institucional para a criação de um ambiente empreendedor e inovador.
Palavras chave: inovação, intraempreendedorismo, comportamento empreendedor, instituição pública de ensino.

ABSTRACT:

Given socio-economic changes worldwide, private and public organizations have sought trained professionals to create and innovate. Inside universities the processes of entrepreneurship and innovation could help significantly to the qualification of its staff. This article aims to scientifically contribute on public entrepreneurship, analyzed from aspects of the individual (the entrepreneur/public employee) in a public higher education institution, with the scope of investigating the perception of public servants about their entrepreneurial behavioral characteristics. Regarding the research method, it was a case study, being applied a questionnaire to employees from 13 campus of Federal University of Technology – Paraná (UTFPR). The questionnaire was developed by the UN/Empretec/Sebrae methodology in order to assess the ten entrepreneurial behavioral characteristics developed by psychologist David Clarence McClelland. The results show that the UTFPR employees have entrepreneurial behavioral characteristics; however, some still in their infancy, which can be developed through personal empowerment and institutional development for the creation of an entrepreneurial and innovative environment.
Keywords: innovation, intrapreneurship, entrepreneurial behavior, public higher education institution.

1. Introdução

O aperfeiçoamento e a inovação têm sido necessidades constantes nas instituições públicas interessadas em aprimorar a qualidade de seus serviços prestados, em aumentar a satisfação de seu público interno e externo, em desenvolver um sistema de gestão de forma a se tornar referência para outras instituições.

Para Klein et al. (2010), as dificuldades no que tange ao desejo de estimular a pesquisa no campo do empreendedorismo sobre questões importantes aos interesses públicos e instituições públicas, devem-se a três fatores: (i) o alinhamento de objetivos individuais em um interesse público é um problema complexo; (ii) os interesses individuais são multifacetados e alinhamentos aparentes podem refletir problemáticas de entendimento e compromissos temporários; e (iii) os interesses privados estão mudando, o que pode significar que as declarações atuais do interesse público não são mais válidas num futuro próximo.

 O objetivo deste trabalho é analisar o perfil do empreendedor em uma instituição pública de ensino na perspectiva da capacidade de inovação. Para tanto, como referencial teórico, utiliza-se o conceito dos diversos autores sobre empreendedorismo (Dolabela, 2000; Dornelas, 2001; Melo, Costa e Cericato; 2007), intraempreendedorismo (Pinchot III, 1989; Prado et al. 2011; David; 2004) e inovação (Van de Ven, 1986; Drucker, 1987; Hashimoto, 2006). Conforme aponta Morais et al. (2015) o empreendedorismo no setor público ainda permanece pouco explorado como estudo, apesar deste setor, ter um papel fundamental na sociedade. Assim, as discussões sobre o empreendedorismo e a inovação no setor público assumem relevância. Nesse sentido, o estudo pretende responder à seguinte questão: quais são as características comportamentais empreendedoras evidenciadas numa instituição pública de ensino superior?

Este estudo de caso está dividido em cinco partes. Além dessa introdução, na segunda parte, discutem-se os conceitos sobre empreendedorismo e intraempreendedorismo na gestão pública. Na terceira parte, serão apresentados os aspectos metodológicos que sustentam este estudo, enquanto que na quarta parte será feita a apresentação, análise e a discussão dos resultados e, na última parte, são apresentadas as considerações finais.

2. Referencial Teórico

Para dar suporte à investigação proposta, há importantes conceitos a serem considerados para a consecução dos objetivos. Dessa forma, esta seção está estruturada para apresentar o estado atual dos conhecimentos relativos ao empreendedorismo, inovação, intraempreendedorismo, cultura empreendedora, o empreendedorismo público com foco nas instituições de ensino, o perfil empreendedor e, o EMPRETEC.

2.1. Empreendedorismo

O fenômeno empreendedorismo já foi mais reservado ao setor privado, mas atualmente tem despertado o interesse do setor público, como forma de gerir a escassez de recursos, inovar e renovar as organizações públicas. Conforme Dornelas (2001, p. 37) o termo empreendedorismo deriva-se da palavra entrepreneurship, utilizado para designar os estudos relativos ao empreendedor, seu perfil, suas origens, seu sistema de atividades e seu universo de atuação, e tem como precursor o economista francês Jean-Baptiste Say (1767-1832), considerado por Filion (1999) o “pai do empreendedorismo”.

De acordo com Melo, Costa e Cericato (2007, p. 36), o empreendedorismo é a criação de valor por pessoas e organizações trabalhando juntas para implementar uma ideia por meio da aplicação de criatividade, capacidade de transformação e o desejo de tomar aquilo que comumente se chamaria de risco. Nesse ínterim, o empreendedorismo pode ser considerado como o despertar do indivíduo para o aproveitamento integral de suas potencialidades racionais e intuitivas. É a busca do autoconhecimento em processo de aprendizado permanente, em atitude de abertura para novas experiências e novos paradigmas, e Dornelas (2001) sintetiza estes aspectos descrevendo que o empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem; antecipa-se aos fatos e tem uma visão futura da organização.

No tocante ao empreendedorismo público, Mierlo (1995) ressalta que pode ser estabelecido tanto na gestão interna das organizações públicas, como na sua gestão externa, isto é, nos contatos que mantêm com os cidadãos e suas organizações privadas e grupos de interesse.

Como descreve Dolabela (2000):

Ser empreendedor não é somente acúmulo de conhecimento, mas a introjecção de valores, atitudes, comportamentos, formas de percepção do mundo e de si mesmo voltados para atividades em que o risco, a capacidade de inovar, perseverar e de conviver com a incerteza são elementos indispensáveis. Então, empreender significa tomar a iniciativa, assumir papel e atitude empresarial na busca e consolidação das estratégias, inovar, explorar a mudança como oportunidades de negócios ou serviços diferenciados. Para tal, a que se contar com os valores. Uma vez que as pessoas mostram seus valores todo o tempo no que elas dizem e não dizem, no que elas fazem e não fazem no que elas se aproximam e no que elas evitam (Dolabela, 2000, p. 44).

Na literatura, verifica-se que além dos autores supracitados, outros estudiosos desenvolveram teorias que destacam características próprias do empreendedor. À luz destas considerações, verifica-se no Quadro 1 o levantamento das características mais frequentemente citadas como empreendedoras, para que se possa estabelecer o perfil do empreendedor a ser discutido na análise deste artigo.

Quadro 1 – Características Pessoais e Interpessoais do Perfil Empreendedor.

Fonte: Adaptado de Espejo (2004, p. 43).

Neste mesmo pensamento, Schumpeter (1928 apudDolabela, 2008, p. 66) associou o termo empreendedorismo à ideia de inovação, apontando o empreendedor como elemento que catalisa o desenvolvimento econômico devido ao aproveitamento de oportunidades em negócios. Nascimento et al. (2007) observa que a partir Schumpeter, a figura do empreendedor ganhou destaque em outras áreas do conhecimento, principalmente na escola dos comportamentalistas, que deram início aos estudos das características, ou seja, do perfil dos então chamados empreendedores.

Nessa linha de raciocínio, Carvalho et al. (2011, p. 31) apontam que empreendedorismo e inovação podem ser úteis ao setor público, mormente com o uso de inovações organizacionais, que têm como foco “as pessoas e a organização no trabalho, bem como a redução de custos administrativos, custos de suprimentos e melhoria das competências”, conceitos corroborados a seguir.

2.2. Inovação

O Manual de Oslo (2005) define quatro tipos de inovações que encerram um amplo conjunto de mudanças nas atividades das empresas: inovações de produto, inovações de processo, inovações organizacionais e inovações de marketing. Essa classificação possui o maior grau de continuidade possível com a definição precedente de inovação de produto e de processo utilizada na segunda edição do Manual de Oslo de 1997. Estas inovações são descritas pela OCDE (2005) conforme a seguinte classificação:

  1. Inovação de produto (bens ou serviços): introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos. Incluem-se melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais.
  2. Inovação de processo: implementação de um método de produção ou distribuição novo ou significativamente melhorado. Incluem-se mudanças significativas em técnicas, equipamentos e/ou softwares.
  3. Inovação de marketing: implementação de um novo método de marketing com mudanças significativas na concepção do produto ou em sua embalagem, no posicionamento do produto, em sua promoção ou na fixação de preços.
  4. Inovação organizacional: implementação de um novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho ou em suas relações externas (OCDE, 2005).

Muitos conceitos sobre inovação estão incorporados nas pessoas e em suas habilidades, e estas são necessárias para se fazer o uso inteligente das fontes de conhecimento externas ou codificadas (Manual de Oslo, 2005). As pessoas empreendedoras possuem características peculiares, pois possuem a necessidade de inovar, visualizam oportunidades mesmo em situações adversas. Para os empreendedores, os desafios, sejam religiosos, comerciais, culturais, econômicos, políticos, etc., alimentam a criatividade, proporcionam a quebra de paradigmas, fomentam a motivação pessoal e instiga a busca por inovação. Destarte, a inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio ou serviço diferente (Drucker, 1987).

Vários são os estudiosos que conceituam o processo de inovação e alguns deles o definem como o desenvolvimento e a implementação de novas ideias por pessoas em transações dentro de um contexto institucionalizado (Van de Ven, 1986; Lam, 2005; Cimoli et al., 2007).

Hashimoto (2006) observa que a inovação é uma grande dificuldade enfrentada pelas empresas porque muitas vezes é confundida com processo criativo e porque não é de qualquer tipo de inovação que as empresas precisam. Elas necessitam da inovação empreendedora que é pouco perceptível e que surge e cresce sem grande alarde. O intraempreendedor tem essa grande capacidade de inovar. Está sempre buscando desenvolver novas soluções quando aquelas já conhecidas não satisfazem. Transforma ideias em fatos concretos e dinâmicos garantindo a permanente evolução da organização.

No Manual de Oslo (2005) as atividades de inovação são consideradas etapas científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais que conduzem, ou visam conduzir, à implementação de inovações. Algumas atividades de inovação são em si inovadoras outras não são atividades novas, mas são necessárias para a implementação de inovações. As atividades de inovação também inserem a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) que não está diretamente relacionada ao desenvolvimento de uma inovação específica.

Como determina Drucker (1986, p. 45), a constante presença de uma inovação sistemática, delineando “a busca deliberada e organizada de mudanças, e a análise das oportunidades que tais mudanças podem oferecer para a inovação econômica ou social”, ou seja, a análise permanente e das oportunidades que tais mudanças podem oferecer ao indivíduo. No entanto, além da inovação, outras características compõem o perfil do empreendedor, principalmente aquelas relativas à criatividade, à motivação para a realização, à capacidade para assumir riscos e à auto-responsabilização pelos resultados de suas ações.

Anos depois, Cristensen, Schibany e Vinding (2000, p. 2) complementaram que um "sistema de inovação" é um processo interativo onde os agentes e organizações se comunicam, cooperam e estabelecem relacionamentos de longo prazo.

Drucker (2002) ainda assevera que inovação e criatividade são instrumentos específicos dos empreendedores e ingredientes fundamentais para o desenvolvimento econômico. Não basta apenas inovar nos produtos e serviços oferecidos, mas principalmente no modelo de gestão. Nesse sentido, a inovação também se encontra presente no desenvolvimento das instituições de ensino superior, e as universidades têm-se voltado a uma nova cultura do empreendedorismo e da inovação (Etzkowitz, 2003; Oliveira, Filion, 2007).

2.3. Intraempreendedorismo

Antes de abordar o conceito de intrapreneur (ou intraempreendedor), mister se faz descrever o conceito de Pinchot III (1989) como sendo todos os “sonhadores que realizam”, aqueles que assumem a responsabilidade pela criação de inovações de qualquer espécie dentro de uma organização, que concebem como transformar uma ideia em uma realidade lucrativa. Para Pinchot III (1985), uma organização empreendedora deve ser organizada em torno de equipes que funcionam como pequenas empresas agrupadas, atuando em rede.  

David (2004, p.28) corrobora com o autor ao dizer que intraempreendedora “é uma pessoa dentro da organização que assume responsabilidade direta para transformar uma ideia em um produto final lucrativo através de tomada de risco e inovação”. De acordo com o contexto, o intraempreendedor vive em constante mudança, buscando formas de inovar dentro da organização, seja ela pública ou privada, e por meio desta inovação ele busca a realização profissional e pessoal.

Percebe-se que o intraempreendedorismo ocorre por meio da força de vontade de empreender das pessoas nas universidades, sejam elas privadas ou públicas (Prado et al, 2011).

O empreendedor possui vínculo empregatício com uma grande organização, denominado “intraempreendedor” e, que por meio dos seus talentos pessoais, atua como revolucionário acelerando as inovações dentro das empresas (Pinchot III, 1989). O autor enumera algumas características comumente observadas nos indivíduos intraempreendedores conforme se observa no Quadro 2.

FATORES

CARACTERÍSTICAS

Motivos Principais

Quer liberdade e acesso aos recursos da corporação. Orientado para metas e automotivado, mas também reage às recompensas e ao reconhecimento da corporação.

Ação

Põe a “mão na massa”. Pode saber como delegar, quando necessário faz o que deve ser feito.

Coragem e Destino

Autoconfiante e corajoso. Muitos intraempreendedores são cínicos a respeito do sistema, mas otimistas quanto à sua capacidade de superá- lo.

Risco

Gosta de riscos moderados. Em geral não teme ser demitido, portanto vê pouco risco possível.

Status

Consideram os símbolos de status tradicionais uma piada - prefere símbolos de liberdade

Decisões

Gosta de fazer os outros concordem com sua visão. Algo mais paciente e disposto a compromissos que o empreendedor, mais ainda um executor.

A quem serve

Agrada a si mesmo, aos clientes e patrocinadores.

Atitude em relação ao sistema

Não gosta do sistema, mas aprende a manipulá-lo.

Estilo de solução de problemas

Resolve problemas dentro do sistema ou passa por cima dele, sem deixá-lo.

Relacionamento com os outros

Transações dentro da hierarquia

Quadro 2 - Características dos indivíduos intraempreendedores.
Fonte: Adaptado de Pinchot (1989, p. 44).

Para desenvolver o potencial intraempreendedor e estabelecer uma cultura empreendedora em todos os níveis organizacionais, as empresas devem levar em consideração aspectos como processo de recrutamento e seleção, treinamento, motivação, liderança, criatividade, cultura organizacional e inovação.

2.4. O empreendedorismo e a inovação nas universidades públicas

No Brasil, o intraempreendedorismo ainda é um termo novo para as empresas, pois mesmo com as necessidades existentes no novo contexto mercadológico, novas posturas organizacionais precisam ser adotadas.

Com a alta competitividade, informações em tempo real e outros desafios empresariais modernos, o intraempreendedorismo oferece uma maneira para acelerar as inovações de qualquer espécie dentro das organizações através do melhor emprego dos seus talentos humanos (David, 2004, p. 47).

Campelli et al. (2011, p. 142) ressalta que uma instituição de ensino empreendedora não é somente aquela que incluiu em seu projeto pedagógico disciplinas ou cursos de empreendedorismo, mas, sobretudo, aquela que adota como instituição, um novo paradigma educacional, tornando-se, ela mesma, uma instituição empreendedora.

Rodrigues (2006) complementa que em um novo patamar de mercado se exigirá mudanças em aspectos específicos da cultura das instituições, reconfigurando a estrutura, alterando sistemas, processos e rotinas e desenvolvendo, nas pessoas uma postura orientada ao empreendedorismo e à inovação.

As universidades são instituições complexas, nas quais as políticas públicas de desenvolvimento realizadas na última década pelo governo federal, os planos de reestruturação das universidades federais e os programas de inclusão social nas universidades trazem grandes desafios a serem enfrentados pelas instituições universitárias (Machado et al., 2010).

Hashimoto (2006, p. 192) diz que o grande desafio das empresas que almejam desenvolver uma cultura voltada à inovação é propiciar as condições para que suas ideias brotem e floresçam em todos os níveis da organização, partindo-se do pressuposto de que a solução criativa para problemas de qualquer área ou natureza pode vir absolutamente de qualquer pessoa.

A socióloga Rick Rosser, denominou gerentes ou profissionais de ensino superior aqueles que têm funções administrativas importantes dentro das instituições de ensino superior (Rosser, 2004). 

2.5. O estudo da cultura empreendedora

As tentativas de se estudar a vida dos empreendedores e as características psicossociais que os motivam a iniciar um novo negócio se justificam pela necessidade de se estabelecer um conjunto de características e habilidades empreendedoras pudessem ser aumentadas e ensinadas (Vesper, 1982).

A seleção de empreendedores, segundo Hashimoto (2006), não pode se limitar apenas às competências técnicas (currículo), pois o perfil empreendedor está relacionado mais com comportamento do que com conhecimento e experiência.

Para Filion (1999, p. 19):

O empreendedor é uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e que mantém alto nível de consciência do ambiente em que vive, usando-a para detectar oportunidades de negócios. Um empreendedor que continua a aprender a respeito de possíveis oportunidades de negócios e a tomar decisões moderadamente arriscadas que objetivam a inovação continuará a desempenhar um papel empreendedor.

Lezana et al. (1996), nesse sentido, entendem que o processo comportamental abrange várias etapas, entre as quais destacam o evento, a percepção, o estímulo, a motivação, a geração de alternativas, a decisão e a resposta.

Filion (1997 apudDolabela, 2008) acredita que as características variam de acordo com as atividades que o empreendedor executa em uma dada época ou em função da etapa de crescimento da empresa. Por isso existem diferentes resultados, conforme o Quadro 3, que apontam diversas características empreendedoras abordadas pelos comportamentalistas.

CARACTERÍSTICAS EMPREENDEDORAS

Inovação

Otimismo

Tolerância à ambiguidade e à incerteza

Liderança

Orientação para resultados

Iniciativa

Riscos moderados

Flexibilidade

Capacidade de aprendizagem

Independência

Habilidade para conduzir situações

Habilidade na utilização de recursos

Criatividade

Necessidade de realização

Sensibilidade a outros

Energia

Autoconsciência

Agressividade

Tenacidade

Autoconfiança

Tendência a confiar nas pessoas

Originalidade

Envolvimento a longo prazo

Dinheiro como medida de desempenho

Quadro 3 – Características mais frequentes dos empreendedores segundo os comportamentalistas.
Fonte: Elaborado por Filion (1999, p. 9).

Para Chér (2008, p. 123-125) outras características são peculiares do intraempreendedor, sendo elas: incentivar a proatividade e inovação, antecipar as mudanças de cenários, disposição para enfrentar novos desafios, assume responsabilidade por todos os aspectos do negócio que querem iniciar e cria protótipos rapidamente para apresentar suas ideias.

De acordo com Pereira e Santos (1995), as habilidades requeridas de um empreendedor podem ser encontradas em diversas áreas, como as técnicas, gerenciais e de características pessoais, observadas no Quadro 4.

Habilidades Técnicas

Concentram-se no saber escrever, saber ouvir as pessoas; captar informações; capacidade oratória; organização; liderança; trabalho em equipe; e conhecimento técnico na sua área de atuação.

Habilidades Gerenciais

Incluem marketing, administração, finanças, operação, produção, tomada de decisão, controle das ações da empresa e boa negociação.

Características Pessoais

Envolve disciplina, capacidade de correr riscos, inovação, orientação a mudanças, persistência, e liderança visionária.

Quadro 4 – Habilidades empreendedoras.
Fonte: Pereira e Santos (1995).

Dornelas (2001) complementa que essas habilidades são passíveis de aprendizado e desenvolvimento e, incluem: disciplina, assumir riscos calculados, ser inovador, ser orientado às mudanças e às oportunidades, ser persistente, e ser um líder visionário.

2.6. O estudo comportamental empreendedor de David McClelland

O termo empreendedor foi alvo de busca do conhecimento dos comportamentalistas representados por psicólogos, psicanalistas, sociólogos e outros profissionais relacionados à área do comportamento humano. Um dos pioneiros foi Weber, por volta de 1930, ao procurar identificar o sistema de valores dos empreendedores como elemento fundamental para a explicação de seus comportamentos. Apesar dos trabalhos apresentados por Weber, foram os estudos de David Clarence McClelland que realmente contribuíram para o estudo do comportamento no ramo do empreendedorismo (Filion, 1999).

No ano de 1961, McClelland identificou as dez principais características comportamentais para as pessoas empreendedoras, descritas no Quadro 5, que foram adaptadas pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), instituição privada, sem fins lucrativos, para a aplicação da metodologia EMPRETEC/ONU:

CARACTERÍSTICAS

COMPORTAMENTOS EMPREENDEDORES

1. Busca de Oportunidades e Iniciativa

 

Age com proatividade, antecipando-se as situações.

Busca a possibilidade de expandir seus negócios.

Aproveita oportunidades incomuns para progredir.

2. Persistência

 

Não desiste diante de obstáculos.

Reavalia e insiste ou muda seus planos para superar objetivos.

Esforça-se além da média para atingir seus objetivos.

3. Correr Riscos Calculados

 

Procura e avalia alternativas para tomar decisões

Busca reduzir as chances de erro.

Aceita desafios moderados, com boas chances de sucesso.

4. Exigência de Qualidade e Eficiência

 

Melhora continuamente seu negócio ou seus produtos.

Satisfaz e excede as expectativas dos clientes.

Cria procedimentos para cumprir prazos e padrões de qualidade.

5. Comprometimento

 

Traz para si mesmo as responsabilidades sobre sucesso e fracasso.

Atua em conjunto com a sua equipe para atingir os resultados.

Coloca o relacionamento com os clientes acima das necessidades de curto prazo.

6. Busca de Informações

 

Envolve-se pessoalmente na avaliação do seu mercado.

Investiga sempre como oferecer novos produtos e serviços.

Busca a orientação de especialistas para decidir.

7. Estabelecimento de Metas

 

Persegue objetivos desafiantes e importantes para si mesmo.

Tem clara visão de longo prazo.

Cria objetivos mensuráveis, com indicadores de resultado.

8. Planejamento e Monitoramento Sistemáticos

 

Enfrenta grandes desafios, agindo por etapas.

Adequa rapidamente seus planos às mudanças e variáveis de mercado.

Acompanha os indicadores financeiros e os leva em consideração no momento de tomada de decisão.

9. Persuasão e Rede de Contatos

 

Cria estratégias para conseguir apoio para seus projetos.

Obtém apoio de pessoas chave para seus objetivos.

Desenvolve redes de contatos e constrói bons relacionamentos comerciais.

10. Independência e Autoconfiança

 

Confia em suas próprias opiniões mais do que nas dos outros.

É otimista e determinado, mesmo diante da oposição.

Transmite confiança na sua própria capacidade.

Quadro 5 – As dez características comportamentais empreendedoras de McClelland (1961).
Fonte: SEBRAE (Empretec) - 2015.

McClelland (1972) desenvolveu o teste psicológico denominado ‘Conheça suas características comportamentais’, objetivando a avaliação de competências. Esse teste seria uma alternativa à aplicação de testes de inteligência que não mensuram a capacidade empreendedora, apenas o sucesso do desempenho. O autor desenvolveu suas pesquisas ao longo de quase cinco décadas, estudando os aspectos comportamentais dos empreendedores, sobretudo relacionados à motivação para realizar seus feitos. Percebeu-os como indivíduos diferenciados e passou a estudar suas principais características exteriorizadas, a fim de desenvolver programas que pudessem estimular o desenvolvimento dessas características.  

A teoria de McClelland ainda compreende as três necessidades dominantes: de realização, de afiliação, e de poder, resumidas no Quadro 6.

Necessidade de realização

o indivíduo necessita por à prova seus limites, fazer um bom trabalho e mensurar as realizações pessoais. Pessoas com alta necessidade de realização são aquelas que procuram mudanças em suas vidas, estabelecem metas realistas e realizáveis e colocam-se em situações competitivas. Seus estudos comprovaram que a carência de realização é a primeira identificada entre os empreendedores bem sucedidos. A necessidade de realização, nesse contexto, impulsiona as pessoas a iniciar e a construir um empreendimento.

Necessidade de afiliação

ocorre quando há alguma evidência quanto à preocupação em estabelecer, manter ou restabelecer relações emocionais positivas com outras pessoas.

Necessidade de poder

caracterizada principalmente pela forte preocupação em exercer autoridade sobre os outros, de executar ações poderosas.

Quadro 6 – Necessidades dominantes da motivação humana.
Fonte: Elaborado por McClelland (1972, p. 201).

A tese do autor é que a motivação humana, decorrente das características comportamentais e das necessidades dominantes responde, pelo menos em parte, pelo crescimento econômico de uma nação.

2.7. EMPRETEC

O Empretec é uma metodologia da Organização das Nações Unidas - ONU voltada para o desenvolvimento de características de comportamento empreendedor e para a identificação de novas oportunidades de negócios, promovido em cerca de 34 países. O Empretec é um programa destinado a estimular o desenvolvimento de empresários, mediante o reforço de características comportamentais, no qual teve como inspiração os estudos realizados pelo psicólogo David McClelland da Universidade de Harvard (EUA), na década de 1960 (SEBRAE, 2015).

Segundo Campelli et al. (2011), em 1982, a empresa de consultoria de McClelland, a McBeer & Company, a Agência para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (USAID) e a Management Systems International (MSI) iniciaram um projeto para estudos mais abrangentes do comportamento, em 34 países, a fim de criar meios mais eficazes de seleção e desenvolvimento de empreendedores.

No Brasil, a aplicação da metodologia do Empretec começou a partir da assinatura do Projeto Empretec (Projeto BRA/89/014), fruto da parceria entre o Sebrae, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Governo Brasileiro, por meio da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (Campelli et al., 2011).

3. Procedimentos metodológicos

Para a elaboração deste artigo foi realizada uma pesquisa descritiva, realizada a partir da revisão bibliográfica sobre empreendedorismo, intraempreendedorismo e inovação. Para isto, a pesquisa foi embasada em materiais já elaborados, como artigos e livros científicos (Gil, 2002).

Quanto à natureza, é básica, uma vez que não possui finalidades práticas previstas, tendo por objetivo ampliar o conhecimento de determinado tema, sem a preocupação com sua aplicação imediata ou futura (Gil, 2010). A abordagem se apoia em dados quantitativos, em que se busca compreender e descrever determinado fenômeno buscando interpretações da realidade na sua complexidade dinâmica (Richardson, 1999; Diehl, 2004).

A coleta dos dados foi realizada por meio de questionário disponibilizado eletronicamente e enviado por e-mail via mala direta a cada um dos sorteados, que foram orientados a acessar um formulário eletrônico produzido no Google Docs e responder a pesquisa online.

Como instrumento de coleta de dados o questionário utilizou-se da Escala de Lickert que visa mensurar atitudes e conotações valorativas pessoais sobre o objeto de estudo, sendo estruturado em duas partes: a primeira, relativa à coleta de dados gerais da amostra; e a segunda, relativa ao levantamento das características comportamentais empreendedoras, com 55 questões dentro de uma escala Likert, conforme metodologia adaptada pela ONU/UNCTAD e utilizada no Brasil pelo Programa EMPRETEC, desenvolvido no Brasil pelo SEBRAE, para avaliar as dez características comportamentais empreendedoras desenvolvidas por McClelland, conforme já detalhado anteriormente.

Dentre as escalas, a de Likert pode ser considerada a mais notável, em razão de sua grande utilização. Likert (1932) propôs uma escala de cinco pontos que se tornou paradigma da mensuração qualitativa (Pereira, 1999). A pontuação correspondente a cada afirmação do respondente foi escalonada da seguinte forma: 1= nunca; 2= raras vezes; 3= algumas vezes; 4= usualmente; e, 5= sempre.

Procurou-se realizar uma amostra por conveniência, pois os entrevistados foram selecionados conforme facilidade de acesso e de tempo (Boyd e Westfall, 1971).

A amostragem é não probabilística, uma vez que não confronta a amostra para confirmação da proporcionalidade em relação à população (Karmel e Polasek, 1974).

Dessa forma, a população considerada foi o quadro de servidores efetivos da instituição pública de ensino superior, objeto desta pesquisa, estratificada em 13 subgrupos, equivalentes a cada um dos 12 câmpus mais a Reitoria, e, de cada subgrupo, foram selecionados aleatoriamente, por sorteio, 10 servidores, perfazendo um total de 130 de servidores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), de 3.623 servidores ativos (base de dados: outubro/2015).

A escolha da pesquisa na UTFPR em um primeiro momento se deu pela acessibilidade e, em segundo lugar, pela sua trajetória e evolução na educação profissional, transformada a partir do Centro de Educação Tecnológica Federal do Paraná (CEFET-PR), tendo sua origem na Escola de Aprendizes Artífices, fundada no ano de 1909. O CEFET, no dia 7 de outubro de 2005, passou a ser denominada Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), a primeira especializada do Brasil. Tendo como principal foco a graduação, a pós-graduação e a extensão, com a oferta de mais de 90 cursos de especialização, 40 programas de pós-graduação stricto sensu, com cursos de mestrado e doutorado, além de centenas de grupos de pesquisa, e o número de estudantes regulares nos cursos técnicos, graduação e pós-graduação passa de 32 mil (UTFPR, 2016).

No Quadro 7, observa-se o expressivo número de setores que foram implantados para a promoção das atividades de Empreendedorismo e Inovação na UTFPR até no ano de 2014.

Agência de Inovação

01

Núcleos de Inovação Tecnológica (NITS)

12

Hotéis Tecnológicos

11

Incubadoras

05

Programa de Empreendedorismo e Inovação (PROEM)

11

Empresas Juniores

17

Quadro 7 – Número de Setores e Núcleos de Empreendedorismo e Inovação da UTFPR.
Fonte: UTFPR em Números – 2015. Base de dados: 2014.

Esta pesquisa, tendo como um dos objetivos a inovação, alinha-se à missão dessa importante instituição de ensino, que é de desenvolver a educação tecnológica de forma ética, sustentável, produtiva e inovadora com a comunidade para o avanço do conhecimento e da sociedade.

4. Resultados e discussão

Nesta seção, dividida em três partes, são apresentados o perfil dos respondentes, com as características da amostra, os resultados do levantamento do perfil empreendedor e a discussão dos resultados encontrados e, as considerações finais.

4.1. Perfil dos respondentes

Conforme a autoavaliação realizada pelos servidores respondentes no questionário desenvolvido por McClelland e adaptado por EMPRETEC/SEBRAE, obteve-se uma pontuação agregada em relação ao maior número de afirmações para cada uma das 55 questões aplicadas no questionário, que compuseram as 10 características comportamentais empreendedoras (CCEs).  

Após a tabulação dos resultados, verificou-se que dentre os 130 servidores selecionados, 16 responderam o questionário, representando 12,31% do total dos questionários enviados.

O perfil dos participantes é composto por 56,3% pessoas do sexo masculino e 43,7% do sexo feminino, sendo que 56,3% estão presentes na faixa etária de 25 a 34 anos, 37,4% possuem de 35 a 44 anos e 6,3% possuem mais de 45 anos de idade.

Sobre o grau de escolaridade da amostra, constatou-se que 12,5% possuem graduação, 12,5% possuem pós-graduação lato sensu, 31,3% mestrado e 43,7% doutorado. Dos servidores que possuem pós-graduação stricto sensu, 7 (sete) possuem a titulação de doutorado e 4 (quatro) a titulação de mestrado e ocupam o cargo de Professor, e estes exercem as seguintes funções administrativas: direção (5), coordenação (5), secretaria (1).

Quanto ao tempo de serviço, 75% estão a menos de cinco anos na universidade, 18,7% estão na faixa de 6 a 10 anos e, 6,3% estão entre 21 a 30 anos.

Quanto à função exercida, 35,7% são coordenadores, 21,4% diretores, 14,3% secretários, 7,1% chefes de departamento, e 21,4% estão alocados em outras funções.

4.2. Resultados

Os resultados das características comportamentais empreendedoras (CCEs) dos servidores respondentes da pesquisa encontram-se expressos na Figura 1.     

 Figura 1 – Características Comportamentais Empreendedoras.

 Fonte: Dados de pesquisa, 2015.

Conforme a metodologia empregada pelo EMPRETEC/SEBRAE os empreendedores, em média, possuem a maioria das características comportamentais empreendedoras com pontuação entre 15 e 25 pontos, considerada como o perfil empreendedor ideal, observando-se as diferentes habilidades técnicas, gerenciais e características pessoais de cada respondente.

Nesse sentido, das 10 (dez) características comportamentais empreendedoras, os servidores da UTFPR apresentaram 05 (cinco) com pontuação acima dos 15 pontos, quais sejam:

  1. Estabelecimento de metas, 19 pontos. Conforme McClelland (1961), o indivíduo possuidor deste perfil persegue objetivos desafiantes e importantes para si mesmo, tem clara visão de longo prazo e, cria objetivos mensuráveis, com indicadores de resultado.
  2. Busca de oportunidades e iniciativa, 18 pontos. Esta característica evidencia atributos como a proatividade, a busca pela possibilidade de expandir seus negócios e, aproveita oportunidades incomuns para progredir.
  3. Busca de informações, 18 pontos. Nesta característica o empreendedor se envolve pessoalmente na avaliação da instituição, investiga sempre como oferecer novos processos, produtos e serviços, e busca a orientação de especialistas para uma melhor tomada de decisão.
  4. Comprometimento, 16 pontos. Os servidores que apresentam este perfil trazem para si mesmos as responsabilidades sobre sucesso e fracasso, atuam em conjunto com a sua equipe para atingir os resultados e, colocam o relacionamento com o público acima das necessidades de curto prazo.
  5. Independência e autoconfiança, 16 pontos. O empreendedor confia em suas próprias opiniões mais do que nas dos outros, é um indivíduo otimista e determinado, mesmo diante da oposição e, transmite confiança na sua própria capacidade.

As demais características comportamentais que tiveram menor pontuação, no entanto, próximas da pontuação mínima ideal, todas com 14 pontos, foram: Persistência; Exigência de Qualidade e Eficiência; Correr Riscos Calculados; Planejamento e Monitoramento Sistemáticos; e Persuasão e Rede de contatos.

4.3. Discussão dos Resultados

Ao aplicar o questionário foi possível identificar características comportamentais empreendedoras nos servidores.

Das dez CCEs, cinco foram verificadas com pontuação acima de 15 pontos, caracterizada como perfil ideal empreendedor. Outras cinco CCEs obtiveram uma pontuação muito próxima da pontuação mínima ideal, no entanto, conforme assevera Filion (1999 apudDolabela, 2008), as características variam de acordo com as atividades que o empreendedor executa em uma dada época ou função.

Um dado relevante observado é que 43,7% dos respondentes possuem a titulação de doutorado; 35,7% exercem cargos de coordenação; 21,4% ocupam cargos de direção; e, 75% estão a menos de cinco anos na UTFPR. Nesse interim, corrobora Hashimoto (2006) que o perfil empreendedor está relacionado mais com comportamento do que com a experiência e não pode se limitar apenas às competências técnicas (currículo).

Dentre os respondentes, a característica comportamental empreendedora “estabelecimento de metas” foi a que mais se sobressaiu, onde a busca por uma gestão de resultados é fortemente evidenciada. Nesse sentido, o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) das universidades públicas estabelece metas e objetivos institucionais a serem alcançados em um período de quatro anos, o que pode explicar a evidenciação desse perfil.

No entanto, Tragtenberg (1974) revela que as implicações ideológicas (morais, culturais, políticas e demais) são sedimentadas por meio de uma burocracia erigida para garantir a separação e a distinção entre os que executam e os que decidem, por isso é que “as pessoas alienam-se nos papéis e estes se alienam no sistema burocrático”.

Desse modo, o comportamento empreendedor e inovativo do servidor podem ser inibidos por um sistema altamente burocrático, que impossibilite as mudanças necessárias, descrito por Adler (1999) como burocracia coercitiva, tendo como características, regras e procedimentos rígidos e forte controle hierárquico.  O ambiente ideal é descrito como burocrático facilitador, que permite ampla autonomia aos funcionários, possui regras e procedimentos flexíveis e uma hierarquia apoiada na aprendizagem organizacional (Adler, 1999).

Outras duas características com maior evidência foram a “busca de oportunidades e iniciativa” e a “busca de informações”, o que revela nos servidores um espírito proativo, que busca a melhoria nos processos e serviços e a tomada de decisões amparadas em pessoas especializadas, normas e regulamentos.

Nas CCEs, persistência, exigência de qualidade e eficiência, correr riscos calculados, planejamento e monitoramento sistemáticos, persuasão e rede de contatos, se faz necessário definir um plano de desenvolvimento pessoal para aperfeiçoá-las.

Conforme se observa, ainda que tenham sido encontradas nos servidores, características comportamentais empreendedoras, a universidade deve fomentar um ambiente que proporcione condições para que seus servidores aperfeiçoem as características que se encontram abaixo da média, incentivando a cultura organizacional empreendedora, a busca por inovação e o desenvolvimento de novos processos, serviços e projetos. Nesse quesito, foi possível identificar oportunidades de capacitação e desenvolvimento nos itens que ficaram com pontuação abaixo do mínimo, que foram persistência; exigência de qualidade e eficiência; correr riscos calculados; planejamento e monitoramento sistemáticos; e persuasão e rede de contatos.

Não obstante, no processo de inovação podem-se encontrar barreiras organizacionais internas, como conflitos, resistências e uma incapacidade de se executar as múltiplas tarefas delegadas. Para Sundbo (2010 apud Venâncioet al., 2014, p. 146) “esses óbices podem contribuir para o retardamento ou impedimento do processo de inovação, especialmente se a gestão não consegue tomar decisões no momento oportuno”.

 Ainda quanto à inovação, Rubalcaba et al. (2012) ressalta que o principal agente neste processo, não é a organização, mas os funcionários que transformarão seu conhecimento em serviço e, sem a participação efetiva deles, o processo de inovação não acontece, pois são eles o combustível do processo inovativo.

5. Considerações finais

O espírito empreendedor tem sido o motor de muitas transformações pelas quais tem passado a humanidade, como propulsor das inovações e tecnologias, do desenvolvimento econômico e do uso racional dos recursos, podendo ser fomentado, estimulado e desenvolvido em todos os aspectos cotidianos. Foi esta força motriz que a pesquisa procurou analisar, constatando que, entre os respondentes, há características empreendedoras bem desenvolvidas, embora existam outras que podem ser aprimoradas.

Destarte, os objetivos propostos foram alcançados, pois foi possível analisar o perfil empreendedor dos servidores de uma instituição pública de ensino na perspectiva da capacidade de inovação, em que se destacaram como pontos fortes o estabelecimento de metas, a busca de oportunidades e iniciativa e a busca de informações. 

Por fim, como limitação, aponta-se o fato de esta pesquisa ter sido feita em uma única Instituição de Ensino Pública, por conseguinte, para pesquisas futuras, recomenda-se ampliação do escopo de pesquisa para outras universidades, bem como análises mais detalhadas das amostras pesquisadas. Cumpre destacar que os resultados apresentaram limitações quanto à abrangência amostral, já que houve um pequeno número de respondentes, o que não seria suficiente para invalidar a pesquisa, possibilitando um indicador da situação atual e a direção para o desenvolvimento de ações e estudos futuros voltados ao tema.

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1. Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Curitiba, Brasil –  marvin.gsilva@gmail.com
2. Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Curitiba, Brasil –  malumeza2@gmail.com
3. Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Curitiba, Brasil –  thiagoc@utfpr.edu.br

4. Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Curitiba, Brasil –  catapan@utfpr.edu.br


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 30) Año 2016

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