Espacios. Espacios. Vol. 30 (3) 2009. Pág. 2

Sustentabilidade e responsabilidade social: proposta de modelo de diagnóstico socioambiental baseada em pesquisa empírica

Sustenability and accountability: proposal of social and environmental diagnostic model based in empirical survey

Sustentabilidad y responsabilidad social: propuesta de un modelo de diagnóstico socio-ambiental basada en investigación empírica

Takeshy Tachizawa* y Rui Otavio Bernardes de Andrade**

Recibido: 16-04-09 - Aprobado: 13-07-09


Contenido


RESUMO:
O trabalho apresenta uma arquitetura de dados socioambientais para diagnóstico das organizações em termos de sustentabilidade econômica. É proposto um modelo de base de dados de indicadores socioambientais, fundamentado em pesquisa empírica, desenvolvida pelo método grounded theory. A ênfase da grounded theory é o aprendizado a partir dos dados (interativa e indutiva), e não a partir de uma visão teórica existente (dedutiva). Tais indicadores, além de refletir o estágio de sustentabilidade em que se encontra a empresa analisada, subsidiariam o mapeamento socioambiental dos diferentes segmentos econômicos do universo empresarial brasileiro. A arquitetura, estruturada com o suporte de recursos das tecnologias da informação possibilitaria o planejamento de decisões inerentes à gestão socioambiental de sua cadeia produtiva.
Palavras-chave: sustentabilidade; gestão socioambiental; indicador de desenvolvimento socioambiental, diagnóstico organizacional, responsabilidade social.

ABSTRACT:
It presents an architecture of data for diagnosis of social and environmental of organizations in terms of economic sustainability. It proposed a model of the database of indicators of social differentiation of costs, based on empirical research, developed the method grounded theory. The emphasis of grounded theory is that learning from the data (interactive and inductive), and not from a theoretical vision existing (deductive). Such indicators, and reflect the stage of sustainability where the company tested, sinalyzing the mapping of different socio economic segments of the Brazilian business universe. The architecture, structured with the support of information technology resources would allow the planning decisions inherent in the management of social costs of their production chain.
Keywords: sustainability, architecture of data sustainability, social and environmental indicator, organizational diagnostic, accountability.

 
RESUMEN:
Este trabajo presenta una arquitectura de datos para diagnóstico de social y ambiental de organizaciones en términos de continuidad económica. Propone un modelo de base de datos con indicadores de diferenciación social de costos, basada en la investigación empírica, desarrollada bajo el método de grounded theory. El énfasis hecho en este método es que se aprende de los datos (interactivos e inductivos), y no de una existencia teórica de la visión (deductiva). Tales indicadores reflejan la etapa de continuidad donde la compañía probó, analizando y asociando diversos segmentos socio-económicos del universo empresarial brasileño. La configuración estructurada con la ayuda de recursos tecnológicos de la información permite decisiones bajo hojas de operación (planning) inherentes en la gestión de costes sociales de su encadenamiento de la producción.
Palabras clave: sustentabilidad, arquitectura de datos sustentables, indicadores sociales y ambientales, diagnóstico organizacional, responsabilidad social

1. Introdução

A responsabilidade socioambiental corporativa, na trilha de desastres socioambientais envolvendo organizações globalizadas, ganha importância como instrumento de gestão da controladoria para evitar riscos econômicos. Os clientes, neste novo cenário empresarial, têm expectativas de interagir com organizações que sejam éticas, tenham boa imagem institucional no mercado, e que atuem de forma ecologicamente responsável. Neste ambiente, emerge a questão da sustentabilidade, que enfatiza o compromisso dos gestores junto aos stakeholders, como instrumento de gestão para a otimização econômica da organização.

Neste contexto, foram analisados os fatores de influência da sustentabilidade nas empresas brasileiras e as possibilidades do uso de indicadores de diferenciação de custos socioambientais, proposta do presente trabalho. Foram abordadas as atividades econômicas exercidas pelas organizações, em seus diferentes ramos de negócios, relacionando-as com suas características de sustentabilidade.

Como decorrência desta análise, estabeleceu-se uma metodologia para o diagnóstico socioambiental com enfoque diferenciado para cada tipo de organização do cenário empresarial brasileiro. Este diagnóstico permitiu estruturar um indicador de desenvolvimento socioambiental (IDS) que levasse em conta as peculiaridades existentes nas empresas em função do seu setor econômico de atuação. Com isso ele pode-se constituir em uma referência para análise dos custos socioambientais, que seriam singulares aos efeitos da sustentabilidade, intrínsecos a cada setor econômico.

O princípio que serviu de base para a composição do IDS, foi fundamentado na avaliação do desenvolvimento na empresa, não do ponto de vista do crescimento econômico, mas pelo prisma de outras dimensões capazes, de interpretar a sustentabilidade de suas ações empresariais. Estas dimensões, em sintonia com o potencial crescimento profissional dos colaboradores da empresa, na medida em que convivem com saudáveis práticas de qualidade de vida, constituiu o embasamento filosófico deste trabalho, quais sejam: cidadania corporativa; transparência; governança corporativa; e capital humano.

O IDS, portanto, objetivou o desenvolvimento de uma métrica que espelhasse o estágio evolutivo da organização em termos socioambientais, em seu contexto interno e externo.

As razões que justificariam seu uso como instrumento de gestão pelas empresas não são apenas decorrentes de aderência à legislação vigente, mas, principalmente, em função da possibilidade de direcionar as decisões de gestão de custos e da controladoria de forma convergente com os objetivos da sustentabilidade empresarial.

2. Fundamentação teórica

Problemas como poluição, falta de segurança, corrupção, má gestão dos recursos públicos, aética, e tantos outros, perpassam toda a história da humanidade desde o surgimento dos primeiros agrupamentos urbanos, ainda na Antiguidade (TACHIZAWA e ANDRADE, 2008). Para Henderson (2001), tal perspectiva tem se acentuado no mundo contemporâneo, como decorrência das mutações ocorridas na escala de valores e crenças do ser humano, delineadas pela Revolução Industrial.

Essas mutações evoluíram para os tempos atuais como responsabilidade social. Esta é entendida como a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras (INSTITUTO ETHOS, 2008).

O envolvimento empresarial em ações sociais na comunidade começou na forma de ações voluntárias das empresas, focando problemas sociais (BRONN e VRIONI, 2001).

Uma das principais características presentes nesse cenário é a mudança no conceito “daquilo que é importante, daquilo que tem valor, das metas a serem atingidas e dos meios de medir (indicadores) o progresso coletivo em direção a essas metas” (HENDERSON, 2001). Estes instrumentos de mensuração irão desempenhar diferentes papéis sob vários aspectos, pois orientam o campo econômico e social, sendo indispensáveis aos pesquisadores e empresários, além de contribuir para que o cidadão possa ter diferentes visões do que está ocorrendo na sociedade (BESSERMAN, 2003).

Para a Organization for Economic Co-operation and Development – OECD (2008), um indicador deve ser entendido como um parâmetro, ou valor derivado de parâmetro, que aponta e fornece informações sobre o estado de um fenômeno com uma extensão significativa. Evans e Würster (2000) prescreveram a importância estratégica da informação que deixou de ser apenas uma ferramenta de controle para os gestores e tomou posição de um recurso básico que justifica sua utilização como base para a formulação de indicadores, principalmente para suporte ao processo decisório (LAUDON e LAUDON, 2000; RAYPORT e JAWORSKI, 2001).

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2008) publicou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) com propósito de desafiar as estreitas definições econômicas de progresso que compõem o Produto Interno Bruto (PIB). O IDH incorpora, além dos indicadores econômicos, os sociais, as estatísticas sobre os índices de alfabetização, a média da expectativa de vida e o poder de compra.

O IDH tornou-se, pois, o mais importante instrumento de medida e de comparação da condição de vida não só de países, mas também de espaços menores como estados e municípios (BESSERMAN, 2003). A Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU publicou, em 1996, o documento Indicadores de Desenvolvimento Sustentável – estrutura e metodologia, apresentando um conjunto de indicadores econômicos, sociais e ambientais (IBGE, 2008).

Neste cenário se insere a ISO14000, para meio ambiente e, mais recentemente, a ISO16000, AA1000 e SA8000 (TACHIZAWA, 2009), como certificações sociais com o objetivo de atestar que a organização, além de ter procedimentos internos corretos, participa de ações não lucrativas. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – OCDE recomenda que as organizações, públicas e privadas, adotem princípios focados na transparência de suas ações. O balanço social se insere neste cenário de transparência e disseminação de informações junto aos seus diferentes públicos (RAYNARD e FORSTARTER, 2002).

O Instituto Ethos de Responsabilidade Social (ETHOS, 2008) sugere um padrão de balanço social, que explicita os impactos da atividade da empresa na sociedade e evidencia o relacionamento com os seus diferentes públicos. O modelo Ethos considera, ainda, a apresentação do relatório sugerido pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE, 2008), e constitui uma alternativa de evidenciação das atividades empresariais através de balanço social.

A Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA, 2008), face ao crescente interesse dos investidores em migrar para os portfólios verdes, e em resposta à demanda de bancos, fundos de pensão e gestores de recursos, organizou um índice de responsabilidade social e sustentabilidade (índice de sustentabilidade empresarial - ISE), baseado no Dow Jones Sustainability Indexes da Bolsa de Nova York - DJSI. Este indicador global de sustentabilidade monitora o desempenho financeiro das companhias de capital aberto.

O DJ-SI, na sua composição, pondera a importância da integração dos fatores econômicos, ambientais e sociais na estratégia da empresa e avalia aspectos como inovação tecnológica, governança corporativa, interesse dos investidores, expectativas dos públicos de interesse, liderança e capacidade de resposta às mudanças sociais (TACHIZAWA e ANDRADE, 2008).

Nesse sentido, torna-se fundamental aprimorar o processo de armazenamento e recuperação de informações, razão pela qual Draper e Dunlop (2008), procuraram desenvolver métodos de identificar e acessar informações relevantes segundo a percepção dos usuários de nível estratégico nas empresas. Fica evidente a necessidade de estudos para uma consideração mais abrangente dos requisitos do processo de busca de informações empresariais relevante, nos contornos do conceito de inteligência dos negócios.

O entendimento das necessidades de informação de uma organização neste cenário é um tema dominante nas discussões. Vindo ao encontro disso, emerge o conceito de gerenciamento de desempenho corporativo (corporate performance management – CPM), cuja questão-chave não é só medir, mas projetar um processo que contemple decidir quais necessidades podem ser medidas, como e quando (BUYTENDIJK, WOOD e GEISHECKER, 2004).

Motivado pela existência de uma lacuna entre o que os gestores necessitam em termos de sustentabilidade e o que ocorre no dia-a-dia das operações empresariais, foi desenvolvido o presente trabalho.

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* Fundação Getulio Vargas. Email: usptakes@uol.com.br
** UFSC. UNIGRANRIO. Email: andrade@novanet.com.br

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