ISSN 0798 1015

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Vol. 39 (Nº 17) Ano 2018. Pág. 10

Cultura de Massa: as influências na vida das pessoas do campo

Mass Culture: its influence on the lives of rural inhabitants

Rosana Cristina Xavier CORREIA 1; Alexandre VANZUITA 2; Alessandro PEREIRA 3; Daniela Neto de Oliveira PEIXER 4; Janaína PINHEIRO 5

Recebido: 20/12/2017 • Aprovado: 11/01/2018


Conteúdo

1. Introdução

2. Cultura de massa

3. Cultura de massa e o meio rural brasileiro

4. Comunidade dos Macacos e Comunidade do Rio do Meio

5. Conclusões

Referências bibliográficas


RESUMO:

Este estudo tem por objetivo analisar se a cultura de massa influencia a vida das pessoas do campo. A abordagem metodológica foi de cunho qualitativo e o procedimento técnico eleito foi pesquisa bibliográfica e análise de relatórios. Por meio dos dados produzidos nesta pesquisa, identificamos que a cultura de massa influencia a vida das pessoas do campo de forma indireta, por estar relacionada com a globalização, bem como de forma direta, dado que o contato com essa cultura promove transformações na cultura tradicional.
Palavras chiave: Cultura de massa; meio rural; globalização

ABSTRACT:

This study investigates whether mass culture influences the lives of rural inhabitants. The methodological approach was qualitative, and the technical procedure elected was bibliographic research and analysis of reports. Through the data produced in this study, we identified that mass culture influences the lives of rural inhabitants indirectly, as it is related to globalization, and also directly, given that contact with this culture results in changes to the traditional culture.
Keywords: Mass culture; rural environment; globalization

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1. Introdução

Esta pesquisa surge durante o processo de formação acadêmica no curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense – IFC Campus Camboriú. Momento em que foi possível relacionar os estudos propostos pelas disciplinas Metodologia de Pesquisa – cujo estágio de observação foi realizado – com as disciplinas Corpo e Movimento; Jogos, Brinquedos e Brincadeiras e a disciplina Estágio Supervisionado em Modalidades da Educação Básica no qual foi realizado estágio em uma escola localizada no campo. A partir dos conhecimentos construídos e das observações realizadas durante este processo de formação surge a questão: a cultura de massa influencia a vida das pessoas do campo?

O objetivo deste estudo foi analisar se a cultura de massa influencia a vida das pessoas do campo. Para tal, realizamos a revisão bibliográfica sobre a problemática e análise de relatórios de pesquisa de estudantes formandos em Licenciatura em Pedagogia do IFC Campus Camboriú. Assim, aprofundamos o conhecimento do conceito de cultura de massa, bem como procuramos compreender se existe relação entre cultura de massa e o meio rural brasileiro e realizamos análise de relatórios a fim de identificar se havia aspectos que pudessem assinalar à influência da cultura de massa em duas comunidades rurais. Ao final, identificamos, por meio dos dados produzidos na presente pesquisa, que a cultura de massa influencia a vida das pessoas do campo de forma indireta e direta, aspectos que serão tratados ao longo da discussão.

2.  Cultura de massa

As relações estabelecidas entre os seres humanos e entre o ser humano e a natureza constroem a história da humanidade. Na perspectiva desse movimento variável e invariável do ser humano é possível constatar muitas transformações, entre elas, o surgimento da cultura.

A palavra cultura nos remete a diversidade de costumes, valores e normas que Blackburn (1997) define como:

O modo de vida de um povo, em que se incluem suas atitudes, valores, crenças, artes, ciências, modos de percepção e hábitos de pensamento e de ação. As características culturais das formas de vida são aprendidas, porém muitas vezes são demasiado abrangentes para serem facilmente detectáveis a partir de seu interior (BLACKBURN, 1997, p. 85). 

Para Hall (2013) a cultura não é apenas uma prática ou a soma de costumes, mas um padrão de organização. Bauman (2012, p. 18), define a cultura como uma forma de expressar, ou melhor, “[...] significa tanto inventar quanto preservar; descontinuidade e prosseguimento; novidade e tradição; rotina e quebra de padrões; seguir as normas e transcendê-las”.

Compreende-se que o desenvolvimento da humanidade, a priori, ocorreu em prol da sua sobrevivência. Isso fez com que o homem desenvolvesse diversas técnicas que ao longo do tempo evoluíram. Sobretudo, as primeiras ferramentas desenvolvidas como as armas de caça e os utensílios domésticos até a criação das embarcações proporcionaram ao homem a exploração de espaços antes desconhecidos. Ao lutar pela sua existência ele desenvolveu técnicas cada vez mais avançadas e, com isso, procurou dominar a natureza. Dentro desse processo evolutivo as relações humanas também foram transformadas, instituindo-se a troca de mercadorias, a evolução científica e as atividades econômicas que impulsionaram o homem a buscar novas terras. Houve o desenvolvimento agrícola e industrial que, posteriormente, deu origem à industrialização da cultura.

Para Morin (2011a), atualmente existem diversos tipos de cultura, como a cultura humanística, cultura científica, cultura religiosa, cultura nacional, cultura de massa, etc. O autor faz uma definição de alguns tipos de cultura, como por exemplo, a cultura religiosa, que se baseia na identificação com o Deus que salva e difere da cultura Nacional que se introduz através da escola, da identificação e projeção dos heróis da pátria.

O Estado constitui o aparelho central de comando e de controle da sociedade. Seu poder é de conhecimento, de decisão, de dominação, de repressão. Memoriza (arquivos), calcula, computa, rege, decide, ordena. Dispõe de uma administração que centraliza a informação e o saber, fixa as normas escritas, os arquivos, as instruções, estabelece previsões e propõe programas. O Estado produz seu código, suas leis, decretos. Leis e decretos entram no patrimônio cultural e assumem virtudes geradoras (MORIN, 2012b, p. 178).

Portanto, para Morin (2012b), o Estado produz sua cultura e procura introduzi-la na sociedade. Procura convencer e educar, a fim de adaptar o público à sua cultura, tendo interesse político e ideológico. Dependendo do seu caráter liberal ou autoritário, o Estado tem poder de interferir nos conteúdos podendo censurar, controlar, orientar, domesticar ou politizar. Desse modo, Morin (2011b, p. 276) afirma que o Estado é “[...] um ser vivo”. E simultaneamente se constitui “[...] social, político, cultural, religioso e mitológico” (MORIN 2011c, p. 184). No que se refere ao mito do Estado, o autor afirma que ele consiste “[...] nas ideias concretas de território, da tribo e da fraternidade consanguínea, que se estende num vasto espaço e em milhões de desconhecidos”, que vivem sobre a proteção da autoridade paternal e do amor maternal 6 (MORIN, 2011b, p. 277).

Morin (2010; 2011a) traz, ainda a definição do que são, em sua concepção, as três grandes culturas. A primeira, a cultura humanística, refere-se às reflexões que se faz sobre o bem, o mal, a existência ou não de Deus, o sentido da vida e a moral. Essa cultura alimenta a inteligência geral e nos permite enfrentar as grandes interrogações humanas, estimulando a reflexão sobre o saber e favorecendo a integração entre os conhecimentos. A segunda, a cultura científica, diz respeito aos aspectos desconhecidos da realidade e se desenvolve de forma fragmentada, separando os conhecimentos. Acarreta admiráveis descobertas, teorias geniais, mas não reflete sobre o destino humano e/ou da própria ciência. E finalmente, com relação à cultura de massa, trata-se daquela produzida industrialmente, que se difunde através da mídia e cujo consumo é distraído e imediato.

2.1 Cultura de massa: onde está sua raiz?

O ser humano é concebido como um ser sempre em movimento e em evolução. Tem buscado por meio de diversas técnicas, aprimorar as condições de sua sobrevivência e ainda, conquistar o mundo. Este movimento humano gera diversas formas de organização, que vão da dispersão à aglomeração dos indivíduos. Assim, Morin (2012b) afirma que foi na pré-história que ocorreu a primeira globalização, ou seja:

Antes mesmo do começo da história, nossa espécie estabeleceu colônias em todo o planeta. Ao longo desta diáspora ele produziu uma diversidade extraordinária de línguas, de culturas, de destino, fontes de inovações e de criações em todos os campos, fonte também de desconhecimento recíprocos. Os seres humanos, separados, esqueceram a identidade comum e se tornaram estranhos uns aos outros. (MORIN, 2012b, p. 225).

No entanto, a técnica, que é impulsionada pelas necessidades humanas e pelo desejo de conquista, acaba por unir os povos que antes estavam separados, dando origem ao que o autor chama de a “primeira colonização” 7. Morin (2012b, p. 215) afirma ainda que a técnica não nasce apenas das necessidades humanas mas nasce “[...] também da paranoia, do desejo e do sonho”. Sonho de voar, mergulhar, ir para a lua, provocando cada vez mais invenções técnicas. Esse progresso técnico deu origem à evolução industrial, que se alastrou por todos os países e estendeu seu poder até o início do século XX, chamada de “segunda colonização” 8.

A este movimento histórico, Morin (2012b) chama de era planetária, e destaca que o seu movimento ocorre a partir de duas hélices. A primeira hélice é impulsionada pela conquista: provocando destruições culturais e terríveis submissões, e ao mesmo tempo, suscitando comunicações e trocas. “[...] A Europa atira-se sobre o mundo. Implanta a sua civilização, as suas armas, as suas técnicas, as suas concepções em todas as suas feitorias, entrepostos, zonas de penetração” (MORIN, 2012b, p. 226).

Na perspectiva de Morin (2012b), é a primeira colonização que põe os cinco continentes em comunicação impulsionada pela primeira hélice. Morin (2012b) afirma ainda, que foi no século XIX que o desenvolvimento industrial deu aos Estados Unidos superioridade militar que o levou a completar a colonização mundial. E foi no início do século XX, a partir da Segunda Guerra Mundial, que os Estados Unidos conquistam a supremacia política e econômica.

É também no século XX que a aliança entre ciência e técnica sela-se e todas as invenções e inovações foram rapidamente utilizadas pelo setor estatal e econômico, que posteriormente ampliou-se na indústria, em benefício do capitalismo. Com isso, nasce o que Morin (2012b) chama de quadrimotor derivado da aliança entre a ciência, a técnica, a economia e o lucro.

Morin (2012b, p. 238) afirma que, atualmente, este quadrimotor impulsiona a primeira hélice na era planetária e esta “[...] megamáquina dispõe da prodigiosa rede de comunicação aérea, telefônica, informática e virtual que se desenvolveu nas últimas décadas”. Morin (2012b) enfatiza, ainda, que a primeira hélice é dirigida por uma elite internacional de executivos, managers, experts e economistas. A autoridade dessa elite baseia-se, como disse Lasch (1996 apud MORIN, 2012b, p. 237) “[...] no controle da informação, na competência administrativa e na educação especializada de alto nível”. Trata-se da “segunda colonização”. Mas, foi a partir do século XX, mais precisamente, em 1989, que a palavra globalização foi imposta aos espíritos “[...] mascarando o fato de que a mundialização começou a partir de 1492 com Colombo e Vasco da Gama” (MORIN, 2012b, p. 227). Com a globalização surge um novo modelo de sociedade que Morin (2011d, p. 166) afirma ser a “[...] sociedade-mundo”. A primeira hélice da era planetária refere-se, portanto, a uma globalização técnica e econômica que é institucionalizada, bem organizada e movida por um pensamento único que:

[...] dispõe de sociedades multinacionais, de sedes em vários lugares e de numerosos canais de comunicação. A megamáquina transpõe as nações, mas não tem aparelho central, somente pequenos equivalentes ganglionários de um sistema nervoso: banco mundial, FMI, OMC, FAO, instâncias pouco reguladoras. (MORIN, 2012b, p. 236-237).

Já a segunda hélice da era planetária é impulsionada pelas contracorrentes surgidas das reações às correntes dominantes. Surge em resposta à segunda colonização e Morin (2012b) a chama de “segunda mundialização”.

A segunda mundialização, que impulsiona a segunda hélice comporta a emancipação dos dominados, explorados e colonizados e, segundo Morin (2012b) nasce no Ocidente para o Ocidente 9, como exemplifica o autor: [...] primeiro ampliadas ao horizonte do mundo pelos socialistas internacionalistas, as ideias de direitos dos povos e de direito à nação foram assumidas pelos dominados em prol da libertação deles.  (MORIN, 2012b, p. 232).

A partir da concepção e da luta pelos direitos humanos, dos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, da ideia de democracia e de solidariedade humana, Morin (2012b) atesta que houve uma mundialização do humanismo, favorecida pelo desenvolvimento das comunicações, que não estão apenas a serviço dos dominadores.

Foi a partir da segunda colonização, responsável por impulsionar a primeira hélice da era planetária, que surge o que Morin (2011a) chama de terceira cultura: a cultura de massa 10 que é propagada pelas técnicas de difusão maciça destinando-se a uma massa social. Trata-se da terceira colonização, que Morin (2011a) afirma ser a colonização do espírito.

Assim, Morin (2011a) assinala que foi através do surgimento de algumas tecnologias como o cinema, o rádio, a TV e o jornal impresso que houve o desenvolvimento das comunicações, possibilitando a propagação da cultura de massa, que teve sua origem a partir da tipografia. Sendo mais tarde, produzida segundo as normas maciças de fabricação industrial. Ela não é apenas resultado, mas também promove a globalização.

Corroborando com Morin (2012b), Briggs e Burke (2016) afirmam que diferentes meios de comunicação contribuíram para o surgimento da esfera pública, pois através desses meios os grupos sociais compartilhavam informações, valores e atitudes que deram origem a diversos acontecimentos, como a Reforma, as guerras religiosas, a Guerra Civil Inglesa, a Revolução Gloriosa de 1688 e a Revolução Francesa de 1789. Para Briggs e Burke (2016) esses acontecimentos foram tanto causa quanto consequência dos meios de comunicação, além de modificar o sistema de comunicação.

Desse modo, é possível perceber que foi depois do surgimento das novas formas de comunicação que a cultura de massa encontrou um solo propenso para nascer e para se desenvolver. Para Eco (2001) foi com o advento da era industrial e o acesso das classes subalternas ao controle da vida associada que estabeleceu-se na história contemporânea uma civilização dos mass media 11, cujo sistema de valores foi modificado.

Assim, teria sido em 1930, para Morin (2011a), o marco do surgimento da Indústria Cultural nos Estados Unidos, seguindo os moldes da divisão do trabalho. Morin (2011a) afirma ainda que sem os impulsos prodigiosos do espírito capitalista, as invenções técnicas não teriam conhecido um desenvolvimento tão radical e maciçamente orientado como o da Indústria Cultural. Concebe a origem da Indústria Cultural a partir do desenvolvimento técnico, industrial e capitalista das sociedades burguesas mais evoluídas. Ela é uma aposta que provoca o desenvolvimento técnico e econômico, fruto de um diálogo entre uma produção e um consumo. Reafirma-se que a Indústria Cultural não apenas resulta da globalização, mas também promove a globalização.

Nesse sentido, Martín-Barbero (1997) afirma que o poder que os Estados Unidos adquiriu no cenário mundial exerceu grande influência na transformação cultural, por ser neste país que ocorreu o maior desenvolvimento dos meios de comunicação. Deste modo, o estilo de vida norte-americano edificou-se como sinônimo de progresso e modernidade. Ele afirma ainda que:

A combinação do desenvolvimento tecnológico com abundância de créditos possibilitou a produção massiva de uma boa quantidade de utensílios, barateando seu custo e abrindo às massas as comportas do consumo, inaugurando o “consumo de massa”. [...] Para o “sistema”, era indispensável educar as massas para o consumo. (MARTÍN-BARBERO, 1997, 192-193, grifo do autor). 

A publicidade, segundo Martin-Barbero (1997), passou a invadir tudo, transformando a comunicação inteira em persuasão, dedicando-se a divulgar e a dar nova forma aos objetos, configurando-se como a maior força que determina o atrativo da cultura de massa e ainda, tornando-se a melhor expressão de que o consumo se converteu em cultura.

Logo, Morin (2011a) afirma que para difundir-se a cultura de massa extrai conteúdos de diversas culturas e se transforma em uma cultura universal. Por onde passa, tende a quebrar com as estruturas das relações humanas da cultura folclórica arcaica. Os folclores, a presença viva, humana, a expressão viva dos gestos, mímicas, vozes e a participação coletiva são reintroduzidas na cultura industrial. Ela “[...] quebra a unidade da cultura arcaica na qual em um mesmo lugar todos participavam ao mesmo tempo como atores e espectadores da festa, do rito, da cerimônia” (MORIN, 2011a, p. 53).

Desse modo, para Morin (2011a), foi a cultura de massa que fragmentou a cultura folclórica urbana e rural e as transformou em produtos culturais homogeneizados para o consumo maciço. Assim, certos folclores foram absorvidos pela cultura de massa e universalizados. As festas rurais, os jogos e as danças antigas foram substituídos pelos bailes, pelas canções da moda.

Morin (2011a) destaca ainda que a cultura de massa projeta sonhos que podem se transformar em aspirações ou desprazer. Fato que pode ser observado no consumo, pois as classes favorecidas consomem, mas as classes populares não têm acesso a esse consumo gerando insatisfação, reivindicação e revolta. Portanto, muitos partidos políticos se beneficiam das aspirações das massas populares prometendo a elas a americanização da vida, empunhando a bandeira do bem-estar, do consumo, da garantia do emprego, da liberdade individual e coletiva. Até mesmo a “[...] intervenção do poder político no meio da cultura postula igualmente um final feliz, porque o poder afirma que tudo é bom na sociedade que ele governa” (MORIN, 2011a, p. 89).

Logo, se a política do Estado for uma política liberal, Morin (2011a) afirma que a cultura de massa se desenvolve livremente. De maneira que, para o autor, um Estado cuja política é liberal tem sua economia cada vez mais apoiada nas grandes forças mundiais e no capital internacional.

No que se refere aos sonhos que a cultura de massa pode projetar, Leal (1990), ao analisar a novela das oito, Sol de Verão, da Rede Globo de televisão, que foi ao ar nacionalmente de 11 de outubro de 1982 a 19 de março de 1983, afirma que:

O grupo de classe popular busca a participação em símbolos de um universo que supõe ser dominante. [...] A imagem e a fala da novela das oito que saem do aparelho televisor fazem parte do sistema de significados que a reconhece como poder. [...] elas encantam, elas têm um baú, uma aura, que mobiliza os sentimentos e lhes apresenta uma satisfação no final (LEAL, 1990, p. 87).

Tendo em vista todas as observações mencionadas até o momento, foi possível perceber que os seres humanos vivem num processo constante de transformação. Ora conservam, ora recriam ou inventam. E é neste processo que a cultura nasce, se desenvolve e se transforma. Portanto, foi a partir de uma criação humana – a tecnologia – e o seu desenvolvimento, que surge as tecnologias de comunicação, ou seja, a comunicação se une a tecnologia. Com isso houve também uma transformação na forma de se comunicar devido o fato de que os meios de comunicação passaram a fazer parte da indústria, constituindo a Indústria Cultural, produzindo a cultura de massa.

Portanto, é neste movimento cíclico de conservação, recriação e invenção que a cultura de massa, ao mesmo tempo, em que é fruto da globalização também provoca a globalização, o desenvolvimento técnico e econômico. Ela tende a conquistar todo o globo terrestre e, quando utilizada para fins políticos ou econômicos, pode imprimir ideias em uma sociedade e também promover o lucro e a ampliação do capital de determinados grupos que constituem a sociedade de um país.

3. Cultura de massa e o meio rural brasileiro

No início do século XX a cultura de massa surge nos Estados Unidos, enquanto no mesmo período aqui no Brasil, Leal (2009) afirma que iniciávamos a transmissão radiofônica, cuja audiência se concentrava na elite social, econômica e intelectual. Só mais tarde ocorreu uma transformação no conteúdo da programação, que passou a ter programas de entretenimento e variedades. Em 1930, quando a transmissão foi regulamentada, o rádio passou a ser um privilégio do Estado que podia utilizá-lo para o bem público. A partir daí começou a surgir a venda de espaços comerciais de publicidade, principalmente para a publicidade americana. Isso exigiu a contratação de atores, cantores, humoristas, locutores, técnicos em eletrônica e produtores. Esse período foi considerado a era do rádio. Assim, a profissionalização do rádio concretiza o seu padrão industrial e em 1950 se integra à televisão. Surge a TV Tupi-Difusora, que era uma emissora do Diário Associados de Assis Chateaubriand. 

Leal (2009) afirma ainda que o Brasil foi o sexto país do mundo e o primeiro país da América Latina a ter uma emissora de televisão. O impulso para o desenvolvimento da TV no Brasil foi dado pela ditadura militar:

As políticas de crédito direto ao consumidor e a atração de investimentos privados estrangeiros ajudaram, de uma forma geral, a acelerar o mercado, não apenas o televisivo, no país e a torná-lo mais urbano. Por exemplo, em 1968 era possível adquirir um televisor, em até 36 vezes, com juros muito baixos. O número de aparelhos de TV aumentou e, consequentemente, o número de telespectadores (LEAL, 2009, s/p.).

O projeto de modernidade do Brasil parece ser aceito, de fato, pela população, após o surgimento da TV e, mais precisamente, após a sua expansão que ocorreu por meio da Ditadura Militar.

Silva (2015) afirma que após a Segunda Guerra Mundial os americanos foram requisitados para arquitetar um projeto de liberdade traduzido na ideologia da modernização:

Nestes termos, cultura, autogoverno e desenvolvimento substituíram as características imperialistas do século XIX, como raça, governo estrangeiro e exploração de recursos matérias. Desta forma, os debates sobre o conceito de cultura demonstravam que as diferentes sociedades poderiam ser modificadas dentro de um padrão a ser seguido, tendo os Estados Unidos como modelo (SILVA, 2015, p. 28). 

Em 1946 Nelson Rockefeller 12, por meio de uma iniciativa de uma “[...] agência privada de cunho filantrópico”, implantou no Brasil o projeto American International Association for Economic And Social Development (AIA) 13 (SILVA, 2015, p. 26).

Embora esse projeto tenha obtido certo sucesso, Silva (2015) afirma que ele encontrou muita resistência de reacionários que se opunham a modernização, principalmente aos programas de assistência técnica e extensão rural.

Somente após a Ditadura Militar brasileira pode-se afirmar, com segurança, que a TV passou a ser o principal instrumento utilizado como um meio de difusão de ideias:

[...] utilizando-se da televisão como estratégia para solidificar sua dominação, os governos militares trabalharam para a hegemonia das mensagens transmitidas, de maneira a incrementar e difundir, junto a população, os planos políticos e econômicos a serem implementados no país, principalmente a partir da revolução de 1964 (JULIANO, 2003, p. 123).

Além da TV, a imprensa escrita e o rádio passaram a divulgar a imagem do Brasil como sendo um país de tranquilidade social e de potência econômica para atrair o interesse de corporações internacionais, a fim que elas investissem no país. Assim, se inaugura no Brasil, para Juliano (2003, p. 126) a “[...] nova fase da economia capitalista liberal da década de 1980, onde a Indústria Cultural aparece para gerar convicções em todas as camadas da população, e não apenas entre as classes populares”, ou seja, “[...] na nova era colonizadora, são as mídias, os navegadores que atravessam os ares e não os mares” (JULIANO, 2003, p. 148).

Na sua análise da telenovela, Que Rei Sou Eu? da Rede Globo de televisão, Juliano (2003, p. 143) aponta para  a ideia de que o título da telenovela  revela uma história e traz em si uma dúvida, ou seja, a de “[...] um país que se pergunta pela cara do poder”. A partir do que foi exposto pela autora (JULIANO, 2003), podemos supor que a economia capitalista liberal encontra um momento favorável para se instalar em nosso país após a Ditadura Militar, no qual a cultura de massa cumpre o seu papel e “[...] convocam a mimese” 14 (JULIANO, 2003, p. 146).  Isto é, por meio da cultura de massa se instala a ideia da modernidade e, como observou Morin (2011a), na cultura de massa se consome um ideal de vida, ocultando-se uma mitologia da felicidade, e, assim, se constrói a ideia de paz, de progresso e de bem-estar do povo brasileiro.

Villas Boas (2012), depois de realizar uma análise sobre a configuração da hegemonia a partir do pós-golpe de 1964, acrescenta que após esse período vivemos duas décadas de modernidade conservadora, no qual emergiu uma sociedade urbana resultante de uma violenta migração do campo para a cidade. De maneira que, para Villas Boas (2012), a Indústria Cultural ocupou papel central na consolidação desse ciclo de modernização conservadora que resolveu a equação do poder hegemônico, deixando de ter a coerção como mola propulsora, para mover-se consentimento.

Vilas Boas (2012) sustenta a ideia de que alguns intelectuais diagnosticaram a disputa ideológica protagonizada pelos meios de comunicação de massa como vetor principal da manutenção do poder. Embora tivéssemos retornado ao regime democrático poderíamos, ainda, estar vivendo sobre outra forma de totalitarismo e, “[...] desde então, democracia no Brasil tornou-se sinônimo de garantia das condições para a massificação do consumo, este sendo um dos principais índices de avaliação individual do desempenho dos governantes” (VILLAS BOAS, 2012, p. 161).

Segundo Villas Boas (2012), após os vinte anos em que o poder das forças armadas permaneceu no Brasil, se consolidou a Indústria Cultural, coincidindo com o período de modernização do sistema produtivo do campo e também com a migração da população do campo para a cidade. Sendo assim, a esfera dos meios de comunicação é um aparelho de coação e um instrumento de acumulação de riqueza e influência, ou seja, um meio de difundir o pensamento hegemônico da classe dominante. Esse poder é sustentado pelo tripé “[...] monopólio da terra + controle dos meios de comunicação + poder político eleitoral” (VILLAS BOAS, 2012, p. 167).

Assim, pode-se relacionar a concepção de Morin (2011a, 2012b), segundo a qual o Estado cria sua cultura e procura educar e domesticar, defendendo interesses políticos e ideológicos, podendo controlar e manipular a Indústria Cultural com a ideia de Villas Boas (2012), de que um tripé sustenta o poder da classe dominante brasileira.  No caso do Brasil percebe-se que houve interferência de determinados grupos sobre os meios de comunicação e o que deveria ser um espaço de manifestações culturais e artísticas se expandiu para propagar os interesses da classe dominante.

Podemos ainda relacionar a ideia de monopólio da terra, de Villas Boas (2012), com o movimento migratório interno do nosso país, cujo ápice coincide com o incentivo à Indústria Cultural, apontado por Juliano (2003), e também com a modernização do campo. A simultaneidade desses processos é atestada por Matos e Pessoa (2011):

[...] a consolidação efetiva da agricultura moderna ocorreu a partir de 1960, com a adoção das inovações tecnológicas no processo produtivo (inovações agronômicas, físico-químicas, biológicas) e com a constituição dos complexos agroindustriais, o que gerou uma nova configuração socioeconômica e espacial para o campo brasileiro (MATOS e PESSOA, 2011, p. 2).

Na figura 1, a seguir, acessamos os dados divulgados na Sinopse do Censo Demográfico de 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pode-se observar as datas entre 1960 a 1980 - que estão relacionadas com o período de modernização, apontados por Juliano (2003) e Villas Boas (2012) – e a simultaneidade com o período de incentivo à Indústria Cultural e também com o período de maior êxodo rural.

Figura 1
População nos Censos Demográficos, segundo as Grandes Regiões,
as Unidades da Federação e a situação do domicílio - 1960/2010

 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2010.

Segundo os dados divulgados em 1960 a população urbana no Brasil era de 32.004,817 passando para 82.013,375 no ano de 1980. Houve, portanto, uma diminuição da população no meio rural, o que sugere que a terra passou das mãos de pequenos agricultores para as mãos de latifundiários. Octaviano (2010) afirma que, a fim de difundir as tecnologias agrícolas, foi introduzida no Brasil nas décadas de 1960 e 1970 a Revolução Verde 15, que ganhou força através do discurso de matar a fome da população. Mas, como pode ser observado em uma pesquisa organizada por Sambuichi et al (2016) e divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), atualmente 16% dos estabelecimentos rurais são considerados comerciais, e são estes empreendimentos os que mais investem em capital, trabalho e tecnologias, gerando 66% da renda bruta, com uso de 76% da terra disponível.  No outro extremo, 84% dos estabelecimentos são classificados como familiares, e são os responsáveis pela maior parte da produção de muitos dos alimentos básicos consumidos pelos brasileiros, gerando 34% da renda bruta e ocupando apenas 24% da área total dos estabelecimentos agropecuários.

Portanto, pode-se observar que o intuito da modernidade na agricultura, para alguns grupos, tinha como objetivo matar a fome, contudo, para outros, seria uma oportunidade de se adequar a economia brasileira ao liberalismo econômico. Assim, todo o movimento que gira em torno do meio rural brasileiro tem sua origem a partir do projeto de modernidade aliado ao sistema capitalista, fato que também contribui para entender a forma como ocorreu o desenvolvimento da TV no Brasil. Com o desenvolvimento dos meios de comunicação surge a cultura de massa no Brasil. Portanto, a sua origem no Brasil pode ser relacionada com a ideia de Morin (2012b), de que ela está aliada à primeira hélice da era planetária, impulsionada pela conquista que promove o desenvolvimento da globalização técnica e econômica. Ou, para reforçar mais ainda as suas características, à concepção de Morin (2011a), de que a Indústria Cultural passa, de um lado, pelo crivo do Estado e, de outro, pela economia capitalista.

Assim, retomando a discussão sobre a relação entre o meio rural e a Indústria Cultural, é importante ressaltar, conforme Oliveira (2012), que o discurso hegemônico de modernização do campo é difundido pela Indústria Cultural que deixa também de captar e expressar as complexidades culturais e sociais do mundo rural, promovendo estratégias discursivas para gerar deslocamentos semânticos sobre o significado e a composição social do meio rural, capazes de expressar e alimentar um imaginário em harmonia com a lógica de ampliação do capital, organizada, principalmente, pelo agronegócio. Entretanto, Morin (2011a) afirma que o que ocorre na verdade é que os conteúdos são desintegrados, transformados na cultura de massa e metamorfoseados e transformados em uma cultura universal.

Mas se, por um lado, o discurso presente na Indústria Cultural fez desaparecer o agricultor tradicionalista e os movimentos sociais, Oliveira (2012) afirma que, por outro lado, incentivam a criação de hotéis-fazenda, pequenas indústrias e outras formas de empreendimentos compatíveis com as demandas atuais do mercado. Promovem o marketing rural causando ruptura entre terra produtora e terra paisagem, que na perspectiva de Carneiro (2008) aponta para um renascimento ou ressurgimento do rural, decorrente da abertura ou relativização dos aspectos do mundo rural vinculada à atividade agrícola:

O rural associado a essa ressignificação da natureza e da cultura passa a ser visto como lugar de outro tipo de trabalho, não mais restrito à produção de alimentos e de matérias-primas para as indústrias, mas como de produção de bens simbólicos que alimentam a indústria cultural e a comunicação entre universos culturais distintos, sejam de origem urbana ou de origem rural (CARNEIRO, 2008, p. 25).

Segundo Carneiro (2008), a natureza passa a ser vista como objeto de contemplação em detrimento do lugar de produção. O turismo no campo, um tipo de lazer incentivado pela cultura de massa, como enfatizado por Morin (2011a), traz benefícios às comunidades rurais do ponto de vista econômico, porém proporciona também mudanças de hábitos e de tradições (ESPEIORIN E POZENATO, 2010). Percebe-se que a cultura de massa influencia a vida das pessoas de forma ampla, provocando transformações em diversas localidades. Neste sentido, a própria Ciência Geográfica vem desenvolvendo o estudo da categoria lugar a partir da Indústria Cultural, como apontam os estudos de Valverde (2015) e de Paiva (2016).

Portanto, percebe-se que a relação entre a cultura de massa e o sujeito do campo, no caso do Brasil, parece ter sido mediada pela ideologia hegemônica da modernidade, no qual a Indústria Cultural foi utilizada como instrumento de divulgação e de materialização desse projeto de modernização (JULIANO 2003; VILLAS BOAS; 2012; OLIVEIRA 2012).

Atualmente, podemos observar que a modernidade trouxe avanços tecnológicos que se tornaram acessíveis ao sujeito do campo. Além das tecnologias como os maquinários agrícolas que facilitaram o trabalho, também puderam ter acesso às tecnologias que constituem os meios de comunicação, causando transformações sociais e culturais, sendo a TV o meio de comunicação que exerce maior influência no comportamento do sujeito do campo, no que se refere ao estímulo ao consumo, às transformações nos relacionamentos. (ESPEIORIN E POZENATO, 2010).   

Deste modo, é possível perceber que o projeto de modernização do Brasil promoveu a massificação, sendo que os sujeitos do campo foram incluídos. Assim, Juliano (2003) afirma que na Europa e nos Estados Unidos tais transformações políticas e econômicas da massificação tiveram seu auge no início do Século XX. No Brasil, esse processo que só foi ocorrer a partir de 1950, data que coincide com o surgimento da TV no país.

Portanto, percebemos que a expansão da TV como parte do projeto de modernidade do Brasil permitiu também em nosso país o desenvolvimento da globalização tecnológica e econômica. Esse desenvolvimento permitiu que as tecnologias de comunicação fossem acessíveis a população do meio rural. Com isso essa população passou a ter acesso a cultura de massa e a tudo que envolve esta cultura.

4. Comunidade dos Macacos e Comunidade do Rio do Meio

Com a finalidade de identificar alguns aspectos de comunidades rurais que pudessem nos prover algumas evidências da influência da cultura de massa nestas localidades realizou-se a análise de quatro (4) relatórios de estágio em escolas do campo elaborados em 2016.

Os quatro (4) relatórios foram elaborados em duplas, por oito (8) acadêmicas da turma LP/13, no sétimo período do curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense, Campus Camboriú, na disciplina de Estágios Supervisionados em Modalidades da Educação Básica.

Uma das duplas realizou estágio na Escola de Campo Professor Hercílio Zimmermann, localizada na Estrada Geral dos Macacos, na Vila Conceição, no Município de Camboriú. As outras três (3) duplas realizam estágio na Escola de Educação de Campo Adolfo Ovídio Coppi, localizada na Estrada Geral do Rio do Meio no Município de Camboriú.

Após a análise dos relatórios identificamos alguns relatos comuns das acadêmicas, e a partir deles elaboramos quatro (4) categorias: As tecnologias; Cultura de massa, globalização e consumo; Cultura de massa e a cultura tradicional; O campo na contemporaneidade.

4.1 Análise dos dados

Após a análise dos relatórios percebemos que uma das categorias construídas – As tecnologias – pode estar relacionada com o projeto de modernização do campo brasileiro. Mas, é importante recordar que o projeto de modernidade no Brasil, principalmente do campo, só se efetivou realmente após o surgimento da TV. Assim, a categoria Cultura de massa, globalização e consumo pode estar relacionada com algumas modificações do meio rural que ocorreram por influência do acesso aos meios de comunicação, como afirma Espeiorin e Pozenato (2010). Deste modo, pode-se compreender o fato de algumas famílias moradoras da Comunidade dos Macacos e da Comunidade do Rio do Meio terem acesso às diversas tecnologias. O contato com as tecnologias de comunicação promove o contato com a cultura de massa que por sua vez dá origem a cultura do consumo nestas localidades. Portanto, esta percepção pode ser relacionada com a concepção de Morin (2011a), segundo a qual a globalização promove o desenvolvimento da cultura de massa e, ao mesmo tempo, a cultura de massa promove o desenvolvimento da globalização técnica e econômica. Além de estimular o mercado e desenvolver a economia capitalista, a cultura de massa promove a democratização do consumo, ou melhor, dela surge a cultura do consumo.

Eis que a categoria Cultura de massa e cultura tradicional demonstrou notoriedade, pois, a partir dos relatos, foi possível identificar a presença da cultura tradicional nas brincadeiras das crianças e nas falas, de modo geral. Percebeu-se ainda a presença da cultura de massa nas brincadeiras em que as crianças brincavam de salão de beleza e no consumo de produtos – como roupas e mochilas – que trazem em suas estampas imagens de personagens presentes nos produtos difundidos pela cultura de massa. Sabemos que é natural as crianças imitarem os adultos nas suas brincadeiras e estas crianças estão inseridas em um ambiente que contém, no mínimo, duas culturas: a tradicional do campo e a cultura de massa. Neste espaço percebe-se o que Morin (2011a) chama de miscigenação da cultura.

Assim, construímos a categoria – O campo na contemporaneidade – por conta da transformação do meio rural. Houveram transformações culturais e principalmente no que se refere ao trabalho no campo. Portanto, o projeto de modernização trouxe modificações para o meio rural como assinalou Oliveira (2012), incentivou a agroindústria e transformou a agricultura familiar. Pode-se verificar esse processo a partir do caso de algumas famílias moradoras da Comunidade do Rio do Meio que, atualmente, se tornaram proprietários de pequenas empresas ou vão buscar recursos financeiros trabalhando na cidade. Deste modo, relacionamos a realidade desta comunidade rural com o projeto de modernização preconizado por Juliano (2003), Villas Boas (2012) e Oliveira (2012). Percebe-se que, de fato, a cultura de massa ajuda a promover a globalização técnica e econômica apontada por Morin (2012b), já que a população brasileira passou a aderir esse projeto de modo geral a partir da expansão da TV no Brasil.

5. Conclusões

Por meio dos dados produzidos no decorrer deste trabalho, percebe-se que a cultura de massa influencia a vida das pessoas do campo de forma indireta e direta.

 No caso do projeto de modernização do Brasil pode-se dizer que houve uma influência indireta da cultura de massa na vida das pessoas do campo. Neste caso, a cultura de massa está promovendo a globalização técnica e econômica, sendo possível observar nos relatórios de estágio o contato das famílias do campo com as diversas tecnologias. Outro exemplo da influência indireta da cultura de massa na vida das pessoas do campo é o fato de que, atualmente, a cultura de massa difunde o turismo e o lazer e, ainda, propõe sugestões de como cuidar da saúde, nos quais se incluem o contato com a natureza. Percebe-se outro olhar sobre o meio rural, gerando transformações nesses espaços, como o surgimento do turismo rural, ou seja, um lugar de lazer e contemplação.

A influência direta da cultura de massa na vida das pessoas do campo ocorreu pela razão de que atualmente o sujeito do campo tem acesso aos meios de comunicação, e, portanto, mantém contato com a cultura de massa, internalizando os valores difundidos por essa cultura, como o consumismo. Portanto, o contato das pessoas do campo com a cultura de massa promoveu transformações na cultura tradicional, como observamos nos relatórios de estágio.

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1. Possui Licenciatura em Pedagogia pelo Instituto Federal Catarinense - IFC Campus Camboriú (2016). Especialização em Práticas Interdisciplinares em Educação Especial (2017). E-mail: rosanacxc1@hotmail.com

2. Possui Licenciatura em Educação Física pela Universidade do Planalto Catarinense - UNIPLAC (2004). Mestre em Educação pela Universidade do Planalto Catarinense - UNIPLAC (2007). Doutor em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI (2016). Realiza estágio pós-doutoral pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná - UFPR (2017), com bolsa Capes. Atualmente é Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense (IFC) - Campus Camboriú. E-mail: alexandre.vanzuita@ifc.edu.br

3. Mestre em Educação e Doutorando em Educação na Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI (2015-2018). E-mail: pereira_alessandro@yahoo.com.br

4. Possui Licenciatura em Pedagogia pelo Instituto Federal Catarinense - IFC Campus Camboriú (2016). Especialização em Práticas Interdisciplinares em Educação Especial (2017). E-mail: daniela.ne@hotmail.com

5. Possui Licenciatura em Pedagogia pelo Instituto Federal Catarinense - IFC Campus Camboriú (2016). Especialização em Práticas Interdisciplinares em Educação Especial (2017). E-mail: janainaifc40@gmail.com

6. Morin (2011a, p. 5) refere-se a cultura nacional, “[...] (a Mãe-Pátria a quem devemos amor) [...] (o Estado, a quem devemos obediência)”.

7. Morin (2012b) faz menção aos povos conquistados na era das grandes navegações.

8. Morin (2011a) refere-se ao poder industrial que ocorreu no inicio do século XX.

9. A França faz parte do mundo Ocidental, no qual os princípios da Revolução Francesa (1789–1799) de Liberdade, Igualdade e Fraternidade foram assumidos pelos Estados Unidos, um país também Ocidental.

10. No decorrer do texto, assim como Morin (2011a), utilizaremos o termo Indústria Cultural quando mencionar os sistemas privados e o Estado. Já o termo cultura de massa será utilizado quando referir-nos a cultura.

11. O termo refere-se à cultura de massa, veiculada predominantemente pela TV e rádio. Ao longo do texto trataremos das concepções de Umberto Eco acerca dos “mass media”. Leite (2012), atenta para o fato de que: “[...] As palavras do inglês “mass media” (em português o mesmo objeto é chamado de “meios de comunicação de massa”), referem-se ao instrumento, ou à forma de conteúdo, utilizados para a realização do processo comunicacional que objetiva alcançar grande número de pessoas, as massas, e, em alguns momentos, pode ser considerado sinônimo de mídia” (LEITE, 2012, p. 116).

12. Nelson Rockefeller de família americana, adepto ao partido republicano que ainda no século XIX conquistou uma grande fortuna com a exploração de recursos materiais naturais: o petróleo com a Standart Oil Company. Durante a segunda guerra mundial, a convite do presidente americano Roosevelt, coordenou no Brasil a Office of the Coodinator of  InterAmerican Affrais (CIAA), traduzida para o Português como:  Associação Americana Internacional de Fomento Econômico e Social. Nelson Rockefeller mantinha investimentos pessoais na América Latina, que surgiram com a guerra mundial após os acordos que os Estados Unidos estabeleceram com os países da América Latina para se fortalecer na guerra e promover o fechamento do mercado europeu. (SILVA, 2015).

13. Segundo Silva (2015, p. 25) a AIA foi uma “[...] agencia filantrópica que desenvolveu projetos de cooperação técnica, principalmente em agricultura e conservação do solo, além de programas pró-saneamento e alfabetização”. Silva (2015) afirma que para Nelson Rochefeller a AIA pressupõe características iluministas no qual a ciência e a tecnologia são as formas mais adequadas de levar o progresso as diferentes nações. Havia a ideia por parte de alguns grupos de transformar o mundo a imagem dos Estados Unidos e segundo Silva (2015) Nelson Rochefeller defendia essa ideia e acreditava que os americanos eram requisitados para ajudar a construir um projeto de liberdade não apenas para sua nação, mas para o mundo.

14. Segundo Morin (2012a) “O homem não é camaleão, mas dispõe de possibilidades miméticas extremamente diversas (MORIN, 2012a, p. 160).

15. A Revolução Verde é considerada como a difusão de tecnologias agrícolas que permitiram um aumento considerável na produção principalmente (OCTAVIANO, 2010). As pesquisas que deram origem a Revolução Verde foram financiadas pela Fundação Rockefeller no México. “[...] Entre os anos de 1943 e 1965, a Fundação investiu cerca de US$ 13 milhões em equipamentos, pesquisas, bolsas de estudos e treinamento profissional”.  (FARIA E COSTA 2006, p. 165). Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/dados/v49n1/a07v49n1.pdf> Acesso em 19 out. 2016.


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 39 (Nº 17) Ano 2018

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