ISSN 0798 1015

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Vol. 38 (Nº 45) Año 2017. Pág. 10

O impacto do Programa Saúde na Escola: uso da Escala Likert para avaliar os resultados das ações de saúde pública nos alunos de uma escola pública do bairro de Ceilândia, Distrito Federal, sob o aspecto do uso de substâncias ilegais

The impact of the Health Assistance in School Program: Evaluating the results of public health actions in the students of a public school in the neighborhood of Ceilândia, Federal District, under the aspect of the use of illegal substances Avaliating the results Title in english

Vinícius de Abreu Mussa GAZE 1; José Vicente Lima ROBAINA 2

Recibido: 14/05/2017 • Aprobado: 11/06/2017


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados

4. Conclusões

Referências bibliográficas


RESUMO:

O objetivo da pesquisa foi conhecer as percepções da comunidade escolar em relação aos resultados do Programa Saúde na Escola, com enfoque na drogadição e verificar os resultados relativos à reintegração social dos jovens. A metodologia utilizou pesquisa qualitativa e análise de conteúdos para interpretação dos dados através da aplicação de questionários com perguntas abertas e análise de conteúdo usando Escala Likert. Os resultados mostraram a positiva percepção pela comunidade escolar em relação ao combate às drogas na escola analisada.
Palavras-chave Políticas Públicas; Drogadição; Educação.

ABSTRACT:

The objective of the research was to evaluate the perceptions of the school community regarding the results of the School Health Program, focusing on drug addiction and verifying the results related to the social reintegration of young people. The methodology used qualitative research and content analysis for data interpretation through the application of questionnaires with open questions and content analysis using Likert Scale. The results showed a positive perception by the school community regarding the fight against drugs in the school analyzed.
Key words Public Policy; Drug Addiction; Education

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1. Introdução

A temática das drogas é um tema ainda conflitante para a sociedade atual. O tópico apresenta diversas opiniões sobre como minimizar o problema do crescente consumo de drogas no Brasil e no mundo (ROBAINA, 2007). É dado que o comércio de drogas não lícitas movimenta valores consideráveis, com estatísticas de que os consumidores gastem cerca de 150 bilhões de dólares na compra de entorpecentes por ano. Esses valores refletem o poderio que representa este comércio, mostrando a considerável entrada dessas substâncias no mundo (BARROS & PILLON, 2007).

Uma das formas de minimizar a problemática é aperfeiçoar a gestão dos recursos públicos das áreas de Educação e Saúde. É uma ação fundamental para o cumprimento dos deveres do Estado Brasileiro na área social. Com esse objetivo, os entes governamentais formularam nos últimos anos alternativas para elaborar, programar e avaliar as políticas públicas com o objetivo de aprimorar os índices de qualidade dos serviços públicos ofertados aos cidadãos. Diante desse escopo, a desfragmentação das políticas públicas apresentou-se como opção para o Estado cumprir suas obrigações constitucionais (RIBEIRO, 2010).

O Programa Saúde na Escola (PSE) foi então instituído com objetivo de promover a prestação de serviços de Atenção Básica de Saúde pelo Estado nas escolas públicas. Dentre os serviços incluídos nas ações do PSE, destaca-se o cuidado com a Saúde Mental, que trata dos alunos usuários de drogas (BRASIL, 2013).

Logo, indica-se o problema da pesquisa: quais foram as percepções da comunidade escolar em relação ao resultados do PSE frente à drogadição?; as ações implicaram resultados positivos relativos à reintegração social dos jovens? Dessa forma, o objetivo do trabalho foi de investigar as percepções dos membros da comunidade escolar e dos representantes da sociedade participantes do Programa Saúde na Escola, relativos à drogadição e os resultados referentes à reintegração dos jovens.

Os objetivos específicos, diante da redução ou eliminação do uso de drogas pelos jovens, incluíram conhecer as percepções dos familiares sobre o PSE em relação à criação e resultados dos Grupos de Famílias Solidárias; analisar a ação essencial dos mediadores do Grupo de Trabalho Intersetorial do PSE (PSE/GTI) de criação de grupos inter setoriais de discussão de ações de saúde mental/drogadição no território escolar; interpretar a ação do PSE de criação de grupos de alunos diante do manejo de conflitos no ambiente escolar; conhecer os cursos de Capacitação /EAD do PSE disponíveis aos professores e sua importância no combate ao uso de drogas pelos alunos da escola pesquisada.

A região estudada é o bairro de Ceilândia, local periférico da cidade de Brasília, Distrito Federal do Brasil. Considerada uma grande favela até se tornar uma Região Administrativa do DF em 1989, Ceilândia hoje é jovem, multicultural e palco para a força de expressão da cultura Hip Hop, típica das periferias. O bairro apresenta cerca de 398 374 habitantes, constituindo-se na Região Administrativa mais populosa do Distrito Federal.

Quanto à escolaridade da população, destaca-se o quantitativo de pessoas com ensino fundamental incompleto. O Coeficiente de Gini local indica a baixa renda e as dificuldades sociais. Logo, a escola pesquisada se configurou em um local adequado para executar o recorte de tempo e espaço para esse trabalho, por ser um ambiente com problemas sociais variados, local propício para o surgimento do problema multifatorial das drogas.

Este artigo origina-se dos resultados finais da Tese de Doutorado em Ciências da Educação defendida na Universidad Evangelica do Paraguai, na cidade de Assunção, em janeiro de 2016. As informações submetidas a esse artigo são inéditas e representam os dados ainda não publicados referentes à Tese em questão, que aborda o Programa Saúde na Escola de maneira mais ampla no que se refere ao aporte teórico e outras reflexões.

1.1. Revisão da Literatura

A revista de literatura desse artigo está embasada nas teorias Humanistas de Pestalozzi, Froebel, Herbart e Carl Roges. Essa corrente iniciou o conceito da substituição da denominação de mestre por educador.  Enquanto o mestre foi até então o responsável pelo ensino e pela instrução dos conteúdos escolares, ao educador correspondia, além das tarefas do mestre, as de ensinar aos adolescentes os sentimentos humanísticos.

Mediante a educação, o homem deveria se converter em um integrante funcional da sociedade e todos os meios que utilizassem a educação elementar deveriam estar pautados na fé e no amor (PESTALOZZI, 2006). Além da propagação das qualidades técnicas, os novos modelos docentes coincidiram com a exigência de certas qualidades humanas. Assim, virtudes como moral social, obediência à hierarquia escolar e governamental, carinho, amor e vocação passaram a compor as qualidades necessárias ao trabalho docente (DURÂES, 2011).

De acordo com sua doutrina, a aprendizagem em uma sala de aula dependeria de um ambiente facilitador, em que o professor deveria assumir atitudes humanistas durante a realização de suas práticas docentes. A didática centrada na pessoa valorizaria o professor e o aluno como indivíduos. Seu trabalho argumentou que a relação educacional pode existir em um clima de respeito mútuo, onde cabe ao professor dar ao aluno condições favoráveis para desenvolver seu potencial intelectual e afetivo. Em relação ao contexto deste trabalho, foram muitas as contribuições do autor para a educação e a saúde (ROGERS, 1974).

O educador tem a função de aceitar a pessoa do aluno, os seus sentimentos, as suas opiniões, com valor próprio, e confiar nele sem o julgar. É uma confiança no organismo humano e uma crença nas suas capacidades enquanto pessoa. Ainda de acordo com sua filosofia, o educador deve mostrar-se como uma pessoa real, sem máscara na relação com o aluno. Essa atitude levaria a relação de pessoa para pessoa, não de um papel de professor para um papel de aluno (ROGERS, 1974).

Logo, essa doutrina é adequada ao contexto necessário para lidar com a temática das drogas entre os jovens. Se as condições facilitadoras descritas pelo psicólogo estiverem presentes na relação, o indivíduo reconhece seus sentimentos, tornando-se a pessoa que deseja ser, mais flexível nas suas percepções e mais capaz de aceitar os outros. Ao modificar suas características pessoais de modo construtivo, o ser humano pode apresentar um comportamento condizente com sua realidade (ROGERS, 1974).

Em virtude das dificuldades do mundo atual, o humanismo retomou a visão holística da Medicina para todos os parâmetros de saúde das populações. Essa ação incluiu a revalorização das variantes sociais, culturais, éticas e humanas dos processos de saúde e doença dos indivíduos e das comunidades, no sentido de aproximar o cuidado em saúde das necessidades das populações (BINZ, 2010).

Dessa forma, surgiram as propostas da humanização, tomada como política, orientada por princípios e comprometida não apenas com ideais teóricos, mas também com modos de fazer, com processos efetivos de transformação e com a criação de novas realidades. Nos últimos anos, importantes passos foram dados para revitalizar os valores humanísticos na saúde, e assim, construir uma política nacional de humanização como objetivo de qualificar o SUS (BINZ, 2010).

2. Metodologia

Neste trabalho, foram aplicados os fundamentos característicos das pesquisas qualitativas. Usou-se o Método Hermenêutico, por meio da Técnica da Análise de Conteúdos, dividido em categorias principais que originaram as categorias específicas, construídas pela interpretação do discurso apresentado nas questões abertas respondidas pelos entrevistados. Vale ressaltar que uma das vantagens da entrevista qualitativa é a possibilidade de se aprofundar nos dizeres dos indivíduos.

Usou-se a interpretação do discurso, portanto, os indicadores usados constituem-se nas categorias principais e os registros mais significativos constituirão as categorias específicas para cada fala (OAIGEN, 1996). As respostas, então, foram posteriormente dispostas na Escala Likert para análise. Cabe destacar que Escala Likert trata-se de um instrumento de coleta de dados que consiste em uma escala de resposta psicométrica usada em questionários; é a mais usada em pesquisas de opinião. Ao responderem a um questionário, os perguntados especificam seu nível de concordância com uma dada afirmação.

A população da pesquisa incluiu a comunidade escolar, composta por pais, gestores do PSE, alunos e professores.  Foram entrevistadas três indivíduos em cada grupo. Esses foram entrevistados com o objetivo de compreender os saberes que os atores sociais possuíam sobre a problemática da drogadição e como o PSE mudou esse cenário. As respostas dos entrevistados foram posteriormente dispostas na Escala Likert e este então aplicado aos membros da comunidade escolar, bem como o questionário de questões abertas, em uma palestra realizada na escola pesquisada.

3. Resultados

Os dados constantes nesse item foram extraídos da análise das aplicação de questionário híbrido usando a Escala Likert. O Instrumento de Coleta de Dados (ICD) foi construído com base nas respostas obtidas em uma palestra proferida na escola estudada. Estiveram presentes 5 professores, 2 gestores do PSE e 3 membros da comunidade, numa tentativa de síntese dos significados por eles atribuídos à questão investigada.

Legenda: C= Concordo; CP= Concordo Parcialmente; NC= Não concordo; NR= Não respondeu.

 

QUESTÕES

 

hC

 

CCP

 

NNC

 

 

NNR

ITENS 5.01 a 5.07: REFERENTES AOS RESULTADOS DAS PERCEPÇÕES EM RELAÇÃO ÀS AÇÕES DO PSE.

5.01 - O curso de apoio à Saúde Mental do PSE é oferecido, mas deveria ser mais bem divulgado.

110

00

00

00

5.02 - Os profissionais da Assistência Social e da Saúde estão presentes nas ações do PSE.

88

22

00

060

5.03 - A Secretaria de Educação do DF já disponibilizou alguns cursos sobre o tema.

66

33

00

11

5.04 - Os gestores do PSE se atualizam a respeito, por estar lidando com isso dentro da escola.

110

00

00

00

5.05 - Não tive treinamento para atuar na temática das drogas.

55

33

22

00

5.06 - Nós temos o auxilio do centro de saúde, ligado ao Programa. A nossa maior dificuldade é a família do jovem.

99

00

11

0

00

5.07 - O governo poderia dar melhor orientação aos professores, criar uma semana de atividades sobre o assunto.

33

22

44

181

 

RESULTADOS DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS, ADQUIRIDOS E PERCEPÇÕES EM RELAÇÃO À TEMÁTICA DAS DROGAS.

5.08 - Os meninos são a maioria dos usuários.

88

22

00

00

5.09 – Uso de drogas é o contato com qualquer substância, que não seja legalizada, que os alunos possam usar.

110

00

00

00

5.10 - As drogas afetam a qualidade de vida das famílias dos usuários.

88

22

00

00

5.11 - A problemática das drogas destrói o ambiente familiar.

77

33

00

00

5.12 - A problemática das drogas está aumentando, apesar dos esforços do governo.

77

00

00

33

5.13 - A maconha é a droga mais utilizada, sabemos os efeitos que essa droga causa.

110

00

00

00

5.14 - O crack e o álcool são drogas que afetam indivíduos de todas as idades, devido ao fácil acesso.

110

00

00

00

5.15 - Os usuários vendem de tudo, até mesmo seus filhos, por causa da droga.

110

00

00

00

5.16 - Os alunos levam a droga pra dentro da escola.

66

33

11

00

5.17 - Em relação às drogas, a situação amenizou bastante. Essa é uma política da direção da escola de coibir o uso de drogas.

77

33

00

00

5.18 - O posto de saúde promove palestras informativas nas escolas com pessoas que já foram usuários e não são mais.

110

00

00

00

5.19 - Os jovens que buscam tratamento apresentam bons resultados.

77

22

11

00

5.20 - O consumo está diminuindo aqui nessa escola, mas nós sabemos que eles ainda usam.

66

33

11

00

5.21 - A influência do grupo social é fator desencadeante do uso.

99

11

00

00

5.22 - Jovens usuários sofrem preconceito dos demais colegas.

88

22

00

00

5.23 - Os jovens usuários acabam exteriorizando o uso.

77

11

22

00

5.24 - A dificuldade pedagógica é grande. As práticas pedagógicas se resumem a algumas palestras sobre drogas.

88

22

00

00

5.25 - Os professores procuram orientar sobre os prejuízos que a droga faz, usando atividades em sala de aula.

88

22

00

00

5.26 - O governo poderia dar melhor orientação aos professores, criar uma semana de atividades sobre o assunto.

78

22

00

00

5.27 - Os professores buscam conhecimento na internet.

77

00

00

33

5.28 - Como prevenção, os professores procuram orientar os jovens usando atividades em sala de aula, mostrando os prejuízos que a droga faz.

110

00

00

00

5.29 - Em relação à forma de lidar com esses alunos, os professores procuram não separar esses jovens dos outros alunos.

66

11

33

00

5.30 - Um dos maiores problemas da drogadição é a infrequência escolar.

110

00

00

00

5.31 - Uma das causas do uso de drogas é a baixa condição social e a facilidade de obter a droga.

110

00

00

00

Tabela 01: Escala Likert contendo as respostas dos entrevistados

QUESTÕES ABERTAS

RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS

1. Qual é a real situação da problemática das drogas nessa comunidade escolar?

Ainda existe uso de drogas nessa comunidade (10/10).

 

No entanto, o consumo está diminuindo (10/10).

2. Como o Poder Público Brasileiro pode intervir de forma eficiente no combate à problemática das drogas?

Combater as drogas com repressão policial (3/10).

 

Governo deve melhorar a vida das pessoas com emprego e educação (7/10).

3. Como você avalia as ações do Programa Saúde na Escola (PSE) nessa comunidade?

O Programa vem fazendo um bom trabalho, mas deve ser mais bem divulgado e ampliado (8/10).

 

O Programa não funciona (2/10).

4. Quais seriam suas sugestões para reduzir a problemática das drogas nessa escola?

Vigiar os jovens (3/10).

Alertar os pais sobre o problema (5/10).

Orientar os jovens (2/10).

Tabela 02: Questões abertas aplicadas e respostas dos entrevistados

O objetivo das ações que visam reduzir o consumo de drogas é diminuir o número de usuários. Então, ampliar o atendimento aos jovens drogaditos, nos níveis primário, secundário e terciário, ainda é um desafio para a instituição que tenha a intenção de diminuir o uso de drogas, segundo Ospina-Diaz & Manrique-Abril (2014).  Logo, os resultados com os servidores que atuam no Programa indicaram pontos positivos iniciais, bem como as dificuldades enfrentadas.

A interpretação do conteúdo das entrevistas indicou que é fundamental para reabilitação dos alunos usuários o interesse das famílias em encaminhar os jovens ao centro de saúde. Os relatos mostraram que os pais interessados em tratar seus filhos obtiveram sucesso, indicando que existe o aparato governamental para auxílio do problema, mesmo que ainda insuficiente ou pouco divulgado. Esses resultados são consistentes com os achados de estudo acerca do tema (VARGAS, 2013).

Os indicadores mostraram que o PSE é uma ação governamental promissora. Vale notar que o sentimento de que o uso e a comercialização de drogas na escola estão reduzindo. Os alunos usuários já estão identificados e, dessa forma, precisam receber atenção individualizada, cuidados que são o foco das ações de Saúde Mental do PSE.

É fato que já está estabelecido o intercâmbio entre a Unidade de Saúde e os profissionais da Assistência Social. Geograficamente, as unidades de ensino e saúde também são próximas e existe a interação entre os setores envolvidos. Os relatos mostram frequentes reuniões e palestras com os alunos voltados para as ações do PSE.

Um membro da comunidade que conhecia as ações de combate às drogas do Programa relatou que as capacitações oferecidas aos interessados, sugerindo que o consumo de drogas foi reduzido na unidade escolar. Logo, os resultados foram positivos, pois existe um trabalho promissor dos grupos de apoio e de tratamento para as famílias e alunos.

Os dizeres dos entrevistados mostraram que os gestores do PSE estão mais bem preparados para tratar a problemática das drogas do que os professores, muito pelo fato de terem participado dos cursos oferecidos pelo Estado como educação continuada, ao contrário dos educadores, que escolheram não participar das atividades.

A entrevistada revelou que a escola ainda usa o poder policial para abordar os usuários e apreender as substâncias. A abordagem repressora, no entanto, está sendo substituída pelo Programa de Redução de Danos. A vantagem é humanizar a forma de lidar com a drogadição, focando as ações na prevenção e nas causas do problema, acordo com (FEFFERMAN & RODRIGUES, 2006).

As outras entrevistadas foram as servidoras da unidade de saúde que trabalham junto à escola. Uma assistente social e uma enfermeira, encarregadas do gerenciamento dos grupos de convivência que objetivou prestar suporte aos usuários e familiares.

A interpretação dos dizeres da população entrevistada indicou que comunidade percebeu que existe o apoio governamental para o tratamento das drogas, apesar de sentir essa ajuda ainda distante. Os conhecimentos sobre drogas da comunidade foram baseadas no senso comum e na casuística aleatória, ao constatar que certos indivíduos apresentavam filhos usuários, porém o Poder Público não ofereceu auxílio, por exemplo.

Os alunos entrevistados mostraram-se fragilizados pelo histórico do uso de drogas. Aponta-se que na comunidade escolar o uso de drogas reduziu, se comparado às estatísticas passadas. É um reflexo dos esforços em relação ao combate às drogas. Existe um viés, entretanto, pois os alunos usuários, que são minoria, começaram a ser isolados pelos demais jovens. Esse fato dificulta a reintegração dos drogaditos. Está posto, dessa forma, o desafio que a comunidade escolar deve enfrentar: o objetivo de reabilitar os jovens para a sociedade de forma saudável, respeitando o ser humano. É um desafio possível de ser superado.

O resultado dos alunos sugeriu que o usuário de drogas é frágil, porque pensa que o uso de drogas pode lhe trazer alegria (ROBAINA, 2007). Essa afirmação é comentada pelos adolescentes em suas entrevistas. Afirmam eles, que se um aluno apresentar dificuldades emocionais, essa condição poderá levá-lo ao uso de drogas. Estes enfrentamentos são constantes na rotina dos usuários.

Os alunos usuários de drogas necessitam orientação, pois apresentam dificuldades com a autoestima e não possuem perspectivas de melhora de vida  (Robaina, 2007). Portanto, são carentes de auxílio que deveria vir de casa ou da escola, através de projetos de prevenção e tratamento, como o PSE.  A entrevista com os alunos mostra as causas multifatoriais do uso de entorpecentes, como, por exemplo, causas familiares, socioeconômicas e falta de apoio governamental e espelha a dificuldade em reduzir a incidência do problema (BARROS & PILLON, 2007). Os relatos dos alunos ilustrou a realidade enfrentada pelos diferentes atores sociais em suas vidas.

A percepção do entrevistador é de que o conhecimento dos educadores está incompleto, impossibilitando o enfrentamento do problema. O uso de entorpecentes pelos jovens parece ser um problema paralelo, distante ou desfragmentado da rotina escolar. A falta de formação técnica dos professores em relação à temática os impede de serem efetivos ao lidar com o problema.

É importante destacar que os cursos de capacitação oferecidos pelo PSE estavam ofertados para os professores. No entanto, nenhum educador cursou o programa de capacitação oferecido.

Com a realização desta pesquisa, alguns aspectos relevantes permitiram que fosse levada em consideração a temática das drogas, e como o poder público pode auxiliar no seu enfrentamento. Partindo desta premissa, é possível recomendar um trabalho mais amplo de divulgação da problemática das drogas na comunidade leiga. Essa ação é importante para prevenir os novos casos de drogadição e auxiliar no tratamento dos jovens drogaditos.

4. Conclusões

As ações públicas como o PSE podem auxiliar no combate às drogas, mas ainda são desconhecidas por parte da comunidade. Vários fatores levaram os alunos ao uso de drogas ilícitas. No entanto, nem todos estavam ao alcance de resolução por parte dos gestores do Programa. Conclui-se que estimular os professores a se capacitar é um deles. São diversas as barreiras a serem superadas. Entretanto, foi notório o impacto positivo em relação à possibilidade de atendimento aos jovens dessa escola do bairro de Ceilândia/DF se os esforços continuados forem empregados por parte dos entes governamentais, através dessas modalidades de ações integradas, como o Programa Saúde na Escola.            

Referências bibliográficas

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1. Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Doutor em Ciências da Educação – Universidad Evangelica do Paraguay. Email de contato: viniciusgaze@yahoo.com.brviniciusgaze@gmail.com

2. Doutor em Educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Email de contato: joserobaina1326@gmail.com


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