Espacios. Vol. 37 (Nº 17) Año 2016. Pág. E-1

A Qualidade de Vida no Trabalho - QVT: Um estudo com Professores da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica

The Quality of Life at Work - QLW: A study of Teachers Federal Professional Education Network and Technology

Rodrigo Ribeiro de OLIVEIRA 1; Ana Cristina LIMONGI-FRANÇA 2; Dagmar Silva Pinto de CASTRO 3; Luiz Roberto ALVES 4; Fernando Nascimento ZATTA 5; Quintiliano Siqueira Schroden NOMELINI 6

Recibido: 22/02/16 • Aprobado: 21/03/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Revisão de literatura

3. Procedimentos metodológicos

4. Análise e discussão dos resultados

5. Considerações

6. Conclusões

Referências


RESUMO:

A Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica tem aumentado o número de campi de forma significativa. Em 2005 eram 154, já em 2014 562 campi. Surge a motivação de abordar os fatores que interagem na satisfação dos professores e sua associação com a QVT e a necessidade de examinar a estrutura de funcionamento. Os achados deste trabalho demonstram a necessidade de alinhamento da QVT com políticas de gestão de benefícios, de apoio familiar e comunitário para o grupo pesquisado, bem como revelam a necessidade de melhoria da qualidade de vida para a eficiência da relação ensino-aprendizado e percepção de bem-estar.
Palavras-chave: Gestão de Pessoas, Qualidade de Vida no Trabalho, Professores do Ensino Técnico e Tecnológico, Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

ABSTRACT:

The Federal Vocational and Technological Education Network has increased the number of campuses significantly. In 2005 was 154, already in 2014 562 campuses. Comes the motivation to address the factors that interact in the satisfaction of teachers and their association with QLW and the need to examine the operating structure. The findings of this study demonstrate the need for alignment of QLW with benefits management policies , family and community support for the research group as well as reveal the need for improved quality of life for the effectiveness of the teaching- learning relationship and perception welfare.
Keywords: People Management, Quality of Life at Work, Education Technical and Technological Teachers, Federal Network of Vocational and Technological Education.

1. Introdução

Nos últimos anos, o Brasil realizou intensa expansão física da Rede EPT. Constituída originalmente por 38 Institutos Federais, dois Centros Federais de Educação Profissional e Tecnológica, Colégio Pedro II e uma Universidade Tecnológica, passou de 154 campi no ano de 2005, para 562 no ano de 2014 (Brasil, 2015a).

A Rede EPT é vinculada ao Ministério da Educação (MEC) por meio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC). Atualmente, a Rede EPT conta com 38.413 professores (Brasil, 2015b). No período de 2008 a 2015, ingressaram - através de concurso público, 21.277 professores, o que, mais que dobrou a força de trabalho da Rede. No período de sete anos houve uma concentração no nível de ingresso de professores.

Em 2013 o número de alunos matriculados chegou próximo à marca de um milhão (989.478), o que representou um crescimento de 242% em comparação com 2010 (Barros, 2014). Educação Profissional é a meta 11 do Plano Nacional de Educação (PNE) que propõe a consolidação da educação profissional e tecnológica, em termos de vagas em cursos técnicos, a oferta deverá triplicar até 2024 (Brasil, 2014a).

Nesse panorama, surge a motivação de abordar os fatores que interagem na satisfação dos professores e sua associação com a QVT e a necessidade de examinar a estrutura de funcionamento da Rede EPT, observando nesse contexto as oportunidades de melhoria em diversos fatores relacionados à qualidade dos serviços educacionais prestados. Destaca-se que um dos fatores fundamentais para a qualidade da ação pedagógica depende da qualidade de vida do professor. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi analisar e discorrer sobre o grau de satisfação da qualidade de vida dos professores da Rede EPT, mediante a abordagem das variáveis dos domínios da QVT.

2. Revisão de literatura

No Brasil, menos de 10% dos jovens atualmente cursam a educação profissional, enquanto que na Áustria são 74%, na Finlândia são 69% e na Alemanha são 52% dos jovens, sendo que a média dos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) se situa um pouco acima de 50%. Isto significa que no Brasil existe um vasto campo de oportunidade para os jovens serem inseridos no ambiente da educação profissional e contribuírem para a maximização da produtividade no trabalho (Lima, 2015).

Atualmente, estudos científicos e de políticas públicas têm demonstrado que são reconhecidas as limitações do ensino médio convencional e há a noção cada vez mais clara de que o Brasil não está formando pessoal de nível técnico e profissional em qualidade e quantidade adequadas para atender uma economia globalmente moderna. Tal situação justificou que o Governo Federal, nos últimos anos, aportasse uma grande concentração de recursos no campo da educação profissional (Schwartzman, Castro, 2013).

O trabalho exerce um papel central na vida das pessoas e não deve submetê-las a condições estressantes, prejudiciais ou negativas, impactando negativamente na sua percepção de bem-estar (Almeida et. al. 2015). No que diz respeito ao trabalho do grupo professor, este se insere no contexto de uma atividade considerada, em geral, altamente estressante, com repercussões evidentes na saúde física, mental e no desempenho profissional dos professores (Reis et. al. 2006). Segundo Vilas Boas e Morin, (2015) a carreira acadêmica que já foi vista como segura e como um ambiente de alta posição social, com oportunidades de trabalho satisfatórias e autônomas, atualmente foi alterada drasticamente.

Os professores têm mais risco de sofrimento psíquico de diferenciadas matizes, sendo que a prevalência de transtornos psíquicos de menor intensidade é maior entre esses transtornos, quando comparados a outros grupos de profissionais (Gasparini et. al. 2005).

Sem qualidade de vida construída de forma enriquecedora, não se perpetua o desenvolvimento econômico sustentável. A QVT deve ser combinada com programas de qualidade, compromissos com a inovação e resgate de talentos, mediante limites e necessidades humanas, o que consolida a cultura competitiva (Limongi-França, Rodrigues, 2009).

A construção da QVT, de acordo com Limongi-França, Rodrigues (2009) ocorre a partir do momento em que se enxerga a pessoa como um todo. Este enfoque é conhecido como biopsicossocial. Os autores explicam que o conceito de biopsicossocial originou-se da medicina psicossomática que propõe uma visão integrada e holística do ser humano, em oposição à abordagem cartesiana, que divide o ser humano em partes. No mesmo estudo define-se que "toda pessoa é um complexo biopsicossocial, ou seja, tem potencialidades biológicas, psicológicas e sociais que respondem simultaneamente às condições de vida" (Limongi-França, Rodrigues, 2009, pág.75). A partir dessa visão, deve-se trabalhar o que hoje conhecemos como domínios específicos. Esta expressão era conhecida como camada, critérios ou indicadores. No entanto, visando ao alinhamento das discussões no âmbito da qualidade de vida, passou-se a denominar essas competências como domínios, os quais serão definidos a seguir.

Segundo Limongi-França, 1996: o domínio biológico refere-se às características físicas herdadas ou adquiridas ao nascer e mantidas por toda a vida, compreendendo metabolismo, resistências e vulnerabilidades dos órgãos ou sistemas. O domínio psicológico refere-se aos processos afetivos, emocionais e de raciocínio conscientes ou inconscientes que formam a personalidade de cada pessoa e o seu modo de perceber e posicionar-se diante dos demais e das circunstâncias que vivencia. O domínio social revela os valores, as crenças, o papel na família, no trabalho e em todos os grupos e comunidades a que cada pessoa pertence e participa. O meio ambiente e a localização geográfica também formam a dimensão social. Visando integrar o conceito com elementos do trabalho em organizações, desenvolveu-se o domínio organizacional, que se refere à cultura organizacional, porte da empresa, tecnologia, e segmento econômico de atuação, e padrões de competitividade (Limongi-França, 2010).

O conjunto desses domínios forma a visão de pessoa no trabalho, contemplando as visões Biopsicossocial e Organizacional - BPSO, em contínua interação e interdependência, mas como processos intrínsecos e extrínsecos próprios, conforme apresentada na Figura 1.


Figura 1. A visão de pessoal BPSO
Fonte: Limongi-França (2009)

Limongi-França (1996) revela que, para a criação de seu instrumento de pesquisa BPSO-96, baseou-se nos conceitos de Walton (1975) agrupados de acordo com a abordagem biopsicossocial desenvolvida por Lipowisk, (1986) e a definição da Organização Mundial de Saúde – OMS em 1986. Inclui também os estudos de psicopatologia de Dejours, (1992) e o psiquiatra e ergonomista Wisner, (1987) com os estudos sobre "mito do operário médio", no livro Por dentro do Trabalho. A pesquisadora fundamentou-se também no conjunto de indicadores do Índice de Desenvolvimento Social (IDS) e no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), entre outros.

Fazem parte deste domínio organizacional – atividade docente as seguintes variáveis: (i) boas condições de trabalho, que inclui os espaços educativos organizados, limpos, arejados, agradáveis, cuidados; (ii) móveis, equipamentos e materiais didáticos adequados à permanência do professor e que favoreçam o convívio entre seus pares e alunos e; (iii) oferta de ambientes propícios para a realização do ensino, pesquisa e extensão proporcionando uma prestação de serviço de qualidade aos alunos, aos responsáveis pelos alunos e a comunidade.

3. Procedimentos metodológicos

A presente pesquisa está estruturada em duas etapas, cujos procedimentos metodológicos adotados se relacionam com o método dedutivo. A primeira etapa consiste em uma pesquisa de natureza quantitativa realizada em maio de 2015, durante o III Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, em Pernambuco. A segunda etapa de natureza qualitativa, realizada durante os meses de novembro e dezembro de 2015. Consistiu na realização de entrevistas (Haguette, 1997); (Boni, Quaresma, 2005) com seis professores da Rede EPT. Para isso foi elaborado roteiro estruturado a partir dos instrumentos acima mencionados.  

Nesse estudo, a triangulação dos procedimentos na coleta de dados consistiu em alternativa de validação (Farmer et. al. 2006); (Guion, 2002), visando ampliar a profundidade e a coerência na conduta metodológica no alinhamento do problema de pesquisa que é relacionar qualidade de ensino, satisfação dos professores e percepção de bem-estar.

A pesquisa teve como ambiente universo o III Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica realizado no período de 26 a 29 de maio de 2015, em Recife, Pernambuco. Esse evento contou com a participação de aproximadamente 21.500 pessoas, entre professores, estudantes, representantes da sociedade civil e de governos de diversos países.

O plano amostral teve como um dos critérios a otimização da coleta de dados primários quantitativos, enquanto o evento ocorria. Para tanto, os pesquisadores se posicionaram no evento em uma área considerada estratégica pelo alto volume e fluxo de circulação dos participantes. Tratou-se da área destinada para alimentação e descanso dos participantes, "praça de alimentação".

A análise dos dados referentes às questões respondidas pelos sujeitos não considerou a análise de proporção, visto que a escala utilizada não é qualitativa. Adotou-se a escala Likert. A resposta mais próxima de um (1) revela um grau de insatisfação e mais próxima de cinco (5), revela um grau de satisfação.

As análises foram realizadas por meio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão17.

Dos 114 (cento e catorze) sujeitos que participaram do estudo, 57,89% são do sexo feminino; 39,47% estão na faixa etária de 31 a 40 anos; 59,64% são casados; 54,38% são mestres; 91,22% optaram pelo Regime de Trabalho de Dedicação Exclusiva; 37,71% atuam na Rede EPT com tempo que varia de 5 a 15 anos; 34,21% estão lotados na Região Nordeste do Brasil, sendo que 55,26% dos professores entrevistados não são sindicalizados (prevalência).

As entrevistas foram realizadas nos meses de novembro e dezembro de 2015. Justifica-se a lacuna temporal de aproximadamente seis meses entre a pesquisa quantitativa e a pesquisa qualitativa em função do período de greve dos servidores federais que durou aproximadamente 125 dias impossibilitando o contato com os professores, uma vez que a maior parte dos campi da Rede EPT aderiu ao movimento grevista. Nesse movimento, algumas reivindicações que constava na pauta de negociação estavam relacionadas aos aspectos de melhores condições de trabalho.

Para a realização das entrevistas seguidas as seguintes etapas: (i) inicialmente desenvolveu-se um roteiro de entrevista semiestruturada para a coleta de dados, usando um instrumento que continha informações sobre o detalhamento dos domínios da QVT que seriam avaliados quanto à satisfação dos professores dos campi da Rede EPT, pesquisados; (ii) os professores foram escolhidos por conveniência, proximidade e disponibi­lidade; (iii) realizou-se contatos telefônicos com os professores, por meio do qual se explicou a finalidade da pesquisa e que seu conteúdo seria acerca das atividades diárias realizadas pelo entrevistado; (iv) com a sinalização de aceite, formalizou-se a solicitação de entrevista e o envio do roteiro de entrevista por meio do correio eletrônico (e-mail). Nessa oportunidade também foi encaminhado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento (TCLE), para que os entrevistados tomassem conhecimento da proposta da pesquisa e estivessem cientes de seus direitos quanto a sua participação. Foram informados antes que seus nomes seriam mantidos em sigilo, bem como que os dados coletados serviriam de subsídios para as análises referentes a presente pesquisa, podendo ser apresentados em eventos da área científica; (v) com a autorização formalizada pelos professores, mapeou-se a melhor forma de agendar a data para realização das entrevistas para a coleta de dados; (vi) a coleta de dados foi realizada por um dos pesquisadores, utilizando o telefone que continha recursos de gravação; (vii) as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas; (viii) tempo médio de duração das entrevistas foi de dezenove minutos; (ix) após transcritas as entrevistas foram enviadas aos respondentes para validação do conteúdo; (x) os dados coletados apresentados aos professores cumpriu o que comumente se nomeia por rigor em pesquisas qualitativas permitindo que a subjetividade  seja reconhecida e controlando-se distorções quanto aos resultados e conclusões da pesquisa. Assim, este passo foi adotado para verificar se a leitura a interpretação por parte dos pesquisadores estariam coerentes com aquilo que os professores queriam, efetivamente, relatar quanto ao detalhamento dos domínios da QVT ou satisfação profissional avaliado.

Na transcrição das entrevistas, mantidas as versões originais, adotou-se o procedimento de edição das mesmas. Tal procedimento foi adotado para evitar frases excessivamente coloquiais, repetições, falas incompletas, erros gramaticais, vícios de linguagem entre outros vícios (Duarte, 2004). Esse material passou por leituras atentas identificando-se em cada relato as evidências que convergiam ou divergiam com as visões Biopsicossocial e Organizacional – BPSO (Limongi, 1996) e sua adaptação feita por Oliveira (2012). Após, as evidencias foram sublinhadas em cada relato para a triangulação desses resultados com os obtidos pelo instrumento quantitativo.

Na pesquisa qualitativa foram agendadas e realizadas seis entrevistas com professores da Rede EPT, conforme apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 Características dos entrevistados

Identificação do Professor

Duração da Entrevista

Sexo

Idade

Tempo de Docência na Rede EPT (anos)

Titulação

Regime de Trabalho

P1

00:15:00

Feminino

38

Cinco

Doutora

Dedicação Exclusiva

P2

00:18:08

Feminino

33

Três

Graduada

Dedicação Exclusiva

P3

00:20:35

Feminino

53

Sete

Especialista

Dedicação Exclusiva

P4

00:15:42

Masculino

40

Oito

Mestre

Dedicação Exclusiva

P5

00:23:30

Masculino

32

Cinco

Doutor

Dedicação Exclusiva

P6

00:25:43

 

Masculino

37

Oito

Mestre

Dedicação Exclusiva

   Fonte: Dados da pesquisa.

                                                      

4. Análise e discussão dos resultados

Considerou-se insatisfatório as dimensões com médias situadas entre 1 e 3,00 e, satisfatório as médias compreendidas entre 3,1 e 5.

A seguir apresenta-se o resultado da análise dos resultados em cada domínio, compreendendo a análise das variáveis nos seus respectivos domínios.

No domínio biológico o resultado teve como média geral 2,51. Esse valor demonstra insatisfação dos professores.

O atendimento do plano de saúde (internações, consultas, exames, entre outros) apresentou resultado com média de 2,73.

Quanto ao controle dos riscos ergonômicos (esforço físico, levantamento de peso, postura inadequada) e ambientais, a média apresentada foi de 2,49.

O atendimento ambulatorial no campus (atender às questões de saúde da comunidade do campus) apresentou resultado com média de 2,47.

A qualidade da alimentação servida nos campi (espaço físico para a alimentação, qualidade do alimento: balanceado, variado entre outros) apresentou resultado com média de 2,46.

A qualidade dos programas de preservação da vida e da integridade física, bem como com a promoção da saúde dos servidores e dos alunos, apresentou resultado com média de 2,57.

A Tabela 2 apresenta as médias das escalas das variáveis do domínio biológico.

Tabela 2 Variáveis do Domínio Biológico

Variáveis do Domínio Biológico

Estimativas

Erro padrão

Intervalo de confiança de 95 %

LI

LS

Realização, no campus, do controle dos riscos ergonômicos (esforço físico, levantamento de peso, postura inadequada) e ambientais.

2,49

0,13

2,24

2,75

Atendimento ambulatorial no campus (atender às questões de saúde da comunidade do campus).

2,47

0,13

2,21

2,74

Atendimento do plano de saúde (internações, consultas, exames, etc.).

2,73

0,14

2,46

3,00

Qualidade da alimentação servida no campus (espaço físico para a alimentação, qualidade do alimento: balanceado, variado, etc.).

2,46

0,12

2,22

2,70

Qualidade dos programas de preservação da vida e da integridade física, bem como com a promoção da saúde dos servidores e dos alunos.

2,57

0,11

2,34

2,79

GERAL, média [IC]

2,51

0,08

2,36

2,66

Fonte: Dados da pesquisa.

A seguir são apresentadas evidências que corroboram o achado "insatisfação" quanto ao domínio biológico e alargam a compreensão do que isso significa para os sujeitos da pesquisa:

Realização, no campus, quanto ao controle dos riscos ergonômicos (esforço físico, levantamento de peso, postura inadequada) e ambientais:

[...] existem alguns riscos ergonômicos. (P1)
O campus não oferece nada para que as pessoas tenham uma proteção, não fazem nada a respeito. (P3)
[...] não havia preocupação com o básico [...] tinha fiações que quando você olhava dava até medo, então acho que seria um luxo para lá. (P4)
[...] já trabalhei em dois campi e nenhum leva esse tipo de consideração. (P5)
Não existe nada que vá de encontro ao controle de riscos ergonômicos. (P6)

Atendimento ambulatorial no campus (atender às questões de saúde da comunidade do campus):

[...] não existe atendimento ambulatorial. (P1)
[...] falta de equipamentos básicos para aferir a pressão arterial e medir a temperatura corporal [...] (P2)
[...] havia uma colmeia de abelhas no corredor [...] e uma delas me picou, eu saí de sala com o rosto inchado e não consegui um atendimento [...] (P4).
[...] não tem ambulatório. (P5)
[...] o campus não possui enfermaria. (P6)

Atendimento do plano de saúde (internações, consultas, exames etc.):

É muito sério, ​se você quer marcar uma consulta você não vai conseguir tão cedo, se for um encaixe você vai perder a tarde inteira para passar no encaixe, então à espera é muito grande e acaba gerando muita desmotivação. (P2)

[...] tenho a Unimed que eu pago particular. (P3)
[...] depende muito da localização onde você é atendido, depende da estrutura da cidade. Se você mora nas regiões de Mato Grosso, Goiás, Amazonas, Pará e outras você vai ter um pouco mais de dificuldade, e em regiões maiores você vai ter mais facilidade. (P5)

Qualidade da alimentação servida no campus (espaço físico para a alimentação, qualidade do alimento: balanceado, variado etc.):

[...] não tem refeitório. Tem uma barraquinha de uma menina que vai lá todos os dias e vende lanches, sendo que os alunos do noturno sofrem muito mais do que os alunos do matutino, por exemplo, porque geralmente sai do trabalho e vai ao campus para estudar e tem que estar mais cedo para encontrar com essa menina, se ela não for, eles ficam com fome, porque não tem nada para que eles possam comprar dentro do campus. (P1)
[...] a questão maior que eu vejo é a qualidade dos alimentos. Eu que tenho problema de intolerância a lactose, não tenho nenhuma opção, é muito restrito no que eu possa estar alimentando. (P2)
[...] as instalações realmente, não são boas, [...] isso deixa muito a desejar. (P3)
[...] não havia muita preocupação da comida ser leve, era uma comida gordurosa [...] era sempre comida pesada, já perguntei várias vezes aos administradores da cantina pra ver se poderiam servir alimentos mais leves (saudáveis), já tentaram mas os alunos reclamavam, gostavam da comida pesada era majoritariamente de adolescente. (P4)
Nós não temos um espaço físico para alimentação, não temos restaurante, não tem alimento, não temos nutricionista, não temos nada, a gente trabalha em um campus que não é nosso que é dividido com uma universidade estadual que não oferece essa estrutura [...] e aí termina a nossa aula, e entre uma hora, uma hora e meia a gente não tem lugar para ficar e a gente tem que ir almoçar em qualquer lugar, tanto servidores quanto os alunos. (P5)
[...] a maioria dos campi pertencia ao município ou estado [...] que não tinha mais interesse nas escolas, e foram federalizados, hoje tem campus que não dispõe de espaço físico para se quer fazer uma cantina. (P6)

Qualidade dos programas de preservação da vida e da integridade física, bem como com a promoção da saúde dos servidores e dos alunos:

[...] na verdade eu nem sei se tem algum programa aqui na escola em relação a isso, nunca ouvi falar também, mas o prédio aqui da escola é antigo, muitas vezes os professores levam até choque com aquelas tomadas, ligando o data show e tudo mais, a tomada explode, então quer dizer que ocorrem esses riscos. Outro dia também, tinha cheiro de fio queimado, então quer dizer, é um prédio antigo e não arrumam, não dão manutenção, não reparam com muita frequência, o ar condicionado fica pingando, e isso não é bom para saúde de ninguém, então realmente é bem precária essa situação. (P3)
[...] no campus que estou a Brigada de Incêndio reuniu-se apenas uma vez, então é assustador estamos completamente despreparados, para uma situação adversa e emergencial é realmente preocupante e não vem ninguém para trabalhar isso, no campus veio uma vez e nunca mais. (P6)

Relativamente às questões que compõem o domínio psicológico, infere-se pelos resultados apresentados na Tabela 3 que os professores encontram-se satisfeitos. No domínio psicológico, o resultado apresentou grau de satisfação em relação a todas as suas variáveis, cuja média geral foi de 3,52. Apresentaram as maiores médias de satisfação nesse domínio, as variáveis referentes à confiança nos critérios de seleção de professores (3,85) e ao clima de camaradagem entre os professores do núcleo comum (3,91).

A Tabela 3 apresenta as médias das escalas das variáveis do domínio psicológico.

Tabela 3 Variáveis do Domínio Psicológico

Variáveis do Domínio Psicológico

Estimativas

Erro padrão

Intervalo de confiança de 95 %

LI

LS

Confiança nos critérios de seleção dos professores (concurso público e/ou processos seletivos simplificados)

3,85

0,10

3,65

4,04

Forma de avaliação do desempenho para progressão funcional

3,23

0,12

2,98

3,47

Clima de camaradagem com os professores da área técnica

3,77

0,10

3,57

3,97

Clima de camaradagem com os professores do núcleo comum

3,91

0,10

3,72

4,10

Satisfação com a remuneração/vencimento

3,38

0,12

3,15

3,61

GERAL, média [IC]

3,52

0,06

3,00

3,25

Fonte: Dados da pesquisa.

A seguir são transcritas trechos das respostas dos professores que evidenciam os achados relacionados às variáveis do domínio psicológico:

Confiança nos critérios de seleção dos professores (concurso público e/ou processos seletivos simplificados):

Acho que melhorou bastante esses concursos, até mesmo a prova didática que passou a ser filmada, gravada, dá mais segurança em relação a isso, acho que esta bem melhor agora. (P3)
[...] é até mais um pouco arrojado do que a universidade porque na maioria dos campi a prova é objetiva e não descritiva, não dão margem para desconfiança. Geralmente as bancas de didática são formadas por pessoas de fora, então isso cria outra dimensão. (P5)

Clima de camaradagem com os professores do núcleo comum:

[...] acho que ficam mais próximos, os professores da área técnica se afasta um pouco e por ter essa disciplina realmente tem que sair, ir para laboratórios, ficam mais isolados e os professores da área comum. Geralmente se reúnem na sala de professores e tudo mais, eles têm uma proximidade melhor por essa razão. (P3)
Eu sou da área técnica e eu tenho ligação muito boa com os professores do núcleo comum, mas os professores do núcleo comum estão mais ligados na minha área (agronomia) como professores da área de biologia, química, física. (P5)

No domínio social, todos os aspectos pesquisados apontaram resultados com média geral de 2,29, conforme apresentado na Tabela 4. Esse resultado se insere na faixa de insatisfação e pode ser decorrente da falta de adoção de políticas sociais. Nesse domínio, as variáveis que apresentaram as menores médias foram: auxílio transporte e auxílio alimentação. Vale destacar que esse resultado pode ser uma oportunidade para direcionar ações que proporcionem ao campus melhorias quanto a esses benefícios.

A variável referente ao reembolso do plano de saúde (assistência à saúde suplementar do professor e demais beneficiários) apresentou média de 2,36.

A variável "oportunidade de lazer proporcionado pelo campus" (esporte, área de lazer, excursões, etc.) apresentou insatisfação, com média de 2,14.

A variável auxílio Pré-Escolar (por dependente, até os 05 (cinco) anos de idade) apresentou média de 2,40 e a variável referente ao valor do auxílio alimentação apresentou média de 2,04. A variável qualidade referente à previdência complementar (FUNPRESP-EXE) apresentou média de 2,27. A variável "financiamento ou bolsas para cursos externos" (pós-graduação, congressos, etc.) apresentou média de 2,67. A variável valor do auxílio transporte apresentou média de 2,03.

Tabela 4 Variáveis do Domínio Social

Variáveis do Domínio Social

Estimativas

Erro padrão

Intervalo de confiança de 95 %

LI

LS

Valor do reembolso para pagamento do Plano de saúde (assistência à saúde suplementar do professor e demais beneficiários)

2,36

0,12

2,12

2,60

Oportunidade de lazer proporcionado pelo campus (esporte, área de lazer, excursões, etc.)

2,14

0,12

1,91

2,38

Auxílio Pré-Escolar (por dependente, até os 05 (cinco) anos de idade)

2,40

0,11

2,18

2,63

Qualidade Previdência Complementar - FUNPRESP-EXE

2,27

0,10

2,06

2,47

Financiamento ou bolsas para cursos externos (Pós-Graduação, congressos, etc.)

2,67

0,13

2,42

2,92

Valor do auxílio alimentação

2,04

0,11

1,83

2,25

Valor do auxílio transporte

2,03

0,12

1,80

2,27

GERAL, média [IC]

2,29

0,07

2,16

2,42

Fonte: Dados da pesquisa.

A seguir são trazidas as evidencias presentes nas falas dos professores que corroboram os achados "insatisfação" quanto ao domínio social.

Valor do reembolso para pagamento do plano de saúde (assistência à saúde suplementar do professor e demais beneficiários):

Eu acho que o plano de saúde hoje no Brasil tem um preço muito alto, o reembolso que a gente tem, é apenas uma ajuda de custo, não mais de 50% do valor, [...] acho meio incoerente falar em reembolso [...] para mim teria que ser integral. (P2)

[...] não pagam nem a metade do meu plano, pelo menos poderiam pagar a metade. (P3)
[...] tem professores que não têm plano de saúde por não terem condições de pagamento porque o valor é muito baixo. (P5)

Oportunidade de lazer proporcionado pelo campus (esporte, área de lazer, excursões etc.):

[...] parte da iniciativa isolada de alguns professores, [...] mas poderia fortalecer um pouco isso. (P1)
[...] eu vejo que a gente tem uma dificuldade na infraestrutura. (P2)
Não tem nada não, a única coisa que tem são essas confraternizações de final de ano, tem ainda festa junina, mas no restante do ano, não existe nada em relação a lazer. (P3)
[...] todo lugar que eu já trabalhei e, agora no terceiro campi eu não tive oportunidade de lazer em nenhum deles. (P5)

Auxílio Pré-Escolar (por dependente, até os 05 (cinco) anos de idade):

[...] eu tenho um filho de dois anos e meio e a creche dele é de R$300,00 [...] se vai ter um reajuste, se agora vai igualar, ainda é muito baixo. (P5)

Qualidade da Previdência Complementar - FUNPRESP-EXE:

[...] achei o pessoal despreparado com situações específicas, porque que no meu caso já tenho doença pré-existente, a pessoa não soube me informar como funcionaria. (P2)
Falta transparência, eles não sabem para onde o dinheiro vai ou quem vai gerir o dinheiro, [...] então falta informação. (P5)
[...] parece que essa FUNPRESP é gerida pelo governo e aí você esbarra numa condição quanto a integridade disso. (P6)

Financiamento ou bolsas para cursos externos (Pós-Graduação, congressos etc.):

Eu vejo que está melhorando tudo isso, está tendo uma divulgação melhor, mas ainda acho que não é o suficiente porque ainda gera muita dúvida em campi mais novos. (P2)
Eu acho que esses valores que eles oferecem é baixo, acho que não atende todo mundo, são muitos professores [...] e aí não atende a todos, ainda mais com esses cortes, vai piorar muito mais. (P3)
Desde quando eu cheguei aqui eu não fui para nenhum evento, já mandei, já pesquisei, mas inclusive foi negado [...] eles preferem pagar o auxílio dos alunos do que pagar um congresso, por exemplo, para o professor. (P5)

Valor do auxílio alimentação:

Não acho ruim, mas podia melhorar, [...] aquela equiparação que estamos lutando [...] (P3)
Realmente o auxílio alimentação é baixo, mas pelo menos a gente recebe alguma coisa. (P5)
É ridículo o auxílio alimentação, foi uma conquista, mas ele é muito baixo. (P6)

Valor do auxílio transporte:

Esse aí não ajuda em nada [...] (P3)
[...] na verdade nem existe, é um auxílio inexistente ele só tem nome. (P5)

No domínio organizacional, observa-se que os respondentes apresentaram grau de satisfação. O resultado apontou média geral de satisfação de 3,12, com destaque para a variável "programas sociais destinados aos alunos carentes" (auxílio alimentação e bolsa transporte) com média de 3,79.

A quantidade de técnicos administrativos em educação que o campus necessita apresentou resultado com média de 2,96. O resultado da percepção negativa dos professores quanto à variável "qualidade dos procedimentos administrativos para práticas pedagógicas" (apoio dos servidores técnicos administrativos) apresentou média de 2,97, que deve ser reflexo do quantitativo reduzido.

A variável "comunicação interna quanto ao informacional" apresentou resultado com menor média de satisfação, de 2,62.

A Tabela 5 apresenta as médias das escalas das variáveis do domínio organizacional.

Tabela 5 Variáveis do Domínio Organizacional

Variáveis do Domínio Organizacional

Estimativas

Erro padrão

Intervalo de confiança de 95 %

LI

LS

Biblioteca (número de livros e revistas para sua disciplina, profissional capacitado para atendimento em todos os turnos, espaço físico apropriado para leitura)

3,19

0,12

2,95

3,42

Salas de aula são suficientes para o número de alunos do campus

3,51

0,14

3,23

3,78

Programas sociais destinados aos alunos carentes (auxílio alimentação e bolsa transporte)

3,79

0,10

3,59

4,00

Atuação do departamento de Recursos humanos/Gestão de pessoas no campus (Programação de férias, requerimento diversos, lançamentos na folha, etc.)

3,62

0,13

3,36

3,87

Oportunidade de participar de comitês de decisão

3,40

0,12

3,16

3,64

Qualidade dos procedimentos administrativos para práticas pedagógicas (apoio dos servidores Técnicos Administrativos)

2,97

0,11

2,75

3,19

Oportunidade de Desenvolvimento Profissional (cursos, seminários, palestras, encontros, congressos, conferências e outros)

3,35

0,11

3,13

3,58

Imagem do campus junto aos professores

3,44

0,10

3,25

3,64

Melhorias nos processos de trabalho e novas tecnologias

3,13

0,10

2,93

3,33

Quantidade de professores que o campus necessita

3,02

0,11

2,80

3,24

Quantidade de técnicos administrativos em educação que o campus necessita

2,96

0,12

2,72

3,19

Condições de segurança no campus (zelar pela pessoa)

3,16

0,11

2,95

3,38

Comunicação interna - feedback (retorno de informação)

2,62

0,12

2,39

2,85

GERAL, média [IC]

3,12

0,06

3,00

3,25

Fonte: Dados da pesquisa.

A seguir as evidências que corroboram o resultado "satisfação" dos professores quanto ao domínio organizacional.

Programas sociais destinados aos alunos carentes (auxílio alimentação e bolsa transporte):

É bom porque o aluno permanece. (P2)
[...] esse auxílio é algo que funciona. (P3) 
Realmente se tem algo que funciona dentro dos campi são os auxílios aos alunos. Eu trabalho com uma região muito carente, uma área semiárida. 90% dos nossos alunos recebem algum tipo de auxílio. (P5)

Quantidade de técnicos administrativos em educação que o campus necessita:

[...] eu vejo a influência dos horários e não da quantidade, então isso acaba gerando uma falsa impressão que não tem profissional. (P2)
[...] tem muito funcionário, não sei se realmente existe falta, mas acredito que não. (P3)
Isso tem como agravar por conta da jornada de 30 horas, mas se você for ver a quantidade de horas que os servidores poderiam destinar aos campi, você encontra uma congruência, [...] Em alguns campi eles agravam e outros passam despercebidos, causam uma grande insatisfação aos docentes. Quando você precisa de um departamento para o atendimento ou para encaminhamento administrativo para alguma questão você não tem. (P6)

Comunicação interna - feedback (retorno de informação):

Sim, isso eu acho que é um dos grandes problemas aqui porque às vezes você faz um questionamento, demora para você ter o feedback. (P2)
Algumas vezes o feedback não acontece, é o que aconteceu comigo, às vezes mudam o horário da gente e não avisam, [...] eu não tinha aula na quinta-feira e eles fazem alterações e não avisam. (P3)

A atividade docente apresentou resultado com média geral de 3,46, compreendendo o conjunto das variáveis que as compõem. Dessa forma, observa-se que os respondentes apresentaram níveis de satisfação em relação ao domínio organizacional. Nesse domínio, destaca-se que a variável que apresentou a média "muito satisfeito" foi a relação professor-aluno no processo de ensino e aprendizagem. Acredita-se que os professores conseguem acompanhar o desenvolvimento do aluno por todo o curso (do ingresso à conclusão do curso), podendo perceber as mudanças nos alunos decorrentes do seu trabalho o que pode contribuir para um sentimento de satisfação (Oliveira et. al. 2016).

A média mais baixa quanto à satisfação no domínio organizacional diz respeito a: (i) laboratórios atendem às necessidades dos cursos ofertados pelo campus e (ii) ao ambiente de descanso dos professores. O ambiente de descanso dos professores que se refere à copa, sofá, televisão, banheiro, geladeira, água filtrada, entre outros apresentou resultado com média de 2,75.

Tabela 6 Variáveis do Domínio Organizacional – Atividade Docente

Variáveis do Domínio Organizacional – Atividade Docente

Estimativas

Erro padrão

Intervalo de confiança de 95 %

LI

LS

Quantidade de alunos por sala de aula

3,53

0,11

3,30

3,75

Os laboratórios atendem às necessidades dos cursos ofertados pelo campus (quantidade, tamanho, segurança, equipamentos, etc.)

2,93

0,12

2,69

3,17

O campus incentiva a produção científica (Acesso ao Portal de Periódicos da CAPES, bolsa para alunos, redução de carga horária didática do professor pesquisador)

3,13

0,13

2,88

3,39

Qualidade dos equipamentos (televisão, aparelho de som, retroprojetor, data show, vídeo, DVD, projetor de slides, microfone, etc.)

3,87

0,10

3,66

4,08

Número de equipamentos disponíveis (televisão, aparelho de som, retroprojetor, data show, vídeo, DVD, projetor de slides, microfone, etc.)

3,82

0,10

3,62

4,03

Salas de aula em boas condições (iluminação, ventilação, ruído, temperatura, mobília)

3,62

0,11

3,39

3,85

Mesa e cadeira adequada para uma boa postura do professor em sala de aula

3,48

0,12

3,24

3,73

Quantidade de aulas semanais destinadas à disciplina que ministra

3,78

0,12

3,55

4,02

Relação professor-aluno no processo de ensino e aprendizagem

4,16

0,08

4,00

4,33

Ambiente de descanso dos professores (copa, sofá, televisão, banheiro, geladeira, água filtrada, etc.)

2,75

0,14

2,47

3,03

Sala dos professores (armários individuais, impressora, computador com acesso à internet, mesas, cadeiras, banheiros)

3,08

0,14

2,81

3,36

Serviço de transporte para a realização de viagens acadêmicas e visitas técnicas

3,20

0,13

2,93

3,46

GERAL, média [IC]

3,46

0,07

3,32

3,60

Fonte: Dados da pesquisa.

A seguir são apresentadas evidencias presentes nas falas dos professores que corroboram os achados do domínio organizacional – atividade docente

Os laboratórios atendem às necessidades dos cursos ofertados pelo campus (quantidade, tamanho, segurança, equipamentos etc.):

[...] está melhorando aos poucos, mas eu vejo que ainda a questão de quantidade de equipamentos acaba sendo um pouco insuficiente. Eu acho que todo curso deveria ser iniciado apenas quando tivessem infraestrutura mínima [...] porque tem disciplinas que são, altamente, com aulas práticas quando não estão prontas [...] como você vai ensinar ao aluno? (P2)
Eu não utilizo laboratório, mas já ouvi muitas reclamações em reunião dos professores que utilizam os laboratórios, que não tem nenhuma segurança, que falta segurança em relação a eletricidade e tudo mais, que muitas vezes eles não têm a manutenção sobre a qual falamos anteriormente e falta de equipamento.  Já ouvi reclamação dos professores da área técnica nas reuniões, reclamar, dos laboratórios. (P3)

No campus em que eu trabalhei não tinha laboratórios, desde os laboratórios mais baratos. (P4)

[...] não temos equipamentos e é vergonhoso falar da qualidade do nosso ensino na região, [...] não podemos fazer uma aula prática com os alunos, [...] nós não temos nada. (P5)

Relação professor-aluno no processo de ensino e aprendizagem:

[...] o principal é isso, um bom relacionamento entre o professor e o aluno, pelo menos isso tem que acontecer no campus. Pelo que a gente ouve, os alunos gostam do campus, os professores são dedicados, então acho que essa relação é boa. (P3)
[...] boa parte dos professores gosta de dar aula, mas eu acho que é uma loteria, mesmo que a turma não seja muito boa, você esquece aquela turma que não esta boa contigo e busca se satisfizer com outras. (P4)
[...] é o que mantém um professor dentro de sala de aula. (P5)
[...] os professores se envolvem em uma relação positiva com os alunos. (P6)

Ambiente de descanso dos professores (copa, sofá, televisão, banheiro, geladeira, água filtrada etc.):

[...] eu não vejo uma área realmente com a finalidade do descanso, então é essa questão de ter um lugar desvinculado, um pouco mais informal com uma televisão, sofá, tudo de descanso é inexistente. (P2)
[...] não existe esse ambiente de descanso, é bem precário, o banheiro não tem nenhum problema é uma instalação boa, agora copa tem muito a desejar, as vezes não tem água nos bebedouros, então deixa a desejar realmente. (P3)
[...] eles cobravam para a gente ficar no campus, não liberavam a gente para ir para casa, [...] ter uma área de descanso é interessante para que o professor possa relaxar antes de ir para a casa e tal, até para ele chegar um pouco mais cedo para relaxar antes de dar aula, uma passagem tranquila até chegar na sala de aula, é uma parte muito importante, faz muita diferença, para ter socialização também. Se um dia alguém quiser levar algo de comer, de beber, dividir onde é que ele vai fazer. Um espaço com geladeira, copa com coisas assim, isso faz a diferença sim. (P4)
[...] não temos copa, sofá, televisão, não existe banheiro, só existe um banheiro dentro da instituição inteira que os nossos servidores podem usar, apenas em um local, não existe geladeira, e nem nada. É realmente um caso muito grave. (P5)
[...] é aquela questão de infraestrutura. Tem campus que são totalmente insalubres sem ventilação, sem iluminação sem quadra [...] isso é uma das características que influenciam o ambiente de descanso dos professores. (P6)

5. Considerações

No que diz respeito à saúde do professor, verifica-se que deve haver melhoria quanto aos seguintes aspectos (i) a insatisfação com o valor do reembolso para pagamento do plano de saúde (assistência à saúde suplementar do professor e demais beneficiários) pode ser um impeditivo para adesão ao plano; (ii) o descontentamento com o atendimento do plano de saúde (internações, consultas, exames etc.) pode desencorajar os professores a fazerem exames rotineiros e preventivos que em alguns casos, se as doenças forem diagnosticadas no estágio inicial, melhores serão os resultados do tratamento e contribuiria para a redução nos afastamentos por doenças (seja de natureza ocupacional ou não). Exemplo disso são as doenças silenciosas que se manifestam quando já estão no estágio mais avançado, tornando seu tratamento mais difícil; (iii) que por final, a dificuldade de acesso a alimentos saudáveis no campus, que auxiliam na manutenção da saúde e que são necessários para o organismo, em horários regrados (possibilitando a alimentação com intervalos menores) pode resultar no processo de adoecimento (doenças silenciosas) obesidade, colesterol alto, diabetes, hipertensão. A mudança nos alimentos oferecidos nos refeitórios/cantina deveria vir acompanhada de um programa de conscientização dos alunos, já que um dos professores entrevistado (P4) alegou que até tentaram oferecer alimentos mais saudáveis, mas desistiram após protestos dos alunos. 

No tocante a variável lazer, expõem-se como exemplo de boa prática na gestão pública, o acordo de parceria, visando à qualidade de vida do servidor, firmado entre o Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e o Serviço Social do Comércio (SESC) do Estado de São Paulo. Mediante o acordo, os servidores ativos do IFSP e seus dependentes têm direito à inscrição na categoria Matrícula de Interesse Social (MIS), que dá direito a diversos serviços e atividades recreativas e de lazer, tais como aula de hidroginástica, ingressos de espetáculos do CineSesc, refeições, aulas de ginástica multifuncionais, natação, locação de quadras cobertas e de campo de futebol, entre outras. Tais atividades são oferecidas pelas unidades do SESC no estado de São Paulo (IFSP, 2015a). Sugere-se que essa boa iniciativa possa ser ampliada para os demais estados brasileiros.

Em relação à variável participação em congressos, relata-se que os Programas Institucionais de Incentivo à Divulgação e Participação de Professores em Eventos Técnico-Científicos vêm sendo adotados como prática em alguns campi da Rede EPT (IFSP, 2015b; IFGOIANO, 2015).   Esses programas têm por finalidade custear despesas como passagens, hospedagem, taxa de inscrição, impressão de pôster etc. O cronograma das solicitações ocorre em um fluxo continuo para atender aos calendários (datas) dos distintos eventos nacionais e internacionais. Com este Programa uma grande parte dos professores são contemplados, os recursos financeiros são provisionados, única e exclusivamente para esta finalidade, o processo fica justo (impessoalidade) e transparente. Essas ações contribuem para diminuição da insatisfação dos professores com o critério "Financiamento ou bolsas para cursos externos (Pós-Graduação, congressos etc.)". Sugere-se que sejam amplamente trabalhados seus procedimentos burocráticos para esclarecimento das dúvidas e desmitificação das exigências burocráticas para seu acesso.

6. Conclusões

Baseado na triangulação entre os resultados do questionário quantitativo e das evidências presentes nas entrevistas relacionadas às práticas de QVT, conclui-se que as mesmas são fundamentais para que os professores da Rede EPT desenvolvam suas atividades atendendo aos princípios norteadores da docência e seguindo as diretrizes curriculares nacionais para a educação profissional técnica de nível médio. Nesse contexto, analisou-se o grau de satisfação dos professores da Rede EPT em relação à QVT.

No domínio social, todos os aspectos pesquisados apontaram uma média geral de 2,29. Esse resultado se insere na faixa de insatisfação. Vale destacar que esse resultado pode ser uma oportunidade para direcionar ações que proporcionem à Rede EPT melhorias quanto aos benefícios sociais.

No domínio biológico a média geral foi de 2,51. As evidencias presentes nas entrevistas ampliam a compreensão do impacto desse achado na rotina de trabalho. A constante exposição a situações de risco ocorre sem o suporte de uma infraestrutura e de pessoal compatível com as necessidades da profissão.

O domínio psicológico apresentou média geral de satisfação em relação a todas as suas variáveis de 3,52. Suportado pelas evidências qualitativas percebe-se a importância da lisura no processo de seleção e as relações interpessoais no ambiente de trabalho. Observa-se que no domínio organizacional, os respondentes apresentaram grau de satisfação com média de 3,12, As mesmas apontam para o grau de consciência dos professores em relação a dimensão da cidadania mais plena que o estado de direito garante aos alunos. Com relação a comunicação interna esse resultado evidencia a dificuldade de se estabelecer um meio claro e objetivo para que haja mais coerentemente o fluxo das informações.

No domínio organizacional, a variável atividade docente apresentou média geral de 3,46, considerando-se o conjunto de todas as variáveis que o compõe. Esse resultado é corroborado pelas evidencias presentes nos relatos dos professores e apontam para a estrutura mais fundamental da razão de ser da Rede EPT: a relação professor-aluno. Esse diferencial corre o risco de ser vilipendiado pela precarização do trabalho docente em razão da infraestrutura não compatível com a exigente tarefa de formação técnica dos alunos.

Entre os cinco domínios avaliados, constatou-se que o domínio social foi o que apresentou o menor índice de satisfação com média de 2,29, enquanto que o domínio psicológico obteve o maior índice de satisfação com média de 3,52. Esses resultados foram corroborados pelas evidencias presentes nas entrevistas que qualificaram e ampliaram a compreensão desses números.

Embora os resultados não possam ser generalizados para o expressivo universo de professores da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, os achados desta pesquisa demonstram a necessidade de estruturação e alinhamento quanto à política de gestão pública relacionada a benefícios e apoio familiar e comunitário, para o grupo pesquisado.

Também se infere que um percentual bastante substancial na QVT dos professores (ou na falta dela), pode estar diretamente ligado à estrutura e suporte oferecidos pela Rede EPT. Assim, sugere-se que estudos futuros dialoguem com os gestores da Rede EPT no pressuposto de entender o que eles pensam sobre os achados desta pesquisa.

Referências  

ALMEIDA, J. G.; Ferreira, M. C.; Brusiquese, R. G. (2015); Between heaven and hell: the importance of interpersonal relations at work to quality of work life perceptions. Business Management Review (BMR), 4 (12), 390-400.

BARROS, A. T. (2014); Como o PNE poderá contribuir para formar novos profissionais de que o Brasil precisa? Palestra proferida no Fórum Estadão – Brasil Competitivo, São Paulo, 19 de ago.

BONI, V; Quaresma, S. J. (2005); Aprendendo a Entrevistar: como fazer entrevistas em ciências sociais. Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC, Florianópolis, 2(3), 68-80.

BRASIL. (2015a); Ministério da Educação. Expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Brasília.

_______. (2014a); Ministério da Educação. Planejando a Próxima Década Conhecendo as 20 Metas do Plano Nacional de Educação. Brasília.

_______. (2015b); Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão Secretaria de Gestão Pública. Boletim Estatístico de Pessoal e Informações Organizacionais. Brasília, set., v. 20, n. 233.

DEJOURS, C. (1992); A Loucura do Trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 5. ed. São Paulo: Cartaz/Oboré.

DUARTE, R. (2004); Entrevistas em pesquisas qualitativas. Educar, Curitiba, 24, 213-225.

FARMER, T.; Robinson, K.; Elliott, S. J.; Eyles, J. (2006); Developing and implementing a triangulation protocol for qualitative health research. Qualitative Health Research, 16(3), 337-394.

GASPARINI, S. M; Barreto, S. M.; Assunção, A. A. (2005); O professor, as condições de trabalho e os efeitos sobre sua saúde. Educação e Pesquisa, São Paulo, 31(2), 189-199.

GUION, L. A. (2002); Triangulation: Establishing the Validity of Qualitative Studies. Florida Cooperative Extension Service, Institute of Food and Agricultural Sciences, University of  Florida.

HAGUETTE, T. M. F. (1997); Metodologias qualitativas na Sociologia. 5. ed. Petrópolis: Vozes.

IFGOIANO. (2015); EDITAL Nº 22 de 15 de dezembro de 2015. Divulgação, Seleção, Goiânia, 16 dez.

IFSP. (2015a); IFSP fecha parceria com o Sesc. Notícias, Reitoria, São Paulo, 11 set.

IFSP. (2015b); Programa Institucional de Incentivo à Participação em Eventos Científicos e Tecnológicos para Servidores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (PIPECT/IFSP) EDITAL Nº 170/2015, de 17 de março de 2015. Notícias, Reitoria, São Paulo, 19 mar.

LIMA, J. D. (2015); Engenheira volta para o ensino técnico. O Estado de S. Paulo, São Paulo, Empregos, p. 5, 16 ago.

LIMONGI-FRANÇA, A. C. (1996); Indicadores empresariais de qualidade de vida no trabalho: um estudo comparativo entre satisfação dos empregados e esforço empresarial nas empresas com certificação ISO 9000. 1996. 296f Tese (Doutorado em Administração de Empresas) - Faculdade de Economia e Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo. 1996.

______________________. (2009); Qualidade de vida no trabalhoQVT: conceitos e práticas nas empresas da sociedade pós-industrial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

______________________. (2010); Saúde com qualidade de vida organizacional e pessoal de onde vem e para onde vai este caminho de sustentabilidade? In: MARRAS, J. P. (Org.) Gestão estratégica de pessoas: conceitos e tendências. São Paulo: Saraiva, p. 227-250.

LIMONGI-FRANÇA, A. C.; Rodrigues, A. L. (2009); Stress e trabalho: uma abordagem psicossomática. 4 ed. São Paulo: Atlas.

LIPOWSKI, Z. J. (1996); Psychosomatic medicine: past and present. Can. J. Psychiatry, Canadá, v. 1.

OLIVEIRA, R. R.; Limongi-França, A. C.; Nomelini, Q. S. S.; Castro, D. S. P.; Alves, L. R.; Zatta, F. N. (2016); A Qualidade de Vida no Trabalho dos Professores da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica: percepções com a metodologia BPSO alinhado à qualidade da educação. Espacios, Caracas, 37(3), 17.

OLIVEIRA, R. R. (2012); Uma Metodologia para Avaliação do Grau de Satisfação de Qualidade de Vida no Trabalho dos Professores da Educação Básica, Técnica e Tecnológica dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. 2012. 162f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Metodista de Piracicaba, Santa Bárbara d`Oeste.

REIS, E. J. F. B.; Araújo, T. M.; Carvalho, F. M.; Barbalho, L.; Silva, M. O. (2006); Docência e Exaustão Emocional. Educação & Sociedade, Campinas, 27(94), 229-253.

SCHWARTZMAN, S; Castro, C. M. (2013); Formação profissional e a questão da mão de obra. Ensaio (Fundação Cesgranrio. Impresso), Rio de Janeiro, 21(80), 563-623.

VILAS BOAS, A. A. V.; Morin, E. M. (2015); Sentido do trabalho e orientação para o trabalho: um estudo em universidades públicas de Minas Gerais e do Quebec. Revista Gestão Universitária na América Latina - GUAL, Florianópolis, 8(4), 117-133.

WALTON, R. (1975); Criteria for Quality Life. In: DAVIS, L. A. B. The Quality of working life: problems, prospects and state of the art. New York: The Free Press.

WISNER, A. (1987); Por dentro do trabalho. São Paulo: FTD/Oboré, 1987.


1. Instituto Federal de São Paulo câmpus Sorocaba. Pós-doutorando em Administração junto ao PPGA da Universidade Metodista de São Paulo. E-mail: rodrigoribeirosp@hotmail.com
2. Universidade de São Paulo - FEA EAD Núcleo GQVT. E-mail: climongi@usp.br
3. Universidade Metodista de Piracicaba. E-mail: dscastro@unimep.br

4. Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. Professor Titular de Pesquisa e Didática do PPGA - Universidade Metodista de São Paulo. E-mail: luiz.alves@metodista.br

5. Pós-doutorando em Administração junto ao PPGA da Universidade Metodista de São Paulo. E-mail: zatta@hmzconsulting.com.br

6. Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: quintiliano@famat.ufu.br


 

Vol. 37 (Nº 17) Año 2016

[Índice]

[En caso de encontrar algún error en este website favor enviar email a webmaster]