Espacios. Espacios. Vol. 30 (2) 2009. Pág. 21
Factores que impactan el desempeño de un programa estadal de innovación tecnológica bajo un enfoque macroergonómico
Carlos Fernando Jung, Lia Buarque de Macedo Guimarães, José Luis Duarte Ribeiro y Carla Scwenberg ten Caten
Recibido: - Aprobado
Nesta seção, é proposta uma síntese dos resultados obtidos a partir da análise das relações e inter-relações entre os problemas relatados pelos pesquisadores, os subsistemas e o desempenho do Programa de Pólos. Foi elaborado um mapa conceitual que demosntra as relações e inter-relações existentes a partir dos casos de insucesso em P&D no Programa, o qual está apresentado na Figura 5.
Figura 5
Mapa conceitual das relações entre os subsistemas, competências e desempenho do Programa.
Em relação aos problemas relatados pelos pesquisadores, a análise permite dizer que existem problemas em todos os subsistemas (ambiente externo, social, organização e técnico), que podem estar afetando tanto as competências dos pesquisadores como o desempenho do Programa. Uma interessante constatação é que o Programa de Pólos da SCT/RS pode estar afetando seu próprio desempenho pelo “atraso na liberação dos recursos” e pela “falta de um sistema de gestão do conhecimento e informação”, ver ítens (i) e (ii) da Figura 4, ou ocasionando desmotivação nos pesquisadores, ver ítens (vi) e (x) da Figura 3. As entidades externas ao Programa estão gerando vários problemas e contribuindo, em especial, para afetar as “atitudes” dos pesquiadores, ver ítens (i) a (v) da Figura 4.
Os problemas relatados pela Divisão de Pólos da SCT/RS relativos a deficiências no “conhecimento” dos pesquisadores, ítens (1) e (2) da Figura 2, revelam a existência de problemas associados a um dos atores pertencente ao “ambiente externo”: as instituições de ensino, que contribuiram na formação acadêmica dos pesquisadores.
O subsistema ambiente externo, representado pelas instituições (unidades executoras dos Pólos de Inovação) e demais entidades (Associações, Sindicatos, Clubes, Conselhos Regionais de Desenvolvimento etc.), tem gerado um problema em comum que é a interferência na liberdade de decisão dos pesquisadores quando da formulação das propostas de projetos. Para Storino et al. (1999), a liberdade humana é aberta a todas as influências, sejam sociais, organizacionais ou ambientais. Paradoxalmente, esta liberdade é, ao mesmo tempo, o valor mais alto e o mais inalienável. Para esses autores, o indivíduo que é afetado pela decisão de outros poderá sentir que tem pouco controle sobre sua natureza.
Tagliapietra (2001) refere que, na maioria das organizações, as lideranças não consideram os valores individuais dos integrantes de sua equipe, havendo restrições ao grupo em relação à tomada de decisões. Tais posturas têm ocasionado baixa produtividade, desajustamentos e inadaptações dos indivíduos em seus respectivos trabalhos. Nas organizações, isso tem gerado redução de lucro e perda de competitividade. Segundo a perspectiva das propriedades do trabalho de Emery (1964, 1976) e Trist (1978), este problema afeta a propriedade de margem de manobra e autonomia dos pesquisadores.
As Unidades Executoras do Pólos têm, em particular, contribuido para a problemática através da: (i) insuficiente valorização, incentivo e reconhecimento das atividades de P&D realizadas nos Pólos, (ii) baixa disponibilidade de recursos humanos qualificados e (iii) promoção de alta rotatividade de pesquisadores. Estes problemas não têm favorecido que os pesquisadores satisfaçam suas necessidades em diversos níveis, com base em Maslow (1970), como necessidade de segurança, de auto-estima e auto-realização. Os problemas afetam também as propriedades de reconhecimento e apoio, estabilidade no emprego e processos adequados propostas por Emery (1964, 1976) e Trist (1978).
O subsistema social pode estar afetando os pesquisadores a partir de dois contextos distintos, a comunidade e a família. Neste caso, verifica-se que as necessidades de reconhecimento social, afetividade e recursos financeiros podem estar ocasionando angústia e ansiedade nos pesquisadores. Silva, Gobbi e Simão (2005) afirmam que os motivos internos são necessidades que fazem o indivíduo realizar certas tarefas ou não. Podem ser definidos como impulsos interiores, de natureza fisiológica e psicológica, que, quando afetados por fatores sociológicos podem gerar: frustração, ansiedade e angústias. As necessidades humanas são forças ativas e impulsionadoras das atitudes. Chiavenato (1999) afirma que, apesar dos indivíduos possuírem padrões de comportamento que podem variar, o processo que dinamiza o comportamento humano é mais ou menos semelhante para todos os indivíduos.
O subsistema organização, que é o próprio Programa de Pólos, mostra-se como um componente que pode estar afetando de maneira importante o sistema. Um dos problemas que está desmotivando os pesquisadores é o atraso no repasse dos recursos financeiros às instituições (unidades executoras dos Pólos) que, por sua vez, ocasiona a necessidade de adaptação do orçamento previsto no projeto para aquisição dos equipamentos e instrumentos para pesquisa. Considerando o que á apresentado por Emery (1964, 1976) e Trist (1978), essa é considerada uma inadequação dos processos que pode afetar o trabalho dos indivíduos. Devido a isto, conclui-se que o subsistema organização tem afetado o subsistema técnico e, conseqüentemente, a motivação dos pesquisadores.
Outro problema constatado no subsistema organização é a falta de um sistema de gestão do conhecimento e informação. Esta deficiência tem dificultado a troca de experiências e idéias entre os gestores, coordenadores e pesquisadores de projetos dos Pólos de Inovação. Também afeta a propriedade de aprendizagem contínua no trabalho, proposta por Emery (1964, 1976) e Trist (1978).
A falta deste sistema de informação também dificulta a disponibilização e exposição dos resultados obtidos no Programa à comunidade em geral. A não votação pela comunidade nos processos anuais de consulta popular, promovidos pelo Governo do Estado, estabelecendo como uma das prioridades o Programa de Pólos faz com que determinada região não receba do Programa recursos para o financiamento de projetos. Esta situação pode afetar diretamente o desempenho do próprio Programa. Isto se deve ao fato de que alguns Pólos de Inovação, quando não recebem recursos financeiros, ficam com suas atividades praticamente paralisadas.
Conforme mencionado anteriormente, no período de 1989 a 1999 8% dos projetos apoiados não cumpriram as metas técnicas estabelecidas, enquanto no período de 2000 a 2005 2% dos projetos não obtiveram êxito. Isto demonstra que, apesar de ter ocorrido um número substancial de casos de insucesso no período de 1989 a 1999, o Programa obteve uma importante redução desses casos entre 2000 e 2005. Jung, Caten e Ribeiro (2007) afirmam que, a partir do ano de 2000, iniciou a terceira fase do Programa de Pólos, e diversas melhorias foram realizadas, como: implantação de um sistema de controle de qualidade para avaliação dos projetos, lançamento de Termos de Referência Anuais (editais) e acompanhamento sistemático in-loco das atividades dos Pólos.
Este artigo apresentou os resultados de uma pesquisa qualitativa que teve a finalidade de estudar os casos de insucesso em P&D no Programa de Pólos de Inovação da SCT/RS. Em particular, foram analisadas as relações e inter-relações entre os subsistemas social, técnico, organização e ambiente externo que podem estar afetando as competências dos pesquisadores e o desempenho do Programa de Pólos.
A análise revelou que os problemas relatados pela Divisão de Pólos da SCT/RS em relação as competências dos pesquisadores podem estar relacionados a: (i) falta de liderança, (ii) falta de motivação, (iii) falta de iniciativa, (iv) falta de interação, (v) falta de concentração, (vi) falta de visão, (vii) falta de criatividade, (viii) falha na definição do escopo e (ix) falha na definição da metodologia.
Foi proposto um mapa conceitual que apresenta uma síntese que relaciona e inter-relaciona os problemas relatados pelos pesquisadores junto aos subsistemas social, técnico, organização e ambiente externo, as competências dos pesquisadores e o desempenho do Programa de Pólos de Inovação.
A síntese evidenciou que o desempenho do trabalho é multidimensional, sendo que as competências dos pesquisadores podem estar sendo afetadas pelas condições físicas infra-estruturais, como, também, pelas condições psicológicas de trabalho a eles oferecidas. O estudo demonstrou que são múltiplos os fatores que podem estar afetando as competências dos pesquisadores dos Pólos de Inovação. No entanto, existem também fatores externos e internos no próprio Programa que afetam o seu desempenho, não sendo possível atribuir apenas às competências os casos de insucesso em P&D.
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