ISSN 0798 1015

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Vol. 40 (Nº 29) Ano 2019. Pág. 28

A prática de “colar” – visão de estudantes de engenharia

The practice of “copying” - engineering students' view

SILVA, Augusto Barbosa 1; FERNANDES, Magali 2; SILVA, Philippe Barbosa 3; QUIRINO, Gustavo Henrique Almeida 4; VALE, Monnike Yasmin Rodrigues do 5 e NETO, Vilmar Domingos da Silva 6

Recebido: 30/05/2019 • Aprovado: 13/08/2019 • Publicado 02/09/2019


Conteúdo

1. Introdução

2. Abordagem teórica

3. Metodologia

4. Resultados

5. Discussão dos resultados

6. Conclusões

Referências bibliográficas


RESUMO:

Burlar uma prova, ou “colar”, é uma prática recorrente e bastante comum entre alunos, quando são avaliados. Professores muitas vezes consentem com esta prática, por não saber os motivos que levam a ela, sendo difícil de controlá-la. Na engenharia, como ciência exata, os motivos pelos quais os alunos “colam”, parecem ser mais objetivos, de fácil entendimento, mas não justificáveis. Diante do exposto, vê-se a necessidade de se realizar um estudo sobre “colar”, pela visão dos estudantes de engenharia. Desta forma, objetivou-se, principalmente, aferir a percepção que os estudantes de engenharia têm sobre a “cola”, destacando as justificativas dadas por eles para este ato. Pretende-se que isso possa estimular uma reflexão entre alunos e professores, colocando esta prática em discussão. Acredita-se que, através do diálogo, é possível coibir a “cola”.
Palavras chiave: ensino em engenharia, colar, prova

ABSTRACT:

Outwit an evaluation, or "copying", is a recurring practice and quite common among students when evaluated. Teachers often consent to this practice because they do not know the motives that lead to it, and it is difficult to control it. In engineering, as an exact science, the reasons why students tease exams seem to be more objective, easily understood, but not justifiable. In view of the above, it is necessary to carry out a study on the "copying", by the vision of engineering students. In this way, this work has as main objective to gauge the perception that the engineering students have on the "copying", highlighting the justifications given by them for this act. It is intended that this may stimulate a reflection between students and teachers, placing this practice under discussion. It is believed that through dialogue, it is possible to curb the "glue".
Keywords: outwit, copying, evaluation, engineering

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1. Introdução

Há diversos problemas relacionados à docência e à aprendizagem, em todos os níveis de ensino, englobando assuntos diversos e de importância ímpar. Entretanto, um assunto em destaque coloca aluno e professor em lados opostos: a avaliação. De um lado, o professor, nos papéis de crítico e avaliador, enquanto do outro lado, o aluno, desempenhando papéis de avaliado, julgado e aferido.

O problema analisado neste artigo é bastante antigo, mas igualmente atual, pois ocorre em sala de aula quase sempre nos períodos de avaliações que utilizam a prova como instrumento principal de avaliação. Este problema é um assunto recorrente, tanto no âmbito do corpo docente, quanto no âmbito do corpo discente, já que consiste no fato de o aluno burlar, trapacear, fraudar uma prova, ato mais conhecido como “colar”. Tal ato é um tanto quanto complexo de se obter solução, já que o seu núcleo está enraizado no comportamento humano.  

O objetivo principal deste trabalho consiste em aferir a percepção que o estudante de engenharia detém sobre a prática da “cola”. Concomitante a isso, este estudo se propõe levantar e destacar, de acordo com estes alunos, as razões que “justificam” tal ato. Assim, pretende-se que seja provocada, principalmente nos professores de engenharia, reflexão acerca desta prática.

Este trabalho far-se-á possível, mediante consulta a estudantes do ensino superior, utilizando-se como recurso o formulário eletrônico, cujas amostras coletadas referem-se a, majoritariamente, estudantes de engenharias de diversas áreas, em universidades distintas, de várias localidades do Brasil.

É importante ressaltar que há neste estudo, como em qualquer outro, algumas limitações relacionadas a este tema. Como principais limitações, há a não garantia que o participante tenha sido totalmente honesto em suas respostas, assim como não há salvaguarda para se considerar o resultado totalmente preciso, uma vez que a amostra pesquisada representa uma pequena parte, em detrimento do grande número de estudantes de ensino superior que existem.

Este trabalho se faz necessário para que se discuta e proporcione aos docentes do ensino superior, principalmente aqueles dos cursos de engenharia, conhecimento dos principais motivos que levam o aluno a “colar”, e possibilitando a eles uma auto avaliação, pois, apesar de a “cola” ser praticada por alunos, o professor pode, inconscientemente, influenciar ou até mesmo estimular essa prática. Assim, poderá o professor se programar e agir de forma com que este problema seja minimizado ao máximo, caso não haja efetiva solução.

2. Abordagem teórica

Para se fazer uma análise sobre a prática da “cola” em provas, é necessário, antes, definir e discutir sobre avaliação de aprendizagem, este instrumento que o professor utiliza para a certificação do conhecimento adquirido pelo aluno. Além disso, também é importante fazer algumas considerações acerca da “cola”.

2.1. Avaliação

Avaliar é um ato complexo presente no nosso cotidiano, uma vez que estamos constantemente sendo avaliados, seja no ambiente profissional, familiar ou social, ato constante no pensamento humano. Entretanto, no ambiente universitário, a avaliação diz respeito à aferição do aproveitamento e conhecimento obtido pelo estudante.

Vasconcellos (2000) reforça a importância de se discutir sobre a avaliação, já que, segundo ele, a avaliação faz parte da existência humana, no sentido aferir os avanços e suas dificuldades, possibilitando uma tomada de decisão para superar os obstáculos.

No âmbito das instituições de ensino superior, como o caso do nosso trabalho, a avaliação tem um papel crucial no aprendizado, pois é através dela a atribuição de notas, desempenhando influência tanto nos alunos, quanto nos professores.

A avaliação exerce forte influência sobre o que os professores ensinam, sobre o que os alunos estudam e, consequentemente, sobre o que aprendem. Os alunos cujos professores os avaliam de forma consistente e frequente obtém melhores resultados. (OLIVEIRA & CHADWICK, 2001, p. 329)

A partir do evidenciado por Oliveira & Chadwick (2001), é ressaltada a importância da avaliação, que reflete nos atos de professores e alunos.

Segundo Teixeira (2004), a avaliação, na maioria das Instituições de Ensino Superior do Brasil, remete importância ímpar à nota final do aluno, caracterizando-se, muitas vezes, em método de punição ao aluno. Assim, a melhoria no ensino e na aprendizagem é deixada para segundo plano, podendo estimular os alunos a se preocuparem exclusivamente com o alcance da nota de aprovação, deixando de lado o conhecimento em si.

Há diversos instrumentos utilizados para realizar a avaliação, como provas, trabalhos, resumos, seminários, entrevistas, portfólios, etc. Contudo, este estudo tratará, em sua discussão, um instrumento avaliativo bastante utilizado nas universidades: a prova.   

A prova, como instrumento avaliativo, nem sempre é suficiente para avaliação. Sanmartí (2009), sustenta esta ideia, dizendo que o professor acredita que uma prova tradicional é capaz de avaliar o que o aluno sabe e quais suas dificuldades, enquanto que aplicando-se instrumentos avaliativos variados, a avaliação se adaptaria à aprendizagem dos estudantes, e às formas de ensino dos professores.

O problema, como apontado por Sanmartí (2009), é quando a utilização da prova não é totalmente eficaz para avaliar o conhecimento adquirido. Este problema, como será demonstrado, compõe diretamente uma das justificativas da prática de “cola” de estudantes de engenharia.

2.2. “Cola”

Anotar lembretes e fórmulas, conferir respostas com o colega, fazer busca pelo celular, são algumas das técnicas usadas para “colar” na prova, e as desculpas para esta prática são variadas, desde o medo da reprovação, até a falta de tempo para estudar.

A “cola” é um assunto recorrente em escolas, universidades, e em qualquer local onde se aplicam provas coletivas. Porém, é um assunto ainda pouco discutido diante de sua importância.

A “cola” raramente é abordada no interior das instituições de ensino superior; quando se comenta sobre ela é de forma jocosa, imatura e sem importância. A “cola” existe, mas não é discutida, não há providências para inibi-la. Parece existir um acordo tácito entre docentes e discentes, para uma prática mesquinha de irresponsabilidade social. (BARBOSA, 2013)

Ao não se abordar este tema, a sensação que fica é a de consentimento, entre os educadores e os educandos, que gera o incentivo.

Além disso, é preciso relacionar a “cola” com os métodos avaliativos, pois, como mostra Levitt e Dubner (2005), “os alunos, é claro, têm incentivo para colar desde que as provas existem”. Ou seja, já é um problema antigo, e que abrange vários fatores, como competição, métodos avaliativos, cumprimento de metas, etc.

Teixeira e Nunes (2008) indicam que é errado sempre achar que o erro indica o não domínio de conhecimento do aluno. Assim, muitas vezes o professor prioriza o erro como negativa de aprendizagem e o aluno, frustrado, recorre à “cola”. Diante desta preocupação do aluno, conforme afirmam Marquesin e Benevides (2014), o aluno acaba criando táticas para “colar” na prova, mesmo não sendo esta a sua pretensão, sendo feita apenas para que não errem.

Este é um ponto da pesquisa, porque a engenharia, como ciência exata, muitas vezes gera a dualidade: certo e errado. E isso, muitas vezes, pode levar o aluno à prática da “cola”.

3. Metodologia

Para atender o objetivo proposto, a pesquisa adotou uma abordagem quantitativa e simplificada, utilizando-se como instrumento de coleta de dados um questionário. Tal pesquisa foi realizada durante o mês de abril de 2017, e foi destinada a estudantes de várias áreas do curso da engenharia.

O estudo foi realizado por meio de questionário em plataforma eletrônica, sendo ele divulgado em 3 grupos de uma rede social, assim caracterizados:

O questionário foi dividido em duas partes, tendo obrigatoriedade de resposta na primeira parte, enquanto a segunda era opcional ao estudante. Ressalta-se que, para que fossem garantidas espontaneidade e imparcialidade nas respostas, os participantes foram isentos de identificação no questionário.

Na primeira parte do questionário, foram disponibilizadas cinco perguntas, de caráter objetivo, em que o aluno deveria escolher entre as opções já fornecidas pela pesquisa. Tais perguntas abordavam a prática da “cola”, e relacionava esta prática à prova, como instrumento de avaliação.

Já na segunda parte da pesquisa, opcional, foi disponibilizada apenas uma pergunta, do tipo aberta, em que o participante teve total liberdade para discorrer sobre as justificativas do ato de “colar”.

Os quadros 1 e 2 apresentam os questionamentos feitos aos estudantes, respectivamente na ordem utilizada.

Quadro 1
Perguntas presentes na primeira parte da pesquisa

1ª Parte – Objetiva

Perguntas

Respostas

Você já colou em alguma prova do seu curso superior?

( ) Sim

( ) Não

 

 

 

Com que frequência você "cola" (ou pelo menos tenta)?

( )  Sempre

( ) Quase sempre

( ) Algumas vezes

( ) Esporadicamente

( ) Nunca colo

Você acha que a prova é capaz de avaliar o conhecimento adquirido?

 

( ) Sim

 

( ) Não

 

( ) Nem sempre

 

( ) Não sei

 

Se a prova não atribuísse nota, ou se não tivesse o poder de aprovar ou reprovar, você colaria?

( ) Sim

( ) Não

( ) Não sei

 

 

Você considera errado "colar"?

( ) Sim

( ) Não

( )

Nem sempre

( ) Não sei

 

 

Quadro 2
Pergunta presente na segunda parte da pesquisa

2ª Parte – Discursiva

Pergunta

(Opcional) Resumidamente, o que te motiva a "colar"?

 

4. Resultados

Na realização da pesquisa foram contabilizadas 438 contribuições na primeira parte do questionário (fase obrigatória), enquanto na segunda parte (caráter opcional) foram registradas 211 contribuições.

Nas Figuras 1, 2, 3, 4 e 5 estão apresentados os resultados obtidos na primeira parte do questionário.

Figura 1
Gráfico obtido com as respostas da
pergunta “Você considera errado “colar”?”

-----

Figura 2
Gráfico obtido com as respostas da pergunta “Você
já ‘colou’ em alguma prova do seu curso superior?”

 

 -----

Figura 3
Gráfico obtido com as respostas da pergunta
“Com que frequência você ‘cola’?”

-----

Figura 4
Gráfico obtido com as respostas da pergunta “Você acha que a prova é capaz de avaliar o conhecimento adquirido?”

-----

Figura 5
Gráfico obtido com as respostas da pergunta “Se a prova não atribuísse
nota, ou se não tivesse o poder de aprovar ou reprovar, você colaria?”.

Já na segunda parte da pesquisa, opcional e discursiva, foram consideradas para o resultado final, as três justificativas mais citadas para “colar” na prova, entre os estudantes de engenharia, sendo elas:

5. Discussão dos resultados

A análise será feita inicialmente, de forma individualizada, questão por questão da pesquisa, com a interpretação dos resultados, para uma posterior discussão englobando todos os resultados obtidos.

Assim, tem-se:

1ª Questão: “Você considera errado “colar”?”

Como resultado, a maioria dos estudantes (46,8%) reconheceu como errôneo o ato de “colar”, enquanto grande parte deles (41,3%) acredita que nem sempre é errado “colar”. Em contrapartida, poucos estudantes (8,9%) não consideram errado utilizar-se de “cola”, ou não sabem opinar nesta questão (3%).

Esta primeira questão ressalta a percepção que o aluno possui sobre a prática da “cola”, como sendo algo certo ou errado. É, de certa forma, um resultado bom, pois revela a ciência da maior parte dos estudantes quanto à incorreção de tal prática, sendo uma minoria (8,9%) contrária a esta visão.

2ª Questão: “Você já “colou” em alguma prova do seu curso superior?”

Aqui, já se obtém um panorama acerca do tema, uma vez que a imensa maioria dos futuros engenheiros que participaram da pesquisa (82,3%) assumiu já ter “colado” em alguma prova durante o curso. Isso significa que pouquíssimos destes alunos (17,7%) não utilizaram este artifício durante uma prova.

Este já era um resultado previsível, haja vista as conversas que sempre acontecem tanto no meio dos alunos, quanto entre os professores, acerca deste tema.

3ª Questão: “Com que frequência você “cola” (ou pelo menos tenta)?”

A frequência de utilização da “cola”, revelou que a grande maioria (54,1%) pratica este ato de forma esporádica, enquanto poucos (19,5%) estudantes assumem utilizar este artifício algumas vezes. Já os alunos que “colam” com frequência maior representam minoria absoluta da amostra (menos de 10%), colando sempre ou quase sempre, enquanto 17,7% dizem não colar nunca.

Assim, há a percepção que, segundo a maioria dos participantes, a “cola” nem sempre é um meio utilizado nas provas, ou seja, revela que esta prática não é tão habitual entre eles.

4ª Questão: “Você acha que a prova é capaz de avaliar o conhecimento adquirido?”

Aqui, a relação entre a “cola” e a prova, como instrumento de avaliação, esclarece que a maioria absoluta não considera (31%) ou nem sempre acha (62,2%) a prova capaz de avaliar o conhecimento adquirido. Contrário a isso, aqueles que a consideram capaz, ou mesmo os que não sabem opinar nesta questão, somam menos de 7% das opiniões.

Os alunos de engenharia, por meio deste resultado, colocam a prova em xeque, ao não concordarem com este instrumento de avaliação. Isso poderá ser melhor entendido, ao se observar o resultado da 6ª questão.

5ª Questão: “Se a prova não atribuísse nota, ou se não tivesse o poder de aprovar ou reprovar, você colaria?”

Este resultado aprofunda a discussão abordada na 4ª questão, que faz relação entre a “cola” e a prova, como instrumento de avaliação na engenharia. Tal feito se observa ao notar que a maioria gritante dos alunos (77,1%) não planejaria “colar”, caso a prova não atribuísse nota, ou se não tivesse o poder de aprovar ou reprovar o aluno. Em contrapartida, tem-se poucos indecisos nesta questão (17,4%), enquanto poucos “colariam” (5,5%), mesmo nestas condições.

O principal retorno dessa questão é o de que os alunos não concordam que a prova é eficaz para avaliar, o que acaba estimulando-os a “colar”, já que o sistema funciona desta maneira.

Já em relação ao resultado obtido na segunda parte da pesquisa, a interpretação é bem simples: a maioria esmagadora dos estudantes de engenharia “cola” devido a cobrança de memorização de formulários e normas. Parte significativa dos participantes opta pela “cola” por achar que o professor tem a didática muito ruim, ou não que eles não cobram o que realmente é passado em sala de aula, enquanto pequena parte assume “colar” apenas para garantir a aprovação no curso.

Correlacionando-se, agora, todas as questões da pesquisa, é possível uma ampliação no panorama gerado a partir da visão dos alunos.

Um ponto notório, já no início da pesquisa, é o de que a maioria dos estudantes condena o ato de “colar”, e mesmo assim a maioria realiza esta prática. Isso gera uma reflexão de que pode não ser algo totalmente comportamental, pode haver alguma motivação específica. Seguindo esta linha de pensamento, deve-se levar em consideração que esta prática, segundo a pesquisa, ocorre de forma esporádica, ocasional. Ou seja, estes alunos “colam” e acham errado fazer isso, entretanto, esta prática, segundo eles, é amenizada pelo fato de não ser habitual, pois ocorre pontualmente.

Como previsto neste trabalho, relacionou-se a “cola” à prova, como instrumento de avaliação, onde foi verificado que, na engenharia, este instrumento não é bem visto, não é considerado válido. Esta constatação começa a esclarecer possível motivação para os alunos acharem errado “colar”, e mesmo assim continuarem fazendo.

Levanta-se, assim, um questionamento: o professor pode, inconscientemente, estar estimulando a “cola”? Como resultado da pesquisa, tudo leva a crer que sim. Ressaltando-se que, como já esclarecido, essa pesquisa considerou amostra de estudantes do ensino superior de cursos de engenharia.

A engenharia, ao contrário das áreas não englobadas nesta pesquisa, é uma ciência exata. Como ciência exata, ao se avaliar por meio da prova, geralmente são esperados resultados com soluções específicas, sem margem para diferença no gabarito. Isso acontece, muitas vezes, em questões que utilizam fórmulas e normas, bastante recorrentes durante o curso.

O uso de normas, fórmulas e algumas informações, é justamente o motivo principal citado pelos estudantes para “colar”. De certa maneira, a reclamação dos alunos parece fazer sentido, uma vez que, apesar de necessárias, algumas informações não necessitam ser memorizadas, já que o profissional tem acesso irrestrito a isso, quando formado. Além disso, fórmulas não se aplicam sozinhas, sendo preciso conhecimento sobre como utilizá-la, como acomodar os dados e onde aplicá-la. Na mesma linha estão as normas, que são nada mais que especificações a serem seguidas.

Prova da questão tratada acima, tem-se as respostas obtidas na pesquisa, sobre os possíveis motivos pelos quais estes estudantes “colam”:

Estas são apenas algumas das respostas citadas, havendo tantas outras de mesmo teor, representando a maior parte delas. Isso serve como alerta, principalmente aos professores de engenharia, pois, como avaliadores, eles podem não estar desencadeando o indesejado comportamento da “cola” entre os alunos.

Quando o professor recorre à memorização, ao invés de incentivar o conhecimento em si, é gerado um ciclo vicioso, justamente onde se desenvolve a “cola”: o professor quer que o aluno memorize uma grande quantidade de informações, enquanto o aluno, como meio de suprir esta demanda, recorre à “cola”. Este ciclo deve ser eliminado, e uma alternativa é que o professor reflita e aplique, em suas avaliações, conhecimento qualitativo ao invés de quantitativo, que seja revista essa tendência, tradicional, em estimular o aluno a memorizar conteúdo, ao invés de conhecê-lo.

Ressalta-se que, de maneira nenhuma a culpa está sendo atribuída ao professor, o que se propõe é justamente uma maneira para evitar que o aluno caia na prática da “cola”, ou seja, serve como reflexão e remediação aos professores.

Outro motivo bastante usado para justificar a “cola”, foi a didática ineficaz do professor, aliada à cobrança de conteúdo não abordado em sala de aula. Algumas respostas se destacaram, como:

Didática inadequada e cobrança indevida de conteúdo, engloba professores de várias áreas, além da engenharia. Este pode ser um problema de alguns professores, mas não é correto afirmar que o aluno está “colando” por este motivo. Porém, a visão do estudante serve para nortear o professor, sendo preciso, assim, que ele reconheça se está cobrando mais do que ensinou, ou se está conseguindo transmitir de forma eficiente aquele conteúdo. Assim, pode ser possível desestimular o aluno de “colar”.

Além das justificativas já citadas, há a não concordância com o método de avaliação, o que faz com que o aluno esteja estimulado apenas em alcançar a nota da aprovação, deixando de lado o real aprendizado do conteúdo. Representando essa afirmativa, foram destacadas algumas das justificativas dadas pelos alunos:

Constatadas estas respostas, é claramente possível ver o descrédito do método de avaliação utilizado atualmente, cultivando no aluno o pensamento de alcançar notas e metas. Porém, isso pode ser mudado, quando o professor avalia qualitativamente, e não quantitativamente.

Feita essa discussão, é possível afirmar, pela visão dos alunos participantes, que os alunos sabem que estão errados, mas compartilham a culpa com o professor que, devido às ações de alguns deles, juntamente com a não concordância com o método avaliativo, podem facilitar a propagação da prática da “cola”.

6. Conclusões

O sentido principal da pesquisa foi o de mostrar a visão e as razões dos estudantes de engenharia sobre a “cola”. Porém, o que pretende-se alcançar, com isso, é a reflexão, em professores e alunos, principalmente de engenharia, para que eles melhor entendam acerca deste processo.

Como foi demonstrado na pesquisa, muitos alunos acabam utilizando a “cola” justamente por não concordarem com o sistema avaliativo e com algumas atitudes dos professores. Para isso, Castanheira et al. (2005) afirma que, para que o processo de avaliação dê certo, os alunos precisam se conscientizar da importância de sua opinião, assim como os professores tem que entender que o objetivo da avaliação é a melhoria. Ou seja, deve haver equilíbrio entre as ações dos professores e alunos, para que assim, a “cola” seja deixada de lado.

Os alunos de engenharia, em especial, se sentem deslocados com a prova como avaliação, já que, muitas vezes, ela é utilizada em caráter quantitativo, onde se cobra memorização de fórmulas e normas, ao invés de se valorizar o raciocínio e o aprendizado. Tudo isso, como já discutido, acaba estimulando diretamente a “cola” entre eles.

É preciso entender que a culpa é dividida meio a meio, entre os alunos e os professores. Assim, faz-se necessária uma discussão clara e franca entre estas partes, a fim de que um acordo seja feito, e as vozes sejam ouvidas, suprimindo ao máximo as ações que podem desencadear a prática da “cola”. Deve, o aluno, esclarecer ao professor sua expectativa de aprendizado, citando suas discordâncias que estimulam a “cola”, assim como o professor também deve elucidar as necessidades dos ensinamentos, e procurar sempre melhorias nas avaliações, para que sejam feitas de maneira qualitativa, em que o saber é o objetivo principal, ao contrário de avaliações quantitativas, que é justamente a reclamação dos alunos.

Portanto, a “cola” entre os estudantes de engenharia pode ser combatida e coibida a partir do diálogo entre professores e alunos, em que ambos se comprometam a buscar a melhoria nas questões citadas pela pesquisa.

Referências bibliográficas

Barbosa, B. E. (2013) “Cola” em sala de aula: a taxionomia é o antídoto. Atlante Cuadernos de Educación y Desarrollo, jul. 2013. Disponível em: < http://atlante.eumed.net/taxionomia/>. Acesso em: 05 mai. 2017.

Castanheira, A. M. P.; Masson, T. J.; Miranda, L. F., Mendes, M. (2005)Avaliação e Formação de Docentes Sob a Ótica do SINAIS. XXXIII Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia. Campina Grande.

Levitt, S. D., Dubner, S. J. (2005) Freakonomics: o lado oculto e inesperado de tudo o que nos afeta – as revelações de um economista original e politicamente incorreto. Tradução de Regina Lira. Rio de Janeiro: Elsevier.

Marquesin, D. F. B., Benevides, C. R. (2014) Avaliação da aprendizagem no ensino superior: reflexões sobre a “cola”. Revista de educação, mai. 2014. Disponível em:< http://www.pgsskroton.com.br/seer/index.php/educ/article/viewFile/1716/1641>. Acesso em: 06 mai. 2017.

Oliveira, J. B. A.; Chadwick, C. (2001) Aprender e ensinar. São Paulo: Global.

Sanmartí, N. (2009) Avaliar para aprender. Trad. Carlos Henrique Lucas Lima. Porto Alegre: Artmed.

Teixeira, G. A (2004) Questão da avaliação. In: www.serprofessoruniversitario.pro.br.

Teixeira, J.; Nunes, L. (2008) Avaliação escolar: da teoria à prática. Rio de Janeiro: Wak Editora.

Vasconcellos, C. S. (2000) Avaliação: concepção dialética-libertadora do processo de avaliação escolar. 11. ed. São Paulo: Libertad.


1. Departamento de Engenharia Civil. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Vilhena. E-mail de contato: augusto.silva@ifro.edu.br

2. Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Docência do Ensino Superior. Universidade Cândido Mendes

3. Departamento de Engenharia Civil. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Rio Verde. E-mail de contato: philippe.silva@ifgoiano.edu.br

4. Departamento de Engenharia Civil. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás – Campus Uruaçu. E-mail de contato: gustavo.quirino@ifg.edu.br

5. Departamento de Engenharia Civil. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rôndonia – Campus Porto Velho. E-mail de contato: monnike.vale@ifro.edu.br

6. Departamento de Eletrotécnica. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Trindade. E-mail de contato: vilmar.neto@ifgoiano.edu.br


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