ISSN 0798 1015

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Vol. 41 (Nº 02) Ano 2020. Pág. 23

A norma culta na atualidade: Interferências e desafios para professores do ensino fundamental

The norm currently cultured: interferences and challenges for elementary school teachers

COSTA, Marta Maria 1 e COUTINHO, Diógenes Gusmão 2

Recebido: 30/09/2019 • Aprovado: 11/01/2020 • Publicado 31/01/2020


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados

4. Concluções

Referências bibliográficas

Anexos


RESUMO:

Uma das principais tarefas da escola nos anos iniciais é o ensino/aprendizagem da língua materna. Porém, se faz necessário o ensino da língua padrão, que também é conhecida como norma culta ou linguagem formal. O estudo da gramática permite que o estudante desenvolva competências e habilidades na leitura, na escrita e na oralidade sabendo transmitir de maneira coerente sua opinião crítica para a sociedade. Dessa forma é de grande importância que o professor da língua portuguesa tenha maior qualificação profissional.
Palavras chiave: Norma culta; Estruturalismo linguístico; Língua portuguesa

ABSTRACT:

One of the tasks of the school in the early years is the teaching/learning of the mother tongue. However, it is necessary to teach the standard language, which is known as a cultured norm or a formal language. The study of grammar allows the student to develop skills and skills in reading, writing and orality knowing how to consistently transmit their critical opinion to society. Thus, it is of great importance that the teacher of the Portuguese language is more qualification professional.
Keywords: Cultured norm; Linguistic structuralism; Portuguese language

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1. Introdução

Regionais, contextuais, socioculturais ou históricos, as variações linguísticas são fenômenos naturais onde seus fatores ocorrem de maneira diferenciada proporcionando o mesmo significado. Segundo Koch (2007), a linguagem se adequa para atender a comunicação através das trocas de experiências cotidianas que transformam o ser humano. É possível perceber a necessidade de mudança no ensino/aprendizagem, respeitando a diferença e as variações da língua materna. Mas, ter respeito com a variedade linguística não significa abrir mão da norma culta.

O estudo da língua portuguesa se inicia desde o ensino básico com indivíduos que já têm o contato com inúmeras situações de comunicação, porém cabe aos professores orientar seus aprendizes através do processo de ensino/aprendizagem voltado tanto para a metalinguagem gramatical, como para as noções e conceitos sobre da língua.

Para assim desenvolver a competência linguística do aprendiz de forma a ampliar sua habilidade comunicativa e facilitar seu trânsito entre as mais diferentes situações de uso efetivo da língua portuguesa.

Segundo Neves (2008):

“O professor nesse caso, sabendo da importância de sua profissão quebra barreiras pois sabe que necessita de um conhecimento maior para atingir o conhecimento e valorização da linguagem culta de seus estudantes. Na língua portuguesa, o papel principal da escola é o ensino da norma culta, assim o aprendente dominando a comunicação da linguagem formal consegue de maneira eficaz a inclusão social”. (NEVES, 2008, n/p.).

Em outras palavras, é missão dos profissionais da educação, enquanto agentes de letramento e socialização, promover o saber da norma culta, levá-los a compreender como essa competência funciona e como a leitura e a escrita são indispensáveis para o processo de interpretação dos variados gêneros textuais.

Como qualquer língua natura, a língua portuguesa também está ligada a diversos valores sociais sofrendo consequentemente modificações, por isso, nem todos conseguem o domínio da linguagem padrão ou culta em vigor, condicionando, dessa maneira, modificações no uso da língua cujo chamamos de linguagem informal, de variantes linguísticas ou também pode ser chamada de linguagem coloquial.

Marcuschi (2007) afirma que cada indivíduo traz uma opinião relativa ao assunto da língua portuguesa, a verdade é que todos nós passamos pela escola adquirindo um conhecimento pessoal sobre o assunto. E alguns estudiosos do tema defendem que não há um erro de português, que não existe formas “certas” ou “erradas”. E em decorrência desse fato há muitas pessoas com sua autoconfiança baixa, que acreditam não saber falar e nem a linguagem escrita do português padrão e culto.

A língua portuguesa representa um campo aberto e em contínua renovação, cujos estudos, a partir de perspectivas das diferentes variações linguísticas, contribuem para a construção de modelos cada vez mais amplos que considerem os elementos constituintes da norma culta.

Soares (2002) afirma que se houvesse o aprendizado crítico-reflexivo e contextualizado em sala de aula, sem a interferência da linguagem popular, mostrando o verdadeiro valor e a importância da língua portuguesa e de todas as suas normas, a sociedade com o tempo passaria a valorizar suas normas as colocações e coerências, como o passar dos anos passaríamos a falar com base no padrão normativo exigido nas interações formais, bem como contribuindo diretamente para o uso do português culto.

Na verdade, se os alunos obtiverem o conhecimento da norma culta, tanto na oralidade como na escrita, escreverão de maneira formal, considerando a gramática e, dessa maneira, o aprendiz internaliza na fala e na escrita os padrões formais e cultos exigidos pela sociedade letrada.

Art. 1° O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, entre os Governos da    República de Angola, da República Federativa do Brasil, da República de Cabo Verde, da República de Guiné-Bissau, da República de Moçambique, da República Portuguesa e da República Democrática de São Tomé e Príncipe, de 16 de dezembro de 1990, apenso por cópia ao presente Decreto, será executado e cumprido tão inteiramente como nele se contém. (BRASIL, Decreto nº6583 de 29 de setembro de 2008).

Para alguns estudiosos, a gramática vem sendo a trinta anos contestada e que é preciso mudar o papel de letramento dos alunos. Como podemos observar, nossa língua ultrapassa nossas barreiras territoriais e vai a outros países, mostrando a importância da língua nativa para a nação e para outros países. Por isto, no ensino da norma culta observa-se a importância de se trabalhar desde a mais tenra idade, bem como questionarmos a formação dos professores de português.

As grandes transformações sociopolíticas pelas quais passou a sociedade nas últimas décadas com o surgimento da globalização do conhecimento decorrente as tecnologias da informação e da comunicação geraram a necessidade de novos parâmetros para a formação dos cidadãos. (BRASIL 2000).

Uma definição básica para gramática segundo Terra (2008) corresponde ao conjunto de regra que determina o que é correto da língua escrita e falada. Na gramática existem vários eixos dentre eles: normativa, histórica, comparativa, funcional e descritiva, porém, destes diversos tipos apenas um é utilizado com mais ênfase no período escolar, a gramática normativa.

Figura 1

 

Fonte: Imagem do Google

A gramática é a base da escrita formal, e não existe produção textual sem ela. Sendo assim, a escola tem como obrigação ensinar essa variação para que os alunos se apropriem dela e tenham acesso a participação social, garantindo sua cidadania.

Art.13 A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.

Art.1° Os órgãos e entidades públicas, vinculados aos Poderes Públicos da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, devem utilizar a norma culta da língua portuguesa em documentos oficiais e sítios eletrônicos da Rede Mundial de Computadores, em cumprimento ao art. 13 da Constituição. (BRASIL, 2009).

É indispensável, dessa maneira, que o ensino da norma culta seja percebido como importante e obrigatório, pois, corresponde ao conjunto de regras que determina o que é correto da língua escrita e falada. Embora saibamos que o uso da gramática tem por objetivo imediato refinar a habilidade de escrita e leitura, ela desenvolve competências que permitem que o indivíduo saiba escutar, entender, falar, criticar e expor suas ideias de forma clara e objetivas.

Marcuschi (2007) diz que a língua não é neutra, e essa consciência permitirá que o indivíduo amplie sua competência comunicativa enriquecendo seu vocabulário.

1.1. Problemática

Atualmente, escutamos de muitos estudiosos e de pessoas comuns que não existe “erro de português”, que a linguagem popular, cheias de gírias, também faz parte da língua portuguesa e devemos aceitá-las. Mas, se o ensino da gramática e toda a norma culta fosse extinto em sala de aula, e ao se tornar livres desta norma, qual o prejuízo que teríamos?

Muitos professores da língua portuguesa não refletem sobre a norma culta, apenas trabalham em cima da língua materna e das variações linguísticas. Causaria estranhamento em contextos formais de interação, por exemplo, se alguém pronunciasse “a gente somos” ou se observasse alguém escrevendo “a gente vai”, até que ponto viver sem as regras padrão seria normal?

E a tendência seria criar uma língua, uma nova escrita para cada pessoa .  De acordo com Cagliari (2007) de fato, não teríamos mais o medo de expressar com os deslizes gramaticais.

 Porém, Perini(2005) diz que devemos observar que a norma culta se faz necessária para que haja uma coerência na língua e com isso a continuação e a tradição da mesma, neste caso não existe uma invenção sociocultural de uma norma pré-estabelecida para que todos assumissem o propósito de segui-la sem nenhum fundamento, existe sim, uma forma concreta de comunicação e que não devemos perder, devemos acima de tudo respeitá-la.

Diante do exposto quais barreiras dificultam o trabalho do professor para alcançar o ensino da norma padrão? Como o professor deve fazer com que seus alunos percebam a relevância do uso da norma culta?

1.2. Justificativa

A presente pesquisa visa refletir sobre as barreiras que impedem o funcionamento do processo de aculturação linguística, expondo as hipóteses das possíveis causas que interferem neste processo.

Freire (2007) afirma que são grandes os prejuízos para as crianças que não obteve aprendizagem significativa da norma culta. Por isso, é importante incluir o uso da linguagem padrão nos anos iniciais da educação. Tendo em vista que as séries iniciais são base da formação do cidadão ético, crítico e atuante na sociedade. 

É necessário também que os professores da língua portuguesa sejam avaliados e capacitados para que ensinem a importância da linguagem formal do português sem deixar de falar da influência das linguagens informais. Sabe-se que o sistema escolar, ao avaliar uma produção textual do aluno, preocupa-se em ver somente os erros gramaticais, como ortografia, acentuação e pontuação. Sabemos que a linguagem informal existe, e será acrescida na personalidade e na expressão do indivíduo para que exponha sua opinião na sociedade, mas, contudo, o aluno deve ter ciência do significado da palavra e de sua origem, além do conhecimento das regras e normas para a valorização de sua língua materna.

1.3. Hipótese

Os professores da língua portuguesa a princípio, eles não levam as normas aos alunos, a maneira que lecionam, não é atrativa, diversificada, acolhedora, onde respeita a diferença de aprendizado de seus aprendentes.

Os professores não adaptam o ensino/aprendizagem da realidade dos estudantes com as suas aulas para que os alunos absorvam os conteúdos da norma culta fazendo comparações enriquecendo os vocabulários deles.

Os professores têm dúvidas se devem ou não corrigir seus aprendizes, pois não existe erro de português para muitos autores.

Koch (2007) diz: diante do exposto são muitas barreiras que dificultam o trabalho do professor da língua portuguesa para alcançar uma qualidade de ensino, o professor deve fazer com que os seus discentes percebam a relevância do uso da norma culta e padrão nos contextos formais de interação.

2. Metodologia

Este trabalho é o resultado de pesquisa de campo de natureza qualitativa e quantitativa através observação e questionário aplicados aos professores do Ensino Fundamental I. O estudo foi relacionado com as pesquisas bibliográficas de alguns teóricos que embasam as informações contidas neste artigo.

Os professores entrevistados foram da Escola Municipal Parque dos Milagres, localizada na região metropolitana do Recife-PE.

Segundo Gil (2017), pode-se definir que a pesquisa é um “processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”. (GIL, 2017, p. 42).

Para a coleta de dados utilizamos o questionário com perguntas abertas e fechadas. Verificando assim os pontos de vista apresentados pelos professores referentes ao ensino da língua culta em sala de aula.

2.1. Tipo de pesquisa

A pesquisa desenvolvida neste trabalho é de natureza qualitativa e quantitativa, por meio de observação e questionário com professores da Escola Municipal Parque dos Milagres, localizada na região metropolitana do Recife – PE. Sendo realizada com embasamento bibliográfico de alguns teóricos que buscam revelar a interação do tema exposto.

O questionário segundo Gil (2017, p. 128), “pode ser definido como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.

2.1.1. Caracterização do local pesquisado

A pesquisa de campo ocorreu na Escola Municipal Parque dos Milagres, localizada na rua Cantor Leandro, s/n, no bairro do Barro no município de Recife-PE. A mencionada escola atende aproximadamente 428 alunos distribuídos em dois turnos (Manhã e Tarde) do Ensino Infantil ao Ensino do Fundamental I.

A escola possui uma boa estrutura física, com 12 salas de aulas amplas e arejadas, laboratório de informática, banheiros para funcionários, banheiros com chuveiro para os alunos, Banheiro adequado à Educação Infantil, também há dependências como vias e banheiros adequados para pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida; cozinha, refeitório, sala de diretoria, sala de leitura, sala de secretaria e outras dependências.

Com um quadro de 34 funcionários incluindo uma gestora, uma gestora adjunta, uma secretaria, duas coordenadoras, dois agentes administrativos, três merendeiras, dezenove professores em sua maioria contratados, duas estagiárias, dois professores de atendimento educacional especializado e três auxiliares de serviços gerais. O trabalho pedagógico é em cima do PPP (Projeto Político Pedagógico) da escola que é democrático em parceria com a comunidade local.

2.1.2. Caracterização dos sujeitos

A pesquisa qualitativa e quantitativa foi realizada com 8 professores da Escola Municipal Parque dos Milagres que atuam nas séries iniciais do Fundamental I, 2 (dois) pedagogos, 6 (seis) graduados em Letras, o estudo buscou entender como é desenvolvida o ensino da norma culta na disciplina da língua portuguesa.

Segundo (GIL, 2007), “para fazer uma pesquisa são necessários instrumentos apropriados que levam o pesquisador ao encontro do resultado esperado”. Neste caso utilizamos entrevistas por meio de questionário permitindo que os professores livremente escrevessem sobre suas estratégias de ensino a respeito da língua portuguesa.

2.1.3. Instrumentos de coleta de dados

A pesquisa desenvolvida neste trabalho é de natureza qualitativa e quantitativa, e utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário com 10 (dez) questões abertas e fechadas a respeito da do estruturalismo linguagem padrão da norma culta. Todos os professores de língua portuguesa se dispuseram a participar da pesquisa respondendo de forma precisa a todas as questões elaboradas.

De acordo com Gil (2017), o estudo de campo trata-se de uma forma de se fazer pesquisa investigativa de fenômenos dentro do contexto real, em situações em que as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não estão claramente estabelecidas.

O momento de observação possibilitou conhecer melhor o trabalho dos entrevistados, as suas propostas e intervenções de ensino e de como se dá aprendizagem dos estudantes. Proporcionando melhor entendimento sobre os as questões relatadas por escrito nos questionários com as práticas aplicadas em sala de aula.

3. Resultados

Os resultados apresentados estão de acordo com os depoimentos dos professores de Língua Portuguesa entrevistados durante a pesquisa de campo. Intercalados com o embasamento teórico de alguns autores.

Quadro 1
Perguntas e respostas
do questionário aplicado

Perguntas

 Respostas

% Resposta

Tendo em vista a norma culta na atualidade. Qual o seu desafio em sala de aula?

Identificar, compreender e reparar as dificuldades encontradas pelos alunos.

 

50%

comportamento do estudante.

50%

O que é feito para instigar a curiosidade de cada aluno dentro da sala de aula?

Pesquisas, documentários, atividades diversas com o uso da tecnologia.

 

40%

É possível identificar a dificuldade do aluno, compreender e auxiliar em relação suas dificuldades?

Sim

 

70%

As vezes

 

30%

Como é feito a escolha das atividades?

Através dos planejamentos dos conteúdos já trabalhados.

 

80%

Estamos na era, onde a tecnologia tem tido um grande avanço. Você acha que o uso pedagógico de aparelhos eletrônicos pode contribuir para a motivação e aprendizagem do aluno?

Depende da atividade proposta. Pois muitos estudantes confundem como diversão.

 

30%

Sim

70%

Que tipo de pesquisa é passada para o aluno, fazendo uso do computador, celular ou tablet?

Pesquisas dos significados das palavras, de conteúdos que foram estudos e precisam ser ampliados como documentários.

 

80%

Qual visão do pai, diante do trabalho realizado com os recursos tecnológicos? Já foi discutido com o pai sobre esta prática?

Acham bom, pois, os pais percebem os avanços dos filhos. Sim.

                  

90%

Os pais estão de acordo. Porém não houve debates sobre o tema.

 

10%

Para nos comunicar e nos conectar com as pessoas do nosso cotidiano, utilizamos as linguagens verbais e não verbais, como este trabalho é realizado dentro de sala de aula?

Fazemos um trabalho escolar para disseminar os tipos de linguagens com as crianças. Através de produções textuais.

 

100%

Ainda deparamos com alunos que falam errado e que escreve errado. Como é possível reverter essa situação e que tipo de estratégia é utilizado para minimizar essa prática?

Exercícios, pesquisas, questionários, frases, textos, gêneros textuais e outros tipos de pesquisas relacionando a leitura e a escrita.

 

100%

Fonte: Pesquisas de dados 2019

Entende-se que o professor atualmente não trabalha corrigindo o aluno, mas explora informações para dimensionar e reformular o seu pensar.

Sabe-se que na linguagem informal não existe certo ou errado, o mais importante nesse diálogo é que as pessoas interajam e assim consigam se entender.

Geraldi (1997) afirma que a escola tem por função demonstrar as variações históricas socioculturais direcionando o processo positivo da apropriação da linguagem culta aos seus estudantes os tornando letrados.

Observou-se que a maioria dos professores se limitam a ensinar de maneira adequada a linguagem culta. Eles apenas trabalham utilizando recursos tecnológicos através de pesquisas em internet ou produção de textos.  Não trabalham o estruturalismo da língua e o seu funcionamento, apenas trabalham com o conteúdo dos livros, ou não estimulam seus aprendentes a conhecer as formas de linguagem.

Freire (2007) revela a importância das trocas de experiências que agregam valores e transformam visões de mundo, de culturas.  Sendo assim, o indivíduo absorve o conteúdo cultural pela convivência com o meio, e com a linguagem também não é diferente.

É superficial o ensino da linguagem culta.  As crianças na maioria das vezes não sabem utilizar o dicionário. Tem dificuldades de compreensão da leitura e da escrita. Utilizam celulares, tablets, computadores, muitos tem acesso as redes sociais, mas com bastante erros ortográficos e cheias de vícios de linguagem escrita. Geralmente os estudantes utilizam a tecnologia para jogos. Os pais sabem que as crianças utilizam a tecnologia na escola e aprovam.

Soares (2002) diz que a internet é utilizada para comunicação social ou para adquirir conhecimentos e por essas tecnologias utilizamos a escrita e muitas vezes modificamos nossa maneira de escrever para acelerar a comunicação, a partir desse princípio percebemos que corriqueiramente transcrevemos a escrita virtual para a escrita comum, adquirindo vícios em nossas produções.

Os professores relataram que se utilizam de várias ferramentas para influenciar os alunos a aprenderem a escrever e a ler com o auxílio da tecnologia. Pedindo que eles produzam textos digitados.

Veiga (2008) diz que essa influência constante da tecnologia faz com que nossa maneira de escrever seja prejudicada, por isso, destacamos que o professor de língua portuguesa não repreenda o aluno, mas desenvolva atividades que abordem as competências da norma culta para que os aprendentes possam compreender a escrita e a oralidade que deve ser utilizada em conformidade ao ambiente ao qual o indivíduo esteja ou seja inserido.

A maioria dos indivíduos tem um vocabulário pobre, mesmo falando muito. Porém reproduzimos aquilo que estamos habituados a ouvir. E a família tem grande influência, pois ela ensina a língua materna. Sabemos que na maioria das escolas a linguagem das gírias predominam.  E é importante que elas sejam trabalhadas pelos professores e alunos para que conheçam seus significados e conheçam vocabulários mais formais, para saberem se pronunciar quando necessário.

Bagno (2008) afirma que as gírias são empregadas como um fenômeno linguístico sendo aceita pela sociedade, são diversas e variadas, uma linguagem popular que está presente por regiões e distribuídas pelos grupos sociais. Na linguagem informal utilizamos muitas gírias, com o uso cotidiano pode causar prejuízos como vícios de linguagem.  Assim devemos ter atenção para não misturarmos com a norma culta.

Freire (2007) diz: “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.

Cabe aos professores da língua portuguesa e aos demais se envolverem e debaterem uma nova proposta de ensino/aprendizagem voltados para o ensino da língua materna, mas sem esquecer de todo estruturalismo linguístico que a língua portuguesa exige.

4. Concluções

Percebemos que na formação dos professores em língua portuguesa, algumas faculdades se limitam a colocar em sua grade curricular o ensino voltado apenas para as noções e regras gramaticais, como se tudo que os docentes tivessem que aprender fosse apenas centenas de regras como por exemplo: teorias do texto, concepções de leituras e escrita e etc. Com isso, o conhecimento de alguns profissionais da educação se restrigem apenas a didática dos livros. Não adaptam suas aulas, não utilizam projetos de pesquisas mais avançadas em relação a linguagem padrão e todas as variações linguísticas.

A forma mais eficaz de compreensão certamente e a verbalização da opinião, ela conecta pessoas permitindo assim o entendimento, ou o aprendizado em caso

de sala de aula.  Sabemos que existem diversas formas de linguagem, ao qual é dever da instituição escolar transmitir essas informações linguísticas para que o aluno conheça e desenvolva toda a forma de se expressar.

De acordo com Terra (2008), a real definição de uma pessoa letrada é quando ela consegue ter domínio na leitura e na escrita. Muitos pensadores têm como opinião que as classes populares sofrem por não dominar a norma padrão, onde a sociedade intitula essas pessoas como ignorantes, fazendo assim um motivo de exclusão das camadas populares. Para muitos saber se expressar, ler fluente e escrever corretamente só conseguem quem é influente na sociedade, ou seja, pessoas da classe rica.  Porém, devemos salientar que é dever da escola ensinar todas as formas de expressão de comunicação e principalmente a mais importantes que é a linguagem culta, e seus alunos devem se apropriar dela, para se expressar, compreender o que outros falam e até para adquirem um bom emprego.

O professor da língua portuguesa deve ensinar que existe tanto a linguagem informal, como a formal, para que seus aprendizes possam se utilizar de cada maneira de expressões em seus devidos ambientes. Também deve ensinar a necessidade da comunicação, para que o aprendiz esteja alerta quando será o momento correto para a utilização das variedades linguísticas, qual o momento de utilizar linguagem formal e/ou informal. Ou seja, o profissional da educação precisa orientar o caminho sobre a importância do domínio da língua. Dessa forma os indivíduos estarão capacitados para interpretar o mundo a sua volta discernindo os diversos padrões da linguagem.

Geraldi (1997), diz que o professor deve analisar sua sala e perceber até que ponto os estudantes entendem as regras que estabelece a norma culta, até onde vai a comunicação formal utilizada no seu dia a dia, para que com isso o educador possa traçar um caminho que aos poucos, até o final do ano, eles se tornem melhores e sem limitações no conhecimento da gramática.

Existe também uma grande barreira no processo da língua culta, e essa é a realidade ao qual o aluno está inserido. Por isso é necessário que durante o processo da introdução da língua padrão os professores não estigmatizem a turma, controlando informações ou ainda repelindo os indivíduos, quanto mais situações conflituosas tiverem mais difícil será o êxito de uma educação de qualidade, isso é a conscientização do valor social, cultural, regional são importantes independentemente de classe sociais.

Bagno (2008) diz que na perspectiva das diferentes regiões e culturas distintas, as particularidades e singularidades de uma sociedade enriquece a cultura, como também enriquece a língua, ela varia em cada região mostrando sua variedade, apresentando diferenças regionais onde apresentam características singulares, particulariza a fala, é também heterogênea, um instrumento não apenas de comunicação, mas um instrumento social.

Sendo assim, também é importante o ensino das gírias e do neologismo.  Pois com as constantes mudanças de informações e com o excesso de novas tecnologias faz com que a língua se modifique surgindo assim novas palavras, ou palavras antigas com significados novos, que incorporados ao nosso idioma logo é absorvido pelo falante. Também forçando que os professores e alunos se apropriem desses conceitos.

As trocas de experiências são de grande importância pois agrega valores transforma a realidade do sujeito que reter a informação que é necessário para a sua sobrevivência. O Brasil é um país multicultural com uma rica pluralidade de linguagens com seus sotaques, e expressões diferentes, cada região possui sua cultura própria. Sendo assim o professor tem um leque de conteúdos que podem ser desenvolvidos em sala de aula com seus alunos. Permitindo que eles cresçam e ampliem seus conhecimentos.

Percebe-se que os professores da língua portuguesa devem buscar novas ferramentas tecnológicas para incrementar suas aulas, como: jogos, músicas, brincadeiras, saraus, teatro, projetos envolvendo toda a comunidade escolar etc. Transformando suas aulas em atrativas, prazerosas e assim possa conquistar o interesse dos estudantes de buscar novas informações a respeito de qualquer tema trabalhado sobre a linguagem. Tornando-os comunicadores, leitores e escritores críticos através das aulas e pesquisas que visam trabalhar os com os diversos gêneros de textos: como poemas, gibis, texto científicos, literaturas entre outros que conduziram a todos a terem novos conhecimentos a respeito da língua culta e do mundo a sua volta.

Esperamos que este estudo venha contribuir na formação do leitor em especial dos professores e que conquiste o interesse das faculdades  para que agreguem em sua grade curricular estratégias didáticas que visam ajudar o professor a trabalhar de forma lúdica a língua portuguesa para que os indivíduos desde cedo se apropriem da competência e habilidade de saber utilizar a linguagem informal ou formal quando necessária. Dessa forma formaremos pessoas éticas, críticas que sabem discernir sobre direitos e deveres, que tem consciência de como empregar a gramática em seus textos escritos, sabendo através das regras o que é certo ou errado nas palavras e que falem de maneira que todos compreendam. Dessa forma transformaremos com qualidade do ensino/aprendizagem a realidade de muitos cidadãos através da valorização da língua portuguesa.

Referências bibliográficas

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Parábola. 2001.

BRASIL. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. (2008).

BUNZEN, Clécio; Mendonça, Márcia (Org.). Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & Linguística. 10. ed. São Paulo: Scipione, 2007.

FARIA, Vitória Líbia Barreto de; Dias, Fátima Regina Teixeira de Salles. Currículo na Educação Infantil: Diálogo com os demais elementos da Proposta Pedagógica. São Paulo: Scipione, 2012.

FIORIN, José Luiz. Introdução à Linguística. São Paulo: Contexto, 2006.

Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 6. Ed. São Paulo: Atlas, 2017.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A interação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 2007.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 3.ed. São Paulo: Parábola, 2009.

MORAIS, Artur Gomes de. Ortografia: ensinar e aprender. São Paulo: Ática, 2007

PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática. 3. ed. São Paulo: Ática, 2005.

SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2008.

SUASSUNA, Lívia. Ensino de Língua Portuguesa – uma abordagem pragmática. Papirus, 2000.

NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramática estudar na escola? Norma e uso na Língua Portuguesa. São Paulo: Contexto, 2008.

Anexos

Entrevista

  1. Tendo em vista a norma culta na atualidade. Qual o seu maior desafio em sala de aula?
  2. O que é feito para instigar a curiosidade de cada aluno dentro da sala de aula? 
  3. É possível identificar a dificuldade do aluno, compreender e auxiliar em relação suas dificuldades? 
  4. Como é feito a escolha das atividades?
  5. Estamos na era, onde a tecnologia tem tido um grande avanço. Você acha que o uso pedagógico de aparelhos eletrônicos pode contribui para a motivação e aprendizagem do aluno?
  6. É possível saber quantos alunos tem acesso a computador ou celular?
  7. Que tipo de pesquisa é passada para o aluno, fazendo uso do computador, celular ou tablet?
  8. Qual a visão do pai, diante do trabalho realizado com os recursos tecnológicos? Já foi discutido com o pai sobre essa prática?
  9. Para nos comunicar e nos conectar com as pessoas do nosso cotidiano, utilizamos as linguagens verbais e não verbais, como este trabalho é realizado dentro da sala de aula? 
  10.  Ainda deparamos com alunos que fala errado e que escreve errado. Como é possível reverter essa situação e que tipo de estratégia é utilizado para minimizar essa prática? 

1. Mestranda em Ciências da Educação pela Faculdade Alpha Unigrendal Premium Corporate (UPC)/Grupo Alpha. E-mail: martamariacosta496@gamil.com

2. Professor PH.D. da Faculdade Alpha do Mestrado Internacional em Ciências da Educação do Centro Universitário Brasileiro – UNIBRA. E-mail: gusmao.diogenes@gmail.com


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