Espacios. Vol. 33 (1) 2012. Pág. 39


A distância tecnológia na adoção de novas tecnologias no sistema de ensino de uma instituição de ensino superior em um país em vias de desenvolvimento industrial – Estrutura CAGE

A gap technology in the adoption of new technologies in education from an institution of higher education in a developing industrial country - Structure CAGE

Una brecha tecnológica en la adopción de nuevas tecnologías en el sistema de enseñanza de una institución de educación superior en un país en vías de desarrollo industrial - Estructura CAGE

Roberto Remonato y Zandra Balbinot


4. Análise dos resultados

O tema globalização vem ganhando cada vez mais espaço. Uma rápida pesquisa em qualquer site de busca da internet nos mostrará milhares de títulos sobre o assunto. Entretanto existe um hiato entre a criação das teorias e o teste empírico das mesmas, pois o assunto é muito complexo. Fora do ambiente acadêmico percebem-se pontos de vista bastante divergentes em relação à viabilidade de realizar negócios globalmente. Ghemawat (2007), autor utilizado para o suporte teórico deste trabalho, cita que o tema de globalização vem ganhando cada vez mais espaço. Ele também destaca que muitos dos títulos e das teorias sobre o assunto fazem uma abordagem bastante específica da internacionalização: a visão apocalíptica da globalização, ou seja, ressaltam ideias de que as fronteiras geográficas e as diferenças entre os países estão se diluindo.

Como já citado neste trabalho, Thomas Friedman, em seu livro "O mundo é plano – uma breve história do século XXI", Editora Objetiva, 2006, fala do surgimento de novos modelos de negócio que rompem as barreiras geográficas entre os países. Além disto, cita este autor, o uso das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) para a realização das transações e a convergência de hábitos de consumo e aspectos culturais, a importância das fronteiras entre os países diminuiria até um ponto em que o mercado se torna global.

Ghemawat apresenta uma opinião divergente à de Friedman quanto à diminuição da importância das barreiras internacionais, alegando que apenas uma pequena fração das atividades das pessoas e empresas transpõe as fronteiras dos países e, embora haja um movimento crescente, o cenário não vai mudar de forma significativa nas próximas décadas. A este cenário, Ghemawat atribui o nome de “semiglobalização”.

A estrutura de análise entre os países, considerando os aspectos de semiglobalização, é descrito por Ghemawat (2007) através do modelo CAGE, traz impactos na realização de negócios internacionais e os atores envolvidos devem contemplar estes fatores.

No presente estudo comprovou-se o ensinamento seminal de Ghemawat, pois foi possível visualizar que apesar da globalização, as fronteiras continuam a ter importância, e é nelas – nas fronteiras – que surgem as maiores diferenças.  

Nas entrevistas, procurou-se captar qual o sentimento ou percepção da estrutura de distâncias preconizada por Pankaj Ghemawat e explanada anteriormente. Foram criadas 19 (dezenove) perguntas que foram utilizadas como condutoras, conforme lista abaixo, sendo que cada uma, intercaladamente, se referia a uma distância:

    • Diferença de idioma - CULTURAL
    • Laços coloniais – ADM/POLÍTICO
    • Distância física - GEOGRÁFICO
    • Diferente nível de riqueza - ECONÔMICO
    • Etnia diferente - CULTURAL
    • Blocos comerciais diferentes – ADM/POLÍTICO
    • Fuso horário - GEOGRÁFICO
    • Diferença de custo e/ou qualidade - ECONÔMICO
    • Diferença de religião - CULTURAL
    • Falta de moeda em comum – ADM/POLÍTICO
    • Diferença climática - GEOGRÁFICO
    • Falta de confiança - CULTURAL
    • Falta de normas - CULTURAL
    • Diferença política – ADM/POLÍTICO
    • Corrupção – ADM/POLÍTICO
    • Diferença de renda per capita - ECONÔMICO
    • Falta de organização – ADM/POLÍTICO
    • Capacidade de aprendizagem - CULTURAL
    • Outros.

4.1 diferença cultural

Do total de 19 questões das entrevistas, seis questões referiam-se à distância Cultural. O objetivo foi o de verificar a influência dos fatores idioma, etnia, religião, falta de normas, falta de confiança e capacidade de aprendizagem em uma transferência de tecnologia.

No que se refere à diferença de idioma, percebe-se que 51% (22/43) acha que há interferência deste item quando de uma transferência tecnológica. Proporcionalmente os valores são compatíveis na totalidade (22/43), nos docentes (14/26) e nos administrativos (7/12). No caso dos dirigentes esta opinião muda, pois 80% (4/5) acha que o idioma não provoca interferência. Esta desproporção é explicada pelo fato de constarem neste público, pessoas da Matriz da IES e que estão na IES a mais de 3 anos, tempo em que aconteceu uma razoável adaptação linguística.

Destaque-se uma citação em entrevista que disse: “... Incomoda, é difícil de entender, “tem” palavras diferentes. Falam muito rápido, com chiado e sotaque. Atrapalha a comunicação...”. (Entrevista Código 011AA001-1-4-DA)

No quesito etnia, cerca de 65% dos entrevistados (28/43) entendem que não há interferência da etnia em um processo de transferência tecnológica. Proporcionalmente, são 83% dos administrativos, 57% dos docentes e 60% dos dirigentes entendem não haver interferência. Este resultado parece ser consistente, principalmente se considerarmos o baixo nível de xenofobia do povo brasileiro. Entretanto, trata-se de item que não pode ser desprezado, como se pode observar em um comentário: “... Eles têm dificuldade de entender certas coisas e costumes locais. Por exemplo: querem que os professores façam como lá e fiquem conversando com alunos na cantina. Tentamos isto aqui e um professor, ao sair da IES, colocou um processo cobrando hora extra, alegando que tinha que trabalhar nos intervalos. E ganhou!...”. (Entrevista Código 010GA005-4-9-ID)

Na análise do item religião é importante ressaltar que a IES tem como mantenedora uma ordem religiosa e que membros desta ordem fazem parte da direção. Por outro lado, mesmo não existindo, por parte da IES, qualquer discriminação para com outras crenças religiosas, a maioria dos docentes e funcionários segue os mesmos princípios religiosos da IES, pois muitas das contratações ocorrem por indicação. Assim sendo, seria de pensar que a maioria de seus funcionários entendesse que este item não interfere em uma transferência de tecnologia. Entretanto, o que a pesquisa mostrou é que 63% (27/43) acha que existe interferência, sendo esta informação consistente em todos os níveis hierárquicos e culturais. O que facilmente se encontra é uma percepção de que os dirigentes religiosos não possuem o tino comercial, o que muitos acreditam ser um "sexto sentido", uma intuição, o faro empresarial, típicos dos bem-sucedidos nos negócios. Por outro lado, os administradores religiosos percebem esta manifestação e contestam-na veementemente. Nos dois comentários abaixo, de um leigo e de um religioso respectivamente, é possível observar nitidamente esta dualidade de interpretação:

  • “... Padre não sabe administrar. Sou ex-seminarista e trabalho em instituições religiosas. Nosso país é, em sua maior parte, cristão; e o espírito cristão, de desapego aos bens e a riqueza é um fator impeditivo. É diferente da América (do norte) onde vigora o espírito protestante e a riqueza e os bens são vistos como presentes divinos...”. (Entrevista Código 019DM020-4-6-OD)
  • “... Acham que só por que somos padres não sabemos administrar, mas vejam nossa estrutura. A estrutura de nossas congregações, da IES na Europa. Não sabemos administrar?...”. (Entrevista Código 024GI004-4-9-ID)

Percebe-se que neste item será preciso uma intervenção para esclarecer devidamente a forma de atuar, responsabilidades e atividades dos membros religiosos.

Um fator que se destacou no quesito cultural é que a falta de normas e de padrões, além de estrutura, atribuições, responsabilidades e deveres bem definidos e claros interferem em processos de transferência tecnológica. Do total de 43 entrevistados, 39 (91%) responderam desta maneira.  A pesquisa mostrou que isto é comum e crítico na IES, sendo claramente percebido e devendo ser um ponto a ser atacado em um futuro Plano de Ação.

O comentário de um entrevistado recém-contratado pela IES, ou seja, com pouco tempo de emprego, nos indica não haver vícios nas demais respostas:

  • “... Achei que seria mais organizado...”. (Entrevista Código 005DM014-3-1-OD)

O resultado encontrado para este item, também está coerente com os resultados encontrados no item “FALTA DE ORGANIZAÇÃO”, que será discutido mais abaixo, no item Distância Administrativa/Política.

No item “falta de confiança” encontra-se que 70% (30/43) acredita que a falta de confiança provoca interferência em uma transferência. A grande maioria destes 70% cita que, no caso específico da IES, os dirigentes se apresentam arredios e desconfiados em um primeiro momento, mas, assim que adquirem confiança, tudo muda. Alguns até reclamam que após passar por este “período probatório” passa a haver um excesso de confiança e um relaxamento do controle, sendo isto normalmente relacionado, pelos entrevistados, ao aspecto religioso. Ou seja, têm uma desconfiança inicial e após este período e com a confiança adquirida, passam a um período de “confiança sem limite e sem controle”, como pode ser observado nos dois primeiros comentários obtidos das entrevistas, abaixo citados:

  • “... Existe um receio inicial. Depois eles “elegem” os confiáveis e passam a confiar plenamente. Às vezes confiam demais nestes escolhidos e muitas vezes fazem escolhas erradas. São muito inocentes...”. (Entrevista Código 014GA006-4-9-ID)
  • “... Eles demoram um pouco para analisar e conhecer as pessoas. Depois vai tudo bem. Confiam até demais...”. (Entrevista Código 034AS011-1-4-DA)

Finalizando, foi analisada a interferência da capacidade de aprendizagem. Notou-se que 81% (35/43) entende que interfere. Interessante notar que a categoria dos administrativos, e principalmente com baixo nível cultural, foge desta média. É claramente perceptível certo sentido de inferioridade, principalmente pela convivência entre Mestres e Doutores. Mesmo nos que disseram não haver interferência, citam, inicialmente, que é preciso haver um treinamento inicial (– “... é só nos ensinar que fazemos...”; “... Só que é preciso mostrar, porque o jeito deles é sempre diferente...”; “... Só que não explicam direito. Falam rápido e vão embora...”).

Resumida e quantitativamente encontraram-se os seguintes resultados:

Quadro 5 – Resultados resumidos – Distância Cultural
Fonte: Elaborado pelo autor (2010)

Tais resultados são compatíveis com a sustentação teórica. Na estrutura CAGE, o termo cultura refere-se aos atributos de uma sociedade que são sustentados principalmente pelas interações entre as pessoas, em lugar de pelo estado, na condição de instituição que formula e aplica as leis, e é isto que se encontrou nesta parte da pesquisa, desde o maior índice (normatização com 91% de interferência) até o menor índice de interferência (etnia com 35%).

4.2 Estrutura Cage - Distância Administrativa/Política

Seis questões se referiram à distância Administrativa/Política e procuraram verificar a influência dos fatores: laços coloniais, blocos comerciais, moeda comum, corrupção e falta de organização.

Quanto aos laços coloniais, 51% (24/43) entendem que provocam uma interferência, mas na grande maioria vê como uma boa interferência, no sentido positivo. É interessante notar que a relação interfere/não interfere é de 77% nos docentes (20/26), 60% nos dirigentes (3/5) e menos de 1% nos administrativos (1/12).

Alguns comentários encontrados nas respostas desta questão:

      • "... Ajuda, pois entendo que eles acham que tem certa responsabilidade sobre as antigas colônias. Eventualmente, ao invés de responsabilidade, certa noção de propriedade...". (Entrevista Código 003DF007-3-2-OD)
      • "... Sem duvida, mesmo que inconscientes, estão presentes. Está incutido neles certo espírito de superioridade...". (Entrevista Código 002DA002-3-9-OD)
      • "... Colonialismo presente nos portugueses e espanhóis. Somos, ainda, considerados terceiro mundo...". (Entrevista Código 005DM014-3-1-OD)
      • "... O colonialismo está enraizado e deixou marcas em ambos os lados. Tem coisas boas e coisas ruins...". (Entrevista Código 006DW026-4-1-OD)
      • "... Estão presentes e até parece que o espírito de “dominador” ainda está presente...". (Entrevista Código 008DJ011-3-6-OD)

Quando instigados se transferências entre diferentes blocos comerciais seriam impactadas, 79% responderam que não (34/43), com 100% dos dirigentes e dos administrativos e 65% dos docentes (17/26) achando que não impactam. Todos os respondentes que acreditam haver impacto são docentes. Talvez isto se deva ao fato de que todos os docentes, em maior ou menor escala, têm a preocupação de colocar, nas ementas das disciplinas que ministram, o tópico internacionalização, alguns, inclusive, com experiência prática no assunto.

A quase totalidade dos entrevistados, 98% (42/43), acredita que a falta de uma moeda comum não interfere em uma transferência tecnológica. Já 70% (30/43) do total de entrevistados entendem que a diferença de política entre os atores de uma transferência tecnológica não afeta o processo; no nível administrativo esta porcentagem é de 100%.

Outro resultado curioso é o que se refere à interferência da corrupção. Todos os administrativos acham que não interfere, contrariando a média total de 65% (28/43) que acha interferir. Consequentemente houve um deslocamento percentual das médias quanto à titulação, passando a haver uma maior concentração no grau 3 (graduação em desenvolvimento).

Os principais comentários sobre este questionamento foram:

  • “... Eles não entendem o volume da corrupção...”. (Entrevista Código 002DA002-3-9-OD)
  • "... Neste quesito somos imbatíveis. Mas lá também deve ter...”. (Entrevista Código 003DF007-3-2-OD)
  • "... É inconcebível. A corrupção existe em todo o mundo, mas aqui é um absurdo...". (Entrevista Código 024GI004-4-9-ID)

Outra questão pesquisada foi sobre a interferência da falta organização. A grande maioria (93% = 40/43) acredita que há um impacto. Os 7% restantes (3/43), que acreditam não haver influência, são docentes com titulação de grau 2. Estes três casos podem ser explicado pelo fato de haver docentes que ministram apenas uma disciplina e apenas uma vez por semana. Tais pessoas vão à IES apenas para ministrar suas aulas, tendo pouco contato com a estrutura.

No estudo o que se pode identificar é que este item, aliado ao item falta de normas foram os que apresentaram um grande numero de queixas e reclamações, sendo sugerido, também, que haja uma atuação especial quanto a este item.

Alguns dos principais comentários sobre este tópico:

  • "... Falta definir quem manda e o que fazer...".  (Entrevista Código 026AL008-1-3-DA)
  • "... Quem manda? Muito confuso. Agora parece que está melhorando...". (Entrevista Código 028DA007-2-4-ID)
  • "... Não consigo enxergar muito além da Coordenação acadêmica. Muito confuso. Congregação, Matriz, Padres, etc. etc...". (Entrevista Código 003DF007-3-2-OD)
  • "... Deveria ser mais bem organizado...". (Entrevista Código 005DM014-3-1-OD)

Finalizando este quesito, foi pesquisado sobre a interferência de diferentes políticas entre Matriz e Filial. A grande maioria (70% = 30/43) acredita não haver interferência. É interessante notar que os 30% restantes, ou seja, os que acreditam haver interferência quando a política Matriz/Filial é diferente, são docentes e dirigentes, todos com nível de titulação elevado.

Resumida e quantitativamente encontraram-se os seguintes resultados:

Quadro 6 – Resultados resumidos – Distância Adm/Política
Fonte: Elaborado pelo autor (2010)

Também nesta distância observou-se a confirmação do embasamento teórico. Mesmo sendo menos percebida que as distâncias econômicas e geográficas, ela envolve associações históricas e políticas compartilhadas pelos países envolvidos. O alto índice encontrado quanto à interferência da falta de organização alinha-se à percepção de falta de normas encontrada na distância cultural.

O quesito laços coloniais, mesmo apresentando uma percepção de interferir por 51% dos entrevistados, tem a conotação de interferência no sentido positivo.

Também é interessante observar a questão sobre corrupção, que apresenta um alto índice de sensibilidade quanto a interferir no processo.

4.3 Estrutura Cage - Distância Geográfica

Três questões fizeram referência à distância geográfica. Seu objetivo foi o de verificar a influência dos fatores distância física, fuso horário e clima.

 Aparentemente a globalização e a internet, colocando o mundo em nosso quintal, torna inócua a influência da distância geográfica. Cerca de 72% (31/43) diz não ver interferência da distância física, 86% (37/43) diz não existir interferência do fuso horário e 81% (35/43) não acha que o clima interfere.

Outro fator interessante e que deve ser observado é que 100% dos respondentes pertencentes à classe dos docentes não acham que o fuso horário atrapalha. Talvez isto possa ser explicado pelo fato de que esta classe exerce suas atividades preferencialmente pela manhã e à noite, levando a uma flexibilidade de horário, que já é mais difícil para administrativos e dirigentes, pois o horário comercial da Filial é defasado do horário da Matriz em função da diferença de fuso horário.

Resumida e numericamente encontraram-se os seguintes resultados:

 

Quadro 7 – Resultados resumidos – Distância Geográfica
Fonte: Elaborado pelo autor (2010) 

Com o baixo índice de interferência percebido encontrado para todos os itens desta distância percebe-se um desvio da teoria. Mesmo que o modelo de Ghemawat (2007) não cite que “deve” haver interferência, mas sim que “pode” haver interferência, mesmo sendo a parte da estrutura CAGE mais lembrada quando se fala em distância e, mesmo a proximidade geográfica sendo um elemento muito importante no processo de internacionalização, acredita-se, que no caso da IES, a distância geográfica é compensada pela atual globalização mundial, pelo uso da internet e das tecnologias de informação e comunicação.

4.4 Estrutura Cage - Distância Econômica

Outras três questões se refiram à distância econômica. Seu objetivo era verificar a influência dos fatores nível de riqueza, custo/qualidade e renda per capita.

Nestes itens, 100% dos entrevistados entendem que diferentes níveis de riqueza, diferenças de custo/qualidade e diferença de renda per capita são fatores que interferem diretamente em uma transferência tecnológica.

A grande maioria dos entrevistados fez comentários adicionais a estes itens relacionando-os, principalmente, com a questão de captação de novos alunos e com o custo do curso, enfatizando ser um produto excelente, com um ótimo padrão de qualidade, mas que o padrão nacional de riqueza e a renda per capita são fatores impeditivos.

Apesar de desnecessário, pois se encontrou consenso total nas respostas, apresenta-se abaixo o quadro resumo quantitativo dos resultados:

Quadro 8 – Resultados resumidos – Distância Econômica
Fonte: Elaborado pelo autor (2010)

Nesta distância, a econômica, também é possível se perceber dois vieses; um do lado dos “nacionais” e outro do lado dos “estrangeiros”. Pelo lado dos nacionais, percebe-se nitidamente o modo comum do brasileiro, onde não importa o valor final, o que importa é se a “prestação é barata” e cabe no orçamento. Este fato alem de provocar dificuldade de captação de alunos e um nível problemático de evasão, vai de encontro com a visão dos “estrangeiros”, cujo nível de riqueza e renda per capita em seus países de origem é muito mais alto que os do Brasil.

Finalizando esta parte da pesquisa, arguiram-se os entrevistados se algum outro fator, além destes listados, poderia interferir em uma transferência. O resultado foi que 42% acreditam que eventualmente possa existir outro fator que influencie uma transferência tecnológica. Poucos entrevistados citaram nominalmente algum destes outros fatores

Como citado anteriormente, Ghemawat (2007) sugere que em lugar de tratar as semelhanças e diferenças em termos absolutos, podem-se ter graus de diferenças em termos de distâncias entre países em uma serie de dimensões – Culturais, Administrativas / Políticas, Geográficas e Econômicas (CAGE). A análise desta seção da pesquisa nos mostra que realmente é fundamental tratar as diferenças, entender, consolidar e incorporar ao processo (internalizar) as crenças, atitudes e valores locais.

Se por um lado a globalização e a internet trazem o mundo ao nosso jardim, as fronteiras continuam a ter importância, e é nelas – nas fronteiras – que surgem as maiores diferenças.

Neste trabalho, em termos macro, foi possível constatar que estas distâncias não podem, de maneira alguma, ser desprezadas. O quadro a seguir resume, quantitativamente, os dezenove itens pesquisados.

Quadro 9 – Resultados quantitativos – Macro - resumidos - geral

Fonte: Elaborado pelo autor (2010)

É claramente visualizado que a distância econômica pode exercer uma grande influencia sobre um processo de transferência de tecnologia, sendo esta tendência corroborada pelo referencial teórico de Ghemawat visto anteriormente neste artigo.

Organização e falta de normas, mesmo pertencentes a categorias de distâncias diferentes, aparentam estar intimamente relacionadas e carentes de uma atuação pontual em um futuro Plano de Ação.

Também se percebe que para o desenvolvimento de competências o desenvolvimento do conhecimento é importantíssimo para o perfeito usa das habilidades e atitudes que se encontram presentes nos entrevistados, segundo eles próprios colocam.

Por fim, é notório que a distância geográfica provoca uma interferência menor do que preconiza a literatura, provavelmente suprido pelas tecnologias de informação e comunicação do globalizado mundo atual.

5. Considerações finais

Encerrando o presente trabalho se pode concluir que a Distância Tecnológica influencia na adoção de novas tecnologias no sistema de ensino de uma IES de várias maneiras e em diferentes intensidades.

A pesquisa mostrou ser inócua a influência de todos os itens analisados quanto à distância geográfica, quais sejam: distância física com 28%, fuso horário com 15% e clima com 18%. Baixos índices de interferência foram encontrados quanto aos itens diferença de etnia (35%), diferentes blocos comerciais (21%), a falta de uma moeda comum (2%) e diferentes políticas (30%).

Nestes casos aparece, com maior destaque, uma divergência com o modelo de Ghemawat. Apesar de ser a parte da estrutura CAGE mais lembrada quando se fala em distância e, de a proximidade geográfica ser um elemento muito importante no processo de internacionalização, neste caso específico da IES, a distância geográfica aparenta ter sido compensada pela globalização mundial e pelo uso da internet e das tecnologias de informação e comunicação.

Alguns itens apresentaram índices que se pode qualificar de médios, quanto à interferência em um processo de internacionalização. Idioma (51%), religião (63%), laços coloniais (51%) e corrupção (65%) se encaixam neste composto.

Também se pode incluir, como um elemento do composto acima, mas com evidência de elevação, a interferência no processo devido à falta de confiança (70%). No caso específico da IES, as entrevistas indicam que os dirigentes se apresentam arredios e desconfiados.

O mais significativo talvez seja o item religião, pois mesmo sendo a IES tem como mantenedora uma ordem religiosa e que membros desta ordem fazem parte da direção, a pesquisa mostrou é que 63% acha que existe interferência, sendo esta informação consistente em todos os níveis hierárquicos e culturais. A percepção de que os dirigentes religiosos não possuem o tino comercial é evidente para muitos membros da IES.

A interferência da capacidade de aprendizagem foi citada por 81% dos entrevistados. Interessante notar que a categoria dos administrativos, e principalmente com baixo nível de titulação, foge desta média.

Com a indicação de interferência por 91%, o item “falta de normas” é entendido como comum e crítico na IES, sendo claramente percebido. O resultado encontrado para este item, também está coerente com os resultados encontrados no item “falta de organização”, que apresentou um índice de 93%.

Finalizando a análise encontra-se que a totalidade dos entrevistados entende que diferentes níveis de riqueza, diferenças de custo/qualidade e diferença de renda per capita interferem diretamente em uma transferência tecnológica. Este fator está coerente com o processo analisado, onde a tecnologia é transferida de um PDI para um PVDI, no qual as condições econômicas e financeiras são muito diferentes.

Concluindo, percebe-se que em um processo de internacionalização, a orientação seminal de Ghemawat (2007) é extremamente importante e deve, sem qualquer sombra de dúvida, ser observada. Além de explorar as semelhanças entre os atores do processo, também é fundamental que sejam tratadas e exploradas as crenças, atitudes e valores locais. Com a utilização da estrutura de distâncias CAGE foi possível obter uma riqueza de resultados na pesquisa que permitirão o desenvolvimento de ações especificas para o melhor entendimento e estruturação, não só de futuros processos de adoção de novas tecnologias, mas também para a atuação da empresa no seu dia a dia.

Entende-se que todo o conhecimento gerado por este trabalho poderá ajudar a IES Matriz e Filial, pertencentes a PDI e PVDI respectivamente, a melhorar o processo de adoção de futuras novas tecnologias.

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