Espacios. Vol. 37 (Nº 33) Año 2016. Pág. 10

Perspectivas do acadêmico de odontologia de universidades do interior do Rio Grande do Sul-Brasil

Prospects of dentstry academics of inside universities of rio Grande do Sul-Brazil

Tássia CASSOL 1; Angela Isabel DOS SANTOS DULLIUS 2; Angela Pellegrin ANSUJ 3

Recibido: 13/07/16 • Aprobado: 23/08/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados e Discussão

4. Conclusão

Referências Bibliográficas


RESUMO:

Este estudo analisou as perspectivas dos acadêmicos de duas Escolas de Odontologia do interior do Rio Grande do Sul. A média de idades foi 21 anos; 65,1% eram do sexo feminino e 52,77% escolheram a odontologia por vocação. Metade dos estudantes sabia qual especialidade cursar, sendo renda média inicial esperada foi de R$ 3.047,00 (±R$354,59), sendo que a maioria considera a melhor opção “associar mais de uma fonte de renda” e que a graduação oferece boa preparação. Conclui-se que existe um forte desejo por especialização e uma tendência pela associação de mais de uma fonte de renda para o futuro.
Palavras-chave: odontologia; mercado de trabalho; estudantes de odontologia.

ABSTRACT:

This study analyzed the professional perspectives of academics at the two dentistry courses. The age average was 21 years; 65,1% were female and 52,77% have chosen the dentistry by vocation. Half of the students still know what specialty course. The average income expected for the beginning of his career is R$ 3.047,00 (±R$354,59), and most students consider that "associate more than one source of income" is the best option and that your degree course give good preparation for working. In conclusion, there is a strong tendency for specialization and for associate more than one source of income in the future.
Keywords: dentistry; job market; students, dental.

1. Introdução

A Odontologia, nos dias atuais, se caracteriza por ser uma ciência em constante evolução (PAIM et. al. 2004). São vários os autores que referem transformações intensas ocorridas nas últimas décadas, principalmente no que tange ao mercado de trabalho cada vez mais competitivo e saturado (Costa et al. 2012; Ferreira, Ferreira e Freire, 2013; Morita, Haddad e Araújo, 2010; Paim et al. 2004; Sanchez, Drumond e Vilaça, 2008). Entre tais modificações no exercício da profissão, Morita, Haddad e Araújo (2010) citam a incorporação de novas tecnologias, a tendência por especialização, a redução do exercício liberal estrito, o aumento do número de profissionais com vínculo público e a ascensão da odontologia de grupo.

Em vários momentos da literatura consultada é apontado um estado de queda do modelo liberal da profissão (Costa et al. 2012; Ferreira, Ferreira e Freire, 2013; Medeiros e Gandarão, 2009; Morita, Haddad e Araújo, 2010; Sanchez, Drumond e Vilaça, 2008). Com as mudanças no mercado de trabalho, o serviço público vem se tornando importante campo de atuação do cirurgião-dentista (Sanchez, Drumond e Vilaça, 2008). Segundo Costa et al. (2012), os estudantes percebem o Sistema Único de Saúde (SUS) como uma possibilidade para entrar no mercado de trabalho sendo que alguns veem a saúde pública como uma maneira de adquirir maior experiência para posteriormente passar a trabalhar em consultório próprio particular. Desta maneira, o SUS vem a receber profissionais que não estão adequadamente preparados segundo os princípios e diretrizes que regem o programa (Medeiros et al. 2007).

Segundo Morita, Haddad e Araújo (2010), o Brasil tem 20% dos dentistas do mundo, com uma média aproximada de um cirurgião-dentista para cada 838 habitantes, enquanto a média mundial é de um para 62.595 e a recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de um para cada 1.500. Além disso, os profissionais encontram-se mal distribuídos pelo território nacional, sendo que aproximadamente três quartos deles estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste. Logo, a relação cirurgião-dentista/habitante sofre consideráveis variações ao redor de todo território nacional.

Estima-se que cerca de 8 a 10 mil Cirurgiões-dentistas são formados por ano no Brasil (Cassano et al. 2002; Morita, Haddad e Araújo, 2010). Paranhos et al. (2009) destacam que a má distribuição do ensino no Brasil, tanto em nível de faculdades de odontologia quanto de cursos de especialização, é um dos fatores responsáveis pela atual relação cirurgião-dentista/habitante. No entanto, mesmo com tecnologia de ponta e um grande número de profissionais disponíveis, o nível de saúde bucal e o acesso da população aos serviços odontológicos ainda não são satisfatórios.

Através dos dados colhidos pela Pesquisa Nacional de Saúde Bucal de 2010 é possível perceber que os índices avaliativos para saúde bucal também sofrem importantes variações regionais e, em geral, acompanham a distribuição desigual dos profissionais. Na região Norte, por exemplo, o índice CPO aos 12 anos foi de 3,16 enquanto que na região Sudeste foi de 1,72, diferença indicativa de que “o maior ataque da doença combina-se com o menor acesso aos serviços odontológicos” (Ministério da Saúde, 2012, p. 90).

Matos e Tenório (2011) demostraram em seu trabalho que os estudantes, tanto de faculdade pública quanto privada, parecem ter conhecimento sobre as dificuldades que serão encontradas na carreira. No entanto, negam os motivos organizacionais e estruturais que modelam tal situação ao acreditarem que apenas o aperfeiçoamento técnico-científico e o esforço pessoal serão garantia de sucesso profissional.  

Outra contradição é apontada pelo estudo de Sanchez, Drumond e Vilaça (2008) onde fica evidente que a formação do profissional de odontologia ainda tem privilegiado a técnica, mesmo em tempos de crescente desejo por uma carreira no serviço público de saúde, campo para o qual além de habilidades práticas o cirurgião-dentista terá de incluir o conhecimento sobre a realidade social da população e de sua região de trabalho.

Ferreira, Ferreira e Freire (2013) sugerem que a conciliação de conhecimento técnico de qualidade com práticas mais humanizadas, a valorização do corporativismo, a união da classe e a aceitação das novas práticas de mercado podem ser medidas eficazes para o trabalho sustentável em odontologia. Medeiros e Gandarão (2009) acrescentam ainda a necessidade de políticas públicas fortes e consistentes que busquem a melhoria das condições de vida da população e ao mesmo tempo a satisfação profissional.

Ponte (2012) sugere que é através do trabalho que as pessoas buscam tanto a realização financeira quanto a concretização de aspirações pessoais, sendo importante o entendimento de tais aspirações visto que características individuais podem servir de guia para a escolha do campo de atuação, porém o desenvolvimento de novas competências ao longo do processo de formação é fundamental para o alcance do sucesso profissional. 

 “A Odontologia passa por uma fase em que os profissionais, principalmente os recém-formados, têm grande dificuldade para se estabelecer no mercado de trabalho, o que desestimula o exercício da profissão” (Bastos et al. 2003, p. 284). O desequilíbrio gerado pelas perspectivas profissionais dentro de um mercado que não mais as comporta provoca o aumento do número de profissionais não realizados plenamente e, também, o abandono da profissão (Ferreira, Ferreira e Freire, 2013). Desta maneira, conhecer a perspectiva profissional de estudantes torna-se extremamente importante quando se investigam fatores relacionados ao mercado de trabalho e à visão da profissão, porque esta perspectiva sintetiza as aspirações dos futuros profissionais e determina o modo como os mesmos conduzem seus estudos no período acadêmico, como planejam suas carreiras, como direcionam seus relacionamentos interpessoais e como exercem seus papéis na sociedade (Ferreira, Ferreira e Freire, 2013, p. 306)

Além disso, faz-se também com igual importância o reconhecimento do papel da educação na transformação da realidade (Sanchez, Drumond e Vilaça, 2008), pois as atuais demandas sociais exigem um novo perfil profissional, sendo essas instituições responsáveis pela formação de profissionais com habilidades biológicas, éticas e sociais, estando aptos a ingressar no mercado de trabalho (Costa et al. 2012) e que venham a contrapor o modelo de atenção à saúde fundamentado em ações curativas e estruturado com ações e serviços dimensionados a partir da oferta, já que este tem se mostrado insuficiente para dar conta dos desafios sanitários atuais e insustentáveis para os enfrentamentos futuros (BRASIL, 2010).

Sendo assim, o presente estudo teve por objetivo verificar o perfil e as perspectivas profissionais dos acadêmicos do curso de Odontologia de duas Instituições de Ensino Superior do interior do estado do Rio Grande do Sul, comparando os resultados obtidos em ambas as instituições, sendo uma pública e outra privada.

2. Metodologia

Foi realizado um estudo transversal, analítico, mediante aplicação de questionários em que todos os alunos presentes em sala de aula no dia da coleta de dados foram incluídos na pesquisa. Participaram da amostra alunos dos primeiro e segundo semestres (iniciantes), quinto e sexto semestres (intermediários) e nono e décimo semestres (concluintes) do curso de Odontologia da Universidade A. Da Universidade B foram incluídos os alunos dos primeiro e segundo semestres (iniciantes), quarto e quinto semestres (intermediários) e sétimo e oitavo semestres (concluintes). Tal diferença semestral se deu pelo período de duração dos cursos das instituições em questão, já que o curso de Odontologia da Universidade A possui dez semestres e o curso de Odontologia da Universidade B, oito semestres. Cabe ainda destacar que a Universidade A é uma instituição de ensino pública e a Universidade B é privada.

O questionário foi preenchido pelos próprios alunos, os quais foram convidados a participar da pesquisa em sala de aula teórica dentro das dependências das universidades. Cada questionário conteve treze (13) questões semi-abertas e fechadas que foram elaboradas tomando-se por base questionários de estudos semelhantes, já validados (Costa et al. 2012; Ponte, 2012; Slavutsky et al. 2002). Foi permitido aos estudantes marcarem mais de uma alternativa por questão. Antes da coleta de dados válidos foi feito um pré-teste do questionário com os acadêmicos do terceiro e sétimo semestre da Universidade A e com os acadêmicos do terceiro e sexto semestre da Universidade B, os quais não foram incluídos na amostra final, para detectar possíveis dificuldades de entendimento das questões abordadas.

Os dados foram analisados através da estatística descritiva e pelo teste do Qui-quadrado com nível de significância de 5%, com o uso do Programa estatístico SPSS v.17.

Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria sob o número 322.137.

3. Resultados e Discussão

Obteve-se um total de 307 questionários respondidos, sendo que destes 148 (48,2%) foram aplicados na Universidade A e 159 (51,8%) foram aplicados na Universidade B. A média de idade encontrada foi 21 anos com desvio padrão de 3 anos, variando de 17 a 40 anos. Do total de acadêmicos que responderam ao questionário, 200 eram do sexo feminino (65,1%) e 107 do sexo masculino (34,9%).

Ponte (2012) encontrou uma média de idade bastante semelhante em seu estudo, conduzido na Universidade de São Paulo (USP): 21,98 anos (variação de 17 a 44 anos). De acordo com os dados do Questionário Socioeconômico do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) de 2010, a média de idade dos estudantes de odontologia brasileiros era 23,6 anos para homens e 22,5 anos para mulheres (Ministério da Educação, 2010). Isso tudo demonstra uma concordância desse estudo para com os índices nacionais.

Quanto ao gênero, a literatura tem apontado um processo de feminilização da profissão (Moimaz, Saliba e Blanco, 2003; Morita, Haddad e Araújo, 2010; Ponte, 2012; Saliba et al. 2013). Dados do questionário socioeconômico do ENADE mais uma vez apontam que um total de 68,2% dos estudantes de odontologia de todo Brasil que realizaram a prova em 2010 eram mulheres (Ministério da Educação, 2010). O estudo de Ponte (2012) demonstrou um valor ainda mais alto: 72,29% dos estudantes de odontologia da USP eram do sexo feminino. Analisando o semestre cursado, 59 estudantes da Universidade A eram do grupo de Iniciantes, 47 Intermediários e 42 Concluintes. Da Universidade B, 69 eram Iniciantes, 61 Intermediários e 29 Concluintes. O reduzido número de alunos na faixa dos concluintes para a Universidade B pode ser explicado pelo fato de ser uma escola privada, onde muitos alunos atrasam ou não concluem a graduação, seja por desistência, transferência ou por falta de condições financeiras para cursar a integralidade das disciplinas.

A grande maioria dos entrevistados eram naturais do Rio Grande do Sul (92,5%), sendo Santa Catarina o segundo estado com mais representantes (2%) e Paraná o terceiro (1,6%). Quanto a cidade natal, 73% dos estudantes não eram naturais da cidade onde se localizam as universidades do estudo, ou seja, é bastante significativa a parcela de estudantes que deixaram suas cidades para cursarem a graduação.   

Quando questionados se gostariam de trabalhar em sua cidade de origem, a maior parte dos acadêmicos respondeu que não (57%). Os resultados obtidos quando se compararam as duas instituições foram bastante semelhantes (χ2=0,4; gl=1; p>0,05).

Medeiros e Gandarão (2009) relataram que geralmente parte dos alunos é de centros maiores e retornam às suas cidades após se formarem, enquanto os alunos da região tendem a procurar os centros maiores por serem mais atraentes para o desempenho profissional, o que vem a aumentar ainda mais a concentração dos Cirurgiões-dentistas nas capitais e em determinadas polos urbanos. Saliba et al. (2013) demostraram que 34,9% dos cirurgiões-dentistas formados entre os anos 2000 a 2010 na Faculdade de Odontologia de Araçatuba atuam em cidades com 100 a 500 mil habitantes e outros 31,7% atuam em cidades com mais de 500 mil habitantes, indicando as preferências dos profissionais por cidades de grande porte.

Corroborando com essa tese, Morita, Haddad e Araújo (2010) descreveram que a distribuição dos profissionais é aleatória e desordenada no país, guiando-se, não só pela oferta de Faculdades de Odontologia, mas principalmente pelo desenvolvimento socioeconômico do local. Diante do exposto, se faz necessário a criação de mecanismos para minimizar a má distribuição dos cirurgiões-dentistas nas diversas regiões do país, como, por exemplo, uma séria política governamental de interiorização das profissões de saúde (Medeiros e Gandarão, 2009).

Para a pergunta que abordava os motivos que levaram a escolha da profissão, grande parte dos estudantes selecionou mais de uma alternativa, conforme as opções mostradas na Tabela 1. A opção “Vocação” foi marcada 162 vezes, representando a maioria das escolhas. Outras opções citadas além das disponíveis para múltipla escolha foram: “por ser uma área da saúde”; “sempre quis”; “interesse/afinidade/identificação/admiração para com a profissão”, entre outros.

Conforme dito, neste estudo o principal motivo para escolha da profissão segundo as respostas assinaladas foi a “vocação” – 52,77% – concordando novamente com Ponte (2012), onde a maioria dos estudantes – 54,94% – também marcou vocação para o principal motivo da escolha pela odontologia.

No entanto, Gondim (2002) acredita que os estudantes escolhem o curso de graduação por afinidade com as disciplinas do ensino médio, pois desconhecem a realidade do mercado de trabalho. Desta maneira, eles chegam à universidade com uma visão idealizada da profissão, sendo esta aos poucos redefinida pelo processo de formação, o que leva tanto a construção de um perfil profissional quanto a frustração e o abandono do curso.

Tabela 1 – Distribuição dos acadêmicos quanto aos motivos para a escolha da profissão

*foram marcadas mais de uma alternativa
Fonte: Autoria própria

Um total de 96 acadêmicos (31,27%), disseram possuir algum familiar na profissão de cirurgião dentista, sendo destes 47 da Universidade A e 49 da Universidade B, enquanto que 211 (68,73%) disseram não possuir nenhum familiar na profissão, destes, 101 da Universidade A e 110 da Universidade B, não havendo diferença estatística entre as instituições (χ2=0,12; gl=1; p>0,05).

Também foi perguntado sobre o desejo de cursar uma especialização. Apenas 2 estudantes disseram que não pretendem fazer especialização. 152 ainda não sabiam qual especialização seguir no momento da coleta dos dados e outros 152 já sabiam (Tabela 2). Entre os que já sabiam 17 citaram mais de uma especialidade. Uma resposta foi excluída devido à citação de uma especialidade não reconhecida em odontologia. As especialidades mais citadas foram a Ortodontia (36) a Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (31) e a Implantodontia (24). As menos citadas foram a Radiologia (5), a Estomatologia (1) e a Saúde Coletiva (1).

Tabela 2 – Distribuição dos acadêmicos quanto à pretensão de cursar especialização e a área

Fonte: Autoria própria

Foi muito alta a tendência por especialização encontrada, visto que apenas 2 alunos disseram que não pretendem fazê-la. Pesquisas demonstram que os acadêmicos cada vez mais sentem a necessidade de continuar os estudos seguindo para uma especialização, pois acreditam que “somente com o curso de graduação eles não teriam condições de atender aos requisitos do perfil profissional demandado no mercado” (Gondim, 2002, p. 305). Na prática, esse fato vem a adiar o ingresso no mercado de trabalho. Além disso, segundo Moimaz, Saliba e Blanco (2003), devido à necessidade de se buscar alternativas para o aumento da renda mensal, torna-se comum que profissionais associem mais de uma especialização.

Ao comparar a mesma questão com as respostas dadas por período do curso em que os acadêmicos se encontravam, percebe-se que o desejo por cursar uma especialização vem desde o início do curso, se mantendo ao longo do mesmo, apenas obtendo-se uma melhor definição da área a ser seguida pelos semestres concluintes (Tabela 3). Resultados semelhantes foram reportados no estudo de Barbosa et al. (2013) onde 97,3% dos graduandos pretendem fazer uma especialização em algum momento futuro e 48,3% já sabiam a área.

Tabela 3 – Distribuição dos acadêmicos quanto à pretensão de cursar especialização e      a área de acordo com o período do curso

Fonte: Autoria própria

Quando questionados sobre a renda mensal para o início de suas carreiras, 24 estudantes acreditam que irão ter uma renda entre 500 e 1750 reais. A maior parcela (147 estudantes) disse que esperam receber entre 1751 e 3001 reais. Outros 68 acreditam numa renda entre 3002 e 4252 reais; 38 entre 4253 e 5503 reais; 6 entre 5504 e 6754; e apenas 4 acreditam que terão uma renda maior de 6755 reais. O salário médio esperado é de R$ 3.047,00, a mediana é de R$ 3000,00 e o desvio padrão de R$354,59. Quando os estudantes citaram mais de um valor, foi realizada a média entre esses valores. Os resultados detalhados podem ser vistos na Tabela 4.

Morita, Haddad e Araújo (2010) demostraram que a odontologia tem a segunda melhor remuneração salarial dentre as profissões da área da saúde, ficando atrás apenas da medicina. No entanto, a insatisfação salarial é apontada em diversas pesquisas (Bastos et al. 2003; Lima e Maciel, 2007; Medeiros et al. 2007; Moimaz, Saliba e Blanco, 2003). Nesse estudo, a remuneração média esperada para o início da carreira foi de R$ 3.047,00. No estudo de Saliba et al. (2013) a média da renda declarada foi de R$ 3.574,80, porém houve forte associação com o tempo de formado, sendo que, dentre os profissionais entrevistados, aqueles que tinham sido formados há mais tempo obtinham remuneração próxima do dobro daqueles com formação mais recente.

Tabela 4 – Distribuição dos acadêmicos quanto à renda esperada no início da carreira

* 18 não souberam dizer o valor.
Fonte: Autoria própria

Para a questão “Você considera que seu curso de graduação lhe dá boa preparação para trabalhar tanto na rede pública quanto na rede privada de saúde?”, 145 acadêmicos da Universidade B responderam que SIM, contra 113 da Universidade A, enquanto que apenas 2 acadêmicos da Universidade B responderam que NÃO, contra 18 da Universidade A. 28 responderam que não sabem e 1 não respondeu. Houve diferença significativa entre as duas instituições (χ2=16,88; gl=2; p<0,05). Os resultados podem ser observados conforme a Tabela 5.

Tabela 5 – Distribuição dos acadêmicos quanto à opinião sobre o nível de preparo para    o mercado de trabalho

*houve diferença entre as duas instituições pelo teste do Qui-quadrado (p<0,05) ;*1 estudante da UFSM não respondeu
Fonte: Autoria própria

Quanto à preparação profissional oferecida pelo curso de graduação, embora o resultado tenha sido positivo, já que a grande maioria dos estudantes de ambas as universidades considera que o curso lhe dá uma boa preparação para trabalhar tanto na rede pública quanto na rede privada de saúde, houve uma diferença estatisticamente significativa quando se compararam as duas instituições, sendo que os estudantes da Universidade B demonstram sentir-se mais preparados que os da Universidade A para o mercado de trabalho. Pode-se dizer que os alunos da Universidade A estiveram imbuídos em um sistema de educação com suas problemáticas por se tratar de uma instituição pública, onde no período anterior à coleta dos dados ocorreram greves e interdições por falta de estrutura, motivos estes apontados pelos estudantes para uma maior crítica ao seu processo de formação profissional.

A maior parte dos acadêmicos entrevistados (total de 158) considera que “Associar mais de uma fonte de renda” é a melhor opção de trabalho na carreira odontológica nos dias atuais. Quando se comparam as duas instituições, houve uma diferença de 13 votos a mais para a opção de “Docência e pesquisa” dos estudantes da Universidade A e de 9 votos a mais para a opção de “Consultório particular próprio” dos estudantes da Universidade B. As 5 outras opções citadas foram: “Carreira Militar” (2); “Concurso Público” (1); “Não sei” (1) e “A melhor opção é aquela que você goste de fazer e ser bom nisso” (1).

Analisando as opções a partir do período cursado pelos acadêmicos, nota-se que as respostas se mantêm semelhantes ao longo do curso a exceção da opção “Docência e pesquisa” para a qual houve considerável declínio entre os semestres concluintes (Tabela 6). Em todos os semestres a opção “Associar mais de uma fonte de renda” foi a preferida pela maioria.

Tabela 6 – Distribuição dos acadêmicos quanto à melhor opção de carreira nos dias atuais por período do curso


*foram marcadas mais de uma alternativa
Fonte: Autoria própria

Dado interessante a ser ressaltado é o de que 97 estudantes disseram ser a melhor opção o “assalariamento/concurso” comparado a 87 estudantes que disseram ser “consultório particular próprio”, índice sem muita discrepância, mas que vem a confirmar o declínio da odontologia puramente privada. Observa-se que “o sistema particular não mais responde aos anseios de um profissional totalmente autônomo” (Lima e Maciel, 2007, p. 286).

Estudos têm sido feitos comparando os diferentes setores de atuação, apontando as principais vantagens e desvantagens dos mesmos. O que se tem demostrado é que condições organizacionais como remuneração, jornada de trabalho e número de pacientes atendidos podem estar associados a problemas de saúde, estresse e insatisfação profissional (Lima e Maciel, 2007; Saliba et al. 2013).

O campo de atuação do Cirurgião-dentista pode ser variado entre serviço público, exercício liberal, assalariamento em empresas privadas, carreira docente entre outros setores, como atuação nas Forças Armadas, por exemplo. Nessa pesquisa a maioria dos alunos respondeu que a melhor alternativa nos dias atuais seria a de associar mais de uma fonte de renda, em semelhança ao reportado em outros estudos (Brustolin et al. 2006; Cavalcanti, Cartaxo e Padilha, 2010; Rösing et al. 2009), mas diferentemente dos resultados encontrados por Slavutsky et al. (2002), em que 57% dos estudantes analisados pretendiam trabalhar após o término da graduação no consultório individual, compartilhado ou em clínica própria compartilhada. Isso pode ser explicado por mudanças importantes ligadas à política de educação e saúde nacionais (Moritta e Haddad, 2008).

Em verdade, não existe uma fórmula para sucesso profissional e a melhor opção de carreira nos dias atuais depende das aspirações profissionais do indivíduo. Porém, a competitividade do mercado de trabalho no momento e as necessidades e exigências da população não mais permitem que o cirurgião-dentista restrinja seus conhecimentos à prática puramente tecnicista. 

4. Conclusão

O estudo mostrou que há um predomínio de mulheres em ambos os cursos de Odontologia, sendo que o que motivou os acadêmicos a iniciar essa graduação foi predominantemente o sentimento de vocação. É notória a forte tendência por especialização, já que a maioria pretende iniciar uma pós-graduação, sendo as áreas de maior interesse a Ortodontia e a Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Os acadêmicos das duas instituições sentem-se capacitados a trabalhar tanto na rede pública quanto na rede privada de saúde e acreditam que a melhor opção de carreira nos dias atuais é a associação de mais de uma fonte de renda.

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1. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Graduada em Odontologia pela Universidade Federal de Santa Maria. Email: cassoltassia@gmail.com
2. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Professora do Departamento de Estatística da Universidade Federal de Santa Maria. Email:  angeladullius@gmail.com
3.Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Professora do Departamento de Estatística da Universidade Federal de Santa Maria. Email: angelaansuj@yahoo.com

4. Este artigo baseia-se na pesquisa intitulada “Perspectivas do Acadêmico de Odontologia em relação ao seu Futuro Profissional”, com financiamento próprio e apresentado como parte do Trabalho de Conclusão de Curso da autora Tássia Cassol, sob a orientação da professora e autora Angela Isabel dos Santos Dullius.


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 33) Año 2016

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