ISSN 0798 1015

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Vol. 38 (Nº 22) Año 2017. Pág. 35

Formação de mudas de guatambu em substrato com hidrogel e fertilizante de liberação controlada

Formation of seedlings of guatambu on substrate with hydrogel and controlled release fertilizer

Renata Diane MENEGATTI 1; Márcio Carlos NAVROSKI; Karina GUOLLO; Claudimar Sidnei FIOR; Aline das Graças de SOUZA; Jean Carlo POSSENTI

Recibido: 08/12/16 • Aprobado: 18/12/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Material e métodos

3. Resultados e discussão

4. Considerações finais

Referências bibliográficas


RESUMO:

O objetivo deste trabalho foi avaliar a formação de mudas de Aspidosperma parvifolium A. DC. submetidas a diferentes doses de hidrogel e Osmocote, em condições de viveiro. O experimento foi instalado em delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial com quatro doses de hidrogel (0; 1,5; 3,0 e 4,5 g/L) e quatro de fertilizante de liberação controlada (0; 2,5; 5,0 e 7,5 g/L), totalizando 16 tratamentos, sendo cinco repetições compostas por cinco mudas. Foram avaliados diâmetro do coleto, altura, número de folhas, massa seca da parte aérea, de raiz e total, relação entre altura/diâmetro do coleto, índice de qualidade de Dickson e teor de clorofila. Os dados foram submetidos à análise de variância (p < 0,05) e regressão. Os resultados demonstram que a adição de hidrogel e Osmocote®, separadamente e simultaneamente interferem diretamente e positivamente na qualidade das mudas. A utilização da mistura 3 g de hidrogel associada a 7,5 g de Osmocote® são indicáveis para a produção de mudas de guatambu.
Palavras-chave: Aspidosperma parvifolium; Osmocote®; Produção de mudas; Polímero hidrorretentor.

ABSTRACT:

The objective of this study was to evaluate the formation of Aspidosperma parvifolium A. DC seedlings submitted to different doses of hydrogel and Osmocote, under nursery conditions. The experiment was installed in a completely randomized design, in a factorial scheme with four hydrogel doses (0; 1,5; 3,0 and 4,5 g/L) and four controlled release fertilizer (0; 2,5; 5,0 and 7,5 g/L), totaling 16 treatments, five replicates composed of five seedlings. The sample size, height, leaf number, shoot dry weight, root and total mass, relation between collection height / diameter, Dickson quality index and chlorophyll content were evaluated. Data were submitted to analysis of variance (p <0.05) and regression. The results demonstrate that the addition of hydrogel and Osmocote ®, separately and simultaneously, interfere directly and positively in the quality of the seedlings. The use of the blend 3 g of hydrogel associated with 7,5 g of Osmocote® are indicative for the production of guatambu seedlings.
Keywords: Aspidosperma parvifolium; Osmocote®; Seedling production; Hidroretentor polymer.

1. Introdução

Aspidosperma parvifolium A. DC., conhecida popularmente como guatambu, é uma espécie florestal nativa de grande porte,  promissora no mercado madeireiro devido ao valor econômico agregado, em função da excelente qualidade da madeira, moderadamente pesada e de longa durabilidade (LORENZI, 2002; GUOLLO et al., 2015). Sua distribuição é bastante ampla, ocorrendo do norte ao sul do Brasil, nos Biomas: Amazônia, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica (Lista de Espécies da Flora do Brasil, 2016). Atualmente a espécie é considerada vulnerável à extinção na região Norte do Paraná e no Estado do Mato Grosso devido a intensa exploração madeireira da década de 1970 (RECCO et al., 2016; GUOLLO et al., 2015).

Apesar de suas características madeireiras proporcionarem usos nobres, estudos retratando os fatores que interferem na produção de mudas desta espécie ainda são escassos. Dessa forma, é de fundamental importância à realização de pesquisas que subsidiem informações básicas relacionadas às técnicas silviculturais para a espécie, inclusive no que se refere à produção de mudas.

Um dos maiores entraves encontrados nos viveiros comerciais e em programas de recomposição vegetal é o alto custo e a falta de domínio das técnicas de produção de mudas para as mais variadas espécies nativas (SMIDERLE e SOUZA, 2016; REIS et al., 2016; ULIANA et al., 2014). Muitas vezes, a utilização de um maior número de espécies, tanto em programas de recuperação florestal quanto em plantios com fins comerciais, torna-se comprometida e inviável pelo escasso conhecimento e raras informações no que se refere ao comportamento morfofisiológico das plantas (OLIVEIRA et al., 2016; GUOLLO et al., 2016; SMIDERLE et al., 2016), sobretudo quando utilizado os métodos silviculturais como irrigação, adubação, fertilização e a interferência destes no desempenho das mudas.

A técnica de fertilização com NPK em mudas acelera o desenvolvimento das plantas, reduzindo o tempo de produção, sendo, portanto, fator determinante para o rendimento satisfatório do comerciante ou produtor. Neste contexto, merece destaque os fertilizantes de liberação controlada (FLC) que recentemente têm apresentado resultados satisfatórios para a produção de mudas florestais (ELLI et al., 2013; PIAS et al., 2013 SOMAVILLA et al., 2014, STÜPP et al., 2015), por manter disponíveis os nutrientes essenciais para as mudas durante o período pré-estabelecido pelo produto, minimizando os riscos de deficiências e redução de custos operacionais, já que são aplicados uma única vez.

Já o hidrogel, polímero hidrorretentor, auxilia principalmente na retenção e disponibilidade de água para as plântulas e mudas. Este tipo de polímero já e usado nos plantios de mudas em campo, mas atualmente este composto esta sendo pesquisado para a incorporação ao substrato de produção das mudas (MEWS et al., 2015, NAVROSKI et al., 2015; FELIPPE et al., 2016) com o objetivo de disponibilizar água e nutrientes de forma gradativa para as mudas, podendo diminuir a frequência de irrigação no viveiro e a quantidade de água utilizada.

A utilização de técnicas silviculturais que promovam a redução dos custos, maior desempenho e qualidade das mudas, torna-se desejáveis (MEWS et al., 2015). Entre os recentes estudos o que se percebe são resultados bastante imprevisíveis a respeito da utilização destes componentes, com implicações positivas, negativas ou com ausência de qualquer efeito, o que indica que a eficiência dos hidrogéis e fertilizantes de liberação controlada podem ser específicos para cada espécie, substrato, doses e outros. Isso reafirma a necessidade da continuidade das pesquisas cada vez mais pontuais.

Buscando fornecer informações que contribuam para a produção de mudas e programas de recomposição florestal, o trabalho teve como objetivo avaliar o desenvolvimento de mudas de Aspidosperma parvifolium, em função de diferentes combinações de doses de hidrogel e adubo de liberação controlada.

2. Material e métodos

O experimento foi conduzido no viveiro do Departamento de Engenharia Florestal, da Universidade do Estado de Santa Catarina, localizado no município de Lages, SC, situado nas coordenadas geográficas 27°49′00″ S e 50º19’35’’ W. O clima da região, segundo a classificação de Köppen é do tipo Cfb (temperado, úmido, sem estação seca, com verão fresco), com temperatura média anual de 15,7ºC e precipitação pluvial média anual na região de 1.556 mm (WREGE et al., 2011).

As sementes de A. parvifolium foram coletadas em fevereiro de 2014, de árvores matrizes localizadas no município de Dois Vizinhos, PR. A extração das sementes foi realizada de forma manual e em seguida as sementes foram acondicionadas em sacos de polietileno e armazenadas em câmara fria (10ºC) até o início do experimento. As sementes de A. parvifolium foram semeadas em sementeiras formadas por bandejas plásticas contendo substrato comercial + vermiculita e as plântulas foram transplantadas aos 30 dias após a semeadura para recipiente de polietileno com capacidade volumétrica de 500 cm³.

O substrato utilizado de acordo com as informações do fabricante é composto por turfa, vermiculita expandida, casca de Pinus spp. e carvão vegetal, e apresenta as seguintes características: pH = 6,0 (± 0,5); condutividade elétrica = 0,7 (± 0,3) mS cm-1; densidade = 500 kg m-³; capacidade de retenção de água – CRA (p/p) aproximadamente 100% e umidade (p/p) = 50%. As doses de FLC da marca Osmocote® (NPK: 19-6-10) com liberação de 4 a 6 meses e de hidrogel (ForthGel) foram incorporadas e misturadas de forma homogênea ao substrato seco, de acordo com cada tratamento.

O experimento foi implantado em delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial completo com três concentrações de hidrogel (0; 1,5; 3,0 e 4,5 g/L) e três de adubo de liberação controlada (0; 2,5; 5,0 e 7,5 g/L), além do testemunha, em cinco repetições compostas por cinco mudas, totalizando 400 plantas.

As mudas foram convenientemente espaçadas e mantidas em viveiro com nível de sombreamento de 50%. A irrigação das plantas foi realizada manualmente conforme a necessidade. Aos 210 dias após a implantação do experimento foram avaliadas, as características morfológicas, sendo elas: a altura da parte aérea (H) obtida com auxilio de régua milimétrica, do nível do solo ao meristema apical, o diâmetro do coleto (DC), cujas medidas foram tomadas com paquímetro digital a 2 cm do nível do solo, e o número de folhas (NF).

Para obtenção da massa seca, cada muda foi dividida em parte aérea e raiz, e cada parte da planta foi lavada em água corrente e acondicionada em saco de papel permanecendo em estufa de secagem a 70 °C com circulação de ar, até se obter massa constante (72 h). Depois de secas, foram pesadas em balança analítica com precisão de 0,01 g para determinação da massa seca da parte aérea (MSPA), massa seca do sistema radicular (MSSR), e pelo seu somatório calculou-se a massa seca total da planta (MST), obtendo a relação entre a altura da parte aérea e o diâmetro do coleto (RHDC), índice de qualidade de Dickson (IQD) e o teor de clorofila (CL). O IQD foi determinado por meio da fórmula IQD = PMST/[(HT/DC) + (PMSPA/PMSR)], segundo Dickson et al. (1960).

Os teores de clorofila total foram determinados aos 210 dias após a semeadura (DAS), com o Clorofilômetro Dualex e as medições foram feitas no terço apical de folhas completamente expandidas entre 9 e 11 h, evitando leituras na nervura central da folha.

O incremento do diâmetro do coleto e da altura da parte aérea foram obtidos durante o período de desenvolvimento das mudas, aos 90, 150 e 210 dias após a implantação do experimento.

Os dados obtidos para as diferentes variáveis foram submetidos a teste de normalidade (Kolmogorov-Smirnov) e homogeneidade de variâncias (teste de Hartley) a 0,05 de probabilidade e as médias obtidas aos 210 dias foram agrupadas pelo teste de Scott-Knott (p<0,05) utilizando-se o software estatístico Sisvar (FERREIRA, 2011). Os valores de altura de plantas, diâmetro, massa seca da parte aérea, relação entre a altura da parte aérea e o diâmetro do coleto, teor de clorofila e numero de folhas foram analisados por regressão polinomial.

3. Resultados e discussão

Os resultados da análise de variância apontaram diferenças significativas entre os fatores hidrogel e FLC (Osmocote®), bem como interação entre eles para todas as variáveis analisadas,aos 210 dias após a implantação do experimento, exceto para o caráter teor de clorofila, que só apresentou diferenças significativas para o fator Osmocote®. Desta forma, os dados sugerem que a aplicação de diferentes doses de FLC (Osmocote®) e hidrogel proporcionam respostas distintas ao crescimento das mudas de guatambu produzidas em condições de viveiro (Tabela 1).

Já para o teor de clorofila total nas folhas a diferença significativa nos tratamentos com a presença individual do fator FLC (Osmocote®) destaca que o hidrogel não exerce influência nessa variável.

Tabela 1 - Análise de variância do crescimento e qualidade de mudas de Aspidosperma parvifolium A. DC.,
submetidas a diferentes dosagens de hidrogel e fertilizante de liberação controlada (Osmocote®)
aos 210 dias em condições de viveiro, em Lages, SC, 2015

Fontes de variação

GL

Valores do teste F

H (cm)

DC (mm)

NF

MSPA (g)

MSR (g)

MST (g)

RHDC

IQD

CL

Hidrogel

3

13,4*

11,8*

74,7*

280,9*

446,9*

608,0*

5,6*

4,6*

1,7ns

FLC

3

130,5*

98,9*

2,7*

416,1*

575,3*

98,3*

35,8*

89,4*

148,4*

Hidr.*FLC

9

3,3*

2,3*

8,2*

102,3*

43,2*

98,1*

3,9*

4,1*

0,8ns

Média geral

15,0

3,7

8,0

1,4

3,9

5,3

6,0

0,8

39,3

CV (%)

22,1

20,1

60,2

10,5

10,7

11,3

21,4

20,3

20,7

Fonte: Autores, 2016.

GL: graus de liberdade; H: altura da parte aérea; DC: diâmetro de coleto; NF: número de folhas; MSPA: massa seca da parte aérea; MSR: massa seca da raiz; MST: massa seca total; RHDC: relação altura/diâmetro do coleto; IQD: índice de qualidade de Dickson; CL (unid.): teor de clorofila total nas folhas. CV: coeficiente de variação. *significativo ao nível de 95% de probabilidade (p < 0,05).

A análise de regressão indicou diferenças significativas entre as diferentes doses De FLC (Osmocote®) para todas as variáveis avaliadas, exceto para a característica número de folhas. A Figura 1A e 1B demonstra a tendência à ampliação dos valores para as variáveis avaliadas em função do aumento das dosagens de FLC (Osmocote®) até um ponto máximo para a altura e o diâmetro do caule. Somado a isso as variáveis MSPA, RHDC (Figuras 2 A e B) e CL (Figura 3) também apresentaram resposta positiva com adubação de fertilização controlada. Para as demais variáveis não houve ajuste dos dados ao modelo de regressão calculado, sendo não significativa a resposta encontrada.

 

Figura 1 - Valores médios de altura da parte aérea (A) e o diâmetro do coleto (B),
de mudas de Aspidosperma parvifolium produzidas com diferentes doses do
fertilizante de liberação controlada (Osmocote®) aos 210 dias em condições de
viveiro, em Lages, SC, 2015

Os resultados encontrados a partir da análise de regressão demonstram que a fertilização com Osmocote® influenciou de forma positiva no crescimento inicial das mudas de A. parvifolium em viveiro. As doses crescentes de fertilização com Osmocote® provocaram acréscimos nas variáveis H e DC (Figura 1A e B), e consequentemente melhor relação altura/diâmetro do coleto RHDC como mostra a Figura 2 B. Os valores observados neste ensaio para a variável DC e RHDC foram próximos aos de Barretto et al. (2016) estudando doses de FLC (Osmocote®) no crescimento de mudas de seringueira (Hevea brasiliensis, Euphorbiaceae) sob condições de viveiro, com médias entre 5,24 mm.

Figura 2 - Valores médios de massa seca da parte aérea (A), relação altura/diâmetro
do coleto (B) de mudas de Aspidosperma parvifolium produzidas com diferentes
doses do fertilizante de liberação controlada (Osmocote®) aos 210 dias
em condições de viveiro, em Lages, SC

Os resultados encontrados sugerem que o substrato e adubação quando manejados adequadamente potencializam a produção de A. parvifolium com alta qualidade, obtendo mudas dentro dos padrões mínimos exigidos pela portaria do MAPA Nº 016, 2004 de produção de mudas florestais.

O uso de substratos em combinação com o aporte adequado de nutrientes, em condições de viveiros, são fatores que contribuem para o rápido aumento da área foliar das mudas em formação (SMIDERLE et al., 2016), e por as folhas estarem envolvidas nos processos de conversão de energia luminosa em energia química, que será distribuída para o restante dos órgãos em formação, contribuem para o rápido crescimento e desenvolvimento da muda (TAIZ e ZEIGER, 2013). Para isso, nessa fase de crescimento rápido, a planta requer grande disponibilidade de nutrientes, especialmente de nitrogênio (BARRETO et al., 2016).

A variável teor de clorofila total nas folhas evidenciou o aumento linear e positivo conforme a elevação das doses de FLC (Osmocote®) aos 210 após a implantação do experimento (Figura 3).

Figura 3 - Valores médios de teor de clorofila nas folhas de mudas de Aspidosperma parvifolium
produzidas com diferentes doses do fertilizante de liberação controlada (Osmocote®) aos 210 dias
em condições de viveiro, em Lages, SC, 2015

No que tange o uso de hidrogel as análises de regressão indicaram diferenças significativas apenas para as variáveis: massa seca da parte aérea (MSPA), massa seca da raiz (MSR) e massa seca total (MST). Enquanto que para a interação (hidrogel xOsmocote®) foram detectadas diferenças significativas entre os tratamentos para todas as variáveis avaliadas, exceto o teor de clorofila nas folhas.

Segundo Berghetti et al. (2016) a altura da parte aérea é um excelente parâmetro para se avaliar o padrão de qualidade de mudas florestais, pois, as que apresentam maior altura, normalmente, apresentam maior vigor. Este parâmetro fornece uma excelente estimativa da predição do crescimento inicial no campo. É um parâmetro de fácil determinação, além de ser um método não destrutivo (DUARTE et al., 2015).

Somado a isso, a altura e o diâmetro das mudas de A. parvifolium apresentaram os maiores valores de altura e diâmetro, na combinação 3 g de hidrogel e 7,5 g de FLC (Osmocote®) (Figura 4 A e B), com médias de 20,3 (cm) e 4,7 (mm) respectivamente.

Figura 4 - Valores médios diâmetro do coleto (A), de altura (B), número de folhas (C)
e massa seca da parte aérea (D) para mudas de Aspidosperma parvifolium A. DC.
submetidas às diferentes doses de Osmocote® em condições de viveiro, em Lages, SC, 2015

Esta mesma combinação resultou nos maiores valores para NF, MSPA, MSR, MST e IQD (Figura 4 C e D), podendo então ser sugerida como a de maior eficiência no desenvolvimento inicial para as mudas de A. parvifolium em viveiro. Esses resultados estão de acordo com os citados por Mews et al. (2015) que obtiveram o crescimento máximo das mudas em altura com a dose de 3 g de hidrogel, com média de 20,86 cm.

Estudo realizado por Smiderle e Souza (2016) com mudas de Cinnamomum zeylanicum, (Fabaceae)ressalvam que deve-se considerar, o quão superior for o valor da massa seca total, como indicador da qualidade das mudas produzidas, portanto, pode-se inferir que a combinação 3 g de hidrogel e 7,5 g de FLC (Osmocote®) proporcionam a maior produção de massa seca de raiz e total nas mudas de A. parvifolium (Figuras 5 A e B) e, portanto, com maior probabilidade de sobrevivência em campo.

Figura 5 - Valores médios da massa seca da raiz (A), massa seca total (B),
para mudas de Aspidosperma parvifolium A. DC. submetidas a diferentes doses
de hidrogel e fertilizante de liberação controlada (Osmocote®) em condições
de viveiro em Lages, SC, 2015

O valor resultante da relação da altura da parte aérea pelo seu respectivo diâmetro do coleto exprime o equilíbrio de crescimento, relacionando essas duas importantes características morfológicas em um índice (SaraiVA et al., 2014), também denominado de quociente de robustez (GOMES et al., 2002). Em relação a RHDC na presente pesquisa a dosagem que propiciou maior valor foi de 4,5 g de hidrogel e 2,5 g de FLC (Osmocote®), alcançando a média de 7,06 (Figuras 6 A e C). A variável CL também alcançou o maior valor neste tratamento, com média de 45,5 unidades.

No que se refere ao IQD, o mesmo é apontado como bom indicador de qualidade de mudas, porque são utilizados para seu cálculo a robustez (relação H/DC) e o equilíbrio da distribuição da biomassa (relação MSPA/ MSR) (GONZAGA et al., 2016), ponderando os resultados de várias características morfológicas importantes empregadas para avaliação da qualidade. Quanto maior o IQD, melhor é a qualidade da muda produzida (GOMES et al., 2002).

Figura 6 - Valores médios da relação altura/diâmetro do coleto (A), índice de qualidade de Dickson (B)
e teor de clorofila total nas folhas (C) para mudas de Aspidosperma parvifolium A. DC.
submetidas a diferentes doses de hidrogel e fertilizante de liberação controlada (Osmocote®)
em condições de viveiro em Lages, SC, 2015

Os resultados do IQD do presente estudo (Figura 6 B) foram superiores aos encontrados em Hymenaea courbaril (Caesalpiniaceae) cujos valores médios variaram de 0,5 a 0,8 (GONZAGA et al., 2016), entretanto, valores acima do proposto por Gomes e Paiva (2006), que recomendam o IQD maior que 0,2 para mudas de Pseudotsuga menziesii (Pinaceae) e Picea abies (Pinaceae). Mudas submetidas à dosagem de 2,5 g de FLC (Osmocote®) apresentou um menor índice, mas não o suficiente para classificá-lo como mudas de baixa qualidade, uma vez que seu resultado esta na faixa ideal recomendado por Gomes e Paiva (2006). Confirmado também, quando comparado com o experimento realizado por Gomes et al. (2013) em mudas de Tectona grandis (Verbenaceae) as quais apresentaram valor médio do IQD de 1,46 atingido 120 dias após a montagem do experimento.

Em relação ao incremento de DC e H, 30-90 dias (Incremento 1), o DC e a H apresentaram respostas diferentes em relação às distintas doses de hidrogel, fertilizante de liberação controlada, bem como à interação entre esses dois fatores (Tabela 2). Para o Incremento 2, a diferença foi significativa para o DC nos três fatores avaliados, a H apresentou respostas distintas para os fatores hidrogel e FLC (Osmocote®) quando utilizados de forma isolada, o que indica que não houve efeito significativo da interação dos fatores no incremento em altura. Analisando o Incremento 3, as variáveis H e DC foram divergentes para os três fatores testados, indicando que houve efeito na utilização do hidrogel, do fertilizante de liberação controlada (Osmocote®), bem como na interação destes dois fatores.

Tabela 2 - Análise de variância dos incrementos em altura da parte aérea (H), diâmetro do coleto (DC) de mudas e teor de clorofila de Aspidosperma parvifolium A. DC., submetidas a diferentes dosagens de hidrogel e fertilizante de liberação controlada (Osmocote®) produzidas em condições de viveiro em Lages, SC, 2015

Fontes de variação

GL

INCR 1 (30-90 dias)

INCR 2 (90-150 dias)

INCR 3 (150-210 dias)

Valores do teste F

DC (mm)

H (cm)

DC (mm)

H (cm)

DC (mm)

H (cm)

Hidrogel

3

5,1*

12,3*

20,3*

16,6*

11,8*

13,4*

FLC

3

18,8*

26,8*

21,8*

133,6*

98,9*

130,4*

Hid.*Osmoc.

9

2,9*

3,6*

4,8*

1,8ns

2,3*

3,2*

Média geral

1,8

7,8

1,1

3,5

0,9

2,5

CV (%)

 

14,2

16,1

15,1

16,9

20,1

22,1

Fonte: Autores, 2016.

GL: graus de liberdade; INCR: incremento; CV: coeficiente de variação. *significativo ao nível de 5% de probabilidade; ns: não significativo (p < 0,05).

O Incremento 1, correspondente aos 90 dias após a implantação do experimento, proporcionou as maiores médias tanto para DC (Figura 7a) como para H (Figura 7b). Para o DC, no Incremento 1 e 2, o teste de comparação de médias indicou a interação de 3 g de hidrogel associada a 7,50 g de FLC (Osmocote®) como média de 2,01 mm, sendo esta superior aos demais tratamentos. Para os Incrementos 2 e 3, a dose composta por 3 g hidrogel acompanhada de 5,0 g de FLC (Osmocote®) se destacou entre os demais tratamentos resultando em médias de 1,35 mm e 1,60 mm, respectivamente para cada incremento.

Para a H, no Incremento 1 e 2, a associação de 3 g de hidrogel com 7,5 g de FLC (Osmocote®) se destacou em relação às demais, proporcionando a melhor média (11,12 cm e 6,93 cm, respectivamente), já para o Incremento 3 a incorporação do substrato com 4,5 g de hidrogel e 7,5 g de FLC (Osmocote®) demonstrou superioridade as demais interações, com valor médio de 4,29 cm. Resultados eficazes também foram verificados por Bernardi et al. (2012) aos 150 dias após a implantação do experimento, em relação ao emprego do uso de hidrogel e adubação, observaram que a incorporação de hidrogel e fertilização proporcionaram efeitos positivos no crescimento de mudas de Corymbia citriodora (Mirtaceae). Os referidos autores observaram maior incremento em altura (22,99%) e diâmetro (23,12%) para mudas produzidas com 6 g do gel por litro de substrato, quando comparadas com mudas produzidas sem a adição do produto.

Figura 7 - Incremento em diâmetro do coleto (a) e altura da parte aérea
(b) em diferentes etapas de avaliação das mudas de Aspidosperma parvifolium A. DC.,
submetidas a diferentes doses de hidrogel e fertilizante de liberação controlada (Osmocote®)
em condições de viveiro em Lages, SC, 2015.

Considerando os resultados da presente pesquisa a adição de hidrogel e FLC (Osmocote®), interfere diretamente e positivamente na qualidade das mudas de A. parvifolium e são alternativas sustentáveis visando diminuir os custos e o tempo para produção de mudas de A. parvifolium com alta qualidade morfosiológicaem condições de viveiro.

4. Considerações finais

1. FLC (Osmocote®) (19-6-10) é recomendado para a formação de mudas de guatambu, sendo que a dosagem de 7,50 g proporciona melhor qualidade das mudas.

2. A utilização da mistura 3 g de hidrogel associada a 7,50 g de FLC (Osmocote®) são recomendáveis para a produção de mudas de guatambu.

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Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 38 (Nº 22) Año 2017

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