HOME | ÍNDICE POR TÍTULO | NORMAS PUBLICACIÓN

Espacios. Vol. 37 (Nº 30) Año 2016. Pág. 26

Tecnologias e práticas utilizadas para reduzir o consumo hídrico em residências urbanas, Campina Grande, Paraíba, Brasil

Technologies and practices to reduce water consumption in urban residence, Campina Grande, Paraíba, Brazil

Lucianna Marques Rocha FERREIRA 1; Ivna Rafaela Ribeiro dos Santos COSTA 2; Victor Hugo Diniz CUNHA 3; José DANTAS NETO 4

Recibido: 02/06/16 • Aprobado: 07/07/2016

Conteúdo

1. Introdução

2. Material e Métodos

3. Resultados e Discussão

4. Considerações Finais

Referências

1. Introdução

A disponibilidade de água para o consumo humano tem diminuído devido à crescente demanda hídrica proveniente do acelerado crescimento demográfico mundial e do atual modelo de consumo, exacerbado e desenfreado, resultando em grande pressão nos recursos hídricos (Hafner, 2007; Rossi, 2015). Adicionalmente, a ação antrópica negativa (ex.: poluição e desmatamento de mata ciliar) interfere diretamente na capacidade de renovação e de restituição das águas (Tundisi e Tundisi, 2010), causando degradação da qualidade hídrica (Hafner, 2007; Tundisi e Tundisi, 2010; Rossi, 2015).

Em centros urbanos, o consumo de água potável nas residências pode representar mais da metade do total de água utilizada nas cidades (Gonçalves, 2006), sendo o chuveiro, a máquina de lavar, a torneira e a bacia hidrossanitária, respectivamente, os aparelhos em que, normalmente, há maior uso de água em residências (Willis et al., 2011). Por conseguinte, o banheiro é o cômodo da casa em que ocorre maior consumo hídrico (Hafner, 2007; Liu et al., 2010; Willis et al., 2011). Desta forma, é fundamental a conservação de água potável, sobretudo em centros urbanos e em regiões áridas e semiáridas (Willis et al., 2011).

Neste contexto, a gestão de demanda urbana da água (GDA), que objetiva a eficiência e sustentabilidade na forma de utilizar a água, deve ser realizada através de dois tipos de estratégias: estratégias não estruturais, que corresponde a incentivos econômicos e legais para que ocorra mudança comportamental dos usuários da água e; estratégias estruturais, que consiste na utilização de alternativas tecnológicas que reduzem o consumo de água (Willis et al., 2011).

É oportuno ressaltar, que as tecnologias poupadoras de água não necessitam de complexa adaptação estrutural para serem implantadas (Carvalho et al., 2013) e sua eficiência independe do comportamento de conservação da água do cidadão (Willis et al., 2011), sendo uma medida com boa relação custo-benefício e com resultados a curto prazo (Carvalho et al., 2013; Lee e Tansel, 2013).

Diante da perspectiva que as tecnologias poupadoras de água em residências urbanas é uma alternativa viável para minorar os impactos antrópicos da elevada demanda hídrica (Willis et al., 2011), objetivou-se: (i) investigar as tecnologias hidrossanitárias e de chuveiros disponíveis no comércio local de Campina Grande, Paraíba (PB), Brasil; (ii) avaliar a percepção de moradores sobre a escassez de água no açude Epitácio Pessoa e as práticas utilizadas para a redução do consumo de água nas residências; (iii) constatar o conhecimento de moradores sobre os tipos de tecnologias que reduzem o consumo de água no banheiro; (iv) verificar os tipos de tecnologias hidrossanitárias e de chuveiros existentes nas residências dos (as) entrevistados (as) e (v) averiguar a disposição do morador em implantar a tecnologia hidrossanitária e/ou do chuveiro que reduzem o consumo de água.

2. Material e Métodos

2.1. Área de estudo

A presente pesquisa foi desenvolvida no bairro São José, Zona Sul da cidade de Campina Grande, Paraíba, Brasil. O munícipio de Campina Grande possui área territorial de 594,182 Km2; apresenta população igual a 367.874 habitantes; e está inserido na microrregião de Campina Grande e na mesorregião do agreste paraibano, correspondendo a unidade geoambiental Planalto da Borborema (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2010).

Os munícipes de Campina Grande são abastecidos da fonte hídrica do açude Epitácio Pessoa (Boqueirão) que está localizado na zona semiárida em que há o menor índice pluviométrico anual do Brasil (Lima et al., 2013). O reservatório Epitácio Pessoa recebe contribuição hídrica do Rio Paraíba do Norte e do Rio Taperoá e fornece este recurso natural para mais de 650 mil pessoas, abastecendo em torno de 17 municípios do Estado da Paraíba (Ex.: Boqueirão, Campina Grande, Queimadas, Pocinhos, Caturité, Riacho de Santo Antônio, Barra de São Miguel, Soledade e Juazeiro) (Lima et al., 2013). Ademais, a água desse manancial é fundamental para: dessedentação de animais exóticos e nativos, irrigação, abastecimento industrial, regulação microclimática da localidade, recreação, entre outros (Lima et al., 2013).

A atual oferta hídrica para a cidade de Campina Grande, Paraíba, é preocupante, visto que há no açude que abastece a cidade decréscimo contínuo de seu volume total de água (411.686.287 m³) desde 2011, haja vista o período de estiagem que está atingindo a região semiárida paraibana (Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da paraíba [AESA], 2014).

O bairro São José foi escolhido como objeto de estudo, uma vez que apresenta população com condições financeiras mistas, de modo que é possível obter resultados mais satisfatórios, uma vez que abrange realidades diferentes. Este bairro possui 3.950 habitantes, 1.571 domicílios particulares permanentes (IBGE, 2010).

2.2. Metodologia da pesquisa

O estudo realizado caracteriza-se por ser uma pesquisa transversal e qualiquantitativa, sendo desenvolvido em duas etapas. A primeira etapa foi caracterizada por visitas a onze lojas de material de construção no comércio de Campina Grande, PB, durante o período de março a maio de 2014, com objetivo de averiguar os tipos de tecnologias hidrossanitárias e de chuveiro disponíveis para o consumidor.

A segunda etapa foi constituída da aplicação de questionário semiestruturado, contendo 10 questões (2 questões discursivas e 8 questões de múltipla escolha), a fim de verificar a frequência absoluta e relativa das seguintes variáveis: (i) percepção dos moradores sobre a escassez de água no açude de Epitácio Pessoa e práticas utilizadas para a redução do consumo de água; (ii) conhecimento de moradores acerca de tecnologias poupadoras de água no banheiro; (iii) tipos de tecnologias hidrossanitárias e de chuveiros existentes nas residências; (iv) a média do consumo de água na residência e (v) disponibilidade do morador em trocar o chuveiro e bacias hidrossanitárias por tecnologias poupadoras de água, caso não as possuam.

A amostra foi selecionada por conveniência contemplando 100 residências localizadas na zona urbana de Campina Grande. O critério de inclusão foi ser morador do bairro São José e estar disposto a responder o questionário, enquanto que o critério de exclusão foi ser morador de condomínio fechado, prédio, estabelecimento comercial ou se recusar a responder o questionário proposto.

3. Resultados e Discussão

3.1. Tecnologias hidrossanitárias e de chuveiros disponíveis no comércio local

As tecnologias hidrossanitárias e de chuveiros com maior representatividade no comércio local de Campina Grande, PB, foram respectivamente, bacia hidrossanitária de material cerâmico com volume de descarga reduzido (VDR), ou seja, 6 litros por fluxo, l/f, e chuveiro convencional de até 30 litros por minuto, l/min (Tabela 1). Adicionalmente, foi registrada a indisponibilidade de bacia hidrossanitária convencional de vazão de 12 litros por acionamento (Tabela 1). Tal fato deve-se ao cumprimento da norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) - NBR 15097 (2004) que, a partir de julho de 2004, estabeleceu a fabricação de apenas bacia hidrossanitária de material cerâmico com volume de até 7 litros por descarga. Atualmente, essa norma foi cancelada e substituída pela NBR 15097 (2011), Parte 1: requisitos e métodos de ensaio (ABNT, 2011a) e Parte 2: procedimentos para instalação de aparelhos sanitários de material cerâmico (ABNT, 2011b) e complementada pela norma NBR 15491 (ABNT, 2010), caixa de descarga para limpeza de bacias sanitárias: requisitos e métodos de ensaio, que institui a fabricação de bacia hidrossanitária de material cerâmico com volume máximo por fluxo de até 6,8 litros.

Quanto às tecnologias hidrossanitárias e de chuveiro poupadores de água, destacou-se a bacia hidrossanitária dual flux (3 litros por fluxo ou 6 litros por fluxo) que reduz o consumo de água em relação ao aparelho hidrossanitário convencional (vazão de 12 litros por acionamento) em 60 % e a ducha space power (vazão 7 litros por minuto) que comparada a ducha convencional (até 20 litros por minuto; Fischer, 2001) reduz o consumo de água em até 65 % (Tabela 1). Ademais, não foi registrado, em nenhuma loja de material de construção visitada, adaptadores poupadores de água que possui menor custo monetário para o consumidor, haja vista não ser necessário a troca total do dispositivo, como exemplo: mecanismo de saída dual flux para caixa acoplada e regulador de vazão fixa para chuveiro.

Tabela 1- Disponibilidade de tecnologias hidrossanitárias e de chuveiros no comércio local da cidade de Campina Grande, Paraíba, Brasil

Fonte: Elaboração própria baseada na amostra pesquisada.

Desta forma, verifica-se que na cidade de Campina Grande, PB, há poucas opções tecnológicas disponíveis para o consumidor que reduzem a quantidade de água utilizada no banheiro, bem como foi observado, durante a pesquisa no comércio local, que alguns vendedores desconheciam as tecnologias poupadoras de água, sobretudo, as relacionadas à vazão do chuveiro.

Ainda é oportuno ressaltar, que no Brasil a percentagem média de consumo de água em uma residência referente à bacia hidrossanitária é de aproximadamente 22 % e referente ao chuveiro é cerca de 37 %, totalizando 59 % do consumo de água em uma residência (Hafner, 2007). Diante do exposto, verifica-se que o aparelho hidrossanitário dual flux promove redução no consumo de água em torno de 13,2 % e a ducha space power, aproximadamente, 24,4 %. Sendo assim, a troca de aparelhos convencionais por tecnologias poupadoras de água disponíveis no comércio local de Campina Grande, PB, promoverá redução aproximada de 37,6 % no consumo de água na residência.

3.2. Percepção dos moradores do bairro São José, Campina Grande, PB

A maioria dos moradores (88 %; ntotal= 100) do Bairro São José alegou conhecer a escassez de água no açude que abastece a cidade de Campina Grande, PB, e apenas 12 % (ntotal= 100) declarou não deter essa informação. É provável, que o desconhecimento sobre a problemática seja oriundo da ausência de rodízio de abastecimento hídrico (racionamento) na cidade no período em que a pesquisa foi realizada como medida de precaução da concessionária Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (CAGEPA) responsável pelo tratamento, pelo abastecimento e pela distribuição de água no Estado. Sendo assim, enquanto houver oferta de água algumas pessoas não irão perceber a escassez de recurso hídrico potável, revelando a baixa sensibilização dessa parcela da população.

Comportamento semelhante foi observado por Batchelor et al. (2014) que registraram maior utilização de água por agricultores em seus cultivos quando o acesso a esse recurso natural é indiscriminado, bem como verificaram que a possibilidade de uso de tecnologias poupadoras de água só era considerada em caso de insuficiência hídrica ou de melhoria da rentabilidade.

No mês em que as entrevistas foram realizadas, abril de 2014, o reservatório Epitácio Pessoa estava com aproximadamente 32 % de sua capacidade de armazenamento (AESA, 2014b) e a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (CAGEPA) alegava ser desnecessário o racionamento diante da previsão de chuva para os próximos meses (AESA, 2014; CAGEPA 2014). Atualmente, a cidade de Campina Grande vivência o rodízio de abastecimento hídrico de 72 horas por semana (sábado, domingo, segunda e terça) desde novembro de 2015 e o volume total de água armazenada no Açude Epitácio Pessoa, em 24 de maio de 2016, estava igual a 38.867.745 m3, equivalendo a 9,4 % de sua capacidade total (AESA, 2016). O acionamento do rodízio de abastecimento de água foi iniciado quando a capacidade de armazenamento do reservatório citado acima era igual a 24,3% (99.949.167 m3), referente ao mês de novembro de 2014 (AESA, 2014).

A ausência de rodízio de abastecimento hídrico no momento apropriado, bem como de outras medidas que estimule o uso eficiente de água pelos cidadãos, pode colocar em risco a quantidade e a qualidade de água necessária para suprir a demanda hídrica da população. Neste contexto, a gestão urbana de recursos hídricos, que normalmente é alicerçada em políticas de demanda de água potável, deve apresentar até três focos: tecnológico, econômico e comportamental (Brooks, 2006) a fim de minorar as perdas por vazamento e o desperdício, incentivando o uso racional do recurso hídrico (Carvalho et al., 2013).

A percepção de moradores acerca de práticas que os mesmos realizam para reduzir o consumo de água em suas residências teve como resultado predominante a reutilização da água da máquina de lavar (33,4 %; ntotal= 150; Gráfico 1), ou seja, água pouco contaminada pela ação antrópica, denominada de água cinza, que ao receber tratamento adequado pode ser reusada na residência em atividades que não necessitem de água potável, como: lavagem de carro e de calçada, na bacia hidrossanitária e irrigação do jardim (Liu et al., 2010). Além disso, 25,3 % dos entrevistados (ntotal= 150) alegaram possuir o hábito de fechar a torneira durante o banho, ao escovar os dentes e enquanto lavam a louça (Gráfico 1).

Gráfico 1- Frequência relativa de moradores do bairro São José, Campina Grande, Paraíba,
Brasil, em função da prática utilizada para reduzir o consumo de água na residência

Fonte: Elaboração própria baseada na amostra pesquisada.

É relevante mencionar que 8,7 % (ntotal= 150) dos moradores que participaram do presente estudo relataram que “economiza como pode”, sem detalhar sua resposta, evidenciando a possível ausência de práticas que reduzem o consumo de água e 2 % afirmaram não realizar nenhuma atividade poupadora de água (Gráfico 1).

Diante do exposto, verifica-se que na cidade de Campina Grande, PB, é comum o uso de estratégias não estruturais, sobretudo, com foco comportamental, como campanhas para reduzir o consumo de água, as quais são realizadas por escolas, por universidades, por empresas, instituições governamentais (municipal, estadual e nacional) e organizações não governamentais, por meio de palestras, de distribuição de panfletos e de divulgação através de meios de comunicações (rádio, televisão, rede mundial de computadores, entre outros), principalmente, no período de estiagem. Desta forma, fica claro que a maioria das pessoas entrevistadas já possui conhecimento acerca da temática, bem como relata ter postura consciente sobre o uso adequado da água, corroborando com os trabalhos publicados por Albuquerque, Ribeiro e Vieira (2008), Feitosa, Cândido e Firmo (2010) e Feitosa, Gómez e Cândido (2013).

O conhecimento de moradores sobre os tipos de tecnologias poupadoras de água é limitado, pois 64 % (ntotal= 100) afirmaram desconhecer e apenas 36 % relataram conhecer algum tipo de aparelho poupador de água para o banheiro (ntotal= 100). Desta forma, foi evidenciado que a maioria dos entrevistados não percebe que a tecnologia pode ser aliada as políticas para reduzir o consumo de água.

Nesta perspectiva, é fundamental que o poder público do município de Campina Grande adote e/ou incentive também medidas estruturais, ou seja, tecnologias poupadoras de água, visto que, a eficiência dessas tecnologias não depende de mudanças de atitude da população (Willis et al., 2011). Ademais, a atual crise hídrica exige esforços institucionais, tecnológicos e instrumentos econômicos, bem como princípios éticos que servem para orientar o comportamento humano (Rossi, 2015).

3.3. Tipos de tecnologias hidrossanitárias e de chuveiros existentes nas residências

A maioria dos moradores entrevistados do bairro São José, Campina Grande, PB, afirma que em suas residências não há aparelhos poupadores de água (70%, ntotal= 100), 17 % (ntotal= 100) informaram que há em suas residências tecnologias poupadoras de água e 13 % (ntotal= 100) afirmaram desconhecer. Entretanto, foi registrado que 4 % (ntotal= 100) das pessoas tinham em suas residências algum tipo de tecnologia para reduzir o consumo de água no banheiro, mas alegaram não apresentar e 3 % (ntotal= 100) das pessoas possuíam instaladas em suas residências alguma tecnologia poupadora de água no banheiro e afirmaram desconhecer. Tais dados corroboram com a assertiva citada no tópico anterior que relata sobre a limitação da população em compreender as tecnológicas como facilitadora da redução do consumo de água.

Os tipos de tecnologias hidrossanitárias e de chuveiros predominantes nas residências do bairro São José, Campina Grande, PB, foram respectivamente, bacia hidrossanitária convencional (53,2 %; ntotal= 107) e chuveiro convencional (64,8 %; ntotal= 105) (Tabela 2).

Tabela 2- Tipo de tecnologia hidrossanitária e de chuveiro e sua respectiva, frequência relativa (%) registrada no conjunto amostral de residências do bairro São José, Campina Grande, Paraíba, Brasil

Fonte: Elaboração própria com base na amostra pesquisada.

Observa-se que 89,4 % das pessoas (ntotal= 47) que possuem bacia hidrossanitária e chuveiro convencionais em suas residências apresentam algum tipo de prática que reduz o consumo de água. Diante desse fato, é relevante citar o resultado do trabalho desenvolvido por Willis et al. (2011) ao analisarem a influência da atitude de conservação do meio ambiente e o consumo final da água em residências na região da Austrália propensa a secas severas. Willis et al. (2011) registraram que moradores com alta atitude de conservação do meio ambiente e da água consomem menos recurso hídrico comparado aos moradores com atitude de conservação moderada.

Adicionalmente, Willis et al. (2011) observaram que o consumo final de água no chuveiro, na máquina de lavar roupa, na torneira, na banheira e na irrigação de jardins são influenciadas pela atitude conservação da água pelos moradores. Deste modo, é plausível que essas práticas de fato ocorram no conjunto de pessoas participantes no presente estudo, haja vista que 47,7 % consumem até 10 m3 de água por mês (Tabela 3).

Tabela 3- Faixa de consumo de água (m3) mensal e suas respectivas frequência absoluta e
relativa de residências que possuem bacia hidrossanitária e chuveiro convencionais e em
que os entrevistados do bairro São José, Campina Grande, Paraíba, Brasil, realizam
práticas poupadoras de água

Fonte: Elaboração própria baseada na amostra pesquisada.

É oportuno ressaltar que a diminuição da demanda de água é significativamente influenciada por hábitos individuais e coletivos, no entanto, pode ser potencializada por meio do uso de aparelhos poupadores de água potável e de tecnologias para reuso de água cinza (Willis et al., 2011; Carvalho et al., 2013).

3.4. Disposição do morador em implantar tecnologias poupadoras de água

A maioria dos entrevistados (61,5 %; ntotal= 100) afirma estar disposto a trocar o aparelho hidrossanitário e chuveiro convencionais por equipamentos poupadores de água se for uma iniciativa do poder público (Gráfico 2), seja como redução de imposto sobre esses produtos, como exemplo: ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação), ou troca total dos equipamentos.

Gráfico 2- Frequência relativa de moradores do bairro São José, Campina Grande, Paraíba,
Brasil, em função da disposição em implantar a tecnologia poupadora de água em suas residências

Fonte: Elaboração própria baseada na amostra pesquisada.

Observa-se que o predomínio de pessoas que aceitariam a iniciativa do governo e que não estariam dispostas a trocar por conta própria, decorre de o fato de parte dos moradores não terem condições financeiras para a troca e/ou moram em casa alugada, não possuindo intenção de beneficiar um imóvel que não é próprio.

Mundialmente, verifica-se programas de incentivo de substituição de bacia hidrossanitária e/ou de chuveiros residenciais e prediais, com resultados significativos na redução do consumo de água, como exemplo, New York (The New York City Toilet Rebate Program, 1993 - 1994); Clearwater, Flórida (Ultra Low Flow Toilet Program); Maime-Dade, Florida (High Efficiency Fixture Retrofit Program); Atlanta, Georgia; Ashland, Oregon; Goleta, Califórnia, entre outros (Environmental Protection Agency [EPA], 2014).

O Programa High Efficiency Fixture Retrofit implementado em Miami-Dade, Florida, Estados Unidos da América, durante os anos de 2006 e 2007 beneficiou moradores de baixa renda com casa qualificada como unifamiliar construídas antes do ano de 1996. O referido programa consistiu em adaptar as casas com assessórios poupadores de água, sendo instaladas até duas bacias hidrossanitárias, dois chuveiros, dois aeradores para a torneira no banheiro e um aerador para a torneira na cozinha.

Lee e Tansel (2013) registraram que a maioria dos beneficiários estava satisfeito com o Programa de incentivo ao uso eficiente de água em residências, sobretudo quanto aos dispositivos poupadores de água instalados e ao processo de instalação, existindo correlação positiva entre o nível de satisfação dos beneficiários sobre o Programa e a economia financeira na conta de água. Sendo assim, quando os beneficiários observavam redução no valor da conta de água a ser paga indicavam o Programa de incentivo a outras pessoas, bem como aumentava o interesse do beneficiário em procurar outros tipos de tecnologias poupadoras de água (Lee e Tansel, 2013).

No Brasil, a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (ANAMOCA) em parceria com a Prefeitura da cidade de Vinhedo, São Paulo, realizou através do “Projeto uso racional da água” a troca de equipamentos antigos por aparelhos poupadores de água em alguns prédios públicos (escola municipal) da cidade (ANAMOCA, 2014). Adicionalmente, Carvalho et al. (2013) registrou que há iniciativa semelhante em aeroportos brasileiros com alta circulação de pessoas, em que foram instaladas tecnologias poupadoras de água, sistemas eficientes de reuso de água pluvial e/ou efluentes de esgoto a fim de alcançar o uso eficiente de água, sobretudo, em período de escassez hídrica. Nesta perspectiva, destaca-se os aeroportos internacionais de elevado tráfego de passageiros: Galeão (Rio de Janeiro) e Guararapes (Recife), que apresentaram diminuição expressiva no consumo de água (Carvalho et al., 2013). É oportuno ressalta que esse tipo de incentiva para residências ainda é incipiente nos estados brasileiros.

Diante do exposto, nota-se que estes incentivos apresentam resultados significativos na conservação de água potável; sendo assim percebe-se a necessidade do poder público em implantar também medidas estruturais na cidade de Campina Grande, PB, haja vista ser um município que depende do abastecimento hídrico advindo de bacia hidrográfica localizada em uma região semiárida vulnerável a eventos ciclos de seca.

4. Considerações Finais

A maioria dos entrevistados não vislumbra as tecnologias como aliadas em suas práticas diárias para redução de consumo e de desperdício de recursos hídricos potáveis, de modo que tais aspectos refletem no mercado local que não oferece variedade de aparelhos e de mecanismos poupadores de água devido à pouca demanda. Diante do exposto, para reduzir o consumo de água em centros urbanos faz-se necessário que o poder público, na gestão de recursos hídricos, adote e/ou incentive medidas estruturais com foco em tecnologias poupadoras de água e medidas não estruturais, ambas aliadas a dimensão econômica de redução monetária da conta de água.

Na cidade de Campina Grande, PB, sobretudo, no bairro objeto de pesquisa, bem como em regiões semiáridas e áridas, é oportuno que as ações políticas tenham como referência a troca de chuveiro e de bacia hidrossanitária convencionais, visto que são os equipamentos em que ocorre maior consumo de água em residências.

Ademais, é relevante que os seres humanos compreendam que a engenhosidade humana, como componente social, deve ser uma forma exclusiva da humanidade de contribuir para a evolução da biosfera, uma vez que o ser humano é parte integrante e indissociável da mesma.

Referências

Associação Brasileira de Normas Técnicas [ABNT]. NBR 15097: Aparelho sanitário de material cerâmico - requisitos e métodos de ensaio. Rio de Janeiro, 2004, 39p.

Associação Brasileira de Normas Técnicas [ABNT]. NBR 15491: Caixa de descarga para limpeza de bacias sanitárias - Requisitos e métodos de ensaio. Rio de Janeiro, 2010, 40p.

Associação Brasileira de Normas Técnicas [ABNT]. NBR 15097 – 1: Aparelhos sanitários de material cerâmico. Parte 1: Requisitos e métodos de ensaios. Rio de Janeiro, 2011a, 65p.

Associação Brasileira de Normas Técnicas [ABNT]. NBR 15097 – 2: Aparelhos sanitários de material cerâmico. Parte 2: Procedimento para instalação. Rio de Janeiro, 2011b, 15p.

Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba [AESA]. 2014. Monitoramento dos volumes dos açudes (tabelas e gráficos). Disponível em: <http://geo.aesa.pb.gov.br/>. Acesso em: 12 jun. 2014.

Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba [AESA]. 2016. Monitoramento dos volumes dos açudes (tabelas e gráficos). Disponível em: <http://site2.aesa.pb.gov.br/aesa/volumesAcudes.do?metodo=preparaUltimos VolumesPorAcude2 2016>. Acesso em: 25 mai. 2016.

Albuquerque, T. M. A., Ribeiro, M. M. R., e Vieira, Z. M. C. L. (2008). Análise multicriterial de alternativas tecnológicas para redução do consumo de água. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, 13 (4), p. 99 - 110.

Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção [ANAMACO]. Disponível em: <http://novo.anamaco.com.br/noticia-interna.aspx?uid=2209>. Acesso em: 10 jun. 2014.

Batchelor, C., Reddy, V. R., Linstead, C., Dhar, M., Roy, S., e May, R. (2014). Do water-saving technologies improve environmental flows? Journal of Hydrology, 518, p. 140-149.

Brooks, D. B. (2006). An operational definition of water demand management. Journal of Water Resources Development, 22 (4), p. 521 - 8.

Companhia de Água e Esgotos da Paraíba [CAGEPA]. Disponível em: <http://www.cagepa.pb.gov.br/portal/>. Acesso em: 30 mai. 2014.

Carvalho, I. de C., Calijuri, M. L., Assemany, P. P., Silva, M. D. F. M., Moreira Neto, R. F., Santiago, A. da F., e Souza, M. H. B. de. (2013). Sustainable airport environments: a review of water conservation practices in airports. Resources, Conservation and Recycling, 74, p. 27 - 36.

Environmental Protection Agency [EPA]. Desenvolvido por Environmental Protection Agency dos Estados Unidos. Disponível em: <www.epa.gov>. Acesso em: 12 jun. 2014.

Feitosa, M. J. S., Cândido, G. A., e Firmo, L. A. (2010). Sistemas de Indicadores de Sustentabilidade: uma aplicação do Ecological Footprint Method no município de Campina Grande (PB). Ambiência (UNICENTRO), Guarapuava, 6 (3), p. 22 - 40.

Feitosa, M. J. S., Gómez, C. R. P., e Cândido, G. A. (2013). Pegada ecológica municipal: uma análise da (in) sustentabilidade ambiental dos municípios de João Pessoa e Campina Grande. Revista Metropolitana de Sustentabilidade, São Paulo, 3 (3), p. 49 - 65.

Fischer, N. (2001). Desperdício: conheça os componentes que prometem reduzir o consumo de água nas edificações. Revista Construção Norte/Nordeste, 337, p. 14 - 48.

Gonçalves, R. F. (Coord.). (2009). Conservação de água e energia em sistemas prediais e públicos de abastecimento de água. Rio de Janeiro: ABES, v. 1, 352 p.

Hafner, A. V. (2007). Conservação e reúso de água em edificações: experiências nacionais e internacionais. Dissertação (Mestrado em Ciências em Engenharia Civil). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE]. Sinopse do censo demográfico 2010, Brasil. 2010. Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/ sinopse/index.php?dados=8>. Acesso em: 30 mai. 2014.

Lee, M. e Tansel, B. (2013). Water conservation quantities vs customer opinion and satisfaction with water efficient appliances in Miami, Florida. Journal of Environmental Management, 128, p. 683 - 689.

Lima, R. C. S. A., Buriti, C. O., Bezerra, H. A., e Patrício, M. C. M. (2013). Abastecimento de água em Campina Grande (PB): um panorama histórico. In: Rangel Junior, A. G., e Sousa, C. M. (Org.). Campina Grande hoje e amanhã (p. 15-28). Campina Grande: EDUEPB.

Liu, S., Butler, D., Memon, F.A., Makropoulos, C., Avery, L., e Jefferson, B. (2010). Impacts of residence time during storage on potential of water saving for grey water recycling system. Water Research, 44, p. 267 - 277.

Rossi, G. (2015). Achieving ethical responsibilities in water management: A challenge. Agricultural Water Management, 147, p.96 - 102.

Tundisi, J. G., e Tundisi, T. M. (2010). Impactos potenciais das alterações do Código Florestal nos recursos hídricos. Biota Neotropica, 10 (4), p. 67 - 75.

Willis, R. M., Stewart, R. A., Panuwatwanich, K., Williams, P. R., e Hollingsworth, A. L. (2011). Quantifying the influence of environmental and water conservation attitudes on household end use water consumption. Journal of Environmental Management, 92, p. 1996-2009.

1. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais, Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, Brasil. Autor correspondente: lucianna.mrf@gmail.com
2. Mestrando (a) do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais, Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, Brasil.
3. Mestrando (a) do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais, Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, Brasil.

4. Professor Doutor do Centro de Ciências e Tecnologia, Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, Brasil.