ISSN 0798 1015

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Vol. 40 (Nº 26) Ano 2019. Pág. 4

Influência do PIBID de biologia na vida profissional dos egressos da UFPI - Campus Ministro Reis Velloso

Influence of the PIBID of biology in the professional life of the expectations of the UFPI - Campus Ministro Reis Velloso

SANTOS, Valéria L. M. 1 e ALVES, Maria H 2

Recebido: 27/04/2019 • Aprovado: 28/07/2019 • Publicado 29/07/2019


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados

4. Concluções

Referências bibliográficas


RESUMO:

Este trabalho visou investigar a influência do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência - PIBID de Biologia na vida profissional dos egressos da Universidade Federal do Piauí - UFPI - Campus Ministro Reis Velloso. Para atingir os objetivos foi aplicado um questionário aos egressos do PIBID do curso de Biologia, com alternativas abertas e analisado quali-quantitativamente. Os resultados demonstraram que o programa proporcionou experiências aos egressos permitindo escolher o ramo profissional com ênfase pela docência.
Palavras chiave: Ensino de ciências. Ensino aprendizagem. Formação docente.

ABSTRACT:

This work aimed to investigate the influence of the Program Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência - PIBID of Biology on the professional life of the graduates of University Federal of Piauí –UFPI - Campus Ministro Reis Velloso. To reach the objectives, a questionnaire was applied to the graduates of the PIBID of the Biology course, with open alternatives and analyzed qualitatively and quantitatively. The results demonstrated that the program provided experiences to the graduates allowing to choose the professional branch with emphasis by teaching.
Keywords: Science teaching. Teaching learning. Teacher training.

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1. Introdução

Ofício nobre capaz de revelar e formar todos os demais tipos de profissões existentes, a docência se comporta como instrumento fundamental para a construção da identidade dos cidadãos. Nóvoa (1992) afirma que por séculos, a docência tem se idealizado e estruturado como profissão, à medida que ia sendo estabelecida a quem incumbia o ato de educar.

Nesse sentido, o percurso não tem sido fácil e vários obstáculos são encontrados. Vale ressaltar que, num mundo que se vive um quadro de constantes mudanças e crescimento, enfatizar a importância do papel docente não é suficiente. As alterações não programadas, influenciam na forma em que se organiza, trabalham e até mesmo se relaciona. Tais mudanças constituem um efeito visível na escola como entidade responsável por formar novos cidadãos (Garcia, 2002).

Existe uma inevitabilidade em efetivar acentuadas mudanças nos regimes educacionais atuais, para que se possam encarar as “pelejas” da sociedade do conhecimento, Chapman e Aspin (2001). É possível afirmar que uma insondável rede de histórias, conhecimentos, processos e rituais são formados a partir da individualidade profissional (Sloan, 2006). No entanto, a identidade profissional não é algo estável, inerente ou fixa. Consiste no resultado de profundo e dinâmico equilíbrio, onde a figura profissional tem que se conciliar com uma gama de papéis que os docentes necessitam e devem executar em sua prática pedagógica (Beijaard et al., 2004).

A prática pedagógica constitui o melhor instrumento de ensino e aprendizagem do docente, pois a partir dela é possível construir suas próprias teorias, conceitos e bases, à medida que torna um profissional flexível mostrando-se aberto para mudanças que são necessárias. É necessário validar todo o esforço exercido pelo docente em sua atuação para que os alunos absorvam todo ou parte do conteúdo aprendendo da melhor forma possível.

Com o intuito de estimular a iniciação à docência de discentes de Licenciaturas das instituições federais de educação superior levando-os a conhecerem e vivenciarem a educação pública de base, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência/PIBID foi criado. A portaria que o embasa é a portaria normativa no 38, de 12 de Dezembro de 2007 (Stanzani, 2012).

Mediante a implantação de tal programa os discentes das licenciaturas passaram a ter mais oportunidade de contato com a educação básica, uma vez que o PIBID proporciona experiências únicas e importantes para a formação acadêmica. A necessidade de perceber o quadro que constitui a realidade presente nas escolas públicas estimula a inserção dos discentes no mesmo. É possível afirmar que parte da identidade docente do profissional educador é construída durante os estágios, onde o discente escolhe qual postura deve assumir em sala de aula, e qual comportamento deve ser seguido diante das situações encaradas. As atividades profissionais, enquanto docentes, constroem a identidade docente, no entanto, é no processo da sua formação que são firmadas as possibilidades e finalidades que o curso preconiza atestar (Pimenta; Lima, 2004).

Neste sentido o PIBID comporta-se como instrumento aliado na construção de identidade, onde é possível experimentar situações que instiguem o senso crítico do discente levando-o a refletir sobre a prática docente. Esta etapa pode configurar-se de fundamental importância para a escolha do futuro profissional dos licenciandos. Segundo Guimarães (2004) a possibilidade de reflexão crítica das muitas representações sociais historicamente construídas e praticadas na profissão docente, podem influenciar fortemente na construção e embasamento da identidade através dos cursos de formação.

Tendo em vista o que já foi explorado, buscando revelar a contribuição na formação do discente, tem-se a problemática: A participação dos discentes no programa contribui ativamente para a formação profissional dos mesmos? Existe mudança na visão dos discentes no que se refere a profissão docente depois da experiência no PIBID?

Em meio a necessidade constante de estágios durante a graduação que permitam a vivência com a realidade das escolas públicas, o PIBID atua de forma semelhante ao estágio, agregando saberes e experiências ao discente que participa do mesmo, podendo contribuir na formação do caráter profissional dos acadêmicos e viabilizando situações que facilitem a futura prática docente dos discentes.

Desse modo o presente trabalho visa contribuir para a disseminação do conhecimento no que se refere à importância do PIBID na formação acadêmica dos discentes de Biologia, com o objetivo de investigar a influência do PIBID de Biologia na vida profissional dos egressos do Campus Ministro Reis Veloso, UFPI.

2. Metodologia

As informações sobre os bolsistas foram obtidas na Coordenação do PIBID, por meio do cadastro dos discentes, fornecidos pela UFPI - Campus Ministro Reis Velloso,  do total de cerca de 180 bolsistas dos cursos de Biologia, Matemática e Pedagogia – CMRV a amostra trabalhada foi de 70 pibidianos de Biologia. A partir da mesma, foi feita a verificação junto a coordenação do PIBID sobre os alunos egressos. Posteriormente os selecionados foram contactados através de busca ativa por meio de e-mail, facebook ou telefone pessoal, verificando a disponibilidade dos mesmos para responderem a um questionário.

Dentre os 70 bolsistas de Biologia, responderam ao questionário 31 egressos, os quais assumiram o compromisso de assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorizando a coleta, uso e publicação dos dados. A coleta dos dados consistiu no registro da entrevista semiestruturada quali-quantitativamente, que possibilitou a autonomia na expressão do indivíduo e a preservação do foco do interrogador simultaneamente (Gil, 2010). De acordo com Rodrigues (2007), a pesquisa quantitativa revela as opiniões e dados a serem classificados e analisados por meio de números, utilizando técnicas estatísticas, ao passo que a pesquisa qualitativa constitui numa metodologia descritiva onde as informações podem ser quantificáveis.

A entrevista contemplou 10 questões: De que forma você conheceu o PIBID?, Qual a sua visão inicial sobre o programa do PIBID?, Qual motivo o levou a participar do projeto do PIBID?, Quando você ingressou?, Possuía alguma expectativa?, Por quanto tempo você participou do projeto do PIBID, na escola?, Quais avanços você destaca comparando sua situação de aprendizado antes a após participação no projeto do PIBID?, O PIBID permite relacionar teoria e prática em sala de aula, essa forma funciona de maneira efetiva?, No seu entender, qual a importância do projeto do PIBID na escolha profissional dos acadêmicos das licenciaturas?, Sua participação no projeto do PIBID influenciou ou tem influenciado na sua escolha profissional, levando em consideração o ramo da docência?, Você considera o PIBID importante para a construção da identidade docente dos acadêmicos das licenciaturas e por que?

O tratamento dos dados foi realizado através do software Excel, no qual os mesmos foram organizados em tabelas e gráficos. A análise e discussão foram feitas de acordo com a literatura de apoio, onde para a análise dos resultados, optamos por adotar a denominação: “Entrevistado” para designar os participantes da pesquisa, seguindo uma sequência lógica, entrevistado 1, entrevistado 2...

3. Resultados

Como resultado dos questionamentos aos 31 entrevistados tem-se os seguintes dados: De que forma você conheceu o PIBID? Cinquenta e cinco por cento (55%) dos 31, relataram que o primeiro contato foi através da divulgação feita a partir dos professores, orientadores ou da coordenação do curso de biologia. Os que conheceram o PIBID através dos amigos, colegas de curso ou ex-pibidianos 36% e os discentes que o conheceram através de seus professores no ensino médio foram 6% sendo apenas 3% por meio da internet.

Este resultado permite verificar que o professor e a instituição de ensino superior são os principais divulgadores do projeto o que demonstra a atuação do educador como formador de opinião ao se posicionar de forma positiva na menção do programa. Os “formadores de opinião horizontais” possuem grande relevância, uma vez que detém características de liderança e conhecimentos teóricos em grau elevado se comparações ao meio em que vivem estes, possuem espaço para mencionarem seus pensamentos, além disso, as pessoas os procuram em busca de orientações (Olsen, 1997). O quadro 1 demonstra alguns posicionamentos sobre dois questionamentos agrupados:

Quadro 1
Respostas agrupadas dos discentes sobre duas questões

PERGUNTAS

RESPOSTAS 

Qual a sua visão inicial sobre o programa do PIBID?

90% dos entrevistados: Um programa que estimula a carreira docente e acadêmica.

7% dos entrevistados:  Uma forma de auxílio aos alunos da rede básica pública de ensino.

3% dos entrevistados: Programa que fornece bolsas aos acadêmicos.

Qual motivo o levou a participar do projeto do PIBID?

 

52% dos entrevistados: O desejo único de conhecer a docência e as experiências de sala de aula.

32% dos entrevistados:  A bolsa ofertada aliada ao desejo pela experiência na docência.

10% dos entrevistados: Melhorar o curriculum.

 

3% dos entrevistados:  Exclusivamente o interesse na bolsa ofertada.

3% dos entrevistados:  Retribuição por ter sido ajudado pelo PIBID no Ensino Médio

Fonte: trabalho de pesquisa.

Quando se fala em construir uma carreira no âmbito da docência e se tornar um profissional capacitado, Freire (2011) corrobora com as respostas dos entrevistados quando afirma que: “Não tratar com seriedade, não lutar, não buscar conhecimento torna o docente incapaz de organizar suas próprias atividades em sala de aula”. Ambrosetti et al. (2013), concluem que o PIBID se distingue por conceder bolsas aos docentes das universidades, aos educadores da escola pública e aos acadêmicos que integram o projeto, contribuindo para o processo de iniciação a docência.

Dentre os motivos destacados, é notório, que para a participação dos discentes no projeto, o desejo de experimentar a docência para adquirir conhecimento e prática de sala de aula se destacam, uma vez que reafirmam o objetivo do programa que se dispõe a ofertar oportunidades únicas para seus bolsistas, além de propiciar auxílio financeiro para que os mesmos não estejam desamparados durante a participação.

Com relação à citada questão (qual sua visão inicial sobre o programa PIBID?), pode ser observado, ainda que:

Entrevistado 1:

“Um programa voltado para licenciando que gostaria de ganhar experiência em relação à docência. Um programa que visa desenvolver o lado profissional, comunicativo do aluno. Um programa de descobertas e confirmação ou não para vocação do professor”.

Entrevistado 2:

“Uma oportunidade de desenvolver habilidades de cunho docente e científico, antes do primeiro contato com o estágio obrigatório. Além disso, era uma forma de incentivo acadêmico tanto no contexto profissional e financeiro”.

Como discursos de destaque em resposta aos motivos listados para o ingresso no programa têm-se:

Entrevistado 3:

 “Agregar conhecimentos para o melhor desenvolvimento da formação inicial, através da participação em atividades pedagógicas garantindo o aperfeiçoamento da minha formação na licenciatura. Bem como, contribuir nas escolas na área de ciência e biologia com o desenvolvimento de atividades de apoio pedagógico aos alunos e professores, colaborando para a aprendizagem dos conteúdos disciplinares”.

Entrevistado 4:

“Ao terminar uma iniciação científica eu optei por abranger mais meu conhecimento e adquirir um pouco mais de experiência em sala de aula, logo o PIBID seria a melhor escolha, tendo em vista que meus estágios obrigatórios ainda iriam demorar alguns períodos, além disso, a oportunidade de dispor de uma renda mensal era muito bem vinda para ajudar com as despesas do curso”.

As falas retratadas acima confirmam a importância do projeto no despertar dos discentes para a docência.

Com respeito às questões: Quando você ingressou, onde? Possuía alguma expectativa?

Os resultados confirmam que os entrevistados foram integrantes do programa no período de 2010 a 2017. Dentre os locais de atuação dos pibidianos foram observadas seis escolas diferentes. Em relação às expectativas dos entrevistados foram admitidos, nenhuma expectativa, expectativa de adquirir experiência profissional, aprender metodologias alternativas para trabalhar em sala de aula e amadurecer como profissional.

Dos entrevistados, 55% responderam que suas expectativas de participação eram devido a necessidade de adquirir experiência profissional, corroborando com a proposta do programa de aproximar o licenciado a realidade docente, além do desejo de amadurecer profissionalmente. Salientando que 29% dos resultados foi referente a necessidade de aprender metodologias alternativas para o desenvolvimento das aulas. Mais uma vez cabe ressaltar que o perfil do programa permite que o discente elabore as aulas práticas, modelos didáticos e muitos outros materiais que ajudem os alunos da escola a compreenderem os assuntos discutidos em sala de aula pelo professor. Por outro lado, 16% dos ex-pibidianos concluíram que não havia expectativas no ingresso ao programa.

Nesse contexto destacamos a fala do entrevistado 3:

“No ano de 2012 ingressei no PIBID, no eixo Práticas Pedagógicas... minha pretensão era angariar conhecimentos didáticos e pedagógicos, bem como, contribuir na aprendizagem dos conteúdos de ciências e biologia por parte dos alunos das escolas beneficiadas pelo programa”.

Em alusão aos resultados obtidos, Mattanal et al. (2014), discutem que inserir os alunos no âmbito escolar beneficia seu reconhecimento, viabilizando ao futuro docente experimentar ensaios de aprendizagem dentro da escola, assegurando maior credibilidade pessoal para seu posterior exercício de ensino. No contexto da educação básica, o professor tem função primordial na implantação de novos métodos, a fim de incitar a participação dos alunos no processo de ensino e aprendizagem (Silva et al., 2013). 

O tempo de permanência dos discentes no programa PIBID variou de seis meses a quatro anos, como demonstra a figura 1, onde a maioria, 29% permaneceu dois anos, seguidos de 23% que ficaram seis meses e com a contribuição por um ano e seis meses de 19% dos bolsistas. Estes resultados podem ser encarados de algumas formas, uma delas é quando, por exemplo, se analisa a porção de graduandos que permaneceu apenas por seis meses, a exclusão do programa, na maioria dos relatos, foi devida a reprovação em alguma disciplina. Em todos os relatos foi possível perceber a riqueza de conhecimento adquirido pelos bolsistas com suas participações no projeto, mesmo que por tempo mínimo, no caso, seis meses.

Gatti et al. (2014) destacam que o ingresso e participação dos graduandos no PIBID colabora para a continuidade dos discentes nos cursos de licenciatura ao passo que é capaz de influenciar a redução da saída dos mesmos, além de atrair novos estudantes para os cursos.

Figura 1
Período de permanência dos graduandos no PIBID

Fonte: trabalho de pesquisa

De acordo com Silva (2012), a maioria dos pibidianos que permanecem para além de um ano no programa, além de terem ingressado, no mesmo, devido ao desejo de conceber experiências novas no âmbito educacional, também são influenciados pela bolsa que o programa oferta, favorecendo-os em suas necessidades primeiras.

Com relação aos avanços destacados em comparação a situação de aprendizado antes e após a participação no projeto do PIBID, obteve-se o seguinte: Os dados reproduzem respostas a algumas perguntas já feitas, é possível relacionar a expectativa que os alunos tinham ao entrar no programa, com os avanços que eles mesmos declaram ter adquirido após a participação no projeto? Neste ponto podemos observar quatro respostas declaradas: Para a maioria dos pibidianos (56%), o maior avanço percebido por eles, após o PIBID, foi o amadurecimento e a aprendizagem adquirida como profissional docente. Seguida da descoberta do melhor desempenho em seminários, trabalhos científicos e no próprio estágio curricular obrigatório, 33% puderam verificar a eficácia do programa em auxiliar suas atividades acadêmicas. Os demais, 7% dos ex-bolsistas declararam que criaram um maior comprometimento e 4% aprimoram seus conhecimentos, como demonstra as falas seguintes.

Entrevistado 1:

“Com o PIBID estamos sempre estudando assuntos para ser repassados para os alunos, então conseguimos reter com mais facilidade o assunto estudado anteriormente, fica fixo mesmo na memória. Desenvolve-se várias habilidades para estar sempre realizando atividades diferenciadas. Ajuda na parte comunicativa, o pibidiano consegue ter uma melhor desenvoltura em apresentações de seminário e no estágio também. O bolsista consegue entender também o funcionamento de uma escola”.

Entrevistado 3:

“A prática leva ao aperfeiçoamento. O PIBID propicia a vivência na escola, e faz o licenciando entrar no universo da escola e experimentar as inúmeras variáveis existentes no espaço escolar, tais como: as dificuldades de aprendizagem dos alunos, as metodologias que necessitam de aprimoramento, a necessidade de aumentar o escopo de recursos didáticos, e indisciplina dos alunos. O PIBID possibilitou o amadurecimento e a compreensão de que o professor é o profissional que deve estar atento aos detalhes da realidade escolar, que deve entendê-la como parte da sociedade.

Entrevistado 5:

“Aprendi como me portar como um professor, e como tive um contato com as escolas desde cedo não tive problemas nos estágios”.

Entrevistado 8:

“Aprendi a lidar com a diversidade de alunos e suas realidades distintas; Desenvolver atividades lúdicas, projetos e feiras culturais nas escolas, a fim de facilitar o processo de ensino e aprendizagem; Criar um vínculo com a docência desde o início do curso; “Ser um agente facilitador no ensino básico”.

A participação dos acadêmicos em um projeto como o PIBID foi relacionada de forma positiva ao se analisar os avanços destacados pelos próprios entrevistados, concordando com os mesmos que afirmaram obter amadurecimento e aprendizagem como profissional docente, auxílio e destaque no desenvolvimento de seminários, trabalhos científicos e estágio, comprometimento e aprimoramento dos conhecimentos.

Corrêa e Batista (2013) ressaltam que ao adentrar no âmbito escolar, o acadêmico adquire autoconfiança e controle de si mesmo em momentos inesperados, alcançam também a postura em sala de aula, aprendem a avaliar o conhecimento dos alunos, e conseguem discernir quanto as dinâmicas de grupo e os variados ritmos de aprendizagem. O programa beneficia os bolsistas com a aquisição de uma maior determinação, responsabilidade e disciplina, participando da construção da identidade docente dos acadêmicos até o final do curso.

Desse modo ao interrogar se o PIBID permite relacionar teoria e prática em sala de aula, essa forma funciona de maneira efetiva?

Para tal questão, a resposta foi unanime, Sim, o PIBID permite relacionar teoria e prática de maneira efetiva, no entanto, três entrevistados manifestaram algumas ressalvas, quando afirmaram que, a condição da escola, a falta de boa vontade dos professores e falta de materiais, podem interferir no desenvolvimento das práticas, contudo, deixaram claro que mesmo em meio às dificuldades, o programa consegue realizar a união da teoria e da prática, conforme ressalta.

Entrevistado 2:

“Sim. O PIBID nos ajuda a sair do mundo abstrato e ir para a realidade dos fatos. Auxilia-nos como executar a atividade docente, colocar em prática as teorias vistas inicialmente e assim a construir e executar o nosso “ser professor”. Nós conseguíamos, sim, aliar o conhecimento teórico com a prática, executávamos as diversas atividades do cotidiano escolar sob a orientação e supervisão de professores da área, que sempre ofereciam apoio e segurança para trabalhar o planejamento previsto, contribuindo assim para a nossa formação profissional”.

Entrevistado 9:

“Depende muito do pibidiano, do professor da turma, na qual o licenciando trabalha e do material que a escola pode disponibilizar. Mas sim, é possível trabalhar de maneira efetiva a prática com a teoria, usando um pouco do improviso e imaginação”.

Entrevistado 10:

“Na maioria das vezes, sim, mas devido a falta de alguns recursos como laboratórios, materiais tanto laboratoriais como outros, nem sempre a teoria e a prática poderiam estar aliadas”.

De fato o PIBID cumpre, eficazmente, o papel de permitir a relação entre teoria e prática, no entanto não se devem desconsiderar as falas que relataram a realidade de algumas escolas, onde é possível encontrar professores que não demonstram prazer em contribuir com um aprendizado mais eficaz para seus alunos, além disso, as condições das escolas são fatores importantíssimos, pois não se consegue, por exemplo, realizar atividades práticas laboratoriais sem o mínimo dos equipamentos necessários. Bem se sabe que é possível continuar realizando o trabalho, mas este acaba sendo realizado com uma qualidade menor.

Mattanal et al. (2014), afirmam que o PIBID funciona inter-relacionando teoria e prática de forma interativa e contextualizada, e é essa a metodologia de intervenção adotada pelo programa. O programa cria novos modos de formação inicial, oportunizando viver a prática docente, permitindo que com as práticas os pibidianos iniciem um pensamento crítico de sua própria forma de agir (Anjos; Costa, 2012).

O programa permite aplicar o que se conhece em teoria na forma de prática.  Ao voltar aos pontos que inundam o ambiente escolar a prática e a teoria adotada por nós podem ser melhoradas. Ao se avaliar profundamente as práticas, mais embasamento, se tem capacidade de identificar e mediante tal comportamento, o reconhecimento da necessidade de buscar conhecimento se instala (Girotto et al., 2012).

Questionou-se ainda, a respeito de, qual importância do projeto do PIBID na escolha profissional dos acadêmicos das licenciaturas?

Nesse contexto é possível perceber que se chegou a uma questão crucial deste trabalho, onde foi dada voz aqueles que puderam vivenciar a realidade acadêmica para analisar, qual a importância do PIBID na escolha profissional dos entrevistados. Foi possível observar, majoritariamente, dois seguimentos citados pelos ex-pibidianos, quando se referem à importância do PIBID na escolha profissional do acadêmico, pois 47% dos entrevistados destacaram que a partir da experiência com o programa, foi possível avaliar se a docência realmente seria a área de profissão, ou se seria necessário migrar para alguma outra área.

Outro ponto importante e representativo foi ressaltado quando 33% dos ex-bolsistas informaram que é possível ser preparado como profissional através da vivência no programa, destacando-se na sua área por conta das atividades desenvolvidas ao longo do período de permanência no projeto. Também foi mencionado através de 17% dos ex-pibidianos a importância de perceber a realidade escolar, e como essas experiências são necessárias para que se tenha uma educação de qualidade. Foi destacado também, por 3% dos discentes, que o PIBID é um pilar para educação de qualidade possibilitando o crescimento da educação de qualidade para os que têm oportunidade de participar, dessa forma pode-se verificar que:

Entrevistado 1:

“O PIBID é a realidade da vida de um docente, na questão de conteúdo a ser abordado e metodologias a ser adotada. Portanto, se o licenciando não se identificar com o ambiente escolar, com a rotina de estudar para dar aula e buscar recursos metodológicos, pode ter certeza que ele não vai querer seguir essa profissão. Mas caso a pessoa goste do que faz, ela vai ter a certeza que quer seguir a carreira docente. Então, o programa pode ser a ponte para um encontro ou desencontro profissional”.

O PIBID contribui para a formação inicial à docência dos acadêmicos, através da interação com os estudantes e por meio das práticas realizadas (Mattanal et al., 2014).  O vínculo PIBID-escola, é crucial para além da sala de aula da instituição de ensino superior, e acrescem os saberes necessários para a formação pessoal e profissional dos acadêmicos. Dentro do ambiente de formação criado pelo programa, os educadores formadores ligados ao sistema de aprendizagem da docência de futuros professores, oportunizam a chance de se incluírem em um processo contínuo de formação, que envolve campos individuais, coletivos e organizacionais, que são criados em variados momentos e contextos e em comunidades de aprendizagem distintas recheadas, também por outros formadores (Benite et al., 2010).

O programa PIBID permite que os futuros docentes vivessem o âmbito escolar antes mesmo da conclusão do curso, sendo de grande importância devido a esse fator (Zeulli, 2012).  A conexão que existe entre o dia a dia escolar e o envolvimento existente entre os alunos e funcionários enriquece a formação docente (Mattanal et al., 2014).

Após descobrir qual a importância do projeto na escolha profissional dos acadêmicos das licenciaturas, questionou-se, a participação no projeto do PIBID influenciou ou tem influenciado na sua escolha profissional levando em consideração o ramo da docência?

Os dados obtidos aqui confirmam toda a pesquisa elaborada, enfatizando a importância e a influência do PIBID na vida acadêmica e profissional dos alunos, neste momento podemos perceber com exceção de um entrevistado, todos os demais (30) reconheceram a influência do PIBID em suas escolhas profissionais, definindo-o como de grande relevância para sua escolha profissional. O que  permitiu afirmar que ao investigar a influência do PIBID de biologia na vida profissional dos egressos da UFPI do Campus Ministro Reis Velloso, o mesmo demonstrou efetivo ao influenciar os bolsistas a seguirem a carreira docente, mesmo aqueles que não possuíam pretensão alguma de ingressar na escolha inicial.

As reflexões trazidas durante a experiência no PIBID são de grande valia, preparando os futuros profissionais para uma análise constante de seus hábitos docentes, em uma busca incessante de melhorias para a educação e para o ensino de Biologia, conforme segue nos depoimentos.

Entrevistado 8:

“O PIBID foi, na verdade algo que de fato que consolidou a minha escolha pela docência. Foi durante as experiências que o programa me proporcionou que as reflexões foram iniciadas e que todo o encanto pelo magistério surgiu”.

Entrevistado 11:

“...Foi a minha experiência no PIBID que consolidou o meu desejo de trabalhar na educação”.

O programa direciona o licenciando para situações em que ocorre o ensino e apren­dizagem, oportunizando um conjunto de experiências e de reflexões e constitui, então, uma iniciativa para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. Girotto et al. (2012), afirmam que o PIBID possibilita que os discentes tenham contato com a realidade escolar, esse contato ocorre através do desenvolvimento de planos de ação. Tais momentos são importantes nos cursos de licenciatura e jamais podem ser desenvolvidos somente para cumprir com a matriz curricular, como acontece com o estágio, mas sim comprometidos com a realidade, à transformação social aliada à formação profissional e pessoal, com responsabilidade individual e social.

O décimo questionamento, o PIBID é importante para a construção da identidade docente dos acadêmicos das licenciaturas? Por quê?

Esse questionamento ressaltou a importância do PIBID para construção da identidade docente. Os resultados foram esmagadoramente positivos, 100% dos entrevistados reconheceu a relevância do projeto para a construção do perfil profissional dos discentes, sabe-se que este vem sendo construído ao longo da graduação, e que cada experiência conta para que a postura profissional dos alunos seja criada. No entanto ao viabilizar uma experiência antecipada dos acadêmicos com a realidade escolar o aluno tem a graça de viver experiências profissionais antes do período estipulado pelo curso. O ingresso desses alunos no programa possibilita que os licenciandos vivam por mais tempo experiências amplas e diversas, que talvez no estágio obrigatório não seja possível, como relata.

Entrevistado 2:

“O PIBID pode contribuir para construção da identidade docente, visto que o programa aumenta consideravelmente o tempo de contato que acadêmico tem com o meio escolar, o que vem a incentivar a busca de conhecimento, e consequentemente do processo de ação, reflexão e ação. De modo geral o programa vem a nos incentivar a ser um profissional que priorize uma formação contínua e constante”.

Entrevistado 3:

“Sim. O bolsista agrega conhecimento ao desenvolver a atividade na escola, ajudando o professor da disciplina de ciências ou biologia. O PIBID não deixa de ser um laboratório de ensino que garante a profissionalização dos graduandos na prática, somando conhecimentos teóricos, pedagógicos, didáticos e práticos necessários ao professor”.

Entrevistado 8:

“Sem dúvidas considero”. Porque na minha visão quanto mais cedo os alunos dos Cursos de Licenciaturas forem inseridos nas atividades docentes, melhor para eles como futuros profissionais. O PIBID proporciona oportunidade para os futuros professores: pensar, criar, e atuar de forma diferenciada em sala de aula.

Mesmo que a experiência com o programa seja introdutória, considera-se como ferramenta indispensável no processo de formação de professores (Girotto et al., 2012). As ações do PIBID caracterizam-se fundamentalmente para o pensamento e formação de uma identidade profissional, uma vez que viabiliza uma conscientização sobre a função do educador, e possibilita vivências na docência, mesmo que em pequena escala (Anjos e Costa, 2012). A elevada designação de que os discentes começaram a ver a escola como: um ambiente mais agradável estimula continuar a carreira docente, aperfeiçoaram o entendimento das disciplinas de educação e desejam utilizar formas aplicáveis e desenvolvidas corroboram com a afirmação de que o PIBID INCENTIVA SIM a carreira docente (Silva, 2012).

4. Concluções

Ao analisar todo percurso feito até aqui se pode concluir que os professores, ex-bolsistas e a instituição de ensino são os principais promotores do programa PIBID. Os motivos destacados para o ingresso no programa variam desde a necessidade da bolsa, até o desejo de descobrir o profissional educador que existem em cada um.

Os locais de atuação do programa abrangeu diversas escolas e o período de permanência dos bolsistas, no geral, superaram o período mínimo de seis meses. Sendo o amadurecimento profissional, a experiência em sala de aula e o desenvolvimento acadêmico, resultados do programa, além do mais, foi possível concluir que o PIBID relaciona, efetivamente, teoria e prática.

A importância do projeto para a escolha profissional dos acadêmicos é real, e positiva uma vez que os mesmos se inclinaram pela docência a partir das boas experiências que tiveram durante sua permanência de bolsista, no mais, o PIBID funciona como ponte entre universidade-teoria, com escola-prática.

Registrando minha visão como ex-pibidiana, gostaria também de declarar que compartilho das ideias dos colegas entrevistados, e reconheço crescimento profissional com a experiência do programa. A escolha profissional de uma pessoa nunca será fácil, no entanto, quando se tem formas de descobrir seu futuro, deve-se aproveitar e testar todas elas.

O PIBID VEIO PARA SOMAR COM A VIDA ACADÊMICA DOS LICENCIANDOS. FICA PIBID!

Referências bibliográficas

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1. Universidade Federal do Piauí

2. Doutora em Botânica pela Universidade de São Paulo. Curso de Biologia. Universidade Federal do Piauí. Bióloga, professora de Biologia. malves@ufpi.edu.br


Revista ESPACIOS. ISSN 0798 1015
Vol. 40 (Nº 26) Ano 2019

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