Espacios. Vol. 37 (Nº 31) Año 2016. Pág. 22

Capital Social e o Programa Mulheres Mil no âmbito do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão / Campus Imperatriz – MA

Social Capital and Mulheres Mil Program under the Federal Institute of Education, Science and Technology Campus of Imperatriz in state of Maranhão

Widglan Barbosa de Sousa NUNES 1; Nancy Julieta INOCENTE 2; Monica Franchi CARNIELLO 3

Recibido: 07/06/16 • Aprobado: 03/07/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Capital Social

3. Educação e Igualdade de Gênero

4. Políticas Públicas

5. O Papel da Rede Federal de Educação Profissional para o Desenvolvimento Regional

6. Método

7. O Programa Mulheres Mil

8. Resultados e Discussão

9. Considerações Finais

Referencias


RESUMO:

O programa Mulheres Mil tem como finalidade promover a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida das mulheres em situação de vulnerabilidade social por meio da formação no ensino profissionalizante. O objetivo geral desta pesquisa é verificar o capital social, a inserção ao mercado de trabalho e prática empreendedora das alunas egressas do programa Mulheres Mil, no âmbito do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, campus Imperatriz. A pesquisa é descritiva, com abordagem quantitativa, delineamento de levantamento dos dados e estudo de caso. A amostra constitui-se de 134 alunas egressas dos cursos de camareira e de construção civil/acabamento e pintura, dos períodos de 2013 e 2014, respectivamente. Utilizaram-se, como instrumentos de coleta de dados, os questionários de identificação da amostra; o integrado para medir capital social do Banco Mundial; e o do programa Mulheres Mil. A caracterização dos dados sociodemográficos apresenta um grupo de mulheres na idade adulta, predominantemente entre 31 e 40 anos, casadas, com emprego informal e baixa escolaridade. Os resultados referentes ao capital social apontam que tiveram melhorias, principalmente no convívio do ambiente escolar, na comunicação e no aprendizado em sala de aula, resultado que se reflete com melhorias do capital social delas nas suas comunidades.
Palavras Chaves: Gestão. Desenvolvimento Regional. Programa Mulheres Mil. Educação.

ABSTRACT:

The Mulheres Mil Program aims to promote social inclusion and to improve the quality of life of women in situations of social vulnerability, through training in vocational education. The general objective of this research is to verify the capital, entering the labor market and entrepreneurial practice of graduates students of the Mulheres Mil Program under the Federal Institute of Education, Science and Technology of Maranhão, Empress campus. The research is descriptive, with quantitative approach, data survey design and case study. The sample consisted of 134 graduates students of maid courses and construction / finishing and painting, periods of 2013 and 2014, respectively. They were used as data collection instruments, sample identification questionnaires; integrated to measure social capital of the World Bank; and the Mulheres Mil Program. The characterization of the socio-demographic data shows a group of women in adulthood, predominantly between 31 and 40 years old, married, with informal employment and low education. The results for the capital indicate that improvements were mainly in the conviviality of the school environment, communication and learning in the classroom, a result that reflects with improvements of the capital of them in their communities.
Keywords: Management. Regional development. Mulheres Mil Program. Education

1. Introdução

Nas últimas décadas, a participação das mulheres, tanto nas escolas como no mercado de trabalho vem crescendo no Brasil. Atualmente estão à frente de grandes projetos e empresas e lideram organizações, mas, apesar dos avanços sociais, muitos são os obstáculos enfrentados, no que tange à relação de gênero.

Essa situação fica mais perceptível quando as mulheres apresentam baixa escolaridade e, por consequência, pouca qualificação profissional. São distorções que as deixam em vulnerabilidade social perante sua família e comunidade (Furtado et al., 2012).

O programa Mulheres Mil está inserido nas políticas públicas educacionais do Governo Federal, por intermédio do Ministério da Educação, sob a coordenação da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC). Este programa encontra-se na classificação de políticas públicas compensatórias.  Silva e Lima (2010) explicam que servem para suprir um processo de exclusão histórica, tendo um caráter de compensar discriminações passadas e permitir a abertura de uma inclusão social.

O Mulheres Mil tem como propósito promover a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida das mulheres em situação de vulnerabilidade social, ofertando a formação no ensino profissionalizante, influenciando na melhoria de vida para suas famílias e comunidades (Ministério da Educação, 2008). O enfoque do programa é a valorização das mulheres com problemas socioeconômicos, seja por questões de analfabetismo, educação precária ou deficiente, histórico de empregos de baixo nível ou informais.

Com o acesso à educação profissionalizante é possível melhorar a vida familiar e o desenvolvimento econômico regional e nacional. A participação das mulheres desfavorecidas no processo político, com a sua emancipação social e econômica, propiciará maior inclusão no meio social e político (Ministério da Educação, 2008). Segundo Mittler (2003: 24), “o objetivo da inclusão social está atualmente no coração da política educacional e da política social”.

A capacitação de pessoas para conectar pesquisa, teoria e prática está baseada na teoria da educação de adultos, crítica desenvolvida por Freire (2005) que oferece recursos e oportunidades às pessoas para adquirir mais experiência e algumas habilidades técnicas, ensejando a melhoria de suas condições de vida.

A melhoria de vida tem relação, também, com a ampliação das redes de relações das pessoas contempladas pelos programas sociais. Nos ensinamentos de Putnam (2000), o capital social está focado nas redes sociais formais e informais, com níveis de confiança elevados em razão do contato regular entre uns e outros. Para Putnam (2000), esse tipo de capital social é traduzido como cultura cívica, comum também a outros autores, e é de vital importância para consolidar práticas democráticas em determinada comunidade. Essa vontade de mudança individual e coletiva, aliada à sua colocação em prática pela comunidade, é compreendida como um processo de empoderamento (Lisboa & Manfrini, 2008).

O objetivo geral desta pesquisa é verificar o capital social, a inserção ao mercado de trabalho e prática empreendedora das alunas egressas do programa Mulheres Mil, no âmbito do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, campus Imperatriz.

2. Capital Social

O tema capital social tem sido vastamente explorado em diversos estudos, com publicações em artigos de diversos autores e em livros que estudam a temática, focando, principalmente, em comunidades desprovidas de recursos financeiros advindos de organizações não governamentais ou instituições privadas ou públicas. O tema capital social envolve um conceito amplo e em construção por diversos autores (Inocente; Oliveira & Oliveira, 2012).

Dallabrida (2015) aborda os diferentes tipos de capital que compõem o desenvolvimento territorial.

  1. Capital Produtivo, assim entendido como os recursos financeiros, maquinas, equipamentos e infraestrutura;
  2. Capital Natural, percebido no patrimônio natural com suas paisagens, minérios, fauna, flora;
  3. Capital Humano ou Intelectual, compreendido na formação acadêmica e profissional, na criatividade e conhecimentos;
  4. Capital Cultural, com valores e códigos de conduta, patrimônio cultural, a cultura organizacional;
  5. Capital Institucional, advindo das instituições públicas e privado;
  6. E o Capital Social, criando com base nas relações, em redes sociais, na confiança, na reciprocidade (Dallabrida, 2015: 67)

Os estudos sobre o capital social evidenciam que os ganhos deste advêm de uma associação coletiva para aquisição de benefícios comuns. Uma das particularidades desse sistema é a confiança entre os cooperados e as participações políticas e de gestão que envolvem esses processos (Boeiro & Borba, 2006). Com essa dinâmica, a comunidade pode apresentar certo alívio em relação às condições individuais para um ganho de qualidade e bem-estar social.

Enfatiza Putnam (2000) que o capital social se refere a elementos de organização social, como redes, normas e confiança social, que facilitam a coordenação e a cooperação em benefício recíproco. O Capital Social tem influência direta com valores implícitos das conexões internas e externas de uma rede social, gerado confiança, cooperação e inovação, aumentando o conhecimento e a produtividade dos indivíduos.

Putnam (2000) também menciona estudos referentes ao grau de conectividade entre indivíduos e coletividade, e cita como exemplo, que nas redes sociais o indivíduo pouco conectado com os membros de uma mesma rede não é tão produtivo e não influi na conexão com a comunidade como um todo. Um membro bem conectado em uma rede pode evoluir com maior eficiência, enquanto um membro pouco conectado em uma rede muito conectada pode receber respingos de benefícios dessa rede.

Quanto ao fortalecimento das redes de relacionamento para as pessoas, torna-se importante principalmente em comunidades com altos indicadores de vulnerabilidade social, sendo comunidades mais suscetíveis ao crescimento da violência, há necessidade de um aprofundamento em pesquisas por tratar-se de um tema bastante abrangente, de caráter pátrio-continental com respeito a nacionalidades, credo, raça, abrangendo toda a humanidade.

A obra de Elias e Scotson (2000) relata o relacionamento em uma pequena comunidade, na qual, embora existissem semelhanças étnicas e educacionais, os grupos não eram homogêneos, e que as diferenças existentes entre esses grupos explicariam os conflitos na comunidade, as relações entre os vizinhos, exclusão social e a violência.

O estímulo ao capital social é possível e pode ser incorporado na agenda das políticas de desenvolvimento de um país. Putnam (2005) refere-se a essa característica do desenvolvimento do capital social como fundamental para o fortalecimento da democracia, portanto, o efeito das governanças democráticas das políticas publicas nos países democráticos terem ou não sucesso em seu governo depende em parte da melhoria do capital social. Explica Bandeira (1999) que as políticas de desenvolvimento regional, além de contar com infraestrutura necessária, ações de fomento e busca o investimento privado, necessitam implantar medidas que ajudem a melhora e aumenta o capital social nas comunidades.

Fukuyama (1999) considera uma norma o contato informal que promove a interação e cooperação entre duas ou mais pessoas. Esses padrões que constituem o capital social podem variar de uma norma de reciprocidade entre dois amigos até grandes doutrinas, como o catolicismo ou o confucionismo. Diz ainda Fukuyama, que o capital social deve ser criado em um relacionamento humano real, que a norma de reciprocidade existe em potencial nos negócios com todas as pessoas, mas se realiza apenas entre amigos. Assim, a confiança, as redes e a sociedade civil, que têm sido associadas ao capital social, são fenômenos mentais secundários, decorrentes do capital social, mas não constituem o próprio capital social (Fukuyama, 1999).

Higgins (2005) menciona que o capital social é um agregado de recursos atuais ou potenciais, vinculados à posse de uma rede duradoura de relações de familiaridade ou reconhecimento ‘mais ou menos’ institucionalizadas. Na perspectiva de Putnam (2000), o capital social é entendido como um conjunto de características da organização social – confiança, normas e sistemas – que tornam possíveis ações coordenadas.

Segundo Amaral Filho (2003) o capital social é um elemento intangível, proveniente da confiança, interações sociais e normas, e que se diferencia do capital físico, que é privado. O capital social é um bem público, e quanto mais desenvolvido em uma comunidade, certamente melhores serão os benefícios coletivos.

Para que haja o desenvolvimento de uma determinada região é necessário estimular o capital social, pois só há desenvolvimento com a busca de uma relação social bastante cooperativa, passiva e de confiança entre população e governo. O estímulo ao capital social pode ser viabilizado por meio de políticas públicas e programas sociais.

3. Educação e Igualdade de Gênero

Refletir a educação e igualdade de gênero, e principalmente das mulheres é retomar a história de lutas e conquistas, com mudanças socioculturais impostas à civilização notadamente machista, que corroborava uma clara distinção de gênero, haja vista que o tratamento dispensado à mulher, que se expressava pela submissão, negação de direitos e desigualdade social (Sachs, 2004).

Pode-se destacar que, na época da colonização, a mulher não tinha direito sequer à liberdade de expressão. Nesse sentido, a instrução era algo que só poderia ser desfrutada exclusivamente pelos homens (Sachs, 2004).

Para Lustosa (2009), é importante a reivindicação inicial dos índios para que suas companheiras tivessem acesso à alfabetização na forma que era repassada para os homens da tribo. Em se tratando de Brasil, desde a colonização até os dias atuais, as mulheres lutam para garantia de seus direitos, principalmente por tratamento igual perante o homem e por sua cidadania na sociedade.

Durante todo o século XX percebe-se a diminuição das diferenças existentes entre homens e mulheres no Brasil, que conseguiram espaços antes idealizados somente para os homens, seja no cenário político, no mercado de trabalho, além da igualdade de direitos entre os gêneros.

Essa igualdade é legalmente sustentada pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso I, que enfatiza que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos desta Constituição” (BrasiL, 1988).

A atitude para a igualdade em direitos e obrigações passa por políticas públicas educacionais que projetem não apenas a inclusão dos excluídos e marginalizados, mas sim projetos pedagógicos com princípios e bases para a cidadania, igualdade e justiça social (Almeida, 2000).

4. Políticas Públicas

Ensinam Dias e Matos (2012) que política é um conceito amplo, relacionado com o poder de modo geral, as políticas públicas correspondem a soluções específicas de como manejar os assuntos públicos.           Silva e Lima (2010), ressaltam que as políticas públicas se materializam por intermédio da ação concreta de sujeitos sociais e de atividades institucionais que se realizam em cada contexto e condicionam seus resultados.

Por trata-se de domínio público, o conceito de política pública implica a entender que não seja privada ou particular, não pertence e nem prevalecer o particular e sim é controlada pela esfera pública, com predomínio do interesse público.

Dias e Matos (2012) expõem que as políticas públicas estabelecem um meio de materialização dos direitos que estão tipificados nas leis de um país, sendo que nossa Constituição Federal não apresenta políticas públicas, mas direitos, como a saúde, educação, previdência social, e por meio de políticas públicas e que se concretizar.

Para Dias e Matos (2012) a classificação das políticas públicas sociais pode ser dividida em três grupos, a) as Políticas Preventiva visam a minimizar ou impedir a ocorrência de problemas sociais graves; b) Políticas Compensatórias visam solucionar problemas gerados pela ineficiência do sistema políticos em assegurar a coesão e o equilíbrio sociais; c) Políticas Stricto Sensu são aquelas explicitamente orientadas, ao menos em intenção, para redistribuição de renda e de benefícios sociais.

O Programa Mulheres Mil encontra-se nesta classificação, Silva e Lima (2010) como um programa relacionado a políticas públicas compensatórias, cujo objetivo é suprir um processo de exclusão histórica. Esses programas têm como características o fato de serem temporárias e focalizadas em grupos discriminados, tendo um caráter de compensar discriminações passadas e permitir a abertura de uma inclusão social.

Os problemas e demandas da população devem ser tratados com políticas públicas, utilizando métodos para identificar as prioridades na aplicação do orçamento público e realizando planejamento com ênfase para alcançar os objetivos e metas propostos.

5. O Papel da Rede Federal de Educação Profissional para o Desenvolvimento Regional

Piketty (2014) afirma que a educação tem as condições necessárias para atenuar as consequências negativas que surgem do capitalismo. Consequentemente, a educação é instrumento que dirige a igualdade de oportunidades para a população.            Os projetos pedagógicos das instituições de ensino devem estar interligados com a necessidade local da sociedade civil, nos quais se estabeleça que essa sociedade é a própria educadora, educando com a compreensão de que a educação é o somatório de experiências (Pacheco, 2010). 

Esclarece Sedlacek (2013) que as instituições educacionais em todos os níveis, das creches as instituições de ensino superior, têm o potencial de fornecer conhecimento específico, que será transformado em habilidades sociais. O enraizamento das instituições de ensino facilita a cooperação entre os atores do desenvolvimento regional, o que é um elemento importante para o aumento de capital social entre esses atores.

Sen (2000) explica que as pessoas têm poucas opções e oportunidade para realizarem suas escolhas de forma racional, porém com o êxito de políticas para o desenvolvimento regional essas restrições de opções e oportunidade seriam removidas.

Boisier (1996) esclarece a preocupação com planos pedagógicos e estudos sobre as demandas locais, pois educação e desenvolvimento regional têm semelhanças, evidenciando o fato simples e indiscutível de que a realização do projeto de vida de cada sujeito depende significativamente do comportamento e ações que estão em seu entorno.

O desenvolvimento, com melhorias e ampliação na oportunidade do acesso a educação profissionalizante, movimenta e tende a aquecer e melhora a vida econômica, além de gera em cadeia o acessos a bens e consumo e a gerar recursos públicos, a serem aplicados em melhoria dos serviços ofertados pelo Estado (Sen, 2010).

Infere-se que, o investimento, por parte do Estado em educação profissional, em consonância aos arranjos produtivos locais, e características regionais, os possíveis frutos serão o crescimento econômico e o desenvolvimento regional.

Entre os tipos de instituições de ensino no Brasil, os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, que atuam na educação superior, básica e profissional em várias modalidades e níveis do ensino profissional, especializados na oferta de ensino profissional e tecnológico, com a premissa de desenvolvimento regional. Cada Instituto Federal de Educação tem autonomia pedagógica, administrativa, patrimonial e financeira (Silva, 2009). No âmbito do programa Mulheres Mil, os institutos federais desenvolveram um importante papel ao assumir a operacionalização dos cursos.

6. Método

Esta pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa, que utiliza como delineamento o estudo de caso.

A pesquisa foi realizada no município de Imperatriz – MA. A população da pesquisa foi formada por 200 participantes egressas do programa Mulheres Mil, referentes ao curso de camareira de 2013 (100 alunas) e do curso de construção civil/acabamento e pintura de 2014 (100 alunas), do IFMA campus Imperatriz. O cálculo amostral considerou 95% de nível de confiança e 5% de margem de erro, totalizando uma amostra de 132 sujeitos.

A técnica de seleção de amostra foi não-probabilística. Foram aplicados, na sequência, os seguintes questionários: i) de identificação da amostra; ii) integrado para medir capital social do Banco Mundial; e iii) de avaliação Programa Mulheres Mil.

7. O Programa Mulheres Mil

O programa Mulheres Mil encontra-se inserido no conjunto de prioridades das políticas públicas do Governo Federal, com atenção especial na equidade, igualdade entre gêneros, combate à violência contra mulher e acesso à educação.

Estruturado em três eixos – educação, cidadania e desenvolvimento sustentável - o Programa pretende possibilitar a inclusão social pela oferta de formação focada na autonomia e na criação de alternativas para inserção no mundo do trabalho, para que as mulheres consigam melhorar a qualidade de suas vidas e suas comunidades (Ministério da Educação, 2011).

O propósito do Programa é contribuir com o desenvolvimento regional no uso das competências da rede dos Institutos Federais, visando desenvolver as ferramentas, técnicas e currículos para oferecer às mulheres desfavorecidas os serviços de acesso, capacitação e relações com empregadores, que lhes permitam entrar ou progredir no mercado de trabalho (Ministério da Educação, 2008).

O Programa teve inicialmente seu foco nas regiões norte e nordeste do território nacional, que apresentam grandes problemas com relação à distribuição de renda e grandes índices de desemprego. No que tange ao emprego formal, a participação feminina é pequena (Ministério da Educação, 2006).

Essa concepção de acesso inclusivo, que reconhece e valoriza os saberes construídos na comunidade, na realidade do cotidiano, traz não só para os Institutos, mas para toda instituição que esteja incluída no programa Mulheres Mil, uma oportunidade extraordinária de estabelecer um diálogo com a diversidade, integrando no ambiente escolar o conhecimento acadêmico ao itinerário formativo dessas mulheres e das populações não tradicionais (Ministério da Educação, 2006).

A concepção pedagógica do Programa baseia-se na flexibilidade. É, portanto, capaz de aceitar desenhos novos e instituir itinerários formativos que permitam o diálogo com os saberes não formais e com o conhecimento de mundo trazido pelas mulheres, bem como de permitir um trabalho na verticalização do ensino, promovendo a integração dos diferentes níveis de educação inicial e continuada com a pesquisa e a extensão (Ministério da Educação, 2006).

8. Resultados e Discussão

O questionário para identificação da amostra considerou as variáveis idade, estado civil, escolaridade, profissão, número de membros da família que dividem a mesma moradia e grau de parentesco, salário, e engajamento em um sistema de rede social relacionado ao trabalho, segue alguns dados.

Na Figura 01, referente à faixa etária, a idade entre 31 a 35 anos, ou seja mulheres em fase adulta, que predominou na presente pesquisa, tem similaridade com os resultados do trabalho de (Furtado et al., 2012) aplicado a 41 (quarenta e uma) alunas do programa Mulheres Mil do Instituto Federal de Educação Campus Barbacena (MG), em que a média de idade das alunas que concluíram era de 33,36 anos.

Figura 01: Faixa Etária

Fonte: dados da pesquisa, 2016.

A Figura 02 demonstra o estado civil das alunas egressas, que em sua maioria são mulheres casadas. Um dos objetivos principais do Programa é a emancipação das mulheres, e o resultado da pesquisa, com predomínio das casadas, retrata o possível cenário dessas mulheres, que muitas vezes não tiveram oportunidade para estudar por conta do casamento, do machismo do marido, do trabalho no lar e por ter que cuidar dos filhos.

Figura 02: Estado Civil

Fonte: dados da pesquisa, 2016.

A Figura 03 merece uma observação quanto ao acesso ao sistema educacional das classes menos favorecidas, residentes em áreas de pobreza, às vezes por exploração do trabalho infantil e outras vezes pela difícil locomoção para o ambiente escolar. Alunos, mesmo matriculados regularmente, deixam a escola por diversos motivos.

A demonstração da escolaridade reafirma a necessidade de cursos profissionalizantes para qualificar alunos que por motivos de força maior, deixaram de frequentar as escolas para a continuidade do aprendizado, estagnando-se ao término do ensino fundamental e ao encerrar o ensino médio regular não profissionalizante (Pochmann, 2004).

Figura 03: Escolaridade

Fonte: dados da pesquisa, 2016.

Em relação à ocupação, apenas 11,4% têm relação com o emprego formal; 71,2% não têm emprego formal; e 17,4% não responderam à pergunta.

O questionário utilizado para medir o ganho de capital social foi adaptado de  Grootaert et al. (2003). No que tange aos grupos e redes, procura-se evidenciar a capacidade de o grupo de egressas, do programa Mulheres Mil, constituir um grupo ou rede social para o benefício coletivo e com esse elemento de organização social adquirir a participação do grupo para gerar benefício recíproco.

Na análise da participação em grupos, Figura 05 demonstra que a grande maioria está conectada a pelo menos um (01) grupo. Conforme Putnam (2000, p.19), “O Capital Social está ligado ao valor implícito das conexões internas e extremas de uma rede social, que promove confiança, cooperação, inovação, assim aumentando o conhecimento e a produtividade dos indivíduos”.

Figura 04: Participação em grupos

Fonte: dados da pesquisa, 2016.

Em relação à indicação de amizade, a figura 05 mostram que 25,0% indicaram apenas uma; 41,7% duas; 13,6% três ou quatro indicações; e 19,7% não responderam. A indicação de amizade é um forte indicador de interatividade em redes comunitárias: quanto mais amigos próximos houver maior a comunicação e argumentação (Fukuyama, 1999).

Figura 05: Indicação de Amizade

Fonte: dados da pesquisa, 2016.

Na indicação do grupo mais importante em seu domicílio, 8,3% das egressas responderam que nenhum; 60,6% consideram o religioso; para 9,1% a organização social (que representam os sindicatos, cooperativas, entidade filantrópica) mobiliza o grupo mais importante; e 22,0% não responderam.

A figura 06 mede o contraponto entre a confiança e a solidariedade. As pessoas têm receio em confiar, porém demonstram grande esforço para ser solidárias. Com o tempo de conhecimento desse grupo se pode afirmar que o grau de confiança tende a aumentar, colaborando para o desenvolvimento do grupo, obtendo ganho de capital social (Putnam, 2000).

Bandeira (1999) explica que as comunidades com alta cooperação e confiança  melhoram os processos de desenvolvimento regional.

Figura 06: Confiança nas Pessoas

Fonte: dados da pesquisa, 2016.

Os resultados indicam o nível de cooperação entre os membros para resolver um problema comum para toda a comunidade: 20,5% acham que é muito provável que haja cooperação; para 22,0% é relativamente provável; mostraram-se neutras 12,9%; as que consideram relativamente improvável são 10,6%; consideram muito improvável 9,8%; enquanto 24,2% não responderam.

Os resultados apontam que o grupo demonstra engajamento na cooperação, embora haja dúvidas quanto à participação do total de seus membros, mesmo o problema atingindo a todos e individualmente.  É importante salientar que a cooperação em um grupo está relacionada à solidariedade e se alguns membros não forem solícitos para o objetivo final, cabe ao grupo ser solidário para que haja ganho comum para a comunidade (Putnam, 2000).

Quanto aos resultados da aplicação do Questionário do Programa Mulheres Mil, inicia-se com a análise comportamental, referente à evolução das alunas quanto ao ganho de conhecimento e poder de relacionamento em um grupo social, após a conclusão do programa Mulheres Mil. Os resultados da Figura 07 demonstram  que os cursos atingiram seus objetivos e colocou à disposição do mercado de trabalho mulheres que antes tinham o mínimo de preparo e agora são agentes empreendedoras e ativas na cadeia de produção (Maneschyet al, 2012).

Figura 07: Melhoria após o programa Mulheres Mil

Fonte: dados da pesquisa, 2016.

Referente à inclusão social, esta se estabeleceu com a independência financeira para aquelas que conseguiram destaque a partir da sua nova profissão. Em relação ao destino da renda, conforme Figura 08, 62,7% das egressas contribuem para o sustento da família; 25,4% afirmam que a destinam para seu próprio sustento; e somente 1,7% das egressas estão investindo em novos conhecimentos e não responderam 10,2%.

Figura 08: Destino dado à Renda

Fonte: dados da pesquisa, 2016.

Quanto a prestar serviços com os conhecimentos adquiridos, segundo a Figura 09, nenhuma das entrevistadas discorda muito; 14,4% discordam; 35,6% concordam que podem, sim, prestarem serviços; 7,6% concordam muito; e 42,4% não responderam. A alta taxa de não resposta, possivelmente, se deu por receio de divulgar a informação, com temor de perda do benefício do Programa Bolsa Família.

Embora os cursos oferecidos na ocasião ainda sejam para o exercício de atividades dependentes de empregadores, o conhecimento ampliou a percepção das entrevistadas para o empreendedorismo, melhorando a perspectiva de empregabilidade e independência das egressas (Pochmann, 2004).

Figura 09: Profissionalização

Fonte: dados da pesquisa, 2016.

9. Considerações Finais

Este estudo foi desenvolvido com objetivo de entender se o programa Mulheres Mil, realizado no Instituto Federal do Maranhão, campus Imperatriz, que ofereceu os cursos de camareira e construção civil/acabamento, com teoria aliada à prática, promoveu o ganho de capital social, melhorando a qualidade de vida das egressas e das suas comunidades, com inserção no mercado de trabalho ou fomentação de práticas empreendedoras.

Embora esse Programa e o capital social sejam temas novos e que continuam em franco estudo, portanto passíveis de mutação, esta contribuição amplia seu foco para estudos mais detalhados e com profundidade mais acirrada, deixando sempre uma lacuna para novos estudos.

Nos estudos e na pesquisa realizada, principalmente com o uso do questionário integrado para medir o capital social do Banco Mundial, foi possível verificar o ganho do capital social nos grupos, principalmente no convívio do ambiente escolar, na comunicação e no aprendizado em sala de aula.

As melhorias se refletem, conforme dados dos questionários, na maior participação dessas mulheres, que habitualmente se encontravam em situação de vulnerabilidade social, com a violação e negação de seus direitos.

Quanto ao objetivo geral da pesquisa, conclui-se que o capital social das egressas do Programa melhorou, tomando por fundamento que são mulheres selecionadas por estarem em situação de vulnerabilidade social.

Percebeu-se o engajamento e participação em grupos, na maioria religiosos. As egressas têm relativa interação com a comunidade e há uma boa indicação de amizade, que é um forte indicativo de interatividade dentro da comunidade.

As mulheres apresentaram certo receio em confiar nas pessoas da sua comunidade, porém estão engajadas em serem solidárias. Os resultados apontam, também, a participação coletiva nas suas comunidades, ainda que discreta.

No levantamento de dados referentes à inserção ao mercado de trabalho e possíveis práticas empreendedoras, a pesquisa infere que com os cursos realizados essas mulheres, antes com o mínimo de preparo técnico, agora têm conhecimentos técnicos e estão preparadas para o mercado de trabalho e desenvolvimento de ações empreendedoras.

Conclui-se que as melhorias obtidas são perceptíveis diante das características retratadas, com a inserção de novos conhecimentos profissionais que buscam resgatar a autoestima e autoconfiança dessas mulheres.

Os resultados analisados apontam a evolução em grande parte do grupo das egressas, por ganho de conhecimento profissional que se coaduna com melhorias na empregabilidade e atividades empreendedoras, dando resposta positiva para a proposição do programa Mulheres Mil.

Ao concluir este estudo tem-se a expectativa que os resultados apresentados e suas conclusões, junto com outros estudos similares, possam contribuir para ampliar o conhecimento sobre o programa Mulheres Mil.

Referencias

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1. Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté, SP, Brasil. E-mail: widglan@ifma.edu.br
2. Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté, SP, Brasil. E-mail: widglan@ifma.edu.br
3. Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Docente da Universidade de Taubaté, SP, Brasil. monicafcarniello@gmail.com


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 31) Año 2016

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