Espacios. Vol. 37 (Nº 36) Año 2016. Pág. 34

Segurança alimentar e mudanças climáticas em Santa Catarina: Perspectivas futuras

Food security and climate change in Santa Catarina: future prospects

Jaison Homero Knoblauch de OLIVEIRA 1; Fábio Rossi ANTÔNIO 2; Carlos Alberto Klimeck GOUVÊA 3; Marcelo MACEDO 4

Recibido: 01/07/16 • Aprobado: 03/08/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Aspectos gerais de Santa Catarina

3. Segurança alimentar

4. Mudanças climaticas

5. Conclusão

Referências bibliográficas


RESUMO:

O presente artigo tem por finalidade analisar a segurança alimentar e as mudanças climáticas no Estado de Santa Catarina, identificando a situação atual e as perspectivas futuras. As mudanças climáticas globais poderão causar alterações no atual cenário mundial, afetando a agricultura e a criação de animais. Em relação à agricultura brasileira, como essa é uma atividade altamente dependente de fatores climáticos, como temperatura, precipitação de chuvas e umidade do solo, o ambiente determina a ocorrência de doenças, pragas e plantas invasoras, causando modificações na incidência e severidade desses problemas. Identificou-se que Santa Catarina possui uma condição privilegiada de segurança alimentar quando comparado com o Brasil. Porém, considerando que o Estado é grande produtor de alimentos, destacando suínos, frango e gado, além das culturas de maçã, cebola, arroz, banana, alho, feijão, batata, milho e soja, alteração nas temperaturas médias anuais e no regime de chuvas implicam em impacto direto na segurança alimentar.
Palavras-chave: Segurança Alimentar; Mudanças Climáticas; Santa Catarina.

ABSTRACT:

This article aims to analyze food security and climate change of the state of Santa Catarina, identifying the current situation and future prospects. Global climate change may cause changes in the current world scenario, affecting agriculture and animal husbandry. Regarding the Brazilian agriculture, as this is a highly activity dependent on climatic factors such as temperature, precipitation, rainfall and soil moisture, the environment determines the occurrence of diseases, pests and weeds, causing changes in the incidence and severity of these problems. It was identified that Santa Catarina has a privileged status of food security when compared to Brazil. However, considering that the state is a major producer of food, highlighting pigs, chicken and cattle, besides the apple crop, onion, rice, bananas, garlic, beans, potatoes, corn and soybeans, change in average annual temperatures and regime rains imply direct impact on food security.
Keywords: Food Security; Climate Change; Santa Catarina.

1. Introdução

Os principais fatores que impulsionam a produção de alimentos estão relacionados às mudanças climáticas e seus desdobramentos. Diante disso, a segurança alimentar mundial poderá ser afetada nos próximos anos e o Estado de Santa Catarina no Brasil não isento dessas possíveis alterações.

Os desastres naturais, as perdas de safras e a propagação de doenças, podem deixar mais de 100 milhões de pessoas na pobreza até 2030, segundo dados do Banco Mundial (2015). Em relatório, a organização apresentou as relações entre a miséria e as transformações do clima, tendo sido mencionadas na pesquisa situações e iniciativas brasileiras. De acordo com a agência, até 2030, as mudanças climáticas poderão provocar perdas de até 5% na produção agrícola, valor esse que pode chegar a 30%, até 2080. Com isso, os preços dos alimentos também serão afetados e os mais pobres serão os mais prejudicados (ONU, 2015)

2. Aspectos gerais de Santa Catarina

O Estado de Santa Catarina, possui cerca de 95,3 mil km², integrando 295 municípios que, juntos, reúnem uma fascinante diversidade geográfica composta por praias de areias brancas, matas tropicais e serras onde os termômetros registram temperatura negativas.

Um comparativo da área do Estado de Santa Catarina em relação à área total do Brasil permite visualizar a ordem de grandeza do território em relação à nação, com 11,2 % do território (Figura 1a).

A População estimada para o ano 2015 de Santa Catarina é de cerca de 6,8 milhões de habitantes. Quando comparado aos dados nacionais que perfazem um total de 205 milhões de habitantes, obtém-se um comparativo, referente ao percentual de representatividade do Estado (3,3 % da população) em relação à nação (figura 1b) (IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2015).

Em relação à economia, o Estado de Santa Catarina possui uma agricultura forte, baseada em minifúndios rurais, dividindo espaço com um parque industrial atuante, o quarto maior do país. Indústrias de grande porte e milhares de pequenas empresas espalham-se pelo Estado (Instituto Brasileira de Geografia e Estatística, 2015). O Produto Interno Bruto do Estado de Santa Catarina em 2015 ficou em cerca de US$ 83,2 bilhões (R$ 203,9 bilhões) (Núcleo de Estudos de Economia Catarinense – UFSC) e o Brasil um PIB de US$ 2,345 trilhões (R$ 5,521 trilhões), ou seja, uma participação de 3,7 % (Figura 1c) (Banco Central do Brasil. Acesso em 11/04/2015).

Figura 1 – Dados comparativos entre Santa Catarina e Brasil: (a) área, (b) população e (c) produto interno bruto

O Estado de Santa Catarina possui um relevo bastante acidentado e com poucas planícies, sendo a maior parte do território formado por planaltos. A Planície Costeira, que é uma faixa estreita de terra ao longo do litoral, apresenta altitudes de até 200 m, sendo a maior parte do território catarinense, 65%, formada por terrenos planos e altos, localizados em sua maior parte no oeste do estado, com altitude entre 800 a 1200 m acima do nível do mar (Figura 2) (IBGE, 2015).

Figura 2 - Mapa do Relevo do Estado de Santa Catarina
Fonte: IBGE, 2015

O Estado de Santa Catarina é detentor de um diversificado parque industrial distribuído por várias regiões e também configurado por importantes arranjos produtivos, como pode ser observado na Figura 3 (SEBRAE/SC, 2015).

Figura 3 - Arranjos Produtivos do Estado de Santa Catarina
Fonte: SEBRAE/SC, 2015

2.1 Aspectos do crescimento do Estado de Santa Catarina

2.1.1 Populacional

A população total do Estado de Santa Catarina, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2015), apresenta taxas de crescimento próximas a 50% na primeira década do princípio do século XX e taxas próximas a 14,5 % na primeira década do princípio do século XXI. Já o Brasil apresentava taxas equivalentes no princípio do século XX contra aproximadamente 11% de crescimento na primeira década no princípio do século XXI (Figura 4).

 

Figura 4 - Crescimento populacional por décadas
Fonte: IBGE, 2015

A estimativa da população catarinense em 2015 é de 6.819.190 habitantes, registrando um crescimento de aproximadamente 9,2% nos últimos cinco anos, com uma projeção futura de crescimento acima de 14% por década. Com base nessa informação é feita uma projeção de crescimento estimada até o ano de 2030 (Figura 5).

Figura 5 - Projeção da População Total do Estado de Santa Catarina 2030
Fonte: IBGE, 2015

O atual crescimento populacional ao ano é bastante acentuado (1,57 %), dobrando a população em menos de 50 anos. Esta constatação permite lançar vistas às necessidades de água e alimento em um futuro próximo. Não obstante, é importante comparar a variação da taxa de crescimento populacional de Santa Catarina com o crescimento nacional e avaliar se as demandas desse estado irá fazer mais pressão em relação sobre o país (Figura 6).

Figura 6 - Comparativo do Crescimento Anual da População do Brasil e de Santa Catarina
Fonte: IBGE, 2015

Quando comparado os dados de crescimento populacional do Estado de Santa Catarina frente ao Nacional, considerando os dados consolidados do ano de 2009 até 2015 e os dados evolutivos projetados até 2030, observa-se uma diminuição no percentual crescimento nacional bem mais significativa. Essa redução pode estar associada a diversos fatores como: a urbanização, queda da fecundidade da mulher, planejamento familiar, a utilização de métodos de prevenção à gravidez e a mudança ideológica da população, além de outros fatores como doenças, epidemias, dentre outros (IBGE, 2015).

2.1.2 Produtos Agrícolas

O Estado de Santa Catarina produz uma diversidade de gêneros agrícolas, sendo os mais expressivos: maça, cebola, arroz, banana, alho, feijão, batata, milho e soja. Esses produtos podem ser considerados como alguns dos mais importantes associado a segurança alimentar. A Tabela 1 apresenta a área cultivada, a produção em toneladas e a posição ocupada por esses gêneros em relação à produção nacional.

Tabela 1 – Produção Agrícola do Estado de Santa Catarina

Item

Produto

Área plantada (ha)

Produção

(toneladas)

Posição em relação a produção nacional

 

1

Maça

19.259

659.732

2

Cebola

20.795

431.002

3

Arroz

154.812

1.038.438

4

Banana

31.090

655.973

5

Alho

1.796

16.474

6

Feijão

130.528

214.924

7

Batata

7.384

102.507

8

Milho

694.993

3.793.364

9

Soja

385.696

1.111.456

10ª

Fonte: IBGE, 2015

Entre os alimentos constantes da Tabela 1, alho e cebola apresentam menor valor nutricional, assim, destacam-se 7 gêneros agrícolas importantes para a segurança alimentar e de destaque no hábito alimentar da população, como feijão, arroz e batata.

2.1.3 Produção de Carnes

Notadamente, Santa Catarina possui uma indústria alimentar bastante forte, sendo o maior produtor de carne suína do país e o terceiro de frangos. O estado também se destaca na pesca, ocupando nacionalmente a quinta posição na produção de pescados (IBGE, 2015).

A de alimentos cárneos pode ser restrita a bovinos, suínos e frangos por serem mais expressivos. A produção nacional nos últimos 5 anos está apresentada na Tabela 2, e Santa Catarina participa como 13º produtor com 1,6% de bovinos, como segundo maior produtor de frangos com 15,7% e como maior produtor nacional de suínos com 26,8%.

Tabela 2 – Produção Nacional anual de carnes em milhões de toneladas

Tipo de Carne

Produção por ano (milhões de toneladas)

2010

2011

2012

2013

2014

2015

Bovinos

1,8

1,6

1,8

2,0

2,0

1,8

Suínos

768

825

791

798

799

860

Frangos

2,67

2,86

2,89

3,07

3,04

3,30

Fonte: IBGE, 2015

Entre os Estados exportadores de carne suína, Santa Catarina registrou aumento de 10,7% no volume exportado na comparação entre os segundos trimestres de 2015/2014. O Rio Grande do Sul e o Paraná também obtiveram acréscimo na produção e registraram aumentos de 29,4% e 62,1%, respectivamente. Dessa forma, a Região Sul teve aumentos do volume em números absolutos (18.795,47 toneladas) e da sua participação no total das exportações brasileiras (de 73,3% para 83,7%).

3. Segurança alimentar

Estudos têm sugerido que a variabilidade climática e as alterações climáticas podem ter impactos adversos sobre a produção mundial de alimentos e, consequentemente, com a segurança alimentar. Os fenomenos como o El Nino, Oscilação Sul, podem ser considerados como um dos responsaveis pela variabilidade climática, muitas vezes levando à seca e diminuição do rendimento das mais diversas culturas (LIZUMI & RAMANKUTTY, 2014).      

Estudos apontam que essas alterações podem ter sido as responsáveis pela fome em algumas regiões de insegurança alimentar. Como exemplo, cita-se a seca nos Estados Unidos em 2012, embargo Russo ao trigo em 2010/2011 e as secas na Austrália em 2006/2007 e 2007/2008, que levaram à diminuição no nivel de estoque de cereais e aumentos, acentuando os preços dos alimentos e dificultando o acesso para os consumidores de baixa renda (LIZUMI & RAMANKUTTY, 2014).

Além das variações na intensidade, freqüência e duração das mudanças climáticas, o crescimento da população e a demanda por biocombustíveis (etanol e biodiesel), são preocupações adicionais para a segurança alimentar global (LIZUMI & RAMANKUTTY, 2014).

A segurança alimentar é um dos problemas mais importantes de saúde pública e a ordem social em todo o mundo. Nos tempos atuais, a distribuição dos alimentos é global, por isso, se um alimento se torna perigoso para a saúde, o risco de disseminação de doenças é em nível global.

Existe uma escala de classificação da segurança alimentar (IBGE, 2015) e a escala Brasileira categoriza a segurança e insegurança alimentar, conforme o Quadro 1:

Quadro 1 – Escala brasileira de segurança alimentar

SEGURANÇA ALIMENTAR

DESCRIÇÃO

SEGURARANÇA ALIMENTAR

(SA)

Acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, e sequer se sentiam na iminência de sofrer restrição no futuro próximo.

INSEGURANÇA ALIMENTAR LEVE

(IA leve)

Preocupação ou incerteza quanto a disponibilidade de alimentos no futuro em quantidade e qualidade adequadas.

INSEGURANÇA ALIMENTAR LEVE

(IA moderada)

Redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre os adultos.

INSEGURANÇA ALIMENTAR LEVE

(IA grave)

Redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre adultos e/ou crianças; e/ou privação de alimentos; fome.

Fonte:  IBGE, 2105

3.1 Dimensões da Segurança Alimentar

Segundo a Organização de alimento e agricultura das Nações Unidas (FAO), é necessário garantir primeiro a disponibilidade de alimentos suficientes para toda a população, o que envolve questões de produção, comércio internacional e nacional, abastecimento e distribuição de alimentos (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2015).  Essa definição é demonstrada em forma crescente de segurança alimentar, que se inicia na disponibilidade e chega até a estabilidade, conhecida como “As quatro dimensões da Segurança Alimentar” (Figura 7).

Figura 7 - Quatro Dimensões da Segurança Alimentar
Fonte: FAO, 2015

O “acesso” físico e econômico aos alimentos existe quando todos têm a capacidade de obter alimentos de forma socialmente aceitável, por exemplo, por meio da produção, compra, caça ou troca. Essa dimensão é bastante complexa, envolvendo preços, tanto dos alimentos quanto das outras necessidades básicas, que com eles competem, além de tudo mais que afeta ao conjunto de recursos disponíveis para a família.

No item “utilização” dos alimentos e de nutrientes, geralmente, é pensada em termos de sua utilização biológica, que seria influenciada pelas condições de saneamento básico e saúde das pessoas e a segurança microbiológica e química dos alimentos; portanto, essa dimensão abrange, também, o conhecimento nutricional, as escolhas e hábitos alimentares, e o papel social da alimentação na família e na comunidade.

A “estabilidade” se refere ao elemento temporal das três condições já citadas. Problemas na disponibilidade, acesso e utilização dos alimentos podem ser crônicos, sazonais ou transitórios, o que traz considerações importantes para a definição de ações, tanto pertinentes às estratégias adotadas pelas famílias quanto pelas políticas públicas.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (2015) em relação ao ano de 2013, o Brasil possui, em média, 50,5% de domicílios em situação de segurança alimentar e 14,4% de prevalência em situação de insegurança alimentar (leve, moderada e grave). Quanto ao Estado de Santa Catarina, segundo a mesma fonte de dados, possui 11,1% de seus domicílios em condições de insegurança alimentar, seja ela leve, moderada e grave, conforme pode ser visualizado na Tabela 3.

Tabela 3 – Percentual de domicílios por nível de Segurança Alimentar no Estado de Santa Catarina

Prevalência de domicílios por situação alimentar

 (%)

segurança

insegurança leve

insegurança moderada

insegurança grave

88,9%

7,5%

1,9%

1,7%

Fonte: IBGE, 2015

Observa-se que o Estado de Santa Catarina em relação aos dados expostos, possui percentuais de segurança alimentar em níveis maiores que a média nacional de 50,5%.

4. Mudanças climaticas

Estudo mostram temperatura global média aumentou nos últimos 150 anos. Foi construído um gráfico de temperatura ao longo dos últimos 140 anos, tendo como valor médio o período de 1961 a 1990. Esse período é colocado como o nível 0 (zero) do gráfico, sendo que temperaturas maiores do que aquelas desse período são considerados aquecimento em relação à média e temperaturas inferiores são consideradas esfriamento. Assim, a temperatura do ano 1900 fica sendo considerada como 0,2º C mais frio que a média de 1961–1990. Do mesmo modo, o ano de 1998 ficou, aproximadamente, 0,6º C mais quente que essa média (Figura 8) (IPCC-Intergovernmental Panel on Climate Change, 2015).

   

Figura 8 – Temperaturas globais
Fonte: IPCC, 2015

Dados recentes mostram anomalias na temperatura global em relação à temperatura média no período de 1860 a 2000, sugerindo um aumento. Afirma-se que este aumento é consequência do aumento na concentração de gases poluentes como dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e vapor de água, conhecidos como gases do efeito estufa (GEE). (IPCC-Intergovernmental Panel on Climate Change, 2015). Este aumento da temperatura é conhecido como Efeito Estufa, sendo que o dióxido de carbono é o gás apontado como o maior responsável em função de seu incremento pelas ações humana na queima de combustíveis fósseis.

Além disso, as flutuações na temperatura da Terra ocorrem ano após ano e são consideradas como efeitos naturais do clima mundial, assim como o “El Nino”, que afeta o clima em várias regiões do planeta. No entanto, nas últimas décadas um grande aporte de dióxido de carbono de fontes antropogênicas tem contribuído de forma intensiva para um aumento da concentração de CO2 na atmosfera, alterando de alguma forma o comentado ciclo natural (Figura 9) (IPCC-Intergovernmental Panel on Climate Change, 2015).

Figura 9 -  Concentração de CO2 na atmosfera ao longo dos anos
Fonte:  IPCC, 2015

Outro gás que contribui para o efeito estufa é o Metano (CH4), que é produzido por vários processos, como a fermentação anaeróbia, nos pântanos, plantio de arroz, aparelho digestivo dos herbívoros e aterros sanitário. Boa parte do metano desaparece em reações químicas na própria atmosfera, e uma fração pequena é absorvida por micro-organismos existentes no solo. Assim, muito das emissões de metano apenas substitui a fração do metano atmosférico que foi decomposta. Mesmo assim, o metano ainda contribui com15% do agravamento do efeito estufa (IPCC-INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2015).

4.1 Mudanças climáticas em Santa Catarina

O Estado de Santa Catarina possui um clima Subtropical, característico das áreas de latitude entre 30° e 50°, com temperaturas médias anuais nunca superiores a 20 °C e a temperatura mínima do mês mais frio nunca é menor que 0 °C, exceto em regiões de grandes altitudes (IBGE, 2015).

O clima Subtropical predomina ao sul do Trópico de Capricórnio, chamada zona subtropical, sendo que no Brasil é compreendido ao sul pelo Estado de São Paulo, o extremo sul do Estado do Mato Grosso do Sul e a quase totalidade dos estados da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).

A climatologia mensal de precipitação de chuvas para o Estado de Santa Catarina, obtidos de estações hidrológicas pertencentes à Agência Nacional de Águas – ANA, com série de dados no período de 1960 a 2004 é apresentado na Figura 10 (CIRAM, 2015).

 

Figura 10 -  Precipitação de chuvas em Santa Catarina dos anos de 1960 a 2004
Fonte: CIRAM, 2015

Observa-se que o período mais chuvoso ocorre nos meses de janeiro e fevereiro, com maior intensidade registrada na região nordeste do Estado. O mês de outubro é marcado por maior precipitação no oeste do Estado.

4.2 Recursos hídricos na América Latina e Brasil

América Latina e Caribe possuem cerca de 8,4 % da população mundial. O índice médio anual das precipitações na região é de 13.120 km3, representando 30,8 % do volume do planeta. A precipitação é da ordem de 1.500 mm.ano-1, sendo 50 % superior à média mundial. Desse volume de águas, aproximadamente, dois terços escoam em três bacias hidrográficas; Orinoco, Amazonas e Rio da Prata (GUERRA & GONZALEZ, 2009).

O aumento acelerado da demanda de recursos hídricos cria, inicialmente, o problema da escassez quantitativa do recurso, sendo que, concomitantemente, diminui a qualidade das águas pelo aumento da população. As águas poluídas pelas atividades antropogênicas retornam com qualidade inferior aos corpos d’água de que foram retirados.

No mundo todo e no Brasil, a agricultura é o maior consumidor de água, com estimativa de esse seja da ordem de 69 %. Tal fato demonstra que a escassez da água tem impacto primeiro na alimentação.

Além disso, a matriz energética brasileira é fortemente hídrica, com aproximadamente 90 % de sua produção proveniente desse recurso. Dessa forma, alterações climáticas afetam diretamente a geração de energia por modificarem o regime de chuvas (GUERRA & GONZALEZ, 2009).

4.3 Abastecimento de água no estado

O Estado de Santa Catarina se insere nas Regiões Hidrográficas do Atlântico Sul e do Uruguai e, pequena parte, ao norte da Região Hidrográfica do Paraná. Outro dado importante é que os municípios do Estado localizados na porção oeste têm como principal fonte de abastecimento de água os mananciais subterrâneos. Assim, no Estado de Santa Catarina 57% das regiões urbanas são abastecidas por mananciais superficiais, 23% exclusivamente por mananciais subterrâneos e cerca de 20% de forma mista. A empresa estadual de água CASAN (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) atende 67% das regiões urbanas do Estado e as demais empresas municipais (ANA, 2015).

4.4 Impactos das mudanças climáticas em nível global

Os impactos das mudanças climáticas podem refletir severamente sobre a produção mundial de alimentos. Como consequências, é possível ante ver o desabastecimento setorizado, aumento dos preços dos alimentos e o número de pessoas em risco de fome.

Entende-se que a mudança climática deve afetar regiões em alta e médias latitudes com possível aumento na produtividade agrícola, porém levar a diminuição em latitudes mais baixas. Este padrão torna-se mais pronunciado com o passar do tempo avança.  Alguns estudo levam a acreditar que até o ano de 2080 o número adicional de pessoas em risco de fome devido à mudança climática poderá chegar a 80 milhões de pessoas (PARRY et al., 1999).

Segundo o ibge (2015), além do aumento da temperatura no planeta, alguns impactos estão previstos como consequência das mudanças climáticas em nível global (Quadro 1):

Quadro 1 – Possíveis impactos decorrentes das alterações climáticas

Aumento na frequência da ocorrência de eventos climáticos extremos 

Poderá ocorrer um aumento na frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, tais como enchentes, tempestades, furacões e secas. O El Niño, evento climático que ocorre regularmente a cada 5 a 7 anos, poderá se tornar mais intenso e frequente, provocando secas severas no norte e nordeste e chuvas torrenciais no sudeste do Brasil.

Elevação do nível do mar

Existe certa possibilidade do nível do mar deverá subir entre 18 e 59 cm até o final do século XXI, o que implicaria no desaparecimento de muitas ilhas, com danos fortes em várias áreas costeiras, além de causar enchentes e erosão.

Alterações na disponibilidade de recursos hídricos

Mudanças no regime das chuvas, áreas áridas poderão se tornar ainda mais secas. Na Amazônia, as chuvas poderão diminuir em 20% até o final deste século. Poderá ocorrer também o avanço de água salgada nas áreas de foz de rios, além de escassez de água potável em regiões críticas, que já enfrentam stress hídrico.

Mudanças nos ecossistemas

A biodiversidade de vários ecossistemas deverá diminuir e mudanças na distribuição e no regime de reprodução de diversas espécies. A antecipação ou retardamento do início do período de migração de pássaros e insetos e dos ciclos reprodutivos de sapos, a floração precoce de algumas plantas, a redução na produção de flores e frutos de algumas espécies, a redução da distribuição geográfica de recifes de corais e mangues, o aumento na população de vetores como malária ou dengue e a extinção de espécies endêmicas.

Interferências na agricultura

Regiões subtropicais e tropicais terão mudanças nas condições climáticas e no regime de chuvas podendo modificar significativamente a vocação agrícola de uma região na medida em que a temperatura mudar. Algumas culturas e zonas agrícolas terão que migrar para regiões com clima mais temperado ou com maior nível de umidade no solo e taxa de precipitação. Com o aumento da vulnerabilidade da produção de alimentos às mudanças climáticas, cresce também o risco da fome atingir um número muito maior de pessoas.

Impactos na saúde e bem-estar da população humana

Aumento na frequência de doenças relacionadas ao calor, como por exemplo: insolação, malária e dengue. Não pode ser deixado de considerar que haverá forte possibilidade de ocorrer migração da população humana em função das alterações no clima.

Fonte: Adaptado (IBGE, 2015)

Os potenciais impactos das mudanças climáticas globais na produção de frutas e produtos hortícolas foram investigados nos Estados Unidos. Os estudos foram feitos por meio de simulações no cultivo de citrinos e batata, com combinações de três aumentos de temperatura (+ 1,5; + 2,5 e + 5,0° C) e estimativas do impacto com três níveis de dióxido de carbono atmosférico (440, 530 e 600 ppm), além de controlar as condições climáticas atuais. Épocas de plantio adaptativas de -28, -14, + 14 e + 28 dias foram incluídos nas simulações de batata para regimes atuais e aumento da temperatura. Vinte e dois locais foram simulados para rendimentos cítricas e 12 locais de batata, usando registros climáticos de 1951 a 1980. As superfícies de resposta foram desenvolvidos para todas as combinações de aumento da temperatura e CO2.

A produção de batata e de citrinos pareceu vulneravel a um aumento da temperatura, e somente a de batata foi sensível ao aumento de CO2 e as mudanças na data de plantio (ROSENZWEIG et al., 1996). Conclui-se que serão necessárias relocações dos locais habituais de plantio para que as culturas sejam readaptadas.

As mudanças climáticas ocorridas entre os anos de 1980 à 2008, podem ter reduzido consideravelmente a produção global de milho em 3,8% e do trigo de 5,5% (LIZUMI & RAMANKUTTY, 2014).

O crescimento, desenvolvimento, produção e qualidade da soja estão sujeitos a todas as alterações das condições climáticas. Sendo essa comódite uma das principais culturas de grãos do mundo, qualquer alteração na sua produção afetará a segurança de óleo comestível e alimento em praticamente todo o mundo (XIAO et al., 2007).

4.5 Impactos das mudanças climáticas em Santa Catarina

As mudanças climáticas podem afetar as plantações de várias formas, desde doenças que se proliferam com o calor até a inviabilização do cultivo por excesso de chuva ou temperaturas muito altas. Diversas culturas foram afetadas no Estado e um exemplo característico é o feijão, pois possui um ciclo curto, de aproximadamente 80 dias, e precisa de frio para se desenvolver.

Estudos da EPAGRI indicam que os produtores já sentem os efeitos das alterações do clima nos últimos dez anos. Esses eventos extremos estão ficando mais severos e mais constantes, o que parece ter relação com o aumento de temperatura no ar e no oceano registrado nos últimos 50 anos no Estado. Considera-se que Santa Catarina está entre 1,4ºC e 3,2ºC mais quente do que há 50 anos (CIRAM, 2015). Nos estudos do CIRAM (2015) encontram-se informações bastante relevantes para compreensão das consequências na agricultura decorrentes das alterações climáticas. Alguns eventos climáticos são relacionados às alterações climáticas no Estado, como: 2006, estiagem de quase um ano afetou 80% da produção do oeste; 2008 as chuvas fortes que caíram no leste do Estado afetaram 38.800 propriedades rurais espalhadas por 74 municípios e causaram um prejuízo de R$ 526 milhões de reais; feijão, uva e maçã já começam a ter suas produções prejudicadas, o que deve se agravar com o tempo.

As plantações de maçã também sentem com aumento da temperatura. Prova disso é que a sarna, uma doença que só se desenvolve no frio e era típica das macieiras catarinenses, está desaparecendo. Essa é a boa notícia. Mas a entomosporiose, doença típica de locais com temperaturas mais alta, que só aparecia em altitudes maiores de 1000 metros até meados dos anos 2000, agora está se espalhando. O aumento de calor também é um complicador no desenvolvimento da fruta, que precisa de 700 horas de frio por ano para se desenvolver, mas em regiões como Caçador só tem tido pouco mais de 500 h. Para solucionar esse problema, a alternativa tem sido tratar as macieiras com indutores de brotação, que estimulam a árvore a desenvolver o fruto mesmo com temperaturas mais altas, mas essa técnica faz com que a maçã perca muito em qualidade. Para se adaptar ao calor, pesquisadores de São Joaquim e Caçadores têm feito cruzamentos genéticos entre espécies de maçã que precisam de mais frio e que são as mais saborosas, como a Fuji e a Gala, espécies mais tolerantes ao calor. Desses cruzamentos podem sair frutas que perdem pouco em qualidade e se desenvolvem em climas mais quentes.

A banana está sofrendo tanto com o excesso de calor quanto com as chuvas fortes. A banana, nos dois casos, desenvolve a sigatoka, uma doença que queima as folhas e enfraquece a planta, muitas vezes tombando o tronco e matando a árvore. Ainda não existem formas menos agressivas do que fungicidas pulverizados nas plantações para conter esse fungo. Para proteger os frutos desse tratamento químico, os produtores têm cultivado bananas dentro de grandes sacos plásticos.

De modo geral, as principais culturas do estado de Santa Catarina são bastante sensíveis aos regimes de chuvas e temperaturas. De modo indireto, considerando que o frango depende do milho, o gado depende da soja pasto (afetado por períodos de alagamento) e os suínos dependem de legumes, a produção animal também está sujeita aos impactos das alterações climáticas.

5. Conclusão

Os impactos das mudanças climáticas podem refletir severamente sobre a produção mundial de alimentos, afetando a agricultura e trazendo consequências como desabastecimento setorizado, o aumento dos preços dos alimentos e o número de pessoas em risco de fome.

Em relação à agricultura do Estado de Santa Catarina o aumento da temperatura já está afetando produtos como o feijão e a maçã, prejudicando a produção e promovendo alterações no preço dos produtos. Até o arroz, que é típico de climas mais quentes, está sofrendo com a temperatura mais alta. Já o excesso de chuvas está comprometendo a produção de gado, devido ao excesso de lama e, consequente redução do pasto, assim como a produção de banana pelo aparecimento de pragas.

Os dados levantados no presente estudo demonstram que, apesar das alterações climáticas como o aumento da temperatura e da precipitação de chuvas, o Estado de Santa Catarina, possui prevalência de domicílios em situação de segurança alimentar.  No entanto, a severidade desses eventos podem comprometer as perspectivas futuras em relação ao desenvolvimento da agricultura, ao aumento do preço dos alimentos, dificultando o acesso das pessoas e afetando, por consequência, a garantia da segurança alimentar.     

 

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1. Centro Universitário Sociesc - UNISOCIESC, Joinville, Santa Catarina, Brasil. Email: jaison.kno@gmail.com
2. Centro Universitário Sociesc - UNISOCIESC, Joinville, Santa Catarina, Brasil. Email: andreis@onda.com.br
3. Centro Universitário Sociesc - UNISOCIESC, Joinville, Santa Catarina, Brasil. Email: gouvea@sociesc.org.br

4. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Email: marcelomacedo@egc.ufsc.br


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 36) Año 2016

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