ISSN 0798 1015

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Vol. 38 (Nº 28) Año 2017. Pág. 8

Produção e qualidade de figos (Ficus carica L.) CV. 'Roxo de valinhos' em função do método de controle de plantas daninhas

Production and quality of fig (Ficus carica L.) CV. 'Roxo de valinhos' in function of the method of control of weeds

Caroline Moreira RODRIGUES 1; Marcelo Barbosa MALGARIM 2; Renan NAVROSKI 3

Recibido: 27/12/16 • Aprobado: 25/01/2017


Conteúdo

1. Introdução

2. Material e metodos

3. Resultados e discussão

4. Conclusões

Referências bibliográficas


RESUMO:

Plantas daninhas competem por água e nutrientes do solo com a cultura instalada. O objetivo deste trabalho foi avaliar diferentes métodos de controle de plantas daninhas em pomar de figueiras. Os tratamentos foram, Uso de herbicida; Plástico dupla face; Capina; Roçadas; Palha com 20 cm de altura e Pousio, todos implantados em 2012. Na safra 2014, todos os tratamentos tiveram um incremento até a última quinzena de colheita e os tratamentos ‘herbicida’ e ‘palha’ apresentaram maior variação desde o primeiro até o último período de colheita. Em relação à infestação por grama seda, os melhores tratamentos foram ‘herbicida’ e ‘plástico’.
Palavras-chave: Manejo, Mulching, Figueira

ABSTRACT:

Weeds compete for water and nutrients from the soil to the installed culture. The objective of this study was to evaluate different methods of weed control in fig orchard. The treatments are, herbicide; double-sided plastic; weeding; mowing; Straw 20 cm and resting, all implemented in 2012. In the season 2014 all treatments were up to the last week of harvest and 'herbicide' treatment and 'straw' showed greater variation from the first to the last period collection. Regarding infestation silk grass, the best treatments were 'herbicide' and 'plastic'.
Key-words: management, mulching, fig tree

1. Introdução

A figueira (Ficus carica L.) é cultivada no Brasil principalmente nas regiões Sul e Sudeste, mas em virtude de sua adaptação às mais variadas condições climáticas, pode ser encontrada desde o Rio Grande do Sul, em região de clima frio, até o nordeste quente do país (Chalfun, 2012).

O Brasil destaca-se como um grande fornecedor de figos para o mundo, sendo que, de 20 a 30% do volume total produzido no País, é destinado para a exportação (Leonel, 2008). O Brasil produziu, na safra 2013, 28.253,0 toneladas de figo, já a Turquia, o maior produtor mundial, produziu 262.643.62,0 toneladas no mesmo ano (Faostat, 2016).

As plantas daninhas competem com as culturas, os recursos que mais frequentemente são passíveis de competição são os nutrientes minerais essenciais, a luz, a água e o espaço (Almeida, 2015). Uma vez limitando a disponibilidade de nutrientes e água para uma cultura, as plantas daninhas podem trazer sérios prejuízos produtividade das mesma.

Neste sentido o presente trabalho teve como objetivo avaliar a influência de diferentes métodos de supressão de plantas daninhas na produtividade e qualidade de figos cv. ‘Roxo de Valinhos’.

2. Material e metodos

O presente trabalho foi desenvolvido no Centro Agropecuário da Palma (CAP), Universidade Federal de Pelotas (UFPel), município de Capão do Leão – RS. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, em esquema unifatorial (seis tratamentos), com cinco plantas por parcela e três repetições.

Foram utilizados cinco métodos de supressão de plantas daninhas e uma testemunha sem método de controle, totalizando seis tratamentos, os quais foram: Tratamento 1: Uso de herbicida sistêmico (glifosato, com dose de 3 l.ha-1), aplicado com pulverizador costal; Tratamento 2: Plástico dupla face branco/preto, com comprimento e largura correspondentes às medidas da parcela e preso ao solo; Tratamento 3: Capina manual, realizada com enxada; Tratamento 4: Realização de roçadas, com roçadeira costal; Tratamento 5: ‘Mulching’ (palha com 20 cm de altura), proveniente de outras áreas do CAP e Tratamento 6: Pousio (sem manejo das plantas daninhas). Os tratamentos foram implantados em outubro de 2012 e foram realizadas as avaliações nos dois anos seguintes (2013 e 2014).

Quanto à qualidade e produção, foram realizadas as seguintes avaliações:

Produção média por planta (Kg.planta-1): Obtida pela razão entre a massa de frutas colhidas em cada parcela e o número de plantas;

Produtividade por hectare (t.ha-1): Obtida utilizando a produção em cada parcela e considerando o espaçamento entre plantas e entre linhas;

Produção mensal (kg.planta-1): Obtida pelo agrupamento dos dados de produção em cada mês durante o período de colheita;

Número médio de frutas por planta: Obtido pela divisão do número de frutas colhidas em cada parcela pelo número de plantas da mesma;

Massa média das frutas: através da pesagem de amostras de 20 frutas por tratamento, em três repetições, em balança digital, expresso em gramas;

Diâmetro e altura das frutas: Realizados através de régua graduada expresso em cm;

Teor de sólidos solúveis: obtido através de refratômetro digital manual da marca ATAGO, modelo PAL-1, que consiste em medir o índice de refração da amostra e o resultado expresso em °Brix;

Levantamento da quantidade de matéria seca (MS) de espécies infestantes expressa em t.ha-1: Foram laçados aleatoriamente, quadrados de 0,5 m x 0,5 m em cada parcela de cada tratamento. Em cada quadrado amostrado as plantas foram separadas e identificadas segundo Lorenzi (2008). Cada material foi acondicionado em sacos de papel pardo, efetuando-se a pesagem em balança digital e posteriormente colocados em estufa circulação forçada a 65 ºC, até atingir peso constante, para obtenção da massa seca.

Após a obtenção dos dados, foi realizada a análise de variância e feita a comparação de médias pelo teste de Tukey com 5% de probabilidade de erro.

3. Resultados e discussão

Na Tabela 1 estão apresentados os dados da safra de 2013, não foram verificadas diferenças significativas para as variáveis número de frutas comercializáveis por planta (NFC), massa de frutos comercializáveis por planta (MFC) (kg.planta-1), massa de frutas não-comercializáveis por planta (MFN-C) (kg.planta-1), número total de frutas por planta (NTF), massa total de frutas por planta (Massa total) (kg.planta-1) e produtividade (t.ha-1). O número de frutas não-comercializáveis (NFN-C) mostrou diferença entre os tratamentos, sendo superior no tratamento com palha (média de 29 frutas) e inferior nos tratamentos ‘herbicida’ e ‘capina’ (médias de 10,73 e 13,67 frutas, respectivamente). Os tratamentos ‘plástico’, ‘roçada’ e ‘pousio’ não diferiram estatisticamente entre si e entre o melhor e os piores tratamentos (médias de 16,60, 20,93 e 17,40 frutas, respectivamente), neste quesito. Embora o número de frutas não-comercializáveis tenha diferido, o mesmo não aconteceu com a massa destas, que não apresentou diferença entre os tratamentos (Tabela1).

Souza et al. (2014), avaliando o primeiro ano de implantação da cultura, sob irrigação, verificaram maior eficiência do uso da água, maior número de frutas e produtividade quando na presença de cobertura morta (neste caso, bagaço de cana-de-açúcar). Já De Lima Silva et al. (2013), avaliando a utilização de cobertura morta com bagaço de cana na condução de figueiras, não encontraram diferenças significativas quanto ao número de frutos maduros produzidos por planta e produção (kg) em um ano de avaliação e sugeriram estudos durante mais tempo.

No presente trabalho, a irrigação era usada em períodos sem precipitações, mas muitos produtores de figos não fazem uso de nenhum sistema auxiliar de fornecimento de água, o que traz maiores dificuldades e perdas em caso de escassez de chuvas. Hernadez et al. (1994) apontam para a necessidade da adoção obrigatória do uso da cobertura morta, quando da ausência de equipamentos de irrigação, pois verificaram um atraso na emissão das brotações pelas plantas não irrigadas, proporcionado pela ausência de chuvas, repercutindo diretamente na produtividade de figos.

Tabela 1 – Número de frutas comercializáveis por planta (NFC), massa de frutos comercializáveis
por planta (MFC) (kg.planta-1), número de frutas não-comercializáveis por planta (NFN-C),
massa de frutas não-comercializáveis por planta (MFN-C) (kg.planta-1), número total de
frutas por planta (NTF), massa total de frutas por planta (Massa total) (kg.planta-1) e
produtividade (t.ha-1) da safra de 2013 de figos da cultivar ‘Roxo de Valinhos’,
em diferentes tratamentos de controle de plantas daninhas. CAP/UFPEL, Capão do Leão, 2013.

Trat.

NFC

MFC (kg.pl-1)

NFN-C

MFN-C (kg.pl-1)

NTF

Massa total (kg.pl-1)

Prod. (t.ha-1)

Herbicida

113,67ns

6,55ns

10,73 b

0,68ns

124,40ns

7,23ns

7,23ns

Plástico

110,53

5,65

16,60 ab

0,98

127,13

6,63

6,63

Capina

105,93

5,45

13,67 b

0,82

119,60

6,26

6,26

Roçada

92,53

6,27

20,93 ab

1,44

113,47

7,70

7,70

Palha

187,67

10,03

29,00 a

1,75

216,17

11,78

11,78

Pousio

113,00

6,24

17,40 ab

1,34

130,40

7,37

7,37

CV (%)

35,67

41,97

28,75

38,21

33,46

40,31

40,31

Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao
nível de 0,05 (*) de probabilidade. ns= não significativo (p ≥ 0,05); CV= coeficiente de variação.

Já no segundo ano de avaliação (2014), houve mudança no comportamento produtivo das plantas, sendo que apenas o número de frutas comercializáveis por planta não diferiu entre os tratamentos (Tabela 2).

A massa de frutas comercializáveis por planta, o número e a massa de frutas não-comercializáveis por planta, o número e massa total de frutas por planta e a produtividade por hectare apresentaram o mesmo comportamento, sendo superiores no tratamento ‘palha’ (com médias de 11,75 kg.planta-1, 52,47 frutas, 3,12 kg.planta-1, 251,13 frutas, 14,88 kg.planta-1 e 14,88 t.ha-1, respectivamente) e inferiores no tratamento ‘capina’ (com médias de 4,27 kg.planta-1, 19,60 frutas, 0,98 kg.planta-1, 97,80 frutas, 5,26 kg.planta-1 e 5,26 t.ha-1, respectivamente) . Os tratamentos ‘herbicida’, ‘plástico’, ‘roçada’ e ‘pousio’ não diferiram entre si e entre o melhor e pior tratamento (Tabela 2).

Tabela 2 – Número de frutas comercializáveis por planta (NFC), massa de frutos comercializáveis
por planta (MFC) (kg.planta-1), número de frutas não-comercializáveis por planta (NFN-C),
massa de frutas não-comercializáveis por planta (MFN-C) (kg.planta-1), número total de
frutas por planta (NTF), massa total de frutas por planta (Massa total) (kg.planta-1) e
produtividade (t.ha-1) da safra de 2014 de figos da cultivar ‘Roxo de Valinhos’, em diferentes
tratamentos de controle de plantas daninhas. CAP/UFPEL, Capão do Leão-RS, 2014.

Trat.

NFC

MFC (kg.pl-1)

NFN-C

MFN-C (kg.pl-1)

NTF

Massa total (kg.pl-1)

Prod.

(t.ha-1)

Herbicida

163,20ns

10,19 ab

32,27 ab

1,93 ab

195,47 ab

12,16 ab

12,16 ab

Plástico

124,27

7,80 ab

37,87 ab

2,28 ab

163,13 ab

10,08 ab

10,08 ab

Capina

78,20

4,27 b

19,60 b

0,98 b

97,80 b

5,26 b

5,26 b

Roçada

120,27

5,99 ab

31,87 ab

1,78 ab

152,13 ab

7,78 ab

7,78 ab

Palha

198,67

11,75 a

52,47 a

3,12 a

251,13 a

14,88 a

14,88 a

Pousio

125,87

7,13 ab

26,73 ab

1,50 ab

152,60 ab

8,63 ab

8,63 ab

CV (%)

33,15

31,05

29,93

32,49

30,55

29,99

29,99

Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem entre si, pelo teste de Tukey,
ao nível de 0,05 (*) de probabilidade. ns= não significativo (p ≥ 0,05); CV= coeficiente de variação.

Giacobbo et al. (2014), em trabalho de avaliação da influência de diversos métodos de manejo de cobertura vegetal no solo na produtividade de figueiras, constataram que o solo manejado com cobertura resultou em maior produtividade média de frutos maduros (13194 kg.ha-1), diferindo estatisticamente de todos os tratamentos, sendo o tratamento com roçadas o que apresentou a menor produtividade de frutos maduros (5256 kg.ha-1).

Resultados obtidos por Loss et al. (2010) em diferentes sistemas de uso do solo, mostraram auxílio da cobertura morta na manutenção da umidade do solo, evitando o contato direto dos raios solares com o solo, diminuindo a temperatura em sua camada superficial e, consequentemente, a mineralização de sua matéria orgânica contribuindo para obtenção de boas colheitas.

A ocorrência de maior produção e diferenças significativas serem registradas no segundo ano pode ser explicada pelos benefícios trazidos pela manutenção do pomar ao longo do tempo, com adubações e desbrotes frequentes, além da presença dos tratamentos em longo prazo, que imprimiu maior vigor e produtividade às plantas.

Esses resultados de produtividade chamam atenção pelo fato de medidas tão simples e de baixo custo terem o poder de incrementar de maneira importante a produção de frutas, e, consequentemente a renda do agricultor. Porto et al. (1995) observaram que a permanência de restos culturais em superfície favorece não só o controle de erosão, mas também o armazenamento de água em superfície no perfil do solo e ainda exerce efeito favorável sobre a temperatura do mesmo.

O valor do figo no mercado atacadista é cotado principalmente pelo seu tamanho, pela sua cor e pela sua aparência (Chalfun, 2012).

Como pode ser visto na Tabela 3, na safra de 2013, não houve diferença entre os parâmetros avaliados nos seis tratamentos testados, nas amostras coletadas. Isto já era esperado, já que o pouco espaço de tempo entre a implantação dos tratamentos e a frutificação muito provavelmente não seria suficiente para imprimir algum benefício às características das frutas.

Tabela 3 – Massa média de frutas (g), diâmetro de fruta (cm), comprimento de fruta (cm)
e sólidos solúveis (°Brix) de figos da cultivar ‘Roxo de Valinhos’ em diferentes tratamentos
de controle de plantas daninhas, na safra de 2013. CAP/UFPEL, Capão do Leão-RS.

Tratamento

Massa média (g)

Diâmetro

(cm)

Comprimento

(cm)

Sólidos Solúveis (°Brix)

Herbicida

73,07ns

5,08ns

5,67ns

13,00ns

Plástico

55,13

4,77

5,03

11,33

Capina

69,14

5,08

5,28

11,03

Roçada

69,85

4,80

3,88

9,59

Palha

63,37

4,88

5,52

12,07

Pousio

62,90

4,80

5,42

12,67

CV (%)

13,36

4,69

20,49

26,87

Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem entre si, pelo teste de Tukey,
ao nível de 0,05 (*) de probabilidade. ns= não significativo (p ≥ 0,05); CV= coeficiente de variação.

Já na safra de 2014, houve diferença nas variáveis diâmetro e comprimento, sendo que o diâmetro de fruta foi maior nos tratamentos ‘plástico’, ‘capina’, ‘palha’ e ‘pousio’ (com médias de 4,92, 4,91, 5,08 e 4,91 cm, respectivamente) e menor no tratamento ‘roçada’ (média de 4,51 cm). O comprimento de fruta foi maior no tratamento ‘capina’ (6,36 cm) e menor no tratamento ‘roçada’ (4,51 cm). Não foi verificada diferença nos parâmetros massa média de fruta e sólidos solúveis nas amostras coletadas (Tabela 4).

As diferenças encontradas entre as safras em termos de tamanho, talvez sejam explicadas pela melhoria no sistema, impressa pelos constantes tratos culturais e pelos tratamentos em si. Neves e Dechen (2001), em trabalho com coberturas vegetais em tangerinas ‘Ponkan’, verificaram que amostras de solo coletadas dezoito meses após a instalação do ensaio apresentaram melhor fertilidade com o uso de cobertura morta, o que influi diretamente na frutificação.

Tabela 4 – Massa média de frutas (g), diâmetro de fruta (cm), altura de fruta (cm)
e sólidos solúveis (°Brix) de figos da cultivar ‘Roxo de Valinhos’ em diferentes
tratamentos de controle de plantas daninhas, na safra de 2014. CAP/UFPEL, Capão do Leão-RS.

Tratamento

Massa média (g)

Diâmetro (cm)

Altura

(cm)

Sólidos Solúveis (°Brix)

Herbicida

62, 98 a

4, 88 ab

5,92 ab

12,23ns

Plástico

61,88 a

4,92 a

6,08 ab

12,03

Capina

62,18 a

4,91 a

6,36 a

11,85

Roçada

50, 42 b

4,51 b

5,47 b

12,37

Palha

65,02 a

5,08 a

5,86 ab

12,33

Pousio

61,69 a

4,91 a

6,01 ab

12,17

CV (%)

6,61

2,78

4,54

12,73

Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível
de 0,05 (*) de probabilidade. ns= não significativo (p ≥ 0,05); CV= coeficiente de variação.

O material morto presente na área refere-se ao processo de senescência das próprias plantas daninhas. A senescência foliar é um processo natural que caracteriza a última fase de desenvolvimento de uma folha. Após a completa expansão das primeiras folhas, inicia-se o processo de senescência, cuja intensidade se acentua progressivamente com o aumento no índice de área foliar, devido ao sombreamento natural das folhas localizadas na porção inferior do dossel (Paciullo et al., 2005).

Na safra de 2013 não houve diferença no conteúdo de matéria seca do conjunto total de plantas daninhas entre os tratamentos, mas já houve diferença em relação à quantidade de grama-seda (Cynodon dactylon L.). Onde não houve interferência (tratamento 6 – pousio), a média foi superior (6,69 t.ha-1), ou seja, a infestação foi maior, como esperado. As menores infestações foram registradas nos tratamentos ‘herbicida’ (0,71 t.ha-1), ‘plástico’ (0,63 t.ha-1) e ‘capina’ (0,87 t.ha-1). As altas temperaturas dos meses iniciais do ano e o sombreamento que ocorre entre todas as espécies presentes na área podem explicar a alta quantidade de material morto onde não houve interferência (pousio), que apresentou uma média de 6,61 t.ha-1. Os mesmos fatores, somados à aplicação do herbicida também podem ter contribuído para esse tratamento também apresentar a maior média de matéria seca de material morto (6,27 t.ha-1). Salienta-se que este é proveniente do conjunto das espécies que ocorriam na área. Onde houve remoção/diminuição das plantas daninhas (capina e roçada) manualmente e também onde houve cobertura do solo (plástico e palha) foram verificadas menores quantidades desse material (Tabela 5).

No tratamento palha, que é constituído de matéria morta retirada de outras áreas do CAP, os quadrados eram jogados e o material morto coletado era aquele que ficava sobre a cobertura previamente instalada.

Tabela 5 – Matéria seca (MS) de plantas daninhas totais, grama-seda e material morto (t.ha-1)
em pomar de figueiras da cultivar ‘Roxo de Valinhos’, sob distintos tratamentos de controle
de plantas daninhas, registradas na safra de 2013. CAP/UFPEL, Capão do Leão-RS.

Tratamento

MS plantas daninhas (t.ha-1)

MS grama-seda (t.ha-1)

MS material morto (t.ha-1)

Herbicida

4,55

0,71 b

6,27 a

Plástico

1,64

0,63 b

0,24 b

Capina

9,35

0,87 b

0,61 b

Roçada

4,87

2,92 ab

0,68 b

Palha

2,55

2,33 ab

0,37 b

Pousio

7,55

6,69 a

6,61 a

C.V. (%)

79,16

79,38

44,36

Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem entre si, pelo teste de Tukey,
ao nível de 0,05 (*) de probabilidade. ns= não significativo (p ≥ 0,05); CV= coeficiente de variação.

No ano de 2014, foi verificada diferença na quantidade total de matéria seca de plantas daninhas presentes, o que não havia ocorrido no ano anterior. Neste caso, o tratamento que apresentou menor infestação geral foi aquele que recebeu plástico dupla-face, com média de 1,12 t.ha-1. Como esperado, a maior infestação ocorreu onde não houve interferência (pousio), com média de 6,99 t.ha-1. Em relação à infestação por grama-seda, os melhores tratamentos foram ‘herbicida’ e ‘plástico’ (0,35 e 0,55 t.ha-1, respectivamente) e novamente, a infestação foi maior nas parcelas em pousio (6,75 t.ha-1). A quantidade de material morto foi maior no tratamento com herbicida e menor nos tratamentos plástico, capina e palha (Tabela 6).

Tabela 6 – Matéria seca (MS) de plantas daninhas totais, grama-seda e material morto (t.ha-1)
em pomar de figueiras da cultivar ‘Roxo de Valinhos’, sob distintos tratamentos de controle
de plantas daninhas, registradas na safra de 2014. CAP/UFPEL, Capão do Leão-RS.

Tratamento

MS plantas daninhas (t.ha-1)

MS grama-seda (t.ha-1)

MS material morto (t.ha-1)

Herbicida

2,25 ab

0,35 b

3,83 a

Plástico

1,12 b

0,55 b

0 c

Capina

4,60 ab

2,65 ab

0,43 c

Roçada

4,27 ab

3,57 ab

0,72 bc

Palha

3,51 ab

3,51ab

0 c

Pousio

6,99 a

6,75 a

3,36 ab

CV (%)

46,01

54,74

72,34

Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível de 0,05 (*)
de probabilidade. ns= não significativo (p ≥ 0,05); CV= coeficiente de variação.

Nestes resultados não foi registrada diferença estatística entre o tratamento ‘palha’ e o tratamento ‘pousio’, mas para Adegas (1997), a cobertura morta mantida na superfície, funciona como elemento isolante, reduzindo a amplitude térmica e hídrica no solo e filtrando os feixes de luz de ondas longas. O processo de germinação das plantas daninhas, estando intimamente ligado a esses fatores, reduziria-se substancialmente no solo com grande quantidade de cobertura morta.

Da Costa et al. (2013) verificaram diferenças significativas para o controle de plantas invasoras em pomar de figueiras, sendo que os melhores resultados foram obtidos nos tratamentos com manutenção de cobertura vegetal de azevém espontâneo, ervilhaca e acamamento. As maiores infestações de plantas invasoras foram verificadas no os tratamentos capina, que não diferiu dos tratamentos herbicida sistêmico (glifosato) e roçada. Estes autores concluíram que com apenas um ano de manejo já foram observados benefícios do uso de coberturas em relação ao uso de produtos químicos no controle de plantas invasoras.

4. Conclusões

O controle químico pode ser substituído com sucesso pela utilização de coberturas;

A cobertura vegetal morta e plástico dupla-face no cultivo de figos melhora características produtivas e diminui a infestação por plantas daninhas;

Em relação à infestação por grama-seda, os melhores tratamentos foram ‘herbicida’ e ‘plástico’;

O tratamento ‘palha’ apresentou os melhores resultados.

Referências bibliográficas

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Chalfun, N. N. J. (2012). A cultura da figueira. Lavras: Ed. UFLA, 342 p.

Da Costa, T. et al. (2013). Influência da cobertura vegetal do solo no controle de plantas daninhas. Anais do SEPE-Seminário de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFFS, v. 3, n. 1.

De Lima Silva, D. E. et al. (2013). Produção da figueira em função do número de hastes e uso de cobertura morta. In: 5ª Jornada Científica e Tecnológica e 2º Simpósio da Pós-Graduação.

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1. Engenheira Agrônoma, Doutora em Agronomia, Universidade Federal de Pelotas, Brasil – mailto:malgarim@ufpel.edu.br

2. Engenheiro Agrônomo, Dr. Professor Adjunto – Universidade Federal de Pelotas, Brasil – mailto:malgarim@ufpel.edu.br

3. Engenheiro Agrônomo, Mestrando em Agronomia – Universidade Federal de Pelotas, Brasil – mailto:navroski@outlook.com


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 38 (Nº 28) Año 2017

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