Luís Afonso Bermúdez y Ednalva Fernandes C. de Morais
Para a realização da pesquisa, partiu-se do princípio de que o objetivo declarado das incubadoras brasileiras é desenvolver habilidades gerenciais em indivíduos empreendedores, aproveitando a vocação local ou regional sendo que os principais impactos desses programas deverão ser a aceleração da comercialização e a viabilização financeira de pequenos empreendimentos high-tech ou low-tech. Para isso, apoia-os com informações científicas, tecnológicas, gerenciais e mercadológicas, desde o seu nascimento até a sua maturação e inserção no ambiente de competitividade local, nacional ou até mesmo internacional. Todo esse apoio é possível por meio do estabelecimento de redes de cooperação institucional ou "arranjos" formais ou informais entre instituições ou pessoas.
A fase inicial foi a realização de uma pesquisa exploratória que consistiu no levantamento bibliográfico e na obtenção de dados, sobre incubadoras nacionais e internacionais, a partir de estudos e relatórios existentes na ANPROTEC e nas demais instituições gestoras deste projeto 7, além de um estudo sobre metodologias existentes para avaliação econômica e social de projetos.
O resultado da pesquisa exploratória está no Anexo 1 - coeficientes, indicadores e variáveis para a auto-avaliação dos empreendimentos e no diagnóstico sobre o movimento brasileiro de criação de incubadoras e empresas incubadas, do qual apresentamos alguns dados no Anexo 2.
A auto-avaliação, aqui referida, está baseada em quatro dimensões, a saber: os resultados ou produtos gerados pelas empresas e incubadoras; os insumos utilizados pelas incubadoras, sejam estes físico-financeiros, tecnológicos, materiais ou recursos humanos; os processos organizacionais e produtivos propriamente ditos, concernentes ao objeto de avaliação; e o contexto sócio-econômico, político e cultural referente às instituições mais diretamente ligadas ao processo de incubação - universidades, prefeituras, institutos de pesquisa, associações civis sem fins lucrativos, secretarias estaduais e o próprio mercado.
Apreendida a contextualização dos empreendimentos em questão - constatação sobre o que existe, como existe, que resultados, etc.- foi definido um "modelo referencial" de incubadora e de EBT, de onde foram destacados os aspectos considerados facilitadores para o sucesso dos empreendimentos presentes na maioria dos modelos analisados, tais como: infra-estrutura oferecida, valor da taxa cobrada, processos organizacionais adotados, capacidade de geração de riqueza e renda, dentre outros. 8
A partir das características do "modelo referencial" foram definidos coeficientes, indicadores e variáveis para a realização da avaliação ou auto-avaliação, vide Anexo 1.
A atividade seguinte foi o planejamento das visitas para aplicação da metodologia em escala piloto, com o objetivo de constatar a validade e aplicabilidade dos coeficientes adotados, que consistiu na elaboração de critérios para seleção da amostra representativa, não do ponto de vista estatístico mas da diversidade regional (fatores sócio-políticos, econômicos e culturais); representatividade da incubadora no conjunto (grau de maturidade e visibilidade); diversidade quanto a área de atuação das empresas incubadas; natureza jurídica da entidade gestora da incubadora (pública ou privada); existência dos dados necessários para teste da metodologia (planejamento, acompanhamento e avaliação); resultados apresentados como por exemplo o número de empresas graduadas.
Foram analisadas duas incubadoras - uma na região nordeste, gerida por uma instituição privada sem fins lucrativos, instalada dentro do campus da Universidade Federal do Ceará. Esta incubadora apoia empreendimentos no setor químico-farmacêutico; a outra incubadora está localizada na região sul, gerida por uma instituição privada sem fins lucrativos. Ela apoia empresas high-tech e low-tech de setores diversificados (eletrônica, informática, química, confecções, alimentação e outros).
Em cada uma dessas incubadoras, aplicamos a metodologia em empresas incubadas e graduadas, totalizando 03 empresas. Além desses empreendimentos, a metodologia foi aplicada também no Programa Disque-Tecnologia do CDT 9 e na In Vitro Biotecnologia de Plantas Ltda - empresa de Biotecnologia graduada pela incubadora do CDT - incubadora gerida pela Universidade de Brasília - instituição pública federal, instalada no campus universitário e localizada na região centro-oeste.
Para não realizar uma avaliação baseada apenas no binômio sucesso ou fracasso, respostas afirmativas ou negativas, conjugamos métodos quantitativos e qualitativos de coleta e análise dos dados. O estudo de metodologias para avaliação de projetos econômicos e sociais e, a aplicação da versão preliminar desenvolvida pela equipe da pesquisa 10, confirmou a adequabilidade dos coeficientes anteriormente definidos - eficiência, eficácia, impacto e pertinência. Também os indicadores e variáveis selecionados apresentam características que possibilitam o seu uso genérico para incubadoras e incubadas, sendo poucas as situações em que houve necessidade de adaptações da variável ou da linguagem adotada para um ou para outro empreendimento.
No caso dos indicadores de qualidade e de inovação tecnológica (ou simplesmente inovação), algumas considerações se fazem necessárias. O conceito de qualidade que tenta-se implantar nas incubadoras e nos pequenos empreendimentos são as práticas recomendadas por alguns teóricos, denominada ciclo PDCA já descrito anteriormente, por ser de fácil implantanção e não implicar necessáriamente em custos adicionais. Assim, há uma proposta de escala de pontuação de 0 a 5 de acordo com a importância de determinadas atividades gerenciais adotadas , sem considerar como principal parâmetro os gastos realizados mas avaliando: o que foi realizado, resultados, impactos, etc. Quando porém, os custos com controle de qualidade forem relevantes, poderão ser medidos pela relação entre a receita total e o gasto efetuado com controle de qualidade
Outra particularidade da metodologia refere-se à flexibilidade quanto à análise dos resultados obtidos. A análise poderá ser realizada modularmente considerando o conjunto de indicadores e variáveis de cada coeficiente, comparando o desempenho anterior do próprio empreendimento (análise evolutiva) ou comparando seu desempenho ao de empreendimentos similares existentes na região (análise comparativa). Além disso, cada indicador poderá ser analisado isoladamente, evolutivamente ou comparativamente. Pode ser analisado, por exemplo, o esforço da incubadora em buscar eficiência total na gestão dos recursos disponíveis. Para fazer esta avaliação vamos utilizar os indicadores e variáveis abaixo, que irão definir o Coeficiente de Eficiência-CF:
Auto-sustentação que será a relação entre o valor do Custo Total do empreendimento e a sua capacidade de gerar receita própria. (Receita Própria/Custo Total);
Inovação que será definida pelos sub-indicadores:
Capacitação de Recursos Humanos - vai analisar o percentual de investimento realizado nesta atividade em relação à receita total do empreendimento. O resultado será comparado ao percentual gasto no exercício anterior para medir sua evolução e ao percentual gasto por outros empreendimentos similares.
Investimento Tecnológico - vai analisar o percentual da receita total auferida, gasto dentre outras atividades, com a compra de novos equipamentos, construção ou alteração nas instalações físicas (obras), na modernização do procedimentos, no esforço de marketing, no exercício base em relação ao exercício anterior ou como no sub-indicador anterior, compararando com o investimento realizado por empreendimentos similares.
Controle de qualidade - Este sub-indicador poderá ser obtido de duas maneiras diferentes: a primeira, analisando o percentual da receita total obtida gasto com a implantação de práticas de controle de qualidade em relação à clientes, fornecedores e do processo produtivo. A segunda, pela média aritimética das pontuações obtidas no check-list de avaliação desse sub-indicador (Anexo 3).
Produtividade que será a relação entre o custo unitário de incubação e de graduação de empresas e o número de empresas apoiadas no período analisado (incubadas + graduadas).
Quanto aos Coeficientes de Eficácia-CE e de Impacto-CI, a análise será procedida de forma diferente. A relação será entre o programado e o efetivado. A interpretação dos resultados obtidos nos três coeficientes será da seguinte maneira:
Se o valor obtido for maior que 1, o projeto é mais que eficiente, eficaz;
Se o valor obtido for igual a 1, o projeto é eficiente e eficaz;
Se o valor obtido for menor que 1, o projeto é ineficiente e ineficaz.
Ou ainda em percentual de eficiência, eficácia e impacto. Os empreendimentos devem perseguir a meta mínima de 100%. Logo, seus resultados podem ser comparados a:
< que 100% foi ineficiente e/ou ineficaz e diminuiu seu impacto;
= a 100% foi eficiente e/ou eficaz e manteve mesmo nível de impacto;
> que 100% foi mais que eficiente ou eficaz e aumentou o nível de impacto.
Por fim o uso da metodologia possibilitará o conhecimento no caso de avaliação externa ou auto-conhecimento se realizado pelo próprio gestor dos empreendimentos analisados, retratando suas limitações, facilidades e oportunidades para crescimento.
6 Ainda não temos um estudo concluído sobre estas taxas. Sobre a PMEs o SEBRAE iniciou uma avaliação no Estado de São Paulo. Sobre as empresas das incubadoras, ao se realizarem as primeiras avaliações serão conhecidas as taxas e as prováveis causas.
7 Foi definido um grupo gestor da pesquisa, que faz o acompanhamento periódico dos resultados obtidos, segundo a perspectiva da instituição. O grupo gestor é composto por representantes de instituições brasileiras que têm apoiado tanto as incubadoras quanto as empresas incubadas. Fora desse escopo, apoiam, naturalmente, a competitividade da indústria brasileira. São elas: Ministério de Ciência e Tecnologia através da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e do Programa de Capacitação de Recursos Humanos em ¡reas Estratégicas-RHAE;Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Tecnológicas através do Programa de Competitividade e Difusão Tecnológica; Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas-SEBRAE através da Coordenadoria de Tecnologia; Ministério da Indústria, Comércio e Turismo através da Secretaria de Competitividade da Pequena e Média Empresa; e ANPROTEC através da Vice-Presidencia.
8 O modelo referencial não será apresentado neste trabalho devido à limitação de 20 páginas. Poderá ser apresentado durante o seminário, caso haja interesse do Comitê Organizador e naturalmente, se este trabalho for selecionado para apresentação.
9 Este programa promove a transferência de tecnologia e conhecimentos produzidos na Universidade de Brasília-UnB para empreendedores ou empresários locais que desejam desenvolver ou inovar processos e produtos. Através de um contacto telefônico, são identificadas as necessidades do interessado e o pesquisador ou profissional dentro ou fora da universidade que poderá solucionar o problema. O processo é gerenciado (intermediado) pelo CDT desde o primeiro contacto até a avaliação final do interessado sobre o serviço prestado.
10 Equipe da pesquisa:
Ednalva F. C. de Morais - Administradora
Karla Fernandes Skeff - Socióloga
Leonardo G.L.Moisés - Aluno graduação em Economia-UnB
Francisco C. Oliveira - Aluno graduação em Sociologia-UnB
Daniel Brito de C. Bichuette - Aluno graduação em Economia-UnB