Espacios. Vol. 37 (Nº 30) Año 2016. Pág. 29

Preço internacional das Commodities e impactos na atividade econômica brasileira: Simulações por equilibrio geral computável

International commodity price and impact on brazilian economic activity: simulations for computable general balance

Luís Abel da SILVA Filho 1; Marcelo Pereira da CUNHA 2

Recibido: 31/05/16 • Aprobado: 03/07/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. As commodities brasileiras e seus impactos sobre o comércio internacional e o desenvolvimento econômico do país.

3. Procedimentos metodológicos

4. Impacto da elevação dos preços exportação/importações de commodities agropecuárias e minerais e da taxa de câmbio sobre a dinâmica setorial da economia brasileira.

5. Considerações finais

Referências bibliográficas


RESUMO:

Os preços das commodities agropecuárias e minerais elevaram-se substancialmente nos anos 2000. A dinâmica internacional foi significativamente influente para a produção de commodities no Brasil. Diante disso, este artigo tem como objetivo simular os impactos da elevação desses preços (agropecuárias e minerais) e da taxa de câmbio nos demais setores de atividade econômica, dando ênfase às variáveis macroeconômicas e microeconômicas, tais como: exportações, preços domésticos, e demanda das famílias. Para tanto, recorreu-se a uma revisão da literatura e, em seguida, utilizou-se um modelo de Equilíbrio Geral Computável – EGC. Os resultados mostram que a elevação dos preços das commodities e apreciação do câmbio proporcionam maior inserção do país no comércio internacional ocasionando aumento das exportações e dinamizando o mercado doméstico, com maior demanda das famílias, bem como elevando o uso de fatores de produção capital e trabalho nos setores em que são estimulados com aumento de preços.
Palavras-chave: Brasil; commodities agropecuárias e minerais; equilíbrio geral computável.

 

ABSTRACT:

The prices of agricultural and mineral commodities rose substantially in the 2000s. The international dynamics was significantly influential to the production of commodities in Brazil. Therefore, this article aims to analyze the impact of the increase in these prices (agricultural and mineral) and the exchange rate in other sectors of economic activity, with an emphasis on macroeconomic and microeconomic variables, such as exports, imports, domestic prices and household consumption. Therefore, it resorted to a literature review and then used a Computable General Equilibrium model - CGE. The results show that the rise in commodity prices and currency appreciation provides greater insertion of the country in international trade resulting in increased exports and boosting the domestic market, with increasing household consumption as well as increasing the use of capital factors of production and work in sectors where they are stimulated with price increases.
Keywords: Brazil; agricultural and mineral commodities; computable general equilibrium.

1. Introdução

O Brasil se destaca no cenário mundial de comércio de commodities agropecuárias e minerais e tem se configurado e firmado sua posição de destaque ao longo dos últimos anos (Medeiros, 2013; Serrano & Summa, 2014). A discussão acerca de sua participação é relevante no meio acadêmico e divergem acentuadamente as afirmações sobre tal contexto. Por um lado, as exportações de commodities são tratadas pela ótica do atraso relativo e da baixa capacidade de transformação do país e da capacidade de adicionar valor à produção doméstica para exportação; por outro, a dinâmica internacional por commodities e a redução de barreiras alfandegárias para tais exportações são quem determinam a inserção do país no cenário externo.

De modo geral, considerando o cenário internacional para o preço das commodities brasileiras nos últimos anos, observa-se que a dinâmica externa tem repercutido acentuadamente no comércio internacional do país (Medeiros, 2013). A demanda internacional que cresceu acentuadamente nos anos 2000, sobretudo, foi fator de significativa importância para a balança comercial e principalmente para aumentar a oferta de commodities agrícolas e minerais no exterior. Tal contexto permitiu desempenho nos anos 2000 e proporcionou elevação na quantidade utilizada de recursos tecnológicos com o aumento do fator capital e redução relativa do fator trabalho na produção.

Tanto as commodities agropecuárias quanto as minerais têm apresentado participações vigorosas no comércio internacional brasileiro, com considerável aumento dos preços elencado pelo “efeito China” (Bacha, 2013). Uma das consequências positivas economicamente é a dinâmica interna que tais setores desenvolvem com a elevação de suas demandas internacionais. A interligação de cadeias produtivas e a dinâmica econômica não se limitam a abrangência setorial. A conjuntura é substancialmente favorável ao desenvolvimento de outras atividades que demandam insumos ou produtos de origens agropecuárias ou minerais, tanto internas quanto externamente.

Nesse sentido, este artigo tem como objetivo analisar, a partir de simulações, e por meio de um modelo de equilíbrio geral computável, os impactos possíveis causados pela elevação dos preços internacionais de commodities agropecuárias e minerais sobre os demais setores da economia, dando ênfase às variáveis macroeconômicas e microeconômicas, tais como: exportações, preços domésticos e demanda das famílias. Foram analisados 25 setores de atividades econômicas [3] e os dados foram formatados a partir de informações disponíveis no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. A abrangência geográfica é referente a todo território nacional e a matriz de dados é referente ao ano de 2010.

Para atingir o objetivo proposto pelo estudo, o artigo encontra-se assim estruturado: além das considerações iniciais, a segunda seção aborda a discussão teórica acerca das commodities agropecuárias e minerais brasileiras e sua demanda internacional, acrescentando-se os impactos na economia doméstica; a terceira seção dá ênfase aos procedimentos metodológicos aqui utilizados; a quarta seção chama atenção para os resultados alcançados e, por fim, a quinta seção apresenta algumas considerações finais.

2. As commodities brasileiras e seus impactos sobre o comércio internacional e o desenvolvimento econômico do país.

O comércio internacional de commodities é acentuadamente elevado e tem significativa importância para o desenvolvimento econômico brasileiro, desde seus primórdios (Biancarelli, 2014). Questões relacionadas à natureza da participação dos países em desenvolvimento no comércio de bens primários em detrimento de produtos com inclusão de valor agregado é relevante. Não só o Brasil, mas toda a América Latina sempre foi caracterizada pela elevada participação no comércio primário e isso foi parte substancial da critica ao subdesenvolvimento pela ótica Cepalina, desde 1960.

Porém, a importância dada à discussão tem fundamentos econômicos elevados quando se consideram os impactos na balança comercial dos países em desenvolvimento, dado pelo o aumento das exportações de commodities e pelo boom nos preços, bem como pelas políticas de incentivos a tal comércio. Se por um lado a agregação de valor enfrenta problemas de maior dimensão estrutural, não sanados facilmente; por outro, as políticas voltadas ao escoamento da produção primária para os países desenvolvidos têm sido utilizadas como forma de redução e/ou superávit de déficits em conta corrente e foi amplamente incentivada no Brasil, como medidas imediatas de redução de déficit no balanço de pagamentos (Bacha, 2013).

Vartanian (2012) mostra que os preços das commodities no Brasil, perpassa a percepção de impulso ao desenvolvimento econômico nos setores macroeconômicos da produção e comprova empiricamente os efeitos dos preços sobre a bolsa de valores Dow Jones entre os anos de 1990-2000. Tais evidências confirmam o importante papel desempenhado pelos preços das commodities em várias dimensões de abordagens e de avaliações deste mercado.

Serrano & Summa (2015) afirmam que crédito e preços internacionais de commodities, entre os anos 2003 e 2010, foram fatores cruciais aos países em desenvolvimento e que tais ações internacionais funcionaram a contento para incentivar a produção doméstica e fortalecer o crescimento interno de vários países da América Latina, sobretudo o Brasil. Ademais, os autores destacam que o Brasil registrava, em média, 1,65% da participação no comércio mundial de commodities entre 2000-2002 e elevou-se para 3,61% entre 2010-2012. Isso, pois, foi significativo para impulsionar o desenvolvimento de setores relacionados ao comércio de commodities brasileiras.

Medeiros (2013) mostra que o impulso dado pela elevação dos preços das commodities nos anos 2000 foi substancial ao desenvolvimento econômico do país, a partir do encandeamento de outros setores estruturantes da economia. Para o autor, os preços elevados pelo “efeito China” dinamizou desde o aceleramento do crescimento urbano, até a elevação do consumo das famílias brasileira, como consequência; bem como a alteração nos padrões de consumo. O autor destaca a elevação dos preços das commodities energéticas, minerais, metálicas e alimentícias.

Silva & Lourenço (2014) mostram que o mercado internacional para as commodities brasileira foi acentuadamente importante e perpassou a ótica de comércio centrada no desenvolvimento econômico e na elevação da demanda interna, com destacada importância para o balanço de pagamentos, a partir da elevação do passivo externo do país, sobretudo entre os anos de 2004 e 2005. A receita oriunda das exportações apresentaram impactos acentuados no balanço de pagamento do país, além de contribuir fortemente para a elevação da demanda interna das famílias e o aumento do nível de consumo.

Diante do exposto, longe de se exaurir a discussão acerca da importância do comércio interacional de commodities brasileira e a elevação dos preços nos anos 2000, fica evidente nos trabalhos citados a importante contribuição de tal comércio e da elevação de seus preços em diversos aspectos para a economia brasileira. Desde questões conjunturais até as questões relacionadas ao balanço de pagamento do país, a melhoria dos preços das commodities tem sido alvo de investigação em uma variedade de trabalhos e com o uso de diversos métodos científicos de investigação.

Nesse sentido, a contribuição dada por este artigo se faz pela ótica da aplicação de modelos de equilíbrio geral, no âmbito da constituição de um cenário estático, mas pertinente para observar os possíveis impactos sobre os setores de atividade econômicos a elas relacionados. A seção que se segue abordará alguns procedimentos aqui utilizados.

3. Procedimentos metodológicos

O objetivo deste artigo é analisar, a partir de simulações, os impactos nas atividades econômicas brasileiras, a partir da elevação dos preços internacionais de commodities agropecuárias e minerais e da desvalorização da moeda doméstica. Nesse sentido, recorre-se a um modelo de Equilíbrio Geral Computável – EGC. Estes modelos têm sido utilizados substancialmente para a análise de políticas setoriais e gerais e seus impactos sobre a atividade econômica (Castilho, 1994). Parte-se da abordagem Walrasiana de equilibro geral e se consolida no âmbito da análise microeconômica e macroeconômica. Seu uso ganhou popularidade nas últimas três décadas, graças a sua possibilidade de análise a partir da interdependência setorial entre as instituições e suas políticas, a partir do uso de dados (Fochezatto, 2005).

O uso deste instrumento foi facilitado pela evolução da matemática computacional e da dinâmica dada ao tratamento das informações quantitativa pelos países, com a montagem de matriz de insumo-produto, resultado da contabilidade nacional de cada nação (Fochezatto, 2005; Bueno & Feijó, 2014). Neste trabalho, embora o modelo seja estático, o uso da matriz de 25 setores a partir dos dados fornecidos pelo IBGE, permitiu observar a inter-relação setorial, no ano de 2010, a partir do estímulo dado a dois setores, quais sejam; agropecuário e outros produtos de extração mineral, simulação de um choques exógenos de 30% sobre os preços internacionais (simulação do valor do crescimento dos preços entre 2010 e 2011) [4] e uma desvalorização de 10% na moeda doméstica (valor real observado no ano de 2011 quando comparado a 2010) em 2010 em relação a 2011.

Posterior a isso, serão observado os efeitos em variáveis macroeconômicas e microeconômicas, tais como: exportações, importações, preços domésticos e demanda das famílias. Para tanto, recorre-se a um modelo estático de EGC, com o fito de observar, no ano de 2011, quais as possíveis modificações nas variáveis em apreço, sendo os resultados mensurados relativamente a partir de choques aplicados. Os setores de atividade econômica são os abaixo expostos.

Quadro 01: Setores de atividade econômica utilizados - informações para o ano de 2010.

Agropecuária

S1

Petróleo e gás

S2

Outros da extração mineral

S3

Alimentos e bebidas

S4

Têxteis, vestuário e calçados.

S5

Produtos da madeira

S6

Fabricação de celulose, papel e produtos de papel, impressão e reprodução de gravações.

S7

Refino de petróleo

S8

Biocombustíveis

S9

Produtos químicos

S10

Fabricação de produtos de borracha e de material plástico

S11

Fabricação de produtos de minerais não metálicos

S12

Metalurgia

S13

Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, máquinas e equipamentos.

S14

Setor automotivo e equipamentos de transporte

S15

Outros da transformação

S16

Energia elétrica, gás natural e outras utilidades.

S17

Água, esgoto e gestão de resíduos.

S18

Construção

S19

Comércio

S20

Transporte, exceto transporte aéreo.

S21

Transporte aéreo

S22

Intermediação financeira, seguros e previdência complementar.

S23

Administração pública, defesa e seguridade social, saúde e educação públicas.

S24

Outros serviços

S25

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do IBGE (2015).

A partir dos dados dos setores apresentados no Quadro 01, é possível analisar, por simulação, o impacto da elevação dos preços internacionais nos setores  e , bem como o comportamento dos demais setores de atividade econômica. Conforme definição, os choques foram aplicados no câmbio, no preço internacional das exportações e das importações.

A Figura 1 apresenta, de forma esquemática, a estrutura do modelo de equilíbrio geral usada neste trabalho, tomando-se como exemplo a interligação entre dois setores da economia; nesta aplicação, considerou-se que cada setor da economia produz somente um produto e que, cada produto, é produzido somente por um setor.

Figura 1: Esquema do modelo de equilíbrio geral aplicado nesta pesquisa

Na Figura 1, entende-se que os setores produtivos da economia doméstica, para realizarem sua produção (identificada como ), combinam o agregado do consumo intermediário (identificados como ) com o valor adicionado (identificados como ), através de uma função Leontief, para determinarem sua produção (output). Por sua vez, o consumo intermediário é obtido pelo uso de insumos através de outra função Leontief; o valor adicionado é resultado da combinação dos fatores capital e trabalho (K e L), através de uma função de produção CES (função com elasticidade constante de substituição entre os fatores capital e trabalho).

A produção doméstica de cada setor ( ) é destinada ao mercado doméstico ( ) e ao mercado externo – exportações – ( ), sendo esta decisão obtida através das mudanças relativas nos preços de seus respectivos mercados e do uso de uma função CET (elasticidade constante de transformação).

Por outro lado, a produção doméstica de cada setor (ou produto) destinada ao mercado doméstico ( ) é combinada com a importação ( ), através de uma função Armington, resultando na oferta ( ) do produto na economia doméstica, tendo como destinos ( ) o consumo intermediário ( ), ( ) o consumo das famílias ( ), ( ) o consumo do governo (CG) e ( ) o investimento ( ) – ou, seja, a formação bruta de capital fixo.

Considerando-se esta estrutura, as variáveis que receberam choque foram às definidas pelas equações:

Onde diz respeito ao preço, em moeda doméstica, das exportações do produto , ER é a taxa de câmbio e  é o preço para exportação do produto  no mercado internacional em moeda estrangeira (US$).

Com esta estrutura e este fechamento do modelo, é possível analisar o impacto da variação dos preços das commodities internacionais e da taxa de câmbio sobre o nível da atividade dos setores na economia doméstica, bem como observar o impacto conjunto dos preços e do câmbio sobre o comércio internacional, preços domésticos, demanda das famílias e preços dos fatores (capital e trabalho). Desta feita, tanto os preços externos dos bens importado, quanto os preços internos dos bens importados, influenciam o comércio internacional e corroboram o desempenho setorial das variáveis tanto macroeconômicas quanto microeconômicas utilizadas no estudo.

Destaque-se, ainda, que, mesmo sendo um modelo estático de EGC, é possível perceber os possíveis resultados de ações macroeconômicas e microeconômicas instituídas nos setores de atividade da economia em observação, uma vez que sua aplicação, a partir de uma matriz de insumo-produto, captura os efeitos setoriais existentes, diante de uma mudança de preços em alguma escala.

4. Impacto da elevação dos preços exportação/importações de commodities agropecuárias e minerais e da taxa de câmbio sobre a dinâmica setorial da economia brasileira.

Esta seção apresenta os impactos da elevação dos preços das commodities em apreço e da taxa de câmbio, como variáveis de impulso, sobre a dinâmica setorial, considerando-se os preços das exportações, importações, preços domésticos, demanda das famílias e preços dos fatores (capital e trabalho) como variáveis de resposta.

4.1. Impactos macroeconômicos sobre os preços das exportações, a partir de uma elevação de preços das exportações/importações de commodities agropecuárias e minerais.

A relação diretamente proporcional entre a elevação dos preços internacionais de um determinado produto e a sua oferta na escala global, é relativamente aceita pela teoria econômica. Em situações em que o crescimento econômico de mercado, para a oferta de determinado produto, não encontre um limite proposto pelo próprio mercado, à demanda internacional acoplada, elevando-se, mesmo diante de um relativo aumento nos preço, proporciona uma elevação na oferta global da produção até o mercado saciar-se. Considerando-se fatores exógenos à demanda externa, quanto mais elevados são os preços no mercado internacional, maior será a oferta do produto e, consequentemente, maior a dinâmica interna de toda a cadeia de produção. Porém, é pertinente considerar que a oferta não responde imediatamente à demanda, dependendo do tempo de produção demandado por cada produto, especificamente; e cada setor de atividade.

Nesse sentido, a análise estática de curto prazo põe em risco os efeitos de médio e longo prazos de elevações circunstanciais nos preços internacionais de um produto, sobretudo quando são commodities, um vez que elas têm impacto substanciais numa elevada série de produtos de uma cadeia produtiva. Considerando-se aquelas originárias da agropecuária e da extração de minérios, os efeitos são substancialmente elevados para a produção de uma variedade de produtos que as utilizam como insumo ao seu processo de produção.

Assim, observando-se, pois a tabela 1, é possível destacar que a elevação dos preços da exportação e das importações de produtos agropecuários, apresenta um efeito positivo sobre as os preços das exportações brasileiras de tais produtos. Dado sua elevada capacidade de oferta em curto, médio e longo prazos, aumento nos preços internacionais, mesmo com elevação dos preços para importação, apresenta feitos positivos sobre os preços das vendas externas. Conforme pode ser observado, a elevação de 30% nos preços externos de produtos agropecuários, acoplado ao mesmo valor à importação dos mesmos produtos, registra-se feito significativo e positivo nos preços das exportações de aproximadamente 21% para o setor.

Ademais, é pertinente destacar, que, a indústria de alimentos e bebidas, bem como o setor de biodiesel, apresentaram os melhores percentuais positivos, dado que são setores que se ligam diretamente à produção agropecuária brasileira. Destarte, uma elevação dos preços dos produtos, mesmo que internacionalmente, podem elevar a produção e, consequentemente, aumentar a oferta externa de produtos deles derivados, diante da maior oferta de insumos no mercado. Conforme pode ser observado, o impacto nos preços de exportações do setor de alimentos e bebidas é de 2,24%; e, dos biocombustíveis, 4,05%.

Além disso, é oportuno destacar que admitindo a elevação dos preços em 30%, seguido de uma desvalorização da moeda brasileira em 10%, os resultados plotados na tabela revelam que se eleva relativamente a participação dos preços das exportações agropecuárias para 30,23%, denunciando que há, pelo método utilizado, uma relação empiricamente comprovável entre o câmbio e o comércio interacional de commodities agropecuárias do Brasil. Além disso, a valorização do câmbio denuncia um efeito maior e positivo sobre os preço das exportações dos outros setores da economia aqui abordados. Como pode ser visualizado, o aumento dos preços das exportações de alimentos e bebidas é de 14,14%, induzindo a uma interpretação de que o câmbio tem maior efeito, quando acoplado ao aumento internacional dos preços das commodities agropecuárias. O setor de biocombustíveis, derivado diretamente de produtos agropecuários, eleva sua participação para aproximadamente 24%.

Além disso, é pertinente esclarecer que, enquanto 10 setores de atividade econômica reduziam relativamente sua participação dos preços nas exportações, com uma elevação de 30% nos preços internacionais de commodities, apenas um deles reduz relativamente sua participação, quando a elevação dos preços das commodities agropecuárias está acoplada a uma desvalorização da moeda (ver segunda coluna da tabela 1). Há, portanto, maior efeito nas exportações dos setores que mantêm relação com a agropecuária brasileira, diante de uma desvalorização do Real (moeda doméstica), acoplada a uma elevação dos preços internacionais de commodities. O efeito transbordamento é positivo, nesse caso, para os preços de todos os setores de atividade econômica, com exceção da construção.

Tabela 01: Variação percentual das exportações, a partir de uma elevação dos preços externos das
commodities
agropecuárias e outros da extração mineral (30%) e da desvalorização do real (10%).

Setor

Agropecuária

Outros da extração mineral

P1 (var % X1)

P2 (Var % X1 e C/Var C1)

P1 (var % X3)

P2 (Var % X3
e C/Var C1)

Agropecuária

20,59

30,23

-0,71

5,83

Petróleo e gás

-0,15

4,27

-0,81

2,87

Outros da extração mineral

-1,19

7,63

36,29

72,28

Alimentos e bebidas

2,24

14,14

-0,46

9,73

Têxteis, vestuário e calçados.

0,69

16,7

-0,52

14,35

Produtos da madeira

0,02

11,1

-1,97

7,07

Fabricação de celulose, papel e produtos de papel, impressão e reprodução de gravações.

0,42

13,61

-0,79

11,02

Refino de petróleo

0,62

15,84

-0,88

12,75

Biocombustíveis

4,05

23,97

-0,44

16,18

Produtos químicos

0,92

16,86

0,01

14,69

Fabricação de produtos de borracha e de material plástico

-0,45

13,41

-1,41

10,81

Fabricação de produtos de minerais não metálicos

-1,60

7,03

-0,24

6,89

Metalurgia

-1,25

11,55

5,73

20,72

Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, máquinas e equipamentos.

-1,67

7,06

-1,41

6,10

Setor automotivo e equipamentos de transporte

-1,12

12,42

-1,19

10,58

Outros da transformação

-0,51

10,91

-0,24

10,65

Energia elétrica, gás natural e outras utilidades.

0,49

11,73

-0,57

9,55

Água, esgoto e gestão de resíduos.

0,07

11,05

-0,19

10,00

Construção

-2,98

-1,43

-3,24

-3,99

Comércio

-0,18

1,94

-0,73

0,83

Transporte, exceto transporte aéreo.

0,09

3,24

0,08

3,15

Transporte aéreo

0,01

2,74

-0,44

1,81

Intermediação financeira, seguros e previdência complementar.

0,21

2,71

-0,16

2,05

Administração pública, defesa e seguridade social, saúde e educação públicas.

0,13

4,89

-0,02

4,51

Outros serviços

0,11

2,32

-0,31

1,51

Fonte: elaboração do autor a partir de dados resultados do modelo

No que se refere ao choque de preços (com elevação de 30% dos preços internacionais) em outras commodities de extração mineral, os resultados mostram-se negativos para a grande maioria dos setores de atividade econômica plotados na tabela 1. A exceção são as outras commodities minerais que elevam suas vendas externas em 36,29%; o setor de metalurgia eleva sua participação em 5,73%, já que tem relação diretamente com o setor de commodities minerais; e o setor de transportes que aumenta em 0,08% os preços de suas vendas externas, com baixa participação, porém positiva, do setor de produtos químicos (0,01%). Os demais apresentam redução percentual nos preços do comércio internacional, embora pequena.

Porém, quando se observa o impacto da elevação dos preços internacionais, seguido da desvalorização da moeda brasileira em 10%, os resultados percentuais nos preços das exportações são positivos e significativos para quase todos os setores. A exceção é o setor de construção que tem queda de aproximadamente 4,0%. Os outros da extração mineral elevam substancialmente sua participação percentual, dado a elevação dos preços e a desvalorização da moeda. Os registros conferem participação de aproximadamente 73% nas exportações, seguido pelo setor de metalurgia, com aumento de 20% nas exportações. Finalmente, destaque-se que, elevação de preços, tanto nas commodities agropecuárias quanto nas outras de extração mineral tem impactos divergentes entre os preços dos setores de atividade econômica. Os que estão relacionados diretamente são afetados positivamente e, alguns deles têm efeitos negativos. Porém, quando a variação é nos preços e no câmbio, quase todos os setores de atividade mostram impactos positivos nos preços das exportações. Destarte, os dados mostram que há maior relação do câmbio com as exportações setoriais, em detrimento da elevação dos preços das commodities em apreço.

4.2 Impactos macroeconômicos sobre os preços domésticos, a partir de uma elevação de preços das exportações/importações de commodities agropecuárias e minerais.

Perturbações cíclicas no comércio internacional são constantemente observadas numa economia de mercado. A dinâmica dos preços no mercado doméstico é afetada pelas variações cíclicas nos mercados externos, considerando-se constante as políticas que posam minimizar tais impactos.

No que se refere aos preços domésticos, é pertinente destacar que a elevação dos preços internacionais para as commodities agropecuárias repercute na redução dos preços em todos os setores, conforme pode ser visualizado na tabela 2. O que pode justificar tal resultado é o fato de elevar a produção doméstica com a elevação da demanda externa e isso contemplarem o mercado interno com maior oferta dos produtos. Todos os setores, mesmo que em baixos percentuais, apresentaram redução de preço no mercado doméstico. O choque de preços no setor agropecuário repercute com redução de 5,15% em seu preço no mercado brasileiro. Quando se considera o choque de preço e de câmbio, os dados mostram que os preços continuam variando negativamente no mercado doméstico, mas com alguns setores em que os resultados apresentam, embora em leves proporções, elevação.

Ademais, o choque proporcionado pela elevação de preços e pela desvalorização do real (coluna 2 da tabela 2) mostra que a redução nos preços de outras commodities minerais (14,18%) é mais acentuado que em todos os outros setores. A demanda dos produtos derivados de tais commodities pode reduzir de tal forma que maior parcela do mercado só pode ser obtida com maior redução de preços. Ademais, uma maior quantidade de produtos tem impactos na elevação dos preços no mercado doméstico, sobretudo aqueles que não se associam em maior magnitude aos derivados do setor agropecuário. Já no que se refere ao choque de preços internacionais no setor de outros da extração mineral, também promove redução dos preços no mercado doméstico brasileiro, mas em menos setores do que o observado quando o choque ocorre no setor agropecuário. Tais resultados se justificam no âmbito da interação setorial e no seu processo de dependência ao longo das cadeias produtivas.

Tabela 02: Variação do preço doméstico, a partir de uma elevação dos preços das commodities
agropecuárias e outras de extração mineral (30%) e da desvalorização do real (10%).

Setor

Agropecuária

Outros da extração mineral

PD1 (var % P1)

PD2 (Var % P1 e C/Var C1)

PD1 (var % P3)

PD2 (Var % P3 e C/Var C1)

Agropecuária

-5,15

-7,04

0,36

-0,19

Petróleo e gás

-0,22

-2,78

0,83

-0,72

Outros da extração mineral

-0,41

-14,18

-46,88

-67,56

Alimentos e bebidas

-1,82

-4,14

0,46

-0,81

Têxteis, vestuário e calçados.

-0,33

-0,46

0,38

0,75

Produtos da madeira

-0,82

-2,44

0,44

-0,45

Fabricação de celulose, papel e produtos de papel, impressão e reprodução de gravações.

-0,37

-1,78

0,50

-0,19

Refino de petróleo

-0,29

-0,43

0,79

1,55

Biocombustíveis

-2,29

-4,79

0,36

-0,95

Produtos químicos

-0,21

-0,24

-0,10

0,35

Fabricação de produtos de borracha e de material plástico

-0,22

0,07

0,31

1,14

Fabricação de produtos de minerais não metálicos

-0,17

-0,79

-1,79

-2,44

Metalurgia

-0,21

-3,17

-5,67

-9,85

Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, máquinas e equipamentos.

-0,14

-0,19

-0,37

-0,16

Setor automotivo e equipamentos de transporte

-0,16

-0,97

-0,31

-0,78

Outros da transformação

-0,17

0,00

-0,02

0,53

Energia elétrica, gás natural e outras utilidades.

-0,17

0,29

0,70

1,98

Água, esgoto e gestão de resíduos.

-0,14

0,21

0,32

1,26

Construção

-0,14

-0,07

-0,57

-0,28

Comércio

-0,16

-0,57

0,58

0,75

Transporte, exceto transporte aéreo.

-0,14

-0,21

0,55

1,05

Transporte aéreo

-0,17

-0,89

0,66

0,62

Intermediação financeira, seguros e previdência complementar.

-0,13

0,10

0,81

1,76

Administração pública, defesa e seguridade social, saúde e educação públicas.

-0,08

0,06

0,25

0,66

Outros serviços

-0,17

-0,08

0,67

1,40

Fonte: elaboração do autor a partir de dados resultados do modelo

O choque dado pela elevação dos preços internacionais de outros produtos de extração mineral provoca a redução nos preços domésticos deste produto e de todos os demais que mantem elo na cadeia produtiva. O choque aplicado nos preços de importação e exportação de tais commodities tem influência nos preços do país. A redução pode ser oriunda da elevação da oferta mundial dos produtos o que, mesmo com preço elevados externamente, repercutem na redução doméstica de preços domésticos, dados pela maior oferta e pela estrutura de comercialização (acordos bilaterais, e parcerias comerciais). O que se observa, de fato, é que os produtos que apresentam elos mais consistentes na cadeia produtiva têm uma tendência de maior redução de preços no mercado doméstico. Alguns outros preços apresentam elevação no percentual dos preços domésticos (ver coluna 3 tabela 2).

Já quando se analisa o choque acoplado à desvalorização da moeda nacional, os preços variam em proporções mais acentuadas e alguns deles apresentam comportamento diferenciado daquele anterior ao choque na taxa de cambio. Os preços domésticos de outros produtos de extração mineral reduzem em 67,56% quando se elevam os preços internacionais do setor (30%) e se desvaloriza a moeda doméstica em 10%. Esses resultados podem ser justificados pela elevação da oferta global e pela maior oferta no mercado doméstico ou apenas pela contração da demanda, diante da oferta para o mercado externo ser acentuadamente elevada. Além disso, os setores que apresentam menor relação com outros de extração mineral, apresentam elevação dos preços internamente.

4.3. Impactos macroeconômicos na demanda das famílias, a partir de uma elevação de preços das exportações/importações de commodities agropecuárias e minerais.

Os impactos na demanda das famílias, dado por uma elevação dos preços internacionais de commodities agropecuárias e de outros de extração mineral foram positivos em todos os setores de atividades econômicas plotados na tabela 3. Os resultados mostram elevação da demanda de forma tímida. O maior resultado foi registrado no setor de biocombustíveis (1,42%). Todos os demais setores apresentaram elevação percentual inferior à unidade. Quando o choque é aplicado acoplado à desvalorização da moeda doméstica (apreciação cambial), reduz, percentualmente, a demanda das famílias em 6, dos 25 setores analisados. O setor de biocombustíveis é o de maior elevação da demanda das famílias, registrando aumento de 2,88%.

Tabela 03: Variação da demanda das famílias, a partir de uma elevação dos preços das commodities agropecuárias e outras de extração mineral (30%) e da desvalorização do real (10%).

Setor

Agropecuária

Outros da extração mineral

DD1 (var % P1)

DD2 (Var % P1 e C/Var C1)

DD1 (var % P3)

DD2 (Var % P3 e C/Var C1)

Agropecuária

0,96

1,37

0,10

0,28

Petróleo e gás

0,18

0,25

0,06

0,03

Outros da extração mineral

0,22

2,95

13,63

27,95

Alimentos e bebidas

0,61

1,20

0,12

0,52

Têxteis, vestuário e calçados.

0,28

0,03

0,20

-0,06

Produtos da madeira

0,40

0,95

0,14

0,58

Fabricação de celulose, papel e produtos de papel, impressão e reprodução de gravações.

0,41

0,93

0,21

0,58

Refino de petróleo

0,34

0,04

0,08

-0,39

Biocombustíveis

1,42

2,88

0,26

1,25

Produtos químicos

0,22

-0,56

0,33

-0,43

Fabricação de produtos de borracha e de material plástico

0,21

-0,18

0,19

-0,21

Fabricação de produtos de minerais não metálicos.

0,32

0,46

1,31

1,68

Metalurgia

0,20

0,67

1,87

2,95

Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, máquinas e equipamentos.

0,18

-0,70

0,35

-0,46

Setor automotivo e equipamentos de transporte

0,49

-0,06

0,93

0,47

Outros da transformação

0,20

-0,13

0,29

-0,02

Energia elétrica, gás natural e outras utilidades.

0,22

0,12

0,07

-0,17

Água, esgoto e gestão de resíduos.

0,22

0,20

0,19

0,12

Construção

0,38

0,51

0,90

1,15

Comércio

0,37

0,71

0,18

0,42

Transporte, exceto transporte aéreo.

0,38

0,59

0,20

0,32

Transporte aéreo

0,48

-0,05

0,25

-0,39

Intermediação financeira, seguros e previdência complementar.

0,40

0,25

0,06

-0,26

Administração pública, defesa e seguridade social, saúde e educação públicas.

0,17

0,22

0,19

0,29

Outros serviços

0,40

0,25

0,15

-0,11

Fonte: elaboração do autor a partir de dados resultados do modelo

No que se referem à elevação dos preços internacionais de outras commodities de extração mineral, os dados mostram que o consumo das famílias eleva-se substancialmente no setor (13,63%), dado uma elevação dos preços internacionais. O que pode justificar tal fato é a elevação da oferta do produto no mercado doméstico, o que corrobora e demanda das famílias em âmbito interno. Quando se acoplam os choques no preço internacional (30%) do setor e na taxa de cambio (apreciação cambial em 10%), a demanda doméstica pelo produto se eleva em aproximadamente 28%. Destaque-se, ademais, que há uma forte relação entre o aumento da demanda das famílias e a inter-relação entre os setores e o setor que eleva seu preço no mercado internacional.

4.4. Impactos macroeconômicos no preço dos fatores capital e trabalho, a partir de uma elevação de preços das exportações/importações de commodities agropecuárias e minerais.

Na tabela 4, os dados mostram os percentuais nos fatores de produção (capital e trabalho), diante de uma elevação dos preços internacionais das commodities agropecuárias e de uma desvalorização da moeda doméstica (apreciação cambial). Pela tabela, é possível destacar que a elevação nos preços de produtos da agropecuária no mercado internacional reproduz uma elevação percentual de 5,6% no capital e de 5,54% na demanda por trabalho no setor. Ademais, é possível destacar que os setores de atividade econômica que utilizam com maior intensidade derivados do setor agropecuário também elevam a demanda por capital e trabalho de forma mais perceptível. Alguns setores a reduzem, embora em valores modestos. O setor de construção registra a maior redução nos preços dos fatores de capital (3,05%) e trabalho (3,19%).

Tabela 03: Variação da demanda das famílias, a partir de uma elevação dos preços das commodities
agropecuárias e outras de extração mineral (30%) e da desvalorização do real (10%).

Setor

Agropecuária

Outros da extração mineral

DD1 (var % P1)

DD2 (Var % P1 e C/Var C1)

DD1 (var % P3)

DD2 (Var % P3 e C/Var C1)

Agropecuária

0,96

1,37

0,10

0,28

Petróleo e gás

0,18

0,25

0,06

0,03

Outros da extração mineral

0,22

2,95

13,63

27,95

Alimentos e bebidas

0,61

1,20

0,12

0,52

Têxteis, vestuário e calçados.

0,28

0,03

0,20

-0,06

Produtos da madeira

0,40

0,95

0,14

0,58

Fabricação de celulose, papel e produtos de papel, impressão e reprodução de gravações.

0,41

0,93

0,21

0,58

Refino de petróleo

0,34

0,04

0,08

-0,39

Biocombustíveis

1,42

2,88

0,26

1,25

Produtos químicos

0,22

-0,56

0,33

-0,43

Fabricação de produtos de borracha e de material plástico

0,21

-0,18

0,19

-0,21

Fabricação de produtos de minerais não metálicos.

0,32

0,46

1,31

1,68

Metalurgia

0,20

0,67

1,87

2,95

Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, máquinas e equipamentos.

0,18

-0,70

0,35

-0,46

Setor automotivo e equipamentos de transporte

0,49

-0,06

0,93

0,47

Outros da transformação

0,20

-0,13

0,29

-0,02

Energia elétrica, gás natural e outras utilidades.

0,22

0,12

0,07

-0,17

Água, esgoto e gestão de resíduos.

0,22

0,20

0,19

0,12

Construção

0,38

0,51

0,90

1,15

Comércio

0,37

0,71

0,18

0,42

Transporte, exceto transporte aéreo.

0,38

0,59

0,20

0,32

Transporte aéreo

0,48

-0,05

0,25

-0,39

Intermediação financeira, seguros e previdência complementar.

0,40

0,25

0,06

-0,26

Administração pública, defesa e seguridade social, saúde e educação públicas.

0,17

0,22

0,19

0,29

Outros serviços

0,40

0,25

0,15

-0,11

Fonte: elaboração do autor a partir de dados resultados do modelo

No que se referem à elevação dos preços internacionais de outras commodities de extração mineral, os dados mostram que o consumo das famílias eleva-se substancialmente no setor (13,63%), dado uma elevação dos preços internacionais. O que pode justificar tal fato é a elevação da oferta do produto no mercado doméstico, o que corrobora e demanda das famílias em âmbito interno. Quando se acoplam os choques no preço internacional (30%) do setor e na taxa de cambio (apreciação cambial em 10%), a demanda doméstica pelo produto se eleva em aproximadamente 28%. Destaque-se, ademais, que há uma forte relação entre o aumento da demanda das famílias e a inter-relação entre os setores e o setor que eleva seu preço no mercado internacional.

4.5. Impactos macroeconômicos no preço dos fatores capital e trabalho, a partir de uma elevação de preços das exportações/importações de commodities agropecuárias e minerais.

Na tabela 4, os dados mostram os percentuais nos fatores de produção (capital e trabalho), diante de uma elevação dos preços internacionais das commodities agropecuárias e de uma desvalorização da moeda doméstica (apreciação cambial). Pela tabela, é possível destacar que a elevação nos preços de produtos da agropecuária no mercado internacional reproduz uma elevação percentual de 5,6% no capital e de 5,54% na demanda por trabalho no setor. Ademais, é possível destacar que os setores de atividade econômica que utilizam com maior intensidade derivados do setor agropecuário também elevam a demanda por capital e trabalho de forma mais perceptível. Alguns setores a reduzem, embora em valores modestos. O setor de construção registra a maior redução nos preços dos fatores de capital (3,05%) e trabalho (3,19%).

Tabela 04: Variação no uso dos fatores (capital e trabalho), a partir de uma elevação
dos preços das commodities agropecuárias (30%) e da desvalorização do real (10%).

Setor

Preço

Preço e câmbio

Capital

Trabalho

Capital

Trabalho

Agropecuária

5,61

5,54

8,78

8,92

Petróleo e gás

-0,17

-0,23

2,34

2,45

Outros da extração mineral

-1,2

-1,3

5,62

5,81

Alimentos e bebidas

1,01

0,91

3,85

4,04

Têxteis, vestuário e calçados.

0,38

0,23

2,84

3,12

Produtos da madeira

-0,72

-0,82

-1,04

-0,86

Fabricação de celulose, papel e produtos de papel, impressão e reprodução de gravações.

0,19

0,09

4,12

4,3

Refino de petróleo

0,26

0,16

2,17

2,35

Biocombustíveis

1,37

1,28

5,38

5,53

Produtos químicos

0,69

0,61

3,81

3,96

Fabricação de produtos de borracha e de material plástico

-0,67

-0,77

0,81

0,99

Fabricação de produtos de minerais não metálicos

-1,76

-1,86

-6,08

-5,91

Metalurgia

-1,35

-1,45

1,09

1,27

Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, máquinas e equipamentos.

-1,76

-1,89

-4,83

-4,6

Setor automotivo e equipamentos de transporte

-1,26

-1,35

-0,59

-0,43

Outros da transformação

-0,65

-0,75

-0,77

-0,59

Energia elétrica, gás natural e outras utilidades.

0,31

0,26

0,94

1,03

Água, esgoto e gestão de resíduos.

-0,07

-0,12

0,19

0,28

Construção

-3,05

-3,19

-11,4

-11,16

Comércio

-0,13

-0,28

-0,59

-0,32

Transporte, exceto transporte aéreo.

0,12

0,02

0,75

0,94

Transporte aéreo

0,03

-0,07

0,29

0,47

Intermediação financeira, seguros e previdência complementar.

0,22

0,12

0,28

0,46

Administração pública, defesa e seguridade social, saúde e educação públicas.

0,18

0,08

-0,11

0,07

Outros serviços

0,12

0,02

-0,15

0,03

Fonte: elaboração do autor a partir de dados resultados do modelo

Quando o choque é aplicado nos preços internacionais e na taxa de cambio, os percentuais nos preços dos fatores capital e trabalho se tornam mais acentuados em setores que utilizam mais derivados desses produtos em seus processos de produção. Como pode ser observado, o preço do capital se eleva em 8,78% na agropecuária, seguido de um percentual de 8,92% no fator trabalho. A maior oferta de produtos agropecuários no mercado internacional, dado pelo maior preço, implica na elevação da demanda por mais capital para investimento no setor e de mais trabalho para ampliar a oferta internacional. Assim, a elevação dos preços de tais fatores se justifica.

Além disso, é oportuno destacar que a elevação dos preços dos fatores capital e trabalho no setor agropecuário também promove elevação nos preços de alguns setores que se relacionam nos seus processos produtivos, a exemplo dos setores de alimentos e bebidas, biocombustíveis e produtos químicos, que utilizam em sua composição, elevada proporção de produtos de origem agropecuária. Tais resultados confirma encadeamento para frente e para trás nas cadeias produtivas, diante de variações em importantes variáveis que estimulam o comércio internacional de commodities.

Na tabela 5, é possível observar a variação dos preços dos fatores capital e trabalho, a partir da elevação dos preços de outras commodities minerais e da desvalorização da moeda doméstica (apreciação do câmbio). Conforme os registos, a elevação internacional dos preços das commodities provoca elevação percentual de 29,19% e de 30,14% nos preços dos fatores capital e trabalho, respectivamente. Além disso, é oportuno destacar que reduz os preços dos fatores em alguns dos setores em apreço (ver coluna 1 da tabela). Os setores que estão mais relacionados, tais como: refino de petróleo; metalurgia; energia elétrica, gás natural e outras utilidades; água, esgoto e gestão de resíduos, apresentam elevação nos preços dos fatores de produção (capital e trabalho), embora levemente. Os demais setores os reduzem.

Tabela 05: Variação no uso dos fatores (capital e trabalho), a partir de uma elevação
dos preços das outras commodities minerais (30%) e da desvalorização do real (10%).

 

Setor

Preço

Preço e câmbio

Capital

 Trabalho

Capital

Trabalho

Agropecuária

-0,89

-0,38

0,73

1,88

Petróleo e gás

-0,77

-0,33

1,11

2,1

Outros da extração mineral

29,19

30,14

60,3

62,92

Alimentos e bebidas

-0,5

0,23

1,42

3,08

Têxteis, vestuário e calçados.

-0,85

0,24

0,66

3,14

Produtos da madeira

-2,02

-1,3

-3,71

-2,13

Fabricação de celulose, papel e produtos de papel, impressão e reprodução de gravações.

-0,78

-0,05

2,22

3,9

Refino de petróleo

0,03

0,76

1,76

3,43

Biocombustíveis

-0,29

0,3

2,62

3,96

Produtos químicos

-0,35

0,24

2,13

3,46

Fabricação de produtos de borracha e de material plástico

-1,44

-0,72

-1,02

0,6

Fabricação de produtos de minerais não metálicos

-2,85

-2,14

-8,81

-7,32

Metalurgia

0,67

1,41

2,94

4,63

Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, máquinas e equipamentos.

-2,37

-1,44

-6,62

-4,62

Setor automotivo e equipamentos de transporte

-1,85

-1,2

-2,57

-1,13

Outros da transformação

-0,65

0,08

-1,16

0,46

Energia elétrica, gás natural e outras utilidades.

0,13

0,49

0,69

1,51

Água, esgoto e gestão de resíduos.

0,03

0,4

0,12

0,94

Construção

-4,45

-3,39

-14,96

-12,87

Comércio

-1,24

-0,15

-2,62

-0,22

Transporte, exceto transporte aéreo.

-0,25

0,49

0,06

1,7

Transporte aéreo

-0,74

-0,01

-1,17

0,45

Intermediação financeira, seguros e previdência complementar.

-0,25

0,48

-0,54

1,09

Administração pública, defesa e seguridade social, saúde e educação públicas.

-0,53

0,2

-1,43

0,18

Outros serviços

-0,51

0,22

-1,28

0,34

Fonte: elaboração do autor a partir de dados resultados do modelo

É pertinente observar que quando se atenta à variação dos preços do capital e do trabalho, a partir de uma elevação nos preços internacionais das commodities e da desvalorização da moeda doméstica, eleva-se substancialmente os preços dos fatores capital e trabalho. Os preços mais elevados no mercado interacional, proporcionam maior oferta do produto; e, por sua vez, eleva-se a demanda por capital e por trabalho, sendo que tal demanda proporciona elevação no seu preço. Conforme se observa, os preços do capital elevam-se em 60,30% e do capital em 62,92%. Ademais, os setores que se relacionam com as commodities minerais também registram variação dos preços dos fatores capital e trabalho, em menor proporção, mas na mesma direção.

5. Considerações finais

O objetivo deste artigo foi analisar os impactos causados pela elevação dos preços internacionais de commodities agropecuárias e minerais e da taxa de câmbio sobre a atividade econômica brasileira, a partir da utilização de um modelo estático de equilíbrio geral computável – EGC. Consideraram-se impactos em variáveis de natureza macroeconômica e microeconomia, tais como: exportações, preços domésticos, demanda das famílias e preços dos fatores (capital e trabalho).

Os principais resultados revelaram haver, por um lado, relação diretamente proporcional entre elevação dos preços internacionais de commodities e seus impactos sobre a os preços das exportações em todos os setores. Aumento dos preços proporciona elevação dos preços das exportações, quase que generalizadamente. Além disso, a apreciação cambial também se mostrou favorável à elevação dos preços no comércio internacional, não apenas das commodities, mas de todos os setores de atividade econômica em análise.

Embora se trate de um modelo estático, é oportuno enfatizar que os resultados corroboram evidências empíricas de que, na ausência de contratos, o câmbio tem influência sobre o comércio internacional em proporções consideráveis.

Além disso, é oportuno destacar que os preços domésticos mostraram leve redução percentual, dado os choques exógenos persistentemente descritos acima. A justificativa mais plausível pela abordagem teórica dá-se pelo fato de que são afetados pela elevação dos preços internacionais, uma vez que a elevação desses preços promove maior esforço de oferta e, consequentemente, maior produção. Nesse caso, há um transbordamento de benefícios para o mercado doméstico que pode ser visualizado pela redução de preços. Tal movimento se acentua substancialmente, quando os choques são acoplados (preços internacionais e câmbio).

No que se refere à demanda das famílias, pôde-se observar elevação, mesmo que em baixos percentuais. Isso resulta da maior oferta global da produção, que está diretamente relacionada ao aumento de preços internacionais de commodities de uso diverso em inúmeras cadeias produtivas. Ademais, isso causa impactos no nível de emprego da economia o que, consequentemente permite maior demanda. Tais evidências são parcialmente ratificadas, quando se observar o uso dos fatores de produção capital e trabalho. Nos setores que apresentam correlação maior com aqueles que apresentaram elevação de preços no mercado internacional, a demanda por capital e trabalho se eleva. Já naqueles que consomem menos dos fatores de produção destes setores, essa demanda se reduz.

Diante dos resultados, podem-se afirmar algumas suposições acerca dos preços internacionais e do câmbio como fatores de impulso ao comércio internacional. A economia doméstica é positivamente afetada com a elevação dos preços internacionais de setores nos quais o país tem vantagens de produção. Além disso, se ocorrer apreciação cambial, temporariamente, pode haver efeito positivo para elevar as exportações. Porém, as limitações deste artigo estão no fato de não haver possibilidade de avaliações mais precisas acerca do fenômeno no longo prazo, bem como ao uso de modelo estático, que observar especificamente um ponto no tempo.

Como sugestões de trabalhos futuros, fica a utilização de modelos dinâmicos e com utilização da composição regional e setorial para países com acordos biliterais e multilaterais de comércio.

Referências bibliográficas

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1. Estudante de Doutorado em Ciências Econômicas pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Professor do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri – URCA. Email: abeleconomia@hotmail.com
2. Professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. É professor dos programas de Pós-graduação do Instituto de Economia e do programa de Pós-graduação em Planejamento de Sistemas Energéticos da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Email: marcelocunha@eco.unicamp.br
3. Os setores aqui estudados estão expostos na segunda seção – procedimentos metodológicos.

4. A variação foi substancial entre as diversas commodities no período e apreço. Assim, trabalha-se com uma aproximação da média aritmética da variação dos preços entre elas.


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 30) Año 2016

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